UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS LINGUÍSTICOS O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais Gisele Aparecida Ribeiro Belo Horizonte 2016 Gisele Aparecida Ribeiro O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutora em Linguística. Área de Concentração: Linguística Teórica e Descritiva. Orientadora: Dra Maria Cândida Trindade Costa de Seabra Belo Horizonte Faculdade de Letras da UFMG 2016 FOLHA DE APROVAÇÃO Tese aprovada em 25/10/2016 pela Banca Examinadora constituída pelos Professores Doutores: ______________________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Cândida Trindade Costa de Seabra – UFMG Orientadora ______________________________________________________________________ Profa. Dra. Ana Paula Antunes Rocha – UFOP ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Aderlande Pereira Ferraz (UFMG) ______________________________________________________________________ Profa. Dra. Lília Soares Miranda (UFMG) ______________________________________________________________________ Profa. Dra. Maria do Socorro Vieira Coelho (UNIMONTES) Suplentes: ______________________________________________________________________ Profa. Dra. Márcia Cristina de Brito Rumeu (UFMG) ______________________________________________________________________ Prof. Dr. Vander Lúcio de Souza (UFMG) Dedico esta tese aos meus pais, Bartolomeu e Maria Tereza, que sempre me estimularam a dar este grande passo. Aos meus irmãos, Gilberto, Gilson e Marcella, que estiveram ao meu lado encorajando-me nas horas difíceis e aplaudindo-me nos momentos de glória. Aos meus sobrinhos, Pedro, Clara, Larissa e Matteo, que essa conquista em minha vida acadêmica sirva de exemplo para seguirem sempre nos estudos e nas oportunidades que a vida possa lhes oferecer. AGRADECIMENTOS A Deus, pela força e disposição concedidas a mim todos os dias. À Profa. Dra. Maria Cândida, pelo constante incentivo, sempre indicando a direção a ser tomada nos momentos de maior dificuldade, interlocutora interessada em participar de minhas inquietações. Agradeço, principalmente, pela confiança depositada no meu trabalho. Aos coordenadores do Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos – FALE/UFMG, que acreditaram na nossa proposta viabilizando este Doutorado. Ao corpo técnico da secretaria do Poslin, que muito nos ajudaram em relação aos aspectos formais dessa pesquisa. Ao Fábio, pelo incentivo e parceria durante as muitas incursões Serra da Canastra adentro. Aos meus familiares, que sempre me deram amor e força, valorizando meus potenciais. Ao meu pai, que me auxiliou a resolver o paradoxo do observador. Aos meus preciosos informantes que, com seus “causos”, contribuíram imensamente para a realização desta pesquisa. Às amigas Mônica Emmanuelle e Raquel Pires, pelas dúvidas partilhadas, pelas trocas constantes de experiências e pela paciência em ouvir. À amiga Carolina e sua mãe Regina Pinati, pelas muitas orações. À amiga Tatiana, pela companhia e carinho em ouvir nos momentos mais difíceis. A todos os meus amigos e amigas que sempre estiveram presentes me aconselhando e incentivando com carinho e dedicação. A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a execução desta Tese de Doutorado. Águas da serra Águas que correm, claras, do escuro dos morros, cantando nas pedras a canção do mais-adiante, vivendo no lodo a verdade do sempre-descendo... Águas soltas entre os dedos da montanha, noite e dia, na fluência eterna do ímpeto da vida... Qual terá sido a hora da vossa fuga, quando as formas e as vidas se desprenderam das mãos de Deus, talvez enquanto o próprio Deus dormia?... E então, do semi-sono dos paraísos perfeitos, os diques se romperam, forças livres rolaram, e veio a ânsia que redobra ao se fartar, e os pensamentos que ninguém pode deter, e novos amores em buscas de caminhos, e as águas e as lágrimas sempre correndo, e Deus talvez ainda dormindo, e a lua a avançar, sempre mais longe, nos milênios de treva do sem-fim... João Guimarães Rosa FOTO 01 – Serra da Canastra – Parte Alta Fonte: Acervo pessoal. RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo analisar o vocabulário rural de algumas comunidades abarcadas pelo Parque Nacional da Serra da Canastra que se situa na região sudoeste do Estado de Minas Gerais, abrangendo os municípios de São Roque de Minas, Delfinópolis, São João Batista do Glória, Vargem Bonita e Passos. Nossa proposta é mostrar que os estudos lexicológicos apontam estreita relação entre o homem, a cultura e o ambiente em que se inserem. Ao pesquisarmos o léxico referente ao falar dessa região, pretendemos entrar no universo cultural, social, econômico, religioso e político dos habitantes dessa região, e perceber nele a forma de interação do homem com o mundo e seus semelhantes através da linguagem. Adotamos como referencial teórico-metodológico a Sociolinguística (Labov e Milroy), Lexicologia e Lexicografia (Matoré e Biderman), a Antropologia Linguística (Duranti e Hymes), a Dialetologia (Isquerdo e Cardoso), o conceito de região cultural (Diégues Jr). Seguindo o modelo laboviano, partimos do presente, ao coletar nossos dados decorrentes das 32 entrevistas orais realizadas no Parque Nacional da Serra da Canastra, voltamos ao passado, ao consultar dicionários do século XVIII (Bluteau) e XIX (Morais), e retornamos ao presente para estabelecer comparações entre esses períodos. Após análise linguística dos dados, constataram-se casos de retenções, de variações e mudanças linguísticas ao longo do tempo, a existência de um vocabulário regional e de casos de influências vindos do vocabulário do interior paulista. Foram encontradas também lexias que são comuns no Sul e Norte de Minas Gerais e, também, em outras regiões de Minas Gerais através da comparação com alguns vocabulários oriundos do “Projeto Léxico Regionais Mineiros”. Os resultados obtidos, por meio de nosso estudo, evidenciam aspectos históricos, sociais e culturais da região, destacando a importância da natureza e relevo da região aqui abordada. Palavras-chave: Léxico, História, Cultura, Linguística, Sudoeste de Minas Gerais, Passos, Parque Nacional da Serra da Canastra. ABSTRACT This research has as an objective analyzing the rural vocabulary of some communities embraced by the Canastra National Park, which is placed in the Southwest region in Minas Gerais state, covering the following towns: São Roque de Minas, Delfinópolis, São João Batista do Glória, Vargem Bonita and Passos. Our purpose is to show that lexicological studies point to close relation among men, culture and the environment where they are inserted. By researching the referred lexicon when speaking about this region, it is intended to get in the cultural, social, economical, religious and political universe of the inhabitants of this region and to notice in it the way of interaction among men, world and their similars through the language. As the theoretical and methodological reference it was used the Sociolinguistics (Labov and Milroy), the Lexicology and Lexicography (Matoré and Biderman), the Linguistic Anthropology (Duranti and Hymes), the Dialectology (Isquerdo e Cardoso), the concept of cultural region (Diégues Jr). Guided by the labovian model, we started from the present, by collecting our data resulted from the 32 oral interviews made in the Canastra National Park, we went back to the past, by consulting dictionaries from the XVIII (Bluteau) and XIX (Morais) centuries, and we returned to the present as to establish comparisons among these periods. After the partial linguistics analysis of the data, it was detected retention, variation and linguistics changes examples through the time, the existence of a regional vocabulary and influence examples coming from the vocabulary of the countryside of São Paulo. It was also observed common lexias in the South and in the North of Minas Gerais and also in other regions of Minas Gerais by comparing some vocabulary coming from the “Projeto Léxico Regionais Mineiros” (Mineiro Regional Lexicon Project). The results which were gotten till the moment, through our study, show historical, social and cultural aspects of the region, highlighting the importance of the nature and the topography of the region treated here. Keywords: Lexicon, History, Culture, Linguistics, South-West of Minas Gerais, Passos, Canastra National Park. LISTA DE FOTOS FOTO 01 – Serra da Canastra – Parte Alta .............................................................................. 10 FOTO 02 – Cachoeira Casca D’Anta ....................................................................................... 17 FOTO 03 – Serra da Canastra – Parte Baixa ............................................................................ 23 FOTO 04 – Igreja do Senhor Bom Jesus dos Passos – Passos/MG ......................................... 33 FOTO 05 – Travessia de balsa em Delfinópolis – MG ............................................................ 37 FOTO 06 – Cachoeira Véu da Noiva – São João Batista do Glória/MG ................................. 39 FOTO 07 - A cidade de Vargem Bonita na década de 40 ........................................................ 41 FOTO 08 – Parte alta da cachoeira Casca D’Anta ................................................................... 47 FOTO 09 – Cachoeira do Cerradão .......................................................................................... 48 FOTO 10 – Curral de Pedras .................................................................................................... 49 FOTO 11 – Fazenda Zagaia – Parque Nacional da Serra da Canastra/MG ............................. 50 FOTO 12 – Nascente do Rio São Francisco – São Roque de Minas/MG ................................ 53 FOTO 13 – Alfavaca .............................................................................................................. 410 FOTO 14 – Árvore de óleo ..................................................................................................... 413 FOTO 15 – Bica d’água ......................................................................................................... 417 FOTO 16 – Brejo .................................................................................................................... 418 FOTO 17 – Cabaça ................................................................................................................. 420 FOTO 18 – Canzil .................................................................................................................. 423 FOTO 19 – Carro de boi na zona rural de Passos/MG ........................................................... 424 FOTO 20 – Erva Santa-Maria ................................................................................................ 433 FOTO 21 – Forno de cupim ................................................................................................... 435 FOTO 22 – Fogão à lenha ...................................................................................................... 436 FOTO 23 – Gabiroba .............................................................................................................. 437 FOTO 24 – Guiné ................................................................................................................... 440 FOTO 25 – Ispinho de benzinho ............................................................................................ 442 FOTO 26 – Jacá ...................................................................................................................... 443 FOTO 27 – Laranja ioa ........................................................................................................... 445 FOTO 28 – Maminha-de-cadela ............................................................................................. 446 FOTO 29 – Mentruste ............................................................................................................ 449 FOTO 30 – Oreia da árvore .................................................................................................... 452 FOTO 31 – Pau-a-pique ......................................................................................................... 453 FOTO 32 – Rego d’água ........................................................................................................ 458 FOTO 33 – Sabugo ................................................................................................................. 460 FOTO 34 – Tramela ............................................................................................................... 464 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 01 – Distribuição percentual das lexias dicionarizadas e não-dicionarizadas ..... 358 GRÁFICO 02 – Número de lexias encontradas em cada dicionário ...................................... 359 GRÁFICO 03 – Quanto à classificação gramatical ................................................................ 360 GRÁFICO 04 – Origem das lexias ......................................................................................... 362 GRÁFICO 05 – Marcação diatópica ...................................................................................... 363 GRÁFICO 06 – Gênero das lexias ......................................................................................... 365 GRÁFICO 07 – Distribuição percentual dos casos de mudança e manutenção linguística ... 368 LISTA DE MAPAS MAPA 01 – Parque Nacional da Serra da Canastra/Minas Gerais........................................... 19 MAPA 02 – Mercados abastecedores de Minas Gerais ........................................................... 25 MAPA 03 – Comarca do rio das Mortes .................................................................................. 27 MAPA 04 – Microrregião de Passos ........................................................................................ 31 MAPA 05 – Regiões culturais do Brasil .................................................................................. 36 MAPA 06 – Localização de Delfinópolis/MG ......................................................................... 38 MAPA 07 – Localização de São João Batista do Glória .......................................................... 40 MAPA 08 – Localização de Vargem Bonita/MG .................................................................... 42 MAPA 09 – Localização de São Roque de Minas ...................................................................43 MAPA 10 - Parque Nacional da Serra da Canastra/ MG ......................................................... 44 MAPA 11 – Bacia do Rio São Francisco ................................................................................. 52 LISTA DE MAPAS DIALETAIS MAPA DIALETAL 01 – Norte de Minas/Vale do Jequitinhonha/Metropolitana de Belo Horizonte/Vale do Rio Doce/Sudoeste de Minas ................................................................... 387 MAPA DIALETAL 02 – Norte de Minas/Vale do Jequitinhonha/Vale do Rio Doce/Sudoeste de Minas ................................................................................................................................. 388 MAPA DIALETAL 03 – Vale do Jequitinhonha/ Metropolitana de Belo Horizonte /Vale do Rio Doce/Sudoeste de Minas .................................................................................................. 389 MAPA DIALETAL 04 – Norte de Minas/ Metropolitana de Belo Horizonte /Vale do Rio Doce/Sudoeste de Minas ........................................................................................................ 390 MAPA DIALETAL 05 – Norte de Minas/Vale do Jequitinhonha/Sudoeste de Minas/ Metropolitana de Belo Horizonte ........................................................................................... 391 MAPA DIALETAL 06 – Norte de Minas/Vale do Rio Doce/Sudoeste de Minas ................. 392 MAPA DIALETAL 07 – Norte de Minas/Vale do Jequitinhonha/Sudoeste de Minas.......... 393 MAPA DIALETAL 08 – Vale do Jequitinhonha/Metropolitana de Belo Horizonte/Sudoeste de Minas ................................................................................................................................. 394 MAPA DIALETAL 09 – Metropolitana de Belo Horizonte/ Vale do Rio Doce/Sudoeste de Minas ...................................................................................................................................... 395 MAPA DIALETAL 10 – Vale do Jequitinhonha/Vale do Rio Doce/Sudoeste de Minas ...... 396 MAPA DIALETAL 11 – Norte de Minas /Sudoeste de Minas/Metropolitana de Belo Horizonte ................................................................................................................................ 397 MAPA DIALETAL 12 – Metropolitana de Belo Horizonte/Sudoeste de Minas................... 398 MAPA DIALETAL 13 – Norte de Minas/Sudoeste de Minas ............................................... 399 MAPA DIALETAL 14 – Vale do Jequitinhonha/Sudoeste de Minas.................................... 400 MAPA DIALETAL 15 – Vale do Rio Doce/Sudoeste de Minas ........................................... 401 LISTA DE QUADROS QUADRO 01 – Sul/Sudoeste de Minas Gerais – microrregiões .............................................. 30 QUADRO 02 – Lexias não registradas em dicionário etimológico ou com acepção diferente ................................................................................................................................................ 361 QUADRO 03 – Freitas (2012)................................................................................................ 371 QUADRO 04 – Miranda (2013) ............................................................................................. 372 QUADRO 05 – Cordeiro (2013) ............................................................................................ 372 QUADRO 06 – Souza (2014) ................................................................................................. 373 QUADRO 07 – Comparativo de Lexias: Parque Nacional da Serra da Canastra X Interior de São Paulo ................................................................................................................................ 375 QUADRO 08 – Comparativo de Lexias: Parque Nacional da Serra da Canastra X Projeto Léxicos Regionais de Minas Gerais........................................................................................ 378 LISTA DE ABREVIATURAS1 (A) – encontrado no Aurélio (n/A) – não encontrado no Aurélio Adj. – adjetivo ADJsing – adjetivo singular Adv. – advérbio Afr. – africanismo ALEMIG – Atlas Línguístico do Estado de Minas Gerais Ant. – antigo APM – Arquivo Público Mineiro Ár. – árabe Art. – artigo Cast. – castelhano Cf. – confira Conj. – conjunção Contr. – controversa Der. – derivado Entr. – entrevistador Esp. – espanhol F – fraseologia Fac. – facilitador Fr. – francês GO – Goiás Gr. – grego Inf. – informante Interj. – interjeição It. – italiano Lat. – latim Loc. – locução Mal. – malaio 1 Essa lista se refere às abreviaturas utilizadas no texto e nas fichas lexicográficas, embora não tenha sido registrado nesse espaço aquilo que seja específico dos dicionários consultados. MG – Minas Gerais n/e – não encontrado NCf – nome composto feminino NCm – nome composto masculino Nf – nome feminino Nm – nome masculino obs. – observação ORG. – organizador (a) obs. – observação ORG. – organizador (a) Orig. – origem p. – Página PB – português brasileiro Pesq. – Pesquisadora PIB – Produto Interno Bruto Prep. – preposição Pron. – pronome Prov. – provençal RJ – Rio de Janeiro RS – Rio Grande do Sul S – Sul s. – século SP – São Paulo Spl – substantivo plural Ssing – substantivo singular Terc. – terceiro V – verbo Vulg. – vulgar SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 18 CAPÍTULO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA REGIÃO SUL/SUDOESTE DE MINAS ..................................................................................................................................... 24 1.1 O Sul/Sudoeste de Minas na história das Gerais ........................................................... 24 1.1.1 O povoamento e os caminhos ........................................................................................ 24 1.1.2 A comarca do Rio das Mortes e a formação sul-mineira ........................................... 26 1.2 Passos, uma breve história ............................................................................................... 31 1.2.1 A Região Cultural de Passos ......................................................................................... 33 1.2.2 Delfinópolis ..................................................................................................................... 37 1.2.3 São João Batista do Glória, a cidade das cachoeiras .................................................. 39 1.2.4 Vargem Bonita ............................................................................................................... 40 1.2.5 São Roque de Minas ...................................................................................................... 42 1.3 Parque Nacional da Serra da Canastra .......................................................................... 43 1.3.1 Rio São Francisco, o velho Chico ................................................................................. 51 CAPÍTULO 2 – LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE .................................................... 54 2.1 O homem, a língua e a cultura ........................................................................................ 54 2.2 Antropologia linguística ................................................................................................... 54 2.3 Léxico regional .................................................................................................................. 57 2.4 Léxico, cultura e sociedade .............................................................................................. 58 2.5 Variação, mudança linguística e redes sociais ............................................................... 60 2.5.1 A mudança lexical ......................................................................................................... 62 2.6 Lexicologia e campos lexicais .......................................................................................... 63 2.7 Dialeto rural e língua urbana .......................................................................................... 66 CAPÍTULO 3 – MÉTODOS E PROCEDIMENTOS ......................................................... 68 3. 1. Coleta do corpus ............................................................................................................. 68 3.1.1 A escolha dos informantes ............................................................................................ 71 3.1.2 Transcrições ...................................................................................................................72 3.2 Fichas Lexicográficas ....................................................................................................... 74 3.3 Sobre os dicionários consultados ..................................................................................... 76 3.4 Macro e microestrutura do glossário .............................................................................. 79 3.4.1 A macroestrutura .......................................................................................................... 80 3.4.2 A microestrutura ........................................................................................................... 81 CAPÍTULO 4 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ...................................... 82 4.1 As fichas lexicográficas .................................................................................................... 83 4.2 Análises quantitativas .................................................................................................... 356 4.2.1 Quanto às lexias dicionarizadas e não-dicionarizadas ............................................. 357 4.2.2 Quanto ao número de lexias presentes em cada dicionário ..................................... 359 4.2.3 Quanto à classificação gramatical .............................................................................. 360 4.2.4 Quanto à origem .......................................................................................................... 361 4.2.4.1 Quanto aos brasileirismos, regionalismos e lusitanismos ..................................... 363 4.2.5 Quanto à forma e ao gênero das lexias ...................................................................... 365 4.3 Variação, manutenção e mudança dos lexemas ao longo do tempo ........................... 366 4.3.1 Quanto aos arcaísmos .................................................................................................. 369 4.3.2 Lexias não-dicionarizadas no Projeto Léxicos Regionais Mineiros ........................ 371 4.3.3 Quadro comparativo Parque Nacional da Serra da Canastra x Interior de São Paulo ...................................................................................................................................... 374 4.3.4 Quadro comparativo Parque Nacional da Serra da Canastra/MG x Léxicos Regionais de Minas Gerais .................................................................................................. 377 CAPÍTULO 5 – CONTRIBUIÇÕES ÀS PESQUISAS DIALETOLÓGICAS .............. 383 5.1.1 Dialeto ........................................................................................................................... 383 5.1.2 Dialetologia ..... ............................................................................................................. 384 5.1.3 A Dialetologia em Minas Gerais ................................................................................. 385 5.1.4 Mapas Dialetais ............................................................................................................ 387 CAPÍTULO 6 – O GLOSSÁRIO ........................................................................................ 402 6.1 Quadro Geral de Classificação ...................................................................................... 403 6.2 Glossário .......................................................................................................................... 407 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 467 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 471 17 FOTO 02 – Cachoeira Casca D’Anta Fonte: Acervo pessoal. 18 INTRODUÇÃO Não há dúvida de que a língua seja dinâmica, já que é considerada o grande instrumento da interação humana. Essa dinamicidade concentra-se especialmente no nível lexical, sistema aberto favorável a constantes transformações – as palavras resumem a maneira como os falantes veem a realidade, deixando transparecer valores, crenças, hábitos e costumes de um grupo social. Dessa forma, é através do léxico que também são apreendidas a organização e as transformações sociais, econômicas e culturais de uma comunidade. Assim sendo, é compreensível o fato de, desde a antiguidade, a palavra ter sido sempre foco de atenção. A relação entre as coisas e os “nomes das coisas”, há muitos séculos, constitui-se objeto da reflexão dos homens. Vários estudiosos sempre procuraram dar respostas à questão: qual a relação entre as palavras e aquilo que denotam. Essas e muitas outras questões relativas à palavra permitiram que se desenvolvesse no âmbito dos estudos linguísticos o estudo científico do léxico. Afirma Biderman (1978, p.19) que “o léxico é um vasto universo de limites imprecisos e indefinidos. Abrange todo o universo conceptual da língua. O sistema léxico é a somatória de toda a experiência acumulada de uma sociedade e do acervo de sua cultura através do tempo”. Tomando como base essa assertiva, podemos dizer que, ao investigar o léxico de uma língua, investigamos, também, sua cultura. Como moradora da cidade de Passos/Minas Gerais e vizinha do Parque Nacional da Serra da Canastra, depois de realizar durante o mestrado o estudo intitulado “O vocabulário rural de Passos: um estudo linguístico nos sertões do Jacuhy”, propus-me a realizar um estudo linguístico mais abrangente com enfoque no vocabulário rural da Serra da Canastra/ Sudoeste de Minas, tendo como embasamento o tripé léxico, cultura e sociedade. Por vocabulário rural, entende-se, neste trabalho, a variedade do português brasileiro falada em áreas rurais brasileiras, pelo “caipira2” (AMARAL, 1982). Consegui reunir nesta pesquisa duas grandes paixões: o Parque Nacional da Serra da Canastra e o estudo de vocabulário. Desenvolver um estudo sobre o léxico de uma determinada região pressupõe investigar não só a língua dessa região, mas também considerar a influência exercida pelo ambiente, motivada por fatores de natureza geográfica, sociocultural, histórica, dentre outros. O Parque Nacional da Serra da Canastra encontra-se em destaque no mapa apresentado a seguir: 2 Aqui entendido como homem/mulher de baixa escolaridade que detêm um linguajar próprio do campo. 19 MAPA 01 – Parque Nacional da Serra da Canastra/Minas Gerais Fonte: SERRA, 2016.3 A referida região, antes dos bandeirantes e naturalistas do século XVII, XVIII e XIX chegarem, era ocupada por grupos indígenas que estavam na região há diversas décadas. Depois vieram os bandeirantes e, também, os negros que sobreviveram graças às diversas fugas e à organização dos quilombos formados na cabeceira do Rio São Francisco. O povo da Canastra – assim como o povo brasileiro em geral – é uma mistura de três etnias. Os índios e os quilombolas são considerados povos tradicionais, pois seus modos de vida eram e ainda são muito ligados ao ambiente natural, e a forma de passar a cultura para as gerações seguintes é quase toda oral. O interesse em estudar o léxico do Parque Nacional da Serra da Canastra, surgiu porque acreditamos na importância de se pesquisar a língua levando em consideração o tripé léxico, história e cultura. Como o léxico é o sistema da língua que mais retrata a cultura local, optamos por focalizar neste estudo itens lexicais do mundo rural, acreditando nele encontrar resquícios de um passado linguístico e, assim, contribuir para a história social da língua portuguesa. Outro fator relevante é que a localidade nos é familiar, o que facilita nossa entrada nas “redes sociais”, definidas por Milroy (1987) como “representação dos graus de contato entre indivíduos que se relacionam informalmente, mediante duas propriedades – densidade e multiplicidade – resultando, de um lado, redes sociais densas e múltiplas; de outro lado, redes frouxas e com pouco multiplicidade”. Segundo Duranti (2000, p.127), para que o pesquisador obtenha um bom conhecimento da cultura de uma comunidade através de entrevistas, é 3 Disponível em http://www.serradacanastrapousadas.com.br/mapasestradas.html. 20 necessário que tenha uma identificação ou empatia com os membros do grupo, pois só desse modo ele conseguirá obter uma boa perspectiva interna desse grupo, dentro daquilo que os antropólogos chamam de “ponto de vista êmico”. Como terceira justificativa, acreditamos que não há estudos linguísticos referentes ao léxico dessa parte de Minas Gerais. Por último, o presente trabalho comporta um estudo comparado entre o léxico rural verificado na fala das pessoas da região por nós pesquisada e trabalhos de outros pesquisadores que tratam do assunto em outras diferentes regiões do nosso país, tais como Amaral (1920), Santos (2004), Souza (2014), entre outros. Abarcando o Parque Nacional da Serra da Canastra, buscamos colaborar para a ampliação dos estudos lexicais em Minas Gerais, nesse caso, com dados orais registrados em entrevista de campo, através de gravações. Essa pesquisa fornecerá, pois, ao Projeto Léxicos Regionais (FALE/UFMG) mais uma parcela de vocabulário regional. Convém acrescentar que tal estudo, a nosso ver, pode revelar a existência ou não de um dialeto rural com características bem uniformes nas diferentes regiões do Brasil e que se constitui como a base de um possível dialeto rural brasileiro. Podemos, assim, elencar os objetivos que nortearam nossa pesquisa: i. Realizar um estudo léxico-cultural nos municípios que fazem parte do Parque Nacional da Serra da Canastra, tendo como foco o campo semântico do “mundo rural” e ainda ressaltar a relação entre o parque e a vida das pessoas dessas comunidades; ii. Descrever o léxico coletado em entrevistas, agrupando-o em campos semânticos; iii. Levantar aspectos sócio-histórico-culturais da região estudada, para posterior auxílio à análise do corpus; iv. Procurar vestígios de vocabulário setecentista e oitocentista, que se configuram como casos de retenções linguísticas ou até mesmo de arcaísmos; v. Elaborar um glossário seguindo os moldes atuais da Lexicografia, a fim de oferecer ao leitor a compreensão do significado dos vocábulos pesquisados e que poderá também ser utilizado em futuros trabalhos nessa área. Constituíram a base empírica do presente estudo trinta e seis entrevistas orais, realizadas em áreas rurais do Parque Nacional da Serra da Canastra. Convém ressaltar que quinze entrevistas fizeram parte de minha dissertação de mestrado. As transcrições se encontram em CD-Rom, anexo a este volume. Essas entrevistas, parte fundamental desta 21 pesquisa, foram transcritas, digitalizadas e enumeradas em linhas para melhor localização e consulta. Apresentamos, a seguir, a estrutura da pesquisa realizada. No capítulo I, Aspectos históricos da região Sudoeste de Minas, versamos sobre o povoamento e os caminhos existentes no Sudoeste de Minas, a influência das bandeiras e a descoberta do ouro e diamente na localidade pesquisada. Destacamos também a presença de quilombos e garimpeiros no Parque Nacional da Serra da Canastra. A história do Rio São Francisco e sua importância para a região. No capítulo II, intitulado Língua, cultura e Sociedade, abordamos a questão da língua como reflexo da cultura e da história de uma comunidade, baseando-nos, sobretudo, em Hymes (1964), Coseriu (1977) e Duranti (2000). Em seguida, discorremos sobre a Sociolinguística, destacando a variação, a mudança linguística e a noção de “rede social”. Ao tratarmos da relação léxico, cultura e sociedade, apoiamo-nos, principalmente, em Biderman (1984), Isquerdo (2001), Coseriu (1991) e Matoré (1953). No capítulo III, denominado Métodos e procedimentos, explicitamos a pesquisa de campo executada para o levantamento dos dados, detalhando os critérios adotados para a transcrição das entrevistas e descrevendo a ficha lexicográfica utilizada para a análise dos dados. No capítulo IV, intitulado Apresentação e análise dos dados, apresentamos os nossos corpora coletados nas trinta e seis entrevistas com falantes moradores da zona rural do Parque Nacional da Serra da Canastra. Os dados são apresentados na forma de fichas lexicográficas contendo: a) lexia; b) abonação; c) registro em dicionários. Informações que forneceram subsídio para nossa análise linguística. Nesse capítulo, realizamos análise quantitativa dos dados apresentados nas fichas lexicográficas e, ainda, abordamos uma apresentação das principais marcas diatópicas do vocabulário analisado, tais como lusitanismos, regionalismos e brasileirismos. Em seguida, tratamos dos aspectos relacionados à diacronia, ou seja, foram delineados os casos de retenções linguísticas e arcaísmos encontrados entre os vocábulos constantes das fichas lexicográficas. Logo após, apresentamos uma análise dos casos de variação, manutenção e mudança linguística presentes nas fichas, levando-se em consideração as informações dos seis dicionários consultados. Estabelecemos, também, comparações o trabalho realizado no interior de São Paulo, por Amadeu Amaral, intitulado O dialeto caipira e, também, comparamos nosso corpora com os dados já encontrados em trabalhos desenvolvidos no Projeto “Léxicos Regionais Mineiros” sendo eles: O vocabulário rural de Passos/Minas Gerais: um estudo linguístico nos sertões do Jacuhy 22 (2010), de Gisele Aparecida Ribeiro; Café com quebra-torto: um estudo léxico-cultural da Serra do Cipó – MG (2012), de Cassiane Josefina de Freitas; O estudo da fraseologia do léxico rural de Sabinópolis – MG (2013), de Vanderlei Martins Ribeiro de Miranda; O vocabulário rural no Vale do Jequitinhonha: estudo do léxico de Minas Novas (2013), de Maryelle Joelma Cordeiro; Nas Cacimbas do Rio Pardo: um estudo léxico-cultural (2014), de autoria de Vander Lúcio de Souza. No capítulo V, denominado Contribuições às pesquisas dialetológicas, apresentamos um breve estudo sobre os caminhos da Dialetologia em Minas Gerais. Depois descrevemos as lexias comuns encontradas nos glossários já realizados dentro do projeto supracitado por meio de mapas dialetais referentes à áreas já pesquisadas em Minas Gerais. No capítulo VI, apresentamos o Glossário, constituído a partir das lexias selecionadas e analisadas nas fichas lexicográficas com os seguintes dados linguísticos: a) dicionarização ou não da lexia; b) informações gramaticais; c) origem e datação, quando houver; d) definição; e) abonação; f) localização no corpus. Primeiramente, essas lexias são apresentadas segundo o critério onomasiológico e, em um segundo momento, pelo critério semasiológico, ou em forma de glossário propriamente dito. Em Considerações Finais, são retomados os principais aspectos discutidos nos capítulos anteriores e os resultados obtidos a partir da análise desenvolvida. Finalmente, nas Referências, segue-se a relação das obras que deram suporte ao presente estudo. Nesta perspectiva, analisar o léxico de uma comunidade é revelar as práticas sociais em seu acervo de palavras; é compreender a história, as manifestações artísticas, as religiões, as atividades econômicas, os valores etc. como sendo importantes elementos constitutivos de um grupo. É dar-se a conhecer todo o seu patrimônio sociocultural; tudo aquilo que construiu, constroi e que será deixado para a posterioridade. Considerando-se tudo que foi dito anteriormente e acreditando que o léxico da Serra da Canastra espelha a história local, a ocupação e o povoamento da região por meio de várias bandeiras, a cultura construída pelos índios, negros e colonizadores que lá chegaram, trabalhamos este projeto a partir da hipótese de que “a linguagem não é só um fenômeno cultural como constitui, simultaneamente, o fundamento de toda sociedade e a expressão social mais perfeita do homem.” (OLIVEIRA, 2001, p.132). 23 FOTO 03 – Serra da Canastra – Parte Baixa Fonte: Acervo pessoal. 24 CAPÍTULO 1 – ASPECTOS HISTÓRICOS DA REGIÃO SUL/SUDOESTE DE MINAS 1.1 O Sul/Sudoeste de Minas na história das Gerais 1.1.1 O povoamento e os caminhos No final do século XVII, o caminho velho, de São Paulo em direção ao Norte do Continente, tendo Piratininga e Mogi Mirim como ponto de partida, atingia Minas Gerais passando por Taubaté, Atibaia e Bragança. Foi a expedição de Fernão Dias Pais que deu início ao povoamento da região sul-mineira, especialmente as fazendas de abastecimento e pouso instaladas nas proximidades dos caminhos que levavam ao ouro. Zemella (1951, p.37-38) explica que havia pelo menos três correntes de povoamento que adentravam Minas Gerais em meados do século XVI: a dos paulistas, naturais de Taubaté, Piratininga, Santos e outras vilas; a dos nordestinos que abandonaram a velha região da cana-de-açúcar e dos engenhos em busca das lavras; e a dos portugueses e outros estrangeiros que deixaram seus países com o objetivo de enriquecerem no Novo Mundo. Com a descoberta do ouro, abriu-se o caminho novo de Parati, passando pelo Campo das Vertentes e atingindo a região central de Minas. Embora tenha diminuído a importância do caminho velho, o novo não anulou o tráfego do Sul de Minas que continuou intenso, como via de abastecimento da região mineradora. De acordo com essa estudiosa (1951, p. 32), “a febre do ouro contaminou milhares de pessoas. O sertão foi tomado de assalto por bandeiras que se sucederam e as descobertas se multiplicaram ininterruptamente”. Também segundo Zemella (1951, p.49), descoberto o ouro, tendo sido paulistas seus descobridores, sendo paulista a primeira via de comunicação com as Gerais, as vilas Planaltina estavam naturalmente indicadas para funcionarem como mercados abastecedores das populações mineiras. De fato, muito cedo, estabeleceu-se ativa corrente comercial entre as cidades vicentinas e as Gerais. Os caminhos paulistas viram-se trilhados e batidos com frequência por mercadores, tropeiros, comboieiros e boiadeiros que iam e vinham por essas estradas, diferenciando-se por isso mesmo daqueles que, levados pela febre do ouro, apenas, pensavam na ida e não na volta. 25 Essa pesquisadora (1951, p.49-50) ainda assevera que: os caminhos paulistas de penetração nas Gerais, apesar de penosos, apesar de longos, eram caminhos cheios de vida, cheios de movimento, percorridos incessante por levas de forasteiros que iam instalar-se nas minas, bem como por barulhentas tropas de mercadores que iam levar às Gerais tudo aquilo que suas populações reclamavam. Neste mapa proposto por Zemella (1951), podemos ver traços de caminhos antigos, dentre eles um que adentra o território sudoeste mineiro. MAPA 02 – Mercados abastecedores de Minas Gerais Fonte: ZEMELLA, 1951, p.103. 26 1.1.2 A comarca do Rio das Mortes e a formação sul-mineira Inserida no amplo contexto colonial brasileiro, a história da Comarca do rio das Mortes, parte da antiga Capitania das Minas Gerais, representou, como o restante da colônia, um novo espaço no processo de expansão colonialista da Coroa Portuguesa. O desejo de encontrar o eldorado estimulou aventureiros portugueses e brasileiros a se arriscarem pelos sertões em busca de riquezas minerais. Foram os bandeirantes paulistas, segundo Grilo (2009, p. 254), “os primeiros desbravadores dessa região” que, mais tarde, passou a ser conhecida pela abundância do ouro ali encontrado. Muitas vezes, esses bandeirantes contavam com o apoio do governo português, que se empenhava em ver realizado o sonho de enriquecimento a partir da descoberta de metais preciosos. As dificuldades encontradas para ocupar essas terras foram diversas, as quais podemos destacar: a geografia montanhosa, a inexistência de caminhos, o risco de doenças e a ameaça indígena. Os habitantes dessa região eram os índios cataguases — a tribo mais temida pelos bandeirantes. Porém, a força armada do homem branco era naturalmente superior, e os indígenas foram forçadamente adaptados às novas condições de vida. Vencida a resistência indígena, o acesso aos campos gerais tornou-se mais fácil, especialmente entre os anos de 1693 e 1695, quando foi descoberta enorme quantidade de ouro de aluvião nas proximidades dos rio São Francisco, Doce e das Velhas. Pela sua localização, a região do Rio das Mortes tornou-se passagem obrigatória para aqueles que, transpondo o rio Grande e a Serra da Mantiqueira, vinham de São Paulo ou do Rio de Janeiro para as comarcas de Sabará e Vila Rica nos primeiros anos da exploração aurífera. Em meio a esse caminho, havia um local denominado Porto Real da Passagem, em que o paulista Tomé Portes del Rei exercia o direito de cobrança pela passagem no Rio das Mortes. Aí se formou o primitivo núcleo de povoamento compreendido entre os atuais municípios de São João del-Rei e Tiradentes. Essa rota ficou conhecida como Caminho Velho, em oposição ao depois Caminho Novo, que, anos mais tarde, cortaria a região mineradora. Naturalmente, a exploração das jazidas de ouro e a necessidade de moradia e incremento comercial de bens de consumo para os mineradores proporcionaram o surgimento do Arraial Velho do Rio das Mortes (atual Tiradentes), em 1701, e do Arraial Novo do Rio das Mortes (hoje São João del-Rei), por volta de 1704. A partir daí, surgiram outros núcleos de povoamento, dando origem a localidades como Prados, Lagoa Dourada, Carrancas e Resende Costa. Segue, o mapa ilustra a região dessa comarca. 27 MAPA 03 – Comarca do rio das Mortes Fonte: GRILO, 2009, p. 45. No entanto, a ocupação da região mineradora não se daria de maneira pacífica. Além dos conflitos com os nativos, ocorreram sérias divergências entre paulistas e forasteiros, sobretudo portugueses e brasileiros do norte do país. A inexistência de uma autoridade constituída provocou a chamada Guerra dos Emboabas, nome pejorativo dado àqueles que vinham de Portugal e das ilhas Atlânticas e se dirigiram à região das minas de ouro. Os anos de 1707 e 1709 foram marcados por intensa luta armada, caracterizando a superioridade dos emboabas, que passaram a controlar as principais datas auríferas e provocaram o deslocamento dos paulistas para áreas mais afastadas ao longo do rio das Mortes. O episódio conhecido como Capão da Traição, ocorrido em local próximo ao Rio das Mortes, provavelmente em 1708, marcou com violência a vitória final dos portugueses sobre os paulistas. Inúmeras lendas relatam o episódio como “[...] o mais horrendo acontecimento [...] em razão do qual tomou o sítio em que se deu tal episódio o nome de Capão da Traição” (Afonso, 1998, p.27). 28 A necessária intervenção das autoridades coloniais no sentido de solucionar o conflito alertou a metrópole para a criação e regularização de órgãos administrativos no âmbito da justiça e da ação fiscal. Entre as primeiras medidas oficiais estaria a distribuição de datas e sesmarias, definindo-se territórios e seus respectivos proprietários. Em 1710, a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro é criada, sendo escolhido para governador Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho. No ano seguinte, alguns arraiais mineradores são transformados nas primeiras vilas da capitania recém-criada. Em 1714, as jurisdições das comarcas mineiras são definidas pelo então governador da capitania, Dom Braz Baltazar da Silveira. Nessa época, a Vila de São João del-Rei é eleita a principal vila da Comarca do Rio das Mortese diversas localidades consolidam-se, como no caso das vilas de São José del-Rei, de Nossa Senhora da Conceição de Prados, de Santa Rita do Rio Abaixo (atual Ritápolis) e do povoado de Mosquito (hoje, Coronel Xavier Chaves). Porém, em meados do século XVIII, já se vislumbram sinais da decadência aurífera com o esgotamento de muitas minas de ouro, levando ao consequente enfraquecimento do pacto colonial. A Comarca do Rio das Mortes, como uma das mais importantes regiões mineradoras, é também afetada pelo rígido controle instituído em vilas e arraiais mineradores a partir da atuação do Marquês de Pombal. A cobrança de impostos foi a solução encontrada para que a metrópole continuasse a acumular as riquezas extraídas da colônia. O mais comum deles era o dízimo, quase sempre cobrado por um contratador, que era obrigado a recolher um certa quantia ao Erário real em troca do que conseguisse arrecadar. Em 1789, a Comarca do Rio das Mortes envolve-se no mais importante movimento revolucionário da época — a Inconfidência Mineira. Diversas personalidades da região foram apontadas como membros do movimento, entre elas o padre Carlos Corrêa de Toledo e Mello, vigário da freguesia de Santo Antônio na Vila de São José del-Rei, Inácio José de Alvarenga Peixoto, ouvidor da Vila de São João del-Rei, além do capitão José de Resende Costa e dos alferes Vitoriano Gonçalves Veloso e Joaquim José da Silva Xavier. Segundo Carrato (1962, p. 218), depois da Inconfidência Mineira ocorreu uma verdadeira diáspora em Minas em que os povos das regiões auríferas se espalharam em migrações internas para os extremos da Capitania. A partir de então, a região Sul foi tomada quase inteiramente pela Comarca do Rio das Mortes, verificando-se, no século XIX, uma substancial mudança na região, o que gerou crescimento econômico e, consequentemente, expansão para outras regiões da Província. Com isso, houve mudança na fisionomia da região: passaram a ser constantes os desmembramentos de distritos, com a criação de novos municípios e comarcas. 29 Surgem os municípios de Baependi e Jacuí em 1814; Lavras e Pouso Alegre em 1831; Aiuruoca em 1834; Oliveira em 1839; Três Pontas em 1841; São João Nepomuceno em 1841; Campo Belo em 1848; São Sebastião do Paraíso em 1870; São Gonçalo do Sapucaí e Poços de Caldas em 1888. Mas é a emancipação de Campanha, desmembrado de São João del-Rei, que dá início ao que compreende a região hoje conhecida como Sul de Minas, conforme alvará de 20 de novembro de 1789. Os núcleos principais do município foram Baependi, Jacuí, Pouso Alegre, Itajubá, São Gonçalo do Sapucaí e Lavras, que no século XX vão-se desmembrando em outros municípios através de leis estaduais que promovem constantes divisões administrativas. Dessa forma, desdobra-se em Aiuruoca, Liberdade, Pouso Alto. Jacuí é dividido em Passos, São Sebastião do Paraíso e Monte Santo. Pouso Alegre divide-se em Caldas, Cabo Verde, Alfenas, Poços de Caldas e Monsenhor Paulo. Lavras divide seu território nos municípios de Três Pontas, Perdões, Nepomuceno, Itumirim, Ribeirão Vermelho e Ijaci. Contemporaneamente, o IBGE agrupa as regiões sul e sudoeste em uma única região denominada Sul/Sudoeste de Minas, subdividindo-a em dez microrregiões, conforme podemos verificar no QUADRO 1: 30 QUADRO 01 – Sul/Sudoeste de Minas Gerais – microrregiões Microrregião: Andrelândia Aiuruoca Andrelândia Arantina Bocaina de Minas Bom Jardim de Minas Carvalhos Cruzília Liberdade Minduri Passa Vinte São Vicente de Minas Seritinga Serranos Microrregião: Santa Rita do Sapucaí Cachoeira de Minas Careaçu Conceição das Pedras Conceição dos Ouros Cordislândia Heliodora Natércia Pedralva Santa Rita do Sapucaí São Gonçalo do Sapucaí São João da Mata São José do Alegre São Sebastião da Bela Vista Silvianópolis Turvolândia Microrregião: São Lourenço Alagoa Baependi Cambuquira Carmo de Minas Caxambu Conceição do Rio Verde Itamonte Itanhandu Jesuânia Lambari Olímpio Noronha Passa Quatro Pouso Alto São Lourenço São Sebastião do Rio Verde Soledade de Minas Microrregião: Pouso Alegre Bom Jesus do Repouso Borda da Mata Bueno Brandão Camanducaia Cambuí Congonhal Córrego do Bom Jesus Espírito Santo do Dourado Estiva Extrema Gonçalves Ipuiúna Itapeva Munhoz Pouso Alegre Sapucaia-Mirim Senador Amaral Senador José Bento Tocos do Moji Toledo Microrregião: Alfenas Alfenas Alterosa Areado Carmo do Rio Claro Carvalhópolis Conceição de Aparecida Divisa Nova Fama Machado Paraguaçu Poço Fundo Serrania Microrregião: Itajubá Brasópolis Consolação Cristina Delfim Moreira Dom Viçoso Itajubá Maria da Fé Marmelópolis Paraisópolis Piranguçu Piranguinho Virgínia Wenceslau Braz Microrregião: Passos Alpinópolis Bom Jesus da Penha Capetinga Capitólio Cássia Claraval Delfinópolis Fortaleza de Minas Ibiraci Itaú de Minas Passos Pratápolis São João Batista do Glória São José da Barra Microrregião: São Sebastião do Paraíso Arceburgo Cabo Verde Guaranésia Guaxupé Itamogi Jacuí Juruaia Monte Belo Monte Santo de Minas Muzambinho Nova Resende São Pedro da União São Sebastião do Paraíso São Tomás de Aquino Microrregião: Varginha Boa Esperança Campanha Campo do Meio Campos Gerais Carmo da Cachoeira Coqueiral Elói Mendes Guapé Ilicínea Monsenhor Paulo Santana da Vargem São Bento Abade São Thomé das Letras Três Corações Três Pontas Varginha Microrregião: Poços de Caldas Albertina Andradas Bandeira do Sul Botelhos Caldas Campestre Ibituruna de Minas Inconfidentes Jacutinga Monte Sião Ouro Fino Poços de Caldas Fonte: Projeto ATEMIG – FALE/UFMG, 2009, p.20. A microrregião de Passos localiza-se no sudoeste de Minas, como destacamos no MAPA 04. 31 MAPA 04 – Microrregião de Passos Fonte: MICRORREGIÃO, 2010.4 Essa microrregião é composta por catorze municípios, a saber: Alpinópolis, Bom Jesus da Penha, Capetinga, Capitólio, Cássia, Claraval, Delfinópolis, Fortaleza de Minas, Ibiraci, Itaú de Minas, Passos, Pratápolis, São João Batista do Glória, São José da Barra. 1.2 Passos, uma breve história Em meados do século XVIII, os “sertões do Jacuhy”, região geo-histórica da origem da comunidade de Passos, pertenciam à Província de São Paulo. A descoberta de ouro em Jacuí e as faiscagens (garimpos de pequena escala nos leitos e margens dos mananciais) em suas redondezas motivaram intervenção armada do Governador das Minas, Luís Diogo Lobo da Silva, em 1764, e a ocupação dos referidos sertões. A junta, presidida pelo Vice-rei, no Rio de Janeiro, confirmou, em 1765, a divisão anterior, decisão não respeitada pelo governo mineiro, seguindo-se uma acirrada “questão de divisa”, que se arrastaria pelo resto do século. 4 Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:MinasGerais_Micro_Passos.svg. 32 Como meio de assegurar a posse, tanto o governo de Minas quanto o de São Paulo incentivaram a fixação de “casais” da região. Os paulistas vieram da região de Mogi; os de Minas, de São João Del-Rei e Lavras do Funil. Muitos outros vieram diretamente das ilhas portuguesas. Antonio de Freitas e Silva, médico na freguesia do Facão (SP), foi um dos primeiros a obter terras junto ao Ribeirão do São Francisco e do Bonsucesso, doando-as ao filho José de Freitas e Silva, que acabara de obter a ordenação sacerdotal. Por volta de 1780, tendo morrido o pai, o jovem padre se fixou em Jacuí e implantou a Fazenda Bonsucesso ao pé do Morro de São Francisco, onde instalou a mãe viúva, Dona Faustina Maria das Neves, e outros familiares. Dona Faustina, daí para frente, dirigiu os destinos da fazenda, de cuja colônia, junto às faisqueiras do Bonsucesso, se originou a cidade de Passos. Os mineiros ocuparam as terras ao longo do Ribeirão Bocaina, dividindo com D. Faustina, Manoel Cardoso Osório e Eduardo Barros nas cabeceiras; os irmãos Domingos de Souza Vieira e João de Souza Vaz, Bocaina abaixo até a foz no rio Grande. Meio paulista, meio mineira, a povoação inicial seguia mais ou menos a direção do “caminho do Desemboque”. À primeira e diminuta capelinha de Santo Antônio (edificada pelos paulistas) seguiu-se outra, na atual praça da Matriz, maior e em condição de ser curada, com a invocação do Senhor dos Passos (edificada pelos mineiros), cujo patrimônio foi doado por Domingos de Souza Vieira e Joaquim Lopes da Silva, este como herdeiro de D. Faustina das Neves. Prevaleceu a segunda, sendo modificado o traçado urbano anterior por arruadores de Jacuí. A capela do Senhor dos Passos, iniciada em 1829, por iniciativa de Domingos Barbosa Passos, foi inaugurada em 1835, e o cura designado foi Francisco de Paula Trindade. Em 1840, por sua providência, o Bispado de São Paulo criou a paróquia independente, com a mesma invocação. Em 1848, os entrantes de Lavras reivindicam a criação da vila. Atendidos, a instalação da Vila Formosa do Senhor dos Passos se dá em 07 de setembro de 1850. Oito anos depois, foi elevada à condição de cidade, no dia 14 de maio de 1858. Assim, nascia o município de Passos. 33 FOTO 04 – Igreja do Senhor Bom Jesus dos Passos – Passos/MG Fonte: Acervo pessoal. 1.2.1 A Região Cultural de Passos Abordando o conceito de “região cultural”, Diégues Júnior (1960) pondera sobre a origem da cultura brasileira e lembra que o Brasil faz parte de uma área cultural maior que o seu território, chamada de “área cultural luso-cristã”, abarcada por Portugal e suas províncias ultramarinas, e o que distinguiria essa área seriam o elemento lusitano e o cristianismo, esse servindo como base religiosa. Diégues Jr. (1960) afirma que, a partir dessa ligação lusitana comum, nossa formação cultural é consequência da conexão de diversas condições geográficas e humanas, e que para entender melhor essa cultura é preciso enfocá-la sob o ângulo de regiões culturais. Esse pesquisador (1960, p.6) afirma que “a caracterização de regiões culturais constitui um ponto de partida fundamental para certos estudos, sobretudo para compreensão das diversidades culturais de hoje – e quase diria: pluralismo cultural”. Para esse articulista (1960, p.6-7), o conceito de região cultural pode ser apreendido como um conjunto ecológico de pessoas, aproximadas pela unidade das relações espaciais da população, da estrutura econômica e das características sociais, dando- lhe, em conjunto, um tipo de cultura que, criando modo de vida próprio, a difere de outras regiões. 34 Diégues Jr. adverte que diferentes tentativas de se analisar a cultura e a história brasileira de modo regionalizado foram feitas desde meados do século XIX, citando as propostas de Martius, Nina Rodrigues, Roquete Pinto, Silvio Romero e outros. Contudo, o autor assevera que nenhuma dessas classificações pode ser considerada como de região cultural. Segundo esse estudioso (1960, p.12-13): De modo geral, verifica-se nessas classificações – como, aliás, em outras que se destinam a estudos lingüísticos ou de alimentação ou de literatura ou de geografia – tomar-se como base apenas um elemento – a língua, a alimentação, a literatura ou a geografia, respectivamente – que, considerado predominante, torna-se o centro da região. Parece-nos um sentido restrito esse em que se ignoram outros aspectos deixando de lado a conjugação de vários elementos que, através da Antropologia, da Sociologia, da Economia, da História, da Geografia, da Etnografia, possam oferecer as características fundamentais a fixar numa região cultural. A partir do exposto, fica claro que a caracterização de região cultural deve levar em conta diversos aspectos, como as relações do homem entre si e do homem com o seu meio. Sendo assim, Diégues Jr. (1960, p.14) afirma que, “para tratar de forma completa a noção de ‘região cultural’, é preciso buscar no processo de ocupação humana os elementos que oferecem as bases para as caracterizações de cada região.” De acordo com esse mesmo autor (1960, p. 19), é “a existência de certos elementos que dão unidade e mesmo homogeneização à cultura”, que delimita uma região cultural. A partir do que aqui foi relatado, Diégues Júnior (1960) propõe uma divisão do Brasil em 10 regiões culturais, a saber: a) o nordeste agrário do litoral, caracterizado, do ponto de vista étnico, pela mestiçagem entre brancos e negros e, do ponto de vista socioeconômico, pelos engenhos de açúcar. b) o nordeste mediterrâneo caracterizado pela mestiçagem entre brancos e índios e pela atividade da criação de gado, com seus currais e a figura do vaqueiro. c) a Amazônia, caracterizada principalmente pelo elemento indígena e pelo extrativismo vegetal da borracha (que teve no seringal seu focal point), da madeira, do castanheiro. d) a mineração no planalto, caracterizada economicamente pela formação dos arraiais de mineração, e socialmente pela presença de várias correntes como mamelucos, mulatos, reinóis, judeus, paulistas e nordestinos. e) o centro-oeste, que no início teve a mineração como atividade principal, e que após seu declínio deu espaço à pecuária, que hoje tem grande destaque. O elemento humano 35 predominante foi o português mestiçado com o indígena e que hoje sente um pouco a influência cultural espanhola das regiões vizinhas. f) o extremo sul, que teve na pecuária sua principal atividade econômica e que teve sua formação humana resultante da expansão de correntes paulistas, nordestinas e fluminenses. A influência cultural da vizinhança deu a essa região aspecto peculiar, e tem a estância como seu núcleo social mais marcante. g) as regiões de colonizações estrangeiras, as quais foram formadas inicialmente por alemães e italianos, e depois por poloneses, russos, árabes, tendo ainda, mais tarde, chegado holandeses e japoneses. Compreende áreas isoladas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. h) a região do café, que teve expansão a partir do século XIX, irradiando-se do Rio de Janeiro e alcançando São Paulo, Minas Gerais e, posteriormente, o estado do Paraná. Socialmente, teve a figura dos escravos e posteriormente dos imigrantes que trabalhavam na exploração do café. A partir da fazenda de café e dos barões do café, essa região gozou de grande influência no cenário político e econômico nacional e, mais tarde, passou por intensas transformações, experimentando um grande desenvolvimento industrial. i) a região do cacau, no sul da Bahia, que experimentou grande desenvolvimento. j) a região do sal, localizada no Rio Grande do Norte e também no Rio de Janeiro. Essas regiões podem ser visualizadas no MAPA 05. 36 MAPA 05 – Regiões culturais do Brasil Fonte: DIÉGUES JR., 1960, p. 02. Embora reconhecendo a existência de dez “regiões culturais” no território brasileiro, Diégues Júnior (1960, p.23) já chamava a atenção para “as intensas transformações que essas regiões vem passando em face do desenvolvimento dos transportes e das comunicações.” Tal fato, segundo ele, “altera valores e características dessas áreas, levando- as a mudanças significativas.” Diz, também, que cada região assinalada por ele não apresenta unicamente um tipo de cultura, mas o oposto, há uma variedade, como anota: Podemos encontrar em cada região cultural diversidades que não lhe quebram a hegemonia, traduzida esta pela maior importância dos estilos de vida criados em torno de uma atividade. Como as regiões culturais diversas não quebram a unidade da cultura brasileira. (DIÉGUES JR., 1960, p.23) Considerando o conceito de Diégues Junior (1960) sobre ‘região cultural’ acima discutido, podemos afirmar que a cidade de Passos se insere na região do café, já que a base predominante da economia do município é a cafeeira. Mas não podemos deixar de considerar que a pecuária e a plantação de outros tipos de cultura também têm imensa relevância para o município. A pecuária tem ganhado, contemporaneamente, espaço e se mostrado muito forte na região. 37 Passos é o município mais populoso do Sudoeste Mineiro e o quarto em todo Sul de Minas. Está situado a 345 km da capital Belo Horizonte, tem como municípios limítrofes, ao norte, Delfinópolis; ao sul, Jacuí e Bom Jesus da Penha; a leste, São João Batista do Glória e Alpinópolis; a oeste, Cássia e Itaú de Minas. O município é rico em recursos hídricos, estando situado na bacia do médio rio Grande, que é composta pelo rio São João, Ribeirão Conquistinha e Ribeirão Bocaina. Hoje, a cidade também é conhecida por sua indústria moveleira e de confecção de roupas. 1.2.2 Delfinópolis A comarca abarcada entre os ribeirões Extrema, Forquilha, Engano e o Rio Santo Antônio, fixada à margem direita do Rio Grande, era constituída por 3 sesmarias conferidas a Ambrósio Gonçalves Pacheco. FOTO 05 – Travessia de balsa em Delfinópolis – MG Fonte: Acervo pessoal de um entrevistado. Logo no início de século XVIII, a esposa de Ambrósio, Dona Violanta Luzia de São José, perpetrou a doação de 288 hectares de terras virgens, localizadas à margem esquerda do Ribeirão Forquilha, para patrimônio de uma capela a ser levantada em honra do Divino Espírito Santo. Esse foi o início do povoado denominado Espírito Santo da Forquilha, nome colocado em homenagem ao padroeiro local e em face do ribeirão citado. 38 A designação de forquilha ocorreu devido ao fato de o mencionado ribeirão, em sua confluência, conseguir uma volta, em tudo parecida a uma forquilha. Julga-se que, em tempos anteriores, tal localidade tenha sido habitada por indígenas das tribos Tupiniquins e Carijós. A asseveração fundamenta-se em peças indígenas, domésticas e de guerra, descobertas há pouco tempo nos arredores do lugar denominado "Ponte do Surubi", onde se acredita ter sido o local exato em que os mesmos tiveram seus acampamentos. Há também evidências da passagem de bandeiras por aquelas bandas, notadamente perto da Cachoeira do Santo Antônio onde escavações profundas e antigas e o deslocamento de enormes pedras testemunham a presença de civilizados. Sabe-se que os primeiros habitantes do povoado foram, dentre outros, João Marques, Joaquim de Almeida e Justiniano de tal, de sobrenome desconhecido. Estes foram os primeiros residentes. Posteriormente, em 1871, Antônio Rodrigues descobriu terrenos auríferos no Rio Santo Antônio e veio desse fato um progresso mais acelerado para o povoado, que no mesmo ano passou a distrito, do município de Santa Rita de Cássia. Em 1919, o seu topônimo foi modificado para Delfinópolis, em homenagem ao então governador do estado, Delfim Moreira da Costa Ribeiro. Em 1938, foi elevado à categoria de município, tendo ficado sob subordinação política da Comarca de Cássia. MAPA 06 – Localização de Delfinópolis/MG Fonte: DELFINÓPOLIS, 2016.5 5 Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Delfin%C3%B3polis. 39 1.2.3 São João Batista do Glória, a cidade das cachoeiras Informações sobre o surgimento de São João Batista do Glória nunca foram encontradas, portanto o início de sua história chega até hoje através de conhecimentos orais. Os primeiros habitantes da localidade foram silvícolas, desconhecendo-se, no entanto, de que tribo faziam parte. Foram encontrados, na região, restos de cerâmica e armas de pedra dos índios, havendo, também, em um bairro da cidade denominado Serra, gravada em uma rocha, uma inscrição atribuída a esses primitivos moradores. No começo do século passado, por volta de 1820, vindos de Candeias e com destino aos sertões de Goiás em busca de terras de cultura, os irmãos Daniel e Joaquim Goulart passaram pelo local onde hoje se acha a cidade de São João Batista do Glória. FOTO 06 – Cachoeira Véu da Noiva – São João Batista do Glória/MG Fonte: Acervo pessoal. A abundância de terras férteis chamou-lhes a atenção, sendo assim ali ficaram, apossando-se de vasta extensão de terras. Depois de um tempo instalados, um dos irmãos Goulart ficou gravemente doente, e com a finalidade de conseguir a sua cura, os dois prometeram doar a São João Batista – da Igreja da Glória em Candeias – uma determinada porção de terras localizada entre os córregos Lava-pés e da Chácara. A cura foi concedida, uma vez que, cumprindo a promessa feita, os irmãos Goulart doaram 70 alqueires de terras, onde logo construíram uma capela tendo como padroeiro São João Batista. O lugar indicado, 40 às margens do Rio Grande, oferecia magnífica topografia. Com o passar do tempo e a vinda de outros forasteiros e de diversas famílias, já em 1825 formava-se em torno da singela capela um pequeno povoado a que denominavam São João Batista da Glória, posteriormente modificado para São João Batista do Glória. A freguesia foi criada em 1857 com território desmembrado de Piumhi. Em 1870, existiam 150 casas no povoado, contando a freguesia com uma população de 2250 almas. O primeiro livro de batizados encontrado nos arquivos paroquiais data de 1858. Por ocasião do Recenseamento Geral de 1890, contava o território da freguesia com 4127 habitantes. O crescimento da população distrital sempre foi moroso, chegando mesmo a sofrer sensível diminuíção entre 1940 e 1950, com a saída de várias famílias com destino aos Estados do Paraná e Goiás, à procura de melhores condições de vida. O distrito foi elevado à categoria de município em 1948, pela Lei estadual nº 336. Sgue abaixo mapa de localização do município supracitado. MAPA 07 – Localização de São João Batista do Glória Fonte: SÃO JOÃO BATISTA DO GLÓRIA, 2016.6 1.2.4 Vargem Bonita Vargem Bonita está situada em uma região que foi campo de lutas sangrentas entre sertanistas e índios, desde 1.675. A partir de 1.743, as contendas passaram a acontecer entre as tropas do comandante Costa Chaves e os negros fugidos de cativeiro, que formaram quilombos em grande número nas matas do Chapadão da Babilônia e encostas da Serra da Canastra, nascente do Rio São Francisco. 6 Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Jo%C3%A3o_Batista_do_Gl%C3%B3ria. 41 A cidade nasceu como povoado entre 1.935 e 1.936 a partir do descobrimento de veios de diamantes no grande rio e seus afluentes, nas terras da fazenda Vargem Bonita. A subsistência do município provém da agropecuária, principalmente da fabricação e venda de queijos da Serra da Canastra (Queijo Canastra), de exportação de excedentes dos cereais, especialmente feijão, arroz, milho e café. Vargem Bonita é um dos municípios com pouco mais de 35 anos, que ainda garimpa e exporta diamantes. Com um traço marcante de origem afro-brasileira, o seu folclore conserva a tradição a tradição do congado, marujada e outros, como a folia-de-Reis. FOTO 07 - A cidade de Vargem Bonita na década de 40 Fonte: Acervo pessoal de um entrevistado. A partir de 1.944, o arraial ganha categoria de vila com o fazendeiro José Alves Ferreira, proprietário da Fazenda Vargem Bonita, loteando terrenos e mandando fazer palmos de urbanização, possibilitando assim o crescimento do lugar. Finalmente, a 12 de dezembro de 1.953, a Lei nº 1.039 cria o novo município de Vargem Bonita. 42 MAPA 08 – Localização de Vargem Bonita/MG Fonte: VARGEM BONITA, 2016.7 1.2.5 São Roque de Minas São Roque de Minas localiza-se em uma região onde anteriormente habitavam Índios Cataguazes, que em 1675 foram dizimados pelo bandeirante Lourenço Castanho Taques. Os negros escravos foram os próximos habitantes daquela localidade, fugidos das redondezas, constituíram ali os famosos quilombos, usufruindo das terras férteis da nascente do Rio São Francisco, chamado naquela época de “Cabrestos Grandes”. Os meios de subsistência deles eram agricultura, pesca e caça, e, durante diversos anos lutar contra o domínio dos brancos. Por volta do século XVIII, Diogo Bueno da Fonseca conseguiu eliminá- los em lutas sangrentas. Depois disso, a comunidade começou a ser povoada por mestiços e brancos vindos dos centros de mineração das vizinhanças, que iniciavam a sua decadência. O povoado surgiu a partir da fé religiosa dos seus habitantes, que, em 1762 ergueram uma capela em homenagem a São Roque. Manoel Marques de Carvalho, o fundador da cidade, foi quem promoveu a construção da igreja. O Distrito de São Roque foi criado pela Lei Estadual nº 2, de 14 de setembro de 1891, pertencente ao Município de Piumhi, onde o denominado povoado de São Roque passou à categoria de Vila de São Roque. A Lei Orgânica Federal nº 311, de 02 de março de 1938, estabelece a criação de novos municípios, mas, somente em 17 de dezembro de 1938, por força do Decreto-Lei 7 Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Vargem_Bonita_(Minas_Gerais). 43 Estadual nº 148, criou-se o Município de Guia Lopes e a então Vila de São Roque, foi elevada à categoria de Sede do referido Município, desmembrando-se de Piumhi; o mesmo Decreto- lei criou também o Distrito de Serra da Canastra (ex-São João Batista da Serra da Canastra), cuja sede passou a denominar-se Vila de Serra da Canastra. A denominação de Guia Lopes, foi em homenagem a José Francisco Lopes, seu ilustre filho e bravo guia das tropas brasileiras durante a célebre “Retirada da Laguna”. Guia Lopes foi elevada a sede de Comarca pela Lei Estadual nº 1.039 de 12 de dezembro de 1953, lei esta que criou também o Distrito de São José do Barreiro, cuja sede passou a denominar-se Vila de São José do Barreiro, pertencente ao então Município de Guia Lopes, cujo perímetro urbano e suburbano da mesma foi delimitado pela Lei Municipal nº 173 de 12 de janeiro de 1954. Em 13 de Junho de 1954 é instalado solenemente o Distrito de São José do Barreiro. Após um plebiscito popular realizado em 1962, o Município de Guia Lopes, por força da Lei Estadual nº 2.764, de 30 de dezembro de 1962, teve sua denominação alterada para São Roque de Minas. Segue abaixo mapa da localização de São Roque de Minas. Mapa 09 – Localização de São Roque de Minas/MG Fonte: SÃO ROQUE DE MINAS, 2016.8 1.3 Parque Nacional da Serra da Canastra O Parque Nacional da Serra da Canastra (PNSC), que abarca uma área de aproximadamente 200 mil hectares, foi criado em 3 de abril de 1972, por meio do Decreto nº 70.355 e está situado na região sudoeste do Estado de Minas Gerais, abrangendo os 8 Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Roque_de_Minas. 44 municípios de São Roque de Minas, Sacramento, Tapira, Delfinópolis, São João Batista do Glória, Capitólio e Vargem Bonita. Para o desenvolvimento desse trabalho, Sacramento e Tapira não foram abarcados. MAPA 10 – Parque Nacional da Serra da Canastra/ MG Fonte: SERRA DA CANASTRA, 2016.9 A região compreende as cabeceiras das bacias hidrográficas dos rios São Francisco e Paraná. As bacias do rio Grande, ao sul, e a do rio Paranaíba, ao norte, representam a cabeceira do Rio Paraná que recebe os afluentes das cabeceiras do rio Araguari. A região é marcada pela volumosa rede de drenagem com inúmeros aportes e diversas nascentes que nutrem os muitos cursos de água ali existentes. A chegada da expedição liderada pelo europeu Américo Vespúcio à foz do rio São Francisco, em 1501, no dia de São Francisco, é um dos principais fatos históricos relacionados à região do Parque Nacional da Serra da Canastra. A nomeação do rio homenageia o santo daquele dia. Algum tempo após a descoberta do Rio São Francisco, a comitiva de Tomé de Souza iniciou a exploração através da liderança do português Garcia d’Ávila, um dos principais desbravadores a adentrar o continente tendo como ponto de partida o “grande rio”. O vale do rio São Francisco, batizado de o rio dos currais, funcionou como condutor natural da ocupação promovida pelo colono. A atividade pecuária, razão principal dos primeiros movimentos de colonização, fornecia carne para todo o litoral canavieiro. A vaga ideia de que havia muito ouro e, principalmente, diamante fomentou o desejo de riqueza e as crenças dos exploradores na existência de um mundo mineral vasto e 9 Disponível em http://www.serradacanastrapousadas.com.br/mapasestradas.html. 45 diversificado no novo continente. A partir do sonho de riqueza, muitas viagens, inúmeras expedições e diversos roteiros foram feitos pelos desbravadores que adentravam o sertão e narravam muitas histórias de serras cheias de ouro e prata e uma enorme lagoa, “imensamente rica”, instalada no interior do continente. Durante a coleta de dados, muitos entrevistados contaram histórias fantásticas sobre a época do garimpo. São histórias de exploração, de morte, de lutas e muitas vitórias. Conforme Vasconcelos (1999), a expedição de Espinosa foi a primeira a penetrar nos sertões em direção ao Rio São Francisco. A empreitada tinha como objetivo a procura de pedras preciosas e de ouro. Provavelmete essa expedição foi guiada por índios “mansos”, que conheciam o país e sabiam exatamente aonde ir. Ainda segundo o autor supracitado, o Rio São Francisco inserido entre terras, cheio de florestas e campos, cercado de ilhas, absorvendo tributários enormes e despejando alagadiços gigantes, tendo um céu luminoso e quente, era sempre o viveiro propício de povos, palco de lutas e guerras incessantes. A comitiva de Espinosa encontrou diversas tribos e raças na região do alto rio São Francisco, sendo elas muitas vezes aldeadas e hospitaleiras, outras nômades e cruéis. Podemos listar algumas: os acorá, araxá, araxaué, bororo, cataguases, estes predominantes no sudeste do Estado, e os caiapó, que se destacam entre os grupos que ocuparam o noroeste e o oeste mineiro. A presença de diversas bandeiras que passavam pela região em busca das riquezas mineirais existentes ali e as muitas fazendas instaladas na Serra da Canastra, beneficiavam a fuga dos escravos trazidos pelos colonizadores. Durante as expedições tais escravos desapareciam e juntavam-se aos quilombos que ocupavam a margem esquerda do rio São Francisco e suas nascentes. O quilombo mais conhecido daquela região foi o Pai Inácio, que segundo relatos, era tão importante quanto o Quilombo de Palmares. Saint-Hilaire no seu livro “Viagem às nascentes do Rio São Francisco” narra com grande riqueza de detalhes tudo o que viu durante sua expedição. O ponto alto de tal narrativa é a primeira visita à Casca D’Anta. O autor afirma que a paisagem do lugar é tão fascinante que o leitor pode imaginar um céu azul puríssimo, montanhas coroadas de rochas, uma cachoeira majestosa, águas de uma limpidez sem par, o verde cintilante das folhagens e, finalmente, as matas virgens, que exibem todos os tipos de vegetação tropical. Seus relatos tiveram grande importância no conhecimento da história da região. Segundo a autora Maria do Carmo Andrade Gomes: A maior parte dos núcleos de povoamento que hoje compõem a rede urbana em torno da Serra da Canastra, embora tenham origem no período setecentista, consolidaram-se no século XIX. Essa rede surgiu de uma origem comum, assentada 46 na aniquilação ou expulsão dos índios e quilombolas e na penetração gradativa dos colonos brancos e mestiços que, devido à crise da mineração nos grandes centros auríferos, buscaram novas terras e atividades econômicas, a princípio atividades de garimpo e pequenas faisqueiras e, esgotados os recursos auríferos, dedicando-se à agricultura e especialmente à criação de gado (GOMES, 2002: 17). A cultura da região é bastante diversificada e imensamente rica tendo como cerne a produção de queijo Canastra que é produzido há mais de duzentos anos. O sabor único, forte, um pouco picante, bem denso e encorpado deve-se ao clima, a altitude, os pastos nativos e as águas da Canastra. Em maio de 2008, o queijo Canastra tornou-se patrimônio cultural imaterial brasileiro, título concedido pelo IPHAN, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O tear artesanal, a produção de farinha, doces caseiros e muitas festas tradicionais e populares tais como Folia de Reis também fazem parte da cultural da região canastreira. A beleza natural rodeada de lindos paredões e cachoeiras de tirar o fôlego são características marcantes no cenário do Parque Nacional da Serra da Canastra. Nacionalmente conhecida, a Serra da Canastra atrai os mais diversos tipos de pessoas. Múltiplos trilheiros de moto ou jipe aventuram-se pelas estradas e trilhas que permeiam o parque e possuem paisagens muito peculiares. Muitos adeptos dos esportes radicais e de aventura embrenham-se região adentro em busca de fortes emoções. Há ainda aqueles que procuram apenas contemplar as muitas maravilhas presentes nesta localidade. A nascente histórica do rio São Francisco, a parte alta da Casca D'anta, primeira queda do Rio São Francisco e sua parte baixa são os pontos mais visitados dentro do PNSC. 47 FOTO 08 – Parte alta da cachoeira Casca D’Anta Fonte: Acervo pessoal. Mais algumas atrações merecem destaque tais como: a Cachoeira do Cerradão, entre tantas outras; o Curral de Pedras feito de um amontoado de pedras, segundo relatos, os tropeiros utilizavam esse curral para conter o gado durante a pernoite. 48 FOTO 09 – Cachoeira do Cerradão Fonte: Acervo pessoal. 49 FOTO 10 – Curral de Pedras Fonte: https://noticias.bol.uol.com.br/fotos/entretenimento/2013/10/22/serra-da-canastra-o-berco-do-velho- chico.htm O Parque Nacional da Serra da Canastra possui grandes altitudes, sendo as maiores beirando os 1.500 metros. Em muitas regiões, as variações de altitude são diversas vezes abruptas, inclusive nas estradas, que ainda sofrem com as voçorocas e erosões, principalmente, na época das chuvas. O folclore e as lendas são destaques da região. A mais famosa é a lenda da Zagaia, aquela que inspira o título deste trabalho. No tempo passado, antes de ser transformado em Parque Nacional da Serra Da Canastra, a região possuía várias fazendas de criação de gado. Além de locais de exploração de diamantes e outras riquezas mineirais. Muitos tropeiros usavam as rotas que permeavam o parque conduzindo o gado para ser comercializado na região de Sacramento. Tais comerciantes de gado precisavam percorrer longas distâncias sendo que havia apenas um local de descanso no meio desse roteiro. Tinha uma fazenda próxima ao arraial do Desemboque denominada Fazenda Zagaia. Essa era a paragem que abrigava os vendedores de gados durante o descanso daquela jornada extenuante. 50 FOTO 11 – Fazenda Zagaia – Parque Nacional da Serra da Canastra/MG Fonte: http://jfpassos.wixsite.com/conciliarcanastra Os tropeiros que faziam essa viagem, costumavam hospedar-se na Fazenda Zagaia tanto na ida quanto na volta. Quando se hospedavam na ida, eles eram tratados de forma respeitosa e eram muito bem recebidos. O clima era de amizade e camaradagem. Após comercializarem todo o gado, os vendedores retornavam com uma quantidadade de dinheiro bem grande. Sendo a jornada muito cansativa, paravam mais vez na fazenda e pernoitavam. Extenuados, os comerciantes de gado iam dormir bem cedo. Neste momento começava a se desenvolver a trama maquiavélica dos donos da Fazenda Zagaia. Os quartos onde os tropeiros pernoitavam possuiam uma zagaia (espécie de lança de madeira com ponta de ferro) escondida no teto. Quando eles se deitavam e logo adormeciam, a armadilha caía sobre eles, matando-os sem que houvesse alguma chance de defesa. Durante a coleta de dados, essa foi a lenda mais contada. Havia sempre uma pequena variação, mas o fato principal da história, que é a matança de vendedores de gado, sempre era o mesmo. Muitas pessoas narram a história da seguinte forma: no quarto ao lado onde o tropeiro dormia ficava os donos da Fazenda Zagaia vigiando o sono dele. Nesse quarto, havia uma corda que segurava a zagaia e esta era controlada pelos proprietários do lugar. Eles percebiam que o hóspede havia se deitado, pois, naquela época, as casas possuíam colchões de palha, que faziam um barulho característico. Nesse momento, soltavam a corda. Assim, a zagaia caía, no peito ou nas costas dos viajantes, matando-os imediatamente. Depois de matarem o vendedor de gado, eles entravam no quarto e pegavam todo o dinheiro, por 51 último, desovavam o corpo em valas próximas à fazenda. Após muitos anos de matança e nenhuma punição, a história mudaria totalmente de rumo. Um comerciante de gado que ali pousava se apaixonou por uma das escravas e deu a ela rolo de fumo durante sua viagem de ida. A escrava, que também se apaixonara, se sentiu muito triste em imaginar que, na pernoite da volta, seu amado poderia ser morto. Então ela decidiu avisá-lo sobre a trama que ali se desenvolvia. Durante a viagem de volta, ele encontrou alguns capangas e pediu que eles o acompanhassem. Quando o viajante entrou no quarto para supostamente dormir, ele apenas fingiu deitar-se movimentando o colchão de palha. Nesse momento, os donos da Fazenda Zagaia adentraram o quarto e foram apanhados e, em seguida, mortos pelos capangas do viajante. Vasculhando a região, foram encontradas dezenas de ossadas humanas, enterradas nas proximidades da fazenda. Zagaia, hoje, é o nome de várias fazendas, córregos e ribeirões e, ainda, uma fraseologia muito usada pelos moradores quando querem se referir a um tempo passado: “nos tempos da Zagaia”. 1.3.1 Rio São Francisco, o velho Chico O navegador Américo Vespúcio e o viajante André Gonçalves, após um ano do descobrimento do Brasil, chegaram à foz de um grande rio que desaguava no mar. O dia da descoberta era exatamente 04 de outubro de 1501, dia de São Francisco. Por isso, os navegadores europeus batizaram o rio homenageando o santo. Alguns indígenas que viviam anteriormente naquela região deram uma nomeação antiga ao rio: Opará, que significa algo como “rio-mar”. 52 MAPA 11 – Bacia do Rio São Francisco Fonte: BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO, 2016.10 Duas décadas após a sua descoberta, em 1522, o primeiro donatário da capitania de Pernambuco, o português Duarte Coelho, cria a cidade de Penedo, em Alagoas. De posse da autorização da coroa portuguesa, em 1543 dá início à criação de gado, atividade econômica predominante na história do vale do São Francisco que foi apelidado de “Rio-dos-Currais A exploração limitava-se ao litoral, sobretudo por causa das tribos indígenas que protegiam seus territórios no interior. No entanto, histórias sobre pedras preciosas e riquezas extraordinárias e incalculáveis seduziam diversos aventureiros que vinham para a região atrás dessas lendas. Levados pela cobiça e espírito de aventura, estes desbravadores foram eliminando os índios, que fugiam dali para o planalto central. Foi assim que surgiram os primeiros e acanhados arraiais, principiando o comando da região, onde o ouro e as pedras preciosas eram os bens almejados. No início de 1553, o então rei D. João III, emitiu uma ordem ao Governador Geral Tomé de Souza, ele deveria iniciar a exploração das margens interiores do rio. Bruza Espinosa organizou a empreitada rumo ao interior. Ele convidou o Padre Aspilcueta Navarro para compor a primeira companhia de penetração. Desde então, as águas do rio São Francisco foram cruzadas por dezenas de expedicionários que, aos poucos, concretizaram o comando sobre a exploração do rio. 10 Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Bacia_do_rio_S%C3%A3o_Francisco. 53 Convém ressaltar que um fator relevante da ocupação, naquele momento, foram as missões religiosas, principiadas por padres capuchinhos a partir de 1641. Jazidas de ouro e de diamantes acabam por serem descobertas em diversas partes do São Francisco em meados de 1675. A bandeira de Lourenço de Castanho, a qual promoveu a exploração dessa nova descoberta, quase dizima os índios cataguáses, povos nativos da região. FOTO 12 – Nascente do Rio São Francisco – São Roque de Minas/MG Fonte: Acervo pessoal. 54 CAPÍTULO 2 – LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE 2.1 O homem, a língua e a cultura A língua é, com toda evidência, parte do patrimônio cultural de uma sociedade. Como produto e instrumento da cultura, é ferramenta de um povo. Através dela os falantes de determinada comunidade se expressam e expressam seus valores, suas ideias, suas experiências e, assim, vão construindo sua sociedade, sua história. Devido a esse caráter histórico, uma mesma língua possui divergências, entretanto essas divergências estão conectadas: no espaço (diatópica), no tempo (diacrônica), socioculturalmente (diastrática), no discurso (diafásica) – um entremeado de dialetos, níveis e estilo, como bem mostra Coseriu (1992, p. 37), quando afirma que “uma língua histórica nunca é um único sistema, mas sim um emaranhado de – em parte – diferentes sistemas. Há diferenças desde o ponto de vista fonético, gramatical e léxical.”11 (tradução nossa) Para esse autor (1992, p. 38), “uma língua que não apresenta nenhuma diversidade no espaço, no tempo, na estratificação sociocultural ou no estilo é uma língua que não está viva.” 2.2 Antropologia linguística Uma das possibilidades de estudar linguagem e sociedade é observando o fato social, os tipos de comportamento de um determinado povo – seu sistema linguístico, suas atividades, melhor dizendo, seu tecido cultural. A esse estudo dá-se o nome de Antropologia Linguística. Pode-se dizer que é impossível traçar a gênese da reflexão antropológica, uma vez que o homem, em toda sua história, sempre refletiu sobre a própria existência e sua relação com a sociedade. Dar sentido a si mesmo e aos outros é reflexão que podemos encontrar tanto entre os povos pré-históricos quanto no homem contemporâneo; entretanto, só a partir do século XVI, com a descoberta do além-mar e de seres até então desconhecidos é que a questão da alteridade tornou-se presente. 11 Una lengua histórica nunca es un único sistema, sino un entramado de – en parte – diferentes sistemas. Hay diferencias desde el punto de vista fonético, gramatical y léxico. 55 Com um campo de estudo muito vasto, que engloba a linguística, a biologia, a arqueologia, a paleontologia, dentre outros, a ciência antropológica tem como principal objetivo conhecer o homem, os grupos humanos, desvendar a cultura dos povos, cultura que, na visão antropológica, não deve ser mensurada, já que a antropologia não é uma ciência experimental em busca de leis, mas uma ciência interpretativa em busca de significado. O trabalho do antropólogo consiste, pois, em descortinar e registrar todas as formas de cultura, de modo que se possa preservar para as futuras gerações um conhecimento que, muitas vezes, poderia ter se perdido. Um bom estudo antropológico nos remete, portanto, às teias do significado que o próprio homem construiu e às quais se encontra amarrado. Seguidor do linguista alemão Franz Boas (1858-1942), Edward Sapir (1844-1939) atraiu a atenção de linguistas com maior interesse em antropologia ao dizer que acreditava que a percepção de um observador sobre o mundo ao seu redor é controlada de alguma forma fundamental pela linguagem que usa. Esse linguista asseverava que a língua é, antes de tudo, um produto cultural, ou social, e assim deve ser entendida. Seu discípulo, Benjamin Lee Whorf (1897-1941), revelou um avanço nesse campo de estudo ao afirmar que as pessoas vivem segundo suas culturas em universos mentais muito distintos, expressos e, talvez, determinados pelas diferentes línguas que falam. Para esse linguista, uma língua pode levar à elucidação de uma concepção de um mundo que a acompanhe. Whorf radicaliza sua perspectiva ao fundar o “relativismo linguístico”, variedade moderna do relativismo cognitivo: a verdade é criada pela gramática e pela semântica de uma determinada língua. Criou-se em 1950 a “hipótese Sapir-Whorf” que estaria veiculada ao relativismo linguístico. A hipótese supracitada relaciona concomitantemente determinismo linguístico com relatividade linguística, sendo assim, tal teoria afirma que a língua gera o pensamento e não existem limites para a diversidade estrutural das línguas. O apogeu dos estudos antropológicos deu-se por volta dos anos 1960, quando o estruturalismo fez do francês Claude Lévi-Strauss o seu mais notabilizado representante. Esse antropólogo francês foi um dos primeiros teóricos a trabalhar com a teoria semiótica da cultura, que, em sua versão mais básica, sustenta que a cultura é uma representação do mundo. Ele parte do princípio de que a mente humana é a mesma em todos os lugares, e de que as culturas são aplicações distintas das mesmas propriedades lógicas do pensamento, que todos os seres humanos compartilham e adaptam suas respectivas condições de vida. Nota-se que os antropólogos linguísticos compartilham com outros cientistas sociais seu interesse pelos falantes como atores sociais. Isso significa que veem a fala, sobretudo, como uma atividade social da qual intervém algo mais que expressões linguísticas. 56 Essa perspectiva epistemológica se reflete bem no seguinte fragmento escrito por Hymes (1972) para responder criticamente à noção de competência de Chomsky (1965), segundo a qual competência significa conhecimento da língua, isto é, de suas estruturas e regras, e desempenho o uso real da língua em situações concretas, em uma construção marcadamente dicotômica, sem qualquer preocupação com a função social da língua. De acordo com Hymes (apud DURANTI, 2000, p. 44), Devemos [...] considerar o fato de que uma criança normal adquire o conhecimento das orações, não somente por meio da gramática, mas também por meio de sua inserção em um contexto. Ele ou ela adquire a competência sobre quando falar, quando não, de que falar e com quem, de onde e de que maneira. Em suma, uma criança pode chegar a dominar um repertório de atos de fala, tomar parte em eventos comunicativos e avaliar a conduta comunicativa dos outros. Além disso, esta competência se integra com suas atitudes, valores e motivações em relação com as propriedades e uso da língua e com sua competência e atitudes para entender a inter- relação da língua com outro código de conduta comunicativa.12 (tradução nossa) Um dos principais pontos desse fragmento é o reconhecimento do fato de que ser falante de uma língua significa pertencer a uma comunidade de falantes, significa estar imerso nas atividades desse grupo, compartilhando seus usos da linguagem. Conforme pudemos observar, a especificidade da antropologia linguística reside em olhar a linguagem e as línguas como construtos humanos que integram a vida das pessoas, uma vez que são instrumentos de comunicação e representação do mundo, como bem mostra Duranti (2000, p. 452-453): Adquirir uma língua não nos permite somente dotar de sentido o que vemos e ouvimos aí fora; também nos permite penetrar em nossa mente e alma para formular perguntas como: quem somos nós?, de onde viemos?, aonde vamos?, por que estamos aqui? A língua está aí para formular perguntas e para propor respostas [...] Como nos tem ensinado os antropólogos socioculturais da velha escola, uma grande parte do que fazem os seres humanos guarda relação com a questão da continuidade, isto é, com o acabamento de nossas vidas, com a reprodução material e simbólica de nossa individualidade, assim como nossa própria sociabilidade. 13 (tradução nossa) 12 Debemos... considerar el hecho de que un niño normal adquiere el conocimiento de las oraciones, no solo por médio de la gramática, sino también por medio de su inserción en un contexto. Él o ella adquiere la competência sobre cuándo hablar, cuándo no, de qué hablar y com quién, donde y de qué manera. En suma, un niño puede llegar a dominar un repertorio de actos de habla, tomar parte en eventos comunicativos y evaluar la conducta comunicativa de otros. Además, esta competência se integra com sus actitutdes, valores y motivaciones en relación com los rasgos y uso del lenguaje, y com su competencia y actitudes para entender la interrelación del laenguaje com el outro código de conducta comunicativa. 13 Adquirir un lenguaje no nos permite solamente dotar de sentido a lo que vemos y oímos ahí fuera; también nos permite penetrar en nuestra mente y alma para formular perguntas como: quiénes somos nossotros?, de donde venimos?, a donde vamos?, por qué estamos aqui? El lenguaje está ahí para formular preguntas y para proponer repuestas. (...) Como nos han enseñado los antropólogos socioculturales de la vieja escuela, una gran parte de lo que hacen los seres humanos guarda relación com la cuestión de la continuidade, esto es, com el acabamiento de 57 Neste estudo, voltamos nosso olhar a uma comunidade linguística, a uma região rural, com o objetivo de descrever e analisar seu vocabulário. 2.3 Léxico regional Conforme já anteriormente discutido, o léxico de uma língua mostra a história, os costumes, os hábitos e a estrutura de um povo. Ao estudá-lo, quando fazemos um recorte de uma determinada área geográfica, mergulhamos na vida de uma comunidade em um determinado período de sua história, pois o léxico é, segundo Biderman (2001, p. 179), “a somatória de toda a experiência acumulada de uma sociedade e do acervo da sua cultura através das idades”. Essa pesquisadora, “os membros dessa sociedade funcionam como sujeitos-agentes, no processo de perpetuação e reelaboração contínua do léxico da sua língua”. Assim sendo, as palavras usadas por determinada comunidade refletem a história, a cultura e as formas de vida ou organização daquele lugar. Barbosa (1981, p. 120), quando se refere ao léxico, defende tal postura: O léxico, cujas formas exprimem o conteúdo da experiência social, é o conjunto dos elementos do código linguístico, em que se sentem particularmente as relações entre a língua de uma comunidade humana, sua cultura – no sentido antropológico –, sua civilização; e compreende-se pois, que uma alteração das unidades desse inventário, seja reflexo, de alterações culturais. Podemos afirmar, por isso, que língua e cultura são indissociáveis quando tratamos de questões relacionadas ao léxico. A língua de uma comunidade é a expressão de sua história, cultura e modo de vida. Ainda sobre essa questão, assim se manifesta Fiorin (2001, p.115): “o léxico de uma língua forma-se na história de um povo”, ao que complementa Oliveira (2001, p.132) quando declara que “o léxico de uma língua é constituído por um conjunto de vocábulos que representa a herança sociocultural de uma comunidade”. Podemos afirmar que características e interesses particulares de uma região encontram-se no próprio conjunto de expressões nuestras vidas, com la reproducción material y simbólica de nuestra individualidad, así como com nuestra própria sociabilidad. 58 utilizado por seus falantes; o sistema lexical de um grupo manifesta, pois, toda a sua organização social. Sobre a importância de se estudar o léxico regional, Isquerdo (2001, p.91) afirma que: o estudo do léxico regional pode fornecer, ao estudioso, dados que deixam transparecer elementos significativos relacionados à história, ao sistema de vida, à visão de mundo de um determinado grupo. Deste modo, no exame de um léxico regional, analisa-se e caracteriza-se não apenas a língua, mas também o fato cultural que nela se deixa transparecer. Nessa organização social, que envolve diferentes regiões e diferentes vocabulários, inclui-se a questão do ambiente físico, mais especificamente a questão língua-ambiente. Para Sapir (1961, p.41): o léxico completo de uma língua pode se considerar, na verdade, como o complexo inventário de todas as idéias, interesses e ocupações que açambarcam a atenção da comunidade; e por isso, se houvesse à nossa disposição um tesouro assim cabal da língua de uma dada tribo poderíamos daí inferir, em grande parte, o caráter do ambiente físico e as características culturais do povo considerado. Como produtos do processo de nomeação da realidade pelo homem na tarefa de apreender, estruturar e apropriar-se do universo que o cerca, as palavras variam e adquirem significados mais amplos ou restritos, dependendo do ambiente que descrevem: refletem cultura, normas sociais, tradições, visões de mundo, experiências, tornando-se, desse modo, testemunho da própria história de uma dada comunidade linguística numa determinada época. 2.4 Léxico, cultura e sociedade As palavras servem para nomear o mundo que está em constante transformação e evolução, sendo as ocorrências da vida cotidiana dos falantes o que permeia o entrelaçamento entre língua e cultura. Os falantes da língua portuguesa, membros de uma mesma sociedade, compartilham entre si um conhecimento cultural do qual se valem naturalmente. O léxico classifica de maneira única as experiências humanas de uma cultura, não apresentando, desse modo, apenas um conjunto de palavras, mas uma espécie de ponte entre os falantes de uma língua em suas condições reais de uso. A criatividade lexical dos falantes possibilita que eles criem e recriem de acordo com suas necessidades sociointeracionais. 59 Sobre essa questão, Biderman (2001, p. 179) assim se manifesta: O Léxico se expande, se altera e, às vezes, se contrai. As mudanças sociais e culturais acarretam alterações nos usos vocabulares: daí resulta que unidades ou setores completos do Léxico podem ser marginalizados, entrar em desuso e vir a desaparecer. Inversamente, porém, podem ser ressuscitados termos que voltam à circulação, geralmente com novas conotações. Enfim, novos vocábulos, ou novas significações de vocábulos já existentes, surgem para enriquecer o Léxico. Estudos referentes ao léxico têm chamado a atenção de especialistas de campos diversos do saber, como sociólogos, antropólogos, filósofos e de pessoas em geral, atentas e sensíveis ao fato de que as unidades lexicais de uma língua são portadoras de significado e refletem os diferentes momentos da história de uma sociedade, como aponta Biderman (1981, p. 132) quando afirma que “se considerarmos a dimensão social da língua, podemos ver no léxico o patrimônio social da comunidade por excelência, juntamente com outros símbolos da herança cultural.” Nessa concepção, a autora busca fundamentos em Matoré (1953) ao dizer que a palavra tem uma existência psicológica e um valor coletivo, ou seja, que é pela palavra que o homem exerce a sua capacidade de abstrair e de generalizar o individual, o subjetivo. Muito além de um conjunto de palavras, vemos que o léxico pode ser identificado como o patrimônio vocabular de uma comunidade linguística ao longo de sua história, patrimônio esse que constitui um tesouro cultural imaterial, definido por Biderman (2001, p.14) como, Uma herança de signos lexicais herdados e de uma série de modelos categoriais para gerar novas palavras. Os modelos formais dos signos linguísticos preexistem, portanto, ao indivíduo. No seu processo individual de cognição da realidade, o falante incorpora o vocabulário nomeador das realidades cognoscentes juntamente com os modelos formais que configuram o sistema lexical. Desse universo teórico, compreendemos que o sistema são possibilidades oferecidas às diferentes comunidades linguísticas. No campo do léxico, Coseriu (1991) acredita que correspondem ao sistema as funções representativa e associativa. A primeira corresponde à particular classificação conceptual do mundo que toda língua representa, já a segunda é a maneira peculiar pela qual essa classificação se realiza formalmente em cada idioma, tanto no momento da criação do signo quanto em sua repetição. Sobre esse tema, Biderman (1978, p. 20) discorre: No domínio do léxico os valores semânticos tidos como “normais”, e igualmente as associações vocabulares consideradas “normais”, são função de sua frequência. Por conseguinte, os neologismos, tanto de forma como de significado, nos primeiros 60 tempos em que são introduzidos no uso, geralmente causam impacto, ou, pelo menos, a impressão de estranheza, dada a sua novidade. E não estamos falando de significantes e significados gráficos. À medida que o uso dos neologismos se vai tornando frequente, passa a ser considerado como “normal” e assim esse novo vocábulo, ou esse novo valor de uma palavra velha, é incorporado à norma léxica da língua. Eis por que os neologismos, com frequência, não se encontram dicionarizados, pois o dicionário nada mais é que o repertório da norma vocabular. E atesta, afirmando que: O léxico pode ser considerado como o tesouro vocabular de uma determinada língua. Ele inclui a nomenclatura de todos os conceitos linguísticos e não linguísticos e de todos os referentes do mundo físico e do mundo cultural, criado por todas as culturas humanas atuais e do passado. Por isso o léxico é o menos linguístico de todos os domínios da linguagem. Na verdade, é uma parte do idioma que se situa entre o linguístico e o extralinguístico (BIDERMAN, 1981, p.138). Partindo dessas reflexões, entendemos que é no sistema que se propiciam as possibilidades inéditas, não realizadas na norma da língua. Portanto, é no sistema que se realizam as variações. 2.5 Variação, mudança linguística e redes sociais Dado o caráter mutável da língua, é fato aceito que a variação linguística acontece em todos os níveis de elaboração da linguagem e ocorre em função do emissor e do receptor, sempre levando em conta a região em que se encontra (emissor ou receptor), a faixa etária, a classe social e a profissão, sendo eles responsáveis por essa variação. Em se tratando do Brasil, pelo fato de ser um país de grande extensão territorial e com uma população diversificada, utilizando a mesma língua materna, sempre se perceberá a heterogeneidade linguística dentro do mesmo estado ou até mesmo em uma comunidade linguística. Toda língua, constantemente, sofre alteração, todavia o falante, nem sempre, consegue detectá-la. Embora não seja explícita, a língua apresenta uma característica contraditória: de um lado, uma aparência de estabilidade e, de outro, a constante variação e mudança tanto no falante como em sua comunidade. Essa característica é o alvo de estudo da Teoria da Variação e Mudança. Tal teoria afirma que a maior parte das mudanças são justificáveis estruturalmente e, para que não se instale um caos total na comunicação, elas acontecem de forma progressiva e gradual. Por isso, percebemos períodos transicionais, em que duas variantes coexistem. É 61 preciso ressaltar que uma mudança não envolve apenas aspectos estruturais, mas também aspectos sociais, isto é, o comportamento social também se modifica. De acordo com Tarallo (1986, p.8), “é visivelmente frequente que o fenômeno da variação ocorre em toda comunidade de fala – a essa forma de variação dá-se o nome de variante.” As variantes estão sempre em processo de concorrência – variantes padrão se opondo a não-padrão, conservadoras a inovadoras e variantes estigmatizadas a variantes de prestígio. Antropólogos sociais, entre os anos 60 e 70, desenvolveram uma teoria denominada rede social. Diversos estudiosos da área de sociolinguístisca adotam tal aconceito para explicar para a relação entre os padrões da conservação do vernáculo e os de mudança no decorrer do tempo (MILROY 2003). A variável social foi, na Sociolinguística, a principal variável, no entanto, diversos linguistas notaram que determinados grupos sociais não são assinalados por classe e, mesmo assim, mostraram diferenças linguísticas. O cerne da teoria de redes sociais se apoia em duas grandes ideias: a) os indivíduos criam suas comunidades pessoais com a finalidade de estabelecer esquemas que os auxiliem a resolver seus problemas diários (MILROY 2003); b) o “estudo da fala vernacular do indivíduo inserido no seu contexto social diário é uma tarefa importante para a sociolinguística”. (MILROY, 1987, p. 177) O autor supracitado afirma que o indivíduo e suas relações com seus semelhantes é de extrema importância no estudo da língua. Ele também aponta que as situações de contato são universais diferentemente de classe social, escolaridade, ou outros fatores externos tratados nos estudos linguísticos, (MILROY, 1997, p. 85). A teoria de redes sociais aponta que laços fracos ou fortes entre seus membros podem limitar ou favorecer respectivamente uma mudança linguística. A densidade e a multiplicidade da rede são duas outras características da teoria de redes sociais, sendo que a densidade pode ser avaliada através do número de interações que cada indivíduo do grupo mantém com outros do seu grupo. Outro aspecto relevante sobre a densidade é que quanto mais intensa for essa densidade maior será a possibilidade de homogeneização das características dessa rede. Portanto, as redes densas provocam uma certa estabilidade linguística porque mantém o vernáculo local resistente a pressões linguísticas e sociais de outros grupos ou indivíduos. Os mais variados tipos de ambientes, onde os indivíduos compartilham mais de um tipo de relação, como amizade e companheirismo profissional (MILROY; MILROY, 1997), determinam a multiplicidade. A variação estilística determina que comumente um falante expressa-se de maneira diferente conforme o ambiente em que ele se encontra. Assim, densidade e multiplicidade funcionam como apontadores das pressões de normas e valores sobre os falantes de determinado grupo: 62 quanto mais densa e múltipla for uma rede social, maior a estabilidade linguística nessa comunidade. A ideia de que laços fortes compõem redes sociais densas – nas quais todos conhecem todos – e múltiplas – nas quais todos se relacionam com todos de alguma forma, corrobora com esta pesquisa à medida que compreendemos que a pressão para preservar uma linguagem vernacular é muito mais forte e perceptível em pequenas comunidades, principalmente, naquelas mais afastadas de grandes centros. A grande extensão do Parque Nacional da Serra da Canastra e o isolamento de diversos grupos daquela região nos permite enxergar tais características. Logo, a noção de rede social apresentada por Milroy é de fundamental importância para explicarmos a manutenção lexical percebida nas comunidades analisadas neste estudo linguístico, cultural e histórico. 2.5.1 A mudança lexical A função primordial das línguas é a comunicação, portanto elas foram criadas para nos possibilitar a interação uns com os outros. O mundo ao nosso redor é o alvo principal da nossa comunicação. Sempre queremos conversar e trocar informações sobre acontecimentos, pessoas, coisas, lugares, ideias etc. e suas relações, sejam elas naturais ou artificiais, concretas ou abstratas, reais ou imaginadas. Sob esse prisma, a língua é um sistema de nomeação, bem como um sistema de entendimento, uma vez que é necessário, inicialmente, identificarmos os fatos de que queremos falar para depois podermos nos expressar. Convém ressaltar que não podemos desconsiderar o caráter dinâmico e multifacetado da língua, por isso, ela sofre alterações e mudanças de ordem linguística que ocorrem em diversos níveis: fonológico, sintático, semântico, pragmático e lexical. Houaiss (1990), ao abordar o caráter mutável do léxico, aponta que uma das características fundamentais do progresso humano é a multiplicação de palavras [...]. Conforme Guilbert (1972), o léxico, de forma oposta à gramática, passa por transformações muito mais rápidas, uma vez que não se constitui de natureza puramente linguística. De acordo com Biderman (1998b, p.15), as mudanças, hoje em dia, ocorrem de forma mais acelerada e dinâmica: 63 No mundo contemporâneo, sobretudo, está ocorrendo um crescimento geométrico do léxico português e das línguas modernas de modo geral, em virtude do gigantesco progresso técnico e científico, da rapidez das mudanças sociais provocadas pela freqüência e intensidade das comunicações e da progressiva integração das culturas e dos povos, bem como da atuação dos meios de comunicação de massa e das telecomunicações. Portanto, o léxico precisa, fundamentalmente, preencher as necessidades de comunicação e interação de uma comunidade, de uma sociedade, de uma nação uma vez que, como afirma Guilbert (1972), todo conceito deve ser nomeado para ser objeto do conhecimento e ter acesso a uma existência social. Ao mesmo tempo em que vão aparecendo novas realidades, outras vão se tornando cada vez mais abstratas. Muitas questões envolvem essa “dança das palavras”, sejam elas culturais, técnico-científicas, etc. Uma palavra usada hoje pode cair em desuso ou uma palavra usada antigamente pode ser recuperada com novas conotações ou não. É bom lembar que existe uma luta constante entre a mudança e a não mudança, como afirma Barbosa (1998, p.35): “Os sistemas semióticos sustentam-se, com efeito, numa tensão dialética – imprescindível ao seu pleno funcionamento – entre duas forças contrárias, não excludentes, mas complementares, a da conservação e a da mudança”. Conforme Barbosa (1998) afirma, há uma parte nuclear do vocabulário em que essa mudança se processa mais lenta, garantindo, pois, a possibilidade de comunicação. Sendo assim, o vocabulário basilar de uma língua conservar-se mais estável, sendo mais resistente às mudanças. 2.6 Lexicologia e campos lexicais Concebemos a linguagem como uma realidade cultural completíssima, polifacetada – dada a sua diversidade, e organizada. Graças a esse sistema organizado de signos, conseguimos nos comunicar: informando, expressando nossos sentimentos, influenciando outras pessoas e entendendo o que nos dizem. Em sua plenitude funcional, a linguagem utiliza-se de palavras, constituindo a língua. Falar uma língua significa compartilhar com outros, com povos do presente, com povos do passado e com povos do futuro aquilo que temos e o que não temos em comum. Como pessoas que pertencem a uma determinada comunidade, ou como alguém que assume a tradição idiomática da comunidade em que vive, damos, em nossa vida, continuidade a um 64 processo sócio-histórico-cultural estabelecido por nossos antepassados. As línguas são, pois, conforme aponta Coseriu (1991, p. 16): “[...] técnicas históricas da linguagem e, na medida em que se encontram estabelecidas como tradições firmes e peculiares, reconhecidas por seus próprios falantes e por falantes de outras línguas.” (tradução nossa)14 Como o homem vive em sociedade, língua e sociedade relacionam-se intimamente: uma não existe sem a outra. Se por um lado uma língua só existe se há uma comunidade que a utiliza, por outro lado um agrupamento de pessoas só será uma comunidade se tiver uma língua que possibilite a comunicação desse grupo. A esse acúmulo de conhecimentos que advém das realizações do homem em seu grupo e que é transmitido de geração a geração dá-se o nome de cultura. A língua é, pois, condição fundamental para a existência de cultura e, ao mesmo tempo, recebe influência dessa cultura, uma vez que se correlaciona com as atividades sociais do homem, podendo, por isso, variar e mudar. Nas palavras de Coseriu (1991, p. 32), “o homem vive em um mundo linguístico que cria o mesmo como ser histórico” (tradução nossa)15. A língua é, pois, um fato social, histórico e, portanto, cultural. A Lexicologia é um ramo da linguística que tem por objetivo o estudo científico do léxico de uma determinada língua, sob diversos aspectos, procurando determinar a origem, a forma e o significado das palavras que constituem o acervo lexical de um idioma, bem como o seu uso em diferentes comunidades de falantes. É uma disciplina que se relaciona, necessariamente, com a fonologia, a morfologia, a sintaxe e, em particular, com a semântica. Por meio da Lexicologia, torna-se possível observar e descrever cientificamente as unidades léxicas de uma comunidade linguística. Isso é possível porque cada palavra remete a particularidades diversas relacionadas ao período histórico em que ocorre, à região geográfica a que pertence, à sua realização fonética, aos morfemas que a compõem, à sua distribuição sintagmática, ao seu uso social, cultural, político e institucional. Os estudos de lexicologia começam a ganhar estatuto de maioridade a partir dos anos 1950, marcados por obras como a de George Matoré, La méthode en Lexicologie, pelo congresso de 1957, Lexicologie et lexicographie françaises et romanes, realizado em Estrasburgo, e pelo o início da publicação dos Cahiers de lexicologie, em 1960, dirigidos por B. Quemada. 14 Las lenguas son, em efecto,) técnicas históricas del lenguaje y, en la medida en que se hallan establecidas como tradiciones firmes y peculiares, reconocidas por sus propios hablantes y por los hablantes de otras lenguas. 15 El hombre vive en un mundo linguistico que crea él mismo como ser histórico. 65 Ao afirmar que o léxico é “testemunho da sociedade”, uma vez que reflete as diferentes fases que determinam e compõem a história dessa sociedade, Matoré (1953) define a lexicologia como disciplina sociológica que tem como objetivo o estudo dos fatos sociais, utilizando-se das palavras como material linguístico. O caráter social da disciplina pode ser inferido pelas palavras de Matoré (1953, p. 94), quando informa que: [...] ao constatar a impossibilidade de dissociar na linguagem a forma do conteúdo, a Lexicologia se fundamentará não sobre formas isoladas, mas sobre conjuntos de noções, a estrutura e as relações sendo explicadas pelos fatos sociais, dos quais os fatos do vocabulário são ao mesmo tempo o reflexo e a condição. (tradução nossa)16 O conjunto de lexemas que abarca uma área conceitual é denomidado de campo lexical. Os lexemas estão relacionados entre si pelo significado, dando origem à estrutura do campo lexical. Conforme Abbade (2011, p. 01), a teoria dos campos lexicais, segundo a direção estrutural proposta por Coseriu, propõe que um campo se estabelece através de oposições simples entre as palavras, e termina quando uma nova oposição exige que o valor unitário do campo se converta em traços distintivos onde não só as palavras se opõem entre si, mas uma oposição de ordem superior opõe campos lexicais distintos. Geckeler é o primeiro a abordar a noção de campos lexicais. Ele retoma pontos da teoria proposta por Coseriu e aplica em sua análise. Ao aventar sobre a noção de campos lexicais, Geckeler (1976, p.297) utiliza o conceito de lexema  “uma unidade de conteúdo lexical expressa no sistema linguístico...”. O linguista Coseriu (1977) ao falar sobre a tipologia dos campos lexicais, afirma que o léxico de uma língua não se configura como uma estrutura plana, ao contrário, ele possui lacunas, podendo ser comparado a um prédio de vários patamares, evidenciando vários campos. Outro linguista que estuda a forma como se estrutura o léxico de uma língua é Kurt Baldinger, através da teoria dos campos semasiológicos e onomasiológicos. Conforme esse estudioso, um campo onomasiológico reúne todos os significantes de um dado significado, enquanto que um campo semasiológico engloba todos os significados possíveis 16 “[...] constatant l’impossibilité de dissocier dans le langage la forme du contenu, la lexicologie se fondera non pas sur des formes isolées, mais sur des ensembles de notions, la structure et les relations étant expliquées par les faits sociaux, dont les faits de vocabulaire sont à la fois le reflete t la condition”. 66 que possam representar um determinado significante. Nessa perspectiva, a Onomasiologia representa a face das designações, enquanto a Semasiologia traduz a face das significações. Para esse semanticista, a Onomasiologia e a Semasiologia representam dois enfoques, opostos e complementares, que se interpenetram, do processo léxico-semântico: a onomasiologia corresponde à situação do falante que, tendo a sua disposição o tesouro estruturado da língua, deve expressar seu pensamento; a semasiologia, em troca, corresponde à situação do ouvinte que percebe formas já selecionadas  quer dizer, palavras sujeitas à polissemia  e que deve determinar as significações em questão. Ao longo da comunicação oscilamos continuamente entre a onomasiologia (ao falar) e a semasiologia (ao ouvir)”. (BALDINGER, 1970, p. 200-201) Em uma sociedade moderna, esses campos estão em constante mutação, tendo em vista a evolução da sociedade. 2.7 Dialeto rural e língua urbana Um estudo linguístico que aborde o dialeto rural de determinada região, necessita de que a questão entre a distinção entre “vernáculo rural” e “língua urbana” seja investigada. Conforme a teoria de BORTONI-RICARDO (2005), o vernáculo rural, percebido aqui como dialeto rural, seria aquela variedade rural de determinada região que apresentaria traços especiais na sua gramática (fonética, morfossintaxe, léxico etc.). A língua urbana, por outro lado, abarcaria as diversas estratificações da língua empregadas no meio urbano, tanto na fala como na escrita, podendo ser concebidas tanto pelas variedades populares, as quais estão mais próximas do vernáculo, até a variedade culta. A diferenciação entre dialeto rural e língua urbana teve início desde o processo de colonização do Brasil. Sabemos que diversos portugueses vieram para esse lugar na segunda metade do século XVI para explorar e obter sucesso nessas terras. Eles trouxeram consigo sua língua que, apesar de abarcar em si as variações linguísticas que qualquer língua natural apresenta, observava-se nela um caráter homogêneo de língua nacional, ou seja, o português. A língua portuguesa vinda de Portugal, a princípio, estabeleceu-se nos centros fundamentais da colônia, nas regiões onde hoje se situam Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. Conforme Mattoso Câmara, o português falado no Brasil em zonas urbanas é decorrente de uma homogeneização linguística que os colonos portugueses criaram para se comunicarem, uma vez que pertenciam a distintas províncias de Portugal e suas 67 especificidades dialetais comprometiam o diálogo (CÂMARA, 1975 17 , apud BORTONI- RICARDO, 2005). Os dialetos rurais, por outro lado, serviram-se da união de falares de três grupos principais: o português, o índio e o africano. A troca linguística entre esses grupos no interior do país acarretou no surgimento de dialetos com características gramaticais especiais, principalmente na fonética, morfossintaxe e no léxico, tendo ao longo do tempo se distanciando cada vez mais da língua urbana e, sobretudo, da norma culta do português. Os vernáculos rurais mantiveram-se distantes da norma portuguesa e abarcaram maior influência da língua indígena e de um pidgin. Conforme a articulista, os negros que aportavam no Brasil permaneciam nas cidades ou se conduziam para o interior (fazendas, quilombos) onde viviam com outros negros, com mestiços, índios e portugueses; ou seja, uma situação propícia para o surgimento de um pidgin (BORTONI-RICARDO, 2005 p.32). 17 CÂMARA JR, J. Mattoso. História da Linguística. 3.ed. Petrópolis: Vozes, 1975. 68 CAPÍTULO 3 – MÉTODOS E PROCEDIMENTOS Para fundamentação teórica deste trabalho, procedemos à leitura de vários textos de diversos autores que tratam do léxico e da sua relação com a cultura e a sociedade. Nossa pesquisa se apoia, portanto, nos fundamentos da Sociolinguística, da Lexicologia e da Antropologia Cultural. Como se trata de um trabalho de cunho lexicológico, envolvendo, portanto, a sociedade e a cultura locais, propusemo-nos, no Capítulo 1, a focalizar aspectos históricos da região pesquisada, conhecimentos necessários, segundo Seabra (2004), para um estudo bem fundamentado do léxico regional. Coletada em entrevistas orais, nossa pesquisa sobre o léxico rural do Parque Nacional da Serra da Canastra desenvolveu-se da seguinte maneira:  pesquisa de campo para realização de entrevistas objetivando coleta lexical;  transcrição dos relatos dos entrevistados destacando as lexias que nos causavam estranheza;  preenchimento das fichas lexicográficas, seguido de análise;  construção de um glossário. 3. 1. Coleta do corpus Seguindo metodologia laboviana18, partimos do presente observando dados de língua falada, coletados em 36 entrevistas gravadas com moradores da zona rural de seis municípios integrantes do Parque Nacional da Serra da Canastra somado o município de Passos/MG. Em um segundo momento, voltamos ao passado consultando dicionários dos séculos XVIII, XIX e XX. Em uma outra etapa, relacionamos as informações e realizamos confrontações com glossários já realizados no âmbito do Projeto Léxicos Regionais. Por último, realizamos avaliações linguísticas e confecção de glossário. De acordo com Labov (1972), todos os sociolinguistas concordam que produções e interpretações de um falante não são o lugar primário da investigação linguística nem as unidades finais da análise, mas os 18 LABOV, 1972. 69 componentes usados para construir modelos de nosso objeto primário de interesse, a comunidade de fala. Para a realização das entrevistas foi utilizado um pequeno e discreto gravador digital, com a finalidade de não desviar o foco do entrevistado. Destaca-se que o mesmo sabia do seu uso e havia autorizado a gravação da conversa. Convém dizer que as entrevistas foram realizadas, em quase sua totalidade, na própria casa do entrevistado, em conversa bem informal. Quinze entrevistas integraram o corpus da Dissertação de Mestrado defendida por mim em 2010, enquanto as outras 21 entrevistas provêm de pesquisas de campo efetuadas nos meses de janeiro de 2014 e janeiro de 2015. Para dar conta desse intento, tais gravações foram concretizadas em duas etapas, sempre partindo de Passos (MG), nosso ponto de apoio. Em uma primeira viagem, em janeiro de 2014, foram feitas entrevistas com moradores de dois municípios, sendo eles: São Roque de Minas e Vargem Bonita. A segunda etapa aconteceu um ano após a primeira, em janeiro de 2015, sendo entrevistados habitantes dos dois municípios restantes: São João Batista do Glória e Delfinópolis. No que diz respeito à seleção dos locais em que seriam realizadas as entrevistas, escolhemos por trabalhar com moradores de áreas diversas do município, ou seja, tanto das pequenas localidades e distritos, como também da sede de cada município. Observando o fato de que muitos dos informantes das sedes viveram grande parte de suas vidas no meio rural propriamente dito, ou seja, nos sítios e fazendas, e apenas nos últimos anos se mudaram para o meio urbano, muitos desses em busca de maior conforto e também de recursos médicos, não verificamos diferenças consideráveis nas suas falas em relação àqueles que não saíram do campo. Em relação ao tempo de gravação, não adotamos um padrão pré-definido. Levando em consideração o fato de que foram entrevistados colaboradores de 70 a 105 anos de idade, procurou-se respeitar as limitações de cada um. As entrevistas (conversas) correram, portanto, da maneira mais natural possível, sendo mais extensas quando o informante estava bem à vontade e, por outro lado, mais breves quando esse não se mostrava tão comunicativo, ou ainda quando percebíamos alguma dificuldade por parte do informante. Diante disso, há entrevistas com duração entre 15 minutos e uma hora de conversa. A realização dessas entrevistas não constou de um questionário com perguntas previamente estabelecidas, mas por meio de conversas informais foram abordados assuntos relativos à vida no campo, aos hábitos e costumes, à vida social e religiosa, assim como a sua cultura e história locais. Não nos aprovisionamos de perguntas precedentes, “a prosa” era bem solta, como sugere os antropólogos linguistas, com temas que enfocavam o dia a dia das pessoas, como costumes, casos, tradições, a lida no campo, entre muitos outros temas. 70 Entendemos que a linguagem oral é a forma linguística de comunicação usual em contextos naturais de interação social. A língua falada institui o vernáculo, ou seja, a demonstração dos fatos e ideias sem a preocupação de como dizê-los. Sendo assim, pode-se afirmar que o vernáculo compõe o matéria prima para os estudos sociolinguísticos. Para Labov (1972, p. 244), o vernáculo é o “estilo em que se presta o mínimo de atenção ao monitoramento da fala”. Partindo dessa concepção, o vernáculo pode ser definido como um tipo de estilo, que está ligado ao grau de atenção; especificamente, ao grau mínimo de atenção dada à própria fala pelo falante. Assim considerado, a análise da fala vernacular torna-se relevante, uma vez que é nesse estilo que se alcançam os dados mais ordenados para o estudo da estrutura linguística, conforme acreditava Labov (1972). Desse modo, durante as gravações, ter sempre em pensamento o que ensina Paiva Boléo (1924 apud SEABRA 2004, p.61): O explorador de palavras locais ou regionais deve estabelecer bem no seu espírito o fato de que é ele quem deve se adaptar às conveniências do informante e não este às suas. Por conseguinte, servir-lhe-ão todos os lugares para fazer o inquérito, de que o informante esteja à vontade e haja o sossego suficiente. Chamá-los à pensão ou à casa onde habitamos a pretexto de que as casas do povo são pobres e tão pouco asseadas que não nos sentiríamos bem lá, é princípio que se deve pôr de lado, aceitando-o apenas quando de todo não puder deixar de ser. Convém não nos esquecermos de que o homem ou mulher do povo só está à vontade no seu meio próprio: a sua casa ou sítio onde trabalha é aí que devemos proceder ao inquérito, tanto mais que só desta maneira teremos ao nosso alcance um grande numero de objetos do seu uso e que nos interessam. A partir das transcrições desses dados, cujos critérios serão apresentados na seção 3.1.2., fizemos levantamento daquelas lexias que, a nosso ver, melhor refletiam a cultura rural das pessoas dessa região. Em seguida, fomos ao passado em busca dessas formas encontradas. Verificamos se essas lexias estavam dicionarizadas ou se fizeram parte do acervo lexical da língua portuguesa nos séculos XVIII, XIX, XX. Posteriormente, retornamos à contemporaneidade para realizar análise diacrônica. 71 3.1.1 A escolha dos informantes Para a escolha de nossos informantes, seguimos as normas estabelecidas pelo Projeto Pelas Trilhas de Minas: as bandeiras e a língua nas Gerais19, utilizadas em vários trabalhos desenvolvidos na UFMG, dentre eles, os de Seabra (2004), Souza (2014), Cordeiro (2013), Miranda (2013), Freitas (2012), Menezes (2009) entre outros. Tais normas postulam, como condições ideais, que o entrevistado deve: a) ter idade igual ou superior a setenta anos; b) ser preferencialmente da zona rural; c) ter nascido ou ter vivido a maior parte da vida no município em estudo; d) ter baixa ou nenhuma escolaridade. Tal requisito para a escolha dos informantes decorre do fato de ser esse o perfil que se acredita poder revelar um léxico mais próximo do vernacular, além de apontar possíveis retenções lexicais. Os sociolinguistas afirmam que a idade do falante muitas vezes influencia de maneira expressiva a fala da comunidade e, portanto, da sociedade, uma vez que a língua está em constante processo de transformação e, com isso, aparece a necessidade de renovação do repertório e vocábulos para designar os novos referentes utilizados pela comunidade para expressar os fatos da língua. Sendo assim, as pessoas mais velhas tendem, comumente, à conservação; em sua fala há o uso de vocábulos mais arcaicos, porque eles possuem menos contato com as mudanças e com as inovações que surgem a todo momento na realidade que os rodeiam do que as mais jovens (NARO; SCHERRE, 1993) e (BUENO, 1998). Realizadas as 36 gravações, apuramos os seguintes dados sobre nossos informantes. Convém ressaltar que várias entrevistas possuem mais de um informante:  quanto à idade: 70-75 anos: 10 pessoas; 76-80 anos: 14; 81-85 anos: 7; 86-90 anos: 1; 91-95 anos: 1; 96 – 100: 1; 101 – 105: 2.  quanto ao sexo: masculino: 22 e feminino: 14;  quanto ao grau de escolaridade: analfabetos: 22 e 1ª a 4ª série: 14;  quanto à ocupação profissional: lavrador: 22, do lar: 14. 19 Projeto da FALE/UFMG, com apoio da FAPEMIG, sob coordenação da Profa. Dra. Maria Antonieta Amarante de Mendonça Cohen (2003-2006). 72 3.1.2 As transcrições À medida que as entrevistas eram realizadas, a transcrição era feita, ou seja, os dados obtidos no registro oral eram passados para o registro escrito. Para essa etapa, seguimos as regras de transcrição utilizadas pela equipe do Projeto Filologia Bandeirante20 e, também pela equipe do Projeto Pelas Trilhas de Minas: as Bandeiras e a Língua nas Gerais, modelo adotado por Amaral (2003), Seabra (2004), Souza (2014), Cordeiro (2013), Miranda (2013), Freitas (2012), Menezes (2009), dentre outros. Não se trata de uma transcrição fonética, já que eram vários os interesses da equipe na época (léxico, sintaxe, morfologia, etc.). É uma transcrição ortográfica, porém adaptada. Foram estabelecidas as seguintes normas para a transcrição:  Orientações gerais: a) a transcrição não pode ser sobrecarregada de símbolos; b) deve ser adequada aos fins; c) deve permitir a compreensão do significado do texto; d) deve respeitar o vocábulo mórfico como unidade gráfica (FERREIRA NETTO; RODRIGUES, 2000); e) deve tentar facilitar ao leitor a criação de uma “imagem” do texto elaborado no plano da oralidade (FERREIRA NETTO; RODRIGUES, 2000). 1 – Nem tudo será registrado: a) o alçamento das postônicas não será registrado carne = carni; namorado = namoradu (A ideia é: o que é categórico, não marcado no dialeto, não precisa ser registrado) 2 – Serão registrados: a) alteamento/abaixamento das pretônicas pirdi = perdi reberão = ribeirão // premero = primeiro b) a redução dos ditongos [ow], [ey], [ay] será grafada ortograficamente como pronunciada: dotô = doutor falô = falou 20 COHEN, Maria Antonieta Amarante de Mendonça et al. Filologia Bandeirante, 1997. 73 primero = primeiro c) ausência do –r:  no final dos nomes: doutor = dotô  no final dos verbos: falá = falar; comê = comer  no meio dos vocábulos: pá = prá; madugada = madrugada d) ausência do –m final, desnasalização: homem = home garagem = garage e) nasalização de segmentos normalmente não-nasalizados deverá ser marcada com o til: ĩlusão = ilusão ẽizame = exame f) prótese: as próteses serão marcadas, ortograficamente, como pronunciadas: Izé = Zé Ieu = Eu Alembrá = lembrar g) supressão de consoantes, vogais ou sílabas finais será marcada com apóstrofo. mai’ ~ mais ago’ ~ agora h) paragoge: mali = mal i) iotização, grafando com i: fia = filha jueio = joelho j) aglutinação, com apóstrofo: dex’eu ~ deixa eu pr’eu ~ para eu k) pronomes ele, ela, eles, elas e eu serão grafados como realizados: Eis = eles; Ê = ele; Ea = ela Eas = elas l) casos de uma, alguma, nenhuma, etc. serão marcados com til: ũa ~ uma; algũa ~ alguma 74 m) variação fonética do “s” será grafada como efetivamente realizada: mermo ~ mesmo memo ~ mesmo 3) Indicações de:  Pausa: reticências...  Inaudível ou hipótese do que foi ouvido: ( )  Comentários:(())  Sobreposição de fala: {}  Discurso direto: “ “  Ênfase: maiúsculas  Truncamento: / Procuramos seguir, na medida do possível, as indicações acima relacionadas para as transcrições das entrevistas que se encontram no CD-Rom que acompanha este trabalho. 3.2 Fichas Lexicográficas Para sistematizar e analisar os dados por nós coletados em entrevistas orais e, posteriormente, transcritos seguindo metodologia adequada, elaboramos uma ficha para cada lexia. Nesta seção, apresentaremos a constituição dessa ficha. Essas fichas seguem o modelo construído para os trabalhos vinculados ao Projeto Léxicos Regionais (FALE/UFMG). Número da ficha – lexia (classificação morfológica) abonação ______________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: 2. Morais: 3. Laudelino Freire: 4. Aurélio: 5. Cunha: 6. Amadeu Amaral: 75 ___________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” Souza (2014): Ribeiro (2010): Freitas (2012): Miranda (2013): Cordeiro (2013): ___________________________________________________________________________ Origem (Cunha, data) ___________________________________________________________________________ Obs.: a) Do lado esquerdo, em primeira posição, apresentamos o número da ficha, seguido do vocábulo selecionado para análise. Esse vocábulo aparecerá na forma encontrada nas entrevistas, salvo os verbos que, por causa da diversidade de formas, optamos por colocá-los na forma infinitiva; e, entre colchetes, sua classificação morfológica, segundo o contexto em que se encontra inserido no corpus. b) Logo abaixo, no item “abonação”, apresenta-se, em itálico, um trecho da fala do entrevistado contendo uma amostra do corpus da lexia em estudo. No final desse item, são identificados o número da entrevista e a linha em que o vocábulo aparece nesse corpus. c) No item “registro em dicionários”, destaca-se como o vocábulo é descrito em cada obra. Quando isso não ocorre, ou seja, o dicionário não registra o termo, indicamos “n/e”. d) Algumas vezes, a entrada do verbete adotada pelos dicionários consultados não corresponde à nossa lexia. Há variações quanto a gênero, número, ortografia. Nesse caso, optou-se por considerar a forma dicionarizada, pois essas variações não prejudicavam nossa análise. e) No item “Léxicos Regionais”, procurou-se averiguar se a lexia de entrada ou suas variantes, quando houver, é encontrada em dissertações já defendidas, vinculadas a esse Projeto. f) Em relação ao item “origem”, o objetivo foi apontar como se deu a entrada do vocábulo na língua portuguesa, bem como elucidar sua datação e possíveis variantes. 76 g) O último item da ficha é reservado para algumas observações, seja de cunho linguístico ou extralinguístico, que se prestam relevantes para uma análise do vocábulo. Ao elaborar e apresentar essas fichas, anotamos informações relevantes para posteriores análises. Observando esse quadro é possível constatar se determinada lexia em estudo é ou não dicionarizada por um ou mais autores, ou mesmo por nenhum deles, se é arcaica, se é um brasileirismo etc. A ficha exposta constitui-se, por isso, como um importante instrumento de auxílio ao pesquisador em seu trabalho de análise e quantificação dos dados. 3.3 Sobre os dicionários consultados Para a análise das lexias coletadas, contamos com obras lexicográficas renomadas. São elas: i) Vocabulario Portuguez e Latino, de autoria de P. Raphael Bluteau (século XVIII); ii) Diccionario da lingua portugueza, de autoria de António de Morais Silva (século XIX); iii) Grande e novíssimo dicionário da língua portuguesa, de Laudelino Freire (primeira metade do século XX); iv) Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (final do século XX). Além dessas obras citadas, consultamos o Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha, e O Dialeto Caipira, de Amadeu Amaral. Selecionamos o Vocabulário Portuguez e Latino por dois motivos: ser este um dicionário que contempla grande parte do léxico da língua portuguesa até início do século XVIII, aumentando e atualizando aproximadamente em cinco vezes o vocabulário até então dicionarizado, conforme destaca Verdelho (2002) e, principalmente, por ser reconhecido pelos estudiosos da área como uma obra de referência nos estudos lexicográficos de língua portuguesa. Conforme destaca Murakawa (2006, p.31), o Diccionario da lingua portugueza, de Antônio de Morais e Silva, mesmo dando continuidade ao Vocabulário Portuguez e Latino, é uma obra que traz grande número de vocábulos não dicionarizados por Bluteau. Morais utiliza-se de obras de vários autores como fonte que, talvez por influência do Tribunal do Santo Ofício e, ainda, pela censura literária, foram deixadas de lado pelo P. Raphael Bluteau. Segundo, ainda, essa autora (2006, p.119), “o Diccionario de Morais pode ser considerado como o primeiro dicionário de uso da língua portuguesa, porque os que o 77 antecederam não podem ser classificados de tal maneira”. Tal fato se explica porque, para a Lexicografia moderna, um dicionário de uso é aquele que registra o vocabulário usual mais frequente na língua escrita e oral, destacando os diferentes registros e as variações linguísticas. Em relação aos dicionários contemporâneos, o Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa, de Laudelino Freire, foi escolhido como obra de referência da primeira metade do século XX, por tratar-se de um dicionário que apresenta grande riqueza vocabular, resultado da inclusão de muitas locuções, expressões e brasileirismos. A escolha do Aurélio Sec. XXI: O dicionário da língua portuguesa deu-se por ser este considerado como um dicionário padrão da sociedade brasileira, apresentando um vasto repertório lexical, incluindo grande número de brasileirismos. É um dicionário que, embora conte com limitações, apresenta grande número de abonações de obras variadas, exemplificações, exemplos baseados em linguagem falada e escrita, indicação da variabilidade linguística no território nacional, além de concisão e clareza nas definições. Quanto aos dois últimos dicionários, a escolha do Dicionário Etimológico Nova Fronteira da Língua Portuguesa teve como objetivo principal esclarecer a etimologia dos vocábulos e a datação aproximada da sua entrada na língua portuguesa, uma vez que parte desses vocábulos selecionados não constavam nos dicionários mais antigos. Outra finalidade da escolha desse dicionário foi a de identificar as formas variantes que tais vocábulos adquiriram ao longo do tempo, podendo, com isso, verificar se algumas dessas formas coincidiam com aquelas encontradas no nosso corpus. Já a escolha da obra de Amadeu Amaral, O Dialeto Caipira, teve como objetivo comparar itens lexicais usados por nossos entrevistados com aqueles lexemas que constam nesse dicionário, representantes do falar caipira do interior paulista. Os estudos de Amadeu Amaral sobre o dialeto caipira, conforme aponta Castro (2006, p.1937), “apresentam dois aspectos inovadores que justificam a importância que é atribuída à obra: i) trata-se de uma tentativa pioneira de se descrever, de forma abrangente, um falar regional brasileiro – o próprio autor dizia que para se reconhecer a existência de um dialeto brasileiro ou de uma língua brasileira seria preciso que se conhecesse efetivamente esse dialeto, sendo necessário ir além do campo social e político; ii) aborda o ponto de vista metodológico – o trabalho se orienta por princípios rigorosos, que Amaral considera indispensáveis na investigação dialetológica, o que torna confiável a sua descrição, a saber: necessidade de pesquisa in loco, rejeição de dados não verificados pessoalmente pelo investigador; clareza, objetividade e precisão na descrição dos fatos e nos registros das 78 formas." Em seu livro, Amaral (1982 [1920]) afirma que “a coleta de dados deveria ser limitada estritamente ao terreno conhecido, banindo-se por completo tudo quanto fosse hipotético, incerto, não verificado pessoalmente. Seus critérios para coleta de dados, seleção e organização são seguidos em trabalhos posteriores.” Além dos dicionários citados, buscou-se verificar a presença dos vocábulos selecionados em dissertações defendidas em anos anteriores, sobre o léxico mineiro, orientadas pela Profa. Dra. Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (UFMG), a saber: O vocabulário rural de Passos/Minas Gerais: um estudo linguístico nos sertões do Jacuhy (2010), de Gisele Aparecida Ribeiro; Café com quebra-torto: um estudo léxico-cultural da Serra do Cipó – MG (2012), de Cassiane Josefina de Freitas; O estudo da fraseologia do léxico rural de Sabinópolis – MG (2013), de Vanderlei Martins Ribeiro de Miranda; O vocabulário rural no Vale do Jequitinhonha: estudo do léxico de Minas Novas (2013), de Maryelle Joelma Cordeiro; Nas Cacimbas do Rio Pardo: um estudo léxico-cultural (2014), de autoria de Vander Lúcio de Souza. No que se refere às dissertações pautadas no falar rural de Minas Gerais, sob a orientação da Dra Maria Cândida. T. Costa de Seabra, a escolha por esses trabalhos foi feita com o intento de conferir os dados da presente pesquisa com aqueles encontrados em diferentes regiões do estado de Minas Gerais. Convém observar também a oportunidade de se ter um esboço da distribuição geográfica desse vocabulário em determinadas áreas do território mineiro. Exibimos, a seguir, uma dessas fichas preenchidas: RECURSO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Porque não tinha um movimento, uai, não tinha recurso. (1;34). Não tinha recurso, era tudo... (1;35). Não, não, passei muito pra lá e pra cá, mas não sei, a gente era mais simpre que hoje, né? Hoje tem mais recurso, né? (9;129). ...mas Deus deu recurso, agora tem de tudo... (16;108). É paralisia, naquele tempo num tinha recurso nem nada... (18;25) ...ocês vai estudá, pra pode arruma um recursomió... (18;66) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: O buscar remédio a necessidade, que se padece. Vid. Recorrer 2. Morais: Recurso – sub. masc. O ato de recorrer, ou buscar remédio, ou expediente em alguma necessidade; refugio. Vieira. ‘‘poderá caber alguma esperança, alguma consolação, algum recurso”. Remédio para emendar mal, perda, dano, moralmente. Ined. L. f. 566.’‘passar em França para seu recurso.” Apelação extraordinária ao 79 superior, que, emende a iniquidade, ou vexame do inferior: v. g recurso ao Soberano, á Coroa. Vieira. Não pode haver recurso de seus procedimentos nem ainda notícia: o recurso ao prelado e difícil. 3. Laudelino Freire: Laudelino Freire, s. m. Lat. Recursos. Meio empregado para vencer uma dificuldade ou um embaraço. ||2. Meios pecuniários. ||3. Ação pela qual se invoca o auxílio, o valimento ou o socorro de alguém. ||4. Proteção, auxílio, socorro. ||5. Refúgio, abrigo. ||6. Remédio. 4. Aurélio: Subs. Masc. 2. Auxílio, ajuda. 3. Meio pecuniário. 4. Meio para resolver um problema. 5. Material obtido do meio ambiente e usado por um organismo vivo. 5. Amadeu Amaral: n/e _____________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1) Ribeiro (2010): n/e 2) Freitas (2012): n/e 3) Miranda (2013): n/e 4) Cordeiro (2013): n/e 5) Souza (2014): n/e _____________________________________________________________________________________ Origem: sm. ‘ato ou efeito de recorrer’ ’auxílio’’(Jur.) meio de provocar na mesma instância ou na superior, a reforma ou a modificação de uma sentença judicial desfavorável’ XV. Do lat. recursos-us. Cp. CORRER. (Cunha,1986, p.669) 3.4 Macro e microestrutura do glossário Para elaborar nosso glossário, adotamos como base alguns pressupostos de autores representativos da lexicologia e da lexicografia. Por isso, escolhemos dois expressivos nomes que são: Haensch (1982) e Barbosa (1995) para obtermos uma definição consistente desse tipo de obra. Haensch (1982) considera glossário toda obra lexicográfica que registra e explica vocábulos usados por autores em uma obra literária. Para esse autor, não apenas o texto literário, mas vários textos podem salientar palavras de significados difíceis; quando tais palavras aparecem em ordem alfabética no final de um texto, dá-se o nome de glossário. Ainda baseados em fundamentos teóricos da lexicologia e lexicografia, buscamos em Barbosa (1995) um outro conceito para glossário. Para Barbosa (1995, p.19-21), “o glossário pretende ser representativo da situação lexical de um único texto manifestado, podendo ser classificado em lato sensu e stricto sensu. Ambos resultam do levantamento das palavras-ocorrências e das acepções em um único texto.” Para a confecção de glossários ou dicionários, temos que levar em conta, de acordo com Haensch (1982, p.396), que: Há quatro critérios que determinam de maneira decisiva a seleção de entradas de um dicionário ou glossário, etc. A três, poderíamos chamar de fatores “externos”: sua finalidade (descritiva, normativa, etc.), o grupo de usuários ao qual se destina (especialistas, tradutores, universitários, público culto, etecétera) e sua extensão. O quarto, de índole “interna”, é o método de seleção de unidades léxicas segundo 80 princípios linguísticos, mas sempre de acordo com outros três critérios21 (tradução nossa) Convém ressaltar que nosso objetivo foi a montagem de um glossário em que fossem catalogadas grandes números de lexias encontradas em nosso corpus. Essas lexias foram organizadas de maneiras distintas e complementares: pelo método onomasiológico (do conceito ao nome) e pelo método semasiológico (do nome ao conceito). Conforme Baldinger (apud HAENSCH et al., 1982, p. 344), esse modo de organização se justifica, pois: Até o momento toda a discussão acerca da ordenação de dicionários só faz com que o nível da forma e do conceito se confundam, sendo que no campo da forma se exige uma resposta para perguntas que só podem ser respondidas pelo campo do conceito, e vice-versa22. Nas palavras de Seabra (2004, p. 34), “a Onomasiologia e a Semasiologia, ao mesmo tempo em que se opõem, complementam-se, constituindo uma boa metodologia para o estudo da forma como se estrutura o Léxico.” 3.4.1 A macroestrutura A constituição do corpus desta pesquisa, na qual analisamos o vocabulário rural do Parque Nacional da Serra da Canastra, resultou de uma compilação das lexias encontradas nas 36 entrevistas orais realizadas na zona rural dessa região. Salienta-se que o conjunto de entradas foi organizado em ordem alfabética, preconizando a metodologia adotada durante as transcrições, a fim de facilitar a consulta. Primeiramente, de acordo com o método onomasiológico, apresentamos as lexias agrupadas em redes semânticas afins. 21 Hay cuatro critérios que determinan de manera decisiva la selección de entradas de un diccionario, glossário, etc. A tres de ellos podríamos llamar “externos”: su finalidad (descriptiva, normativa, etc.), el grupo de usuários al que va destinado (especialistas, traductores, alumnos de bachillerato, público culto, etcétera) y su exténsion. El cuarto, de índole “interna”, es el método de selección de unidades léxicas según principios lingüísticos, pero siempre de acuerdo com los otros tres critérios. 22 Hasta ahora toda la discusión acerca de la ordenación del diccionario tine el efecto de que se confundem constantemente dos niveles, el nível de la forma y el nível del concepto, de que a nível de la forma se exige una respuesta a preguntas que solo pueden responderse a nível del concepto y viceversa. 81 Segundo Haensch et al. (1982, p. 165), a “ideia fundamental da agrupação onomasiológica é a de se levar em conta as associações que existem entre conteúdos, tanto do ponto de vista da língua como o das coisas”. Levando em consideração os trabalhos lexicográficos, o autor afirma que é preferível apresentar e estudar o vocabulário por meio de divisões, porque assim vocábulos e termos correspondentes aparecem inter-relacionados. Em um segundo momento, seguindo o método semasiológico, partimos da palavra para sua significação. 3.4.2 A microestrutura Foi utilizado para a elaboração da microestrutura do nosso glossário o modelo abaixo: Forma do Verbete Lexia - (dicionarizada)• Estrutura Morfológica • Origem • Definição • Abonação. Nessa disposição, valemo-nos das informações já apresentadas nas fichas lexicográficas nos itens Lexia, Registro em dicionários, Estrutura Morfológica, Origem e Abonação. Introduzimos, ainda, a Definição para cada termo. Segue um exemplo completo da forma do verbete, retirado de nosso glossário: ADOBO • (A) • Nm[Ssing] • Ár. • Tijolo de argila misturado com palha e cozido ao sol. • Adobo cê sabe que que é né?[...] Pra fazê parede, adobo que chama.[...]As casa, a maió parte era feita de pau-a-pique e adobo. (5; 33, 40, 43) Passemos, no próximo capítulo, à descrição e análise dos dados catalogados em fichas lexicográficas. 82 CAPÍTULO 4 – APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Baseando-nos no que já foi exposto, procuraremos descrever e analisar os dados retirados do corpus, selecionados a partir de entrevistas realizadas nas comunidades selecionadas do Parque Nacional da Serra da Canastra, apresentados em fichas para fins de sistematização. São 561 lexias, apresentadas em ordem alfabética e transcritas conforme mostram as regras já citadas na seção 3.2. Passemos à apresentação e análise dos dados. 83 4.1 As fichas lexicográficas A seguir, apresentamos as 561 fichas, conforme já explicitadas na seção 3.2. A 1. ACÁ [ADV] __________________________________________________________________________________________ Aí ele tro[u]xe pra cá, ficô munto tempo aqui. De vez em quando a menina vinha acá vê o Bob. (1; 160). _________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: A cá.“v. cá.” “Cá, adv. Neste lugar. Este adv. tem significação semelhante à de aqui; mas não é tão demonstrativo.” 3. Laudelino Freire: Aca.“Adv. Ant. 1. Cá, para cá. // 2. Aqui, neste lugar: “Já devia estar bem longe de acá.” (V. de Taunay).” 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Acá. Neste lugar. ― Aí ele troxe pra cá, fico munto tempo aqui. De vez em quando a menina vinha acá vê o Bob.(Ent. 1, linha 160) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Acá. Próximo em relação àquele que fala; aqui, neste lugar. ―... tudo era mato... acá tinha uma casinha nesse ponto.‖ (53;06). __________________________________________________________________________________________ Origem: Acá. “adv. ‘neste lugar, aqui’ / XIII, aca XIII, acaa XIV, aqua XIV / Da var. ant. aca, derivado do lat. eccum hac ‘eis aqui’. No port. Med. as vars. aca e aco (< lat. eccum hoc) concorriam com aqui e cá; v. aqui.” (CUNHA, 1986, p. 130) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Arcaísmo 2. A COISA CORRIA FÁCIL [Fraseologia] __________________________________________________________________________________________ Descobriram demais, mais naquele tempo a coisa corria fácil, né? Eu num largava de um 38 nem pra comê doce. (34; 147). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e 84 __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: A expressão “a coisa corria fácil” significa não haver punição sobre qualquer ato criminoso. 3. ACUDIR [V] __________________________________________________________________________________________ E daí quando nóis todo mundo ( ) nóis envinha embora, os cachorrinho da C., um pititinho latiu cum ela ( ) envinha um grandão, juntô nessa cachorrinha debaxo do pé de café, eu falava: “vai lá L. acuda, vai acuda se não vai matá, o cachorrão é grande”. (1; 126). Óia p cê vê J.: chega perto/chegá pessoa duente/ chega lá ea tá duente precisa oiá, acudi. Gente mijado, cagado( ). (1; 183). Uai, é assim: a pessoa tá morre e não morre igual tá no hospital fica oiano/os infermero fica oiano toda hora. Aí tinha que juntá os vizinho e a famia e ia passá a noite. PESQ.: Pra vigiá? INF.: É. Pa acudi. Pô vela. (13; 562). É. Rezava terço. Aí é/ aí da moda, a famia num guenta no finzinho da vida aquele sofrimento. Aí o povo juntava pa acudi. Ficava de compania ali. (13; 567). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Acudir. Ajudar a alguém. 2. Morais: Acudír. v. at. Vir trazer socorro, auxílio ao que o implora. 3. Laudelino Freire:Acudir. v.r.v. Ir em socorro ou em auxílio, valer na dificuldade. 4. Aurélio:Acudir. v.t.i. 1. Ir em socorro, auxilio; socorrer; auxiliar. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Acudir. Socorrer, auxiliar. INF.:É.Rezava terço.Aí é/aí da moda, a famia num guenta no finzinho da vida aquele sofrimento.Aí o povo juntava pá acudi.Ficava de compania ali. (Ent.13,linha 567 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Acudir. vb. ‘vir em socorro de, acorrer’ XIII. Da antiga forma recudir (do lat. recutere), frequente no port. med., com troca de prefixo. (CUNHA, 1986, p. 12) 4. AÇÚCAR MORENO NCm [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ ...acho que açúcar moreno... (36; 122). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5.Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ 85 Origem: Açúcar. sm. ‘produto alimentar, de sabor doce, extraído, principalmente, da cana-de-açúcar’ XIV. Do ar. as-sukkar. (CUNHA, 1986, p. 12) Moreno. adj. sm. ‘que ou aquele que tem cor trigueira’ XVI. Do cast. moreno. (CUNHA, 1986, p. 533) 5. A DANAR [Pron] __________________________________________________________________________________________ ...e eu tinha diamante a daná... (22; 151). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: A3. Prep.. XIII. Do lat. ad. (CUNHA, 1986, p. 1) Danar. vb. ‘encolerizar’ XIII. do lat. damnare. (CUNHA, 1986, p. 239) __________________________________________________________________________________________ Obs: Em excesso, o mesmo que “pra danar”. 6. ADOBO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Adobo cê sabe que que é né?[...] Pra fazê parede, adobo que chama. [...] As casa, a maió parte era feita de pau- a-pique e adobo. (5; 33, 40, 43). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Adobe. Adobe, Adôbe. Espécie de ladrilho grosso, não cozido ao fogo, mas seco ao sol. 2. Morais: Adòbe. s.m. Tijolo de barro quadrado cru. Suas casas são de adobes [...]. 3. Laudelino Freire: Adôbo. s.m. ar. at-tob. Tijolo grande, não queimado, tijolo cru. 4. Aurélio: Adobo. s.m. 1.V. adobe1: “atravessou correndo o quintal até ao chuveiro —desajeitado chalezinho de adobo sem reboco.” (Mário Palmério, Vila dos Confins, p. 22). [Pl. adobos (ô). Cf. adobo, do v. adobar.] Tijolo cru, seco ao sol. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Adobo. Tijolo de argila misturado com palha cozido ao sol. Adobo CE sabe que é né? [...] Pra fazê parede,adobo que chama [...] As casa, a maió parte era feita de pau-a-pique e adobo.(Ent. 5, linhas 33,40,43) 2. Freitas (2012): Adobe. Tijolo feito de argila,seco ou cozido ao sol,geralmente acrescido de capim ou palha,para torná-lo mais resistente. “Fui embora pra casa de mamãe lá ê fez dois cômodo no Papagai num terreno que ê compro ...aí fez menina um trezim assim de adobe...”(Ent. 06, linha 139) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Adobo ~ adrobo. Em algum lugar definido;o mesmo que onde, a que lugar. “...adobe que tem essas caa com aquela rua de lá...” (36;300). __________________________________________________________________________________________ Origem: Adobe. sm. ‘tijolo de argila misturado com palha e cozido ao sol’ / 1562, adoue XV / Do ar. at – tub. (CUNHA, 1986, p. 16) 86 7. ADONDE [ADV] __________________________________________________________________________________________ Eu vô vê adonde minhas galinha tá. /Eu vô vê adonde minhas galinha tá. (15; 326, 327). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau:Adonde. “Adverbio local. Adonde vas? Duo abis? Quo te agis? Terent. Vid. Donde” 2. Morais:Adonde. “é erro. Ver aonde; sendo a, prep. junto a palavra relat. onde: v.g. o lugar aonde estou, i. e., no qual estou. Em adonde, junta-se de a a perissologicamente: o mesmo é de d’onde.”Tomei adonde saira” é correto, i. e., tomei, ao lugar d’onde saira.” 3. Laudelino Freire:Adonde. “adv. Ant. O mesmo que aonde: “Irei adonde os fatos ordenaram” (Dic. Acad. Lisb.). // 2. Ant. e Pop. O mesmo que onde: “Uma ilha nas partes do Oriente, adonde o duro inverno os campos reverdece alegremente” (Dic. Acad. Lisb.). “Adonde você já viu falar em paqueiro que não acoe tatu...?” (Valdomiro Silveira)” 4. Aurélio: Adonde. “Adv. Ant. Pop. 1. Aonde: “esse caminho/ Bem sei adonde vai” (Fr. Agostinho da Cruz, Obras, p. 1918; “--De noite a gente come. / -- Aonde? / -- Não sei.” (Bariani Ortêncio, Vão dos Angicos, p.103.” 2. Onde: “Se eu fosse as pedras morenas / Lá da serra adonde estás / As pedras seriam penas, / As penas que tu me dás...” (Augusto Gil, O craveiro da Janela, p. 14); “-- Mas o que é que anda fazendo? / -- Procurando serviço. Será que ocê, que conhece tudo aqui pra vila, sabe adonde tem?” (Amadeu de Queirós, João, p. 15). Interj. 3. Bras. Pop. Qual! Não é possível: Pode me emprestar algum dinheiro? / -- Adonde meu amigo!” 5. Amadeu Amaral: Adonde. “onde, adv. / Só nas partes mais altas pareciam / Uns vestígios das torres que ficavam, / Adonde a vista o mais que determina / É medir a grandeza co’a ruína. (G. P. de Castro, “Ulisséia”). Também no Norte do Brasil persiste esta forma: Eu ante queria sê / a pedra adonde lavava / sua roupa a lavandera. (Cat., “Meu Sertão”)” __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Adonde. Em que lugar. Variante de aonde. “Eu vô vê adonde minhas galinha ta.Eu vô vê adonde minhas galinha ta.(Ent. 15, linhas 326 e 327) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Adonde. Em algum lugar definido;o mesmo que onde, a que lugar. “...adonde que tem essas casa com aquela outra rua de lá...” (36; 300) __________________________________________________________________________________________ Origem: Onde: em que lugar‘ séc. XIII. Do lat. unde. Aonde XIII (CUNHA,1986, p.561). __________________________________________________________________________________________ Obs.: Arcaísmo. Brasileirismo conforme Aurélio. 8. AFAVACA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Eu gosto dele bem quente, bem quente memo. Esse chazinho de afavaca, de hortelã, eu só não gosto de funcho. Funcho eu não gosto não. (1; 274). O sinhor tomava chá de quê? INF.: De afavaca, era de todo jeito. (9; 277). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Alfavaca. Alfava, Alfavaca. Erva. Vid. Alfabaca. 2. Morais: Alfaváca. s.f. Herva (parietaria nurallis) 3. Laudelino Freire: Alfavaca. s.f. ar. al-hahaca. Gênero de plantas da família das labiadas, de que muitas espécies são cultivadas nos jardins por causa do aroma e da beleza das fôlhas. 4. Aurélio: Alfavaca. [Do ár. al-*abaqa(t).] s. f. 1.Bot. Planta hortense, da família das labiadas, do gênero Ocimum, cultivada nos jardins pelo seu aroma e pela beleza das folhas utilizada como condimento. [Var.: alfábega, alfádega, alfádiga, alfavega, alfávega.] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 87 1. Ribeiro (2010): Afavaca. Planta hortense muito usada para infusão de chá. “Eu gosto dele bem quente, bem quente memo. Esse chazinho de afavaca,de hortelã,eu só não gosto de funcho.Funcho eu não gosto não.(Ent. 1, linha 274) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Alfavaca. sf. ‘planta hortense da fam. das labiadas’ / XVIII, alfauega XIV, alfauava XVI / Do ár. hisp. Al – habaqâ. (CUNHA, 1986, p. 29) 9. AFOBAÇÃO DANADA NCf [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Quando eu morrer não precisa demorá pra me enterra não, mas não tampa direito não, que às veiz eu vorto de novo, e me dá uma afobação danada. (29; 166). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Afobação: do vb. afobar ‘ Apressar-se, precipitar-se’ XX. De origem onomatopaica. (CUNHA, 1986, p. 20) Danado: XIV. Do lat. Damnãtus, part. Pass. De damnãre. vb. ‘Prejudicar, irritar’ ‘comunicar a hidrofobia, encolerizar’ XIII. (CUNHA, 1986, p. 20) __________________________________________________________________________________________ Obs.: A expressão significa ter um sentimento de urgência ou desespero. 10. AFOGAR [V] __________________________________________________________________________________________ Afoga ela no sistema de fazê o arroiz... (36; 224). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Afogar. Afogar hum galo. 2. Morais: Afogar. v. S. f. Fazer o guisado afogado. 3. Laudelino Freire: Afogar. v.tr. dir. Pop. O mesmo que refogar: “A cozinheira afogou o arroz.” 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Afogar. vb. ‘sufocar, asfixiar’|XIII, afogar XIII| Do lat. *affocare. (Cunha, 1986, p. 22) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Afogar, nesse contexto, significa refogar. 88 11. AGORO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Por que se escutasse o gavião cantando era ruim? INF.: Era agoro. (13; 322). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Agouro. Agouro, na sua mais ampla significacação, he o final, ou presságio de qualquer cousa futura, de qualquer bom, ou não sucesso. Augurium ij. Neut. Cic. Vid. Presságio. 2. Morais:Agòuro. s.m. Predicção do successo futuro, fundada na observação do canto, e vôo das aves; e fig. De quaesquer sinaes tão insignificantes como o vôo das aves, em que muitos cuidão, que há connexão com successos incertos. 3. Laudelino Freire: Agouro. s.m. Lat. augurium. Augúrio, pressagio ou vaticínio fundado na observação do voo ou canto das aves. // 2. predição, profecia, prognóstico. // 3. Qualquer sinal em que muitos acreditam haver conexão com sucesso incertos. 4. Aurélio: Agouro .[Do lat. auguriu.]Substantivo masculino. 1.Predição baseada no vôo ou no canto das aves; augúrio. 2.Profecia, prognóstico, vaticínio, predição, augúrio. 3.Presságio, pressentimento, previsão, augúrio: “A visita pareceu de mau agouro ao médico.” (Machado de Assis, Contos Fluminenses, p. 38.) 4.Sinal que pressagia; augúrio. 5.Presságio de coisa má; mau agouro. [Var.: agoiro.] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Agoro. Presságio, pressentimento, previsão, augúrio. ---- PESQ.:Por que se escutasse o gavião cantando era ruim? INF.:Era agoro.(Ent.13,linha 322) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Agouro. sm. ‘predição do futuro, (mau) presságio’ / XVI, agoiro XIII, agoyro XIII / Do lat. vulg. *agurium (cláss. augurium) (CUNHA, 1986, p. 22) 12. AJEITADO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ É, ué, passa lá uma hora, Tio A. é ajeitado. (20; 01). Tem, é ajeitado lá, um senhor muito bom também. (21; 50). Nessa época, o meu pai foi, foi aprendeu a fumá com os escravo ainda, e eu cheguei a conhece treis escravo que sobro, houve a forria, no meu tempo ainda, que eu já tinha nascido, então esses escravo sobro, eles era carapina, criolo muito ajeitado, mas num era escravo mais não, cunheci treis, ensinou meu pai a fumá, ês tinha aquela satisfação de fazer um pitinho pro meu pai pitá. Vamos pra lá. (34; 161). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Ajeitado. Part. Pass. De ageitar 3. Laudelino Freire: Ajeitado. Adj.P.p. de ajeitar. Pôsto a jeito ou de jeito; acomodado.arranjado,moldado. /2.Que tem boa aparência. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 89 13. AJITÓRIO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Mutirão? Mutirão é quando juntava um monte de gente? INF.: Isso. Uns falava mutirão, otos falava ajitório. PESQ.: Como? INF.: Ajitório. (14; 494, 496). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral:n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Ajitório. Ajuda, auxílio.Variante de ajutório.PESQ.: Mutirão? Mutirão?Mutirão é quando juntava um monte de gente? INF.:Isso.Uns falava mutirão,otos falava ajitório.PEQ.: Como? INF.:Ajitório.(Ent. 14, linhas 494 e 496) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Adjutório. Do lat. Adjutor –oris // XV. (CUNHA, 1986, p. 24) 14. A MEIA [Loc Adv] __________________________________________________________________________________________ Tem a meia com o Zé... (21; 7). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: A meia. Partir igualmente os ganhos. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: A meia. loc. Adv. De sociedade, de combinação, em colaboração. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: A3. Prep.. XIII. Do lat. ad. (CUNHA, 1986, p. 1) Meia. sf. ‘metade’ | meya XIII. Do lat. medya. (CUNHA, 1986, p. 509) 15. ALEMBRAR [V] __________________________________________________________________________________________ Já pensô setenta e sete. Eu alembro dereitinho. Aí eu ganhei a foinha e puis no quadro. (4; 197). Ah, não. Aquela lá eu não alembro. (10; 168). Não, dos Medero. Não alembro. (10; 170). Cê num alembra dela não. Ele era muito chique. (10; 332). Ninguém / quem alembra quando tinha quato ano minina? (10; 587). 90 Eu alembrei dele, aí eu falei trem bobo po J. (13; 191). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Alembrar. “Vid. Lembrar” 2. Morais: Alembrado, alembrança. “&c. v. lembrado, lembrança, lembrar.” 3. Laudelino Freire: Alembrar. V.r.v.O mesmo que lembrar: “Mais estancas cantara esta sirena em louvor do ilustríssimo Albuquerque, mas alembrou-lhe u’a ira que o condena, posto que a fama sua o mundo cerque” (Camões). “Alembra-me que outrora... conheci um corício em anos já maduros, dono duma chãzinha ali desamparada” (Castilho).” 4. Aurélio: Alembrar. “[De a-4 + lembrar.] V.t.d. / V.t. d. e i. / V. p. Ant. Pop. 1. Lembrar: “encanecidos / Pescadores de outrora alembram com saudade / As pescarias” (Vicente de Carvalho, Versos da Mocidade, p.124)”; “Algumas vezes eu me alembro duma / tarde na roça” (Gilberto Mendonça Teles, Saciologia Goiana, p. 34).” 5. Amadeu Amaral: Alembrar: “lembrar, v. // Esta prótese vem de muito longe na história da língua, e ainda é pop. Alembrava-vos eu lá? (Gil V., “Auto da Índia”)” __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Alembrar. Recordar, vir à lembrança. Cê num alembra dela não. Ele era muito chique.(Ent. 10, linha 332) 2. Freitas (2012): Alembrar. Trazer algo à memória,recordar,relembrar.Variante de lembrar. “ Ele era fei menina em vida ô num alembro dele não mais diz que ê era fei demias muito fiuzim...” (Ent.06, linha 375). (alembrar ~ lembrar:caso de prótese) 3. Miranda (2013): Alembrar. Trazer algo à memória,recordar,relembrar.Variante de lembrar. “...eu ainda tenho uma meio lembrança de tropa... Cê num alembra de tropa não né?” (Entr. 2. Linha 5). (alembrar~lembrar:caso de prótese) 4. Cordeiro (2013): Alembra. Lembrar, recordar, trazer à lembrança. Variante de lembrar. . Eu nem sei se ele alembra não que ele era tava pequeno. Capaz que ele nem alembra. (Entrvista 1, linha 92) 5. Souza (2014): Alembrar. Trazer lembranças de alguém ou algo à memória.Recordar-se.Variante de lembrar (lembrar > alembrar -caso de prótese). “... que eu sou de trinta e três... eu alembro da fome.” (15;261). __________________________________________________________________________________________ Origem: Lembrar. vb. ‘trazer à memória, fazer recordar, notar, advertir’/XV, membrar XIII, nembrar XIII etc./Do lat. memorare. (CUNHA, 1986, p. 469) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Arcaísmo 16. AMARELÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ês fala até hoje, é mas ( ) amarelão dá/a pessoa dá amarelão. INF. 1: Hoje ês fala hipatite. (1; 518). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Amarelão. s.m. De amarelo + ao. O mesmo que ancilostomose. 4. Aurélio: Amarelão. [De amarelo + -ão1.] Bras. Substantivo masculino. 2.Bras. V. ancilostomíase 5. Amadeu Amaral: Amarelão, marelão. s.m. - anquilostomose. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Amarelão. Doença causada por vermes. INF.2: Ês fala até hoje,é mas ( ) amarelão dá/a pessoa dá amarelão. INF.1: Hoje ês fala hipatite.(Ent. 1, linha 518) 2. Freitas (2012): Marelão. Doença causada por vermes. • “Aí menina o menino vinha atrás de mim “marelão da infança pinico da cagança macarrão de santa casa” me xingano” (Ent. 03, linha 144) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Amarelão. Do lat. hisp. *amarellus, do lat. amarus. Século XX. (CUNHA, 1986, p. 37) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 91 17. ANGICO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E tem muitas árvore que dá em bera de pasto aí fora, aruerão, angico, aqui não tem. (32; 217). Aqui não tem, que eu tô falano pra ele, aqui num tem, angico aqui não tem, é beira de Rio Grande aí é o couro. (32; 221). Tem a semente ali pra prantá de angico, mas num prantei tamém, falei. (32; 224). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3.Laudelino Freire: Angico. Grande árvore leguminosa-mimosácea do Brasil, de folhas bipinuladas e inflorescência em capítulos; o fruto é uma vagem com quatro ou cinco estreitamentos, e contém sementes. 4. Aurélio: Angico. 1 Designação comum a várias árvores da família das leguminosas, nativas da América do Sul, geralmente exploradas pela sua madeira. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Angico. Árvore brasileira de grande porte, cuja madeira é muito utilizada. Ingem tudo de pau, ingem antigo. Fazia tudo de madeira lá de, de angico e de monjolo. (Entrevista 12, linha 141) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Angico. sm. planta da fam. das leguminosas, de madeira utilíssima 1871. De origem controvertida. (CUNHA, 1986, p. 48) 18. ANGU Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Levava angu doce, né? INF. 2: Angu doce. Eu lembro, minha mãe fazia. ... Mamãe fazia muito angu doce. (9; 190, 191; 194) Levava uma lata de mio po munho e fazia fubá, do fubá fazia o angu, fazia o bolo, fazia o mingau, fazia tudo do fubá. (11; 121) Aí mandô pô aquê angu de fubá de munho nas costa. Eu tenho o sinale até hoje, quemado, a mancha.PESQ.: Mandô pô o quê? INF.: Angu de fubá de munho nas costa.”(2; 72, 77) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Angu. s.m. Papa espessa de farinha de mandioca feita com caldo de carne; pirão, pirão de angu. 4. Aurélio: Angu.[De or. afr.] Substantivo masculino. 1.Bras. Massa consistente de farinha de milho (fubá), de mandioca, ou de arroz, com água e sal, escaldada ao fogo. [Cf. polenta.] 2.Santom. Cul. Massa de banana cozida com que, depois de fria, se fazem bolas que acompanham a maior parte das iguarias em que há molho: “Na hora do ‘angu’ / Do clássico calulu de peixe / Todos se juntam” (Alda Espírito Santo, É Nosso o Solo Sagrado da Terra, p. 71). 5. Amadeu Amaral: Angú. s. m. - papas de farinha ou de fubá. Fig.: negócio desordenado, teia de intrigas e mexericos, coisa confusa, e ininteligível. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Angu. Papa espessa de farinha de milho,de mandioca ou de arroz,cozida com pouca água. INF.2: Almuçava né e depois levava merenda, né? INF.1: Levava angu doce, né? INF.2: Angu doce. Eu lembro,minha mãe fazia... Mamãe fazia muito angu doce.(Ent. 9, linhas 190,191 e 194) 92 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Angu. sm. ‘papa espessa de farinha de milho, de mandioca ou de arroz, cozida com pouca água’ 1844. Do ioruba a’nu. (CUNHA, 1986, p. 49) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 19. ANIMAL DE BOCA NCm [Ssing + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ah, eu é, fui peão de mansar burro, animar, quando eles falava assim: “Tem um animal é, manhoso.” Eu ia lá e comprava ele, e montava, e consertava aquilo, ganhava dinheiro era assim, mansava burro, mansava e acetava animal de boca, animal que eu andava todo mundo gostava. (34; 236). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Animal. sm. ‘ser vivo organizado, dotado de sensibilidade e movimento’ | XIV| Do lat. animal. (CUNHA, 1986, p. 50) Boca. sf. ‘cavidade na parte inferior da face, pela qual os homens e os outros animais ingerem alimentos, e ligada com os órgãos da fonação e da respiração’ XIII. Do lat. buccam. (CUNHA, 1986, p. 114) 20. ANTÃO [ADV] __________________________________________________________________________________________ Aí, antão eu acho que o meu pai/ a minha mãe é que tava certa e meu pai tava errado. Porque meu pai achô que eu ia ficá feinho. (2; 13). Antão, na nossa terra, quando nóis morava... (2; 23). Antão lá vai, vô chutá. (2; 127). Antão ela é minha subrinha. (2;139). Antão. ( ) (3; 121). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Antão. adv. Lat. intunc. Pop. O mesmo que então. 4. Aurélio: Antão. Advérbio. 1.Ant. Pop. Então: “já voltava para o Zeca Estevo, num passo ondulado e mole, quando este quis saber o nome da doença: “— Antão, meu patrão velho, o que é que eu tenho?” (Valdomiro Silveira, Os Caboclos, p. 71.) 5. Amadeu Amaral: Antão. então, ad.: -”Antão ela reparou bem em mim, não disse mais nada, e saiu adiante”. (V. S.) |Filhos forão, parece, ou companheiros, E nella antão os incolas primeiros. (Camões, “Lus.”). __________________________________________________________________________________________ 93 Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Antão. O mesmo que então. Aí antão eu acho que o meu pai/ a minha mãe é que tava certa e meu pai tava errado. Porque meu acho que eu ia ficá feinho. (Ent.2, linha 13) 2. Freitas (2012): Antão. O mesmo que então. “ A madêra ficava perfeita toda antão ês tirava as madêra e fazia a tal cerca de tisôra..já viu falá?” (Ent. 04, linha 422) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Antão. O mesmo que então. Eu que fiava no fus, né? Tinha o fus de fiá agudão. Antão pegava e colocava no vidro, colocava assim e ia fiano. (Entrevista 2, linha 116) 5. Souza (2014): Antão. Indica um movimento temporal a partir de um acontecimento; o mesmo que então. “...antão o tempo no domingo era esse...” (1;96). Cf. antonce. __________________________________________________________________________________________ Origem: Então. adv. ‘nesse ou naquele tempo, momento ou ocasião/entõ XIII, enton XIII etc./Do lat. in tunc. (CUNHA, 1986, p. 301) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Arcaísmo Lusitanismo conforme Amaral. 21. ANTONTE [ADV] __________________________________________________________________________________________ ...eu mais a muié antonte comeu foi pé de porco... (32; 390). Ele até me deu um gole d’água antonte, mas foi sábado mais a muié dele, levou uns gado. (32; 97) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Antontem. ―O dia antes da vespora do dia, em que estamos. Nudius tertius. Cic. 3.de Nat. 38. Esta palavra se poem a modo de advérbio, sem mudança alguma, como se se dissera. Nunc dies tertius est, à saber, hoje he o terceyro dia. 2. Morais: Antóntem. ―Adv. No dia anterior a hontem. 3. Laudelino Freire: Antontem. ―adv. De ante + ontem. Pop. O mesmo que anteontem. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: Antonte, anteontem, adv. | V. ANTE. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Antonte. O dia que antecede ao de ontem. Variante de anteontem (anteontem > antontem > antonte – caso de síncope e apócope). “Essa semana mesmo eu fui lá duas vezes... eu fui lá antonte e fui ontem.” (Entr. 11, linha 259) __________________________________________________________________________________________ Origem: Antonte. de anteontem, de ante + ontem / oonte S. XIII / Do latim ad noctem. (CUNHA, 1986, p. 54) 22. APARTAR [V] __________________________________________________________________________________________ ...e aí depois meu avô deu esse pedaço, apartô, cercô... (29; 96). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Apartar. Afastar uma coisa da outra. 2. Morais: Apartar. v. at. Pôr à parte, separar uma coisa da outra. 3. Laudelino Freire: Apartar. Desunir, separar. 4. Aurélio: Apartar. v.t.d. 1. Desunir, separar. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 94 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Apartar. XIII. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 584) 23. APERTO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E criava aquê tanto de fio e aquea pobreza, aquele aperto. Oh, criô todo mundo. Todo mundo cresceu, cumeu, bebeu, prendeu trabaiá. Tá tudo véio, graças a Deus. (1; 584). Num dá assintença, num dá nada, né? Intão é ( ). Troxe mais aperto pa vida, né? De primero trabaiava, tinha mais jeito de passiá, tinha tempo. (3; 32). Porque o povo fala que todo véio foi pião. Mais é porque o povo de antigamente tinha aperto. (11; 260). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Apérto. s.m. Pobreza. Falta do necessário. Res anguste. Horat. Rei familiaris angustia. Estar em grande aperto. Cogi in angustian. Terent. 2. Morais: Apérto. s.m. Pobreza, falta do necessário. 3. Laudelino Freire: Apêrto. s.m. 9. Desgraça, dificuldades, embaraço grave. //10. Penúria, pobreza, indigência. 4. Aurélio: Aperto. (ê) [Dev. de apertar.] Substantivo masculino. 5. Situação difícil, aflitiva, embaraçosa, perigosa, etc.; apertada, apertadela, apertado, apertão, apertura, apuro. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Aperto. Pobreza, dificuldade, falta do necessário. E criava aquê tanto de fio e áquea pobreza, aquele aperto. Oh, crio todo mundo. Todo mundo cresceu, cumeu, bebeu, prendeu trabaia. Tá tudo veio, graças a Deus. (Ent. 1, linha 584) 2. Freitas (2012): Aperto. Pobreza, dificuldade; falta do necessário. “Mais vô falá com cê uma coisa já passei muito aperto de dificurdade essa casião num era igual hoje em dia quano os trem cabava tinha que buscá trem lá em Vespasiano.” (Ent. 05, linha 148) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Aperto. Do lat. appectorare. Século XV. (CUNHA, 1986, p. 57) 24. APIAR [V] __________________________________________________________________________________________ A hora que ocê apiô do carro, que eu peguei na sua mão e fui cunversa cocê, cê lembra que que o J. falô? (2; 132). Ia um tocano os animale, a tropa assim arriada e apiava pa ajudá carregá. (4; 43). O carro impurrô ela. Mais’ ela que foi curpada. Que ela apiô do carro do pai dela e foi correno. (13; 145). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Apear. Tirar a alguém o cavallo. 2. Morais: Apeár. v. at. Fazer pór a pé. 3. Laudelino Freire: Apear. v.r.v. De a + pé + ar. Fazer descer de cavalo, carro, trem, etc.; desmontar. 4. Aurélio: Apear. v.t.d. 3. Descer de montaria ou viatura. 5. Amadeu Amaral: Apeá(R). v. i. - voc. port., que no dial. apresenta a particularidade de envolver, correntemente, a idéia de “hospedar-se”: “Quando chegô? Adonde apeô? - Apeei na casa do Chico, perto de onde tenho meus que-fazê”. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Apiar. Descer de animal ou de veículo. O carro impurrô ela. Mai’ela que foi curpada. Que ela apiô do carro do pai dela e foi correndo.(Ent. 13, linha 145) 95 2. Freitas (2012): Apiar. Descer de animal ou de veículo. “ Tinha que Apia ali na rodiviara e travessa de banda e caminhá uma distança com o daqui a ... como daqui lá na casa do (B...) PA podê chega na casa dela.” (Ent. 09, linha 141) 3. Miranda (2013): Apiar. Descer de animal ou de veículo. “...ele tava debruçado na janela eu fui pareei o burro assim... cumprimentei ele... ele mandô eu Apia... e eu não senhor doto... to com pressa...” (Entr.3. linha 378) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Apear. Do lat. pespedis. XVI. (CUNHA, 1986, p. 588) 25. APREPARO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Não, quando eu fui lá no Glória pra mim, a muié ensiná lá era muita tecedeira, mas depois era só eu, eu tinha meus apreparo tudo. (27; 35). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Apreparo. Reunião de pessoas para fins recreativos. “Ô minino...com nós aqui nunca que ( )..quando dava festa só lá pra Sabianópolis...e num tinha tempo de ir a festa nada... quando tinha aí era algum aprepararo né... ( ) aqui na roça... ( ) ... o povo bebe... briga e... dá muita má satisfação né...má satisfação..” 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Preparo. Do lat. XIX. (CUNHA, 1986, p. 632) 26. ARADO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ( ) Trabaiava era cum boi, cum arado. Boi, essas coisa, né? Carro de boi, num tinha carro num tinha nada. (3; 18). E a roça de arado. Marrava o arado atráis dos boi. Cê num sabe que que é arado. Cê ainda num viu não. (4; 151). Riscão. É ó, rapidinho. Que mais que usava, era arado. (4; 161). Lugá/ naquê tempo quais que nem arado num tinha. Arado era de boi. Arado de boi ficava muito male arado. Num ficava bão, né? (14; 507). É, que anda junto, né? Pra dois bois, ou 4, e ali, e amarra uma correntinha, e vem no arado assim, e passa no arado, e o homem vai segurando no rabo do arado ali, tá? E dominando o arado, ele faz um risco. (36; 175, 176) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Arado. Derivase do Grego Aroein que quer dizer Arar. He um instrumento, que serve de romper a terra, e de desarraigar a má erva, e dispor o terreno para receber as ferramneteiras. Lavra com dois Boys no que se differença da charrua, que lavra com seis, ou oito. Consta de dois páos, hum pegado no fim do outro, & no primeyro vay a sega no meyo que corta a terra por cima, no mesmo vão duas Aivecas, & no fim deste páo vai o 96 ferro do arado, que tem bico, & rompe a terra por baixo.Os nomes dos páos, de que He composto, são Temão, Ouca, Chavilhão, Rabiça, Relhas, Meixilho, Teiró, Tempera Rabello, soles &c. 2. Morais: Arado. s.m. Instrumento de abrir os regos na terra, para se semeyar; consta de peças cujos nomes são sega, aivecas, temão, ouça, tempera, Rabello, solles, dental do arado. 3. Laudelino Freire: Arado. s.m. lat. aratrum. Maquina agrícola usada para lavras a terra. //3. lavoura, vida agrícola. 4. Aurélio: Arado .[Do lat. aratru, com dissimilação.] Substantivo masculino. 1.Instrumento para lavrar a terra. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Arado. Máquina agrícola usada para lavrar a terra. E a roça de arado. Marrava o arado atrais dos boi. Cê num sabe que que é arado.Cê ainda num viu não. (Ent. 4, linha 151) 2. Freitas (2012): Arado. Máquina agrícola usada para lavrar a terra. “A primera roça que eu prantei aqui foi ali do Oto lado foi levrado na enchada tinha que lavrá na enxada que num tinha arado... adubo...abudo foi de um certo tempo pra cá num tinha adubo que o povo estudo ai veio o adubo”(Ent. 05, linha 436) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Arado. Do latim aratio –onis// sm. ‘instrumento agrícola para lavrar a terra’ XVII. (CUNHA, 1986, p. 63) 27. ARGODÃO GANGA NCm [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Algodão o quê? INF.: Argodão ganga. PESQ.: Ganga? Não! Que que é o algodã ganga? INF.: Eu tinha aqui um punhado de semente de argodão ganga. Que ele é um remédio munto bão./ Eu tinha/ o argudão é ganguinha. (10; 380, 382, 383). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Algodão ganga. sf. Tecido forte, azul ou amarelo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Argodão ganga. Tecido forte,azul ou amarelo.PESQ.: Algodão o quê> INF.: Argodão ganga. PESQ.: Ganga? Não! Que que é o algodã ganga?INF.:Eu tinha aqui um punhado de semente de argodão ganga.Que ele é um remédio munto bão./Eu tinha/ o argudão é ganguinha.(Ent. 10, linhas 380, 382, 383) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda(2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Algodão. sm. ‘conjunto de fios alvos, macios e compridos, que envolvem as sementes do algodoeiro’/algodõ XIII, -dom XIII –dam XV etc. / Do ár. Hisp. al-qutun. (CUNHA, 1986, p. 31) Ganga1. sf. Espécie de tecido originário da India’ /canga XVI/Do chinês káng. (CUNHA, 1986, p. 377) 28. ARMAZÉM Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Eu também vou comprar um trem no armazém, eu tenho que anotar. (31; 271). ...num tinha armazém até aí... (31; 296). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1.Bluteau: Almazem, ou armazém. A casa em que se guardam armas, & instrumentos de guerra por mar, ou por terra. Armamentarium, is. Neut. Tit. Liv. Lib. 29. Cap. 22. Almazem de qualquer providão, e qualquer matérias em quantidade Apotheca, 2. Fem, Cit. Para exprimir a diversidade das coias, que em diferentes almazens se 97 gaurdão, se acrescentará à palavra lavra Apotheca o nome das coisas, que estão em um almazem. Em Ulpiano Horreum,ei, Neut. Quer dizer almazem de todo o gênero de mercancias. Allmazem em que se guardão matérias para a fabirca de navios. Navalia. Orum, Neut. Plur. Vitruv. Empregaram, neles seu Almazem. Barros i. Dec. Fol 65. Col 2. Para a navegação um abû-, dantissimo Armazem. Britto, Guerra, Brasilisca, 352. 2. Morais: Armazém. dizemos hoje. V. os significados em almazem. 3. Laudelino Freire: Armazém. Lugar onde se guardam mercadorias. 4. Aurélio: Armazém. 1-Depósito(de gêneros, munições, etc.2 Estabelecimento comercial, onde se vendem por junto e a retalho certas mercadorias. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Armazém. Estabelecimento onde se vendem produtos variados. • “Plantava uai... tinha muito repoio... a única coisa que a gente plantava de fora era o repoio ( ) e o alface... assim mesmo que a gente compra a semente né... é a semente... no mais era tudo de casa mesmo... num é igual hoje não... que tudo a gente pega no armazém... as verdura antigamente era mais... mió do que hoje...” (Entr. 2. linha 37) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Armazém. sm. ‘depósito de mercadorias, de munições etc.’ ‘estabelecimento de secos e molhados’ |almazen XIII| Do ar. al-máhzan. (CUNHA, 1986, p. 68) 29. AROERA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Cortava um gaio de aroera. E punha fogo nele. (5; 174). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Aroeira. V. Lénstisco. Léntisco he a nossa aroeira. Grisl. Desenganada. Medicina. p. 7. 2. Morais: Aroèira. s.f. V. Lentisco. Aroeira, no Brasil, arbusto de folhas aromáticas, que dá umas camarinhas vermelhas. & it. Uma arvore que dá madeira para obras, cujo miollo é mui rijo, e atura muito em esteyos enterrados no chão. 3. Laudelino Freire: Aroeira: s.f. Tupi ara + uera. Arvore da família das anacardeáceas, cuja madeira é própria para construções externas e cujas fôlhas, flores, frutos, casca e suco tem valor medicinal (Schinus molle, Lin.): “Há a crença de que quem dorme à sombra desta ou das demais espécies e variedades de aroeira, contrai tumores nas articulações e erupção da pele semelhante à escarlatina e ao sarampão” (Pio Correia). //Sinôn.: aroeira fôlha de salso, aroeira-salso, corneíba, pimenteira do perú, pimenteira bastarda. 4. Aurélio: Aroeira .[Do ár. ëarE, ‘lentisco’, + -eira, com aférese do d (que se teria confundido com o da prep. da).] Substantivo feminino. Bot. 1.Árvore ornamental, da família das anacardiáceas (Schinus molle), de madeira útil, cuja casca possui várias propriedades medicinais e cujos frutos, drupáceos, contêm matéria tintorial rosa; abaraíba, aguaraibá-guaçu, aroeira-do-amazonas, aroeira-folha-de-salso, corneíba, pimenteira-do-peru. 2.V. urundeúva. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Aroera. Árvore ornamental cuja madeira é própria para construções externas e cujas folhas,flores,frutos e casca possuem valor medicinal. Cortava um gaio de aroera. E punha fogo nele. (Ent. 5, linha 174) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda(2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Aroeira. sf. ‘planta ornamental da fam. Das anacardiáceas’ / daaroeyra XV, adaaroeyra XV/ Do ár. daru ‘lentisco’ +-eira; na forma atual houve aférese do da-, confundido com a preposição: daaroeira – da aroeira. (CUNHA, 1986, p. 68) 98 30. ARPENDRE Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Vendi, a última roda que eu tinha eu vendi, a ultima roda que eu tinha eu vendi, só que eu esqueci o nome do fazendeiro que comprô ela pra levá pra São Paulo, agora, com o que é que ocê vai usá ela? Tem argodão desfiado, pra pôr no arpendres. (27; 124). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Alprendre. s. m. pórtico fobre pilares, ou columnas diante da porta de algum edifício. § nas ciras, efp. de telheiro, ao qual fe recolhe o trigo quando chove. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Alpendre. s. m. Teto suspenso por pilastras ou colunas, formando saliência por cima da porta principal de um edifício, para abrigo do sol, da chuva,, ou simplesmente para ornato; talheiro, pórtico. 4. Aurélio: Alpendre. sm. 1. Cobertura saliente ger. à entrada de um prédio. 2.P. ext. Espaço coberto, reentrante e aberto, na fachada de umacasa. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Alpendre. sm. ‘pátio coberto, varanda’ | XVI. (CUNHA, 1986, p. 35) 31. ARQUERE ~ ALQUEIRE Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Próprio pra boiadero, e dispois acabô. Então esse tenente ele era dono de uma área grande de mais aqui, uns 10 mil arquere de terra, essas pessoa que tem terra demais, e aí esse tenente tinha fio ficou ...,né? (4; 180). G. N. tinha uma fazenda que eu aluguei, hoje ela é da usina, hoje ela chama Vera Cruz, a fazenda boa, 100 alqueires de terra. (17; 273). Comprei, é dos menino do R. B., ele, esse R. B. era dono dessa região aqui até na Babilônia, num pisava nas terra de ninguém, 1700 alqueires de terra que ele pussuiu, esse R. B., e aí repartiu com os fio, esse minino é, a parte que tocou pra ele, foi a que ele me vendeu... o meu pra vende, e acabei comprano, mas aí abandonei garimpo. (34; 47). 1730 alqueires de terra, ele chegou a possuir, de forma a ter aqui era deles, não tem nenhum mais. (34; 213). Agora esse rapaiz, o marido dessa, é alfaiate, nois mudou pra cá, e ele é muito inteligente, ele agora, e eu adoei 300 alqueires de terra pra ês, pros dois fios que eu tenho, 300 alqueires, chapadão e aqui, aqui é 200 hectares, e lá é, lá no chapadão é 155 hectare. (34; 247). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Alqueîre. Medida de todo o gênero de grãos . Medius, ij-Malfc. Cic. No livro 18.cap.16. Plinio diz “Modia no plurat. Id prafrant in jugera modia vicena, Meyo alqueire, semodius, ij. Malc. Coltan. Alqueire, & meyo, fefquimodius, ij. Malc. Cic. O que tem a medida de hum alqueire. 2. Morais: Alqueîre s. m. Medida de grãos: seis alqueires fazem um saco, e sessenta alqueires fazem um moyo. 3. Laudelino Freire: Alqueire. 1 Medida agrária de valor variável conforme as regiões. 2 Antiga medida de superfície, equivalente a 15.625 palmos quadrados. 4. Aurélio: Alqueire. 1 Antiga medida de capacidade (1/60 do moio). 2 Terreno que leva um alqueire de semeadura. 3 Medida de seis canadas (para azeite). 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 99 3. Miranda (2013): Arqueire. Medida antiga de grãos ou terras. • “...uns café antigo vai morren[d]o né... mas pra nossa despesa... teve ano que a gente panhô bastante café... panhamo mais de um arqueire de café...” (Entr. 9. linha 40) 4. Cordeiro (2013): Alquere. Ár. Medida de capacidade que antigamente era usada para mdedir grãos de cereais. Cada burro trazia dois alquere e mei de arroz. (Entrevista 12, linha 185) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Alqueire. sm. Medida de capacidade (16 litros), medida de área XIII. Do ar. Al-káil. (CUNHA, 1986, p. 35) 32. ARRAIÁ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Conta o negócio lá do arraiá do Gancho. (2; 202). Eles falavam arraiá, né? (35; 16) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Arraial. s.m. 6. Pequena aldeia. 4. Aurélio: Arraial. [De ar-2 + ant. reial, hoje real, ‘do rei’.] Substantivo masculino. 1. 5.Bras. Aldeola, lugarejo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Arraiá. Lat. Lugarejo, povoado. Conta o negócio lá do arraia do Gancho. (Ent. 2, linha 20) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Arraial. ‘lugarejo’/arayal XIV, arreal XIV, reaall XIV, rrayal XIV etc./ Provavelmente do adj. Real, no seu sentido específico de ‘acampamento do rei’. (CUNHA, 1986, p. 69) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 33. ARREBENTADÃO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Pois é, de moto, né? Eu vi ele outro dia, tá arrebentadão. (20; 14). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Arrebentado. Vid. Arrebentar. 2. Morais: Arrebentádo. P.pass. de Arrebentar. 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Arrebentado. Etimologia obscura. 1813. (CUNHA, 1986, p. 666) 100 34. ARREDAR [V] Ele era italiano, sem vergonha, e bateu um par de butina na boca dele, o sangue desceu, né? Acho que até arredô. (19; 224). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Arredar. Afastar, para dar lugar, para deixar o caminho livre. 2. Morais: Arredar. Afastar, por longe. 3. Laudelino Freire: Arredar. adj de arredar. Arredar: v. r. v. lat. hip. Adretare, de retro. Tirar do lugar, apartar de um sítio para o outro. 4. Aurélio: Arredar. Desviar de um lugar para outro. 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Arredar. vb. Afastar, separar XIII; redar XIII. (CUNHA, 1986, p. 70) 35. ARREGAÇADO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Trabalhava, nossa, hoje tem tudo arregaçado de coisa, sol que tomava demais, né? Aí gora tô fazeno tratamento disso. (28; 41). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Arregaçado. p. pass. De arregaçar.V. Regaçado. 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 36. ARRIBAÇÃO Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ No tempo da arribação, ês pulava... (16; 230). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Arribação. s. f, Ação de chegar ao sitio, para onde se vem. Aves de arribição; que vem d’outra terra em certas estações: e Peixes de arribação; os que acodem, deixando outro posto, trazidos por muralha, ou outra alguma causa. Homens de arribação; os que vão a terra estranha buscar vida. Coisas de arribação; i, é, de pouca valia, por haver abundancia delas, como sucede com o peixe arribado. 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Arribação. subs. fem. 1. Ato de arribar, arribada. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 101 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro(2013: n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Arribação: XVI Do lat. (CUNHA, 1986, p. 684) 37. ARUERÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E tem muitas árvore que dá em bera de pasto aí fora, aruerão, angico, aqui não tem. (32; 217) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Aroeira. V. Lénstisco. Léntisco he a nossa aroeira. Grisl. Desenganada. Medicina. p. 7. 2. Morais: Aroèira. s.f. V. Lentisco. Aroeira, no Brasil, arbusto de folhas aromáticas, que dá umas camarinhas vermelhas. & it. Uma arvore que dá madeira para obras, cujo miollo é mui rijo, e atura muito em esteyos enterrados no chão. 3. Laudelino Freire: Aroeira: s.f. Tupi ara + uera. Arvore da família das anacardeáceas, cuja madeira é própria para construções externas e cujas fôlhas, flores, frutos, casca e suco tem valor medicinal (Schinus molle, Lin.): “Há a crença de que quem dorme à sombra desta ou das demais espécies e variedades de aroeira, contrai tumores nas articulações e erupção da pele semelhante à escarlatina e ao sarampão” (Pio Correia). //Sinôn.: aroeira fôlha de salso, aroeira-salso, corneíba, pimenteira do perú, pimenteira bastarda. 4. Aurélio: Aroeira. [Do ár. ëarE, ‘lentisco’, + -eira, com aférese do d (que se teria confundido com o da prep. da).] Substantivo feminino. Bot. 1.Árvore ornamental, da família das anacardiáceas (Schinus molle), de madeira útil, cuja casca possui várias propriedades medicinais e cujos frutos, drupáceos, contêm matéria tintorial rosa; abaraíba, aguaraibá-guaçu, aroeira-do-amazonas, aroeira-folha-de-salso, corneíba, pimenteira-do-peru. 2.V. urundeúva. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Aruerão. Árvore ornamental cuja madeira é própria para construções externas e cujas folhas,flores,frutos e casca possuem valor medicinal. Cortava um gaio de aroera. E punha fogo nele. (Ent. 5, linha 174) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Aruerona. Árvore de madeira dura, cuja casca tem propriedade medicinal. As floresta bunita, viu? Tem cada aruerona, cada pauero. (Entrevista 12, linha 28) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Aroeira. sf. ‘planta ornamental da fam. Das anacardiáceas’ / daaroeyra XV, adaaroeyra XV/ Do ár. daru ‘lentisco’ +-eira; na forma atual houve aférese do da-, confundido com a preposição: daaroeira – da aroeira. (CUNHA, 1986, p. 68) 38. ÁRVE DE ÓLEO NCf [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Essa qualidade ( ) aquea árve de óleo devia dá um tanto de madera. ... Árve de óleo, árve de óleo. (1; 407, 408). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 102 1. Ribeiro (2010): Árve de óleo. Árvore típica da região sul de Minas Gerais cuja madeira de qualidade é muito usada para construção. Essa qualidade ( ) aquea árve de óleo devia dá um tanto de madera... Árve de óleo,árve de óleo.(Ent.1,linhas 407 e 415) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda(2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Árvore. sf. ‘vegetal lenhoso cujo caule, chamado tronco, só se ramifica bem acima do solo’ XIII. Do lat. arbor –oris. (CUNHA, 1986, p. 74) Óleo. sm. ‘nome comum a substâncias gordurosas, inflamáveis, de origem animal, vegetal ou mineral’/oyo XIII, olio XIV/ Do lat. oleum. (CUNHA. 1986, p. 559) 39. ASSISTENTE DE CRIANÇA NCf [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ah, era difíci. Era difíci e/ lá.../ Pa cumeçá quando nascia uma criança nem no hospital num vinha, né? Era tudo.../ incrusive minha avó era/ era assistente de criança. Quando ia nascê criança piquena, ela é/ meu avô até falava ‘ah, essas pessoa assim...’ (14; 11). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Assistente de criança. Parteira. Ah, era difícil. Era difícil e /lá.../Pa cumeçá quando nascia uma criança nem no hospital num vinha, né?Era tudo.../incrusive minha avó era/era assitente de criança.Quando ia nascê criança piquena,ela é/ meu avô até falava ‘ ah,essas pessoa assim...’ (Ent. 14, linha 11) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Assistente. XV, do lat. ad-systere. (CUNHA, 1986, p. 77) Criança. sf. ‘ser humano de puca idade, menino ou menina’ XIII, do lat. creatura. (CUNHA, 1986, p. 227) 40. ASSUAIO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ É, ela tinha 17 eu tinha 21, comecei a lavrá madera, puxá madera, montá a casinha, casinha com esteio, né? Fazê o assuaio, serra madera, fazê o assuaio, tudo de feito a mão, né? (19; 256). É tudo de pedra, só isso aqui que não, o resto é tudo de pedra, mas a casinha que nóis morô primero, é luga que é assuaio... (19; 261). E, mas se quise trazê uma pedra que dá o tamanho de um assuaio de um caminhão, num é dificir. (19; 331). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Assoalho. s. m. De a + soalho. Soalho, pavimento, piso, sôlho, sobrado. 4. Aurélio: Assoalho. sm. Soalho. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 103 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Assoalho. 1899 do Lat. (CUNHA, 1986, p. 733) 41. ATAIAR [V] __________________________________________________________________________________________ Não compensa, ataiá, mas, pra quem conhece a estrada de chão deve ser boa... (31; 241). ...já num passa no Piumhi, ataia mais... (31; 249). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Atalhar. v. abortar, intcrromper, baraçar, fechar, .impedir. 2. Morais: Atalhar. v. abortar, intcrromper, baraçar, fechar, .impedir. 3. Laudelino Freire: Atalhar. v.r.v. De a + talho + ar. 4. Cortar o passo de, embaraçar o caminho. 4. Aurélio: Atalhar. v. t. d. 1. 2. Encurtar caminho, seguindo por atalho. 5. Amadeu Amaral: Ataiá(r). atalhar, v. t. - fazer uma cavidade (por dentro da cangalha, em lugar correspondente a uma pisadura no animal): "Ao pouso arribava à boquinha da noite, feita a descarga... afofadas e atalhadas as cangalhas pisadoras..." (C. Ram.) __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Atalhar. vb. XIV. (CUNHA, 1986, p. 751) 42. ATIVO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Não, ês é ativo. Essa raça de cachorro, ês é isperto. (1; 154). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Ativo ou activo: adj. Lat. activus. 4. Diligente, laborioso, expedito. 4. Aurélio: Ativo. [Do lat. activu.] Adjetivo 3.Que se caracteriza principalmente pela ação, pelo movimento, pela diligência; vivo, ágil, enérgico, rápido (em oposição a lento, lerdo): Insistiu para que no futuro fosse mais ativo, mais interessado nas tarefas a seu cargo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Ativo. Vivo, ágil, energético, rápido. Não, ês é ativo. Essa raça de cachorro, ês é inesperado. (Ent.1, linha 154) 2. Freitas (2012): Ativo. Característica do que é esperto, inteligente. “ No pasto que nós passava tinha um boi um garrote danado que pôs eu em riba do pau uma vez mais (R...) aí os menino que ês era mais ativo né... aí menina o menino vinha atrás de mim” (Ent. 03, linha 142) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Ativo. adj. ´vivo, ágil’ II activo XVI, autiuo XV I Do lat. Activus. (CUNHA, 1986, p. 81) 104 43. ATRELADO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ É. A junta de guia são dois boi. Que ês é atrelado dois, né? (14; 338). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Atréllado. p. pass. De Atrellar. Palm. P. 4. F. 28. “as feras atrelladas”. 3. Laudelino Freire: Atrelado. adj. P. p. de atrelar. 2. Metido no varais do carro (falando-se de animais) 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Atrelado. Amarelo junto a. É. A junta de guia são dois boi. Que ês é atrelado dois, né? (Ent.14, linha 338) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Atrelado. Do lat. *tragella, dim. de tragula./-lla XVI. (CUNHA, 1986, p. 786) 44. AZEITE DE MAMONA NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Ahn? E aí fazia o que com a candeia? INF. 1: Punha azeite/ azeite de mamona. ... Azeite de mamona....(9; 205, 209). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral:n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Azeite de mamona. Óleo produzido a partir das sementes da planta conhecida como mamona. PESQ.:Ahn? E aí fazia o que com a candeia? INF. 1: Punha azeite/azeite de mamona... Azeite de mamona... (Ent. 9, linhas 205 e 209). 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e _____________________________________________________________________________________ Origem: Azeite. sm. ‘óleo de azeitona’ XIII. Do ár. azáit. (CUNHA, 1986, p. 88) Mamona2. sf. ‘planta planta da fam. Das euforbiáceas, o fruto dessa planta’ 1813. Do quimbundo mu’mono, com inerferência de mamão, provavelmente. (CUNHA, 1986, p. 493) B 45. BACADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Vinha sentado dento do carro. ( ) dava muita bacada. (5; 245). Parece que de carro é perto, mas pa i rodano de carro de boi, dano bacada porque num tinha istrada. (11; 48). 105 __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Bacada . [De baque + -ada1.] Substantivo feminino. 1.Bras. S. Baque produzido em veículo por acidente de terreno. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bacada. Baque produzido em veículo por acidente de terreno.Parece que de carro é perto,mas pá í Ródano de carro de boi,damo bacada porque num tinha istrada. (Ent 11,linha 48) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Bacada. De baque. De origem onomatopaica. (CUNHA, 1986, p. 97) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 46. BACIADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Levava aquelas baciada de cumida, levava os prato... (5; 67). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Baciáda. s.f. O liquido, que se contém n’uma bacia. 3. Laudelino Freire: Baciada. s.f. De bacia + ada. Porção de liquido que enche ou quasi enche uma bacia; conteúdo de uma bacia. 4. Aurélio: Baciada .[De bacio ou bacia + -ada1.] Substantivo feminino. 1.O conteúdo que enche ou quase enche um bacio ou bacia. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Baciada. Conteúdo que enche ou quase enche uma bacia. Levava aquelas baciada de cumida,levava os prato.. .(Ent.5, linha 67). 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Bacia. Bacio. sm. ‘bacia’ | XIII, bacino XIV| Do lat. *baccinum. (CUNHA, 1986, p. 91) 47. BADERNA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...virava aquela baderna... (30; 196). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Baderna. 3 Conflito, desordem, briga. 4. Aurélio: Baderna. 1 Arrebém delgado para fixar os colhedores ao apertar da enxárcia. 2 Coisa velha ou muito usada. 3 Pessoa que, pela idade avançada ou por falta de saúde, é considerada inútil. 4 Situação de grande confusão ou desordem. 5 Alteração entre várias pessoas. 6 Festa ou divertimento, geralmente noturnos e muito animados. 5. Amadeu Amaral: Baderna. Conflito; desordem; briga; rolo. __________________________________________________________________________________________ 106 Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda(2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Baderna. sf. Desordem, confusão’ XX. De baderna, nome de uma dançarina italiana que passou pelo Rio de Janeiro em 1851. Do it. Baderna, de origem obscura. (CUNHA, 1986, p. 92) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Sugerimos brasileirismo. 48. BADULAQUERA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Ela faz biscoito de pau-a-pique? INF. 2: É, bolo. Essa badulaquera... (1; 104). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Badulaquera. Uma porção de ojetos ou coisas diversas. É bolo. Essa badulaqueira... (Ent., linha 104) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Badulaque. sm. ‘berloque’ XVII. De origem obscura; no sentido de ‘berloque’ talvez do cast. badulaque. (CUNHA, 1986, p. 92) 49. BAGAÇO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ O açuca faiz do ponto do melado. Dexa posa no cocho. Dexa ele ( ) lá. Dipois tem uma forma assim ó. Que aqui no fundo da forma tem uns buraco. Aí forra de bagaço e põe melado ali. Aquê melado espaiado e põe mais bagaço em cima e põe um barro bem limpinho por cima. Aí aquele barro vai passano e vai lavano aquê melado e o melado preto sai tudo embaxo. E fica aquele açúca crarinho. (11; 236, 238) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Bagaço. Bagâço. As pelles, cascas, folhelhos, & bagulho, que ficaõ no lagar despois das uvas espremidas. 2. Morais: Bagaço. s.m. A pelle, cascas, folhelhos e outros sobejos de frutas, e canas de assucar, azeitona, cujo succo se extrahio. 3. Laudelino Freire: Bagaço. s.m. De baga + aço. Parte fibrosa da cana de açúcar depois de prensada.// 2. Resíduo de frutos, de ervas ou de qualquer outra substância que foi espremida para lhe tirar o suco. 4. Aurélio: Bagaço .[De baga + -aço.] Substantivo masculino. 1.Resíduo de frutos ou de outras substâncias depois de extraído o suco; engaço. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bagaço. Resíduo de frutos depois de extraído o suco. Aí forra de bagaço e põe melado ali. Aquê melado espaiado e põe mais bagaço em cima e põe um barro bem limpinho por cima (Ent.11, linha 236) 2. Freitas (2012): Bagaço. Resíduo de frutos e folhas depois de extraído o sumo. “Ali cê pó fazê uma carrera de cana dessa artura aqui que o trem remói tudo... cê pegava lá fazia a vorta passava o bagaço assim” (Ent.11, linha185) 107 3. Miranda(2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Bagaço. Do lat. bãca // Século XIV. (CUNHA, 1986, p. 92) 50. BAIETA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Tava lá na rede. A gente foi criado na rede cum baieta. A gente foi imbruiado cum baieta. (10; 191). Baieta é uma coisa que vem da Bahia. Um tecido que vem... que vem da Bahia. (10; 193). É que nem assim/ esse tecido aqui... vermeinho/ a baieta. (10; 197). Baieta/ a palavra é vermeia. (10; 199). É a palavra é vermeio/ baieta.(10; 201). Se ocê ficá neivosa, ficá vermeia... Cê tá feito uma baieta. (10; 203). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Baeta. Baêta. Pano de laã, a que ou com o uso, ou com instrumentos se levanta o pelo. Há de muitas castas. Baeta, a que chamaõ Castelete, que he de cincoenta, & quatro fios. 2. Morais:Baèta. s.f. (ou antes bayèta) Tecido de lã, grosseiro, felpudo. (Ital. baietta; a frisa, ou avesso dos panos de lã) 3. Laudelino Freire: Baeta. s.f. Lat. Baetica, n. p. Tecido felpudo e grosseiro de lã. 4. Aurélio: Baeta. (ê) [Do ant. picardo bayette.] Substantivo feminino. 1.Tecido felpudo de lã. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Baieta. Tecido macio de lã. A gente foi criado na rede cum baieta. A gente foi imbruiado cum baieta.(Ent. 10, linha 191) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Baeta. sf. ‘tecido felpudo de lã’ XVI Do ant. picardo bayette, deriv. Do lat. badius ‘baio’ (primitivamente, este pano era da cor castanha). (CUNHA, 1986, p. 92) 51. BAITA Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ ...falta muito pouco pra ser um baita plano... (29; 189). ...vira um baita plano de saúde. (29; 197). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Baita. 1 Muito grande. 2 forte, intenso. 3 famoso. 4 destemido. 5 Bom, bonito. 6 Apetitoso, suculento. 4. Aurélio: Baita. 1 Que é muito grande. 2 Que está bem desenvolvido. 3 Que tem boa aparência ou boa qualidade. 4 Que tem bravura, coragem. 5 Que é muito conhecido. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 108 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 52. BALAIO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Carguero é/ ês arruma dois jacá assim feito de taquara. PESQ.: O quê? INF.: Jacá, balaio.”(14; 171). É esses balaio de taquara. Cê cunhece esses balaio, né? (14; 173). Intão, uns fala balaio e otos fala jacá. Intão ê punha duas arça neles e tinha aquês arreio/ duas arça em cada um e cada um, um gancho assim. Intão punha ês assim ó... (14; 175). Usava tocinho e punha ali. Quando num era no balaio, ota hora no caxote. (14; 240). E nóis tinha que cortá, abri, ficava no balaio certinho assim. Aí cardava, a mamãe cardava/ as muié fiava. Eas fazia murtirão de fiado, eu lembro. Cada uma lá vai ca sua rodinha na cacunda. Aí fazia esse fiado, ticia e fazia gasaio de frio. (13; 540). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Balayo. He a modo de cestinho de vimes pintados, mas tem tapador. 2. Morais: Baláio. s.m. Especie de cesta de palhinha, de que usão as saloyas; outros há que vem do Brasil, matizados de cores, de palha, mais Gross, para vários usos. Leão, Orig. 6.5.”alquicé, filele, balaio.” 3. Laudelino Freire:Balaio. s.m. Cêsto de palha, taquara, cipó ou bambu, com tampa e semelhante na forma a um alguidar, para transportar ou guardar objetos miúdos. 4. Aurélio:Balaio1. [Do fr. balai, poss.] Substantivo masculino. 1.Cesto de palha, de talas de palmeira, ou de cipó, com tampa ou sem ela, geralmente com o formato de alguidar; patuá 5. Amadeu Amaral: Balaio1 s. m. - espécie de cesto de taquara, sem tampo, destinado a depósito ou condução de variadíssimos objetos, mas principalmente usado pelas mulheres para guardar apetrechos da costura. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Balaio. Tipo de cesto de palha. É esses balaio de taquara. Cê cunhece esses balaio,né? (Ent. 14,linha 173) 2. Freitas (2012): Balai ~ Balaim. Tipo de cesto de palha. • “Os trem tava tudo dent’ do balai pegava punha no carguero e ia lá vai mamãe com menino inrolado as vez menino novo. (Ent.06, linha 391). • “Eu buscava mãidioca lá no balaim pá podê fazê farinha a meia c’ ê...esse dia eu tava cum esse balaim...aí..eu...na hora que já tinha a quantidade dele pegá... “isso aí...essa aí pra quê que é?”...falei “é pa mim levá la pa casa uai eu tamém mexo””. (Ent.01, linhas 108 e 109) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Balaio. sm. ‘tipo de cesto de palha’/ -layo XVI/ Do fr. Balai, de origem gaulesa. (CUNHA, 1986, p. 93) 53. BAMBU ~ BAMBULE Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...Ela pode sê feita cum bambu tamém ( ) o bambu faiz a istera tamém mais naquele tempo ês fazia mais só de taquara porque taquara era o que tinha muito. Agora hoje ês faiz só de bambu porque memo taquara quase não existe mais. (14; 434, 436, 437). Os pau-a-pique é uns bambule assim. ...Aí punha ( ) embaxo, punha os caibro em cima e trançava de bambu. E aí, massava barro e jogava e ia jogano ( ) fazia parede de casa de pau-a-pique. (5; 45 e 51). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Bambu. Vergel. de Plantas, & c. p. 202. 109 2. Morais:Bambu. s.m. Especie de cana mui alta, e grossa, a que no Brasil chamaõ taquaruçu; os gomos desta cana servem para vasos d’água, e esistem assás ao fogo, para nelles se guizar a comida: há machos, e fêmeas. Cron. J. III. P. 4. c. 84. Luc. 888. “A poder d’açoures dos Bambús. 3. Laudelino Freire: Bambú. s.m. Planta da família das gramináceas, cujos colmos e folhas tem numerosas aplicações na indústria. 4. Aurélio: Bambu. [Do malaio.] Substantivo masculino. 1.Bot. Gramínea bambusácea que se caracteriza pela altura excepcional do colmo, em algumas espécies; é vastamente distribuída pelas zonas tropicais e subtropicais de ambos os hemisférios [v. bambusa (2)]. 2.Bot. Qualquer espécime do gênero bambusa (q. v.). [Sin. (bras.), nesta acepç.: bambueira.] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bambu. Planta da família das gramináceas,cujos colmos e folhas tem numerosas aplicações no dia a dia das pessoas. ...Ela pode sê feita cum bambu tamém ( ) o bambu faiz a istera tamém mais naquele tempo ês fazia mais só de taquara porque taquara era o que tinha muito. Agora hoje ês faiz só de bambu porque memo taquara quase não existe mais” (Ent. 14, linhas 434,436 e 437) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Bambu. sm. ‘graminea caracterizada pelo colmo que atinge muitos metros de altura’ / XVII, mambu XVI/ De origem malaia, mas de étimo mal determinado, talvez oriundo de um idioma neo-árico; cf. marata bambu. (CUNHA, 1986, p. 95) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 54. BANDA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Cinco de cada banda, né? (4; 217). A pessoa chega na porta e oia aquilo lá já é uma sombração. Porque o pé do difunto fica anssim pa banda da porta ó. O nariz fica anssim debaxo do lençole. Ah, gente mais é feio difunto lá na roça. Mais é muito feio. Só de chegá na porta representa que é uma sombração. ( 4; 22). É. Diz que ê tava trabaiano, decerto ê num guentô ficá dento de casa. Aí diz que pegô ê pa banda do Itaú. Na MG memo aqui. Em Itaú.(13; 210). ...eles ficaram lá numa banda... (31; 127) ... nesse chapadão tudo fazenda aí toda banda, e levava pra ali, e fazia uma... e batia aquilo e mandava, o caminhão vinha buscar. (32; 295) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Banda. Parte, ou lugar. De huma, & outra banda. Utrinque. Ex. utraque parte. Da outra banda, defronte. Ex adversa parte. A prya da banda de alem. Ulterior ripa. A prai da bãda de aque. Ripa citerior. Vid. Parte. Vindo á banda, diz Francisco de Sá de aquelle, que claramente se mostra inclinado para alguma coisa. 2. Morais: Bánda. s.f. Lado: v.g. desta banda, d’aquela. (Ital. banda) 3. Laudelino Freire: Banda. s.f. B. lat. Banda, do gót. Parte lateral; lado. 4. Aurélio: Banda . [Poss. do provenç. banda, ‘lado’, < gót. bandwa, ‘estandarte’.] Substantivo feminino. 1. Parte lateral; lado: Caminhava pela banda da estrada. 2.V. lado (7): Foi excluído da chapa do partido porque passou para a banda dos dissidentes. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Banda. Lado, parte lateral. A pessoa chegava na porta e oia aquilo lá já é uma sombração.Porque o pé do difunto fica anssim pá banda da porta ó. O nariz fica anssim debaxo do lençole. Ah, gente mais é feio difunto lá na roça.Mais é muito feio. Só de chegá na porta representa que é uma sombração. (Ent. 4, linha 22) 110 2. Freitas (2012): Banda. O mesmo que lugar. “A hora que ocês passo pra cá tem um barzim assim de uma banda né? (Ent. 05, linha57). “ Falei” “ a só pode ta atrás da cabeça daquele toco ali ó num ta em banda ninhuma” o trem ta gemeno”. (Entr. 04, linha 369) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Banda. Parte lateral; um dos lados “... a gente chegava lá achada aqueles cabelão da banda de fora da carneira...” (4; 310) __________________________________________________________________________________________ Origem: Banda1. sf. ‘lado (de navio), parte, margem’/ bamda XV. Origem controvertida. (CUNHA, 1986, p. 96) 55. BANGUÊ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Mais tinha lá fazia muito isso. Marrava o pau em cima do difunto. PESQ.: Tadinho do difunto. E como chamava esse pau? Tinha um nome? INF. 2: Banguê. PESQ.: Ah, falava banguê. INF. 2: Marrava num banguê. Aqui era o difunto, punha o pau em cima. (4; 54 e 56). PESQ.: Trazia no quê? Cavalo. INF. 2: No banguê. (5; 104). Agora, quando é morto ês fala no banguê, né?... Banguê. Era uma vara cumprida assim que trançava de cordae punha a pessoa assim.(5; 111, 113 ). INF. 1: Uai, trazia na cacunda, no banguê. PESQ.: Ê, o famoso banguê, né? INF. 1: Banguê. (9; 150, 152). Intão tinha uns que era muito pobre/ intão pegava e arrumava banguê, né? Banguê/ ês arrumava um negócio assim de tábua cum quatro/ tipo de uma prancheta dessa aqui. Tipo de maca dessa de hoje. (14; 114). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Bangué. s.m. 4. Padiola de conduzir cadáveres; esquife. 4. Aurélio: Banguê.[De or. afr.] Substantivo masculino. 1.Bras. Padiola em que se conduziam cadáveres de pretos escravos. 5. Amadeu Amaral: Bangur, Bangúê s. m. - liteira com teto e cortinados, levada por muares, que antigamente se usava. Este t. tem muitas significações pelo resto do Brasil, como se pode ver em Macedo Soares e outros vocabularistas. Origem controvertida. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Banguê. Cama de Lana em que se conduziam cadáveres. Intão tinha uns que era muito pobre/intão pegava e arrumava bangüê, né? Banguê/ ês arrumava um negócio assim assim de tábua cum quatro/ tipo de uma prancheta dessa aqui. Tipo de maca dessa de hoje. (Ent. 14, linha 114) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Banguê. Espécie de cama de varas usada para conduzir cadáveres. . Punha num banguê. Fazia uma cama de bambu e punha ele. (Entrevista 3, linha 670) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Banguê. sm. ‘padiola’ XX. De origem africana, mas de étimo indeterminado; talvez do quimb. ma’ne. (CUNHA, 1986, p. 97) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 56. BARGANHA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Nos trocávamos, a gente usava muita barganha... (16; 526). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 111 3. Laudelino Freire: Barganha. s. f. De barganhar. Troca, permutação de coisa de pouco valor. ||2. Transação cavilosa, trapaça. 4. Aurélio: Barganha. subst.. fem. Ação de negociar uma troca. 5. Amadeu Amaral: Breganha, barganha. s. f. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Barganhar . vb. ‘trocar, negociar’ ‘vender com fraude’ 1813. Do. a. fr. bargaignier, hoje barguigner, ou do it. bargagnare || barganha 1813. Deverbal de barganhar. (CUNHA, 1986, p. 99) 57. BARRANCADOS Nm [ADJpl] __________________________________________________________________________________________ Não era a mesma casa, pra baixo tinha os barrancados, sabe? (30; 167). ...então tinha o lugar deles jogar aquilo lá nos barrancados... (30; 181). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Barranco: De origem pré-romana. sm. ‘escavação’. (CUNHA, 1986, p. 100) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Com acréscimo do sufixo –ado, os dicionários não registram, sugerimos brasileirismo. 58. BARRELEIRO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Mas aqui pode fazer de cinza, pega tudo na padaria, e faz banho, banha eles numa lata velha e vai pondo a água... barreleiro. (17; 31). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Barreleiro. He aquella cinza, que fe ajunta na barrella depois de escaldada, a qual cinza se une, & fica como em pão: lançada ao pé das figueiras, as fertiliza; parece.que so para isto serve, linux cinis. 2. Morais: Barreleiro. s.m. A cinza de que se tirou a decoada para barréla. 2.Pano em que se retira a decoada. 3. Laudelino Freire: Barreleiro. s.m. Mulher que faz barrelas. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Barrilero. Mesa cercada por um sulco ou rego, por onde escorre o soro de coalhada prensada. “Mói a cana ali... tem um processo... leva ela pra tacha... ferve... faz um barrilero com coisa que é pra fazê sabão e põe o óleo de coada... tem umas...” (Entr. 6. linha 414) 112 4. Cordeiro (2013): Barrilero. Espécie de cesto usado para armazenar a cinza no processo de fabricação de sabão. . Dicuada cê faz o barrilero e de taquara. Ele é assim. Tipo de um funil. (Entrevista 3, linha 572) 5.Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Sugerimos brasileirismo 59. BARRER [V] __________________________________________________________________________________________ Ontem, ele teve aqui pirguntano se nóis queria barrê. (1; 36). Aí se o T. foi lá pedi pa panhá/ pa barrê é, aí tem os dono da ferramenta, é o dono da terra que tem que dá. (1; 47). Uai, quando a N. tá trabaiano, eu faço/ barro casa/ arranjo... (12; 87). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Barrer. “(Com os mais.)Vid. Varrer. O author da Ortographia Portugueza, nas suas advertencias, impressas no fim do seu livro, dez, que se há de escrever Varrer & não Barrer.” 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Barrer. “v. r. v. Ant. e pop. O mesmo que varrer.” 4. Aurélio: Barrer. “V. t. d. V. t d. e i.V. int. Ant. Pop. 1. Varrer.” 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Barrer. Ato ou efeito de tirar lixo usando a vassoura.Ontem, ele teve aqui pirguntano se nóis queria barre. (Ent. 1, linha 36) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Barrer. Limpar com vassooura.Variante de varrer (varrer > barrer-caso de bilabialização). “...lavo uma roupa lavo um prato barro casa... barro terreiro...”(46;09) __________________________________________________________________________________________ Origem: Varrer. vb. ‘limpar (com vassoura) XIII. Do lat. verrere. (CUNHA, 1986, p. 812) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Retenção Linguística 60. BASSORA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Eu ando cum cabo de bassora eu vô lá ( ). PESQ.: Aí a sinhora apóia no cabo? INF. 1: Eu firmo no cabo da bassora e venho pra riba. (15; 363,365) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau:Bassoura. Vid. Vassoura. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Bassoura. Substantivo feminino. 1. Ant. Pop. V. vassoura. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bassora. Utensílio feito de ramos de piaçava,pelos, etc., usado, sobretudo,para varrer o lixo do chão. INF.1.Eu ando cum cabo de bassora eu vô lá ( ). PESQ.:Aí a sinhora apóia no cabo? INF. 1: Eu firmo no cabo da bassora e veno pra riba. (Ent. 15,linhas 363 e 365) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e 113 __________________________________________________________________________________________ Origem: Vassoura. sf. ‘objeto feito de ramos de giestaq, piaçaba etc., usado principalmente para varrer’ 1813. Do lat. *versoria, de versus, part. de verrere. (CUNHA, 1986, p. 812) 61. BATEIA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ah, bateia, famosa bateia. (27; 176). Pra mim i[r] na casa do meu fio eu passo na Bateia. (27; 180). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Batêa: Termo de Mineiro.No rio de Janeiro,e uma gamela de pão,feito piramdie redondo, na qual cavam a terra, que tem ouro, para que pó fundo fique o metal limpo. 2. Morais: Batea: s.f. Vaso como alguidar de madeira,com fundo afunilado,ou cônico;serve para a lavagem do ouro,que fica no fundo,quando se lava a terra mineral,com que a piscas,e folhetas estão misturadas. 3. Laudelino Freire: Batea. s.f. Vaso como o alguidar, de madeira, com o fundo afunilado ou cônico o qual serve para lavagem das areias auríferas ou cascalho diamantífero. 4. Aurélio: Bateia. Subs. fem. Gamela usada na lavagem das areias auríferas ou do cascalho diamantífero. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Bateia. Utensílio utilizado para garimpar ouro. “Este rio Guanhães... este rio Guanhães.. diz que ele é muito... que sempre vinha.. como fala... na vista de fora... pra tirá o oro... oro em pó... um oro bonito... é uai... tem uma gamela que chama bateia né... sei se CE conhece...” 4. Cordeiro (2013): Bateia. Vasilha de madeira usada para garimpar ouro e pedras preciosas. É. Às veiz tirava oro tamém, né? Que à vez tava lavano ques pipitona de ouro caía na bateia, a gente pegava elas. (Entrevista 3, linha 377) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Bateia. sf. `gamela de madeira usada no garimpo`XVIII.Provavelmente do cast. Batea, de origem incerta,talvez deriv. do ar.bâtiya `gamela`// Bateada 1813// bateador XX//batear/1711, -tiar 1736 (CUNHA, 1986, p. 101) 62. BAXADA ~ BAIXADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ De madrugada quando vem de trem vem morrendo galinha, ali perto da Barra Nova, tinha uns pretos, eles pegou as galinha morta e deu preles, morava o Z. A. lá, o Z. A. de armoço pra ele, ajudo ele, numa baxadinha perto da barra nova ai, uma baxadinha tinha uma grama ali, perto do córgo... (16; 567). É, mas é mais pra baixo, na baxada assim, naquela era meu sítio lá, ê, mas eu trabaiei com argodão, mas daí depois fui parano com argodão, e fui pra máquina custura, né? Dispois já fui custurá, e aí no Glória tinha fama da muiezada que ticia aquelas coxa bonita mesmo, eu fui lá no Glória pra aprender, e tici. (27; 18). ...quando numa baixada assim... (30; 54) É, porque tem muito ataio, aqui pra ir no Capitólio também, se não quiser passar no Piumhi, lá naquea venda que tem cá num baxadão, tem uma venda lá, pra cá de Piumhi, de lá pra cá tem a esquerda, de cá pra lá, ali já entra numa estrada, já vai berano a serra, vai saí lá dentro de Capitólio. (31; 245). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Baixada. 1 descida. 2 terreno baixo de solo úmido ou pantanoso, entre serras mais ou menos elevadas. 3 depressão de terreno junto duma bomba. 4 planície entre montanhas. 4. Aurélio: Baixada. 1 Descida, ladeira. 2 Cabo que liga a instalação do consumidor a uma rede de distribuição de eletricidade. 114 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Baixada: do adj. Baixo. ‘pouco elevado’ ‘ a parte inferior’ XIII. Do lat. Bassus (do séc. VIII) (CUNHA, 1986, p. 92) 63. BAXOTINHO Nm [ADJsing] A. era o marido da I. minha cunhada. Ela era artona, gorda. E acontece que ês é memo lugá de gente baxotinho. (13; 255). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Baixote. adj. De baixo + ote. Algum tanto baixo (diz-se dum homem baixo e reforçado de estatura). 4. Aurélio:Baixote .[De baixo + -ote1.] Adjetivo.Substantivo masculino. 1.Diz-se de, ou indivíduo um tanto baixo: “Era um negro baixote e ventrudo” (Silva Guimarães, Os Borrachos, p. 5).[Fem.: baixota.] 5.. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Baxotinho. Indíviduo um tanto baixo. A era o marido da I. minha cunhada. Ela era artona,gorda.E acontece que ês é memo lugá de gente baxotinho. (Ent. 13, linha 255) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013):n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Baixo. adj. sm. ‘pouco elevado’ XIII. Do lat. bassus (do séc. VIII). (CUNHA, 1986, p. 93) 64. BERADERA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Tem dia que eu bebo mais, principalmente quando o tempo tá frio, aí eu sou mais beradera de garrafa de café. Aí eu bebo aquea garrafinha. (1; 269). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Beradera. Aquela que beira algo ou alguém. Tem dia que eu bebo mais,principalmente quando o tempo tá frio, aí eu sou mais beradera de garrafa de café. Aí eu bebo aquea garrafinha. (Ent. 1, linha 269) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ 115 Origem: n/e 65. BERA DOS CÓRGO [Loc Adv] __________________________________________________________________________________________ ...nóis posava nas bera dos córgo... (32; 309) ...porque a gente, eu sô acustumado na bera dos corgo... (32; 323) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Beira: sf. ‘borda, margem orla’ XV. De origem incerta, talvez redução de ribeira que, por etimologia popular, teria sido interpretada como rio + beira (beira do rio) ou, talvez, como re + beira. (CUNHA, 1986, p. 104). Córrego. sm. ‘riacho’ XVI. Do lat. *corrugus. (CUNHA, 1986, p. 219) 66. BERNO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Esses dia eu falei po L.: “essa cachorrinha tá com berno, carrapato aí.” Ê falô: ‘mãe, isso não é carrapato não, isso é berruga’. (1; 113) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Berne. s.m. Larva do inseto chamado berro, que se introduzsob o pêlo do gado e das gentes, produzindo bicheira. (Dermatobia cyaneiventris) 4. Aurélio: Berne .Substantivo masculino. 1.Zool. Larva de mosca díptera estrídea, a qual põe ovos em pleno vôo, em dípteros hematófagos. [Os ovos, depois de maduros, transformam-se em larvas, que abandonam os dípteros e penetram na pele de outros animais, onde permanecem até 45 dias; penetram, depois, no solo, onde permanecem em estado de pupa até 70 dias, após os quais nasce a mosca. Var.: berno; sin.: ura, torcel.] 5. Amadeu Amaral: Bérne. s.m. – larva de mosca “Dermatobia cyanciventris”, “Oestridae”, que se desenvolve na pele dos animais e às vezes mesmo na do homem, principalmente na cabeça. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Berno. Larva da mosca-do-berno. Esses dia eu falei pó L.: “essa cachorrinha ta com berno,carrapato aí. “Ê falô: ‘ mãe, isso não é carrapato não, isso é berruga’. (Ent.1,linha 113) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Berne. sm. ‘larva de inseto díptero, da fam. Dos oestrídeos’ 1899. De origem incerta, talvez corruptela de verme II berniCIDA XX. (CUNHA, 1986, p. 107 ) 116 67. BERRA BOI NCm [V + Ssing] __________________________________________________________________________________________ É, matraca, era berra boi, né? (30; 19). Berra boi era um, eles fazia um negócio que matava boi, e marrava uma corda e batia aquilo no tanque... (30; 21). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Berra: De provável origem onomatopaica. Soltar berro, gritar, falar muito alto. (CUNHA, 1986, p. 107) Boi: Do latim.bõvem. Mamífero artiodáctilo, ruminante, da fam. Dos bovídeos. (CUNHA, 1986, p.115) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Sugerimos Brasileirismo 68. BERREIRA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Os daqui que é pior, faz berreira, joga lixo na rua... (31; 325) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Berreiro. Gritaria. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Berreiro. 1844. De provável origem onomatopaica. (CUNHA, 1986, p. 107) 69. BERRUGA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Óia aqui onde saiu uma berruga no cachorro. Óia lá! INF. 2: Esses dia eu falei pro L.: “essa cachorrinha tá com berno, carrapato aí.” Ê falô: “Mãe, isso não é carrapato não, isso é berruga. INF. 1:É berruga. INF. 2: É berruga.” (1; linha 112, 114, 115, 116 ). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Berruga. Substantivo feminino. 1.Bras. Pop. V. verruga. 117 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Berruga. Lesão cutânea devido a vírus.INF.1: Óia aqui onde saiu berruga no cachorro. Óia lá! INF.2: Esses dia eu falei pro L.: “ essa cachorrinha tá com berno,carrapato aí.” Ê falô: “ Mãe, isso não é carrapato não, isso é berruga.” INF. 1:è berruga. INF.2: É berruga. (Ent.1, linha 112,114,115 e 116) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013):n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Verruga. sf. ‘pequena saliência consistente, na pele’/XV, be- XIV. Do lat. verruca. (CUNHA, 1986, p. 817). __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 70. BERTUEJA ~ BERTOEJA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Também tinha bertoeja. INF. 2: Isso memo. PESQ.: Bertueja? INF. 1: Ah, agora é bertueja. Eu não sei o que é bertueja. PESQ.: Bertueja, eu acho que é o que eles chamam de brotoeja. Eu acho. INF. 1: () PESQ.: Brotoeja é tipo uma coceira né? INF. 1: É uma coceira, mas dá em neném tamém. PESQ.: É? INF. 1: E ês fala que num pode batizá a criança caquilo, né? INF. 2: É. INF. 1: Bertueja batizada nunca sara. (1; 528, 531, 539) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Bertoeja. Bortoeja. Efervescencia do sangue na superfície da carne, com comichão. 2. Morais: Bertoéja. V. Brotoeja. 3. Laudelino Freire: Bertoeja. s.f. O mesmo que brotoeja: “avermelhavam como irrupção de bertoeja” (Camilo) 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bertueja. Erupção cutânea, com prurido. INF.1: Também tinha bertoeja. INF.2:Isso memo. PESQ.: Bertueja? INF.1: Ah, agora é bertueja.Eu não sei o que é bertueja. PESQ.:Bertueja eu acho que é o que eles chamam de brotoeja.Eu acho.INF.1 ( )PESQ.: Brotoeja é tipo uma coceira né? INF. 1: è uma coceira,mas dá em neném tamém.PESQ.:É? INF.1:E ês fala que num pode batizá a criança caquilo,né? INF.2:È.INF.1: Bertueja batizada nunca sara.(Ent. 1, linhas 528,531 e 539) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Brotoeja. Do prov. brotar, provavelmente deriv. do gót. *bruton. 1813. (CUNHA, 1986, p.125) 71. BIATA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí as lavaderas de ropa por causa de lá corrê o ar, mais gostoso, ia e ficava lá. Aí peguei e fui sabê das lavadera de ropa tudo, “tim tim por tim tim” da vida da muié, se ela era biata, se ela era largada do marido, que que era isso. (2; 100) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Beata, & Beato. Molher, & homem, que vivem com recolhimento, & servem a Deos, com demostraçoens de singular virtude. Mulier pia, ou religiosa, ou pietati advesus Deum. & calites dedita. Var, qui summa religione Deum colit. 2. Morais: Beáta. s.f. Mulher que faz vida espiritual, com grandes mostras de devoção; de ordinário toma-se a maior parte, por pessoa de piedade de mais ostentação, que sincera religião. S.B.P. interepreta freira. 3. Laudelino Freire: Beata. s.f. Lat. Beata. Mulher que se entrega, quase que exclusivamente, à oração e outras práticas religiosas. 118 4. Aurélio: Beata. [Do lat. beata, f. de beatus.] Substantivo feminino. 2.Mulher muito devota; beguina. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Biata. Mulher muito devota. Aí as lavaderas de ropa por causa de lá corrê o ar, mais gostoso, ia e ficava lá. Aí peguei e fui sabê das lavadera de ropa tudo, “TIM TIM por TIM TIM”da vida da muié, se ela era biata, se ela era largada do marido, que que era isso. (Ent. 2, linha 100) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Beato. sm. ‘excessivamente devoto’ XVI. do lat. beatus. (CUNHA, 1986, p. 103 ) 72. BICA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Não, e outa. Tomava água da bica memo, a gente nunca sabia que que vinha naquela água. (1; 486). Era aquela coisa custosa. Ota coisa menina/que eu lembro () da minha vó daná cum nóis, no tempo do frio. A gente era munto desmanzelado. Por isso que eu falo lugar atrasado (). Nosso pé ficava carranhento. Minha vó chegava lá (). Ela chegou “nossa seu pé tá muito carranhento” cêis vai embora lá pa aquea bica d’água po esses pé de moio,cum/ e esfregá farelo/ paia de arroiz, farelo de arroiz. (1; 589) Só num fui lá na bica. (2; 198). Era/era/ quando morava no () inchia os balde de prato, de talheres, de tudo e ia lá pra bica. Levava lá pra lavá. (5; 261). Ia tudo na bica. (9; 219). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Bica. Canudo, por onde sahe a agoa da fonte. 2. Morais: Bíca. s.f. Cano por onde desemboca água de fonte, chafariz, tanques, &c. fig. As bicas dos olhos. 3. Laudelino Freire: Bica. s.f. Tubo, pequeno canal, meia cana ou telha, por onde corre água, caindo dela de certa altura. 4. Aurélio: Bica. [De bico1.] Substantivo feminino. 1.Tubo, meia-cana, pequeno canal ou telha por onde corre e cai água. 2.Fonte ou chafariz de água potável: A bica da Rainha, na cidade do Rio de Janeiro, data do séc. XIX. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bica. Tudo,meia-cana,pequeno canal ou telha por onde corre e cai água. Não,e outra. Tomava água da bica memo, a gente nunca sabia que que vinha naquela água. (Ent. 1, linha 486) 2. Freitas (2012): Bica. Calha que pode ser confeccionada de diversos materiais com o fim de escoar líquidos. “Punha a bica assim pra corrê o melado”(Ent. 07, linha 53).”Forrava com bica de banana acho que era isso punha bica de banana assim que a fôrma tinha o lugá de pingá né”(Ent. 07, linha 56) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Bica. sf. ‘torneira’ XIV, do lat. beccus. (CUNHA, 1986, p. 108) 73. BICHA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E era gozado que a bicha quando cê rodava ela sem nada tinha uma velocidade, né? Ela vira um palito assim. (16;95). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 119 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro(2013: n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Bicha. sf. Do latim vulgar. Animal de corpo,comprido,como a minhoca, a lombriga etc. XVI; qualquer objeto comprido e pendente’ 1813; fila de pessoas’ 1871// (CUNHA, 1986, p. 109) 74. BICHAREDA Nf [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Forte dimais. Vixe a sinhora tá bichareda. (15; 893). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bichareda. Pessoa saudável. Forte dimais. Vixe a sinhora ta bichareda. (Ent. 15, linha 893) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Sugerimos Brasileirismo 75. BIRUTA Nf [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Era aquês remédio iguale uma águinha na cuié. E minha avó era meia biruta. Era pa bebê poquinho e ela já punha na xícara. (1; 296). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Biruta. Substantivo feminino. Substantivo de dois gêneros. 2.Bras. Gír. Pessoa irrequieta, amalucada. Adjetivo de dois gêneros. 3.Bras. Gír. V. amalucado (1). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Biruta. Pessoa amalucada. Era aquês remédio iguale uma agüinha na cuié.E minha avó era meia biruta.Era pá bebê poquino e ela já punha na xícara. (Ent.1,linha 296) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ 120 Origem: Biruta1. adj. sm. ‘gír. diz-se de, ou pessoa irriquieta, amalucada’ XX.Voc. De origem expressiva. (CUNHA, 1986, p. 111) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 76. BITELO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Fazia uma grade e punha o bitelo em cima da grade, punha no ombro assim... (4; 28). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bitelo. Defunto grande. Fazia uma grade e punha o biteloem cima da grade,punha no ombro assim... (Ent.4, linha 28) 2. Freitas (2012): Bitelo. Grande. “Tancava áqüeas mãindoca bitela mesmo inchuta que tava uma beleza”(Ent. 01, linha 103) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Bitelo. Pessoa, animal ou coisa de tamanho grande. . Quando eu lá vou bem sossegado, quando eu ói ó o bitelo do jacu. (Entrevista 5, linha 280) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 77. BOIADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...Quantas boiada nóis vendemo, mansa de carro. ( 4; 129). É. Tocano boiada. Comprava boi aqui pa levá pa fora. Pro Estado de São Paulo. Pra/ dexa eu vê se eu lembro/ pra... acho que é Gaspar Lopes. (14; 275). Ês falava/ uns tocava a boiada, era boiadero. Os que tocava mula a gente falava era/ é os mulero. Tocava/ é/ ês ia comprá lá em Três Lagoas.(14; 312). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Boyada. Muitos boys juntos. Armentum boartum ou bubulum. Boyadas de dez, & vinte mil cabeças. Godinho, Viagem a India, p. 10. 2. Morais: Boiáda. s.f. Manada de bois. 3. Laudelino Freire: Boiada. s.f. De boi + ada. Manada de bois. 4. Aurélio: Boiada. [De boi1 + -ada1.] Substantivo feminino. 1.Manada de bois; boiama. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Boiada. Manada de bois. É. Tocano boiada. Comprava boi aqui pá levá pá fora.Pro Estado de São Paulo. Pra/dexa eu vê se eu lembro/pra ...acho que é Gaspar Lopes. (Ent. 14, linha 275) 2. Freitas (2012): Boiada. Manada de bois. “Esse ônis ta chei de mucinha mais tudo namorano diz que quano sorte...quano abre a porta do coléjo é a mesma coisa de sortá a boiada é uma bejação eu falei assim “Cê tamém ficô coom vontade de bejá?” “(M...) mas as menina tá numa bejação” eu falei é beja né... a velha história né uma hora aparece((risos)) curuz credo ave Maria” ( Ent. 06,linha 237) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Boiada. do lat.bovem. Boy- XVI. (CUNHA, 1986, p. 115) 121 78. BOIADERO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ah, tinha aques boiadero que passava lá. ... Mais é o que eu tô falano. Quando os boiadero que tocava os boi pa levá pa/ pa Gaspá Lopes...Ês falava/ uns tocava a boiada, era boiadero. Os que tocava mula a gente falava era/ é os mulero. Tocava/ é/ ês ia comprá lá em Três Lagoas... (14; 273, 310, 312) A zagaia era um porto dos boiadero, andarilho, viajante, todo mundo dormia ali naquele lugar. (30; 96) É saí daqui boiadeiro... (32; 77) ...boiadeiro comprar boi, essas coisas, gado, primeiramente ele agarrou, a zagaia porque meu avô veio da Itália em 1842, meu avô veio, veio pra Santa Rita de Cássia ele casou lá com Maria Valeriana de Jesus, foi construir tudo, chegou lá, isso vai me falar que veio, lá na Itália ele era coronel lá, veio tudo pra cá, né? Porque não sei o que arrumaram pra lá, e aí foi lá e contratou ele, e mandou pra cá, vinha boiadeiro... (35; 72, 75) E matava os boiadero tudo que vinha de fora.... Matava pra robá, e aí a famía não sabia que esses boiadero tava, vai procura aonde, né? (35; 132, 134) Com a tela véia, tem um boiadero de fora, e morava lá na capela véia ainda, aí o boiadero pegou e... O boiadero passava aqui e pra lá. (35; 153, 155) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Boiadeiro. “sm. Pastor de manada de bois. V. vaqueiro.” 3. Laudelino Freire: Boiadeiro. “s.m. Condutor de boiada; capataz de gado. // 2. Comprador de gado para revender.” 4. Aurélio: Boiadeiro. [De boiada + -eiro.] Substantivo masculino. 1.Tocador de boiada. 2.Capataz de gado. 3.Bras. Comprador de gado para revenda. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Boiadero. Indivíduo que guia os bois nas estradas para alcançarem novas postagens ou serem vendidos nos mercados. Ah, tinha aques boiadero,que passava lá...Mais é o que eu to falano. Quando os boiadero que tocava os boi pá levá pá/pá Gaspá Lopes...Ês falava/uns tocava a boiada,era boiadero.Os que tocava mula a gente falava era/é os mulero.Tocava/é/ês ia compra lá em Três Lagoas... (Ent. 14, linhas 273,310 e 312) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Boiadero. Indivíduo que guia os bois nas estradas para alcançarem novas pastagens ou serem vendidos nos mercados, “... era boiadeiro... o boiadeiro é que toca/tocava o gado na estrada...” (43;551). __________________________________________________________________________________________ Boiadeiro. do lat. bovem. “1899” (CUNHA, 1986, p. 115 ) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 79. BOI NO ARADO NCm [Ssing + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Não, de boi no arado... (16;108). ...eu já arei de boi no arado... (23; 133). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1.Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 122 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro(2013:n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Boi: Do latim. bõvem. Mamífero artiodáctilo, ruminante, da fam. Dos bovídeos. (CUNHA,1986, p.115) Arado: Do latim aratio –onis// sm. ‘instrumento agrícola para lavrar a terra’ XVII. (CUNHA,1986, p. 63) 80. BOIZINHO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Hoje memo, eu passei perto duma árvore que chama Boizinho. (17; 47). Boizinho... (17; 49). Não, não é a mesma não. Essa chama Boizinho. (17; 55). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Nomeando árvore, sugerimos que essa lexia deva ser classificada como brasileirismo. 81. BOLORO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Embolorou um pouquinho, esses azurzinho é boloro, é só limpa que saí. (36; 28) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Bolor. s. m. sáo huns fiozinhos, como musgo delgadifssmo, que crescem á superficie dos corpos encerrados em lugares humidos; e talvez sáo humas manchas contrahidas polas coifas encerradas do modo sobredito. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Bolor. s.m. 2. Aparência ou sinal de velhice. 4. Aurélio: Bolor. 1. Denominação comum a fungos que vivem de matérias orgânicas por eles decompostas; mofo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e 123 __________________________________________________________________________________________ Origem: Bolor: sm. ‘mofo’ XVI. Do lat. palor –oris. (CUNHA, 1986, p. 117 ) 82. BOTE Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Naquela épuca num vindia café de bote. (15; 473). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire:Bote. s.m. 5. Pop. Pequeno pacote. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bote. O mesmo que pacote. Naquela épuca num vindia café de bote. (Ent.15, linha 473) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 83. BRABA Nf [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ ... passô sujinha de terra memo e latino braba... (1; 129). Ê pegô deu/ “se esse povo vim eu vô pegá essa vaca das mais braba que tivé aqui pa matá essa Compania de Reis. (2; 212). As vaca lá de casa era braba e num era uma só não. Tinha vaca lá que invistia até na sombra. ... Jogava nóis nos chifre da vaca braba.(11; 221, 259). Fico braba cum todas duas cum a neta e cum a fia. (15; 248). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Braba. s.f. Mulher de condição áspera. 3. Laudelino Freire: Braba. adj. De bravo. O mesmo que bravo. II 2. Denso, selvagem (falando do mato). II 3. Que causa dano; nocivo, prejudicial. II 4. Irado, sanhudo. II 5. Rixoso, brigador. II 6. Recém-vido. II 7. Inexperiente. II 8. Grosseiro. Obs.: “Toma-se bravo por corajoso, magnífico, áspero, ferino; brabo só é tomado no mau sentido”. (Odorico Mendes) 4. Aurélio: Brabo. adj. 1. Bras. V. Bravo (1 e 2). Bravo. adj. 1. Corajoso, intrépido. 2.V. colérico (2)[Var., nessas acepç.: brabo] 3. V. bravio (1 a 3) 4. Muito agitado, tempestuoso. sm. 5. Homem bravo (1) 5. Amadeu Amaral: Brabo. q. - zangado, zangadiço, colérico; bravio (animal); denso, selvagem (mato). | Mais ou menos corrente no Bras. todo. Diz S. Lopes, no conto “Trezentas onças” (R. G. do S.): “... sujeito de contas mui limpas e brabo como uma manga de pedras...” - Esta forma não parece mera variante de “bravo”, que é de importação francesa por um lado, e italiana por outro. Tirou-a talvez a língua, diretamente, de bárbaro, através da forma bárboro, com dissimilação do segundo a, que facilitou o encurtamento do vocáb. Bárboro encontra-se nos antigos; por ex., em D. João de Castro: “E asi me sertifiquei da longura que ha do brazil ao cabo da boa esperança e nisto estou tão costamte que me atreverey a o fazer confesar a omens barboros e a outros de gramde enjenho”. (Carta ao Rei, em “Dom J. de C.” por M. de S. Pinto). A própria forma brabo, tal qual, se encontra na Eufros.”, p. 147. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Braba. Nervosa,colérica. As vaca lá de casa era braba e num era uma só não. Tinha vaca lá que invistia até na sombra. .. Jogava nois nos chifre da vaca braba. (Ent. 11, linhas 221 e 259) 124 2. Freitas (2012): Brabo. Nervoso,colérico.Variante de bravo. “Pegava boi lá...boi brabo junto um puxano na frente ôtro tocano atrás”. (Ent05, linha 18) (brabo~bravo:caso de degeneração) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Brabo. Qualidade de quem esta rude, nervosa, colérico.Variante de bravo. “ então foi criado dessa maneira assim...mais brabo.” (1;99) __________________________________________________________________________________________ Origem: Bravo. adj. ‘feroz, selvagem’Do lat. barbarus. (CUNHA, 1986, p. 122) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 84. BRAÇA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Quando nóis foi passá num certo lugá apareceu dois bode paralelo de nóis e nóis foi veno aquilo. Lá vai, lá vai impariado numa certa distância. Trinta braça paralelo cum nóis na istrada. ... Braça corresponde a dois metro. ... Cada dois metro tinha uma braça. Intão é uns sessenta metro. ( 8; 76, 80, 81). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Braça. Medida, que contém o comprimento dos dous braços abertos, & estendidos, juntamente com a parte do corpo, que está no meyo delles, até a extremidade dos dedos do meyo de cada mão. Se esta medida he de sette pés geométricos, como se vê na taboada de combinação de várias medidas, composta por Luis Serrão Pimentel, poderemos chamar huma braça. 2. Morais: Braça. s.f. Medida longa de 7 pés geométricos, e 10 palmos de craveira. 3. Laudelino Freire: Braça. s.f. De braço. Medida antiga de extensão correspondente a 2m. 4. Aurélio: Braça. [Do lat. brachia, pl. de brachiu, ‘braço’.] Substantivo feminino. Metrol. 1.Antiga unidade de medida de comprimento equivalente a dez palmos [v. palmo (2)], ou seja, 2,2m. 2.Unidade de comprimento do sistema inglês, equivalente a cerca de 1,8m. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Braça. Antiga unidade de medida de comprimento equivalente a dez palmos.Quando nóis foi passá num certo lugá apareceu dois bode paralelo de nóis e nóis foi veno aquilo. Lá vai,lá vai impariado numa certa distância.Trinta braça paralelo cum nóis na istrada...Braça corresponde a dois metro...Cada dois metro tinha uma braça.Intão é uns sessenta metro. (Ent.8, linhas 76,80 e 81) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro( 2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Braça. Do lat. brac(c)hium. “Século XIII”. (CUNHA, 1986, p. 121) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Arcaísmo 85. BREJO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Mai’ tinha aquês trem po meio do mato, pos brejo. (13; 445). É a água, Deus deixô a água pra nóis bebe é pura memo, num precisa pô remédio não, só num pode bebe água de brejo, mas o resto num faiz mal não.... Água de brejo é uma água do barro. (36; 104, 106) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Brejo. Terra baxa, e humida, ou cavidade, donde não dá sol. Lugar baixo muito humido, onde nace agoa, ou que de Verão, & Inverno, tem quase sempre, ou pouca, ou muita. 2. Morais: Brejo. s.m. Terra humida, lodosa, alagadiça, que serve para arrozaes. 3. Laudelino Freire: Brejo. s.m. B. lat. braium. 3.Terreno alagadiço ou pantanoso; paul. 4. Aurélio: Brejo. [De or. controvertida.] Substantivo masculino. 1.V. pântano. 2.Terreno sáfaro, agreste, que só dá urzes; urzal. 3.P. ext. Lugar úmido, frio e ventoso. 4.Bras. N.E. Terreno onde os rios se conservam mais ou 125 menos permanentes, e em geral fértil em virtude dos transbordamentos anuais, por ocasião das chuvas. 5.Bras. MA Qualquer lugar baixo onde há nascentes, olhos-d’água, cacimbas. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Brejo. Terreno pantanoso. Mai’tinha aquês trem pó meio do mato,pos brejo. (Ent. 13, linha 445) 2. Freitas (2012): Brejo. Terreno pantanoso. “Papai fez o chiquêro aqui... aí tocava os porco pó brejo lá em cima e eu ficava aqui oiano aqui aí pego andá no tempo que nem cachorro zangado.” ( Ent. 09, linha 254) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Brejo. sm. ‘pântano’ XVI. De origem controvertida. (CUNHA, 1986, p. 123) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 86. BROCHA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Chamava brocha. É uma pecinha piquena assim. PESQ: Brocha? INF.: É brocha. É feita de coro tamém.”(14; 359, 361). É. A (jojo) que ês fala. Intão toca ê lá e ê já tem o lugázinho dele de chegá lá no canto. Põe a soga. Aí põe a canga, aí abutoa a brocha aqui, na guela dele aqui. (4; 211). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Brocha. Brochas de boys, atados ao carro, saõ humas correas de couro de boy, trocidas, com azelha nas pontas, que se predem nos dentes dos cangalhos, & cingem o boy pella garganta. 2. Morais: Brocha. s.f. Correya de coiro, com que se abraça a garganta do boi cangado; prende nos canzis. 3. Laudelino Freire: Brocha. s.f. Fr. broche. 3. Correia que abraça o pescoço do boi, pela parte inferior da canga, predendo nos canzis. 4. Aurélio:Brocha. [Do fr. broche.] Substantivo feminino. 3.Correia de couro que cinge o pescoço do boi pela parte inferior da canga. 4.Corda que liga os fueiros do carro para segurar a carga. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Brocha. Correia que abraça o pescoço do boi. INF.: Chamava brocha. É uma pecinha piquena assim. PESQ: Brocha? INF.: É brocha. É feita de coro tamém.(Ent. 14, linha 359 e 361) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Brocha. sf. ‘ant. fecho de metal’ XIV. Do fr. broche, deriv. do lat. pop. Brocca, feminino substantivado de brocchus ‘saliente, pontudo’. (CUNHA, 1986, p. 124) 87. BRUACA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Comprava/ ês usava/ deles é a bruaca que era pra guardá as comida ( ). PESQ.: Bruaca? INF.: É um caxote quadrado cuberto cum coro de boi. ... Intão usava essas bruaca. Eu cheguei a cunhecê bruaca. Cheguei a vê. Num sei/ hoje/ num sei mais aonde tem mais” (14; 315, 321 ). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Bruaca. s.f. Saco de couro cru, para condução de mercadorias e outros objetos sobre bêstas. 126 4. Aurélio: Bruaca. [De burjaca, com metátese (*brujaca) e síncope.] Substantivo feminino. Bras. 1.Saco ou mala de couro cru, para transporte de objetos e mercadorias sobre bestas. [Var., MG: buraca2.] 2.Bolsa de couro. [Cf. (nessas acepç.) priaca.] 5. Amadeu Amaral: Bruaca. s. f. - surrão, saco de couro trazido por viajantes a cavalo. Também se aplica, insultuosamente, a mulheres. | Rub. dá “buraca”, “pequeno saco de coiro que usam os tropeiros de Minas”. Lass. colheu no R. G. do S. forma idêntica à paulista, definindo-a “alforge de couro para condução de diversos objetos em cavalgaduras”. - O “Novo Dic.” regista o port. burjaca, saco de couro de caldeireiros ambulantes, t. de origem cast. É claro que a forma brasil. se relaciona com essa; mas como explicar o desaparecimento de j? __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Bruaca. Saco de couro cru para transporte de objetos e mercadorias sobre bestas. INF:. Comprava/ ês usava/deles é a bruaca que era pra guardá as comida ( ). PESQ.: Bruaca? INF.: É um caxote quadrado cuberto cum coro de oi. ..Intão usava essa bruaca. Eu cheguei a cunhecê bruaca.Cheguei a vê.Num sei/hje/num sei mais aonde tem mais ( Ent.14, linhas 315 e 321) 2. Freitas (2012): ): Bruaca. Saco de couro cru para transporte de objetos e mercadorias sobre bestas. “ Aqueas bruaca né ...bruaca de côro...aí inchia a bruaca...punha saco dent´da bruaca um pegava e falava...” traz gente” (Ent.09, linhas 05 e 06) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Bruaca. Bras. Saco ou mala de couro cru usado para transporte de mercadorias,geralmente sobre bestas. “...sentava a rapadura no espinhaço do animal...dentro das bruacae/ das cangaia e das bruaca e ia pondo rapadura.” (21;281) Cf. buraca. __________________________________________________________________________________________ Origem: Bruaca. sf. ‘saco ou mala para transporte de objetos e mercadorias sobre bestas’ 1844. Do cast. burjaca. (CUNHA, 1986, p. 128) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio, Souza. 88. BUCADO [Pron] __________________________________________________________________________________________ Ah, na época eu ganhei bem um bucado, mas trabaiava muito de alfaiate tamém, né?(22; 128) Era meu primo primero, hoje morreu já, um bucado de..., três fio que a gente vê lá, é ... lá de tarde, é em setembro, eu passava você não sabe quem tem serviço aí não? Esturdia tem muito serviço, aonde é que nos vai, senhor Eugênio? Naquela camionete ali... (23; 143). Tem que passar eles, eu tenho um neto aí, que eu falei pra ele: “Óia, ocê já teve lá em cima.” Agora que vai pro pré, tá com quase 20 ano, ele vem vindo pra trais. Esturdia eu andei brincando com os professora, tem umas que é igual minhas fia, tem muita amizade, óia, ocês me vende um bucado de ponto aí pra mim dá pro J. que ele num tá arranjando não. (23; 448). ...ocês me vende um bucado de ponto aí pra mim... (32; 440) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Bocado: s. m. o que enche a boca de huma vez. § A porção que fe tira c'os dentes. § Bons bocados, iguarias gulofas. § Bocado, peça do freio, que entra na boca do cavallo. § Bocado f. porção pequena de tempo, caminho. 2. Morais: Bocado. s.m. A porção que se tira com os dentes. 3. Laudelino Freire: Bocado, ou Boccado: s.m. De bôca + ado. Porção de qualquer alimento que se pode meter na bôca de uma vez. || 2. Porção que se tira com os dentes; dentada. ||Pedaço ou porção de qualquer cousa. 4. Aurélio: Bocado: sm. 1. Porção de alimento que se leva de uma vez à boca. 2. Pequena porção de algo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 127 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Bocado. XIII. Do lat. buccam. (CUNHA, 1986, p. 114) 89. BULIR [V] __________________________________________________________________________________________ ...o meu arroiz até hoje eu num dexo bulí na máquina não... (36; 138) Bulí até ficar muito branco... (36; 139) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Bulir: v. bolir. este verbo he irregular, e escrevem-no de ambos os modos; bulir porém parece melhor, por conformar com o substantivo radical. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Bulir: v.r.v. Lat. bullire. ||2. Mover ou agitar de leve. 4. Aurélio: Bulir: v.t.i. 1. Mover, balançar, tocar de leve em. 2. Pôr as mãos em; tocar. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Buli(r). Pegar, mexer, pôr as mãos. . A gente passava a rede lá e via lá e bulia com esse pexe, esses vinha e maiava tudo na rede. (Entrevista 12, linha 420) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Bulir: vb. ‘mover, agitar’ |XIII, bolir XIII etc. |Do lat. bullire ‘ferver’. (CUNHA, 1986, p. 127) 90. BURACA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ passando pela buraca. (31; 162) ...aqui na buraca, às vezes vocês veio, passou pertinho da buraca... (31; 169) Tem um que passa em buraca... (31; 176) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Buraca: sf. ‘Grande buraco’ 1899. De origem controvertida. (CUNHA, 1986, p. 128) 128 91. BURUTEIA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí ê pegô e falô assim: “é,o J., a hora que saiu as buruteia lá...” As buruteia que falava era... quitanda. Buruteia. PESQ.: Buruteia? Nossa que engraçado. INF.: Era as quitanda. E ês repartia era na pinera. ... o J. quando saiu as buruteia lá, ê tava pensano que a M. tava oiano nele, ela tava oiano era na pinera de buruteia.”(14; 553, 554, 558, 559). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Buruteia. Diversos tipos de quitandas. Aí pego e falô assim: “ é, o J.,a hora que saiu as buruteia lá...” As buruteia que falava era...quitanda.Buruteia. PESQ.: Buruteia? Nossa que engraçado. INF:.Era as quitanda. E ês repartia era na pinera....o J. quando saiu as buruteia lá, ê tava pensano que a M. tava oiano nele, ela tava oiano era na pinera de buruteia. (Ent. 14, linhas 553, 554, 558 e 559) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 92. BURRAGE Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí ele foi lá, encheu o saco de cinza quente, é burrage, né? Eles fala é burrage, e foi chupá laranja, tinha muita laranjeira, quando ele vortô lá, a cinza tinha queimado o saco, e não teve jeito dele ferruá. (17; 7). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: Burragem: burrice. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 93. BUTINA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Não. Eu carcei a primera butina sabe quantos ano eu tava?... Umas bota assim. Tinha as butina e tinha a polônia. Usava aquilo pa num moiá muito de urvaio. (5; 188, 212). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Botinas. Derivouse do francês Bottine, diminutivo de Botte, que val o mesmo, que bota. Botinas antigamente eraõ hum calçado de carneira, sem sola, nem salto, a modo de meyas de pé, que chegava meya perna, ou mais; usavaõ dellas as molheres, com cahpins, ou pantufos. Hoje botinas saõ humas botas leves com sua juelheira, salto, & sapato; os homens trazem a cavallo. 129 2. Morais: Botinas. s.f. pl. Botas ligeiras de mulher. 3. Laudelino Freire: Botina. s.f. Bota de cano curto. 4. Aurélio: Botina. [Do fr. bottine.] Substantivo feminino. 1.Bota1 (1) de cano curto. 5. Amadeu Amaral: Botina s. f. - calçado fechado até à extremidade do cano, com elásticos neste. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. Ribeiro (2010): Butina. Bota de cano curto, geralmente usada por homens. Não. Eu carcei a primeira butina sabe quantos ano eu tava?.. Uma bota assim. Tinha as butina e tinha a polônia. Usada aquilo pá num moía muito de urvaio.( Ent. 5, linhas 188 e 212) Freitas (2012): n/e Miranda (2013): n/e Cordeiro (2013):n/e Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Botina. sf. ‘bota de cano curto, geralmente para homens’ XVI. Do fr. Bottine, de botte. (CUNHA, 1986, p. 120) C 94. CABAÇA Nf [Ssing] Cuié de pau e a foia de cabaça né? PESQ.: Cabaça é aquele?... INF. 1: Cabaça é aquela abroba que a gente num come. PESQ.: Aquela dura? INF. 1: É. PESQ.: Que serve de enfeite? INF. 2: Não, a foia da cabaça eu num lembro não. Eu lembro é da ( ). (1; 452, 454, 458). Isso eu não esqueço. Porque a gente trabaiava na roça, o sol quente, a gente tomava aquela água morna na cabaça.(11; 489). A cuia é feita de cabaça. (1; 708). ...o boiadero, é, Roquinho, nessa cabaça sua num tem água... (35; 157) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Cabaça. Especie de abobara de carneyro; para a parte do pé, tem figura de pêra, & fazendo huma como garganta, se alarga em hum bojo. 2. Morais: Cabaça. s.f. Espécie de abobora, que tem a figura de pera. 3. Laudelino Freire: Cabaça. s.f. Fruto de uma planta da família das cucurbitáceas, em forma de pêra ou de um 8, cujos dois bojos desiguais são separados por um colo mais ou menos estreito.//2. Vasilha formada pela casca inteira e seca desse fruto.//3. Qualquer vaso do feitio daquele fruto. 4. Aurélio:Cabaça. [De or. pré-romana, poss.] Substantivo feminino. 1.Bot. V. cabaceiro-amargoso. 2.V. porongo1 (1 e 2): “Uma cabaça foi posta contra os seus lábios, e bebeu dela, avidamente.” (Eça de Queirós, Últimas Páginas, p. 317.) 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cabaça. Vasilha formada pela casca inteira e seca do fruto de uma planta conhecida como cabaça.INF.1:Cuié de pau e a foia de cabaça né? PESQ. Cabaça é aquele?...INF.1: Cabaça é aquela abroba que a gente num come.PESQ.Aquela dura? INF.1: É.PESQ.: Que serve de enfeite? INF.2:Não, a faia da cabaça eu num lembro não.Eu lembro é da ( ). (Ent.1, linhas 452,454 e 458) 2. Freitas (2012): Cabaça. Vasilha formada pela casca inteira e seca do fruto de uma planta conhecida como cabaça. “Povo fazendêro aí trocava terra por uma cabaça de melado azedo” (Ent.11, linha 198) 3. Miranda (2013): Cabaça. Vasilha proveniente da casca inteira e seca do fruto de uma planta conhecida como cabaça. “ Ês usa mais né Cláudio((conversas paralelas))... tem a cabaça... mas hoje em dia a gente num vê cabaça mais não... a gente planta... mas ela num dá...”(Entr.2, linha 199) 4. Cordeiro (2013): Cabaça. Fruto do cabaceiro, de casca dura e impermeável, usado como recipiente. . Buscava a água no pote, buscava água na cabaça. Ques cabaç de de de.. que a gente pranta lá na roça lá aques trem. (Entrevista 12, linha 386) 130 5. Souza (2014): Cabaça. Vasilha formada pela casca inteira e seca do fruto de uma planta conhecida como cabaça. “...botava no fundo de cabaça.. ocê já ouviu falar ni cabaça?”(4;95) __________________________________________________________________________________________ Origem: Cabaça1. sf. ‘vasilha’/ XV, cabaacha XIII, baaça XV/ De origem desconhecida, certamente pré-romana. (CUNHA, 1986, p. 130) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Sugerimos Brasileirismo 95. CABADÃO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ O G., é de, deixa eu fala uma coisa procê, ocê acha que eu sô muito cabadão?(20; 35) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 96. CABEÇA DE ARREIO NCm [Ssing + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Era no cargueiro, se a gente ficasse doente, meu pai punha nóis na cabeça do arreio, levava nóis lá na Vargem, chegava na Vargem, pegava o ônibus, e ia pra Piumhi, e aí ficava lá em Piumhi não tem nada, fazia o tratamento, eu tenho todo o pobrema nos braço, óia pra ocê vê. (33; 21). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cabeça: sf. ‘a parte superior do corpo dos animais bípedes e a anterior dos outros animais, onde se situam os olhos,onariz, a boca os ouvidos e importantes centros nervosos, XIII. Do lat. vulg. capitia. (CUNHA, 1986, p. 131) Arreio: Arreio: sm. ‘conjunto de peças necessárias ao trabalho de carga do equídeo’ Do lat. vulg. (CUNHA, 1986, p. 70) 131 97. CABEÇAIO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Uai, esse aqui é o derradero, do cabeçaio, chaveia, do meio, pé-da-guia. Essa aqui é junta de guia. Nóis tinha um boi que parecia cum esse aqui, chamado pexão. (4; 223). ( ) Tinha junta de guia e dipois tinha as de cabeçaio, a de cabeçaio era a que ficava no cabeçaio do carro aqui ( ). PESQ.: Como que chamava? INF.: Cabeçaio. Cabeçaio. Junta de cabeçaio. PESQ.: Ah! INF.: E a da frente depois da do cabeçaio chamava era chaveia. (14; 366, 367, 369, 371). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Cabeçalho. s.m. Vara do carro, que nasce do leito do carro, pelo meyo do leito, a cuja extremidade anda pendendo o jugo. 3. Laudelino Freire: Cabeçalho. s.m. De cabeça + alho. 2. Vara do carro que se prende à canga, passando entre as mesas; lança de uma carroça ou carrêta. 4. Aurélio: Cabeçalho. [De cabeça + -alho.] Substantivo masculino. 1.Timão do carro, do qual pende a canga. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Lexicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cabeçaio. Timão do carro, do qual pende a canga. Uai,esse aqui é o derradero,do cabeçaio chaveia, do meio, pé-da-guia. Essa aqui é junta de guia. Nóis tinha um boi que parecia cum esse aqui, chamado pexão. (Ent.4, linha 223) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cabeçalho. Do lat. vulg. capitia (cláss. caput) “1813” (CUNHA, 1986, p. 131) 98. CABECEIRA D’ÁGUA NCf [Ssin + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...num tem veneno nas cabeceira d’água... (31; 71). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3.Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Origem: Cabeceira: Do latim vulgar capitia. (CUNHA, 1986, p. 131.) Água: Liquido incolor, inodoro e insípido, essencial à vida . Do latim aqua. (CUNHA, 1986, p. 23) 99. CABOQUINHO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...é que ês matava o caboquinho... (30; 178). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 132 3. Laudelino Freire: Caboclo. ―s.m. Indígena brasileiro de cor acobreada. // 2. Mulato cor de cobre, descendente de bugres. // 3. Homem do sertão, de cor morena acobreada; caipira, roceiro, sertanejo.‖ 4. Aurélio: Caboclo¹. ―caboclo1 (ô). [Do tupi.] S. m. Bras. 1. Mestiço de branco com índio; cariboca, carijó. 2. Antiga denominação do indígena. 3. Caboclo1 (1) de cor acobreada e cabelos lisos; caburé, tapuio. 4. V. caipira (1)‖ 5. Amadeu Amaral: Cabocro. ―s.m. – mestiço de branco e índio. // os vocabularistas registam outras formas, estranhas a S.P.; cabôco‖, cabôclo‖, ―cabouculo‖ etc. De ―curiboca‖? De cabouco?‖ __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda(2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza(2014): Caboclo. Índio ou descendente de índios. ―... levava pra Jequié pra trazer sal pra nós comer aqui... que aqui num tinha... se ele num fosse buscar nós comia sem sal que nem caboclo...‖ (50;38). __________________________________________________________________________________________ Origem: Caboclo: sm. ‘ índio, mestiço de branco com índio’ ‘ indivíduo de cor acobreada e cabelos lisos. Do tupi * Kari’ uoka (kara’iua ‘ homem branco’ + oka ‘ casa’) (CUNHA, 1986, p. 131) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 100. CABRESTO DANADO NCm [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Não pode fazer nada, tudo tem que ter um cabresto danado, eles me processaro, porque eu cortei uma madera no que é meu, porque eu tenho um, comprei um chapadão aí e tinha muita madera, muita candeia, né? (34; 66). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cabresto: sm. ‘arreio, freio’ | XIII, -bestro XIV | Do lat. capistrum. (CUNHA, 1986, p. 132) Danado: Do lat.damnatio. XIII (CUNHA, 1986, p. 238) 101. CAÇAROLA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ (Ô fio dento da caçarola tem comida, tem misturado fejão. Pega lá, quenta po cê.) (10; 321). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Caçarola. s.f. De caço. Panela de barro, ferro ou alumínio, de forma cilíndrica, com bordas altas, cabo e tampa. 4. Aurélio: Caçarola. [Do fr. casserole.] Substantivo feminino. 1.Panela de metal com bordas altas, cabo e tampa: “Põe feijão na caçarola / Para o almoço do marido.” (Ricardo Gonçalves, Ipês, p. 11.). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 133 1. Ribeiro (2010): Caçarola. Panela de metal com bordas altas,cabo e tampa. ( Ô fio dento da caçarola tem comida,tem misturado fejão.Pega lá,quenta pó CE) (Ent.10,linha 321) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda(2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Caçarola. sf. ‘panela de metal com bordas altas, cabo e tampa’/ cassa- XVIII/ Do fr. Casserole, de casse ‘caçarola’, deriv. do prov. Cassa e, este, do lat. pop. cattia. (CUNHA, 1986, p. 133) 102. CACHIMBO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E essa nega usava fumo pra cachimbo... (30; 118). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Cachimbo. 1 Canudo comprido delgado de barro cozido, com que se toma tabaco de fumo. 2. Morais: Cachimbo. Vasosinho de barro cônico, onde se põe o tabaco a arder; tem um cano onde se embebe a extremidade de um canudo, e a outra se morre na boca, do que cachimba, e por ele se sorve o fumo. 2 A fêmea do leme. 3. Laudelino Freire: Cachimbo. 1 Aparelho para fumar, formado de um pequeno fornilho de gesso, louça, madeira, etc., em que se põe tabaco ou outra substancia, e ao qual está adaptado em tubo por onde se aspira o fumo. 4. Aurélio: Cachimbo. 1 Aparelho de fumar, composto de um fornilho em que se deita o tabaco e um tubo aspirador. 5. Amadeu Amaral: Cachimbo. Pedaço de pau com um fiel em uma das pontas, no qual se enfia o beiço do animal que se pretende sujeitar, e se vai torcendo até que o animal se entregue. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cachimbo: sm.a’Aparelho de fumar’ 1711., provavelmente do quimb. (CUNHA, 1986, p. 133) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Sugerimos Brasileirismo. 103. CACUNDA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: E a água? Tinha água encanada ou não? INF. 1: Não. Era do corgo mia fia. PESQ.: Mas como fazia pa buscá? Ia no corgo? INF. 1: Era na cacunda mia fia. (9; 214 ). PESQ.: E se murria velava onde, lá na roça? INF. 1: É na roça. PESQ.: E fazia como? INF. 1: Uai, trazia na cacunda, no banguê. (9; 150). Cada uma lá vai ca sua rodinha na cacunda. Aí fazia esse fiado, ticia e fazia gasaio de frio. (13; 541). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Cacunda. “s.f. Corr. de carcunda. Costas, dorso.” 4. Aurélio: Cacunda. [Do quimb. kakunda.] Substantivo feminino. Bras. 1.Dorso, costas. [Sin. (bras.): canastra.] 5. Amadeu Amaral: Cacunda. “s.f. – costas: “... e ela se ponhou outra vez de cacunda, que é como dormia quase que a noite inteirinha”. (V. S.). – “Para dor de peito que responde na cacunda, cataplasma de jasmim de cachorro é porrete. (M. L.). // Orig. afric., como querem alguns, ou simples corrupt. de corcunda, passando por carcunda, como querem outros.” __________________________________________________________________________________________ 134 Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cacunda. Costas, dorso. PESQ.: E a água? Tinha água encanada ou não? INF.1:Não. Era do corgo mia fia.PESQ.: Mas como fazia pá buscá? Ia no corgo? Inf.1:Era na cacunda mia fia. (Ent. 9, linha 214) 2. Freitas (2012): Cacunda. Costas, dorso. “Fui caçá tatu tava com uma inspingarda vinte e oito na cacunda”(Ent. 02, linha 275) 3. Miranda (2013): Cacunda. Costas, dorso. “Pois é... que antigamente havia é tropa... num havia caminhão.. nem nada... havia era tropa... tudo na cacunda dos burro...” (Entr. 2. linha 8) 4. Cordeiro (2013): Cacunda. Costas, dorso. . Levava na mão, na cacunda um pau aqui e oto aqui ó e ocê iscorava no banguê assim. (Entrevista 3, linha 671) 5. Souza (2014): Cacunda. Parte do corpo onde geralmente se carrega coisas mais pesadas ou volumosas;costas,dorso. “... chegava lá fazia nossas farinha e botava na cacunda.” (4;189) __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 104. CADÊ [Pron] __________________________________________________________________________________________ Eu cheguei, pelejei pá tirá esse gado. Cadê se dá jeito deu tirá. Aí chegô um cumpade meu e ajudô a tirá o gado da horta. (15; 629). Aí ê falô: “não, eu vô vê cadê ele aqui intão.” E vim imbora pra dentro. Quando cheguei ali na porta e falei “vó, eu já liguei pra ele”, cadê a vó em cima da cama? (15; 914, 915) É, uai. Ãhã. Nóis/ cadê?/ Tá só ocêis aqui na roça agora? (12; 37) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Cadê. “Bras. Fam. Pop. 1. V. quede2: “Ó Fulô? Ó Fulô? / Cadê meu lenço de rendas, / Cadê meu cinto, meu broche, / Cadê meu terço de ouro / Que teu Sinhô me mandou?” (Jorge de Lima, Obra Completa, 1, p.293).” 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cadê. Onde está;quede. Eu cheguei, pelejei PA tirá esse gado. Cadê se dá jeito d´eu tirá. Aí chego um cumpade meu e ajudo a tirá o gado da horta. (Ent. 15,linha 629) 2. Freitas (2012): Cadê. Onde está; quede. “ Eu falei “ah nêgo CE vai derrobá esse coqueto pra mim”... ê disse “ cadê a foice?”” (Ent. 04,linha 106) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2008): Cadê. Onde está;quede. “_ Uai mulher cadê o bicho?” (6;314) __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio, Souza. 105. CADIÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ É. E a mesa é composta tamém por cadião, é uma parte de fora. (14; 410). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 6. Amadeu Amaral: n/e 135 __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cadião. Peça que compõe a mesa do carro de boi. É. E a mesa é composta tamém por cadião,é uma parte de fora. (Ent.14, linha 410) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 106. CADIM [Pron] __________________________________________________________________________________________ Aonde tinha casa de capim, tinha uma muié danada pra gosta de ganha um cadim, rumava a casa pra gente ir lá dança, e ficava. (22; 85) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 107. CAFUNDÓ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Patrimônio esse, aquela cidade que tem lá, pra lá dos cafundó, lá eles falam Petúnia, Patrimônio, mas mais era Petúnia, chama Petúnia, lá pro lado da, pra lá dos cafundós, e... (17; 152, 153). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Cafundó. s.m. Baixada estreita entre lombadas muito íngrimes e altas.//2.Lugar distante e ermo, geralmente entre montanhas,//3.Lugar escuro da casa.//4.Quarto para prisão de colegiais; cafuá. 4. Aurélio: Cafundó. subst. Masc. Brasileirismo. Lugar ermo e afastado,de acesso difícil. 5. Amadeu Amaral: Cafundó. s.m. Lugar muito retirado e deserto./Usa-se também na linguag. Das pessoas cultas, com a mesma significação, mas no plural. -Em Port. Há “fundo”, significando abarracamento, arraial, cujo radical entende G.Viana que há de ser banto,talvez”cafúndu”,cravar, enterrar. (“pal”,p.238-9). __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cafundó. sm. Cafuá lugar esmo e afastado, de difícil acesso, 1899. De origem africana, mas de étimo indeterminado. (CUNHA, 1986, p. 136) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 136 108. CAMARADA ~ COMARADA ~ CUMARADA Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Quando o comarada tá aqui num picisa procupá porque o cumarada liga a bomba, tampa ali, segue pra cima . (13; 54). E aí a gente ia rezá. Às veiz a gente ia rezá na fazenda. Ês punha leite./ que meu irmão era retirero. Aquês camarada que era retirero. Aí nóis ia rezá na fazenda. Tinha uma taba grande assim. Tipo um vão pa rezá, né? (10; 318). Cada uma fazia nas suas casa. Agora quando tinha muito camarada no sirviço, ia ajudá fazê. Fazia/ o fejão já posava cuzinhano. INF.: Num panelão. Posava cuzinhano o fejão né? Pro ot dia vermeinho. Aí cedo já cumeçava. Uma ia ranjá verdura, ota ia lavá o arroiz, otas ia arranjano. Fazia aquês panelão quando tinha mais camarada na roça. Ficava boa a comida, fazia aquê tantão, né? (11; 179, 183). INFORMANTE: Ah não, tinha, o sujeito rico queria arranjá dinhero, né? Fazia a zagaia lá, o boiadero ia dormi lá, e de noite ele desarmava aquilo em riba do camarada, né? A zagaia. PESQUISADORA: Aí ele morria? INFORMANTE: Morria, o camarada, e não descobre. (34; 143, 145) Mas era 90 cruzeiro por meis. E eu é que ganhava 90, os outro tinha camarada até de 30. (34; 325) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Camarada. “Camarada. Derivase de camara, ou de cama; & valo mesmo que companheiro de casa, & mesa, & he particularmente usado entre gente de guerra, & soldados, alistados na mesma compahia, ou que vivem no campo, ou arrayal de baixo da mesma tenda.” 2. Morais: Camarada. “sf. Vivenda, e conversação de pessoas no mesmo rancho, ou câmara, nos navios e quartéis.” 3. Laudelino Freire: Camarada. “s.m. 8. Indivíduo empregado nos serviços de campo ou das fazendas.” 4. Aurélio: Camarada. [Do fr. camarade.] Substantivo masculino. 8. Bras. Indivíduo empregado em serviços avulsos, nas fazendas. 5. Amadeu Amaral: Camarada. “s.m. – indivíduo que, nas fazendas, está encarregado de vários serviços; trabalhador de roça.” __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. Ribeiro (2010): Camarada. Indíviduo empregado em serviços avulsos,nas fazendas. Cada uma fazia nas suas casa. Agora quando tinha muito camarada no serviço,ia ajudá fazê.Fazia/ o fejão já posava cuzinhano.INF.:Num panelão.Posava cuzinhano o fejão né? Pro ato dia vermeinho.Aí cedo já cumeçava.Uma ia ranja verdura,ota ia lavá o arroiz,atos ia arranjano.Fazia aquês panelão quando tinha mais camarada na roça. Ficava boa a comida,fazia aquê tantão,né? (Ent.11, linhas 179 e 183) Freitas (2012): n/e Miranda (2013): n/e Cordeiro (2013): Camarada. Trabalhador temporário em propriedade rural.[...] tinha camarada mexeno no ingenho[...] (inf 7) Souza (2014): Camarada. 1. Indivíduo qualquer;companheiro. “…fazia um copo duplo e o camarada quebrava aquilo…”(39; 510). /2.Indivíduo contratado temporariamente para serviços variados nas fazendas. “.... e eu pus dois camarada..pra carregar água durante dois meses...”(3;13) __________________________________________________________________________________________ Origem: Camarada. “camarada s2g. ‘companheiro’ XVI. Do fr. camarade, deriv. do cast. camarada.” (CUNHA, 1986, p. 142) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 109. CAMBÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E dipois tinha os cambão. Aí tinha as tiradera. Tiradera era uma... espécie de coro mais grossona pa aguentá, né?(14; 363). 137 Aqui tem um cambão que infia aqui nesse tamoero. (4; 213). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Cambão. s.m. Aparelho com que se ligam duas juntas de bois ao mesmo carro ou instrumento agrário. 4. Aurélio: Cambão. [De cambo1 + -ão1.] Substantivo masculino. 1.Peça de pau que se junta ao cabeçalho do carro puxado por mais de uma junta de bois. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cambão. Peça de pau que se junta ao cabeçalho do carro puxado por mais de uma junta de bois. E dipois os cambão. Aí tinha as tiradera. Tiradera era uma...espécie de coro mais grossona pá aguenta, né? (Ent. 14, linha 363) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cambão. sm. ‘pau que se junta ao cabeçalho do carro puxado por mais de uma junta’ 1844, do lat. cambiare. (CUNHA, 1986, p. 143) 110. CAMBOTA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Intão, tinha trêis peça. PESQ.: Hã? INF.: Duas cambota, um mião. Mião ia no meio.(14; 384). Mião. É. Cambota era feita de trêis peça. (14; 388). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Cambota. He um dos paos com meya volta, de que se armaõ os tectos especialmente os estuques. 2. Morais: Cambota. s.f. Páo com meya volta, com que se armaõ os tectos. 3. Laudelino Freire: Cambota. s.f. 4. Lus. Parte curva da roda, onde se prendem os raios e sobre a qual é fixado o aro; camba. 4. Aurélio: Cambota. [Da raiz de camba1.] Substantivo feminino. 2.Parte circular da roda de carro (1), na qual se fixam os raios e o aro externo. 5. Amadeu Amaral: Cambóta. s. f. - cada uma das duas peças, em figura de segmento de círculo, que, com o meão, formam a roda do carro de bois. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cambota. Parte circular da roda do carro de boi. INF.:Intão,tinha trêis peça. PESQ.: Hã? INF.: Duas cambota,um mião.Mião ia no meio. (Ent. 14, linha 384) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cambota. Do lat. cambiare, “1813”. (CUNHA, 1986, p. 143) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Lusitanismo conforme Freire 111. CAMBUIA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ “Não assino, e não assino, eu não preciso de advogado pra isso não, sem escritura eu não tenho terra, não quero a terra, não preciso disso.” Vou comprá a fazenda fora, como comprei mesmo, comprei, mas eles já morrero tudo, já acabou essa cambuia também. (34; 301). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 138 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 112. CANDEERO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E o oto é candeero. O candeero é esse/ é acendia/ chamava candeia. Uma peça de ferro assim feita de/ feita na ferraria. Intão punha um pavio grande nela e enchia de azeite. ... E ali aquela/ a luz que usava ( ) candeero. (14; 212, 215). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Candeeiro. s.m. De candeia + eiro. Vaso de várias formas, em que se coloca azeite, querosene ou gás inflamável para iluminação. 4. Aurélio: Candeeiro. [De candeia1+ -eiro.] Substantivo masculino. 1.Aparelho de iluminação, alimentado por óleo ou gás inflamável, com mecha ou camisa incandescente; lampião, leocádio: “Acendia, tão logo anoitecia, um candeeiro de querosene” (Povina Cavalcanti, Volta à Infância, p. 18). 5. Amadeu Amaral: Candiêro1 s. m. - lamparina de lata, com torcida, e que se alimenta com azeite ou querozene. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Candeero. Objeto usado para iluminação,geralmente feito de metal, e alimentado por óleo ou gás. E o Oto é candeero.O candeero é esse/é acendia/chamava candeia.Uma peça de ferro assim feita de/feita na ferraria.Intão punga um pavio grande nela e enchia de azeite...E ali aquela/a luz que usava ( ) candeero. (Ent. 14, linhas 212 e 215) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Candiêro. Objeto usado para iluminação, geralmente feito de metal, geralmente alimentado por óleo ou gás. “ Que eu tenho uma ali... se ocê num sabe eu vou mostrá ocê... candeia...cadieiro... com azeite...eu já tive muito azeite aqui... e to com querosene ó... é... com querosene...lamparina é querosene e com candieiro... quem não tinha candieiro e nem querosene e num tinha dinheiro pra comprá...” (Entr. 6, linha 465) 4. Cordeiro (2013): Candiêro. Objeto usado na iluminação, geralmente feito de metal e alimentado por gás ou óleo. . Ês fazia de barro. Era. Lá em casa usava sempre era usava essa de que eles trata de candiero. (Entrevista 12, linha 396) 5. Souza (2014): Candiêro. Objeto usado para iluminação,geralmente feito de metal, e alimentado por óleo ou cera do mato. “...muita gente mais que podia comprava criosene...tinha aquele vidrinho feito/um candieiro...chamava candieiro...” (3;394) __________________________________________________________________________________________ Origem: Candeeiro. Do lat. candela.“Século XIV”. (CUNHA, 1986, p. 146) 113. CANDEIA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E o oto é candeero. O candeero é esse/ é acendia/ chamava candeia. Uma peça de ferro assim feita de/ feita na ferraria. Intão punha um pavio grande nela e enchia de azeite. ... Candeia... (14; 212, 217). “PESQ.: Como que tirava a água? INF. 1: Candeia. PESQ.: O que que era candeia? INF. 1: Candeia é um/ uma caxopinha assim. PESQ.: Ahn? E aí fazia o que com a candeia? INF. 1: Punha azeite/ azeite de mamona.” (9; 201, 203). 139 ...aí e tinha muita madera, muita candeia, né? (34; 68) Naquela época existia cantado de candeia. (35; 87) Mamona, aquelas candeia, já viu aquilo? Hoje ês compra aquilo pra enfeite, tu acende a candeia, a Rita aí tem. (36; 159, 160) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Candea. “Candea de garavato. He uma candea pequena sem pe, & que tem hum ganchosinho, donde se pendura.” 2. Morais: Candeia. “sf. Ant. vela. vaso de metal para luz; e a luz: v.g. “apagar a candeia”.” 3. Laudelino Freire: Candeia. “s.f. Lat. candela. Vaso de barro ou de folha que se usa suspenso da parede ou do velador e em que se coloca azeite ou querosene para alimentar a luz na torcida que sai por um bico do mesmo vaso: “Pelas frestas das casas contíguas às de Álvaro Pires bruxuleava o clarão das candeias e tochas” (Herculano).” 4. Aurélio: Candeia. [Do lat. candela, ‘vela de sebo ou de cera’.] Substantivo feminino. 1.Pequeno aparelho de iluminação, que se suspende por um prego, com recipiente de folha-de-flandres, barro ou outro material, abastecido com óleo, no qual se embebe uma torcida, e de uso em casas pobres; candela, candil: “Leva a candeia e vê se os alumia.” (Domingos Carvalho da Silva, Liberdade embora tarde, p. 34.) [Cf. lamparina (2).] 5. Amadeu Amaral: Candeia s. f. - árvore da fam. das Linantéias. Há grande e mirim, | O nome provém de que o pau é facilmente combustível, dando uma luz viva. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Candeia. Lat. Objeto usado para iluminação, geralmente feito de barro, e alimentado por azeite ou cera do mato. E o Oto é candeero. O candeero é esse/ é acendia/ chamava candeia. Uma peça de ferro feito de / feita na ferraria. Intão punha um pavio grande nela e enchia de azeite... Candeia...(Ent. 14, linhas 212 e 217) 2. Freitas (2012): Candeia. Obejto usado para iluminação,geralmente feito de barro, e alimentado por azeite ou cera do mato. “ Quano ele entro que bateu com o oi ne mim menina ê vicô cada candeia desse tamãe com o oi assim”(Ent.09, linha 162) 3. Miranda (2013): Candeia. Utensilho usado para iluminação,geralmente feito de barro, e alimentado por azeite ou cera do mato. “De querosene jacaré... é...querosene jacaré...lumiava era com querosene...com querosene...ou então com candeia de azeite...candeia ocê sabe o que que é num sabe?”(Entr. 6. Linha 462) 4. Cordeiro (2013): Candeia. Objeto de iluminação que se pendura à parede e funciona com a queima de um pavio embebido em óleo ou querosene. Fazia um negócio, uma candeia assim e punha um pavi. Mioava com azeite e ficava lumiano. (Entrevista 8, linha 267) 5. Souza (2014): Candeia. Objeto usado para iluminação, geralmente feito de barro, e alimentado por azeite ou cera do mato. “...pegava aquela vasilha de barro... que ês chamava.. como é que chamava ...era lamparina... é candeia...” (2;160). __________________________________________________________________________________________ Origem: Candeia. “sf. ‘pequeno aparelho de iluminação, abastecido com óleo’ ‘vela de cera’ / XVI, candea XIII / Do lat. candela.” (CUNHA, 1986, p. 146) 114. CANDIÊRO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Eu cheguei a arcançá um poco do tale candiero ... Candiero tem dois nome pra candiero. Tem o candiero é/ carrero de boi que chama os boina frente ( ). (14; 207, 209). O sinhor fazia o quê? INF. 1: Mixia cum carro de boi, candiero. (9; 11). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Candeeiro. “s.m. De candeia + eiro. 3.Homem que, armado de aguilhada, vai na frente dos bois, guiando-os. 140 4. Aurélio: Candeeiro. [De candeia1+ -eiro.] Substantivo masculino. 4.Bras. S. ES MG Carreiro (1): “Era o caso que faltava um candeeiro para guia dos seus bois.” (Nélson de Faria, Tiziu e Outras Estórias, p. 102.) 5. Amadeu Amaral: Candiêro2, s. m. - indivíduo, geralmente menino, que vai adiante do carro, com uma aguilhada, a servir de guia, e que também lida com os bois: “Enquanto o candieiro ajouja os bois, ocarreiro verifica as arreiatas a ver se não falta alguma peça . (A. S.) | Talvez altr. de “cangueiro”. Ou simples metáfora? __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Candiêro. Indivíduo que vai a frente do carro de boi. Eu cheguei a arcança um poço de tale candiero...Candiero tem dois nomes pra candiero. Tem o candieroé/ Carrero de boi que chama os boi na frente ( ). (Ent. 14, linhas 207 e 209) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. Regionalismo conforme Aurélio. 115. CANELA DE VÉIO NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...mas como chama a madeira que o senhor colocou aqui? INFORMANTE: Canela de véio. (19; 290). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Canela de velho. s. f. Designação comum a duas plantas ornamentais da família das compostas (zinnia elegans, Jacq.; Zinnia Haageana, Regel). 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 116. CANGA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Laçava, marrava, punha uma cangaia no pescoço dele assim. Ele ficava dereiano caquela cangaia até tirá corda do pescoço pa depois po a canga. (4; 141). É essa aqui ó. Agora essa aqui é a canga. ... Aí põe a canga. (4; 208, 211). No máximo é vinte boi. É/ normalmente é... Intão tinha as canga que cangava ( ) que/ as canga que ia pa imendá aquilo lá tudo... (14; 345, 346). Intão tinha as canga e os tamoero. (14; 350). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Canga. “He hum pao grosso com faces, o qual puxão os boys, para levare o carro, com os pescoços numas travessas, a que chamão cangalhos. Jug. i. Neut. Cic.” 2. Morais: Cánga. “sf. O jugo, com que se jungem os bois para a lavoira.” 141 3. Laudelino Freire: Canga. “s.f. Jugo de madeira, com que se prendem os bois para o trabalho.” 4. Aurélio: Canga. [Do celta *cambica, ‘madeira curva’, poss.] Substantivo feminino. 1.Peça de madeira que prende os bois pelo pescoço e os liga ao carro, ou ao arado; jugo: “um boi magro .... esticava o pescoço esfolado pela canga e mugia” (Coelho Neto, Sertão, p. 79). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Canga. Peça de madeira que une os bois pelo pescoço e é acoplada ao carro de boi. Laçava, marrava, punha uma cangaia no pescoço dele assim. Ele ficava dereiano caquela cangaia até tirá corda do pescoço pá depois pô a canga. (Ent.4, linha 141) 2. Freitas (2012): Canga. Peça de madeira que une os bois pelo pescoço e é acoplada ao carro de boi • “Sabe que que nós teve que fazê? tirô as canga dos boi dexô os boi imbora e trepô ... era rancho trem di cumida tava tudo lá dento sabe? que que nós fez ... nós teve que trepá no pau a inchente tapô tudo” (Ent. 11, linha 05) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013):n/e 5. Souza (2014): Canga. Peça de madeira que une os bois pelo pescoço e acoplada ao carro de boi. “...aí pegava uma parelhona de boi...enfiava a canga no cangote do bicho...” (39;614). __________________________________________________________________________________________ Origem: Canga¹. “ ‘peça de madeira que prende os bois pelo pescoço e os liga ao carro ou ao arado’ 1813. Provavelmente do célt. *cambica ‘madeira curva’, de cambus ‘curvo’” (CUNHA, 1986, p. 147) 117. CANGAIA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Laçava, marrava, punha uma cangaia no pescoço dele assim. Ele ficava dereiano caquela cangaia até tirá corda do pescoço pa depois poa canga. (4; 140, 141). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Cangalhas. Armadilha de paos, q fromaõ como huma grade larga, para sustentar as quartas, que os Aguadeiros carregaõ nas bestas. 2. Morais: Cangalhas. s.f. pl. Duas como canastras de grades de páo, que se acommodaõ no seladouro das bestas, pendendo de cada ladoduas, para estas cargas. 3. Laudelino Freire: Cangalhas. s.f. pl. Armação que se coloca sobre o dorso das bêstas e em que se sustenta e equilibra a carga de um e outro lado. 4. Aurélio: Cangalhas. [Pl. de cangalha.] Substantivo feminino plural. 1.Armação de madeira ou de ferro em que se sustenta e equilibra a carga das bestas, metade para um lado delas, metade para o outro; cangalha. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cangaia. Armação de madeira ou de ferro e que se sustenta e equilibra a carga das bestas, metade para um lado delas,metade para o outro lado. Lançava tirá corda do pescoço PA depois pô a canga. (Ent. 4, linhas 140 e 141) 2. Freitas (2012): Cangaia. Cel Armação de madeira ou de ferro em que se sustenta e equilibra a carga das bestas,metade para um lado delas, metade para o outro lado. “Sabe quanto que nós vindia? Oito mil réis o saco... oito eu tem muita coisa aí resto de cangaia coisa que eu vendi com essa farinha desse preço comprei cangaia esssas coisa era um home que vinha lá de Taquaraçu com a tropa dele comprava nossa farinha”. (Ent. 04, linhas 402 e 403) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Cangaia. Armação que se coloca no lombo dos animais feito em madeira e compartimentos laterais para armazenar carga. . Ele contando que um dia ele pôs a cangaia no burro e foi quando chegô lá no, na casa do home lá banado do Jequitinhonha. 5. Souza (2014): Cangaia. Armação de Madeira ou de ferro que sustenta e equilibra a carga das bestas, metade para um lado, metade para o outro lado. “...aí colocaba na cangaia do burro... que a cangaia do burro é feita de duas partes né?” (22;541) __________________________________________________________________________________________ Cangalhas. “1813”, provavelmente do célt. *cambica ‘madeira curva’, de cambus ‘curvo’” (CUNHA, 1986, p. 147) 142 118. CANIÇO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Mais ês fazia só de taquara, né? Intão, tinha a istera dipois a parte de tráis pa fechá a istera, ela era vortiada assim. PESQ.: Hã? INF.: Era caniço. PESQ.: Caniço? INF.: Chamava caniço. Era uma peça.... PESQ.: Caniço eu já ouvi falar nessa peça, mais eu não sei como é que é que é não. INF.: Intão, era de po atráis pa num/ pa fechá, né? (14; 444, 446). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Caniço. São humas armaçoens de verga, que assentaõ nas ilhargas, & cabeceiras dos carros, & os fechaõ, para nelles levarem carga de cousas miúdas como palhas, &c. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Caniço. s.m. De cana + iço. 8. Trançado que se coloca nos carros, quando conduzem carga leve ou miúda. 4. Aurélio: Caniço. [Do lat. vulg. *canniciu, ou de can(i)-2 + -iço.] Substantivo masculino. 5.Bras. Trançado de caniços ou canas delgadas com que se fecha a parte traseira dos carros de boi, com que se fixam nos carros a carga leve e miúda, etc. 5. Amadeu Amaral: Caniço s. m. - cobertura de taquaras sobre a mesa do carro de bois. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Caniço. Trançado que se coloca nos carros de boi, quando conduzem carga leve ou miúda. INF.: Mais ês fazia só de taquara, né? Intão,tinha a estera dipois a parte de tráis pá fechá a istera, ela era vortiada assim. PESQ: Hã? INF.: Era caniço. PESQ.: Caniço? INF.: Caniço? INF.:: Chamava caniço. Era uma peça... (Ent. 14, linhas 444 e 446) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda(2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Caniço. XVI. Do lat. vulg. *cannicium. (CUNHA, 1986, p. 145) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 119. CANJERANA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Essa é canjerana... (36; 30) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Canjerana ―s.f. Planta da família das meliáceas, de boa madeira de construção, também chamada cajarana, canjarana, caiarana, cedro-canjerana e cedro-ná (Cabralea canjerana).‖ 4. Aurélio: Canjerana ―[de origem indígena] s.f. Bras. Bot. 1. Designação comum à várias espécies do gênero Cabralea, da família das meliáceas, de madeira vermelha, aromática e fácil de trabalhar.‖ 5. Amadeu Amaral: Canjarana, Canjerana, Cajarana. s. f. - árvore da fam. das Meliáceas: "...tomar da foice, subir ao morro, cortar a canjerana, atorá-la, baldeá-la às costas e especar a parede..." (M.L.). | H. P. regista ainda o sinon. "pau de santo". A árvore dá um fruto em forma de cajá, o que torna aceito o étimo "acajá" "rana", falso, parecido. Neste caso, a forma exata será cajarana, podendo explicar-se a nasalidade do primeiro a por influência do terceiro, acentuado, ou por influência de canja. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Canjerana. Espécie de árvore de madeira avermelhada, aromática, boa para construção. ―Aqui é essa jabuticaba... tinha uma canjerana...‖ (18;573). __________________________________________________________________________________________ 143 Origem: Canjerana: sf. ‘planta da fam. das meliáceas’ | 1869, cangirana 1763| Do tupi*akaia’rana < aka’ia ‘cajá + rana ‘semelhante’. (CUNHA, 1986, p. 148) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 120. CANJIQUINHA DE MILHO NCm [Ssing + prep. Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...e então ainda tinha aquela canjiquinha de milho... (36; 221). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Cangíca. s.f. t. do Bras. Papas sobre o duro, feitas de farinha de milho, mole espremido. 3. Laudelino Freire: Canjica. s.f. Do quib. 2. Papas de milho. 4. Aurélio: Canjiquinha. sf. Bras. 1.Papa de milho ralado, cozido no leite. 5. Amadeu Amaral: Cangica1. s. f. - milho quebrado, para se comer cozido; o mesmo, já preparado. | Tem outras acepções, no Brasil. - Dão-lhe alguns procedência indígena; outros o derivam de canja, voc. este de orig. oriental (Mons. Dalg.) com a signif. primitiva de "caldo de arroz". __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Canjica. sf. ‘papa cremosa feita com milho’| -gi- 1844. (CUNHA, 1986, p. 148) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 121. CANTADÔ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ A Compania é sete ou oito cantadô. Mais sempre ia mais porque uns cansava, né? (14; 476). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Cantador. adj. Que canta. 4. Aurélio: Cantador .(ô) [Do lat. cantatore.] Adjetivo. 1.Que canta. 6. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cantadô. Aquele que canta. A Compania é sete ou oito cantado. Mais sempre ia mais porque uns cansava,né? (Ent. 14, linha 476) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cantador. Do lat. cantare, “XIV”. (CUNHA, 1986, p. 148) 122. CANTIGA DE GAVIÃO NCf [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Hã? Oi? Passô. O povo antigamente tinha muita história, muita crença? INF.: Nó, tinha munta dessas bobera. PESQ.: É? INF.: ( ) passarinho, cantiga de gavião, curuja... PESQ.: Cantiga de gavião? INF.: É. PESQ.: Por que se escutasse o gavião cantando era ruim? INF.: Era agoro. (1; 318). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 144 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 6. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Cantiga de gavião. Canto entoado por gaviões. PESQ.: Hã? OI? Passô. O povo antigamente tinha muita história, muita crença? INF.: Nó, tinha munta dessas bobera. PESQ.: É? INF.: ( ) passarinho,cantiga de gavião,curuja... PESQ.: Cantiga de gavião? INF.: É. PESQ.: Por que se escutasse o gavião cantando era ruim? INF.: Era agoro. (Ent. 13, linha 318) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013):n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cantiga. sf. ‘poesia cantada’ ‘quadra(s) para cantar’ XIII. Voc. aparentado com canto, de cantar, mas sua formação não é muito clara; talvez proceda de um célt. * cantica, deriv. da raiz célt. Can-, de mesmo significado e da mesma raiz indo-européia que a raiz latina. (CUNHA, 1986, p. 148) Gavião. sm. ‘designaçõa de grande número de aves falconiformes’ / gauiã XIII/ provavelmente do germânico *gavilane. (CUNHA, 1986, p. 381) 123. CANTURIA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí era aquea canturia. Era bunito.. Eu lembro poco. Hoje em dia num tem nada mais disso. (13; 420). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Cantoria. s.f. De cantor + -ia. 1.Ação de cantar. 4. Aurélio: Cantoria. [De cantor + -ia1; esp. cantoría.] Substantivo feminino. 1.Ação de cantar; canto, cantarola. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Canturia. Ação de cantar, canto. Aí era aquea canturiA. Era bunito.. Eu lembro poco. Hoje em dia num tem nada mais disso. (Ent. 13, linha 420) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Cantoria. Do lat. cantorem // XVII. (CUNHA, 1986, p. 149) 124. CANZIL Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Tinha os tamoero, dipois tinha os canzil que era os buraco que ia imbaxo pa botuá no pescoço do boi. (14; 356) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Canzil. (Termo de Atafona) Os canzis saõ dous paos, com suas brochas, que puxão pelos tirantes à Mula, que faz andar a pedra. 2. Morais: Canzil. s.m. us. no plur. Canzis. Páos da atafona, que puxaõ pelos tirantes das bestas. 3. Laudelino Freire: Canzil. s.m. O mesmo que cangalho.//2.Cada um dos dois paus presos aos tirantes ou por baixo da canga, entre os quais se põe o pescoço do boi ou cavalo. 4. Aurélio: Canzil. [Do port. *cangil despois- caso de epêntese). Dispois eu vim na/assisti uma peça na Ventania. (Ent.15, linha 464) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Despois ~ dispois ~ depois. Que vem logo a seguir. Variante de depois (depois > despois – caso de epêntese). ―... agora despois de eu velho... de eu grande... aí eu caçava.‖ (2;211). / ―... aí dispois que ela casou eu fui pra lá.‖ (2;63). / ―... daí dipois o... o... ele vendeu a fazenda.‖ (1;51). __________________________________________________________________________________________ Origem: Depois. adv. ‘em seguida, posteriormente’ XIII. Do lat. depost. (CUNHA, 1986, p. 248) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Arcaísmo 222. DISQUILIBRAR [V] __________________________________________________________________________________________ O O. toda vida duente, mais agora de certo tempo pra cá, coitado. Ê disquilibrô memo. (15; 871) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e 195 __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Disquilibrar. Piorar de saúde. O O. toda vida duente,mais agora de certo tempo pra cá,coitado. Ê disquilibrô memo.(Ent.15, linha 871) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Desequilibrar. vb. Do fr. desequilibre, 1881. (CUNHA, 1986, p. 309) 223. DO ARCO DA VÉIA [Loc Adv] __________________________________________________________________________________________ Do arco da véia, da moda do ditado, né? (21; 01). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Do arco da velha. 2 Diz-se de coisas ou fatos espantosos ou inverossímeis: Coisas do arco da velha. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: Do arco da velha. s. m. - arco-iris. | Paiva, nas "Inferm. da Língua" (séc. XVIII), coloca este termo entre os que cumpre evitar. O "Novo Dic." só o regista em sua última ed. – No Brasil, é corrente a frase "coisas do arco-da-velha", por "coisas extraordinárias, surpreendentes". __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Arco-da-velha (n/A) NCm [Ssing + {Prep + Ssing}] Port. Expressão que exprime surpresa ou algo extraordinário, espantoso. ―Ah brincadeira então eu vou falar pr‘ocê... agora vai sair coisa do arco-da- velha.‖ (6;09). __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 224. DORAIADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Tô cuma doraiada. (15; 2) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Doraiada. Sentir muitas dores. Tô numa doraiada. (Ent. 15, linha 2) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 225. DROBADORA Nf [Ssing] 196 __________________________________________________________________________________________ Não, tinha um negócio chamado drobadora, eles fazia, o fiado tava na rorda, e aí passava pra drobadora assim, óia, chamava miada, era de tingir aquelas miada de quarqué cor bunita tamém p[r]as cocha, sabe. (27; 66). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 226. DRUMIR [V] __________________________________________________________________________________________ Que não drumia de noite por causa do medo do bicho. (1; 93) Invadiu o rancho que num tinha lugá ninhum pra drumí. (2; 150) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Drumir. Deixar de estar acordado,descansar no sono. Invadiu o rancho que num tinha lugá ninhum pra drumi. (Entr. 2, linha 150) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Drumir. Descansar no sono;deixar de estar acordado.Variante de dormir(dormir>drumir-caso de metátese)”...caminhava a noite toda...e drumia ni casa sozinho lá pra roça...”(2;403). __________________________________________________________________________________________ Origem: Dormir. vb. ‘deixar de estar acordado, descansar no sono’ XIII. Do lat. dormire. (CUNHA, 1986, p. 277) E 227. EM ANTES [Loc Adv] __________________________________________________________________________________________ Eu vô fazê só mais uma verdura e o arroiz. É iguale ieu. Se eu fô fazê, tem o arroiz pronto, se o L. num fô sai trabuçano em antes do armoço, ieu isquento aquele ali que eu fiço onti. (13; 10) Dipois, em antes desse povo casá... (15; 785) 197 ...aqui, já, é, na fazenda em antes... (34; 209) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: In antes. em antes, loc., usada as vezes pela forma simples “antes”: “Estive lá ainda em antes que ele chegasse”. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Em antes. Antes, anteriormente. Eu vô fazê só mais uma verdura e o arroiz. É iguale ieu. Se eu fô fazê,tem o arroiz pronto,se o L. num fô sai trabucado em antes do armoço,ieu isquento aquele ali que eu fico onti. (Ent.13, linha 10) 2. Freitas (2012): Im ante. Antes. • “ pegô e deu uma foiçada no pé do coquêro levantô a foice deu ôtra foiçada im ante de enterá a tercêra eu falei “o nêgo vem cá cê num vai fazê nada não cê vai ficá vigiano é (D...) aqui ó”” (Ent.04, linha 109) 3. Miranda(2013): Em ante. Antes, anteriormente. “...depois que passo muito tempo em ante da polícia chegá é que ele escapuliu... e caiu fora... mas mesmo assim depois ele foi preso...”(Entr.3,linha 191) 4. Cordeiro (2013): Em ante. Antes, anteriormente, na frente. . Quando chegava na boca da ilha em ante dos pexe... (Entrevista 12, linha 418) 5. Souza (2014): Em ante. Que antecede no trempo; ante, anteriormente. “... mas em ante dessa barragem aí esse rio dava enchente de fazer medo viu?”(42;241) __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 228. EMBORNAZADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ É... eucalipero. Oto dia até peguei uma embornazada. Veio num sábado aqui. Falei “oh, vô pegá aí, o que as arve tivé.” Parece que tá semo bão a ( ). (13; 107) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Embornazada. Embornal cheio ou quase de qualquer conteúdo. É... eucalipero. Oto dia até peguei uma embornazada. Veio num sábado aqui. Falei “ oh,vô pegá aí,o que as arve tive.” Parece que ta semo bão a ( ). (Ent.13, linha 107) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro( 2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 229. EMBULIA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Pa fazê a festa do casamento. Munta muié qu tinha lá em casa pa ajudá no casamento. Ieu num gostei de vê matá porco. PESQ.: Ah! INF.: Quando nóis ingordava porco, aquilo, no dia de matá, eu sufria/ eu curria lá pra baxão. PESQ.: A sinhora num via mesmo? INF.: Dava uma embulia. (10; 617) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 198 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Embulia. Raiva, nervosismo. INF.: Quando nóis ingordava porco,aquilo,no dia de matá,eu sufria/eu curria lá pra baixão. PESQ.: A sinhora num via mesmo? INF.:Dava uma embulia. (Ent.10, linha 617) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 230. EMPACHADA Nf [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Tia G., qué vê uma coisa que o papai fazia pa nóis e era um santo remédio. Quando/hoje eu falo criança não acontece isso mais, né? Por que que as criança ficava empachada. (1; 436) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire:Empachado. adj. P. p. de empachar. Obstruído, sobrecarregado, repleto, cheio. 4. Aurélio: Empachado . [Part. de empachar.] Adjetivo. 2.P. ext. Que tem o estômago empachado. 3.Bras. S. Diz-se de pessoa de ventre volumoso, rotundo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Empachada. Característica de ventre volumoso,barriga dura. Tia G. qué vê uma coisa que o papai facia pra nóis e era um santo remédio. Quando/hoje eu falo criança não acontece isso mais, né? Por que que as criança ficava empachada. (Ent.1,linha 436) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Empachado. Do ant. fr. empeechier. XIV. (CUNHA, 1986, p. 292) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 231. EMPIPOCAR ~ PIPOCAR [V] __________________________________________________________________________________________ Urtiga é aquele que você passa assim, e ele empipoca na hora. (2; 64). Não, pipoca tudo. (2; 69). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Empipocar: v. intr. De em + pipoca + ar. Formar bolhas ou pústulas no corpo. 4. Aurélio: Empipocar: v. int. Bras. Criar pústulas ou borbulhas. 5. Amadeu Amaral: Impipocar. v. t. - criar pipocas, borbulhas ou coisa parecida: "A parede impipocô, de certo porque o rebóque foi mar feito". - "Eu estô com a cara impipocada de bertoeja". | V. PIPOCÁ(R). __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 199 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Empipocar: XX Lat. __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 232. ÉPOCA MAIS PRA TRÁS [Loc Adv] __________________________________________________________________________________________ ...mas teve uma época mais pra trás... (1;213) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 233. EMPRASTO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E o outo era/Ai como que era/falava emprasto/ assim. ... Emprasto, mas o emprasto era mais fraco (1; 350, 351) Emprasto era quando fazia assim/era/era mato, era pranta. Então pegava a pranta colocava numa “vazi[lh]a” ou pano. A mamãe massava num pano. Massava, massava, mas o que que colocava eu num sei. Depois vinha caquele punhado de coisa e batia no lugar da gente assim ó. ... O emprasto esfregava, esfregava, esfregava ali ó. (1; 377, 381) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Emplasto. Emprasto. Emplastro. Derivase do grego En, &Platein, Fazer, Formar, ou Pegar Fazendo. He pois Emplasto, Medicamento exterior de substância solida, & glutinosa, composto de vários simples, ou drogas, amassadas num corpo. 2. Morais: Emplásto. s.m. Medicamento de varias drogas amassadas, e encorpadas de ordinário com óleo, applica-se externamente para tapar os poros, e mollificar algum tumor; ou para se introduzir por elles alguma parte, de que é composto, como mercúriáes, confortativos, &c. 3. Laudelino Freire: Emplastro. s.m. Lat. emplastrum. Farm. Medicamento sólido e consistente que amolece com o calor, o que facilita a sua aderência aos corpos ou parte dos corpos com que está em contato. 4. Aurélio: Emplastro. [Do gr. émplastron, pelo lat. emplastru.] Substantivo masculino.1.Medicamento que amolece ao calor e adere ao corpo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Emprasto. Medicamento que amolece ao calor e adere ao corpo. Emprasto era quando fazia assim/era/era mato, era pranta. Então pegava a pranta colocava numa vazia ou vazia ou pano. A mamãe massava num pano. Massava,massava,mas o que que colocava eu num sei. Depois vinha caquele punhado de coisa e bária no lugar da gente assim ó... O emprasto esfregava,esfregava,esfregava ali ó. (Ent.1, linhas 377 e 381) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 200 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Emplastro. sm. ‘medicamento que amolece ao calor e adere ao corpo’/XV, -prasto XIV/Do ant. fr. emplastre (hoje emplâtre), deriv. do lat. emplastrum –i. (CUNHA, 1986, p. 293) 234. EM RODA [Loc Adv] __________________________________________________________________________________________ ...e vai lá no quartinho e chora em roda de mim. (1; 152) Agora as pessoa populares, a gente da vorta em roda ali cos namorado. Em roda do jardim ficava assim. (10; 216) De abri em roda assim da mesa. (10; 439) Ê criô um povão e comprava um pedacinho de terra em roda dali. (13; 257) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Em roda. Ao redor,em volta. Agora as pessoas populares, a gente da vorta em roda ali cós namorado. Em roda do jardim ficava assim. (Ent.10, linha 216) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Em roda. Ao redor, em volta. . Quando os cachorro latia no mato que vinha partino pro lado do reberão porque ela vem cirquim do reberão. Aí ele já ficava em roda do reberão. (Entrevista 3, linha 300) 5. Souza (2014): Em roda. Que está ao redor,em volta. “... aí fez o mercadinho... assim só de pedaço de pau...fez a ferinha... num tinha nada em roda nem nada...”(16;19) __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 235. ENCARRIAR [V] __________________________________________________________________________________________ Intão põe ela incarriada assim e... (14; 427) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Encarrilhar. v.r.v. Corr. de encarrilar. Meter ou por nos carris, trilhos ou calhas. 4. Aurélio: Encarrilhar. v.t.d. 2. encarreirar. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Encarriar. Colocar objetos ou animais um atrás do outro. Intão põe ela pá incarriá assim e... (Ent.14, linha 427) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Encarrilhar. Do lat. vulg. discarricare, XVIII. (CUNHA, 1986, p. 159) 236. ENCRUZILHADA Nf [Ssing] 201 __________________________________________________________________________________________ E tem muita encruzilhada, a estrada tá até boa... (31; 164) ...é cheia de lavoura, muita encruzilhada praqui e prali. (31; 169) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Encruzilhada. Dois caminhos, que se travessão em cruz, Duarum viarum se transverse secantium concursus. Encruzilhada. Lugar, em que três, ou quatro ruas se cruzão. Compitum,i. Neut. Trivium, is. Neut. Cic. Quadrivium, is. Neut. Catull. Esta ultima palavra não se muito usada em prosa. As uas primeira se dizem de qualquer encruzilhada em geral. Coisa de encruzilhadas, ou concernete a encruzilhada. Compitalis, le, is. Suet. Compitalitius, a,um. Cic. 2. Morais: Encruzilhada. s. f. Encontro de caminhos, que se cruzão. Alfaiata de encruzilhadas; fig. a que faz bom barato do seu serviço, ou préstimo. Eufr. I. 2. Fig. a pessoa, que todos ocupão. E serve de graça. E pois alguma coisa de seu, como as linhas de casa. 3. Laudelino Freire: Encruzilhada. Ponto em que se cruzam caminhos. 4. Aurélio: Encruzilhada. Ponto onde várias ruas e caminhos se cruzam. 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 237. ENDEREITAR [V] __________________________________________________________________________________________ Endereitava. Troxe a cama, desmanchô a cama dele. Toxe áqüea ali ó. (15; 877) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Endereitar. Vid. Endireitar. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Endereitar. Melhorar algo ou alguém. Endereitava.Trouxe a cama,desmachô a cama dele.Toxe aquea ali ó... (Ent.15, linha 877) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Endereitar. Do lat. dirigere. XVI, endereitar XV. (CUNHA, 1986, p. 268) 238. ENGERSSAR [V] __________________________________________________________________________________________ Não, nóis vai seca a perna da senhora que é mais fácil.” Eu falei: “Não, de jeito nenhum, eu vou curá ela com água e sal.” E aí peguei e vim embora, aí ele num quis fazê nada pra mim, não engerssô, não infachô, nem nada, mas hoje tá com 74 dia que eu tô com esse pé desse jeito. (33; 110). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Engessar. Usaremos quando o acharmos em um bom Author. 2. Morais: Engessár. v. at. Branquear com gesso. 202 3. Laudelino Freire: Engessar. v. tr. De en + gêsso + + ar. Cobrir com gêsso. ||2. Branquear com gêsso. 4. Aurélio: Engessar. v.t.d. 1. Cobrir de gesso. 2. Colocar gesso sobre, para atar fratura. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 239. ENJOADO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Ele era enjoado, se a pessoa num desse pra sai bem, ele falava: “Óia, vamo pra frente, se não o cavalo te pisa.” Deus me livre. (4; 201) Separou, era enjoado, eu pensei em ir... (23; 213) Achava que ele era muito novo, enjoado, queria que a gente casasse... (13; 84) Enjoada, Nossa Senhora. As pessoa de primero era custoso demais. (13; 152) Esse povo é enjoado demais. (34; 64) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Enjoado. p. pass. de Enjoar. Eufr. 2.5. fig. Aborrido, com tédio, ensastiado. Sd. Mir. Carta 5. Est. 44. via-me enjoado (da vida) assim; ao som por onde os maus andão. 3. Laudelino Freire: Enjoado. Aborrecedor, importuno, antipático. Mal humorado, enfastiado. 4. Aurélio: Enjoado . 3.Aborrecido,enfastiado. 5. Amadeu Amaral: Injuado, enjoado. part. - saciado, aborrecido: "Tô injuado desta terra". Assume a signif. ativade impertinente, cerimonioso, antipático: "Aquilo é sojeito injuado, que ninguém aguenta". __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Enjoado. XVI. Do a. prov. (CUNHA, 1986, p. 300) 240. ENVIR [V] __________________________________________________________________________________________ E daí quando nóis todo mundo () nóis envinha embora, os cachorrinho da C.... envinha um grandão. (1; 124, 125) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 203 1. Ribeiro (2010): Envir. O mesmo que vir. E daí quando nóis todo mundo ( ) nóis envinha embora, os cachorrinho da C....envinha um grandão. (Ent.1, linhas 124 e 125) 2. Freitas (2012): Envir. O mesmo que vir. “Eu envinha lá do Cardoso eu fui lá fiquei conversano com o (A...B...) chamano ê pra vim trabaiá e vim trabaia junto com a turma de segunda fera”(Ent.02, linha 31) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 241. ERVA SANTA-MARIA NCf [Ssing + Ssing + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí, ê pega e colocava aquela prasta/ colocava aquela erva Santa Maria tamém, ês gostava de colocá ela. (1; 327) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Erva-santa-maria. V.Ortelã Francesa. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Erva-santa-maria.Substantivo feminino. 1.Bras. Bot. V. erva-de-santa-maria. [Pl.: ervas-santa- maria.] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Erva Santa-Maria. Planta usada para fazer chá,espécie de hortelã. Aí, ê pega e coloca aquela prasta/colocava aquela erva Santa-Maria tamém,ês gostava de colocá ela. (Ent.1, linha 327) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 242. ESBAGAÇADO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Aí ê perguntô meu pai se ele num sabia onde tava a mãe da égua que ele tinha emprestado. Meu pai falô: “ah, eu num sei. Mais pra que que cê quiria?” Não, é porque se eu subesse aonde ela tá, eu ia comprá ela pa num pari uma égua tão ruim iguale essa que eu tô esbagaçado. (8; 25) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Esbagaçado. O mesmo que cansado. Aí ê pergunto meu pai se ele num sabia onde tava a mãe da égua que ele tinha emprestadomeu Pai falô: “ ah, eu num sei. Mais pra eu que CE quiria?” Não, é porque se eu subesse aonde ela ta,eu ia comprá ela pa num pari uma égua tão ruim iguale essa eu to esbagaçado. (Ent.8, linha 25) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ 204 Origem: n/e 243. ESCADERA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ A escadera dueu e eu falei: “num é nada e cuntinuei a trabaiá.” Somei cum nada não. A coluna virô. (15;799) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Escadera. O mesmo que quadril. A escadera dueu e eu falei: “num é nada e cuntinuei a trabaiá. “ Somei cum nada não. A culuna virô. (Ent.15, linha 799) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 244. ESCAROÇAR [V] __________________________________________________________________________________________ Eu disfiava, eu judava minha mãe escaroçá o argodão, escaroçá, depois chamava batê, num arco que tinha assim, de bate o argodão, depois cardá e fiá. (27; 05). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Descaroçár. v. at. Tirar o caroço. 3. Laudelino Freire: Escaroçar: v. tr. dir. De es + caroço + ar. Lus. Descamisar (milho). 4. Aurélio: Descaroçar. v.td. Tirar os caroços. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Descaroçar. 1813|| Origem controvertida. (CUNHA, 1986, p. 157) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Lusitanismo conforme Freire. 245. ESTABANADO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Mas ele era muito estabanado, ele rumava mal arrumado... (16; 578) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Estabanádo. adj. Inquietoe, adoidado no andar, e no que faz; sem tento, como o que é mordido d atabão, ou atavão. 3. Laudelino Freire: Estabanado. adj. O mesmo que estavanado: “estugando o animal com estabanados gestos.” 4. Aurélio: Estabanado. adj. 2. Desajeitado, desastrado. 205 5. Amadeu Amaral: Estabanado. Estavanado, q. - estouvado. | "Mordido do tavão" (cp. "alacranado", mordido de alacrã), segundo J. Mor., "Estudos", 2.º v., p. 229. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Estabanado: adj. ‘que tem maneiras precipitadas’ 1813. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 758) 246. ESTAR DE IDADE [Fraseologia] __________________________________________________________________________________________ ...e eu tô aí mexendo com lavora, tô de idade, né? (31; 35) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e. 2. Morais: n/e. 3. Laudelino Freire: n/e. 4. Aurélio: n/e. 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 247. ESTAR NUM PONTO DE RAIVA [Fraseologia] __________________________________________________________________________________________ ...eu revortada por causa disso, fia, eu tô num ponto de raiva. (33; 9). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 248. ESTOPORAR [V] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Mas o que que eles falam mesmo, por exemplo, a pessoa que ta torrando café aí ta naquele calor e sai no frio? INF.: Estopora. PESQ.: É isso mesmo. Eu já ouvi muito essa expressão da minha avó. INF.: Estopora. PESQ.: Ela entorta a boca. (11; 139, 141) 206 __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Estoporar. Resfriar-se, gripar-se. PESQ.: Mas o que que eles falaram mesmo, por exemplo,a pessoa que ta torrando café aí naquele calor e sai no frio? INF.: Estopora.PESQ.: É isso mesmo. Eu já ouvi muito essa expressão da minha avô. INF.: Estopora.PESQ.: Ela entorta a boca.(Ent.11, linhas 139 e 141) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 249. ESTORVAR [V] __________________________________________________________________________________________ É, depois eu fui assim, virando rapaizinho, fui pras fazenda dos outro, morava sozinho, num chapadão tirano leite, suzinho e Deusu, não tinha ninguém pra da moda, me estorvá e fazer eu... (32; 335) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Estorvar. Rebentar com estrondo. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Estovar. v. tr. dir. Ital. sturbare. Pôr estôrvo a; importunar, incomodar. 4. Aurélio: Estorvar: v.t.d. 1. Causar estorvo a; embaraçar. 2.Impedir; tolher. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Estorvar: vb. ‘impedir, prejudicar’ XIII. Do lat. esturbare. (CUNHA, 1986, p. 332) 250. ESTRANHAR [V] __________________________________________________________________________________________ Parece que eu tô estranhando vocês, uai. (23; 03). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Estranhar. Estranhar a alguém. Não conhecello. 2. Morais: Estranhar. v. at. não conhecer, e achar-se novo a respeito de alguém, ou de algum lugar, uso, moda, modo de vida, estado novo, e sofrer algum embaraço. 3. Laudelino Freire: Estranhar: Adj. p. p. 1 De estranhar. Que se estranhou. 2 censurado. 3. Pop. Tímido ou acanhado diante de gente a quem mal conhece ou não conhece. 4. Aurélio: Estranhar. 3. Fam. Esquivar-se de pessoa desconhecida. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 207 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Estranhar. XIII. (CUNHA, 1986, p. 333) F 251. FAZEDÔ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Zé Curinga que é bão pra contá história, que ele era o cremeiro, fazedô de creme lá. (16; 66). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Fazèdor. s.m. O que costuma fazer. 3. Laudelino Freire: Fazedor. s.m. Aquele que faz alguma cousa ou costuma fazê-la. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fazedor. Do Latim Ecles. Refectorium-ii.Cp.FATO’ XV. (CUNHA,1986, p. 351) 252. FECHO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...jogava fecho de lenha no terrero... (16; 318) ...jogava o fecho de lenha no terrero... (16; 329) ...cortava um fecho de cana... (16; 689) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 253. FEJÃO FRITO NCm [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ 208 Mas aí fui criado assim, fejão frito que eles fala, né? (36; 240) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e _________________________________________________________________________________ _________ Origem: Feijão. sm.’fruto do feijoeiro, nome comum a várias plantas da fam. Das leguminosas’/feijoes pl. XIII/ Do lat. faseolus –i. (CUNHA, 1986, p. 352) Frito. XIII. Do lat. frictus. (CUNHA, 1986, p. 369) 254. FEJÃO PAGÃO NCm [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Fejão, fejão cozido. A mamãe falava fejão pagão. Pegava aquele fejão pagão e massava na mão assim... (1; 592) Aí cê pegava aquê fejão pagão/ É pagão porque não tem nada. Num tem sal, num tem gurdura, num tem nada. (1; 599) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Fejão Pagão. Feijão sem reforgar e sem tempero. Fejão,fejão cozido. A mamãe falava fejão pagão. Pegava aquele fejão pagão e massava na mão assim... (Ent.1, linha 592) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Feijão. sm.’fruto do feijoeiro, nome comum a várias plantas da fam. Das leguminosas’/feijoes pl. XIII/ Do lat. faseolus –i. (CUNHA, 1986, p. 352) Pagão. adj. sm. ‘relativo ou pertencente ao, ou próprio do individuo que não foi batizado’ XIII. Do lat. paganus. (CUNHA, 1986, p. 571) 255. FIADO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E nóis tinha que cortá, abri ficava no balaio certinho assim. Aí cardava, a mamãe cardava/ as muié fiava. Eas fazia murtirão de fiado, eu lembro. Cada uma lá vai ca sua rodinha na cacunda. Aí fazia esse fiado, ticia e fazia gasaio de frio. (13; 541, 542) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Fiado. Part. Pass. De Fiar. V. o verbo 209 3. Laudelino Freire: Fiado. s.m. De fiar1. Substância filamentosa, reduzida a fio. 4. Aurélio: Fiado. [Part. de fiar1.] Substantivo masculino. 3.Substância filamentosa reduzida a fio. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Fiado. O mesmo que fio,linha. E nóis tinha que cortá,abri ficava no balaio certinho assim. Aí cordava,a mamãe cordava/ as muié fiava. Eas fazia murtirão de fiado eu lembro.cada uma lá vai Ca sua rodinha na cacunda. Aí fazia esse fiado,ticia e fazia gasaio de frio. (Ent.13,linhas 541 e 542) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2008): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fiado. Do lat. filum –i, XIV. (CUNHA, 1986, 359) 256. FIAR [V] __________________________________________________________________________________________ Eu disfiava, eu judava minha mãe escaroçá o argodão, escaroça, depois chamava batê, num arco que tinha assim, de bate o argodão, depois cardá e fiá. (27; 06). Era na horta memo, um descarçadão pra discaroça argodão, arco de batê, pra dispois cardá, pra dispois fiá pra dispois tecê. (27; 44). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Fiar. linho. Reduzilo a linhas, estendendo-o, & torcendo o tufo. 2. Morais: Fiar. v. at. Reduzir a fio, puxando,estendendo, e torcendo as fibras. 3. Laudelino Freire: Fiar. v.r.v. Lat. filare. Reduzir a fios. 4. Aurélio: Fiar1. v.t.d. 1. Reduzir a fios. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): Fiar. Reduzir o algodão a fio. • “Fazia o fuso a roda embaxo aí tinha que fazê uma vara desse tamãim assim ó do tamãim que queira o menó ô maió e pa i fiano o gudão né ali cê cumeçava a linha ali e trucia ê ia penerano lá ( ) cê puxano a linha cá e ê rodano lá...no fuso isso é fiano na mão...isso é fiano na mão agora na roda é diferente” (Ent.04, linhas 21e 22) 3. Miranda (2013): Fiar. Refinar o algodão até se tornar fio. • “A mãe de Tião Quitério... fiava pra mamãe... e mamãe usava / sortava um monte de emborá::... pra fazê rédea... fazê barrigue::ra... fazia rédea e barriguera...” (Entr. 7. linha 271) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fiar1. XVI. Do lat. filare. (CUNHA, 1986, p. 359) 257. FOICE Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Usava o que pra trabalhá? INF. 1: Era inxada, inxadão, machado, foice.”(5; 148) Naquela época usava/ as pessoa/ os homi ia roçá pasto, usava foice. Ia capiná, usava inxada. Ia torá mato, usava serrote. Serra, né? (10; 354) PESQ.: O que que é cutelo? Mexe que que é isso? TERC.: Foicinha. INF. 2: Foice.” (15; 94) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Fouce. Instrumento de ferro, de folha delgada, & quase circular, com dentes miúdos, & ponta no cabo. Serve de segar os paens, cortar erva, feno, &c. 2. Morais: Fòuce. s.f. Instrumento curvo de ferro com córte, ou com córte de serra; a primeira se diz fouce roçadoura, tem alvado que se embebe em seu cabo; a segunda é de segar pães, tem espiga que se enxere no cabo. 210 3. Laudelino Freire: Foice. s.f. Lat. falx; flacem. Instrumento curvo para cortar erva nos prados, pastagens, cereais, etc. 4. Aurélio: Foice. [Var. de fouce< lat. falce.] Substantivo feminino. 1.Instrumento curvo para ceifar. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Foice. Instrumento curvo usado para ceifar. Naquela época usava/as pessoa/os homi ia roçá pasto, usada foice. Ia capiná, usada inxada. Ia tora mato,usava serrote.Serra,né? (Ent.10, linha 354) 2. Freitas (2012): Foice. Instrumento curvo usado para ceifrar. “ Ê pego e deu uma foiçada no pé do coquêro levanto a foice deu ôtra foiçada em ante de enterá a terceira eu falei “ ô nego vem cá num vai fazê nada não cê vai fica vigiano é (D...) aqui ó”” (Entr 04, linha 109) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Foice. Sm. ‘instrumento curvo para ceifar’/fouce XIII, ffoiçe XIV/Do lat. falx –cis. (CUNHA, 1986, p. 363) 258. FORÇOSO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Aí falô prele fecha ali, ocê vai capinano roça, se eu vê já te grito, ocê pega a vara e vai, ocê parece que é meio forçoso, ocê quebra a vara, se ocê quebrar ocê entrega os cadarços certim viu? (23; 153). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Forçoso. Cousa, que fe não se pode excufar. 2 Que tem grandes forças. 2. Morais: Forçoso. Adj. Dotado de forças corporais. 3. Laudelino Freire: Forçoso.v1 adj. de força + SOS. Que tem força ou vigor. 2 Violento. Necessário. Inevitável. 4. Aurélio: Forçoso. 1 Indispensável, inevitável; absolutamente preciso. 2 Violento, rijo, teso. 3 Forte, robusto. 4 herdeiro forçoso: herdeiro forçado. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Forçoso. XIV. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 364) 259. FORNADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E depois tira aquela fornada de forno que tava muito quente e aí pode po o bolo, o pão-de-quejo, o biscoito pa ficá bem sequinho põe no forno mais fresco num é muito quente não. (11; 164) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Fornada. Fornada de paõ. O paõ que se coze no forno. 2. Morais: Fornada. s.f. O pão que se coze no forno cheyo, de uma vez. 3. Laudelino Freire: Fornada. s.f. De forno + ada. Quantidade de pão, de louça ou de outra qualquer cousa que se coze ou assa de uma vez no forno. 4. Aurélio: Fornada. [De forno + -ada1.] Substantivo feminino. 1.Conjunto dos pães que se cozem de cada vez no mesmo forno; amassadura. 3.O que um forno coze duma vez. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Fornada. O que um forno cozinha de uma só vez. E depois tira aquela fornada de forno que tava muito quente e aí pode pó o bolo, o pão-de-queijo, o biscoito pa ficá sequinho põe no forno mais fresco num é muito quente não. (Ent.11, linha 164) 211 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2008): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fornada. Do lat. furnus, XIII. (CUNHA, 1986, p. 365) 260. FORNO DE CUPIM NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: É. Era biscoito. Só que era um biscoito munto bem feito no fugão de lenha. Forno de lenha que ês falava. PESQ.: Como? INF.: Forno de lenha. Forno de cupim. (13; 476) O forno de cupim, num sei se era na porta da cuzinha. Sei que arrumô uma boca pertinho da porta. Aí de veiz em quando as galinha bota lá dento, lá por cima. Dento não! Dento a mamãe tampava. (13; 489) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Cunha: 6. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Forno de cupim. Forno construído com material extraído do cupinzeiro. O forno de cupim, num sei se era na porta da cuzinha.Sei que arrumo uma boca pertinho da porta.Aí de veiz em quando as galinha bota lá dento,lá por cima.Dento não! Dento a mamãe tampava. (Ent.13, linha 489) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Forno. sm. ‘recipiente para cozer alimentos’ XIII. Do lat. furnus. (CUNHA, 1986, p. 365) Cupim. sm. ‘montículo de terra’/1734, copi 1587, copij 1627 etc./ Do tupi *kupi’ iua. (CUNHA, 1986, p. 234) 261. FORRÓ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ê levava aquê tanto de rosca, pão... E ieu mais os meus irmão que era piqueno pra nóis num tinha nada mió do que cumê rosca, pão, forró. Ês falava forró, né? (14; 223) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Forró. Pequena rosca. Ê levava aquê tanto de rosca, pão... e ieu mais os meus irmão que era piqueno pra nóis num tinha nada mio do que cume rosca, pão, forró.Ês falava forró, né? (Ent.14, linha 223) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Forró. Baile de caráter mais popular. ―... aí mesmo que eu num perdia um forró.‖ (42;125). __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 212 262. FOSSA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Tem até computador, tem tudo. Ele feiz eu ranjá pra fazê uma fossa lá pertinho de onde era a iscola. (5; 23) E carregava aquês coisa de barro. Pa fazê essa fossa. ... Pra fazê parede. As parede da/ da fossa lá... (5; 32, 41) Não, não era isso que o povo chamava antigamente, como que o povo chamava, lá na roça do meu pai tinha, que eles fazia um buraco.... Fossa.... Fossa, como que chamava?... Fossa. (19; 275, 277). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Fossa. s.f. Cova. 3. Laudelino Freire: Fossa. s.f. Lat. fossa. 2. Cavidade subterrânea, em que se recolhem imundícies. 4. Aurélio: Fossa. [Do lat. fossa.] Substantivo feminino. 2.Cavidade subterrânea para o despejo de matérias fecais, de imundícies. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Lexicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Fossa. Cavidade subterrânea para o despejp de matérias fecais,de imundíceis. E carregava aquês coisa de barro. Pá fazê essa fossa... Pra fazê parede. As parede da/da fossa lá(Ent.5, linhas 32 e 41) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fossa. sf. ‘fosso’ XIV, do lat. fóssa. (CUNHA, 1986, p. 366) 263. FRANGAIADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Uma frangaiada lá, as galinha, franga, mais duma setenta, galinha lá no terrero. (2; 161) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Frangaiada. Uma porção de frangos reunidos.Uma frangaiada lá, as galinha, franga, mais duma setenta galinha lá no terreno. (Ent.2, linha 161) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 264. FRARDADA CAMISA NCf [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 2: A mamãe fazia dos trapinho, de ro[u]pa véia na mão, na máquina. Fazia na mão. /É. E tamém/tinha um negócio/Ês falava a frarda da camisa. INF. 1: A mamãe também fazia. INF. 2: Que era o primero pano que tinha que po.PESQ.: O que? Como chamava? INF. 2: A frarda da camisa pa po nas criança. INF. 1: Que nem nóis/ ês fala assim a barra da camisa, a parte de baixo da camisa, falava a frarda de camisa. (1; 564, 568, 571, 572) 213 __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Frarda da camisa. Cueiro. INF.2: A mamãe fazia dos trapinho, de ro[u] veia na mão,na maquina.Fazia na mão./É. E tamém/tinha um negócio/Ês falava a frarda da camisa. INF.1:A mamãe tamém fazia.INF.2:Que era o primeiro pano que tinha que pô. PESQ.:O que? Como chamava? INF.2: A frarda da camisa pa pó nas criança.INF.1: Que nem nóis/ês fala assim a barra da camisa, a parte de baixo da camisa,falava a frarda de camisa. (Ent.1, linhas 564,568 e 571 e 572) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fralda. sf. ‘parte inferior da camisa, cueiro’ Do gót. *falda. (CUNHA, 1986, p.367 ) 265. FROXAR [V] __________________________________________________________________________________________ Prática é custume. Aí num tinha prática aí/ quando foi de duas hora pa tarde esse homi sacudido foi froxano, froxano, froxano. Cansano. (8; 44) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Afrouxar. Não ter mão com força, não sustentar huma cousa com a mesma tesura, que dantes. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Froxar. O mesmo que cansar. Prática é custume. Aí num tinha prática aí/quando foi de duas hora pa tarde esse homi sacudido foi froxano,froxano,froxano. Cansano. (Ent.8, linha 44) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Afrouxar. Afroxar XV. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 370) 266. FUÁ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Uai, pra você vê... Chegava em setembro aquele fuá na fazenda... 6, 7 cara pra trabaiá, e ficava oiando se sarvô... na fazenda, não sô, tá pesado, quer dar um jeito na perna, vamo embora, estúrdia mesmo na fazenda, brincadeira, conversar, gente e vai me ajudá na hora. (23; 138). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 214 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 267. FUBÁ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí mandô pô aquê angu de fubá de munho nas costa. Eu tenho o sinale até hoje, quemado, a mancha. ... Angu de fubá de munho nas costa. (2; 74, 77) PESQ.: E o que que o povo fazia pra comê? INF. 1: Uai, era biscoito, pipoca, essas coisa. INF.2: Bolo de fubá. INF. 1: Bolo de fubá tamém tinha. (9; 169, 170) Levava uma lata de mio po munho e fazia fubá, do fubá fazia o angu, fazia o bolo, fazia o mingau, fazia tudo do fubá. ... E a farinha punha lá no munjolo. O munjolo massetava o mio até virá fubá. (11; 121, 122, 124) E as quitanda de fubá põe no forno mais quente. Porque eas é mais dura de assá. (11; 165) Era dança. É, mais tamém era assim, café, chá, quitanda feita no forno, fugão de lenha. Aí dava/ era onze hora, erahora do café. E o povo jantava e dipois num cumia ( ). Aí tamém largava lá na mesa intera o resto da noite. Ota hora ês sirvia no cumeço da noite, ficava a noite intera po povo cumê. Mais era só isso, era quitanda de fubá, bolo de farinha de trigo, biscoito, pão-de-quejo nem usava. (13; 471) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Fubá. s.m. Farinha para papas, de milho ou de arroz. 4. Aurélio: Fubá. [Do quimb. fuba, com hiperbibasmo.] Substantivo masculino. 1.Bras. Farinha de milho ou de arroz. [Há o fubá grosso e o fino, a que chamam mimoso. No N.E. do Brasil pronuncia-se também (com rigor etimológico) fuba (parox.), pronúncia esta que parece ser a única nas antigas províncias ultramarinas portuguesas.] 5. Amadeu Amaral: Fubá s. m. - farinha de arroz ou de milho cru, com que se fazem várias papas, bolos e outras confecções culinárias. | É t. afric. (B.-R.). __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Fubá. Farinha de milho usada para fazer mingau ou angu. Aí mando pô aquê angu de fubá de munho nas costa. Eu tenho o sinale até hoje,quemado,a mancha. ...Angu de fubá de munho nas costa. (Ent.2, linhas 74 e 77) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fubá. sm. ‘farinha de milho’/fubá 1681/Do quimb. fu’ba. (CUNHA, 1986, p. 370) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio 268. FUCINHO DE PORCO NCm [Ssin + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...com abóbora, torresmo, fucinho de porco... (32; 389) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 215 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Focinho: sm. ‘parte da cabeça do animal que compreende boca, ventas e queixo’ XVI. Do lat. *faucinus. (CUNHA, 1986, p. 363) Porco: sm. ‘mamífero da ordem dos artiodáctilos, não ruminante, originário do javali, porém existente quase em toda parte como animal doméstico’ XIII. Do lat. porcus. 269. FUERO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Era duas peça vortiada. As cheda é onde vai o fuero pa po aquela... PESQ.: Vai o suero? INF.: Elas vem cum doze fuero. PESQ.: Ah! Fuero! INF.: Os fuero é mai’ o[u] meno de metro. Intão põe ela incarriada assim e... (14; 423, 425, 427) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Fueiros. São huns páos empinados para riba, nas bordas do leito do carro, para terem maõ na carga. 2. Morais: Fuèiro. s.m. Um dos páos fincados ao longo da borda do leito do carro, para empararem a carga, que vai dentro. 3. Laudelino Freire: Fueiro. s.m. Lat. funarius. Cada uma das estacas que, tendo a extremidade inferior segura no chadeiro do carro, servem para amparar a carga. 4. Aurélio: Fueiro. [Do lat. funariu.] Substantivo masculino. 1.Estaca destinada a amparar a carga do carro de bois: “O carreiro .... pulou na roda do carro para receber e arrumar entre os fueiros a cana tombada...” (Alberto Deodato, Canaviais, p. 81.) 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Fuero. Estaca destinada a amparar a carga do carro de bois. INF.: Era duas peça vortiada. As cheda é onde vai o fuero pa pó aquela... PESQ.: Vai o suero? INF.: Elas vem cum doze fuero. PESQ.: Ah! Fuero! INF.: Os fuero é mai’o[u] meno de metro. Intão põe ela incarriada assim e... (Ent.14, linhas 423,425 e 427) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fueiro. sm. ‘estaca para amparar a carga do carro’ 1844. Do lat. tardio funarius ‘relativo a corda’ e, este, deriv. de funis ‘corda’. (CUNHA, 1986, p. 370) 270. FUGÃO DE LENHA NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Eradança. É, mais tamém era assim, café, chá, quitanda feita no forno, fugão de lenha. (13; 468) É. Era biscoito. Só que era um biscoito munto bem feito no fugão de lenha. Forno de lenha que ês falava. (13; 473) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Fogão .[De fogo + -ão1.] Substantivo masculino. 1.Caixa de ferro ou de alvenaria, com fornalha e chaminé, para cozinhar. 5. Amadeu Amaral: n/e 216 __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Fugão de lenha. Caixa de ferro ou de alvenaria,com fornalha e chaminé,para cozinhar. É. Era biscoito.Só que era um biscoito munto bem feiro no fogão de lenha.Forno de lenha que ês falava. (Ent.13, linha 473) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fogão. XVI. Do lat. focus. (CUNHA, 1986, p. 363) Lenha. sf. ‘porção de madeira para queimar’ 1813. Do lat. ligna. (CUNHA, 1986, p. 470) 271. FUMENTAÇÃO Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 2: Mandô! Ea muntuô na hora. Dormiu doi’ dia. Aí papai falou: “que que deu na idéia da cumade Maria. Ela disse que era fraquinho, era poquinho, só tinha um gostinho ( )”. Mas o povo curava era com isso e chá. Fumentação tamém. PESQ.: O quê? INF. 1: Fumentação. INF. 2: Fumentação. PESQ.: O que é isso ? O que era fumentação INF. 1: Fumentação é assim: quando cê tava com uma dor/tipo assim/ ocê tinha muita dor eles fazia aquele ( ) como que é sinapismo? INF.: Sanapismo. Eu tinha um medo daquilo pega fogo ni mim. INF. 1: E eu intão. Morria de medo PESQ.: Fumentação e fazia san/sanapismo? O que que era, botava fogo?”(1; 302, 304, 305, 307) PESQ.: Não, como que chama o que cêis falaram primeiro? Fumentação? INF. 1: Ah, fumentação? INF. 2: Fumentação. PESQ.: Era diferente de sanapismo? INF. 1: É. INF. 2: É. PESQ.: Não era mesma coisa. INF. 1: Não, a fumentação era assim ó... INF. 2: O papai punha assim, arrumava um algodão dento do copo, punha arco, pegava um palito de fosfo, jogava e jogava na perna da gente. (1; 354, 355, 360) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Fomentação. Termo de Medico. Derivase do Latim Fovere, que val Hir tendo maõ na qentura, fazer por conservar o calor. A acção de fomentar, o o remédio humido, que exteriormente se applica, com espoja, ou outra materia molle, & fofa, molhado no cozimento quente de algum licor, para aguentar, abrandar, resolver, restringir, ou fortificar, chapinhado na parte, que doe, repetida, & interpoladamente. Tambem há fomentaçoens seccas; estas se fazem com folhas desecadas no forno, ou sobre o lume, cobertas com cinzas quentes, & com saquinhos de milho, Avea, &c. 2. Morais: Fomentação. s.f. Remedio para fomentar. 3. Laudelino Freire: Fomentação. s.f. Lat. fomentatio; fomentationem. 2. Aplicação feita ao corpo com substâncias previamente aquecidas, com o intuito de aliviar dôres. 4. Aurélio: Fomentação. [Do lat. tard. fomentatione.] Substantivo feminino. 2.Fricção medicamentosa na epiderme. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Fumentação. Fricção medicamentosa sobre a pele. PESQ.: O que é isso? O que era fumentação INF.1: Fumentação é assim: quando CE tava com uma dor/tipo assim/ocê tinha muita dor ele fazia aquele( ) como que é sinapismo? INF.: Sanapismo. Eu tinha um medo daquilo pega fogo ni mim.INF.1: E eu intão.Morria de medo. (Ent.1, linha 307) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fomentação. Do lat. fomentare, XVIII. (CUNHA, 1986, p. 363) 272. FUMO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ficô sem fumo pra fumá, que fica doido, né? Aí um boiadero tava de poso lá, que falô assim, ela paro e falou assim: “Não, o pedaço de fumo deu, pedaço de fumo prela. (18; 352, 353) 217 E essa nega usava fumo pra cachimbo, clareá dente, e tacô com o fumo nela, e ela tava sem, e tava doida por conta de fumo, tava sem, e aí chegou um boiadeiro pra posar, e aí ela arrumou um jeitinho lá, e perguntou se ele tinha fumo, e aí ele falou que tinha, ele pegou e deu um pedaço de fumo... (30; 118, 119, 120, 121) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Fumo. Humidade que com o calor do fogo, se exala em vapor negro. 2. Morais: Fumo. A umidade e outras partes oleosas, heterogêneas, que o fogo desenvolve e faz subir ao ar em corpo mais ou menos denso. 3. Laudelino Freire: Fumo. s.m. Lat. fumus. 7. Tabaco preparado para se fumar. 4. Aurélio: Fumo. Tabaco preparado para fumar. 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): Fumo. Folhas de plantas preparadas para fumar, mascar ou cheirar. • “Eu ‘prendi fumá foi com esse danado desse fumo ea ariava o dente e jugava fora aquê bagaço...ô pegava ê dexava /punha lá dexava secá e fazia cigarro pitava pitava aprendi” (Ent.11, linha 226) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fumo: sm. ‘tabaco’ XIII. Do lat. fūmŭs –i. (CUNHA, 1986, p. 371) 273. FUNDAR [V] __________________________________________________________________________________________ De zangá a minha vista. Aí eu num vê nada e meus óio fundá. (15; 230) De óco. De óco. Acho que o óco fundô pa cima e taiô aqui ó. (15; 339) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Fundar . v. at. Lançar os fundamentos, alicerces. [...] . Fundar n. A arvore funda muito, i.e. lança as raízes profundamente. 3. Laudelino Freire: Fundar. v.r.v. Lat. fundare. 11. Penetrar muito interiormente; lançar-se raízes profundas. 4. Aurélio: Fundar. [do lat. fundare] v.t.d. 5. Tornar profundo; profundar, escavar. V. int. 13. Penetrar no solo; profundar. 5. Amadeu Amaral: n/e _________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Fundar. Enterrar, aprofundar. Acho que o oco fundo pá cima e taiô aqui ô. (Ent.15, linha 339) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2008): Fundar. Penetrar em; profundar. “...ele panhava a chave e fundava no quarto dele e o velho de lá com o olho...” (8;108). __________________________________________________________________________________________ Origem: Afundar. Séc. XIII. Do lat. fundus. (CUNHA, 1986, p. 371) 274. FUNDURA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ De primero era cova, né? Sete palmos de fundura, né? (29; 151) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Fundúra. O espaço de alto para baixo. Profundera. A fundura do mar. Maris altitudo, dinis, Fem. Cic., Palma a vista, se olha a Fundura, que se, deixa cair sobre as aguas. Cunha, Bispos de Lisboa, 67. Verso. Uma rotura, na terra, a imensa Fundura da qual. Mon. Lusit. Tom. 3. 244. Col.3. Metidos, num abismo, & Fundura de pensamentos. Dial. De Heétor Pinto, 44. 218 2. Morais: Fundura. s. f. O espaço d’alto a baixo. “rotura na terra imensa fundura.” M. Lus. Fig. Profundidade. Auto do dia de Juizo. H. Pinto, f. 44. Metidos num abusmo, e fundura de pensamentos. 3. Laudelino Freire: Fundura. altura da superfície até o fundo ou até a parte mais interior, profundidade. 4. Aurélio: Fundura. 1-altura da profundidade, 2- comprimento entre a parte anterior e posterior, 3- profundidade. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Fundura. XVII. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 372) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Lusitanismo conforme Bluteau, Morais. 275. FURQUIA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ É, estaleiro. Acho que era num barranco. E punha umas furquia, sei lá. Duas furquia. Fazia aquê estalero e jogava aqueas tora desse tamanho assim em riba. Ês tocava aquilo de pau. (1; 643) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Forquilha. He hum páo de três pontas, que serve de tirar a palha mais miúda do trigo, despois de tirada a grossa, lançando na Eira a palha no ar. 2. Morais: Forquilha. s.f. Páo com três pontas de apartar herva miúda na eira, e lançá-la ao vento, para a separa do trigo. 3. Laudelino Freire: Forquilha. s.f. Lat. furcilla. Forcado com três hastes agudas, com que se remexe a palha e o mato nos estabelecimentos agrícolas; garfo. 4. Aurélio: Forquilha.[Do esp. horquilla.] Substantivo feminino. 1.Pequeno forcado de três pontas. 2.Vara bifurcada na qual descansa o braço do andor; descanso. 3.Pau ou tronco bifurcado; forqueta. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Furquia. Pequeno pedaço de madeira de três pontas.É,estaleiro. Acho que era num barranco. E punha umas furquia,sei lá. (Ent.1, linha 643) 2. Freitas (2012): Furquia. Vara bifurcada. “Num existia arame não e cerca de tisôra...a cerca de tisôra é o seguinte...aí ês bate as furquia aqui...e ôta aqui e põe o varão” (Ent.04, linha 424) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Furquia. Objeto feito em madeira, com o formato da letra y que é usado para sustentar outros objetos. Variante de forquilha. . Cama era de vara. Fincava duas furquia punha um trevessero forrava de vara e... os cochão era inchido com paia. (Entrevista 3, linha 702) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Forquilha. “1813”, Esp. (CUNHA, 1986, p. 364). G 276. GABIROBA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Não, mas que que eram as frutas que tinham no pasto pa comê? INF. 1: Uai, era gabiroba, essas coisa. Gaitera. (9; 106) __________________________________________________________________________________________ 219 Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Gabiroba. s.f. O mesmo que guabiroba. 4. Aurélio: Gabiroba . Substantivo feminino. 1.Bras. Bot. V. guabiroba 5. Amadeu Amaral: Guabiroba. s. f. - fruto de uma Mirtácea muito comum; a arvoreta que o produz. | Tupi. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Gabiroba. Fruto da árvore conhecida como gabiroba. PESQ.: Não,mas que que eram as frutas que tinham no pasto pra comê? INF.1: Uai,era gabiroba,essas coisa.Gaitera. (Ent.9, linha 106) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Gabiroba. Fruta da família das mirtáceas parecida com a goiaba,porém menos. “...gaioba nossa dava muito antes... a o pé ali ó...((Mostra a árvore))... cabaram...e tem um tal de gabiroba...uma goiabinha assim piquitita assim ó...((mostra o tamanho da fruta))...” (Ent.8, linha 59) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Guabiroba. sf. ‘nome comum a diversas plantas da fam. das mirtáceas’/1817, gabiraba 1618, guavirova 1873, gabiroba 1946/ Do tupi iuaue’raua. (CUNHA, 1986, p. 397) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 277. GAITADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Uma hora ea vai ( ) o Dércio pega esse danado desse frango e mata. Matô o frango. ( ) Nóis tudo armuçano lá, ea dá aquea gaitada e ( ) Fernando, eu gosto dimais do Fernando, da Maria. Dá aquea gaitada“eh Z., cê caiu no bico da/ bico meu hein?, num tô grávida coisa ninhuma, Z.! Eu cumi seu frango de graça.” ( ) mais pra que que quiria matá aquele né? Ô bicho custoso! (2; 166, 167) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Gaitada. s.f. Gargalhada. 4. Aurélio: Gaitada. [De gaita + -ada1.] Substantivo feminino. 4.Bras. N. N.E. RS GO Açor. V. gargalhada: “Teve vontade de dar uma gaitada mangando dos perseguidores.” (Fran Martins, Dois de Ouros, p. 12.). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010: Gaitada. Gargalhada. Uma hora ea vai ( ) O Dércio pega essa danado desse frango e mata. Matô o frango ( ) Nóis tudo armuçando lá,ea dá aquea gaitada e ( ) Fernando,eu gosto dimais do Fernando, da Maria. (Ent.2, linha 166) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo 278. GAITERA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: O que que era as frutas que tinha lá na roça pro cêis comerem? INF. 1: Só laranja e manga. PESQ.: Só? Mas a N. falo que comia ota coisa. INF. 1: O quê? INF. 2: Gaitera. INF. 1: Ah, gaitera era no pasto. PESQ.: Não, mas que que eram as frutas que tinham no pasto pa comê? INF. 1: Uai, era gabiroba, essas coisa. Gaitera. (9; 103, 104, 106) 220 Gaitera?.... Gaitera. E tem uma outra nuns 8km, e não tem um pé de gaitera, o cara falou que já até plantou gaitera lá e não dá, no campo, e não pega. (32; 229, 230, 231) É gaitera, aquela mangaveira. (32; 233) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Gaiteiro. S.m. Espécie de mangue, cujas raízes tem o nome de gaitas, e que é empregado nas esfregas das linhas e tintura das rêdes de pescar. 4. Aurélio: Gaiteiro. [De gaita + -eiro.] Substantivo masculino. 3.Bras. Espécie de mangue cujas raízes-escoras são ditas gaitas [v. gaita (4)]. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Gaitera. Obs. Fruta silvestre típica da região sul de Minas Gerais. PESQ.: O que que era as fruta que tinha lá na roça pro cêis comerem? INF.1: Só laranja e manga. PESQ.:Só?Mas a N. falo que comia ota coisa. INF.1:O quê? INF.2: Gaitera. INF.1:Ah,gaitera era no pasto.PESQ.: Não,mas que que eram as frutas que tinham no pasto pa comê? INF.1: Uai,era gabiroba,essas coisa.Gaitera.(Ent. 9,linhas 103,104 e 106) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Gaiteira. De origem obscura, XVI. (CUNHA, 1986, p. 375) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 279. GAMBILERO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E ê era assim gambilero. Gambilero é gente que comprava garrote, boi, porco, breganhava, vindia, comprava. (8; 5) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Gambilero. Comerciante que compra e vende porcos ou bois. E ê era assim gambilero. Gambilero é gente que comprava garrote, boi, porco, breganhava, vindia, comprava. (Ent.8, linha5) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 280. GAMELA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Cortava a árvore? INF. 2: Fazia uma gamela lá. (1; 419) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 221 1. Bluteau: Gamella. “Vaso de pao concavo, ou tronco vasado, comprido em que comem os porcos. // gamella também he outro vaso de pao cavado em redondo, largo, & pouco fundo, em que as molheres costumaõ trazer maõs de carneiro.” 2. Morais: Gamella. “s.f. Vaso de páo como alguidar, ou côncavo por igual em redondo para banhos, ou lavar o corpo; para dar de beber as bestas, &c.” 3. Laudelino Freire: Gamella. “s.f. Lat. camella. Vasilha em forma de tigela muito grande ou alguidar, ordinariamente de madeira, em que se dá a comer aos porcos e outros animais, e serve também para banhos, lavagens e outros fins.” 4. Aurélio: Gamela². “gamela2 [Do lat. vulg. *gamella, cláss. camella, 'certo vaso de madeira'.] Substantivo feminino 1. Vasilha de madeira ou de barro, com a forma de alguidar ou de escudela grande, us. para lavagem (4) e/ou para dar comida aos animais domésticos.” 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Gamela. Utensílio, geralmente de madeira ou barro, em forma de tigela,usado para lavar alimentos ou memso para servir-los. PESQ.:Cortava a árvore? INF.2: Fazia uma gamela lá. (Ent.1, linha 419) 2. Freitas (2012): Gamela. Utensílio, geralmente de madeira ou barro,em forma de tigela,usado para lavar alimentos,para servi-los ou até mesmo para tomas banho. “ No torcê a massa aquela água vai... o purví vai assentano ô numa gamela ô no tacho que paro ea o pruví vai assentano...no fundo”(ent.01,linha 156) 3. Miranda (2013): Gamela. Utensílio, geralmente de madeira ou barro,em forma de tigeça,usado para lavar alimentos,para servi-los ou até mesmo para tomar banho. “Gamela é aquele trem... qué vê((procura o utensílio)) gamela de pau é isso...(aquilo) num acha mais não... aqui ((mostra o utensílio)) isso que chama gamela...feita de madeira...a gente faz...”(Ent.2, linha 169) Cordeiro (2013): Gamela. Vasilha de barro ou de madeira usar para lavar objetos ou servir comida. . Tomava banho... no quê? (rs) Na gamela. Nem bacia tinha, na gamela. Tinha a gamela que a gente usa e tinha a gamela de pe´. (Entrevista 1, linhas 139 e 140) Souza (2014): Gamela. Utensílio,geralmente de Madeira ou barro,em forma de tigela,usado para lavar alimentos ou mesmo para servi-lo. “...as veia sentava e botava aquela candeia em cima do...em cima duma gamela né?...ficava aquelas candeinha em cima das gamela...”(21;437-438) __________________________________________________________________________________________ Origem: Gamela. “sf. ‘espécie de alguidar feito de madeira’ XIII. Do lat. camella, dimin. de caměra ‘vaso para beber’.” (CUNHA, 1986, p. 377) 281. GANDAIEIRO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Meu avô tinha um primo dele da Itália, que era gandaieiro... (35; 120) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Gandayeiro. s. m. o que vive de andar á gandaia, lavando lixo. 3. Laudelino Freire: Gandaieiro: s.m. Forma preferível a gandaeiro. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 282. GARAPA ~ GUARAPA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Chegava de madrugada ( ) ficava pono o cavalo no ingenho, um punha a cana e o oto tocava o cavalo. Chegava manhecia o dia aquela caxa grande cheia de garapa. Punha nas caxa e ia apurá”(5; 320) 222 Aí foi lá na varanda do engenho, que queimava lenha pá fazê rapadura, moía guarapa a pura pra rapadura, isso cê sabe? (17; 4). ...e ia torceno pra sair a garapa, ferve pra fazê açúcar pra bebe café. (16;690). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Garapa. s.f. Bebida feita de calda, ou melaço com água, e limão no Brasil. 3. Laudelino Freire: Garapa. s.f. Bebida refrigerante que se extrai da cana de açúcar. 4. Aurélio: Garapa. [Der. regress. do esp. Garapiña < esp. garapiñar, ‘solidificar um líquido, de modo a formar grumos’.] Substantivo feminino. Bras. 1.Bebida refrigerante, de mel ou de açúcar com água, a que algumas vezes se adicionam gotas de limão; jacuba. 5. Amadeu Amaral: Garapa, Guarapa. s. f. - caldo de cana de açúcar. | É t. também corrente no Norte do Br., com ligeiras variantes. Parece que a idéia central é a de bebida melosa. Em Angola, seg. Capelo e Ivens, citados por B. - R., designa uma espécie de cerveja de milho e outras gramíneas. O fato de ser o t. conhecido há séculos no Br., e também na África, parece indicar que é de importação lusitana. Talvez originado do fr. grappe, ou do it. grappa. Garcia, seguindo a B. Caetano, dá-lhe étimo tupi-guarani. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Garapa. Bebida proveniente da cana-de açúcar. Chegava de madrugada ( ) ficava povo o cavalo no ingenho,um punha a cana e o Oto tocava o cavalo. Chegava manhecia o dia aquela coxa grande cheia de garopa.Punha nas coxa e ia apurá” (Ent.5, linha 320) 2. Freitas (2012): Garapa. O sumo da cana usado como bebida e para produção de derivados da cana. “ Oiava debaxo da fornáia aquês trem véi tudo que tinha áqüeas bagacêra veia dentro da fornáia de cuzinhá garapa aquês trem véi tudo” (Ent.04, linha 362) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Garapa. Caldo de cana. . Eles fazia é muía a cana. Quando a garapa via iscumano no tacho punha mutamba até quando es parava tinha que por azeite e aí despejava quando dava ponto, despejava na massera e ia bateno. (Entrevista 4, linha 114) 5. Souza (2014): Garapa. Bras. O sumo de cana usado como bebida e para produção de seus derivados. “...agora ia destilando... aquela garapa ia saindo e pinga destilada... o suor da garapa subia pra riba...”(21;414). __________________________________________________________________________________________ Origem: Garapa. sf. ‘Bebida formada pela mistura de mel ou açúcar com agua’ ‘o caldo de cana’ XVI. De origem controversa. Em 1638, em carta escrita da Bahia, lê-se: “Vinho de assucar[=aguardente de cana-de- açúcar] a q cá chamão garapa[...]”. (CUNHA, 1986, p. 378) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio, Souza. 283. GARIMPERO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...aqui tinha garimpero demais nessa, no São Francisco, sabe? (22; 140) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Garimpeiro: s.m. De garimpar. Explorador de diamantes, de ouro ou de platina. 4. Aurélio: Garimpeiro: sm. Bras. 1. O que anda à cata de metais e pedras preciosas. 2. O que trabalha nas lavras de diamante. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ 223 Origem: Garimpeiro: 1881. De grimpa, com epêntese do a, desfazendo-se o grupo consonantal gr-. O termo surge com a função de vigia das minerações clandestinas, o qual, para exercê-la, tinha que subir às grimpas das montanhas, recebendo daí o nome de grimpeiro, donde garimpeiro. Talvez do fr. (CUNHA, 1986, 396) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 284. GARRAR [V] __________________________________________________________________________________________ O tale garrô a lati com gente na rua. (1; 157) ...aí ê disispera e garra a bebê. (13; 95) Garrá diante da inxada, hein? (15; 786) É, aí ele garrô e ficô ruim demais... (35; 162) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: Garrá(R), agarrar.v. t. - principiar;- tomar (uma direção, um caminho); entrar, enveredar: “... garrei o mato porque num gosto munto de guerreá...” (C. P.) - “I nóis ia rezano, e Sinhá, no meio da reza, garrava chingá nóis...” (C. P.) “I tudo in roda daquêle garrava gritá...” (C. P.) - “Garrei magrecê de fome, mais a minha pió agonia era a sodade”. (C. P.) - “Se o negro garrá cum choradêra, botem pauzinho no uvido pra não uvi, u tampem a boca dêle...” (C. P.) - “Num garrecum molação cumigo!” (C. P.). __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Garrar. Principiar, começar, iniciar alguma coisa. Garrá diante da inxada,hien? (Ent.15, linha 786) 2. Freitas (2012): Garrar. Principiar, começar,iniciar alguma coisa. “ Santo Antôni fazia os casamento quano a muié garrava e ganhá os menino e num queria mais os menino porque o trem era difícil né...levava de dava São Vicente pra criá...Santo Antônio fazia o casamento São Vicente ia criá os menino”(Ent.03, linha 08) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Agarrar. De um célt. *garra, XVI. (CUNHA, p. 379) 285. GARROTE Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Bizerrão, garrotinho. Aí amansava e vindia. Quando colonizava mais vindia e comprava oto e ia amansá de novo. (4; 149) E ê era assim gambilero. Gambilero é gente que comprava garrote, boi, porco, breganhava, vindia, comprava. (8; 5) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Garrote. s.m. De garrão. Diz-se do bezerro que completou um ano de idade. 4. Aurélio: Garrote .[Do fr. garrot (< provenç. garrot), poss.] Substantivo masculino. 1.Bezerro de dois a quatro anos de idade. [Fem. (bras.): garrota (q. v.).] 5. Amadeu Amaral: Garrote. s. m. - bezerro novo. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Garrote. Bezerro de dois a quatro anos de idade. E ê era assim gambilero.Gambilero é gente que comprava garrote,boi,porco,breganhava,vindia,comprava. (Ent.8, linha 5) 224 2. Freitas (2012): Garrote. Bezerro de dois a quatro anos de idade. “ Tinha uns boi... no pasto que nós passava tinha um boi um garrote danado que pôs eu em riba do pau uma vez mais (R...”) (Ent.03, linha 142) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Garrote2. sm. ‘novilho’ XX. Do fr. garrot. (CUNHA, 1986, p. 379) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 286. GARUPA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Era cremo, catava leite e carregava na garupa. (1;63). As muié aqui tudo ajuda, as muiédos fazendeiro aqui tudo ajuda ês, aonde ês vai eas munta na garupa. (17;84) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Garúpa. Parte posterior do cavalo, desde a extremidade do lugar sela, até o cabo. EquiTergam. Vid Gurupa. Dar garupa a alguém. Aliquemequi fait tergoexcipere. Vid. Anda Montando em um cavalo, lhe deu uma garupa.Queiros vida do irmão Basto, 275. 2. Morais: Garupa. A parte posterior do cavalo desde o arção traseiro da sela até o cabo. Dar garupa a alguém; deixa-lo ir de ancas. Corria que se ata a mala, ou aforje sobre a garupa do cavalo. Mala, ou aforje que vai na garupa. Arte de Furtar, c . 52. 3. Laudelino Freire: Garupa. s. f. B. lat. groppa. Parte superior ou posterior do cavalo e de outros animais, desde os lombos até à cauda; ancas.|| 2. Mala ou malote que se leva sobre as ancas do cavalo. ||3. Correias com que se ata a mala ou a roupa que se leva a garupa. ||4. Golpe com que nas quedas do corpo um contendor apanha outro pelos flancos fazendo-o desaprumar-se e cair. 4. Aurélio: Garupa. subs. Fem. A parte superior do corpo edas cavalgaduras, que vai do lombo à anca. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: sf. ‘anca do cavalo’ XVII. Do gót. *Kruppa (CUNHA, 1986, p. 380) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Sugerimos Brasileirismo. 287. GARUPERA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...e o cavalo fico muito manso, e marrô na garupera do outro... (16; 568) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Garupeira. s.f . Tiras de sola ou relhos fixados ao traseiro da sela, com os quais é amarrado qualquer objeto que se transporta sobre charel ou dependurado de qualquer dos lados. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 225 5. Souza (2008): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 288. GEADÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...era dia de São Pedro, um geadão, saímos lá de casa... (16; 485) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Geáda. Orvalho, condensado, & levemente congelado, ou humor vaporoso nos lugares frios da região baixa do ar, que procurando subir arriba, se endurece com o frio. 2. Morais: Geáda. s.f. Orvalho congelado com o frio. 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Geada. sf. Orvalho congelado. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2008): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 289. GENTE DE IDADE [Fraselogia] __________________________________________________________________________________________ ...e aí tô aí nessa vidinha assim, gente de idade, né? (31; 41) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Gente: sf. ‘quantidade de pessoas, família’ XIII. Do lat. gens gentis. (CUNHA, 1986, p. 383) Idade: Suf. Nom. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 238) 290. GERATAÇÃO Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 1: Colerina hoje é o que? É...diarréia INF. 2: Geratação. Da barriga pra baixo.(1; 477) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e 226 __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Geratação. Desidratação. INF.1: Colerina hoje é o que? É...diarréia INF.2: Geratação. Da barriga pra baixo. (Ent.1, linha 477) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 291. GOLO Nm [Ssing] Intão, Nossa Sinhora da Parecida. Cê custava a tomá um golo de urina. Era um santo remédio. (1; 468) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Golo. s.m. Pop. O mesmo que gole. 4. Aurélio: Golo .[De gole.] Substantivo masculino. 1.Pop. V. gole: “— Quincas Borba está muito impaciente? perguntou Rubião bebendo o último golo de café” (Machado de Assis, Quincas Borba, p. 3). [Pl.: golos. Cf. golo (ô) e pl. golos (ô).] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Golo. Um trago de uma bebida ou remédio qualquer. Intão,Nossa Sinhora da Parecida.Cê custava a tomá um gole de urina.Era um santo remédio. (Ent.1, linha 468) 2. Freitas (2012): Golo. Um trago de uma bebida ou remédio qualquer. “Chegava lá largava o carguero lá papai...enquanto papai ia descarregá o cavalo e bebê um golo mais( T...C...) né...eu chuchava lá pa casa do... da dona dele” (Ent.09, linha 370) “... peguei dancei um batuque e bibi uns golim com (C...X...) lá né e vim ‘ bora de lá da casa (C...X...) pra casa de quatro pé” (Ent.02,linha 234) “Meu pai prontava cana de fora a fora ali...meloso tava dessa artura assim ó...ieu que ia pa lá Judá ê capiná o meloso...era assim mia fia ce frentava lá...ê bibia uns gulim né...animava né...pobe de eu num bibia nada”(Ent.09, linha 18) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Gole. 1813. De origem controversa. (CUNHA, 1986, p. 299) 292. GONDA SANFONADA NCf [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Portanto a menina que morava lá, ela mora em Sacramento hoje, eles achava muito lá é, relógio daqueles relógio de gonda sanfonada que eles falava, sabe qual? (30; 168). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 227 293. GRAÚDO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Mais um arroiz graúdo. Papai chegô lé e falô: “o J. vai prantá áqueas terra de arroiz?” Eu falei: “ah, num sei, papai.” Male. (15; 645) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Graúdo. Crescido. Já grande. 2. Morais: Graúdo. Crecido. Grande. 3. Laudelino Freire: Graúdo. adj. De grão. Grande, crescido. 4. Aurélio: Graúdo. [Do lat. *granutu, poss.] Adjetivo. 1.Grande, grado: milho graúdo. 2.Grande, crescido; desenvolvido: menino já graúdo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Graúdo. Grande,crescido,desenvolvido. Mais um arroiz graúdo.Papai chego lê e falô: “o J. vai pronta áqueas terra de arroiz?” Eu falei: “ Ah,num sei,papai.” Male.(Ent.15, linha 645) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Graúdo. XVI. Do lat. *granatus. (CUNHA, 1986, p. 393) 294. GROTA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Fazia grota de monte pra podê fazê divisa nos pasto... (35; 140) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Grota. s.f. Abertura feita pelas enchentes na ribanceira ou na margem dum rio, e pela qual elas saem, alagando os campos marginais. || Terreno inclinado, na intersecção de duas montanhas; vale profundo. 4. Aurélio: Grota. sf. 1. Abertura produzida pelas enchentes na ribanceira ou na margem dum rio. 2. Bras. Vale profundo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): Grota. Cavidade nas encostas de serra ou de morro provocada por águas da chuva. • Ô tô oiano ele e veio te cá em baxo na berada do pé desse/dessa grota aqui desse buêro aí ó do lado de cá berano aqui do lado de lá mais berano a grota...vei chegô lá...chegô lá mia fia quano ê chegô cá ê baxô. (Ent. 09, linhas 83 e 84)grota aqui desse buêro aí ó do lado de cá berano aqui dolado de lá mais berano a grota...vei chegô lá...chegô lá mia fia quano ê chegô cá ê baxô” (Ent. 09, linhas 83 e 84) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): __________________________________________________________________________________________ Origem: Grota. sf. 1abertura produzida pela enchente na ribanceira’ ‘vale profundo’ 1540. Do it. gròtta. (CUNHA, 1986, p. 397) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 295. GUATAMBU Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ 228 Madeira de cedro e os portão de guatambu, e eu fiz na praina de mão, né? Porque o banco, você coloca no banco, passa a praina, até fica lisinho, né? (19; 295). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Guatambu. s. m. árvore da fam. das Apocináceas, também chamada de pau-pereira, pereiro, peroba-setim, guatambu-marfim, jipio, pau de tanho branco, pau-setim, pequiá amarelo, pequiá branco, pequiá marfim, pequiá doce. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: Guatambu. s. m. árvore da fam. das Apocináceas, muito usada para porretes, cabos de enxada, etc.; fig., a enxada: "Eu quero é vê vacê no cabo do guatambu, seu prosa!" | Tupi. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Guatambu. sm, ‘planta da fam. das apocináceas’ XX. Do tupi *iuata’m,u. (CUNHA, 1986, p. 399) 296. GUELA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ É. A (jojo) que ês fala. Intão toca ê lá e ê já tem o lugázinho dele de chegá lá no canto. Põe a soga. Aí põe a canga, aí abutoa a brocha aqui, na guela dele aqui. (4; 211) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Goela. s.f. Cast. goliella. Entrada dos canais que poem em comunicação a bôca com o estômago e os pulmões. 4. Aurélio: Goela .[Do lat. *gulella, dim. de gula, ‘garganta’, ‘goela’.] Substantivo feminino. 1.V. garganta (1). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Guela. O mesmo que garganta.É a (jojo) que ês fala. Intão toca ê lá e ê já tem o lugázinho dele de chegá lá no canto. Põe a soga. Aí põe a canga,aí abutoa a brocha aqui,na guela dele aqui... (Ent.4, linha 211) 2. Freitas (2012): Guela. O mesmo que garganta. “INF.: Uai nós ficamo cunheceno macarrão...ocê lembra do guela de pato? PESQ.: um viradim grande todo riscadim. INF.: é um bitelão memo assim ó ele era um caiau memo cê fazia ele quais que treis bago inchia a panela” (Ent.09, linha 44) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Goela. sf. ‘garganta’/guela XVII/Do lat. *guella, dimin. de gula ‘esôfago’. (CUNHA, 1986, p. 389) 297. GUIAR [V] __________________________________________________________________________________________ E ele num manda a gente guiá de jeito nenhum, e eu falei pra um primo que eu tinha medo de andar com ele, meu primo fala pra ele, ele não me chamou mais. (20; 544) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Guiar. Aquelle que vai diante do outro, encaminhando-o. &c Dux, dux, ducis, Malf. Dux. Via. Quint. Curt. 2. Acção de guiar. 2. Morais: Guiar. s. f. A pessoa que vai adiante ensinando o caminho, alguns o fazem masculino sendo homens os guias. 229 3. Laudelino Freire: Guiar. s. f. De via. 1. Ação ou e feito de guiar, de dirigir. 2. A pessoa que dirige, que ensina o caminho. 3 Direção, governo, regra. 4. Aurélio: Guiar. 1. Ato de guiar, direção, governo. 21.Que dirige ou conduz. 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Guiar. vb. Orientar, aconselhar, ensinar. Dirigir, encaminhar, governar. (CUNHA, 1986, p. 400) 298. GUINÉ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 2: Aquê ramo catingudo. Uns fala gambá e out[ro]o num sei que/ chama. INF. 1: Guiné. Ês chama ele de guiné.”(1; 626) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Guiné. sm. 2.Planta da família das fitolacáceas, também chamada erva-pipi e mucura-caá. 4. Aurélio: Guiné .[Do top. Guiné.] Substantivo feminino. 1.Bras. Bot. Planta da família das fitoláceas (Petiveria tetrandra); erva-pipi, tipi, tipu, tipuana. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Guiné. Planta constituída de ramos mal cheirosos. Acredita-se que tem poder de curar mal- olhado. INF.2: Aquês ramo catingudo. Uns fala gambá e Oto num sei que/chama.INF.1:Guiné.Ês chama ele de guiné.” (Ent.1, linha 626) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 299. GURITA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Não, pra cá, que nem eu ti falei, daqui 8km pra lá, né? Que é a gurita, aqui é divisor de água, corre pra lá e pra cá. (3; 297). É, então, tinha um, essas chacina que ês fazia aqui antigamente, aqui no Gurita que eu tô falando que é do C. M., só que lá em baixo, uma tar duma... (3; 398). Meus filho foi criado quase tudo lá, depois que eu mudei pra cá. E meio que Babilônia, Gurita, tem um lugar lá, na Gurita lá embaixo chama Melado. É uma bagunça isso aí. (10; 11). Aqui na Gurita tem muita terra que nem dono num tem. Nem dono num tem, num tem não. Os dono pegou, uns morreu, outros foi embora, largou de mão disso aqui. Lugar muito ruim tamém. A tal Gurita lá que virou um sertão, num tem ninguém. (10; 78, 80). E a Gurita lá?... Gurita tá boa, você foi lá? (8; 18, 19). 230 Eu sou do Glória, depois eu mudei pra Gurita eu estava com 9 anos, meu pai compro uma fazenda aí, morava nos Canteiros lá. (6; 40). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Gurita. s.f. Pop. O mesmo que guarita. Casa de jogos//Lus Marco da tringulação geodéstica. Égua velha. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Gurita. Nome dado aos postos de fiscalização da Receita Estadual ou Federal nas estradas. Entr.:“Diz que pra trazer as coisa pagava imposto” Inf.: “Pagava...” Entr.: “Diz que tinha gente que escondia.” Inf. Escondia...escondia muito. “É?” Inf.: É mais... a gente pra andar no claro... que tinha muitas... as gurita pra gente passar pro (nome) ... Na Conquista também...” (18;50) __________________________________________________________________________________________ Origem: Guarita. XVI, gorita XVI | Possivelmente do it. garitta. (CUNHA, 1989, p. 399) I 300. IGUALE Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ A seca tá ruim, nunca vi um ano seco iguale esse, iguale foi esse ano. (26; 104) ...só na terra ruim iguale a nossa aqui. (32; 240) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Igual. (termo relativo) O que é do mesmo tamanho, que outro, o que tem a mesma quantidade, o qualidade. 2. Morais: Igual. 1 adj. Que tem a mesma grandeza continua, ou numérica que outro. 2. Da mesma natureza, e qualidade, ou sorte, física ou moral. 3. Laudelino Freire: Igual. Tem a mesma quantidade, qualidade, valor, forma ou dimensão que outro. 2. Que é da mesma condição, da mesma categoria. 4. Aurélio: Igual. 1 Que não apresenta diferenças (relativamente à pessoa ou coisa que serve de comparação). 2 Que é muito parecido. 3 Que não varia; que é sempre o mesmo. 4 Que não apresenta saliências, rugosidades. 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): Ĩguali. Que tem a mesma aparência, não apresenta diferença. O mesmo que igual. • Ê sabia do modo nosso de abri porta né...num tinha chave não aí tô durmino a lua tava ĩguali um dia tô ovino lá um tum tum passei a mão na garrucha. (Ent.02, linha 09) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e 231 __________________________________________________________________________________________ Origem: Igual: adj. ‘idêntico, que tem as mesmas características, uniforme, inalterável’ XIII, ygual XIII etc. Do lat. aequālis. (CUNHA, 1986, p. 423) 301. IMBIGO Nm[Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí fazia tamém um de pô no imbigo/redondinho/vai as tirinha por riba/sabe como a mãe fazia aquilo/fazia pos quarto iscondida. Enfiava de baixo da cama. Óia o tanto que nóis era bobo. (1; 575) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Umbigo. “Embigo. Vid no seu lugar. O primeiro parece mais próprio pela analogia, que tem com umbilicus, que em latim significa o mesmo. Porém o uso he por embigo.” 2. Morais: Umbigo. “V. Embigo, como se diz ordinariamente.” 3. Laudelino Freire: Umbigo. “s.m. Cicatriz no meio do ventre, originada pelo corte do cordão umbilical.” 4. Aurélio: Umbigo. “[Do lat. umbilicu, pela f. *umbiigo.] Substantivo Masculino 1. Anat.Cicatriz no meio do ventre, originada pelo corte do cordão umbilical. 2. Bot.Formação mais ou menos desenvolvida que se nota no centro e na base de certos frutos, como, p. ex., a laranja-da-baía.” 5. Amadeu Amaral: Imbigo. “s.m. //”Embigo é forma popular __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Imbigo. Cicatriz produzida pelo corte do cordão umbilical. Variante antiga de umbigo (Umbigo > imbigo - caso de assimilação). Aí fazia tamém um de pô no imbigo/redondinho/vai as tirinha por riba/sabe como a mãe fazia aquilo/fazia pos quarto iscondida.Enfiava de baixo da cama. Óia o tanto que nóis era bobo. (Ent.1, linha 575) 2. Freitas (2012): Imbigo. Depressão cutãnia localizada no centro do abdômem. O mesmo umbigo. “ O menina mais num tem muitos ano que ea morreu...(T...) corto o imbigo do (L..) que ti(M...G...) quebro o braço e num pode vim assim mesmo ea brigo de ciúme que os premero é perigoso”. (Ent.06, linha 146) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Imbigo. Cicatriz arredondada, deprimida ou saliente, formada no meio da barriga pelo corte do cordão umbilical. Variante de umbigo. . Hoje eu tô essa sonsa aqui, mais eu alembro disso tudo. Eu comia imbigo de banana, angu de banana. (Entrevista 11, linha 98) 5. Souza (2014): Imbigo. Cicatriz produzida pelo corte do cordão umbilical.Variante antiga de umbigo.(Umbigo > caso de assimilação). “...quando dava tempo de buscar a parteira bem...quando num dava era ele mesmo...cortava o imbigo da criança.”(16; 472). __________________________________________________________________________________________ Origem: Umbigo. “sm. ‘cicatriz no meio do ventre, originada pelo corte do cordão umbilical’ / XVI, embiigo XIII, ynbiigo XIV, embijgo XIV etc. / Do lat. umbilicus –i.” (CUNHA, 1986, p. 802) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Arcaísmo 302. IMPARIADO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Lá vai, lá vai impariado numa certa distância. Trinta braça paralelo cum nóis na istrada. (8; 76) Tua avó quando morreu. / Seu avô morava impariado lá em casa. Morava na horta ( ) (15; 255) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Emparelhado. Como quando se diz, Dous cavallos emparelhados em tiro. 2. Morais: Emparelhado. p. pass. de Emparelhar. Junto a par de outro, hombro com hombro: v.g. podem ir pelo caminho dois homens emparelhados; dois cavallos emparelhados em tiro. Como se c’o sangue andara emparelhado entendimento, e virtude; acompanhado igualmente. V. do Arc. I. 9. 3. Laudelino Freire: Emparelhado. adj. P. p. de emparelhar. Que forma parelha com outra cousa ou pessoa. 4. Aurélio: Emparelhado. [Part. de emparelhar.] Adjetivo. 1.Que forma parelha com outra coisa, animal ou pessoa; jungido, igualado, irmanado. ~ V. rimas —as. 5. Amadeu Amaral: Pareiada, aparelhada. s. f. - faca com cabo e bainha de prata: "Quelemente enfiou uma ponta da fralda da camisa dentro das calças, tirou um rolete de fumo da algibeira, desembainhou a pareiada e pediu ao tropeiro que fizesse "passeá" o malacara". (C. P.). __________________________________________________________________________________________ 232 Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Impariado. Colocado lado a lado. Lá vai,lá vai impariado numa certa distãncia.Trinta braça paralela cum nóis na instrada. (Ent.8, linha 76) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Empariando. Pôs a par. “...uma certa hora da tarde ir lá ajudá sortá o gado lá pra ele ir empariando por baixo assim ó... pro gado num/num descê...” (Ent.3, linha 513) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 303. IMPREITA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: É.../ o meu pai/ ês trabaiava/ o meu pai gostava é de tocá a meia. PESQ.: Tocá ? ( ) INF.: É impreita nas fazenda, né? PESQ.: Ah, sei. INF.: Impreita, pegava assim impreita. Prantava arroiz/ fejão/ mantimentos, né? (10; 243, 245) Ajudô, e dispois eu digo, cada ano que entrava um, que já tava dano conta de capiná, nóis capinava, roçava, pegava empreita nos outro, era só na mesmo, no mato mesmo. (32; 315) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Empreita. s.f. O mesmo que empreitada. 4. Aurélio: Empreita. [Dev. de empreitar.] Substantivo feminino. 1.V. empreitada2 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Impreita. Obra por conta de outrem, com pagamento previamente ajusado. INF.: É.../ o meu pai/ês trabaiava/o meu pai gostava é de tocá a meia.PESQ.:: Tocá? ( ) INF.: É impreita nas fazenda, né?PESQ.: Ah, sei. INF.: Impreita, pegava assim impreita. Prantava arroiz/fejão/mantimentos,né? (Ent.10, linhas 243 e 245) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Empreita. Do a. fr. plaid, deriv. do lat. placitum –i,XV. (CUNHA, 1986, p. 631) 304. INDAGAR [V] __________________________________________________________________________________________ É 50m um terreno até no parque, e aí ele foi indagando, mas acho que não virô nada. (31; 137) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Indagar'. v. at. ir buscando, rastejando, alguma coisa para achar como buscar uma caça. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Indagar. v.r.v. Lat. indagare. Fazer diligência por descobrir; pesquisar, buscar, investigar, averiguar. 4. Aurélio: Indagar. v.t.d. 1. Procurar saber; pesquisar, investigar, inquirir. 2. Perguntar, inqurir, interrogar. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e 233 __________________________________________________________________________________________ Origem: Indagar. vb. ‘procurar saber, fazer por descobrir, investigar’ XVI. Do lat. indagare. (CUNHA, 1986, p. 432) 305. INELAÇÃO Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: E um minininho. Um casalinho. É. Agora ês taí. Eu num tava nem sabeno que ês tinha vindo. Mais agora ela tá tomano inelação. Agora, eu tava falano... PESQ.: Tomando o quê? INF.: Inelação. Mais diz que dá uma suadera nela. Ela dá de sinti mal. PESQ.: Que que é isso? () INF.: Aquele que tampa o vapor.”(13; 98, 100) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Inelação. Inalação. PESQ.:Tomando quê? INF.: Inelação.Mais diz que dá um suadera nela. Ela dá de sinti mal. PESQ.: Que que é isso? ( ) INf.: Aquele que tampa o vapor.”(Ent.13, linha 100) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 306. INFRUEZA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ A gente chegava lá e ele tava cum pano marrado na cabeça, sentado no rabo do fogão. E lá/ ê chamava M. e tinha apelido de N. Tratava ele de N. “Ô tio N., o sinhor tá bão?”“Ah, meu fio num tô bão não. Eu/ me deu uma infrueza danada”. E eu ficava pensano que infrueza é essa?Aí dipois eu lembro num livro é o nome cientifico da gripe é infrueza. (14; 45) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Infrueza. Gripe. Eu /me deu uma infrueza danada. E eu ficava pensano que infrueza é essa? Aí dipois eu lembro num livro é o nome científico da gripe é infrueza. (Ent.14, linha 45) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Influenza. XIX. Do ing.influenza, e este, do it. influenza. (CUNHA, 1986, pág. 445) 307. INGASTAIO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí dipois arranjô um ingastaio aí/uma cerca ao redó da casa. Passei pa casa, fugão num tinha. (15; 668) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 234 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 6. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Ingastaio. Problema. Aí dipois arranjo um ingastaio aí/uma cerca ao redó da casa. Passei pra casa, fugão num tinha. (Ent.15, linha 668) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 308. INGENHO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 2: Lá em casa tinha ingenho. ((vozes)) Tinha ingenho, muía cana. PESQ.: Ahn. INF. 2: Chegava de madrugada ( ) ficava pono o cavalo no ingenho, um punha a cana e o oto tocava o cavalo. Chegava manhecia o dia aquela caxa grande cheia de garapa. Punha nas caxa e ia apurá. (5; 317, 319) Nóis tinha ingenho de cana. (11; 227) Quando era lá meia-noite meu pai já levantava. Já tá amanheceno, já tá amanheceno. Ô, vamo po ingenho. Ia po ingenho e nóis rodava nesse ingenho até de noite. (11; 230) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Engenho. Engenho de açúcar. 2. Morais: Engenho. Máquina. 3. Laudelino Freire: Engenho. s.m. Lat. ingenium. 10. Estabelecimento agrícola, destinado à cultura da cana e fabricação do açúcar. 4. Aurélio: Engenho. [Do lat. ingeniu.] Substantivo masculino. 7.Bras. Moenda (1) de cana-de-açúcar. 8.Bras. Estabelecimento agrícola destinado à cultura da cana e à fabricação do açúcar. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Ingenho. Estabelecimento agrícola destinado à cultura da cana e á fabricação do açúcar. Lá em casa tinha ingenho. ((Vozes)) Tinha ingenho, muía cana. (Ent.5, linha 319) 2. Freitas (2012): Engem. Aparelho para moer cana de açúcar; moenda. “Quano manheceu papai disse “ó vai lá na casa do (A...) e eu vô cortá o pau ali pa fazê ôto engem que nós tá com cento e oitenta quilo que cana no engem”” (Ent.02, linhas 194 e 195) 3. Miranda (2013): Ingenho. Aparelho para moer cana de açúcar;moenda. “No ingenho também...é...hoje tem muito ingenho a moto que é/tem/tinha ingenho tocado á água...mas esses ingenho quase natural por todo canto era com boi...”(Ent.1, linha 323) 4. Cordeiro (2013): Ingem. Máquina usada na moagem de cana de açúcar, moenda de cana de açúcar. Tinha ano que as lagaita comeu ou o sol, todo mundo tinha, todo mundo tinha cana, tinha o ingem que atravessava assim cortava a cana e chegava aqui e tocava ó garapão lá pra bebê garapa, cumê melado. Num faltava nada. (Entrevista 11, linha 123) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Engenho. Sm. ‘maquina’ ‘oficina’/XIV, engeo XIII, engeyo XIII, engeno XIV/Do lat. ingenium. (CUNHA, 1986, p. 299) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 309. INSTRUÇÃO Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ 235 Uai, não tem instrução nenhum, uai. Uai, não tem fábrica nenhum aqui, não tem serviço uai. (25; 28) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Instrucção. s.s. ensino, educação, documento.- 2. Morais: Instrução. S.f. Ensino, educação, documento. 3. Laudelino Freire: Instrução. Educação intelectual. 4. Aurélio: Instrução. Conjunto de conhecimentos adquiridos na escola. 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e Freitas (2012): n/e Miranda (2013): n/e Cordeiro (2013): n/e Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Instrução. Instruição XVI |Do lat. instructio. (CUNHA, 1986, p. 439) 310. INTÉ [ADV] __________________________________________________________________________________________ Ah! Cidade é uma baruieira danada, né? Às veiz a gente ta durmino, acorda inté assustada, né? (12; 206) Inté ea tá pa cabá de arranjá. (12; 215) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Inté. “prep. Ant. e pleb. O mesmo que até.” 4. Aurélio: Inté. “Prep. Ant. Pop. 1.Até: “Inté veludos e crinolinas, sutaches e aljofres eram encontradiços nas vendas.” (Nélson de Faria, Cabeça Torta, p .8).” 5. Amadeu Amaral: Inté. “até, prep. e adv.” __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Inté. Limite em um espaço de tempo.Variante de até (até > inté-caso de alçamente com nasalização). Ah! Cidade é uma barueira danada, né? Às veiz a gente ta durmino, acorda inté assustada, né? (Ent.12, linha 206) 2. Freitas (2012): Inté. Expresa um limite de tempo. O mesmo que até. “PESQ.: E era muita gente que tinha? Muita gente naquele tempo que tinha o bichinho? INF.: Inté hoje por aqui tem...tem ...tem por aaqui mesmo tem uns treis ou quatro que tem ele no vidro aí”(Ent.11, linha 159) Inté². Também, inclusive. O menino que até. “ Parece inté uma brincadêra ieu envinha descendo sozim peguei a barriguêra e envinha desceno sozim com um pelego vermei na mão pra carçá a cabeça”(Ent.02, linha 84) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Inté. Limite em um espaço de tempo. Variante de até(Até>Inté-caso de alçamento com nasalização). “...punha a lata em cima da cabeça...tou com galo inté hoje ainda.”(20;26).Cf.anté. __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 311. INTERAR [V] __________________________________________________________________________________________ Dia 17 vou interá os 101. (34; 13). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Inteirar: v.r.v. De inteiro + ar. Tornar inteiro, completar, preencher. 4. Aurélio: Inteirar. v.t.d. 3. Completar, totalizar. 5. Amadeu Amaral: n/e 236 __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Inteirar. XVI Forma divergente de integrar. Do lat. (CUNHA, 1986, 440) 312. INTENDIDO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Nossa uma duença lá/ o meu pai era muito intendido da medicina. (11; 68) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Entendido. Participio. Douto, discreto, &c. Entendido em alguma coisa. 2. Morais: Entendido. p .pass. de Entender. O homem que tem inteligência, que não é lerdo; o discreto; que sabe alguma coisa. 3. Laudelino Freire:Entendido. adj. P. p. de entender. Entendedor, conhecedor, perito, sabedor, douto, inteligente. 4. Aurélio: Entendido . [Part. de entender.] Substantivo masculino. 4.Aquele que é sabedor, douto: Os entendidos aprovaram sua exposição. 5.Bras. Gír. Indivíduo entendido (3). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 313. INVOCADO Nm [ADJsing] _________________________________________________________________________________________ E engraçado ele sempre foi invocado a sê padre. Ê teve no convento. (15; 724) _________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Invocado. part. pass. de Invocar. 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Invocado. [Part. de invocar.] Adjetivo. 2.Bras. Gír. V. cismado. 5. Amadeu Amaral: n/e ________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012) n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e _________________________________________________________________________________________ Origem: Invocado. Do lat. invocare, “1572”. (CUNHA, 1986, p. 444) _________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 237 314. ISPICULAR [V] __________________________________________________________________________________________ Aí ia lá e ispiculava porque tava duente, porque que tava porque que num tava. Fazia receita e ia um de a cavalo lá na Ventania fazê a forma do remédio. (11; 85) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Especular2. v.t.i. 3. Informar-se minuciosamente. 5. Amadeu Amaral: Espiculá(R), especular. v. t. e i. - Comerciar: “Ando espiculando com fumo na praça, pra vê se ganho uns cobres”; indagar, perguntar insistentemente: “Espiculei, mais não pude sabê de nada”; fazer perguntas indiscretas: “Não me espicule. Não espicule êsse negócio” (i. é, esseassunto”). | Esta forma é antiga e ainda hoje pop. no Sul de Port. (L. de Vasc., “Emblemas”,introd.) A forma culta é especular. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 315. ISPIGÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Oiei pra tráis, o caminhão tava lá no oto ispigão, crariô lá adiente. Aquela lanterna num era assombração, era o caminhão que envem. (4; 81) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Espigão. s.m. De espiga + ão. 4. Parte mais elevada do muro ou da serra, em forma de aresta. 4. Aurélio: Espigão. [De espiga + -ão1.] Substantivo masculino. 3.Pico de serra, de monte ou de rochedo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Espigão. Do lat. spicatus –a, -um, XVI. (CUNHA, 1986, p. 323) 316. ISPINHO DE BENZINHO NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: O passarinho hoje ta incucado. Aí, nóis já abria lã/catá ispinho de benzinho. Aquê ispinho brabo. PESQ.: Benzinho? INF.: É. ( ) Ispinho de benzinho, otos fala ispinho de gancho. Aí tirava... PESQ.: Ispinho de quê? INF.: Ispinho de gancho. Porque ele tem um ganchinho. (13; 533, 536) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 238 5. Amadeu Amaral: n/e _________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Espinho. XV. Do lat. spinus. (CUNHA, 1986, p. 324) Bem. Do lat. bene. (CUNHA, 1986, p. 105) 317. ISPOLETA Nf [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Eu vinha ca minha mãe, né? Porque eu era ispoleta. Assim ela gostava de me trazê, né. (10; 58) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 318. ISTEIO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: O pau-a-pique é o que? INF. 1: Os pau-a-pique é uns bambule assim. INF. 2: Não, fazia a maió parte da casa de madera. Faiz uns isteio. PESQ.: Ahn? INF. 2: Cum certeza a do seu pai ( ) era desse jeito.”(5; 46) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Estéio. Pao, que se sustenta, & em que descança alguma coisa para mayor firmeza. 2. Morais: Estéio. s.m. (esteyo, melhor ortografia) Páo que sostem, e sobre que descança alguma coisa: também há esteyos de pedra. 3. Laudelino Freire: Esteio. s.m. Ingl. stay. 1. Peça de madeira, ferro, pedra, etc., que serve para segurar ou escorar alguma coisa. 4. Aurélio: Esteio. [De or. obscura.] Substantivo masculino. 1.V. escora (1). 2.Fig. Amparo, apoio, arrimo, auxílio, proteção. ~ V. esteios 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Esteio. sm. ‘peça de madeira, metal, pedra etc., com a qual se sustém alguma coisa’/esteo XIII/De etimologia obscura. (CUNHA, 1986, p. 329) 239 319. ISTUNDÁ [V] __________________________________________________________________________________________ ...o sole tava reganhano, tava de istundá. (15; 530) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 320. ISTURDIA [ADV] __________________________________________________________________________________________ Isturdia eu cortei um tanto. (1; 626) Nóis saiu daqui isturdia. (2; 120) Isturdia pra trais/ é/ tinha um bizerro que ficava/ ê entrô lá na cana. (13; 37) A fia dele levô ela na iscola isturdia e falô pra professora dela que num tava podeno i ainda não. (13; 116) Isturdia ainda falei no café a sariema tá advinhano chuva. Aí ês falaro “vai chovê não” ( ). (13; 328) Fala pra ês/ isturdia o I. brincô aqui, tá trabaiano na osina à custa de mim ca mãe dele. Coitadinho, né? (15; 830) Uai, ela deitô ali isturdia. (15; 903) Aquele B. trouxe pra mim estrurdia, eu falei: “Como.” (32; 395) Esturdia eu andei brincando com as professora... (32; 439) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: Átrudia, outro-dia. loc. adv. de tempo: "Atrudia estive em sua casa não le achei". | Não é caso único esta mudança de o em a: Cp. ara, sinhara, hame; e ainda aribu, arapuca, ao lado de urubu, urupuca. Também há isturdia, que, com variantes (siturdia, etc.) é comum em quase todo o Brasil, notadamente no Nordeste. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Isturdia. Outro dia. • Isturdia ainda falei no café a sariema tá advinhano chuva. Aí ês falaro “vai chovê não” ( ). (Ent. 13, linha 328) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 240 5. Souza (2014): Isturdia. Relativo a alguma data passada, não muito longe; outro dia. ―... isturdiaeu tava em Belo Horizonte... eu tava contando lá o povo...‖ (32; 322). __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 321. IXCUMUNGADO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Jeriza do J. H. Aí ê oiô na janela/ nóis passava assim na istrada ( ) na casa da ( ) . Ê falô aasim: “pode i ixcumungado, cê vai de sole, mais cê vorta debaxo de chuva.” Ah, rapaiz mais põe chuva nisso. (15; 535) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Excommungado. Vid. Excommugar. 2. Morais: Excomungádo. p. pass. de Excomungar. 3. Laudelino Freire: Excomungado. Excommungado. adj. P. p. de escomungar. 2. Fam. Maldito, amaldiçoado. 4. Aurélio: Excomungado. [Part. de excomungar.] Adjetivo. 2.Péssimo; detestável; amaldiçoado: indivíduo excomungado; Que máquina excomungada, que não funciona!Substantivo masculino. 3.Indivíduo que sofreu excomunhão (2). 4.Indivíduo excomungado (2). 5.V. diabo (2). 5. Amadeu Amaral: Escomungado. q. - muito usado como insulto. | Encontra-se com c mesmo sentido em Gil V.,“Auto da Índia”:Má nova venha por ti Perra, escomungada, torta. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Ixcumungado. Maldito. • Ê falô assim: “pode i ixcumungado, cê vai de sole, mais cê vorta debaxo de chuva.” (Ent. 15, linha 535) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 322. IXEMPRAR [V] __________________________________________________________________________________________ Aí pegô, ê num ixemprava não. (2; 225) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Ixemprar. Aprender com os próprios erros. • Aí pegô, ê num ixemprava não. (Ent. 2, linha 225) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Exemplar. Exemplar XVI / exemprar XV/ Do lat. exemplare. (CUNHA, 1986, p. 341) J 241 323. JABE Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Madeira de cedro e os portão de guatambu, e eu fiz na praina de mão, né? Porque o banco, você coloca no banco, passa a praina, até fica lisinho, né? E vai modelando ela, né? Até dá uma janela, e depois faz o quadro, faz os jabe, e jeita, a janela assenta certim dentro daquele quadro ali. (4; 297). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 324. JACÁ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Carguero é/ ês arruma dois jacá assim feito de taquara. PESQ.: O quê?INF.: Jacá, balaio. ... Intão, uns fala balaio e otos fala jacá. (14; 169, 171, 175) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Jacá. s.m. Tupi aiacá. Espécie de cêsto de forma variável, feito de taquara ou cipó, em que os animais transportam carne, peixe, milho, queijo, etc. 4. Aurélio: Jacá . [Do tupi.] Substantivo masculino. 1.Bras. Espécie de cesto feito de taquara ou de cipó, e de forma variável, para conduzir carga, em geral de comestíveis, às costas de animais: “berços de cipó e balaios de taquara; jacás sem fundo” (Euclides da Cunha, Os Sertões, p. 581) 5. Amadeu Amaral: Jacá. s. m. - cesto de taquara. - Há-os de diferentes dimensões e formas, para vários usos. Dá-se, notadamente, esse nome a um cesto estreito e comprido de metro e meio a dois metros, usado para o transporte de galinhas e frangos. | Do tupi “aijacá” __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Jacá. Espécie de cesto feito de taquara ou de cipó. • INF.: Carguero é/ ês arruma dois jacá assim feito de taquara. PESQ.: O quê? INF.: Jacá, balaio. ... Intão, uns fala balaio e otos fala jacá. (Ent. 14, linhas 169, 171 e 175) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Jacá. sm. ‘cesto feito de taquara’/jacázes pl. c1698 etc./Do tupi aia’ka. (CUNHA, 1986, p. 451) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 325. JAGUNÇO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí ê falô: “nem assim eu tô sastifeito. Esse povo, a vaca num pegô ês/ mas eu pego.” Ranjô dois jagunço pegô e matô essa Compania de Reis tudo. Todo mundo que tava na Compania de Reis. (2; 215) 242 E morreu os jagunços... (35; 126) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Jagunço. s.m. 3.Valentão, guarda-costas, capanga. 4. Aurélio: Jagunço. [De zaguncho (q. v.), poss.] Substantivo masculino. 1.Bras. V. capanga (4). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Jagunço. Capanga, assassino de aluguel. • Aí ê falô: “nem assim eu tô sastifeito. Esse povo, a vaca num pegô ês/ mas eu pego.” Ranjô dois jagunço pegô e matô essa Compania de Reis tudo. Todo mundo que tava na Compania de Reis. (Ent. 2, linha 215) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Jagunço. Bras. Denominação dada no interior do Brasil ao indivíduo contratado como assassino de aluguel; cangaceiro. ―... quando a pessoa dava por fé que ês tava caçando ês botava o jagunço atrás...‖ (21; 26). Cf. capanga. __________________________________________________________________________________________ Origem: Jagunço. sm. ‘orig. arma de defesa’ ‘ext. o indivíduo que a manipula, cangaceiro, valentão assalariado’ XIX. Talvez de zaguncho ‘arma (do séc. XVI)’, também de origem incerta, com troca da posição da alveolar e da palatal. (CUNHA, 1986, p. 452) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio, Souza. 326. JEQUITIBÁ Nm [SSing] __________________________________________________________________________________________ A serra devagarinho, umas tábua bonita de jequitibá, jequitibá é um pau branco, né? (22; 41) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Jequitibá. s.m. Planta criptogâmica, espécie de líquen. 4. Aurélio: Jequitibá. sm. Bras. Bot. Árvore leticidácea de madeira útil. 5. Amadeu Amaral: Jiquitibá. s.m. - mirtácea de grande altura.- Há j. amarelo, branco e vermelho. | É a maior árvore da flora e das maiores do mundo (B. - R.) - Costuma-se escrever "jequitibá". - Tupi. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Jequitibá. sm. ‘planta da fam. das lecitidàceas’ | juquitibá 1587, jequitiba 1711 etc. | Do tupi iikiti’ua. (CUNHA, 1986, p. 455) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 327. JERIZA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 1: Era. Era o J.H. Dipois no oto dia quando maicô o casamento, o sole tava reganhano, tava de istundá. O rapaiz ( ) o casamento cumigo/ ê neim l’em casa num vortô mais. E eu tamém num vi cara dele. Tomô jeriza do J. PESQ.: Tomo o quê? INF. 1: Jeriza do J. H. (15; 532, 534) _________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 243 2. Morais: Ojeriza . s.f. Antipathia; v.g. ter ogeriza com alguém. P. Per. P. us. O vulgo diz geriza . 3. Laudelino Freire: Ojeriza. s.f. Cast. ojeriza. Aversão a uma pessoa ou cousa. 4. Aurélio: Ojeriza .[Do esp. ojeriza.] Substantivo feminino. 1.Má vontade, aversão, antipatia a pessoa ou coisa: “Sempre tive ojeriza a quem não encara de frente.” (Afrânio Peixoto, Fruta do Mato, p. 151.). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Jeriza. Raiva, ódio. • INF. 1: Era. Era o J.H. Dipois no oto dia quando maicô o casamento, o sole tava reganhano, tava de istundá. O rapaiz ( ) o casamento cumigo/ ê neim lem casa num vortô mais. E eu tamém num vi cara dele. Tomô jeriza do J. PESQ.: Tomo o quê? INF. 1: Jeriza do J. H. (Ent. 15, linhas 532 e 534) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Ojeriza. sf. ‘aversao, antipatia, repugnância’/XVII, ogeriza 1813/Do cast. ojeriza, deriv. de ojo ‘olho’. (CUNHA, 1986, p. 559) 328. JINELA Nf [Ssing] INF.: Minha casa cabô tudo. Tá tudo desbandonada. Até porta tá destrangolada. Tava só a lancha do pade Vicente lá de Paraíso. O que foi que sirviu lá. É só a rampa que ês feiz. Ficô bunito. Ficô uma água mais ou meno dessa fundura assim ó. Ficô no jeito de tomá banho. Enta dento da água. Ficô uma água bunita. Da jinela da minha casa cê pesca assim na represa. PESQ.: Nossa que beleza! INF.: Ficô cheinho, beraninha a jinela.”(2; 193, 195) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: Jinéla, janela.s. f. | Esta forma veio por “jenela”, antiga em Port,. já registada por F. J. Freire. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Jinela. Má vontade, aversão, antipatia a pessoa ou coisa. • Da jinela da minha casa cê pesca assim na represa. PESQ.: Nossa que beleza! INF.: Ficô cheinho, beraninha a jinela.” (Ent. 2, linhas 193 e 195) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Janela. sf. ‘abertura na parede de um edifício’ XIII. Do lat. vulg. *januella, dimin. de janua. (CUNHA, 1986, p. 453) 329. JOÃO DEITADO NCm [Ssing + prep. ADJsing] __________________________________________________________________________________________ ...e aquele João Deitado que eles fala, conhece? (36; 196) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 244 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e L 330. LADERADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Andava de noite, no iscuro, naqueas laderada. Todo mundo acustumado, né? (14; 478) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Ladeira. Costa. 2. Morais: Ladèira. s.f. Subida com pendor, e declive. 3. Laudelino Freire: Ladeira. s.f. Lat. lateraria. Terreno inclinado; declive, rampa, encosta. 4. Aurélio: Ladeira. sf. 1. Inclinação de terreno um tanto acentuada. 2. Rua mais ou menos íngreme. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Laderada. Várias subidas seguidas. • Andava de noite, no iscuro, naqueas laderada. Todo mundo acustumado, né? (Ent. 14, linha 478) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Ladeira. XV. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 462) 331. LADERÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Arava aquele monte de chão, aques laderão na divisa do Teca, né? (16; 118) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Ladeira. Costa. 2. Morais: Ladèira. s.f. Subida com pendor, e declive. 3. Laudelino Freire: Ladeira. s.f. Lat. lateraria. Terreno inclinado; declive, rampa, encosta. 4. Aurélio: Ladeira. sf. 1. Inclinação de terreno um tanto acentuada. 2. Rua mais ou menos íngreme. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013: n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Ladeira. XV. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 462) 332. LADROAGEM Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ 245 Que cada um prantava, tinha suas fazenda, morava nas suas fazenda, aqui o Barreiro era poucas casa, todo mundo trabaiava, num tinha essa ladroagem que tem hoje, que hoje em dia a maió parte é ladrão, maconhero, cachaceiro, e em buteco, trabaiá ês num que não, eu revortada por causa disso, fia, eu tô num ponto de raiva. (33; 7). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3.Laudelino Freire: Ladroagem. s.f. De ladro¹. Vício de ladrão// 2.Os ladrões; a classe de ladrões.//3.Ladroeira, ladroice. 4. Aurélio: Ladroagem. subt. Fem. Veja ladroeira [Plural:ladroagens.] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 333. LAMPARINA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ É porque lá num ixistia/ num ixistia energia elétrica. Intão a querosene era usada pra lamparina, né? Mais antes disso... (14; 205) E num sei se punha ropa dispois que/ tava na hora de interrá. Porque ês fazia de noite cum lamparina, né? (13; 574) PESQ.: E tinha energia elétrica? INF. 1: Ah, tinha. PESQ.: Na roça? INF. 1: Lamparina. (9; 197) O que eu sei contá é no começo da vida da gente na roça, era muita dificuldade. Lá num tinha nada, num tinha luz num tinha nada. E era tudo cum lamparina de querosene. (5; 6) ...ele bebe de mais também, e ele ia lá em casa, as lamparinas... (32; 157) ...até vou compra uma lamparina da mulher ali... (32; 158) De primero não tinha nem vasilha pra você fazer lamparina, hoje você trupica em latinha, e alguma coisa, e vai fazer lamparina. (32; 168, 169) Aí usava a lamparina, quem um tinha lamparina, era azeite. (36; 157) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Lamparina. s.f. De lâmpada. Aparelho composto principalmente de um reservatório onde se contém azeite ou outro líquido apropriado, e munido de torcida que se acende para alumiar. 4. Aurélio: Lamparina .[Do esp. lamparilla.] Substantivo feminino. 1.Pequena lâmpada. 2.Pequeno recipiente com um líquido iluminante (óleo, querosene, etc.) no qual se mergulha um pequeno disco de madeira, de cortiça ou de metal traspassado por um pavio que, aceso, fornece luz atenuada; luminária: “no pequenino oratório florido, a lamparina de azeite coava a sua luz longínqua para um crucifixo doloroso” (Enéias Ferraz, Adolescência Tropical, p. 15). [Cf. candeia1 (1).] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 246 1. Ribeiro (2010): Lamparina. Pequeno recipiente com um líquido iluminante (óleo, querosene, etc.) no qual se mergulha um pequeno disco de madeira, de cortiça ou de metal traspassado por um pavio que, aceso, fornece luz atenuada; luminária. • O que eu sei contá é no começo da vida da gente na roça, era muita dificuldade. Lá num tinha nada, num tinha luz num tinha nada. E era tudo cum lamparina de querosene. (Ent. 5, linha 6) 2. Freitas (2012): Lamparina. Pequeno recipiente com um líquido iluminante (óleo, querosene, etc.) no qual se mergulha um pequeno disco de madeira, de cortiça ou de metal traspassado por um pavio que, aceso, fornece luz atenuada. • “Foi caçá tatu andô por esses arto fora desceu la trás no capão de lá caçano tatu com gaiola e inxadão lamparina chucho tudo tava com ês” (Ent. 09, linha 199) 3. Miranda (2013): Lamparina. Pequeno recipiente com um líquido iluminante (óleo, querosene, etc.) no qual se mergulha um pequeno disco de madeira, de cortiça ou de metal tranpassado por um pavio que, aceso, fornece luz atenuada. • “lamparina é querosene e com candieiro... quem não tinha candieiro e nem querosene e num tinha dinheiro pra comprá... lumiava era com taquara...” (Entr. 6. linha 466) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Lamparina. Pequeno recipiente de latão com um líquido inflamável (óleo, querosene etc.) no qual se mergulha um pequeno disco de madeira, de cortiça ou de metal traspassado por um pavio que, aceso, fornece luz atenuada; luminária. ―... é a lamparina que a gente tinha era essa... nem o criosene num tinha.‖ (27; 477). __________________________________________________________________________________________ Origem: Lamparina. 1858. Do cast. Lamparilla. (CUNHA, 1986, p. 463) 334. LAMPIÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Mas aqui, quando eu morei pra cá, não tinha essa liga, era tudo lampião... (31; 22) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Lampião. Vid. Lampadario tom. 5 do vocabul. 2. Morais: Lampião. s. m. V. Lampadario 3. Laudelino Freire: Lampião. s. m. Grande lanterna portátil, ou fixa num teto, esquina ou parede. 4. Aurélio: Lampião. Espécie de caixa, rodeada de vidros, com luz no interior, ao abrigo do vento. 5. Amadeu Amaral: Lampião. Lanterna. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Lampião. 1813| Do it. lampione. (CUNHA, 1986, p. 463) 335. LARANJA DE BICO NCf [Ssing + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ É igualzinho a laranja de bico, e aí nóis passava ate no rio cheio, dava vorta na ponte pra pode vim pra escola, fico na escola, num feiz nem o 4° ano, porque da moda do outo, num tinha professor, era só uma salinha pequena de escola. (33; 89). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 247 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 336. LARANJA DE LASTROS NCf [Ssing + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...tá pareceno aquela laranja de lastros, sabe? (32; 205) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 337. LARANJA IOA NCf [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ A sinhora qué ioa? Laranja ioa? (15; 768) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Laranja ioa. Laranja extremamente doce. • A sinhora qué ioa? Laranja ioa? (Ent. 15, linha 768) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 338. LARGAR DE MÃO [Loc V] __________________________________________________________________________________________ ...largou de mão de lá... (25; 77) ...largou de mão disso aqui. (25; 79) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 248 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Largar de mão. loc. verb. Deixar em paz. || 2. Abandonar. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Largar. vb. ‘soltar’ XVI. Do lat. largus. (CUNHA, 1986, p. 466) Mão. sf. ‘parte do corpo, na extremidade do braço, e que serve para o tato e para a preensão dos objetos’ Do lat. manus. (CUNHA, 1986, p. 498) 339. LASTRO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Lá naquele lastro lá... (35; 20) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 340. LAVRAR [V] __________________________________________________________________________________________ Aí papai trabaiava embaxo. Daí eles ( ) aço que lavrava aquês pau primeiro. (1; 643) INF. 2: ( ) Acho que és lavrava madera. INF. 1: Lavrava. (1; 665, 666) Aí, ês lavrava assim... (1; 669) Aí ês riscava assim/vamo supô que a /ês lavrava o pau que é redondo, né? (1; 672) Lavrava de lá, depois lavrava de cá, depois de cá. (1; 673) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Lavrar. Lavrar madeira. Vid. aprainar. 2. Morais: Lavrár. v. at. Fazer qualquer obra de mãos, v.g. obra de marceneiro. 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Lavrar. v.t.d. 3. Lapidar. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Lavrar. Aprainar, tornar a superfície plana. • Aí ês riscava assim/vamo supô que a /ês lavrava o pau que é redondo, né? (Ent. 1, linha 672) 249 2. Freitas (2012): Lavrar. Revolver e sulcar a terra para o plantio. • “A primera roça que eu prantei aqui foi ali do ôto lado foi lavrado na enchada tinha que lavrá na enxada que num tinha arado...adubo...adubo foi de um certo tempo pra cá num tinha adubo que o povo estudo aí veio o adub”. (Ent. 04, linha 435) 3. Miranda (2013): Lavrar. Revolver e sulcar a terra para o plantio, ou para extrair ouro e outros minerais. • “Ih... eles custuma lavrá o oro lá no ( ) tem uma... uma areia branca eles lavra / eles tira é muito oro...” (Entr. 4. linha 134) “É... bateia... sem a bateia num tirava não... num tira... agora hoje tira por conta disso... que tem a / a banca né... que lavra ali e ele sai no cuadô lá e... qué dizê que já tem pra apurá... já apura...” (Entr. 4. linha 140) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Lavrar. Do lat. laborare. XIII. (CUNHA, 1986, p. 461) 341. LÉGUA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Pudia saí/ nóis saía cedinho, sete hora, seis e meia, mais memo assim a distância era grande. Naquê tempo ês falava era légua. Era seis légua. E seis légua hoje é trinta e seis quilômetro. PESQ.: Trinta e seis quilômetros? INF.: E cada légua corresponde a... (14; 259, 261) A distância de duas léguas, trêis léguas. Tinha que levá um cavalo arriado pa ela i de a cavalo. No iscuro, né? Ia às veiz longe, intão eas passava dificurdade, né? Essas/ as partera passava dificurdade, né? (14; 59) Piquinininha. Eu lembro... Na roça lá na... Estiva daqui a sete légua, oito légua, né? Lá onde eu nasci e criei, né? (10; 17) Era umas duas légua e meia. Era longe né. ... Nossa Sinhora! Daqui lá onde eu moro é/ acho que é trinta légua. É mais de trinta quilômetro. (11; 43, 55) E ele num foi nada. Aí nóis pegô e foi imbora da iscola já tinha quase uma légua pa andá pa chegá em casa. (8; 74) ...de primero buscava aqui 6 légua... (32; 381) ...pra lá de Campos Artos, dá três légua... (34; 100) É uma légua, uma légua de chapadão. (34; 250) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Lêgoa. Espaço de caminho, que tem differente comprimento, conforme as differentes medidas itinerárias das nações. 2. Morais: Légoa. s.f. Medida itinerária, que se contèm 3,755. 3. Laudelino Freire: Légua. s.f. Lat. Leuca. Medida itinerária cuja extensão varia de povo para povo. 4. Aurélio: Légua. [Do lat. tard. leuca ou leuga, poss. de or. gaulesa.] Substantivo feminino. 1.Antiga unidade brasileira de medida itinerária, equivalente a 3.000 braças, ou seja, 6.600m; légua brasileira. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Légua. unidade brasileira de medida itinerária, muito usada no meio rural, equivalente a 3.000 braças, ou seja, 6.600m. • INF.: Pudia saí/ nóis saía cedinho, sete hora, seis e meia, mais memo assim a distância era grande. Naquê tempo ês falava era légua. Era seis légua. E seis légua hoje é trinta e seis quilômetro. PESQ.: Trinta e seis quilômetros? INF.: E cada légua corresponde a... (Ent. 14, linhas 259 e 261) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Légua. Antiga unidade brasileira de medida itinerária, muito usada no meio rural, equivalente a 3000 braças, ou seja, 6600 m. ―... ele fala que é pra comer... os parente comer... daí comer numa redondeza de dez léguas...‖ (44; 478). __________________________________________________________________________________________ 250 Origem: Légua. Sf. ‘medida itinerária’/XIII, legoa XIII/Do lat. tardio leuga (leuca), de origem céltica. (CUNHA, 1986, p. 468) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Arcaísmo Sugerimos Brasileirismo. 342. LEITERO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ah, era muito custoso, né? Num tinha caminhão leitero, era muito custoso. Onde eu fui criado lá memo num tinha caminhão, num vindia leite lá não. (3; 20) Não mandava o creme. A mantega, né? Aí ia pro Glória, pra Passos memo. E vinha de véspera. De oito em oito dia ês trazia. Leitero num tinha não. Num usava tamém. Quaise num usava esse leite tratado, num usava nada, né? (3; 70) Uai. Ia no leitero. O leitero tinha toda vida. (12; 630) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Leitèiro. s.m. O homem que vende leite. 3. Laudelino Freire: Leiteiro. s.m. De leite + eiro. Aquele que vende ou entrega leite. 4. Aurélio: Leiteiro. [De leite + -eiro.] Adjetivo. 2.Que conduz leite: “— Chico, a que horas passa o trem leiteiro?” (Ézio Pinto Monteiro, Chico, p. 13.) 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Leitero. Aquele que vende ou entrega leite. • Não mandava o creme. A mantega, né? Aí ia pro Glória, pra Passos memo. E vinha de véspera. De oito em oito dia ês trazia. Leitero num tinha não. Num usava tamém. Quaise num usava esse leite tratado, num usava nada, né? (Ent. 3, linha 70) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Leiteiro. Do fr. laiterie, XVIII. (CUNHA, 1986, p. 469) 343. LEVADÔ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Era essa da capelinha de São Miguel. São Miguel protetor das arma acumpanha nóis até o final da vida. É o levadô das nossa arma ( ). É, e lá Nossa Sinhora da Parcida. É. Nóis fazia de São Sebastião. Trêis. Com a de São Sebastião. (13; 459) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Levâdor. s.m. Aquele que leva. 3. Laudelino Freire: Levador. s.m. Aquele que conduz ou transporta. 4. Aurélio: Levador. (ô) [De levar + -dor.] Adjetivo. 1.Que leva ou conduz. Substantivo masculino. 2.Aquele que conduz ou transporta 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Levadô. Aquele que leva algo ou alguém. • Era essa da capelinha de São Miguel. São Miguel protetor das arma acumpanha nóis até o final da vida. É o levadô das nossa arma ( ). É, e lá Nossa Sinhora da Parcida. É. Nóis fazia de São Sebastião. Trêis. Com a de São Sebastião. (Ent. 13, linha 459) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e 251 __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 344. LIMA DE BICO NCf [Ssing + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Nós conhece ela lá por lima de bico, diz que é boa pra labirintite, né? (33; 87). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 345. LINHA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Um dia eu saí la na linha da/ da serra do Veado que ia lá pa Ventania. Crariô adiente. Eu suzinho, de noite. Eu já tinha visto falá isso mais/ a mula/ eu tinha uma mula boa/ mula ativa. A oreia da/ se a mula rifugá arguma coisa tem mais se ela num rifugô num tem nada. (4; 75) Mais hoje tá fácil de linha. Até lá no arto da serra, das montanha tem linha de automove. (11; 106) Mais lá ês é cinco. Os oto dois tava levano leite. Ês tem um retiro. Leva leite lá pa linha das Água lá. Tem o B., o V. (13; 232) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Linha. s.f. 37. Ferrovia, estrada, via. 4. Aurélio: Linha. [Do lat. linea, ‘fio’, ‘corda’; ‘limite’.] Substantivo feminino. 29.Bras. V. trilho2 (5): O bonde saiu da linha. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Linha. Estrada, via. • Um dia eu saí la na linha da/ da serra do Veado que ia lá pa Ventania. Crariô adiente. Eu suzinho, de noite. Eu já tinha visto falá isso mais/ a mula/ eu tinha uma mula boa/ mula ativa. A oreia da/ se a mula rifugá arguma coisa tem mais se ela num rifugô num tem nada. (Ent.4, linha 75) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 252 346. LUMIAR [V] __________________________________________________________________________________________ Querosene é pra lumiá a lamparina, querosene, lamparina, ocê já viu? E pra lumiá, num tinha essa luiz elétrica né? (36; 156, 157) ...e lumeia, né? Ficava lumiano cum aquilo, naquela vida antiga né? (36; 164,165) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Lumiar. v. at. V. Allumiar. Arraes, 3. 10. O sol lumia. E 3.3. lumiar o entendimento. 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Alumiar [Do lat. iluminare.] V. t. d. 1. Dar luz ou claridade suficiente a; iluminar, (desus.) aluminar 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): Lumiar. Tornar claro algum lugar. O mesmo que alumiar. • “Tava iscuro né tirei o fósfo lumiei assim ó tava aquê cuê de bicho pro chão fora” (Ent. 04, linha 294) 3. Miranda (2013): Lumiar. Tornar claro algum lugar; o mesmo que alumiar. • “E pra lá tem muita / esses lugá que tem muita pedra... tem cristal é onde disse que tem ouro né... ês fala que tem diamante... diamante eu vejo falá... mas num conheço... disse que é uma pedra muito clara que disse que de noite... aonde que tem a pidrinha dela descoberta na terra... ela lumeia feito estrela...” (Entr. 1. linha 519)) 4. Cordeiro (2013): Lumiar. Espalhar luz, clarear. Variante de iluminar. . Fazia um negócio, uma candeiaassim e punha um pavi. Moiava com azeite e ficava lumiano. (Entrevista 8, linha 267) 5. Souza (2014): Alumiar. Tornar claro um local; fornecer luz; Variante de iluminar (*iluminar > ilumiar > alumiar – caso de síncope e dissimilação). ―... e tinha gente que alumiava com a candeia de azeite...‖ (3;397).Cf. lumiar. __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e M 347. MACETAR [V] _________________________________________________________________________________________ ...cum farinha, e aí maceta... (36; 19) _________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Macetar. v. tr.dir. De macête + ar. Bater com macête em. 4. Aurélio: Macetar. v.t.d. Bater com a maceta ou macete em. 5. Amadeu Amaral: n/e _________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Macetar. Bater com o macete, clava ou pilão. ―... dava mamona demais... pegava a mamona... catava e macetava...‖ (23; 377). _________________________________________________________________________________________ Origem: Macetar. XX. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 485) 348. MACUQUENTA Nf [ADJsing] 253 __________________________________________________________________________________________ Eu falo, hoje num tem criança macuquenta mais. (1; 604) _________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Macuquenta. Pessoa encardida, suja. • Eu falo, hoje num tem criança macuquenta mais. (Ent. 1, linha 604) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 349. MAIS [Prep] __________________________________________________________________________________________ E ieu mais os meus irmão que era piqueno pra nóis num tinha nada mió do que cumê rosca, pão, forró. (14; 222) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Mais. “[Do lat. magis] Prep. 10. Pop. Em companhia de; com: “E jornadeio em fantasia / Essas jornadas que eu fazia / Ao velho Douro, mais meu pai.” (Antônio Nobre, Só, p.38)” 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mais. Com; em companhia de. E ieu mais os meus irmão que era piqueno pra nóis num tinha nada mió do que cumê rosca, pão, forró. (Ent. 14, linha 222) 2. Freitas (2012): Maisi². O mesmo que mais. • “Esse home ficô um tempão falano nesse trem e a cocêra (D...) que ele tinha as duas perna coçava coçava coçava e coçava a oreia mais quase que esse home fica doido...e num escutô maisi daí pra cá” (Ent. 02, linha 22) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Mais. Com; em compahia de. É... esse velho mesmo que morou mais nós... (Entr. 4, linha 412) __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 350. MALE-OIADO NCm [Ssing + V P.pass.] __________________________________________________________________________________________ INF. 1: E ês fala que num pode batizá a criança caquilo, né? INF. 2: É. INF. 1: Bertueja batizada nunca sara. INF. 2: É. Aqui, male-oiado tamém num pode. (1; 540) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Mal-Olhado. adj. Odiado, aborrecido. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ 254 Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Male-oiado. Inveja. • INF. 1: E ês fala que num pode batizá a criança caquilo, né? INF. 2: É. INF. 1: Bertueja batizada nunca sara. INF. 2: É. Aqui, male-oiado tamém num pode. (Ent.1, linha 540) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mal2. sm. O que não é bom. Do lat. malum –i. (CUNHA, 1986, p. 490) Olhado. XVI. Do lat. adoculare. (CUNHA, 1986, p. 559) 351. MAMINHA DE CADELA NCf [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Não, mas que que eram as frutas que tinham no pasto pa comê? INF. 1: Uai, era gabiroba, essas coisa. Gaitera. PESQ.: Que mais? Só? INF. 2: Maminha de cadela. INF. 1: Ah, maminha de cadela. PESQ.: O que que era maminha de cadela? INF. 1: Era uma arvinha que dava uma frutinha. (9; 108, 109) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Maminha-de-cadela. Substantivo feminino. 1.Bras. Bot. V. espinho-de-vintém. [Pl.: maminhas-de- cadela.] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Maminha-de-cadela. Espécie de fruta silvestre proveniente da planta conhecida como maminha-de-cadela. • PESQ.: Não, mas que que eram as frutas que tinham no pasto pa comê? INF. 1: Uai, era gabiroba, essas coisa. Gaitera. PESQ.: Que mais? Só? INF. 2: Maminha de cadela. INF. 1: Ah, maminha de cadela. PESQ.: O que que era maminha de cadela? INF. 1: Era uma arvinha que dava uma frutinha. (Ent. 9, linhas 108 e 109) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mama. sf. XVI. Do lat. mamma. (CUNHA, 1986, p. 492) Cadela. sf. ‘’a fêmea do cão’ Do lat. catella. (CUNHA, 1986, p. 149) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 352. MANCHA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ah, aquilo ali deu diamante até num querê mais, só eu tirei umas 3 ou 4 mancha lá, pequena, mas eu puis o meu pai pra trabaiá lá no começo, eu morano na Capivara... (34; 30). Eu já tava morano na Varge, né? Aí ranjemo um cisternero, e falei: “Então pra caba de vê isso, justei os cisternero pra abri uma cisterna lá.” Foi em riba de uma mancha, foi em riba de uma mancha, mas vai dá diamante pra lá, e aí eles me robaro diamante, e foi o ó, num lavaro, num juntava tudo, né? (34; 40). Eu vi muito, teve muito colega lá que tiro mancha mió do que a minha, e acabou, acabou os copo tamém, botaro tudo fora. (34; 51). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 255 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 353. MANDIOCÁRIO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ O mandiocário que tava trançando assim a rama da mandioca. ( ) cana, cada purrete de cana que ia imbora. (15; 624) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mandiocário. Plantação de mandiocas. • O mandiocário que tava trançando assim a rama da mandioca. ( ) cana, cada purrete de cana que ia imbora. (Ent. 15, linha 624) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 354. MANERO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Seis quilômetro. Intão era trinta e seis quilômetro. Intão num dava pa fazê pa fazê essa viagem duma veiz. Pa i até que dava porque aí o carro ia mais manero. Levava poca coisa e andava depressa, né? E boi tem uma coisa, o carrero. Pa vim pra cá era uma tuada diferente pa i pra casa / ês/ ês memo procura i mais dipressa.(14; 264) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Manèiro. adj. Pequeno, leve, manual que se traz na mão, ou maneja facilmente, que se usa sem incommodo. 3. Laudelino Freire: Maneiro. adj. Do lat. manus. 3. Leve, grácil; que se move airosamente. 4. Aurélio: Maneiro. [Do lat. tard. manuariu, ‘manejável’, por via popular.] Adjetivo. 3.Que exige pouco esforço; leve: trabalho maneiro. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Manero. Aquilo que é leve. • Pa i até que dava porque aí o carro ia mais manero. (Ent. 14, linha 264) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Manero. O mesmo que leve. • “É... e aquela imundície...cisco... areia... que é mais manero que o oro dava procê tira... no fazen[d]o assim com a água ia sain[d]o areia misturado com a água... e o oro ficava purim no fundo...” (Entr. 1. linha 444) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ 256 Origem: Maneiro. Do lat. manus, XIX. (CUNHA, 1986, p. 498) 355. MANGAVEIRA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ É gaitera, aquela mangaveira... (32; 234) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Mangabeira. Árvore do Brasil do tamanho das nossas cerejeiras. Produz suas flores brancas a modo de Jasmins e frutos a modo de ameixas grossas, umas redondas, outras ovadas, que são boas de comer, se não quando caem da arvore. Jorge Marggravo chama a esta arvore, Mangabiba, e Mangaiba.( Mangabeira, cujo fruto em suavidade de gosto não concede vantagem a muitos de Europa. O P. Simão de Vaícone. Noticias do Brasil, p. 264.) 2. Morais: Magabeira. s, f. Árvore Brasilica, de fruta que se come 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Mangabeira. sf. Bras. Bot. Arvoreta apocinácea, frequente nos cerrados. 5. Amadeu Amaral: Mangabêra, Mangavêra. s. f. - árvore da fam. das Apocináceas. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mangabeira. 1587. Do tupi. (CUNHA, 1986, p. 495) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 356. MANSA DE CARRO NCf [ADJsing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Que que o sinhor fazia mais? E a dona C. ajudano. INF. 2: Ajudano. Quantas boiada nóis vendemo, mansa de carro. (4;129) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mansa de carro. Boiada preparada para o carro de boi. • PESQ.: Que que o sinhor fazia mais? E a dona C. ajudano. INF. 2: Ajudano. Quantas boiada nóis vendemo, mansa de carro. (Ent. 4, linha 129) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Manso. adj. ‘de gênio brando ou índole pacífica, sereno, sossegado’ XIII. Do lat. vulg. mansus. (CUNHA, 1986, p. 497) Carro. sm. ‘veículo de transporte terrestre’ XIII. Do lat. carrus. (CUNHA, 1986, p. 159) 357. MANTEIGA DE LEITE NCf [Ssing + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Fazia manteiga de leite, batia. (32; 300) __________________________________________________________________________________________ 257 Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Manteiga. sf. ‘substância gorda e alimentícia que se extrai da nata do leite’ XIII. Provavelmente de origem pré-romana. (CUNHA, 1986, p. 497) Leite. sm. ‘líquido branco, opaco, segregado pelas glândulas mamárias das fêmeas dos animais mamíferos’ Do lat. lac ou lacte. (CUNHA, 1986, p. 595) 358. MANTIMENTO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aqui ês ia buscá mantimento no Bambuí... (35; 58) ...tem terra que dá mantimento sem pôr nada... (36; 147) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Mantimento. s rn, os comeres, viveres, vitiulhas, alimento. § Manutenção, o manter-'se, fuftentar-fe com alguma defpeza y. g., para mantimento da fabrica da Igreja, &c. Testam. dei Rd D. J. I. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Mantimento. s.m. De manter + mento. Alimento, víveres; o que é necessário para a alimentação de alguém. 4. Aurélio: Mantimentos. Víveres, comestíveis. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Mantimento. Víveres que serve de sustento à vida; alimento. ―... a gente usava mas era carro de boi... tirar as cana da roça... é mantimento... era carro de boi...‖ (37; 57). __________________________________________________________________________________________ Origem: Mantimento. ‘ manteemento’ XIV. Do lat. (CUNHA, 1986, p. 497) 359. MARCELA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: O sinhor tomava chá de quê? INF. 1: De afavaca, era de todo jeito. PESQ.: É? Era bom pra quê esses chás? INF. 2: Gripe, né? INF. 1: Ah, pra gripe memo e pa tudo quanto há. PESQ.: É?INF. 2: Quando soltava o intestino: a marcela. INF. 1: É. INF. 2: Dava diarréia. PESQ.: Que que é marcela? INF. 1: Marcela é uma raminho que dá na horta. Margosa! (9; 282, 286) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Marcela. Substantivo feminino. 1.Bot. V. macela. 5. Amadeu Amaral: n/e 258 __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Marcela. • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • O mesmo que camomila. • PESQ.: O sinhor tomava chá de quê? INF. 1: De afavaca, era de todo jeito. PESQ.: É? Era bom pra quê esses chás? INF. 2: Gripe, né? INF. 1: Ah, pra gripe memo e pa tudo quanto há. PESQ.: É?INF. 2: Quando soltava o intestino: a marcela. INF. 1: É. INF. 2: Dava diarréia. PESQ.: Que que é marcela? INF. 1: Marcela é uma raminho que dá na horta. Margosa! (Ent. 9, linhas 282 e 286) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Macela. sf. Camomila. De origem obscura. (CUNHA, 1986, p. 486) 360. MARCHADÔ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: A minha mãe pois água quente prele lavá os pé e ê tava lavano os pé e falô po meu pai assim ó: “ ô cumpade J.”. “O que que é cumpade S.”“Eu vô te falá uma coisa.”“Que que foi?”“Ocê num sabe onde tá a mãe dessa égua que ocê me imprestô?” Aí meu pai: “num sei.” Ela era muito trotona e animale trotão é/ faiz a gente cansá, né? PESQ.: Trotão é que/ que que ele faiz? INF.: Trotão é/ no modo dele andá, chacoaia dimais. Marchadô é/ ê num cansa né?... (8; 22) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Marchador. adj. De marchar + dor. Diz-se do cavalo que anda bem. 4. Aurélio: Marchador .(ô) [De marchar + -dor.] Adjetivo. 1.Diz-se de cavalo de passo largo e compassado. Substantivo masculino. 2.Cavalo marchador. 5. Amadeu Amaral: Marchadô(r). q. - diz-se do cavalo que marcha bem. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Marchadô. Espécie de cavalo cuja característica predominante é a marcha. • INF.: A minha mãe pois água quente prele lavá os pé e ê tava lavano os pé e falô po meu pai assim ó: “ ô cumpade J.”. “O que que é cumpade S.” “Eu vô te falá uma coisa.” “Que que foi?” “Ocê num sabe onde tá a mãe dessa égua que ocê me imprestô?” Aí meu pai: “num sei.” Ela era muito trotona e animale trotão é/ faiz a gente cansá, né? PESQ.: Trotão é que/ que que ele faiz? INF.: Trotão é/ no modo dele andá, chacoaia dimais. Marchadô é/ ê num cansa né?... (Ent. 8, linha 22) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 361. MARCHA PICADA NCf [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Tic, tic, tic. Aí tinha um homi que comprô ela. Ele era/eu num sei que que ele arranjô. A mula pegô uma marcha picada, né. Pocotó, pocotó. (4; 249) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 259 1. Ribeiro (2010): Marcha picada. Tipo de marcha de determinados cavalos. • A mula pegô uma marcha picada, né. Pocotó, pocotó. (Ent. 4, linha 249) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Marcha. sf. XVII. Do fr. marcher. (CUNHA, 1986, p. 501) Picado. XIV. Do lat vulg. *piccare. (CUNHA, 1986, p. 602) 362. MARGOSA Nf [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Que que é marcela? INF. 1: Marcela é uma raminho que dá na horta. Margosa! INF. 2: Margosa! PESQ.: É? INF. 2: Margosa por tripa. (9; 286, 287, 289) Quer beber um café? Só que é margoso... (31; 330) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Amargoso. Contrário ao doce, no gosto. 2. Morais: Amargoso. adj. Que tem amargura, no propr. 3. Laudelino Freire: Margoso. Adj. De marga + oso. Semelhante à marga.//2. Que contem marga. 4. Aurélio: Margoso. (ô) [De marga + -oso.] Adjetivo. 1.Semelhante a, ou que contém marga. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Margosa. • (A) • Nf [ADJsing] • Lat. • Que possui sabor amargo. • PESQ.: Que que é marcela? INF. 1: Marcela é uma raminho que dá na horta. Margosa! INF. 2: Margosa! PESQ.: É? INF. 2: Margosa por tripa. (Ent. 9, linhas 286, 287 e 289) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Amargoso. XIII. De um lat. *amaricosu, de amarus. (CUNHA, 1986, p. 38) 363. MARIQUINHA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Intão, tinha a mariquinha que é juntado trêis pau e fura por exemplo nos pé dele e dipois põe um gancho de arame e dipois lá onde vai fazê a cumida faiz a trempe de pedra como se fosse um buraco cavado. Abre aqueas trêis perna assim e um gancho lá e a panela põe na artura que qué. PESQ.: Hã?INF.: Põe ela berano o chão, põe se quisé po mais alto põe ( ) aquilo era/ é/ era a chapa bem dizê. PESQ.: Hã? Chama como? INF.: É mariquinha. PESQ.: Mariquinha. E alguém conhece por outro nome? INF.: Que eu saiba é só por mariquinha. É um nome só. Num tinha oto não. (14; 245, 252 e 254) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Mariquinha. s.f. Tripeça volante, para serviço de cozinha. 4. Aurélio: Mariquinha. [Do hipocorístico Mariquinha Maricas.] Substantivo feminino. 1.Bras. SP Tripeça volante para serviço de cozinha. [Cf. mariquita (5).] 5. Amadeu Amaral: n/e _________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mariquinha. • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Tripeça muito usada para serviço de cozinha. • INF.: Intão, tinha a mariquinha que é juntado trêis pau e fura por exemplo nos pé dele e dipois põe um gancho de arame e dipois lá onde vai fazê a cumida faiz a trempe de pedra como se fosse um buraco cavado. Abre aqueas trêis perna assim e um gancho lá e a panela põe na artura que qué. PESQ.: Hã?INF.: Põe ela berano o chão, põe se quisé po mais alto põe ( ) aquilo era/ é/ era a chapa bem dizê. PESQ.: Hã? Chama como? INF.: É mariquinha. 260 PESQ.: Mariquinha. E alguém conhece por outro nome? INF.: Que eu saiba é só por mariquinha. É um nome só. Num tinha oto não. (Ent. 14, linhas 245, 252 e 254) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. Regionalismo conforme Aurélio. 364. MAROLA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Onte a minha minina trouxe marola lá de Piumhi, aqui não existe também, e no Piumhi aquelas beira lá tem muito. (32; 243) Eu comprei duas marola lá em Passos, tinha um menino, fiquei com dó, menino em cima da farmácia lá, vendendo marola, eu andei lá pra dentro da cidade, falei: “Vou comprá uma marola... (32; 245, 246) Na barra ali, ali tem muita marola... (32; 250) Aqui pra nóis dá uns pequenininhos, aquela marolinha... (32; 252) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 365. MARQUESIM Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Punha numa marquesim, numa caminha. (11; 4) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Marquesim. Cama usada para doentes. • Punha numa marquesim, numa caminha. (Ent. 11, linha 4) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e 261 __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 366. MASCATE Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Gente lá da roça vinha aqui na cidade? Não vinha. Num vinha não. O mascate ia lá levava umas peça de pano e ia vendeno.(11; 59) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Mascate. s.m. De Mascate, n.p. Mercador ambulante que percorre as ruas e estradas a vender objetos manufaturados, panos, jóias, etc. 4. Aurélio: Mascate. [Do top. Mascate, porto da Península Arábica (Ásia).] Substantivo masculino. Bras. 1. Mercador ambulante que percorre as ruas e estradas a vender objetos manufaturados, panos, jóias, etc.: “Apenas de mês em mês aparecia uma carreta de mascate puxada por 4 juntas de bois no fim daquele lugar.” (Manuel de Barros, Livro sobre Nada, p. 17.) 5. Amadeu Amaral: Mascate. s. m. - vendedor ambulante de fazendas ou quinquilharias. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mascate. Vendedor ambulante. • Gente lá da roça vinha aqui na cidade? Não vinha. Num vinha não. O mascate ia lá levava umas peça de pano e ia vendeno. (Ent 11, linha 59) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mascate. sm. ‘mercador ambulante, que percorre as cidades, povoados, estradas e lugares do interior a vender fazendas, miudezas, jóias e outors objetos’ 1873. Ár. (CUNHA, 1986, p. 504) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 367. MASCATEADOR Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ O pai do B. Espanhol memo, foi um mascateador uai... (1; 530). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Mascateador. s. m. De mascatear+ ção. Ato de mascatear.|| 2. Profissão de mascate. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Sugerimos Brasileirismo. 368. MASCATEAR [V] __________________________________________________________________________________________ 262 ...os espanhol aparecia mascatiano pras roça... (16; 520) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Mascatear. v. intr. De mascate + ear. Vender fazendas pelas ruas; exercer profissão de mascate. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: Mascateá(r). v. i. - levar vida de mascate, vender qualquer coisas de porta em porta. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mascatear .1881. (CUNHA, 1986, p. 504) __________________________________________________________________________________________ Sugerimos Brasileirismo. 369. MATA-BICHERA NCm [V + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Mais aí ela ficou com o corpo duro, um machucadinho na perna poco e suja de terra, aquele ovão feio, de tipo tava doente memo, tava com febre, aí depois foi agradano ela e a febre passô. Aí o Luís jogô aquê ( ) não aquê mata-bichera ( ) aquê roxo, pa mode não sentá musquito. Apricô ( ) num instantinho sarô. (1; 139) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mata-bichera. Remédio para curar feridas de animais domésticos. • Aí o L. jogô aquê ( ) não aquê mata-bichera ( ) aquê roxo, pa mode não sentá musquito. Apricô ( ) num instantinho sarô. (Ent. 1, linha 139) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 370. MATRACA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: É. É. Agora/ e tamém num pudia abri a porta e janela que eas tava atrais dos rezadô. Num sei ( ). Maisera bunito, chegava batia a matraca. A gente até acordava cum ela. PESQ.: Matraca era um tipo de sino, um treco de fazê barulho, né? INF.: É. Uma tabuinha assim, batia. PESQ.: Batia e fazia barulho. INF.: É. Tem aquea do meio, trêis. (13; 428) É, matraca, era berra boi, né? (30; 19) _________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 263 1. Bluteau: Matrâca. Instrumento de pedaços de pão, que meneados fazem ruído. Nos conventos servem de despertar matinas, & na Semana Santa serve em lugar de sino desde Quinta feira de Endoenças até a manhaã do Sabado Santo. 2. Morais: Matráca. s.f. Instrumento de páo om argolas de ferro, ou sem ellas; serve de fazer som, para convocar Communidades em certos casos, ou dias. 3. Laudelino Freire: Matraca. s.f. Ár. Mitraca. Instrumento de madeira, formado de tabuinhas movediças, que se agitam para fazer barulho e que substituem a campainha nas festas da Semana Santa. 4. Aurélio: Matraca .[Do ár. mi+raqa(t), ‘martelo’.] Substantivo feminino. 1.Instrumento de percussão, formado por tabuinhas movediças, ou argolas de ferro, que, ao serem agitadas, percutem a prancheta em que se acham presas e produzem uma série rápida de estalos secos; malho. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Matraca. Instrumento de percussão, formado por tabuinhas movediças, ou argolas de ferro, que, ao serem agitadas, percutem a prancheta em que se acham presas e produzem uma série rápida de estalos secos. • Mais era bunito, chegava batia a matraca. A gente até acordava cum ela. (Ent. 13, linha 428) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Matraca. sf. ‘instrumento de madeira formado por tabuinhas movediças que se agitam para fazer barulho’, XVI. Do ar. mitraqa. (CUNHA, 986, p. 506) 371. MELADO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...tem um lugar lá, na Gurita lá embaixo chama Melado... (25; 12) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Melado. Chamão os do Brasil ao licor da canna moída,que corre para as caldeiras, & com a força do fogo se reduz a seu ponto. Este depois de lançado nas formas, he coalhado, não he mais melado, he assucar. 2. Morais: Melado. s.m. No Brasil, o caldo da cana de assucar, limpo da caldeira, e pouco grosso; depois passa as tachas onde se engrossa mais, e se diz mel d’engenho: o liquido, que se distilla do melado na casa de purgar, chama-se mel de furo; e quando sai claro do assucar, quase purgado, mel de barro. 3. Laudelino Freire: Melado. s.m. Calda ou sumo que a cana doce deposita na caldeira. 4. Aurélio: Melado. S. m. 4. Bras. N.E. A calda grossa do açúcar, de que se faz rapadura; mel. 5. Amadeu Amaral: Melado. s.m. - caldo de cana engrossado, no engenho; por ext., sangue que se derrama: "Tomô uma pancada na cabeça; foi só melado..." __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): Melado. A calda grossa do açúcar. • Cê põe no cocho no lugá de batê a rapadura enche aquê ê dexa lá...e dexa lá com dois dia cê pega aquê melado...põe na forma...cê põe ê lá enche as fôrma tudo agora trazia o barro de têia trazia aquê barro mole de teia forrava ê assim. (Ent. 11, linha 196) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Melado. A calda grossa do açúcar. ―... fazia o melado fazia a rapadura né?...‖ (39; 20). __________________________________________________________________________________________ Origem: Melado: sm. ‘mel grosso do açúcar de que se faz a rapadura’ 1813. (CUNHA, 1986, p. 510) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 372. MENTRUSTE Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 2: Aquê ramo que dá ( ) mentruste. INF. 1: É mentruste. INF. 2: É, hortelã. PESQ.: Hortelã, mentruste. (1; 384, 385) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 264 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Mentrusto. s.m. Planta medicinal. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mentruste. Planta medicinal usada para fazer chá. • INF. 2: Aquê ramo que dá ( ) mentruste. INF. 1: É mentruste. INF. 2: É, hortelã. PESQ.: Hortelã, mentruste. (Ent. 1, linhas 384 e 385) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mentrasto. sm. ‘planta medicinal da fam. das labiadas’/XVIII, mentrasto XVI/ Do lat. mentrastum. (CUNHA, 1986, p. 513) 373. MERRÉIS Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ 200 merréis, 200 conto. (21; 28). É merréis, né? Naquele tempo 200 cruzeiro, né? (21; 31). ...e aí tocou 30 mil pra mim, naquele tempo era merréis... (34; 42) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Reis. “Moeda bayxa de Portugal. He abreviatura de reaes, (como advertio o commentador de Camoes sobre o cant. 3. oyt. 46.)...” 2. Morais: Réis. “sm. pl. reaes. A ultima espécie de moeda, e ideial, em que se resolve o dinheiro, e de que usamos no nosso modo de contar: vinte réis.” 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Réis. “Substantivo masculino pl. 1. Pl. de real2 (3).” 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Mirréis. Antigo sistema monetário adotado em Portugal e no Brasil, corresponde a mil réis. . Cê sabe naquele tempo as coisa era baratinha, mais num havia dinheiro. Eu nem sei o dinheiro que era. Eu acho que era mirréis, viu? (Entrevista 3, linha 37) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 374. METER O FUMO [Fraseologia] __________________________________________________________________________________________ Aí o home tava, meteu o fumo no casal, matou... (30; 134) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 265 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 375. MIADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Não, tinha um negócio chamado drobadora, eles fazia, o fiado tava na rorda, e aí passava pra drobadora assim, óia, chamava miada, era de tingir aquelas miada de quarqué cor bunita tamém p[r]as cocha, sabe. (27; 67). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Meada. Fiado de linho, ou fios de laã, algodão, ou seda dispostos no çarrilho em tal forma, que quando os tiraõ delle, ficão em círculos, sobrepostos uns aos outros. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Meada. s. f. De mear. Porção de fios dobados. 4. Aurélio: Meada. sf. Porção de fios dobados. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 376. MIÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Duas cambota, um mião. Mião ia no meio. PESQ.: Como que chamava? INF.: Mião. PESQ.: Mião?INF.: Mião. É. Cambota era feita de trêis peça. (14; 384, 386, 388) _________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mião. Peça que prende o eixo do carro de boi. • INF.: Duas cambota, um mião. Mião ia no meio. PESQ.: Como que chamava? INF.: Mião. PESQ.: Mião?INF.: Mião. É. Cambota era feita de trêis peça. (Ent. 14, linhas 384, 386 e 388) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 377. MISSÃO Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Aí teve umas missão aqui. PESQ.: Ahn?INF.: A Sueli era piquena. PESQ.: Ahn? INF.: Mais cê pricisava vê o tanto de gente que ajuntava. Rodava isso tudo aí de tratore, de carreta. Aquê povão memo. (3; 95) 266 __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Missaõ. Missaõ de homens apostólicos, & Pregadores Evangelicos, que o Papa, os Bispos, & os Géraes das Religiões mndaõ para a conversão dos Hereges, e dos Gentios, ou para instrução dos povos. 2. Morais: Missão. S.f. O ser mandado annunciar o Evangelho: v.g. “Christo confirmou com milagres sua Divina Missão.” 3. Laudelino Freire: Missão. s.f. Lat. missio; missionem. 6. Coletivamente, os padres enviados para conversão dos infiéis ou instrução dos católicos; missionários. 4. Aurélio: Missão .[Do lat. missione.] Substantivo feminino. 6.Prédica ou sermão doutrinal. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Missão. Instituição de missionários enviados para pregação do catolicismo. • INF.: Aí teve umas missão aqui. PESQ.: Ahn? INF.: A S. era piquena. PESQ.: Ahn? INF.: Mais cê pricisava vê o tanto de gente que ajuntava. Rodava isso tudo aí de tratore, de carreta. Aquê povão memo. (Ent. 3, linha 95) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Missão. XIII. (CUNHA, 1986, p. 524) 378. MODA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ O rádio, eu gosto dele, porque compra CD, põe ali, e ouve umas modas bonita né? (25; 141) Agora tinha vez que compra uns disco bonito, né? Umas moda boa. (25; 145) E moda boa é moda antiga, né? Essas moda nova de hoje não vale nada. (25; 147) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e. 2. Morais: Modas: cantigas, que se põem no cravo, viola, &c. 3. Laudelino Freire: Moda. s.f. Lat. modus. 3. Cantiga, ária, modinha. 4. Aurélio: Moda. [Do fr. mode.] S. f. 6. Mús. Ária, cantiga. V. modinha (2 e 3). 5. Amadeu Amaral: Moda. s. f. - cantiga, composta geralmente de várias quadras ou estâncias, nas quais o poeta rústico exprime os seus sentimentos de amor, ou comenta os acontecimentos. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): Moda. Cantiga. • Uai na casa que tinha batuque tinha baile...onde tinha moda de batuque tinha moda de baile sanfona cumia menina num pudia vê” (Ent. 06, linha 75) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 379. MODE [ADV] __________________________________________________________________________________________ ...aquê roxo, pa mode não sentá musquito... (1; 140) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e 267 __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mode. A fim de; para. ...aquê roxo, pá mode não sentá musquito... (Ent. 1, linha 140) 2. Freitas (2012): Mode. A fim de; para. • “Ea tava com a manguarinha ea catucô ea assim com a varinha catucô a égua com a varinha pelejô mode a égua levantá a égua num quis levantá não” (Ent. 02, linha 211) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Mode ~ Modo. A fim de; para. ...me escreveu pra tornar a voltar lá... pra resolver... mode eu namorar a outra menina... (Entr.4, linha 75) ... que ela levava um carrinho de mão modo eu tirar uma lenhazinha prali... (Entr.7, linha 373) __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 380. MOIRÃO ~ MOIRINHO Nm [Ssing] Toca esse pordo, esse pordo chegava na portera e pulava pum lado e pulava po oto. Quondo vê pulô no moirão da cerca. Morreu ispetado no moirão da cerca porque ele num era dele. Era de Santo Reis. Num dianta! (2; 253) ... e trabaiava na roça, e rumava mourinho... (31; 22) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Moirão. Vid Mourão. 2. Morais: Moirão. s.m. V. Mourão. 3. Laudelino Freire: Moirão. s.m. O mesmo que mourão. 4. Aurélio: Moirão .Substantivo masculino. 1.Mourão1 (q. v.). 5. Amadeu Amaral: Mo(i)rão. s. m. - cada um dos postes laterais da porteira; poste a que também se chama palanque. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mourão. Madeira utilizada na construção de cerca. • Toca esse pordo, esse pordo chegava na portera e pulava pum lado e pulava pô oto. Quondo vê pulô no moirão da cerca. Morreu ispetado no moirão da cerca porque ele num era dele. Era de Santo Reis. Num dianta! (Ent. 2, linha 253) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mourão. sm. ‘estaca na qual se sustenta a videira’ ‘esteio grosso ao qual se amarram rese’ 1813. De origem incerta. (CUNHA, 1986, p. 535) 381. MOITAR [V] __________________________________________________________________________________________ Tem, mas tá moitada atrás da lavoura de café, né? (31; 188) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Amoitar. 2. Esconder-se atrás de um obstáculo qualquer. 4. Aurélio: Amoitar. v.int. e p. Bras. Esconder-se, ocultar-se. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ 268 Origem: Amoitar. De origem obscura. || Amoutar 1844. (CUNHA, 1986, p. 527) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 382. MOITONA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Lá em casa teve uma veiz/ ((dexa eu vê))/ O Teca já morava na cidade/era da Juliana. Gerardinho achava graça do tanto que ele era esperto. Aqueas moitona arta assim/ era da Juliana o tale Bob... (1; 157) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Moita. s.f. Corr. de mata. Mata de plantas arborescentes, rasteiras e densas. 4. Aurélio: Moita. [De or. obscura.] Substantivo feminino. 1.Grupo espesso de plantas; touça: “E das moitas cheirosas / O aroma dos mirtais sobe nos céus escampados.” (Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira, p. 22.) 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Moitona. Grupo espesso de plantas. • Lá em casa teve uma veiz/ ((dexa eu vê))/ O T. já morava na cidade/era da J. G. achava graça do tanto que ele era esperto. Aqueas moitona arta assim/ era da J. o tale Bob... (Ent. 1, linha 157) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Moita. sf. ‘grupo espesso de plantas’/mouta XIII/De origem obscura. (CUNHA, 1986, p. 527) 383. MORTANDADE Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ...uma tar duma, uma veiz fizero uma mortandade lá cum cigano... (18; 399) A história de acontecimento assim, de mortandade não tem muito não... 19; 150) E aí acabou a mortandade da Zagaia... (30; 192) E aí acabou essa mortandade. (30; 199) Mas muita mortandade. (35; 116) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Mortandade. Estrago de muita gente morta a ferro, fogo e como sucede nas batalhas. 2. Morais: Mortandade. s.f. Matança, grande números de mortes, por peste ou em batalhas. 3. Laudelino Freire: Mortandade. 1. s.f. mortalidade. 2 Grande número de mortes. 4. Aurélio: Mortandade. 1 Matança, carnificina. 2 Grande número de mortes. 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mortandade. XIV, mortiindade. (CUNHA, 1986, p. 534) 384. MUCADO [Pron] 269 __________________________________________________________________________________________ Eu lavei um mucado cedo das panela. (13; 74) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mucado. Tanto; quantidade indefinida. • Eu lavei um mucado cedo das panela. (Ent. 13, linha 74) 2. Freitas (2012): Mucado ~ Mucadim. Tanto; quantidade indefinida. • “Depois que eu casei moro aqui...até hoje...tem um mucado de ano” (Ent. 01, linha 175) • “Mais graças a deus mais foi pra treiná com os serviço né porque nem tanto a gente vindia né...porque fazia pôco num dava conta de fazê muito de uma vez...ia fazeno os mucadim mas o purví era dessas duas dona que eu tô falano” (Ent. 01, linha 280) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Mucado. Um pouco, uma pequena quantidade. Variante de bocado. . Mais ainda. Secá um mucadodaquela água, né? (Entrevista 3, linha 569) 5. Souza (2014): Mucado. Tanto; quantidade indefinida. ... eu namorei um mucado de moça... (Entr.4, linha 81) É... eu fiquei morando ali um mucado de tempo... (Entr.2, linha 31) __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 385. MULA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Um dia eu saí la na linha da/ da serra do Veado que ia lá pa Ventania. Crariô adiente. Eu suzinho, de noite. Eu já tinha visto falá isso mais/ a mula/ eu tinha uma mula boa/ mula ativa. A oreia da/ se a mula rifugá arguma coisa tem mais se ela num rifugô num tem nada. (4; 76, 77) É uma mula preta. (4; 234) A mula pegô uma marcha picada, né? (4; 249) Comprava uma mula, vindia comprava ota. (4; 310) Ês falava/ uns tocava a boiada, era boiadero. Os que tocava mula a gente falava era/ é os mulero. Tocava/ é/ ês ia comprá lá em Três Lagoas. (14; 312) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Mula. A fêmea do mû. Não gera, porque he gèrada de animaes de differente espécie. 2. Morais: Mula. s.f. Fêmea das bestas muàres. 3. Laudelino Freire: Mula. s.f. a fêmea do um. 4. Aurélio: Mula.[Do lat. mula.] Substantivo feminino. 1.A fêmea do mulo (q. v.). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mula. Animal mamífero resultante do cruzamento de jumento com égua. • Eu já tinha visto falá isso mais/ a mula/ eu tinha uma mula boa/ mula ativa. A oreia da/ se a mula rifugá arguma coisa tem mais se ela num rifugô num tem nada. (Ent. 4, linha 76 e 77) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mula. sf. ‘fêmea do mulo, animal mamífero resultante do cruzamneto de jumento com égua, ou de cavalo com jumenta’/XIV, mua XIII etc./Do lat. mula. (CUNHA, 1986, p. 537) 270 386. MULERO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ês falava/ uns tocava a boiada, era boiadero. Os que tocava mula a gente falava era/ é os mulero. Tocava/ é/ ês ia comprá lá em Três Lagoas. (14; 313) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Mulero. Aquele que compra e vende mula. • Ês falava/ uns tocava a boiada, era boiadero. Os que tocava mula a gente falava era/ é os mulero. Tocava/ é/ ês ia comprá lá em Três Lagoas. (Ent. 14, linha 313) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 387. MUMBUCA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Lá da mumbuca lá? (17; 274) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Mumbuca. Abelha grande e negra. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Mumbuca. Abelha da fam. Dos meliponídeos, 1817. Do tup. (CUNHA, 1989, p. 539) 388. MUNHECA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Roda na munheca... (16; 495) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Munheca. A juntura da mão com o braço. Consta de oito ossos, muito pequenos, nos quais se encaixam as duas canas do braço, &da outra parte encaixam os ossos da palma da mão. Pugnibracbiiquecommissara, &. Fem. (Desde o cotovelo até a munheca. Cirurg. de Ferreira,45) (Galego pôs sobre a munheca da mão da parte da dor um alho pizado, para divertir o fluxo, que era causa da dor nos dentes,&traíllo por remédio bom, & experimentado. Luz da Medicina, pag 220) Vid. Collo da mão. 2. Morais: Munheca. s. f . A juntura da mão com o braço, o colo da mão. 3. Laudelino Freire: Munheca. s, f. Cast. Muneca. Parte do corpo em que a mão se liga ao braço; pulso.||2. Pop. Nome dado às folhas dos fetos quando começam a desenvolver-se e ainda não se abriram. Munheca de cutia, s. f. Chicote ou relho que tem como cabo o pé ou mão de cutia. Munheca de samambaia, s. f. Pop. Pessoa avarenta. 271 4. Aurélio: Munheca. subst. fem. Punho (1) 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Munheca. sf. ‘ a parte da mão em que ela se liga ao braço’ ‘ a mão’ 1813. Do cast. Muñeca, de origem pré-romana|| munhãosm. ‘ eixo quase a meio do comprimento duma peça de artilharia’ XVIII. Do cast. Muñón ||munhoneira sf. ‘ encaixe onde se assenta o munhão’ 1813. Do cast. muñonera.(CUNHA,1986, p. 539) 389. MUNHO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Aí mandô pô aquê angu de fubá de munho nas costa. Eu tenho o sinale até hoje, quemado, a mancha. PESQ.: Mandô pô o quê?INF.: Angu de fubá de munho nas costa. (2; 74, 77) Levava uma lata de mio po munho e fazia fubá, do fubá fazia o angu, fazia o bolo, fazia o mingau, fazia tudo do fubá. (11; 121) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Moinho. Engenho que serve de moer trigo, cevada, &c. Consta de roda, rodízio, pennas, pouso, corredoura, aguilhão, segurelha, lobeto, rela, vielas, veyo, quelha, ou calha, &c. 2. Morais: Moínho. s.m. Maquina de moer o grão em farinha dando-lhe movimento o peso, ou força de água corrente, ou vento. 3. Laudelino Freire: Moinho. s.m. Lat. molinus. Engenho composto de duas pedras ou mós colocadas uma sôbre a outra. 4. Aurélio: Moinho .(o-í) [Do lat. molinu.] Substantivo masculino. 1.Engenho composto de duas mós sobrepostas e giratórias, movidas pelo vento, por queda-d’água, animais ou motor, e destinado a moer cereais. 2.Lugar onde se acha instalado esse engenho. 3.Máquina que serve para triturar qualquer coisa; moenda: moinho de café. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Munho. Engenho composto de duas mós sobrepostas e giratórias, movidas pelo vento, por queda-d’água, animais ou motor, e destinado a moer cereais. • INF.: Aí mandô pô aquê angu de fubá de munho nas costa. Eu tenho o sinale até hoje, quemado, a mancha. PESQ.: Mandô pô o quê?INF.: Angu de fubá de munho nas costa. (Ent. 2, linhas 74 e 77) 2. Freitas (2012): Munho. Engenho composto por astes giratórias destinadas a moer cereais. • “O marido dela (J...N...) foi mudô pá Pedo Leopoldo inventô de fazê um munho lá...um...um...munho d’vento era um trem de ar” (Ent. 03, linha 67) 3. Miranda (2013): Munho. Engenho composto por hastes giratórias destinadas amoer cereais. • “Tinha verdura / ali embaixo toda a vida teve horta ali naquele munho de D... pra cá do munho do lado de baixo...” (Entr. 1. linha 84) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Moinho. Do lat. molinus, XIII, moyo XIII, moyno XIII etc. (CUNHA, 1986, p. 527) 390. MUNJOLO ~ MINJOLO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ E a farinha punha lá no munjolo. O munjolo massetava o mio até virá fubá. (11; 124) Não, foi lá no tal mijolinho. (25; 76) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 272 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Munjolo. s.m. Máquina agrícola, com que se limpa o milho, tornando-o próprio para a fabricação da farinha; máquina de pilar milho. 4. Aurélio: Monjolo .(ô) [Do quimb.] Substantivo masculino. 3.Bras. MG S. Engenho tosco, movido a água, usado para pilar milho e, primitivamente, para descascar café. [Pl.: monjolos (ô). Em MG (pelo menos) a pronúncia comum é com a vogal tônica aberta.]. 5. Amadeu Amaral: Munjólo. s. m. - engenho rústico, movido por água e destinado a pilar milho. | A forma corrente entre a gente culta é “monjôlo”. - Dava-se outrora este nome aos pretos de certa nação, importados no Br. ao tempo do tráfico dos africanos. - O sr. Sílvio de Almeida aventou, há tempos, o étimo mulineolum. Foneticamente. nada se lhe opõe; resta verificar se há traços reais dessa evolução. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Munjolo. Engenho, movido a água, usado para pilar milho e, primitivamente, para descascar café. • E a farinha punha lá no munjolo. O munjolo massetava o mio até virá fubá. (Ent. 11, linha 124) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Munjolo ~ Minjolo. Engenho tosco, movido a água, usado para pilar milho e, primitivamente, para descascar café. • “É... no pacotinho cê qué vê? Vô te mostrá ocê... no pacotinho vem escrito farinha de munjolo... mas é de mio né... o que oce não soubé... vô te... te explicá...” (Entr. 6. linha 117) Infor 1: E minjolo ocê arcancô? / Terc: Minjolo eu vi um lá na fazenda de Osvaldo Mourão... caminho de Sabinópolis... (Entr. 7. linha 134) 4. Cordeiro (2013): Munjolo. Árvore de casca espinhosa e madeira dura e parda. . Ingem tudo de pau, ingem antigo. Fazia tudo de madera lá, de angico e de monjolo. (Entrevista 12, linha 141) 5. Souza (2014): Manjolo ~ monjolo. Engenho movido a água, usado para pilar milho e, primitivamente, para descascar café. ―... café pisava no pilão... arroz pisava no pilão... café pisado no manjolo... pisava o café no manjolo... torrava esse café e depois pisava no pilão.‖ (13; 411). / ―... porque pra abrir precisa d‘um certomonjolo... aí o barro batia...‖ (3; 14). __________________________________________________________________________________________ Origem: Monjolo. sm. ‘engenho tosco movido à água, empregado para pilar milho e, a principio, no descascamento do café’ XX. De provável origem africana. (CUNHA, 1986, 530) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 391. MUTIRÃO ~ MURTIRÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Eas fazia murtirão de fiado, eu lembro. Cada uma lá vai ca sua rodinha na cacunda. Aí fazia esse fiado, ticia e fazia gasaio de frio. (13; 541) INF.: Intão e tinha tamém/ tinha muito mutirão pa capiná roça. De mio, de arroiz, de café... PESQ.: Mutirão? Mutirão é quando juntava um monte de gente? INF.: Isso. Uns falava mutirão, otos falava ajitório. (14; 492, 494) Intão, um certo mutirão que teve lá... (14; 532) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Mutirão. s.m. O mesmo que muxirão. 4. Aurélio: Mutirão .[Do tupi.] Substantivo masculino. 1.Bras. Auxílio gratuito que prestam uns aos outros os lavradores, reunindo-se todos os da redondeza e realizando o trabalho em proveito de um só, que é o beneficiado, mas que nesse dia faz as despesas de uma festa ou função. Esse trabalho pode ser a colheita, ou queima ou roçado, ou plantio, ou taipamento ou construção de uma casa. [Var. e sin., em lugares diversos do Brasil: mutirom, mutirum, muxirão, muxirã, muxirom, muquirão, putirão, putirom, putirum, pixurum, ponxirão, punxirão, puxirum;ademão, adjunto, adjutório, ajuri, arrelia, bandeira, batalhão, boi-de-cova, corte (ô), junta. Cf. suta (3), traição (5) e estalada (5).] 5. Amadeu Amaral: Muchirão, mutirão. s. m. - reunião de roceiros para auxiliar um vizinho nalgum trabalho agrícola - roçada, plantio, colheita terminando sempre em festa, com grande jantar ou ceia, danças e descantes. | No R. G. do S., “pichurum”, “puchirão” e “ajutório”; em parte de Minas, “mutirão”, e em parte, “bandeira”; na Bahia e Sergipe, “batalhão”; em Pernamb., “adjunto”; na Par. do N., “bandeira”; no Pará, “potirom”, “potirum”, “puxirum”, “mutirum”. - Do guar. “potyrom” = pôr mãos a obra? (Mont.) Ligar-se-á a multidão, ou, como 273 lembrou C. da F., a “muchedumbre”? Ou terá relação com botirão = nassa de pesca, de certo feitio, usada em parte de Port.? __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Murtirão. Auxílio gratuito que prestam uns aos outros os lavradores, reunindo-se todos os da redondeza e realizando o trabalho em proveito de um só, que é o beneficiado, mas que nesse dia faz as despesas de uma festa ou função. • INF.: Intão e tinha tamém/ tinha muito mutirão pa capiná roça. De mio, de arroiz, de café... PESQ.: Mutirão? Mutirão é quando juntava um monte de gente? INF.: Isso. Uns falava mutirão, otos falava ajitório. (Ent. 14, linhas 492 e 494) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e _____________________________________________________________________________________ Origem: Mutirão. sm. ‘ajuda mútua, gratuita, que se prestam os trabalhadores rurais, reunindo-se para execução de uma tarefa’/moquirão 1872, motirão 1872 etc./De origem tupi, mas de étimo indeterminado. (CUNHA, 1986, p. 541) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. N 392. NEGOCERA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Teve um velório que o A. R. participou, aí eu perguntei um amigo; “Ah o A. R., porque o A. R. aqui nesse velório, hein?” Ele falou: “Não, ele é nosso parente.” Meu pai fez essa negocera com ele, e eu não sabia que eu tinha parente, ele tem parente aqui, como é que ele tá? (20; 232). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e. 2. Morais: n/e. 3. Laudelino Freire: n/e. 4. Aurélio: n/e. 5. Amadeu Amaral: n/e. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. Ribeiro (2010): n/e Freitas (2012): n/e Miranda (2013): n/e Cordeiro (2013): n/e Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 393. NÓ CEGO NCm [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ INF.: O povo lá era munto nó cego. PESQ.: Por que? INF.: Assim ruim, mal. A gente criô lá naquela infermidade, daquê jeito. Ninguém dava valor em ninguém. (2; 25) __________________________________________________________________________________________ 274 Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Lexicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Nó Cego. Pessoa de cárater duvidoso. • INF.: O povo lá era munto nó cego. PESQ.: Por que? INF.: Assim ruim, mal. A gente criô lá naquela infermidade, daquê jeito. (Ent. 2, linha 25) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Nó. sm. ‘laço’ Do lat. nodus –i. (CUNHA, 1986, p. 550) Cego. sm. ‘privado da vista’ XIII. Do lat. caecus. (CUNHA, 1986, p. 169) 394. NOSSA MÃE [Interj] __________________________________________________________________________________________ Ah, você pricisa assisti todo sábado o Terra de Minas que se, aí, Nossa mãe. (16; 190). Mas fala em silo, que ano de seca brava, não foi? Nossa mãe. (20; 190). Nossa mãe, eu sempre falo, né? Quando eu morrer não precisa demorá pra me enterra não, mas não tampa direito não, que as veiz eu vorto de novo, e me dá uma afobação danada. (29; 165). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Nosso. pron. ‘pertencente a, ou proposito de nós’ | XIII, nostro XIII| Do lat. noster, nostra, nostrum. (CUNHA, 1986, p. 551) Mãe. sf. ‘mulher que deu à luz um ou mais filhos’ Do lat. mater. (CUNHA, 1986, p. 488) 395. NOSSA SENHORA [Interj] __________________________________________________________________________________________ Nossa Senhora!!! (16;1). Nossa senhora!!! (16; 112). Nossa senhora, aí firvia de gente de Piracicaba, São Paulo, firvia de caminhão pra pega peixe lá, uai, tinha muito Jaú. (16; 235). Precisava vê quando tava a casa a noite interinha, aí ia, essas história assim, por causo disso, sombração, de tudo, uma noite aí um repetia um... Nossa Senhora Aparecida!!! (16; 423). ...ês vei varreno assim...Nossa Senhora! (22; 156) 275 Era!!! Nossa Senhora, esse aí era um dos cuzinhero... (32; 421). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Nosso. pron. ‘pertencente a, ou proposito de nós’ | XIII, nostro XIII| Do lat. noster, nostra, nostrum. (CUNHA, 1986, p. 551) Senhora: sf. orig. do lat. Senora XIV/No port. Med. Ocorria com muito maior frequencia a forma senhor,tanto para o masculino como para o feminino. (CUNHA, 1986, p.715) 396. NOSSO CAVALO MARCHA BEM [Fraseologia] __________________________________________________________________________________________ Da moda do ditado, nosso cavalo marcha bem. (32; 23) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. Ribeiro (2010): n/e Freitas (2012): n/e Miranda (2013): n/e Cordeiro (2013): n/e Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e O 397. OCA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Intão a roda ela contém trêis buraco, onde vai o exo. PESQ.: Hã? INF.: E tem dois ( ) buraco redondo... PESQ.: Hã? INF.: Que chama oca. PESQ.: Oca? INF.: Oca. E dipois tem o exo tamém. Aí no exo vai o chumaço, que é o que faiz cantá o carro de boi. (14; 403, 405) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Oca. s.f. De ôco. Perfuração redonda nas rodas dos carros de bois. 276 4. Aurélio: Oca4. Substantivo feminino. 1.Bras. S. Perfuração redonda nas rodas do carro de boi. [Pl.: ocas. Cf. oca (ô) e ocas (ô), flex. de oco (ô).] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Oca. Perfuração redonda nas rodas do carro de boi. • INF.: Intão a roda ela contém trêis buraco, onde vai o exo. PESQ.: Hã? INF.: E tem dois ( ) buraco redondo... PESQ.: Hã? INF.: Que chama oca. PESQ.: Oca? INF.: Oca. E dipois tem o exo tamém. Aí no exo vai o chumaço, que é o que faiz cantá o carro de boi. (Ent. 14, linhas 403 e 405) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 398. O CORO COMEU [Fraseologia] __________________________________________________________________________________________ É, pro pai, chegou da roça, o coro comeu. (18; 100). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 399. ÓLEO DE CAPAÚVA NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 2: ( ) Aqueas árvona do campo do Zé Dação, ali tem. Inda tava comentano cum Toninho: “uai Toninho cê alugo pa Osina e inda num cortô aquea árvona?”. Mas num pode cortá essa árve. Essa qualidade ( ) aquea árve de óleo devia dá um tanto de madera. Ah. Esse povo da Osina caba cum ea. Um lá nos Pinheiro tinha dessa arve. No caminho que nóis ia pa escola e o papai taiava, taiava a (), tirava por riba e fazia aquê coro da árve, pingava aquilo ali ó, a resina dela, aí caía umas fumiguinha, uma foinha, um cisquinho num sei se cê chegou a vê esse remédio D./ chamava de Óleo de Capaúva. INF. 1: Óleo de Capaúva, eu já vi. PESQ.: Óleo de Capaúva?INF. 2: É ( ) tanto que aquea árve ali chama Óleo. PESQ.: Óleo? INF. 2: Árve de óleo, árve de óleo. ( ). INF. 1: Óleo de Capaúva é bão pra reumatismo. (1; 410, 411, 416) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 277 1. Ribeiro (2010): Óleo de Capaúva. Óleo extraído da árvore capaúva, que possui diversas aplicações medicinais. • Óleo de Capaúva é bão pra reumatismo. (Ent. 1, linha 416) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Óleo. sm. ‘nome comum a substâncias gordurosas inflamáveis, de origem animal ou vegetal, ou mineral’ Do lat. oleum. (CUNHA, 1986, p. 559) 400. OREIA DA ÀRVORE NCf [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Eu ouvi falar esses dias que aquele negócio que dá na carne/ na carne não, na árvore também cura ferida, quando cê risca a árvore. INF. 2: Oreia da árvore? Não? (1; 399) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Oreia da Árvore. Fungo comum em árvores. PESQ.: Eu ouvi falar esses dias que aquele negócio que dá na carne/ na carne não, na árvore também cura ferida, quando cê risca a árvore. INF. 2: Oreia da árvore? Não? (1; 399) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Orelha. sf. XIII. Do lat. aurícula –ae. (CUNHA, 1986, p. 564) Árvore. sf. ‘vegetal lenhoso cujo caule, chamado tronco, só se ramifica bem acima do solo’ XIII. Do lat. arbor – oris. (CUNHA, 1986, p. 74) 401. ORNAR [V ] __________________________________________________________________________________________ Aqui toda vida num ornô esse negócio de farmácia não... (25; 121) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 278 P 402. PAGODE Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Acho que fazia muito é pagode, sabe? (22; 83) O pagode era dança... (22; 103) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Pagode. Fazer pagodes, í, e. funções, e divertimentos de comesaina e danças, cantares licecioses, como os que na Asia fazem as bailadeiras de certos Pagodes. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Pagode. s.m. ||3 Pop. Divertimento, pândega, bambochata. 4. Aurélio: Pagode. sm. 2. Fig. Divertimento espalhafatoso; pândega, pagodeira. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Pagode. sm. ‘festa ruidosa, folia’ c 1560. Do sansc. bhagavati. (CUNHA, 1986, p. 571) 403. PAIA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ela chegou “nossa seu pé tá muito carranhento” cêis vai embora lá pa aquea bica d’água po esses pé de moio,cum/ e esfregá farelo/ paia de arroiz, farelo de arroiz”. (1; 589) Meu pai tinha um companhero ( ) ieu intão ieu/ minha mãe arrumava aquê caxote que justamente esse caxote que usava levá querosene. Punha paia rasgada nele e usava tocinho. (14; 238) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Palha. A cana do trigo, milho, cevada, & outros paens, depois de cortada e separada da espiga. Derivase do Latim Palea, & este do latim Pala. 2. Morais: Pálha. s.f. A cana do trigo, milho, cevada, e outros pães, que se seca para sustento do gado grosso, e cavalgadura. 3. Laudelino Freire: Palha. S.f. Lat. palea. A haste do trigo, do centeio, do arroz e de outras gramíneas semelhantes depois de despojadas dos grãos. 4. Aurélio: Palha .[Do lat. palea.] Substantivo feminino. 1.Haste seca das gramíneas (esp. cereais), despojada dos grãos, utilizada na indústria ou para forragem de animais domésticos. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Paia. Haste seca das gramíneas (esp. cereais), despojada dos grãos, utilizada na indústria ou para forragem de animais domésticos. • Punha paia rasgada nele e usava tocinho. (Ent. 14, linha 238) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Palha. sf. Do lat. palea. ‘haste seca das gramíneas, despojada dos grãos e utilizada na indústria ou para forragem de animais domésticos’/XIII palla XIII. (CUNHA, 1986, p. 573) 279 404. PAIADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Tá nada. Num tem trato. Trato da mão de Deus. Esses brotinho que tá saino da berada. Essas paiada de cima abriu era mais poco pra trais ( ) mais agora, mais pra trais. A ota aqui abriu primero. Aí eas foi andano aí pa berada. Mais tapeia, cê picisa de vê. ( ) Aí dá gosto de vê. ( ) (13; 69) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Palhada .[De palha + -ada1.] Substantivo feminino.. 3.Bras. SP Capoeira fina; mato ralo. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Lexicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Paiada. Capoeira fina; mato ralo. • Essas paiada de cima abriu era mais poco pra trais ( ) mais agora, mais pra trais. (Ent. 13, linha 69) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Palhada. Do lat. palea, XVI. (CUNHA, 1986, p. 573) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. Regionalismo conforme Aurélio. 405. PAIÓ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ É dexe jeito. Leva po paió, vai aquê desajeito, iguale a gata tá munto grande, gorda. Ela vai pelejano. Se fosse cachorrinho ( ). (1; 179) Mas eu sempre fui: Eu agora saio aí e ês fica ( )”Eh dona Ervira, donde tá “Eu tô aqui no paió dibuiano mio pas galinha” fica lá: “vem pra dento”. (15; 378) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Paiol de polvora. “He no mais bayxo do navio hum lugar separado, & fechado, onde se guarda a polvora em barris, ou guarda cartuchos, & donde naõ se entra sem ordem do capitaõ.” 2. Morais: Paiól. “sm. Nos navios é como caixão, ou divisão, onde vem mantimentos, carga de pimenta, a pólvora, &c.” 3. Laudelino Freire: Paiol. “s.m. 4. Casa para arrecadação dos gêneros da grande lavoura. // 5. Tulha de milho.” 4. Aurélio: Paiol. “[De paiol, f. dialetal do cat., em lugar de pallol.] Substantivo Masculino 3. Bras.Armazém para depósito de gêneros da lavoura.4. Bras. MG SP Depósito ou tulha de milho ou de outros cereais.” [Pl.: paióis.] 5. Amadeu Amaral: Paiol. “s.m. – tulha de milho. // É t. port., com outras signifs.” __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Paió. Construção próxima à casa da fazenda onde é armazenado o milho seco. • É dexe jeito. Leva po paió, vai aquê desajeito, iguale a gata tá munto grande, gorda. (Ent. 1, linha 179) 2. Freitas (2012): Paiol. Construção próxima à casa da fazenda onde é armazenado o milho seco. • “Num tinha nem paiol...muntuava lá ai fazia aquê terrerão rudiado de côro ao redó e cascava o mi todo e batia tudo e inchia aquea purção de saco” (Ent. 09, linhas 363) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Paiol. “sm. ‘depósito de pólvora e de outros petrechos de guerra’ / payoll XV / Do cast. pallol.” (CUNHA, 1986, p. 572) 280 __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. Regionalismo conforme Aurélio. 406. PALMOS Nm [Spl] __________________________________________________________________________________________ De primero era cova, né? Sete palmos de fundura, né? (29; 151) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Palmo. s. m. medida, que he a-extensãodesde a ponta do dedo mínimo, até a do polegar, aberta a chave da máo. 2. Morais: Palmo. s. m. medida, que he a-extensãodesde a ponta do dedo mínimo, até a do polegar, aberta a chave da máo. 3. Laudelino Freire: Palmo. Medida tomada pela distancia que vai da ponta do dedo polegar até a extremidade do dedo mínimo quando a mão está bem estendida. 4. Aurélio: Palmo. 1. Medida da distância que vai da ponta do polegar à do mínimo, estando a mão estendida. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Palmo. XIII. Do lat. palmus. (CUNHA, 1986, p. 574) 407. PANHAR [V] __________________________________________________________________________________________ A gente num panha muto custume muta intimidade. (1; 42) Carrega. Esses dia, o L. falô que achava que a gata tava panhando cria. (1; 168) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Apanhar. 11. Adquirir, pegar. Int. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Panhar. Adquirir, pegar. Int. • Esses dia, o L. falô que achava que a gata tava panhando cria. Ent. 1, linha 168) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Apanhar. vb. XIV. Do cast. apañar. (CUNHA, 1986, p. 56) 408. PANHAR VENTO [Loc V] __________________________________________________________________________________________ Ele não pode panhar vento, com pneumonia nessa idade eu tenho medo. (34; 167). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 281 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Apanhar. vb. XIV. Do cast. apañar. (CUNHA, 1986, p. 56) Vento. sm. ‘oar em movimento’ XIII. Do lat. ventus. (CUNHA, 1986, p. 815) 409. PANINHO DE BUNDA NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aí tinha que tirá/ês falava paninho de bunda, hoje é fraldinha. (Ent.1, linha 573) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Paninho de bunda. Fralda de bebês. • Aí tinha que tirá/ês falava paninho de bunda, hoje é fraldinha. (Ent.1, linha 573) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro(2013): n/e 5. Souza (2014): Pano de bunda. Roupa de casamento; enxoval. ... marcava o dia da data né... um padre era difícil na época pra vim aqui... de quatro em quatro meses... aí comprava os pano de bunda... quando chegava o dia fazia aquela festa bonita né. (Entr. 1, linha 171). __________________________________________________________________________________________ Origem: Pano. sm. ‘qualquer tecido, fazenda’ XIII. Do lat. pannus. (CUNHA, 1986, p. 577) Bunda. sf. ‘as nádegas e o ânus’ 1871. Do quimb. ‘muna. (CUNHA, 1986, p. 128) 410. PANO DE SACO NCm [Ssing + prep+ Ssing] __________________________________________________________________________________________ A tia M., tadinha, pra lavá ropa, a vida dês lá, aquês pano de saco antigamente vinha com açúcar, então cabia as camisa tudo, e prá lava isso. (1; 673). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ 282 Origem: Pano. sm. ‘qualquer tecido, fazenda’ XIII. Do lat. pannus. (CUNHA, 1986, p. 577) Saco. sm. ‘receptáculo de papel, pano, couro, ou material plástico, oblongo, aberto em cima e fechado no fundo e nos lados’ | sacco XVI | Do lat. saccus. (CUNHA, 1986, p. 697) 411. PAPEADERO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ ...ele é papeadero também. (32; 413) Ele é papeadero assim... (32; 415) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 412. PAPUDO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Esses dias tava perto de casa, no corgo do Ouro, tinha uma família lá que os home e as mulheres tudo papudo, ah... (17; 108). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Papudo. Quem tem grande papo (falando em aves.) Cui eft ampla ingluvies, vid. Papo. Às vezes se poderá dizer, Gutturofus, a, um. Este adjetivo He de Ulpiano. Olhos papudos. vid. Olhos. 2. Morais: Papudo. Adj. Que tem grande papo, fallando das aves. Olhos papudos; inchados, ou de grossas pálpebras, do mal dormindo, do upado. 3. Laudelino Freire: Papudo. Adj.Que tem grande papo.//2. Proeminente, arqueado.//3.Diz-se dos olhos de pálpebras grandes e carnudas. 4. Aurélio: Papudo. adj. Que tem papo (4) 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Papudo. XVIII. (CUNHA, 1986, p. 577) 413. PASSAGEM Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ela tava fazeno passagem, que ela casô nova, né? Criô as fiarada tudo. Morreu munto nova. (10; 478) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 283 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Passagem. O mesmo que menopausa. • Ela tava fazeno passagem, que ela casô nova, né? Criô as fiarada tudo. Morreu munto nova. (Ent. 10, linha 478) 2. Freitas (2012): n/e 3.Miranda (2013): n/e 4.Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Passagem. XIII. Do fr. passage. (CUNHA, 1986, p. 585) 414. PASTO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Tabaiá de trator, roçá pasto, cortá lenha, trabaiá de motosseco. (1; 15) E o gado nosso tamém num come não, porque aqui tem fartura de pasto. (4; 277) Aí ês come. Mais aqui não. Aqui tem fartura de pasto. Graças a Deus. (4; 281) INF. 2: Aí tinha de pegá/ num tinha uma carroça, carro de boi que tinha era longe. Os minino foi carregano o adobo que tinha feito lá em casa e foi carregano de/ cumé que fala/ num tinha carrinho. Ês ranjava uma tábua/ cê lembra cumu é que era? INF. 1: () pasto. (5; 31) Quondo foi pra ele morrê. Este homi morreu que nem uma criação, morreu no meio do pasto. (7; 13) Morreu no meio do pasto. (7; 15) E dispois vê que ê morreu no meio do pasto urrano que nem jumento. (7; 41) Pra trabaiá na/ roçano pasto, capinano. (8; 34) INF. 1: Era duro, só inxada. PESQ.: Era? INF. 2: Roçá pasto. INF. 1: Roçá pasto, cortá de machado. (9; 69, 70) Ah, gaitera era no pasto. (9; 104) ...trabalhava lá na roça, roçano pasto, cortano lenha. (9; 296) ...os homi ia roçá pasto, usava foice. Ia capiná, usava inxada. Ia torá mato, usava serrote. Serra, né? (10; 354) É. Aí vamo supô se ia roçá pasto ( ) aí falava que êsia é/ juntava aquê povão. Eu lembro. (13; 412) Ficava bão terra cortada. Agora terra bruta que era a primera veiz que era pasto, com o tempo falava terra bruta. (14; 509) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Pasto. O campo onde pasta o gado. 2. Morais: Pásto. s.m. O campo onde o gado pasta. 3. Laudelino Freire: Pasto. s. m. Lat. pastus. Alimento, pascigo, comida. 4. Aurélio: Pasto .[Do lat. pastu.] Substantivo masculino. 1.Erva para alimento do gado; pastagem. 2.Terreno em que há pasto (1), onde se pastoreiam os animais. [Sin.: pastio, pascigo, pastagem e (bras.) pastaria, pastorador, pastoreio, pastoreiro, comedia.] 3.Alimento, comida. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 284 1. Ribeiro (2010): Pasto. Erva para alimento do gado; pastagem. • ...os homi ia roçá pasto, usava foice. Ia capiná, usava inxada. Ia torá mato, usava serrote. Serra, né? (Ent. 10, linha 354) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Pasto. sm. ‘erva para alimento do gado’ ‘terreno próprio para gado pastar’ XIII. Do lat. pastus –us. (CUNHA, 1986, p. 585) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 415. PAU-A-PIQUE NCm [Ssing + prep + V] __________________________________________________________________________________________ De repente, ela veio com um tantão de quitanda ( ) ela ia fazê assim de tarde currido e ( ) não sei que que ela arranjô que o biscoito tava duro memo. É de pau-a-pique, mais tudo duro. (1; 101) Até que ela tava falando que o pau-a-pique tava duro, mas tava não, era amolação dela. (1; 104) Mais até tava bão o pau-a-pique, eu até custei pra jantá, eu jantei cedo e desci comeno pau-a-pique. (1; 106 ) PESQ.: Tinha bolo de fubá? ((vozes)) Ahn? INF. 1: Num tinha mais nada não. PESQ.: Não? ((vozes)) INF. 1: Bolo, pau-a-pique. (9; 174) Aífazia biscoito, fazia pão-de-quejo, fazia bolo, fazia pau-a-pique. PESQ.: Pau-a-pique era aquele que fazia na folha de bananeira? INF.: Era. Pau-a-pique inrola na foia. E enforma primero quando o forno tá bem quente. (11; 159, 161) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Pau-a-pique1 . Quitanda feita de fubá e assada na folha de bananeira. • De repente, ela veio com um tantão de quitanda ( ) ela ia fazê assim de tarde currido e ( ) não sei que que ela arranjô que o biscoito tava duro memo. É de pau-a-pique, mais tudo duro. (Ent. 1, linha 101) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Sugerimos Brasileirismo. 416. PAU-A-PIQUE2 NCm [Ssing + prep + V] __________________________________________________________________________________________ As casa, a maió parte era feita de pau-a-pique e adobo. (5; 43) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Pau-a-pique. sm Construção feita de ripas ou varas entrecruzadas e barro. 5. Amadeu Amaral: n/e 285 __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Pau-a-pique2. Construção feita de ripas ou varas entrecruzadas e barro. • As casa, a maió parte era feita de pau-a-pique e adobo. (Ent. 5, linha 43) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e __________________________________________________________________________________________ Obs.: Sugerimos Brasileirismo. 417. PAU NA FORCA NCm [Ssing + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Tinha pau na forca...tem lá em Jacuí. (16; 357) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Pau. sm. Qualquer pedaço de madeira’. XIII. Do latim, pãlus –i. (CUNHA, 1986, p. 587) Forca. sf. Gesto,momice,disfarce ‘ XVI. De origem obscura. (CUNHA, 1986, p. 366) 418. PEÃO DE MANSAR BURRO NCm [Ssing + prep. + V + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ah, eu é, fui peão de mansar burro, animar, quando eles falava assim: “Tem um animal é, manhoso.” Eu ia lá e comprava ele, e montava, e consertava aquilo, ganhava dinheiro era assim, mansava burro, mansava e acetava animal de boca, animal que eu andava todo mundo gostava. (34; 235). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Peão. sm. ‘amansador de cavalos’ Do lat. pedo. (CUNHA, 1986, p. 588) Amansar. XIII. (CUNHA, 1986, p. 497) Burro. adj. sm. ‘asno, jumento’ Do lat. burrus. (CUNHA, 1986, p. 128) 286 419. PÉ-DA-GUIA NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Uai, esse aqui é o derradero, do cabeçaio, chaveia, do meio, pé-da-guia. Essa aqui é junta de guia. Nóis tinha um boi que parecia cum esse aqui, chamado pexão. (4; 223) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Pé-da-guia. Junta de bois que está localizada atrás da guia. • Uai, esse aqui é o derradero, do cabeçaio, chaveia, do meio, pé-da-guia. Essa aqui é junta de guia. Nóis tinha um boi que parecia cum esse aqui, chamado pexão. (Ent.4, linha 223) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Pé. sm. XIII. Do lat. pés pedis. (CUNHA, 1986, p. 588) Guia. sm. XV. Do lat. guidare. (CUNHA, 1986, p. 400) 420. PEGAR [V] __________________________________________________________________________________________ Aí eu peguei e falei pro E.: “a Pitty eu não quero aqui”. (1; 186) ... peguei e falei pra ele... (1; 292) ...o copo pega estalá/quebra. (1; 371) Aí peguei e fui sabê das lavadera de ropa tudo... (2; 99) Aí pegô, ê num ixemprava não. Acontecia essa coisa cum ele, ê passava duma pra ota, dota passava pra ota. Ele num ligava caquilo. Aí ê pegô e matô essa Compania de Reis. (2; 224, 226) Ê pegô e falô: “esse podrinho é pro cêis levá pra Santo Reis. (2; 248) ...aí pegô e passô o nosso de cá pra ele... (7; 85) Aí meu pai pegô e imprestô a égua pra ele pa comprá um gado lá no tale de Poso Alegre memo. (8; 10) Aí nóis pegô e foi imbora da iscola... (8; 74) ...intão pegava e arrumava banguê, né? (4; 114) Aí pegô a berá e o povo/pegô os passarinho a cantá... (15; 187) Eu tô cum medo quando pegá a chovê. (15; 842) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Pegar. “v. r. v. Lat. picare. 27. Começar, principiar (tr. ind., com prep. de, a): “Pegaram logo de estar tristes e a sentirem saudades.” (Camilo).” 4. Aurélio: Pegar. “[Do lat. picare, 'untar de pez'.] V. t. i. 33. Começar, principiar, entrar: “Persignou-se, levantou-se e pegou a vestir a roupa.” (Bernardo Elis, Veranico de Janeiro, p.34).” 287 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Pegar. Começar, principiar. • Aí nóis pegô e foi imbora da iscola... (Ent. 8, linha 74) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Pegar a. Começar, iniciar. É. Se tivesse gordura punha, mas num tinha gurdura pra gente pô. Quando pego a usá gordura, aí punha um poco de gurdura junto. (Entrevista 1, linha 160) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 421. PELEJAR [V] __________________________________________________________________________________________ INF. 2: é dexe jeito. Leva po paió, vai aquê desajeito, iguale a gata tá munto grande, gorda. Ela vai pelejano. (1; 180) Num era nada. Oh, ficava o dia intero lá na roça pelejano. Parava de noite, né? (9; 129) Eu pelejano bateno lá. Que que vale? Aí que meu irmão pegô um porrete foi lá e tirô ela de cima de mim. E a minha mãe gritava sua moleza. (11; 216) É. Só pelejano, né? (12; 47) ((Risos)) Pelejava ca vida, né? (12; 105) Pelejano ca vida. Daqui e dali, né? (12; 121) E o J. que tá pelejano, pagano caro. (13; 174) INF. 1: Eu cheguei, pelejei pa tirá esse gado. Cadê se dá jeito d’eu tirá. Aí chegô um cumpade meu e ajudô a tirá o gado da horta. (15; 629) Aí saí de casa, e fui pelejano com a vida... (33; 101) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Pelejar. Lutar, vid. combater. 2. Morais: Pelejár. v. at. Batalhar, lutar. 3. Laudelino Freire: Pelejar. v.r.v. Corr. de palejar, do lat. palus. Batalhar, brigar, lutar, pugnar, combater. 4. Aurélio: Pelejar. v. int. Batalhar, combater. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Pelejar. Batalhar; trabalhar muito. • INF. 1: Eu cheguei, pelejei pa tirá esse gado. Cadê se dá jeito d’eu tirá. Aí chegô um cumpade meu e ajudô a tirá o gado da horta. (Ent. 15, linha 629) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Peleja(r). Batalhar, lutar, trabalhar muito. • “Dos caso...mas enxergá...nunca enxerguei não...Lula tá pelejan[d]o... ele né...fazen[d]o isso... mas que caba com a violência...acho que num caba com isso não..”. (Entr. 8. linha 175) 4. Cordeiro (2013): Pelejar. Esforçar, insistir, persistir, teimar. . Eu já ganhei trezentos réis, já ganhei ... Um dia eu fui trabaiá prum home lá. Ele tava com uns garrancho pra panhá e pelejano pra panhar. (Entrevista 4, linha 37) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Pelejar. Do lat. pillus –i, XIII. (CUNHA, 1986, p. 592) 422. PEQUETITO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ 288 Uai, nóis que é véio aqui ocê me entrega um celular, tá perdido, nóis num dá conta de mexê, vejo esses minino pequetito hoje em dia tá aí, internet. (32; 364) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Piquitito ~ Piquitita ~ Piquititinho. Que é muito pequeno. • “É... Trabalhá... pois muitos tipo de sirviço... ocê já vai pegan[d]o aqueles mais fácil... e desde o princípio do / enquanto oçê tá piquitito... cê vai aprenden[d]o o tipo de sirviço...” (Entr. 1. linha 97) “umas ispiguinha assim que pai sempre falava que a ispiga menor tem condições dela / dela remoê e torá tudo... e dá uma grande... ele peleja... num acha recurso... baba ela... baba... baba... solta ela lá no chão... é restolho ( ) ispiga piquitita...” (Entr. 1. linha 330) “Entr: E tinha também muito daqueles bichinhos... uns amarelinhos né... que fica no meio da madeira e de entulhos assim... e diz que a picada dele também é perigosa até matar né? / Infor: Mas uns bichinhos piquititinho?” (Entr. 3. linha 101) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 423. PEROBA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ele cortava peroba, rancava aquês cavaquinho de peroba e punha pa fervê. A gente tomava aquilo ( ). (1; 472) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Peroba. s.f. Nome comum de várias árvores de construção. 4. Aurélio: Peroba. [Do tupi = ‘casca amargosa’.] Substantivo feminino. Bras. Bot. 1.Designação comum a muitas árvores das famílias das apocináceas e das bignoniáceas que têm madeiras de boa qualidade, sobretudo a peroba-de-campos e a peroba-rosa (q. v.); perobeira. 5. Amadeu Amaral: Peróva, peróba. s. f. - madeira da perobeira; a própria perobeira; fig., importuno, maçador. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Peroba. Árvore conhecida por fornecer madeira de boa qualidade. Bastante conhecida também na região de Passos por possuir valor medicinal. • Ele cortava peroba, rancava aquês cavaquinho de peroba e punha pa fervê. A gente tomava aquilo ( ). (Ent. 1, linha 472) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Peroba. Sf. ‘nome de diversas plantas das famílias das apocináceas e das bignoniáceas, que fornecem madeira de boa qualidade’/peroua 1624, peroba 1663, parôba 1711, eperoba 1789 etc./Do tupi ipe’roua roda – caso de elipse). • Eu era piquininha e sabia fiá na roda. Oh! Eu já sabia fiá na roda. (Ent. 10, linha 375) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Roda. sf. ‘peça ou máquina simples, de formato circular, que se movimentam ao redor de umeixo ou de seu centro, e que serve para inúmeros fins mecânicos’ XIV. Do lat. rota –ae. (CUNHA, 1986, p. 687) 479. RODERO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Que que é mesa? É a parte de trás? INF.: A mesa é o que ia em cima dos rodero. (14: 414) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Rodeiro. Maço Rodeyro. Instrumento de pão, maior que a maça dos calceteyros. Dele usaõ os carpinteyros de coches, & carros, para ajustarem as rodas. 2. Morais: Rodeiro. adj. Masso, malho rodeiro, masso maior que o dos calceiros, de que os sejeiros, e carpinteiros de carro usão para ajustarem as rodas. 3. Laudelino Freire: Rodeiro. s.m. De roda + eiro. Diz-se do maço de encaixar, de ajustar e bater rodas de carros. 4. Aurélio: Rodeiro .[De roda + -eiro.] Substantivo masculino. 1.Eixo de um carro ou de uma máquina; chaveiro. 2.Conjunto de duas rodas e o eixo no qual elas estão montadas: “os carros, completamente atulhados, rolavam já pela praia acima, os rodeiros enterrados na areia” (Virgílio Várzea, Mares e Campos, p. 45). 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Rodero. Eixo de um carro ou de uma máquina. • PESQ.: Que que é mesa? É a parte de trás? INF.: A mesa é o que ia em cima dos rodero. (Ent. 14, linha 414) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4.Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 480. RUADA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Agora, no café trabaia suzinho, na rua, ruada suzinho, né? (8; 35) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Ruada. Espaço entre os pés de uma plantação de café. • Agora/ no café trabaia suzinho/ na rua/ ruada /suzinho, né? (Ent. 8, linha 35) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 317 481. RUINDADE Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Num sei / Eu arranjei uma ruindade essa noite sô. (15; 45) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Ruíndade. s.f. A qualidade de ser ruim física, e moralmente. 3. Laudelino Freire: Ruindade. s.f. Qualidade do que é ruim. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Ruindade. Aquilo que é ruim física ou moralmente. • Num sei / Eu arranjei uma ruindade essa noite sô. (Ent. 15, linha 45) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Ruindade. Do cast. ruindad. Ruyndade XV. (CUNHA, 1986, p. 693) S 482. SABÃO DE BOLA NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Sabão de bola. (17; 23). Fazer o sabão de bola, que é bom pra lavar a cabeça, tirar caspa. (17; 39). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sabão. sm. ‘produto detergente’ Do lat. sapo –onis. (CUNHA, 1986, p. 695) Bola. sf. ‘qualquer corpo esférico’ XIV. Do lat. bulla. (CUNHA, 1986, p. 116) 483. SABÃO DE CUADA NCm [Ssing + prep+ Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 4: Fritava. Fazia aquela gurdura, dipois fazia a cinza. Pegava a cinza/ a lata inchia de cinza ia pono água e aí pingava/ fala que era sabão de cuada. PESQ.: Por que que falava de cuada? É de cuada? INF. 2: Sabãode cuada é o caldo da cinza. (( vozes)) sabão de cuada é o que saía embaxo. (5; 284, 286) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 318 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sabão de cuada. Sabão feito de cinzas e gordura. • Fazia aquela gurdura, dipois fazia a cinza. Pegava a cinza/ a lata inchia de cinza ia pono água e aí pingava/ fala que era sabão de cuada. (Ent. 5, linha 284) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sabão. sm. ‘produto detergente’ Do lat. sapo –onis. (CUNHA, 1986, p. 695) Cuada. n/e 484. SABÃO DE PELOTA NCm [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Não, fazia sabão de pelota. (17; 19). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sabão. sm. ‘produto detergente’ Do lat. sapo –onis. (CUNHA, 1986, p. 695) Pelota. XIII. Do cast. pelota. (CUNHA, 1986, p. 591) 485. SABÃO PRETO NCm [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ INF. 3: Ficava. Agora pa tomá banho, quando murria vaca lá. Fazia o sabão preto, da vaca. ( ) A gente tomava banho caquele sabão. PESQ.: Como é que chamava o sabão? INF. 3: Sabão preto. (5; 276, 279) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Sabão. Maça de cinzas de cinzas de carvalho, cal virgem, ou outros ingredientes, servese de lavar roupa. Ha sabão de pedra, & sabão molle, sabão branco, & sabão preto. 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sabão Preto. Sabão feito com soda e gordura de vaca. • Fazia o sabão preto, da vaca. (Ent. 5, linha 276) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e 319 __________________________________________________________________________________________ Origem: Sabão. sm. ‘produto detergente’ Do lat. sapo –onis. (CUNHA, 1986, p. 695) Preto. adj. ‘negro’ Do lat. *prettus. (CUNHA, 1986, p. 634) 486. SABUGO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ O ferro era de brasa. Quemava cum sabugo, essa coisa. ( ) era pa passá. (5; 265) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Sabûgo.Sabugueyro. Ora, he arvore, & ora he arbusto, cujos ramos saõ redondos, & compridos, cheyos de huma medulla branca, & cubertos de huma casaca áspera,& cinzenta, como também no tronco, no qual debaixo desta primeira casac, há outra de muito uso na Medicina. 2. Morais: Sabúgo. s.m. O sabugueiro. 3. Laudelino Freire: Sabugo. s.m. Lat. sambucus. Substância esponjosa e leve, que se encontra no interior de certas árvores e em especial no sabugueiro. 4. Aurélio: Sabugo . [Do lat. sabucu, ‘sabugueiro’.] Substantivo masculino. 1.Bot. Medula do sabugueiro. 2.Bot. Sabugueiro. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sabugo. Substância esponjosa e leve, que se encontra no interior de certas árvores e em especial no sabugueiro. • O ferro era de brasa. Quemava cum sabugo, essa coisa. ( ) era pá passá. (Ent. 5, linha 265) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sabugo. sm. Do lat. sabucus -i. ‘medula do sabugueiro’ XIV. (CUNHA, 1986, p. 696) 487. SACUDIDO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Ele era sacudido, mais era véiaco dimais. (8; 38) Prática é custume. Aí num tinha prática aí/ quando foi de duas hora pa tarde esse homi sacudido foi froxano, froxano, froxano. Cansano. Ele pegô falô pro ( ): “ó isso aqui (ele tava no café ruado) isso aqui num foi homi, num foi gente que prantô não, ruado dexe jeito aqui. Isso aqui foi o diabo que prantô.” (8; 44) Mio. Eis tocava roça de mio/ ê gostava ( ). Porque eu tinha uns irmão, né? Que era sacudido lá nas roça ondé que a gente morava.(10; 248) Seu pai tá sacudido. Num é seu pai? ... Pois é, tá sacudido. (15; 313, 315) INF. 2: A sinhora tá sacudida hein? (15; 121) É, mas o senhor tá sacudido, graças a Deus... (32; 50) Sacudido, interessado em tocar retiro, o senhor não conhece não? (32; 85) Eu tenho um retiro lá, eu preciso arrumar alguém sacudido... (32; 87) Eu já fui muito sacudido pra roça, eu era meio porcalhão, mas já fui bão na foice dum tanto, meu filho. (32; 316) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 320 3. Laudelino Freire: Sacudido. adj. P. p. de sacudir. 4. Forte, robusto. 4. Aurélio: Sacudido . [Part. de sacudir.] Adjetivo. 4.Bras. Forte, saudável, galhardo, esbelto: criança sacudida. 5. Amadeu Amaral: Sacudido. q. – forte, valente. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Sacudido. Forte, saudável, galhardo, esbelto. • Ele era sacudido, mais era véiaco dimais. (Ent. 8, linha 38) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sacudido. Do lat. succutere. XIX. (CUNHA, 1986, p. 697) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 488. SANAPISMO ~ SENAPISMO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 1: Fumentação é assim: quando cê tava com uma dor/tipo assim/ ocê tinha muita dor eles fazia aquele ( ) como que é senapismo?INF. 2: Sanapismo. Eu tinha um medo daquilo pega fogo ni mim. INF. 1: E eu intão. Morria de medo PESQ.: Fumentação e fazia san/sanapismo? O que que era, botava fogo? INF. 1: Não! (1; 308, 309) INF. 2: Mas agora, o sanapismo, papai fazia munto aqui na gente. Quando era uma dor de dente, uma dor de cabeça.( ). Papai fazia ni nóis. Quando ele vinha a gente até incuía de medo. Não tem pirigo não. Uai, vai pô fogo nas perna da gente. PESQ.: (RS) INF. 2: Punha fogo. Dexa eu vê, cumé que era. INF. 1: Eu num sei como que fazia . INF. 2: Dexa ô vê. Agora que eu tô cum copo na mão ( ). INF. 1: Ah, eu lembro ( ). PESQ.: O sanapismo não é a mesma coisa do/como que chama o outro? INF. 2: O sanapismo é isso de queimá. INF. 1: É, é esse. (1; 339, 348) INF. 1: O sanapismo era que colocava. INF. 2: Aquê ramo que dá ( ) mentruste. (1; 383) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sanapismo. Papa medicamentosa, que tem como principal componente a mostarda. • O sanapismo é isso de queimá. (Ent. 1, linha 339) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): Sinapismo. Tipo de emplastro feito com a semente da mostarda. Cê tá com uma dor no juei cê coloca o sinapismo aquilo alivia. (Entrevista 3, linha 661) 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sinapismo. sm. ‘cataplasma de mostarda’ 1844. Do fr. sinapisme, deriv. do lat. med. sinapimus. (CUNHA, 1986, p. 725) 489. SANFONA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ PESQ.: Qual/ que festa mais que tinha? INF. 1: Tinha uma sanfoninha. (9; 162) Os vizinho pudia/ ia munto lá em casa. Era divirtido. Chegava no dumingo tocava viola, sanfona. (10; 456) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 321 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Sanfòna. s.f. Instrumento músico de cordas, vulgar, que se toca fazendo mover humas como teclas, trazem-no os cegos, e cantão a elle, e também he usado de pastores. 3. Laudelino Freire: Sanfona. s.f. De sinfônia, por sinfonia. Instrumento músico, com cordas de tripa muito tensas, que são friccionadas por uma roda, posta em movimento por uma manivela. 4. Aurélio: Sanfona .[Do gr. symphonía, pelo lat. symphonia, no lat. vulg. *sumphonia.] Substantivo feminino. 5.Bras. Pop. V. acordeão. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sanfona. Instrumento músico, com cordas de tripa muito tensas, que são friccionadas por uma roda, posta em movimento por uma manivela. • Os vizinho pudia/ ia munto lá em casa. Era divirtido. Chegava no dumingo tocava viola, sanfona. (Ent. 10, linha 456) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sanfona. sf. ‘(Mús.) ant. viela1’ ‘acordeão’ XVI. Do lat. symphonia. Der. Regressivo de sanfonina. (CUNHA, 1986, p. 703) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 490. SANGRA D’ÁGUA NCf [Ssing + prep + Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 1: Então, sangra d’água, sangra d’água é uma beleza pra esse negócio aqui. PESQ.: O que que é sangra d’água, é aquela resina? INF. 1: É uma resina de árvore. (1; 402) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sangra d’água. Planta comum em brejos. • INF. 1: Então, sangra d’água, sangra d’água é uma beleza pra esse negócio aqui. PESQ.: O que que é sangra d’água, é aquela resina? INF. 1: É uma resina de árvore. (Ent. 1, linha 402) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 491. SANTO REIS NCm [Ssing + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Falô: “uai, num tem jeito co poder de Santo Reis de jeito nenhum.” (2; 242) Falô: “ah, aquele pordo bão num dô ele pra Santo Reis não. (2; 246) E o grande que era de Santo Reis fico lá no currale. A hora que ês saiu ê falô pa muié: “muié”/lá po lado da Capoerinha perto do Guapé. “Muié, vamo lá sortá o pordo que era de Santo Reis, meu/ o ruim foi pra Santo Reis. Dexa aqui que agora fica pra nóis.” Toca esse pordo, esse pordo chegava na portera e pulava pum lado e pulava po oto. Quondo vê pulô no moirão da cerca. Morreu ispetado no moirão da cerca porque ele num era dele. Era de Santo Reis. Num dianta! (2; 249, 251, 253) __________________________________________________________________________________________ 322 Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Santo Reis. Os três reis magos. • Falô: “uai, num tem jeito com poder de Santo Reis de jeito nenhum.”(Ent.2, linha 242) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Santo Reis. Festa religiosa cristã em comemoração a visita dos reis magos ao menino Jesus.―Nasci no dia de Santo Reis... o dia que eu nasci o Santo Reis chegou lá em casa.‖ (16; 620). Cf. Reis. __________________________________________________________________________________________ Origem: Santo. sm. ‘sagrado’ Do lat. sanctus –a –um. (CUNHA, 1986, p. 704) Rei. sm. ‘soberano que rege ou governa um estado monárquico’/ XIV, rey XII, rrex XIV/ Do lat. rex regis. (CUNHA, 1986, p. 672) 492. SAPÉ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 1: Cubria de sapé. PESQ.: E que que era sapé? INF. 1: Antigo. Sapé é um ramo. Dispois fazia de teia comum. Mais dipois mais premero era de sapé. (5; 54, 56) Pensa que eu dexei ês pó teia na minha casa? Pois sapé. (15; 653) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Sapé. S.m. Uma herva, que no Brasil nasce nas terras cançadas, de folhas compridas estreitas, dá um pendão branco, serve de cobrir palhoças: casa de sapé. 3. Laudelino Freire: Sapé. s.m. Bot. 1. O mesmo que capim-sapé.//2. O mesmo que capim-macho.//3.O mesmo que capim peba. 4. Aurélio: Sapé1.[Do tupi = ‘o que alumia’.] Substantivo masculino. 1.Bras. Bot. Capim da família das gramíneas (Imperata brasiliensis), muito us. para cobrir choças, de folhas duras, e cujo rizoma tem uma ponta perfurante. Coloniza terrenos pobres, esgotados, e é mal aceito pelo gado como forragem. [Var.: juçapé.] 5. Amadeu Amaral: Sapé. s.m., - gramínea do gên. “Saccharum”. | Tupi __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sapé. Espécie de capim de folhas duras, muito usado para cobrir casas. • Pensa que eu dexei ês pó teia na minha casa? Pois sapé. (Ent. 15, linha 653) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): Sapé. Capim da família das gramíneas (Imperata brasiliensis), de folhas duras, muito usado para cobrir choças. • “Não... era capim: seco...taquara...de capim...sapé... arrancava sapé... e fazia... ou então taquara... batia a taquara e fazia assim ó... eu... quando morei na Coluna... que minha mãe morreu... a nossa casa lá era criada com taquara... né? É...” (Entr. 6. linha 453) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sapé. sm. ‘planta da fam. Das gramíneas, cujas folhas são muito utilizadas para cobertura de habitações rústicas’/sapee 1575, sape 1575, saper 1579 etc./Do tupi iasa’pe. (CUNHA, 1986, p. 704) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 493. SARIEMA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ 323 Uai. Passarinho. Mas o povo antigo tinha essas histórias mesmo. INF.: O T. falava que aquê que cantava “vai chovê”, “vai chovê” ( ) mais a sariema. Agora eu falo a sariema tá cantano “vai chovê”. Isturdia ainda falei no café a sariema tá advinhano chuva. Aí ês falaro “vai chovê não” ( ). (13; 327, 328) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Sariema. s.f. O mesmo que ciriema. 4. Aurélio: Sariema. [Do tupi = ‘crista em pé’.] Substantivo feminino. 1.Bras. Zool. V. seriema. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sariema. Ave pernalta, de asas curtas pouco adequadas para o voo, que vive nos descampados da América do Sul e se alimenta de pequenos roedores, insetos e lagartos. • Isturdia ainda falei no café a sariema tá advinhano chuva. Aí ês falaro “vai chovê não” ( ). (Ent. 1, linha 327) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): Sariema. Ave de médio porte, de pernas compridas e delgadas, que preferem correr a voar. O mesmo que seriema. (seriema > sariema – caso de dissimilação).―A sariema né?... a sariema tinha bastante... hoje... hoje ocê vê uma sariema cantando pode pagar aí o que quiser pra um cantar da sariema que num vê.‖ (27; 181-182). __________________________________________________________________________________________ Origem: Seriema. sf. ‘ave gruiforme da fam. Dos cariamídeos./1751, siriema 1618 etc./Do tupi sari’ama. (CUNHA, 1986, p. 717) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 494. SILO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Coisa que eu admiro, sabe? O que eu admiro, meu filho fez um silo, você viu os buracos do silo lá?(20; 91, 92) Então ele fez o silo de milho, eu não vou falar essa variante, de diversas variedades, mas o milho geralmente 104, 105, 106 dias aí é o silo, sabe? (20; 97, 99) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Silo. s.m. cast. Silo. Do Gr. Siros. Tulha onde se conserva forragens verdes e suculentas, para alimentação de animais. 4. Aurélio: Silo. Tulha subterrânea, impermeável, onde se conservam forragens verdes, cereais, etc. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Silo. sm. ‘ant. trilha subterranea’ ‘deposito para cereais’ XIII. Do cast. Silo, voc. Pre-romano, de origem incerta. Provavelmente do celt. Silion ‘semente’; como o silo era sempre subterrâneo, é possível que o voc. Seja aparentado com o basco zilo, zulo, com o sentido de ‘cova para guardar grãos. (CUNHA, 1986, p. 722) 495. SINHANA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Já fazia muito tempo que ela tinha morrido, eu vi que ela estava empariadinha comigo, ela chamava Sinhana. (17; 94). 324 Sinhana. De primeiro tinha tanta Sebastiana, Sinhana. (17; 96). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e _____________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 496. SINTIDO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: É. Uai, a gente grande memo, o sintido foge. PESQ.: Foge. INF.: Foge o sintido. E a hora que dá o branco da cabeça, todo mundo da pessoa. E num/ acontece. É... (13; 151, 153) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: Sentido .[Part. de sentir.] Substantivo masculino. 14.Consciência (1): No acidente perdeu os sentidos. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sintido. Consciência, lucidez. • INF.: É. Uai, a gente grande memo, o sintido foge. PESQ.: Foge. INF.: Foge o sintido. E a hora que dá o branco da cabeça, todo mundo da pessoa. E num/ acontece. É... (Ent. 13, linhas 151 e 153) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sentido. Do lat. sentiens –entis. XIII. (CUNHA, 1986, p. 715) 497. SISTEMA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Elas era assim, certa, tinha um certo sistema... (28; 154) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Sistema. Conjunto de partes coordenadas entre si, reunião de preposições, de princípios coordenados de modo que formem um todo cientifico ou um corpo de doutrina, dogma. 4. Aurélio: Sistema. 7 Método, modo, forma. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 325 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sistema. Conjunto de elementos, materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma relação, método, processo. Do fr. (CUNHA, 1986, p. 728) 498. SISTEMÁTICO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Nóis modô pa cá, né? Aí os povo lá/ meu pai quis mudá porque ele era assim um homi sistemático num gostava que/ né? Era sistemático/ daquês véio sistemático, né? (10; 55) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Sistemático. Systematico. adj. Lat. Systematicus. 2. Metódico, ordenado. 4. Aurélio: Sistemático .[Do gr. systematikós, pelo lat. tard. systematicu.] Adjetivo. 6.Bras. Diz-se do indivíduo que, por ser metódico ao extremo, se torna ranheta, ranzinza. ~ V. bloco —, botânica—a, erro — e índice —. 5. Amadeu Amaral:n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sistemático. Diz-se do indivíduo que, por ser metódico ao extremo, se torna ranheta, ranzinza. • Nóis modô pa cá, né? Aí os povo lá/ meu pai quis mudá porque ele era assim um homi sistemático num gostava que/ né? Era sistemático/ daquês véio sistemático, né? (Ent. 10, linha 55) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Sistemático. Do fr. systématique, 1813. (CUNHA, 1986, p. 728) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 499. SOCA [V] __________________________________________________________________________________________ A cinza a gente soca numa lata veia, bem socado, e põe água, e ela pinga aquela água roxa embaixo assim, e para a vazi[lh]a, pra por na panela de fazer sabão, porque lá na roça ninguém comprava soda, era da água da cinza pra po[r] no sabão pra cortar a gordura, pra dar o sabão. (17;11). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 500. SOCADO Nm [ADJsing] __________________________________________________________________________________________ 326 A cinza a gente soca numa lata veia, bem socado, e põe água, e ela pinga aquela água roxa embaixo assim, e para a vazia, pra por na panela de fazer sabão, porque lá na roça ninguém comprava soda, era da água da cinza pra pô no sabão pra cortar a gordura, pra dar o sabão. (17; 11). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: Socado. p. pass. De socar. Homem socado,dobrado,refeito,bem coberto de carnes. 3.Laudelino Freire: Socado. adj.P. p. de socar..//2.Pisado, pilado.//3.Calcado com soquete.//4.Muito apertado. 4. Aurélio: Socado. adj. 2.Amassado. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 501. SODA DE QUADRA NCf [Ssing + prep. + Ssing] __________________________________________________________________________________________ Cozinhava aquilo com soda de quadra, fazia... (28; 58) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e. 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 502. SOGA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF. 1: É, aí. Toca o boi lá no canto, põe a soga. A soga é essa aqui.PESQ.: Soga é isso aqui. INF. 1: É essa aqui ó. Agora essa aqui é a canga. PESQ.: Ah, tá. É soga isso aqui? INF. 1: É. A (jojo) que ês fala. Intão toca ê lá e ê já tem o lugázinho dele de chegá lá no canto. Põe a soga. Aí põe a canga, aí abutoa a brocha aqui, na guela dele aqui. (4; 206, 211) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Soga. He palavra castelhana, usada no Minho, & na Beyra por corda, ou correa. 2. Morais: Sóga. s.f. Corda grossa de esparto curado, ou de outra matéria. 3. Laudelino Freire: Soga. s.f. Tira de couro, cujas extremidades se prendem às pontas do boi, e pela qual êle é puxado ou guiado. 4. Aurélio: Soga. [Do lat. tard. soca, soga.] Substantivo feminino. 1.Corda de esparto. 2.Corda grossa. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Soga. Tira de couro, cujas extremidades se prendem às pontas do boi, e pela qual ele é puxado ou guiado. • Põe a soga. Aí põe a canga, aí abutoa a brocha aqui, na guela dele aqui. (Ent.4, linha 211) 327 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Soga. sf. “corda grossa” XIII. Do lat. tardio sóca. (CUNHA, 1986, p. 731) 503. SOMBRAÇÃO Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Porque o difunto da roça munta gente já fica assombrado de medo de vê o difunto lá na sala. Porque num põe na urna. Ranca a porta e faiz uma mesa assim da porta e põe o difunto em cima da mesa sem caxão. Já fica veno aquea sombração, né? E cobre cum lençol. A pessoa chega na porta e oia aquilo lá já é uma sombração. Porque o pé do difunto fica anssim pa banda da porta ó. O nariz fica anssim debaxo do lençole. Ah, gente mais é feio difunto lá na roça. Mais é muito feio. Só de chegá na porta representa que é uma sombração. (4; 21, 22, 24) Às veiz o medo faiz a sombração. (4; 117) Uai, é uai. Negócio de sombração, né? Tem gente que fala que sombração num ixiste. (8; 50) ...ês ino embora, contano sombração... (32; 154) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Sombração. s.f. Assombração, alma do outro mundo. 4. Aurélio: Sombração .Substantivo feminino. 1.Bras. Pop. V. assombração. 5. Amadeu Amaral: Assombração, sombração. s. f. - aparição, fantasma, alma do outro mundo. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Sombração. Alma do outro mundo. • Às veiz o medo faiz a sombração. (Ent 4, linha 117) 2. Freitas (2012): Sombração. Alma do outro mundo. • “De premero as sombração...pantasma era sorta menina num tinha negóço de cento pra prendê as arma né menina depois que discubriu esses curadô tinha cento as arma ficô mais ocupada que num pareceu mais pra ninguém não” (Ent. 06, linha 379) 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Assombração. Origem controversa, XX. (CUNHA, 1986, p. 735) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 504. SORTERÃO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ O J. é sorterão que mora no Geriátrico. Intão, esse J. arrumô uma moça lá, que ele tava/ acho que num sei se tava afim dele ou num tava. ... O J. é sorterão que mora no Geriátrico. (14; 525, 538) Ela foi namorada desse moço que êa caso cum ê./ Era um sorterão rico. (15; 174) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Solteirão. s.m. De solteiro. Diz-se do homem de mais de meia idade que ainda não se casou. 4. Aurélio: Solteirão .[De solteiro + -ão1.] Adjetivo.Substantivo masculino. 1.Que, ou o homem maduro ou velho que ainda não se casou. [Fem.: solteirona.] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ 328 Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Sorterão. Aquele que não se casou. • Ela foi namorada desse moço que êa caso cum ê./ Era um sorterão rico. (Ent. 15, linha 174) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Solteiro. adj. sm. ‘que ainda não se casou’/XVI, solteyro XIII/Forma divergente popular de solitário, do lat. solitarius–a –um. (CUNHA, 1986, p. 728) 505. SUADERA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Inelação. Mais diz que dá uma suadera nela. Ela dá de sinti mal. (13; 100) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 506. SUJOA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ INF.: Ah, era difici. Era difici e/ lá.../ Pa cumeçá quando nascia uma criança nem no hospital num vinha, né? Era tudo.../ incrusive minha avó era/ era assistente de criança. Quando ia nascê criança piquena, ela é/ meu avô até falava “ah, essas pessoa assim... PESQ.: Hã? INF.: Essas muié, tratava eas de sujoa. PESQ.: Sujoa? INF.: É. Agora o porquê disso eu num sei.PESQ.: Mas sujoa? INF.: Aqueas que acompanhava o nascimento das criança, né? Intão quando... PESQ.: Mas elas acompanhavam ou faziam? INF.: Não, elas fazia o parto. Ela ajudava a fazê o parto. PESQ.: Hã?INF.: Intão quando tinha uma criancinha/ quando ia nascê uma criança ês falava que tinha que i chamá a sujoa.PESQ.: A sujoa. Mas tinha outro nome também, não tinha?INF.: Parteira. PESQ.: Ah! Tá. INF.: Tinha otros que chamava de partera. Incrusive a minha avó tamém foi partera tamém. PESQ.: E eles falavam partera e sujoa? INF.: É. PESQ.: Que engraçado. INF.: Não. Sujoa eu via só meu avô falava isso. Os outro não falava. Falava parteira. (14; 14, 23, 31) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e 329 __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 507. SUPITAR [V] __________________________________________________________________________________________ ...aqueas coisas, supitava na lata e tornava tudo... (32; 310) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 508. SUSSUARAMA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Tem as sussuarama, já apareceu aqueas marela, no chapadão pareceu. (18; 136). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e T 509. TACAR COM FUMO [Fraseologia] __________________________________________________________________________________________ ...e tacô com o fumo nela... (30; 118) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 330 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 510. TACHA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ ... aquela tacha que tava aquela beleza. (5; 323) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Tacha. s.f. Tacho grande, usado em engenhos de açúcar. 4. Aurélio: Tacha3.[De tacho.] Substantivo feminino. 1.Bras. Tacho grande, us. nos engenhos de açúcar: “Nas tachas, o mel fervia, engrossava” (Mário Sete, Senhora de Engenho, p. 122). [Cf. taxa, do v. taxar, e s. f.] 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): • Tacha. Tacho grande, usado nos engenhos de açúcar. • ( ) aquela tacha que tava aquela beleza. (Ent. 5, linha 323) 2. Freitas (2012): Tacha. Reciente de cobre sem alças. • “Jugava o fejão na tacha e mexia aquês pôdi separava tudo jugava fora jugava no terrero aí cê penerava a ( ) e misturava ficava uns treis dia secano pudia guardá ficava uns treis quatro ano sem dá um bicho.” (Ent. 02, linha 240) 3. Miranda (2013): Tacha ~ Tacho ~ Tachada. Recipiente de metal ou de cobre com duas alças laterais. • “banana cozinhava é lá na tacha... dava pra muitos dia... uma tachada de banana... hora que parava de moê cana... aproveitava o fogo com a água quente... punha lá pra cozinhá... até ela rachá... hora que ela rachava... ela já tava maciinha..”. (Entr. 1. linha 72) “e lá do do lado de fora ainda tem uma fornalha que tá dentro do forno de fazê quitanda e tem uma fornalha que a gente cozinha... quando precisa cozinhá cumê de porco e também para fazê doce no tacho grande... aí eu fui lá e ajudei ela...” (Entr. 6. linha 95) 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Tacha1. sf. Origem obscura. ‘tacho grande, usado em engenhos de açúcar’ 1858. (CUNHA, 1986, p. 749) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 511. TAIO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Chegô lá já telefonô pa ( ). Ô ( ) a madrinha machucô. O I. lá pros coqueirinho. E a vai chama o I.. ( ) o I. me leva de pressa. A M. chegô: “Mamãe que que isso?” Ele feiz pra e a pa num falá que tava taio gande. (15; 35) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ 331 Registro no Projeto “Léxicos Regionais” 1. Ribeiro (2010): Taio. O mesmo que corte. • Ele feiz não pra ea pá num falá que tava taio gande. (Ent. 15, linha 35) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 512. TAMANDUÁ Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Um bicho lá, tamanduá, veado, né? (22; 27) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Tamandoa.', e não tamendoá, tamanety ouvi fempre dizer no Brafil, mas v. tamendoá. 2. Morais: Tamanduá. Ouvi sempre dizer noBrasil. 3. Laudelino Freire: Tamanduá. s.m. Nome de vários mamíferos pertencentes à ordem dos desdentados e que se alimentam de formigas. 4. Aurélio: Tamanduá. sm. Bras. Zool. Mamífero mirmecofagídeo, arborícola; tamanduá-mirim. 5. Amadeu Amaral: Tamanduá. s. m. - mamífero desdentado, do gên. "Myrmecophaga". __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Tamanduá. sm.’mamífero desdentado da fam. dos mirmecofagídeos’ | tamendoa 1576 | Do tupi tamanu’a. (CUNHA, 1986, p. 752) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 513. TAMOERO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Aqui tem um cambão que infia aqui nesse tamoero. (4; 213) INF.: Intão tinha as canga e os tamoero. PESQ.: Tamoero? INF.: Tamoero feito de coro de boi, é tudo trançado. PESQ.: Hã?INF.: Era turcido num era trançado. PESQ.: Hã?INF.: Tinha os tamoero, dipois tinha os canzil que era os buraco que ia imbaxo pa botuá no pescoço do boi. (14; 350, 352, 356) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Tamoeiro. (Termo de Carro) Saõ huns pedaços de couro de boy crù, que postos em cima da canga, & prezos na chavelha, levaõ o carro, ou arado. 2. Morais: Tamoeiro. s.m. Peça de coiro cru, ou madeira que prende na chavelha da canga, ou canzis, quando os bois puxão o carro, ou arado. 3. Laudelino Freire: Tamoeiro. s.m. Peça de couro, na parte superior do jugo de bois, e na qual se prende a cabeçalha do carro. 4. Aurélio: Tamoeiro. [De tamão + -eiro, com desnasalação e síncope.] Substantivo masculino. 1.Peça central do carro de bois. 2.Peça de couro que segura o carro à canga. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Tamoero. Peça central do carro de bois. • Aqui tem um cambão que infia aqui nesse tamoero. (Ent. 4, linha 213) 2. Freitas (2012): n/e 332 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 514. TAPERA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ É, e, portanto lá, tem essa tapera até hoje assim, a tapera dos outros moradores... (30; 188) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Tapera. sf. No Brasil, he lugar povoado e cultivado, que depois ficou sem cultura e sem gente. 2. Morais: Tapera. s. f. Bras. Quinta, ou fazenda que algum tempo se grangeou, e que depois se abandona, e deixa fazer mato, ou sapezal. 3. Laudelino Freire: Tapera. 1 Fazenda abandona e invadida pelo mato, depois de ter sido cultivada. 2 Casa velha e abandonada. 3 Lugar ruim e feio. 4. Aurélio: Tapera. sf. Bras. 1. Habitação ou aldeia abandonada. 2. Casa arruinada. 5. Amadeu Amaral: Tapera. Casa, rancho, qualquer habitação abandonada no campo, quase sempre em ruínas com algumas paredes de pé e árvores à roda ou no quintal. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Tapera. Sf. Aldeia indígena abandonada, habitação em ruínas 1562. Do tupi. (CUNHA, 1986, p. 754) __________________________________________________________________________________________ Obs.: Brasileirismo conforme Aurélio. 515. TAPO Nm [Ssing] __________________________________________________________________________________________ De noite ele limpô essa aqui. No oto dia tiro / ferramenta / o tapo. “Hoje eu já enxerguei falei / Daqui a quinze dia que vem. (15; 191) __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: n/e 4. Aurélio: n/e 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): Tapo. Pequena gase usada para curativos nos olhos. • De noite ele limpô essa aqui. No oto dia tiro / ferramenta / o tapo. “ Hoje eu já enxerguei falei / Daqui a quinze dia que vem. (Ent. 15, linha 191) 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2008): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: n/e 516. TARRAXA Nf [Ssing] __________________________________________________________________________________________ Ele fez o encanamento com tarraxa, e... (17; 129). 333 __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: Tarracha: He a peça, que com ondas concovas, & convexas, entra na porta e aperta. Cochlea, fem. Usa Vitruvio desta palavra,lib.6.cap 19.fallando em enhenhos da feição de tarraxa. 2. Morais: Tarracha. s.f. Prego roliço; cuja ponta até o meio he lavrada. 3.Laudelino Freire: Tarraxa. s.f. Parafuso.//2.Cavilha,cunha,prego.//3.Utensilio de serralheiro, com que se fazem as roscas dos parafusos.//4.Pop. Empenho. 4. Aurélio: Tarraxa: subs. Fem.1.Espécie de parafuso que serve para fixar algo.2.Utensílios de serralheiro com que se fazem as roscas dos parafusos. 5. Amadeu Amaral: n/e __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. 1. Ribeiro (2010): n/e 2. Freitas (2012): n/e 3. Miranda (2013): n/e 4. Cordeiro (2013): n/e 5. Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Tarraxa. sf. ‘parafuso’ | De origem incerta. (CUNHA, 1986, p. 756) 517. TATU PEBA NCm [Ssing + ADJsing] __________________________________________________________________________________________ Tatu peba, né? (18; 415). __________________________________________________________________________________________ Registro em dicionários: 1. Bluteau: n/e 2. Morais: n/e 3. Laudelino Freire: Tatu peba. s.m. Mamífero da família dos dasipodídeos, também conhecido por tatu peludo e tatu-aíva. 4. Aurélio: Tatu peba. sm. Bras. Tatu de pelagem densa; tatu-peludo. 5. Amadeu Amaral: Tatú. s. m. - designa várias espécies de desdentados, do gên. "Dasypus". | Tupi. __________________________________________________________________________________________ Registro no Projeto “Léxicos Regionais”. Ribeiro (2010): n/e Freitas (2012): n/e Miranda (2013): n/e Cordeiro (2013): n/e Souza (2014): n/e __________________________________________________________________________________________ Origem: Tatu. sm. ‘nome comum aos mamíferos desdentados dafam. Dos dasipodídeos’ 1576. Do tupi ta’tu. (CUNHA, 1986, p. 757) Peba. Do tupi peua despois – caso de epêntese). • Dispois eu vim na/assisti uma peça na Ventania. (15; 464). DISQUILIBRAR • (n/d) • [V] • Fr. • Piorar de saúde. • O O. toda vida duente, mais agora de certo tempo pra cá, coitado. Ê disquilibrô memo. (15; 871). 431 DO ARCO DA VÉIA • (n/A) • [Loc Adv] • (n/e) • Fato muito antigo. • Do arco da véia, da moda do ditado, né? (6; 01). DORAIADA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Sentir muitas dores. • Tô cuma doraiada. (15; 2). DROBADORA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Máquina usada no processo de fiar. • Não, tinha um negócio chamado drobadora, eles fazia, o fiado tava na rorda, e aí passava pra drobadora assim, óia, chamava miada, era de tingir aquelas miada de quarqué cor bunita tamém p[r]as cocha, sabe. (12; 66). DRUMIR • (n/d) • [V] • Lat. • Deixar de estar acordado, descansar no sono. • Invadiu o rancho que num tinha lugá ninhum pra drumí. (2; 150). E EM ANTES • (n/A) • [loc adv] • Antes, anteriormente. • Eu vô fazê só mais uma verdura e o arroiz. É iguale ieu. Se eu fô fazê, tem o arroiz pronto, se o L. num fô sai trabuçano em antes do armoço, ieu isquento aquele ali que eu fiço onti. (13; 10). EMBORNAZADA • (n/d) • Nf [Ssing] • Embornal cheio ou quase de qualquer conteúdo. • É... eucalipero. Oto dia até peguei uma embornazada. Veio num sábado aqui. Falei “oh, vô pegá aí, o que as arve tivé.” Parece que tá semo bão a ( ). (13; 107). EMBULIA • (n/d) • Nf [Ssing] • Raiva, nervosismo. • INF.: Quando nóis ingordava porco, aquilo, no dia de matá, eu sufria/ eu curria lá pra baxão. PESQ.: A sinhora num via mesmo? INF.: Dava uma embulia. (10; 617). EMPACHADA • (A) • Nf • [ADJsing] • Fr. • Característica de ventre volumoso, barriga dura. • Tia G., qué vê uma coisa que o papai fazia pa nóis e era um santo remédio. Quando/hoje eu falo criança não acontece isso mais, né? Por que que as criança ficava empachada. (1; 436). EMPIPOCAR • (A) • [V] • Lat. • Formar bolhas pelo corpo devido à alergia. • Urtiga é aquele que você passa assim, e ele empipoca na hora. (2; 64). ÉPOCA MAIS PRA TRÁS • (n/d) • [loc adv] • Fr. • Tempo antigo. • ...mas teve uma época mais pra trás... (1; 213). EMPRASTO • (A) • Nm [Ssing] • Gr. • Medicamento que amolece ao calor e adere ao corpo. • Emprasto era quando fazia assim/era/era mato, era pranta. Então pegava a pranta colocava numa vazia ou pano. A mamãe massava num pano. Massava, massava, mas o que que colocava eu num sei. Depois vinha caquele punhado de coisa e batia no lugar da gente assim ó. ... O emprasto esfregava, esfregava, esfregava ali ó. (1; 377 e 381). EM RODA • (n/d) • [loc adv] • Ao redor, em volta. • Agora as pessoa populares, a gente da vorta em roda ali cos namorado. Em roda do jardim ficava assim. (10; 216). ENCARRIAR • (A) • [V] • Lat. • Colocar objetos ou animais um atrás do outro. • Intão põe ela pá incarriá assim e... (14; 427). 432 ENCRUZILHADA • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Interseção de várias estradas rurais. • ...é cheia de lavoura, muita encruzilhada praqui e prali. (16; 169). ENDEREITAR • (n/A) • [V] • Lat. • Melhorar algo ou alguém. • Endereitava. Troxe a cama, desmanchô a cama dele. Toxe aquea ali ó. (15; 877). ENGERÇAR • (n/d) • [V] • (n/e) • Colocar gesso. • Não, nóis vai seca a perna da senhora que é mais fácil.” Eu falei: “Não, de jeito nenhum, eu vou curá ela com água e sal.” E aí peguei e vim embora, aí ele num quis fazê nada pra mim, não engerçô, não infachô, nem nada, mas hoje tá com 74 dia que eu tô com esse pé desse jeito. (18; 110). ENJOADO • (A) • Nm [ADJsing] • (n/e) • O mesmo que chato; inconveniente. • Achava que ele era muito novo, enjoado, queria que a gente casasse... (13; 84). ENVIR • (n/d) • [V] • (n/e) • O mesmo que vir. • E daí quando nóis todo mundo ( ) nóis envinha embora, os cachorrinho da C.... envinha um grandão (1; 124 e 125). ERVA SANTA-MARIA • (A) • NCf [Ssing + Ssing + Ssing] • Lat. • Planta usada para fazer chá, espécie de hortelã. • Aí, ê pega e colocava aquela prasta/ colocava aquela erva Santa-Maria tamém, ês gostava de colocá ela. (1; 327). FOTO 20 – Erva Santa-Maria Fonte: Acervo pessoal. ESBAGAÇADO • (n/d) • Nm [ADJsing] • O mesmo que cansado. • Aí ê perguntô meu pai se ele num sabia onde tava a mãe da égua que ele tinha emprestado. Meu pai falô: “ah, eu num sei. Mais pra que que cê quiria?” Não, é porque se eu subesse aonde ela tá, eu ia comprá ela pa num pari uma égua tão ruim iguale essa que eu tô esbagaçado. (8; 25). ESCADERA • (n/d)• Nf [Ssing]• (n/e) • O mesmo que quadril.• A escadera dueu e eu falei: “num é nada e cuntinuei a trabaiá.” Somei cum nada não. A coluna virô. (15; 799). 433 ESCAROÇAR • (n/A) • [V] • (n/e) • Tirar o caroço. • Eu disfiava, eu judava minha mãe escaroçá o argodão, escaroçá, depois chamava batê, num arco que tinha assim, de bate o argodão, depois cardá e fiá. (12; 05). ESTABANADO • (n/d) • Nm [ADJsing] • (n/e) • Desastrado. • Mas ele era muito estabanado, ele rumava mal arrumado... (1; 578). ESTAR DE IDADE • (n/d) • [Fraseologia] • (n/e) • Ser velho; idoso. • ...e eu tô aí mexendo com lavora, tô de idade, né? (16; 35). ESTAR NUM PONTO DE RAIVA • (n/d) • [Loc verb] • (n/e) • Pessoa em estado de raiva. • ...eu revortada por causa disso, fia, eu tô num ponto de raiva. (18; 9). ESTOPORAR • (n/d) • [V] • (n/e) • Resfriar-se, gripar-se. • PESQ.: Mas o que que eles falam mesmo, por exemplo, a pessoa que ta torrando café aí ta naquele calor e sai no frio? INF.: Estopora. PESQ.: É isso mesmo. Eu já ouvi muito essa expressão da minha avó. INF.: Estopora. PESQ.: Ela entorta a boca. (11; 139 e 141). ESTORVAR • (A) • [V] • Lat. • Atrapalhar; incomodar. • É, depois eu fui assim, virando rapaizinho, fui pras fazenda dos outro, morava sozinho, num chapadão tirano leite, suzinho e Deusu, não tinha ninguém pra da moda, me estorvá e fazer eu... (30; 335). ESTRANHAR • (A) • [V] • Lat. • Não reconhecer pessoas. • Parece que eu tô estranhando vocês, uai. (23; 03). F FAZEDÔ • (n/d) • [Ssing] • Lat. • Aquele que faz algo ou alguma coisa. • Zé Curinga que é bão pra contá história, que ele era o cremeiro, fazedô de creme lá. (16; 66). FECHO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • O mesmo que feixe; uma porção de algo ou alguma coisa. • ...jogava o fecho de lenha no terrero... (16; 329). FEJÃO FRITO • (n/d) • NCm [Ssing + ADJsing] • Lat. • Feijão frito em gordura de porco para ser consumido durante as refeições. • Mas aí fui criado assim, fejão frito que eles fala, né? (36; 240). FEJÃO PAGÃO • (n/d) • NCm [Ssing + ADJsing] • Lat. • Feijão sem refogar e sem tempero.• Fejão, fejão cozido. A mamãe falava fejão pagão. Pegava aquele fejão pagão e massava na mão assim... (1; 592). FIADO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • O mesmo que fio, linha. • E nóis tinha que cortá, abri ficava no balaio certinho assim. Aí cardava, a mamãe cardava/ as muié fiava. Eas fazia murtirão de fiado, eu lembro. Cada uma lá vai ca sua rodinha na cacunda. Aí fazia esse fiado, ticia e fazia gasaio de frio. (13; 541 e 542). 434 FIAR • (A) • [V] • Lat.• Ato ou efeito de tecer fios. • Eu disfiava, eu judava minha mãe escaroçá o argodão, escaroça, depois chamava batê, num arco que tinha assim, de bate o argodão, depois cardá e fiá. (27; 06). FOICE • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Instrumento curvo usado para ceifar. • Naquela época usava/ as pessoa/ os homi ia roçá pasto, usava foice. Ia capiná, usava inxada. Ia torá mato, usava serrote. Serra, né? (10; 354). FORÇOSO • (A) • Nm [ADJsing] • Lat. • Difícil; custoso. • Aí falô prele fecha ali, ocê vai capinano roça, se eu vê já te grito, ocê pega a vara e vai, ocê parece que é meio forçoso, ocê quebra a vara, se ocê quebrar ocê entrega os cadarços certim viu? (23; 153). FORNADA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • O que um forno cozinha de uma só vez. • E depois tira aquela fornada de forno que tava muito quente e aí pode po o bolo, o pão-de-quejo, o biscoito pá ficá bem sequinho põe no forno mais fresco num é muito quente não. (11; 164). FORNO DE CUPIM • (n/d) • NCm [Ssing + prep + Ssing] • Lat. • Forno construído com material extraído do cupinzeiro. • O forno de cupim, num sei se era na porta da cuzinha. Sei que arrumô uma boca pertinho da porta. Aí de veiz em quando as galinha bota lá dento, lá por cima. Dento não! Dento a mamãe tampava. (13; 489). FOTO 21 – Forno de cupim Fonte: Acervo pessoal. FORRÓ • (n/d) • Nm [Ssing] • Pequena rosca.• Ê levava aquê tanto de rosca, pão... E ieu mais os meus irmão que era piqueno pra nóis num tinha nada mió do que cumê rosca, pão, forró. Ês falava forró, né? (14; 223). FOSSA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Cavidade subterrânea para o despejo de matérias fecais, de imundícies. • E carregava aquês coisa de barro. Pá fazê essa fossa. ... Pra fazê parede. As parede da/ da fossa lá (5; 32 e 41). FRANGAIADA • (n/d) • Nf [Ssing] • Uma porção de frangos reunidos. • Uma frangaiada lá, as galinha, franga, mais duma setenta, galinha lá no terrero. (2; 161). FRARDA DA CAMISA • (n/A) • NCf [Ssing + prep + Ssing] • Gót. • Cueiro. • INF. 2: A mamãe fazia dos trapinho, de ro[u]pa véia na mão, na máquina. Fazia na mão. /É. E tamém/tinha um negócio/Ês falava a frarda da camisa. INF. 1: A mamãe também fazia. INF. 2: Que era o 435 primero pano que tinha que pô.PESQ.: O que? Como chamava? INF. 2: A frarda da camisa pá pô nas criança. INF. 1: Que nem nóis/ ês fala assim a barra da camisa, a parte de baixo da camisa, falava a frarda de camisa. (1; 564, 568 e 571 e 572). FROXAR • (n/d) • [V] • O mesmo que cansar. • Prática é custume. • Aí num tinha prática aí/ quando foi de duas hora pa tarde esse homi sacudido foi froxano, froxano, froxano. Cansano. (8; 44). FUÁ • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Bagunça; confusão. • Uai, pra você vê... Chegava em setembro aquele fuá na fazenda... 6, 7 cara pra trabaiá, e ficava oiando se sarvô... na fazenda, não sô, tá pesado, quer dar um jeito na perna, vamo embora, estúrdia mesmo na fazenda, brincadeira, conversar, gente e vai me ajudá na hora. (8; 138). FUBÁ • (A) • Nm [Ssing] • Afr. • Farinha de milho usada para fazer mingau ou angu. • Aí mandô pô aquê angu de fubá de munho nas costa. Eu tenho o sinale até hoje, quemado, a mancha. ... Angu de fubá de munho nas costa. (2; 74 e 77). FUCINHO DE PORCO • (n/d) • NCm [Ssin + prep. + Ssing] • Lat. • Tipo de alimento usado como mistura em MG. • ...com abóbora, torresmo, fucinho de porco... (17; 389). FUERO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Estaca destinada a amparar a carga do carro de bois. • INF.: Era duas peça vortiada. As cheda é onde vai o fuero pá pô aquela... PESQ.: Vai o suero? INF.: Elas vem cum doze fuero. PESQ.: Ah! Fuero! INF.: Os fuero é mai’ o[u] meno de metro. Intão põe ela incarriada assim e... (14; 423, 425 e 427). FUGÃO DE LENHA • (A) • NCm [Ssing + prep + Ssing] • Lat. • Caixa de ferro ou de alvenaria, com fornalha e chaminé, para cozinhar. • É. Era biscoito. Só que era um biscoito munto bem feito no fugão de lenha. Forno de lenha que ês falava. (13; 473). FOTO 22 – Fogão à lenha Fonte: Acervo pessoal. 436 FUMENTAÇÃO • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Fricção medicamentosa sobre a pele. • PESQ.: O que é isso? O que era fumentação INF. 1: Fumentação é assim: quando cê tava com uma dor/tipo assim/ ocê tinha muita dor eles fazia aquele ( ) como que é sinapismo? INF.: Sanapismo. Eu tinha um medo daquilo pega fogo ni mim. INF. 1: E eu intão. Morria de medo (1; 307). FUMO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Tababco preparado para fumar. • E essa nega usava fumo pra cachimbo, clareá dente, e tacô com o fumo nela, e ela tava sem, e tava doida por conta de fumo, tava sem, e aí chegou um boiadeiro pra posar, e aí ela arrumou um jeitinho lá, e perguntou se ele tinha fumo, e aí ele falou que tinha, ele pegou e deu um pedaço de fumo... (30; 118, 119, 120, 121). FUNDAR • (n/d) • [V] • Lat. • Enterrar, aprofundar. • Acho que o óco fundô pá cima e taiô aqui ó. (15; 339). FUNDURA • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Comprimento vertical. • De primero era cova, né? Sete palmos de fundura, né? (29; 151). FURQUIA • (A) • Nf [Ssing] • Esp. • Pequeno pedaço de madeira de três pontas. • É, estaleiro. Acho que era num barranco. E punha umas furquia, sei lá. (1; 643.) G GABIROBA • (A) • Nf [Ssing] • Ind. • Fruto da árvore conhecida como gabiroba. • PESQ.: Não, mas que que eram as frutas que tinham no pasto pa comê? INF. 1: Uai, era gabiroba, essas coisa. Gaitera. (9; 106). FOTO 23 – Gabiroba Fonte: Acervo pessoal. 437 GAITADA • (A) • Nf [Ssing] • Gargalhada . • Uma hora ea vai ( ) o Dércio pega esse danado desse frango e mata. Matô o frango. ( ) Nóis tudo armuçano lá, ea dá aquea gaitada e ( ) Fernando, eu gosto dimais do Fernando, da Maria. (2; 166). GAITERA • (A) • Nf [Ssing] • Obs. • Fruta silvestre típica da região sul de Minas Gerais. • PESQ.: O que que era as frutas que tinha lá na roça pro cêis comerem? INF. 1: Só laranja e manga. PESQ.: Só? Mas a N. falo que comia ota coisa. INF. 1: O quê? INF. 2: Gaitera. INF. 1: Ah, gaitera era no pasto. PESQ.: Não, mas que que eram as frutas que tinham no pasto pa comê? INF. 1: Uai, era gabiroba, essas coisa. Gaitera. (9; 103, 104 e 106). GAMBILERO • (n/d) • Nm [Ssing] • Comerciante que compra e vende porcos ou bois. • E ê era assim gambilero. Gambilero é gente que comprava garrote, boi, porco, breganhava, vindia, comprava. (8; 5). GAMELA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Utensílio, geralmente de madeira ou barro, em forma de tigela, usado para lavar alimentos ou mesmo para servi-los. • PESQ.: Cortava a árvore? INF. 2: Fazia uma gamela lá. (1; 419). GANDAIEIRO • (n/A) • Nm [ADJsing] • (n/e) • Aquele que gosta de gandaia; gosta de vida fácil e cheia de festas e mulheres. • Meu avô tinha um primo dele da Itália, que era gandaieiro... (35; 120). GARAPA • (A) • Nf [Ssing] • Cont. • Bebida proveniente da cana-de-açúcar. • Chegava de madrugada ( ) ficava pono o cavalo no ingenho, um punha a cana e o oto tocava o cavalo. Chegava manhecia o dia aquela caxa grande cheia de garapa. Punha nas caxa e ia apurá” (5; 320). GARIMPERO • (A) • Nm [Ssing] • Fr. • Explorador de diamantes. • ...aqui tinha garimpero demais nessa, no São Francisco, sabe? (22; 140). GARRAR • (n/A) • [V] • Celt. • Principiar, começar, iniciar alguma coisa. • Garrá diante da inxada, hein? (15; 786). GARROTE • (A) • Nm [Ssing] • Fr. • Bezerro de dois a quatro anos de idade. • E ê era assim gambilero. Gambilero é gente que comprava garrote, boi, porco, breganhava, vindia, comprava. (8; 5). GARUPA • (A) • Nf [Ssing] • Got. • Parte superior ou posterior do cavalo e de outros animais. • As muié aqui tudo ajuda, as muiédos fazendeiro aqui tudo ajuda ês, aonde ês vai eas munta na garupa. (17; 84). GARUPERA • (n/A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Parte traseira do arreio. • ...e o cavalo fico muito manso, e marrô na garupera do outro... (1; 568). GEADÃO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Geada muito forte e intensa. • ...era dia de São Pedro, um geadão, saímos lá de casa... (16; 485). GENTE DE IDADE • (n/d) • NCf [Ssing + prep + Ssing] • Lat. • Pessoa idosa. • ...e aí tô aí nessa vidinha assim, gente de idade, né? (31; 41). 438 GERATAÇÃO • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Desidratação. • INF. 1: Colerina hoje é o que? É...diarréia INF. 2: Geratação. Da barriga pra baixo. (1; 477). GOLO • (n/A) • Nm [Ssing] • Cont. • Um trago de uma bebida ou remédio qualquer. • Intão, Nossa Sinhora da Parecida. Cê custava a tomá um golo de urina. Era um santo remédio. (1; 468). GONDA SANFONADA • (n/d) • NCf [Ssing + ADJsing] • (n/e) • Relógio usado antigamente. • Portanto a menina que morava lá, ela mora em Sacramento hoje, eles achava muito lá é, relógio daqueles relógio de gonda sanfonada que eles falava, sabe qual? (30; 168). GRAÚDO • (A) • Nm [ADJsing] • Lat. • Grande, crescido, desenvolvido. • Mais um arroiz graúdo. Papai chegô lé e falô: “o J. vai prantá áqueas terra de arroiz?” Eu falei: “ah, num sei, papai.” Male. (15; 645). GROTA • (A) • Nf [Ssing] • It. • Vala profunda. • Fazia grota de monte pra podê fazê divisa nos pasto... (35; 140). GUATAMBU • (n/A) • Nm [Ssing] • Tup. • Madeira usada na construção civil. • Madeira de cedro e os portão de guatambu, e eu fiz na praina de mão, né? Porque o banco, você coloca no banco, passa a praina, até fica lisinho, né? (19; 295). GUELA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • O mesmo que garganta. • É. A (jojo) que ês fala. Intão toca ê lá e ê já tem o lugázinho dele de chegá lá no canto. Põe a soga. Aí põe a canga, aí abutoa a brocha aqui, na guela dele aqui. (4; 211). GUIAR • (A) • [V] • Lat. • O mesmo que dirigir. • E ele num manda a gente guiá de jeito nenhum, e eu falei pra um primo que eu tinha medo de andar com ele, meu primo fala pra ele, ele não me chamou mais. (20; linha 544). GUINÉ • (A) • Nm [Ssing] • (n/e) • Planta constituída de ramos mal cheirosos. Acredita-se que tem poder de curar mal-olhado. • INF. 2: Aquê ramo catingudo. Uns fala gambá e oto num sei que/ chama. INF. 1: Guiné. Ês chama ele de guiné.” (1; 626). 439 FOTO 24 – Guiné Fonte: Acervo pessoal. GURITA • (n/A) • Nf [Ssing] • It. • O mesmo que guarita. • Aqui na Gurita tem muita terra que nem dono num tem. Nem dono num tem, num tem não. Os dono pegou, uns morreu, outros foi embora, largou de mão disso aqui. Lugar muito ruim tamém. A tal Gurita lá que virou um sertão, num tem ninguém. (10; 78, 80). I IGUALE • (A) • Nm [ADJsing] • Lat. • Que não apresenta diferenças (relativamente à pessoa ou coisa que serve de comparação). • ...só na terra ruim iguale a nossa aqui. (32; 240). IMBIGO • (n/A) • Nm [Ssing] • Lat. • Cicatriz produzida pelo corte do cordão umbilical. Variante antiga de umbigo (Umbigo > imbigo – caso de assimilação). • Aí fazia tamém um de pô no imbigo/redondinho/vai as tirinha por riba/sabe como a mãe fazia aquilo/fazia pos quarto iscondida. Enfiava de baixo da cama. Óia o tanto que nóis era bobo. (1; 575). IMPARIADO • (A) • Nm [ADJsing] • Colocado lado a lado. • Lá vai, lá vai impariado numa certa distância. Trinta braça paralelo cum nóis na istrada. (8; 76). IMPREITA • (A) • Nf [Ssing] • Fr. • Obra por conta de outrem, com pagamento previamente ajustado. • INF.: É.../ o meu pai/ ês trabaiava/ o meu pai gostava é de tocá a meia. PESQ.: Tocá ? ( ) INF.: É impreita nas fazenda, né? PESQ.: Ah, sei. INF.: Impreita, pegava assim impreita. Prantava arroiz/ fejão/ mantimentos, né? (10; 243 e 245). 440 INDAGAR • (A) • [V] • Lat. • Perguntar; questionar. • É 50m um terreno até no parque, e aí ele foi indagando, mas acho que não virô nada. (16; 137). INELAÇÃO • (n/d) • Nf [Ssing] • Inalação. • PESQ.: Tomando o quê? INF.: Inelação. Mais diz que dá uma suadera nela. Ela dá de sinti mal. PESQ.: Que que é isso? ( ) INF.: Aquele que tampa o vapor.” (13; 100). INFRUEZA • (n/d) • Nf [Ssing] • It. • Gripe. • Eu/ me deu uma infrueza danada. E eu ficava pensano que infrueza é essa? Aí dipois eu lembro num livro é o nome cientifico da gripe é infrueza. (14; 45). INGASTAIO • (n/d) • Nm [Ssing] • Problema. • Aí dipois arranjô um ingastaio aí/ uma cerca ao redó da casa. Passei pa casa, fugão num tinha. (15; 668). INGENHO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Estabelecimento agrícola destinado à cultura da cana e à fabricação do açúcar. • Lá em casa tinha ingenho. ((vozes)) Tinha ingenho, muía cana. (5; 319). INSTRUÇÃO • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Educação; conhecimento. • Uai, não tem instrução nenhum, uai. Uai, não tem fábrica nenhum aqui, não tem serviço uai. (25; 28). INTÉ • (A) • [Prep] • Limite em um espaço de tempo. Variante de até (até > inté – caso de alçamento com nasalização). • Ah! Cidade é uma baruieira danada, né? Às veiz a gente ta durmino, acorda inté assustada, né? (12; 206). INTERAR • (A) • [V] • Lat. • Completar. • Dia 17 vou interá os 101. (19; 13). INTENDIDO • (A) • Nm [ADJsing] • Sábio em algo ou alguma coisa. • Nossa uma duença lá/ o meu pai era muito intendido da medicina. (11; 68). INVOCADO • (A) • Nm [ADJsing] • Lat. • Cismado. • E engraçado ele sempre foi invocado a sê padre. Ê teve no convento. (15; 724). ISPICULAR • (A) • [V] • (n/e) • Perguntar em excesso. • Aí ia lá e ispiculava porque tava duente, porque que tava porque que num tava. Fazia receita e ia um de a cavalo lá na Ventania fazê a forma do remédio. (11; 85). ISPIGÃO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Pico de serra, de monte ou de rochedo. • Oiei pra tráis, o caminhão tava lá no oto ispigão, crariô lá adiente. Aquela lanterna num era assombração, era o caminhão que envem. (4; 81). ISPINHO DE BENZINHO • (n/d) • NCm [Ssing + prep + Ssing] • (n/e) • Espinho da planta conhecida como benzinho. • INF.: O passarinho hoje tá incucado. Aí, nóis já abria lã/catá ispinho de benzinho. (13; 533). 441 FOTO 25 – Ispinho de benzinho Fonte: Acervo pessoal. ISPOLETA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Criança travessa, levada. • Eu vinha ca minha mãe, né? Porque eu era ispoleta. (10; 58). ISTEIO • (A) • Nm [Ssing] • Obs. • Peça de madeira, ferro, pedra, etc., que serve para segurar ou escorar alguma coisa. • PESQ.: O pau-a-pique é o que? INF. 1: Os pau-a-pique é uns bambule assim. INF. 2: Não, fazia a maió parte da casa de madera. Faiz uns isteio. PESQ.: Ahn? INF. 2: Cum certeza a do seu pai ( ) era desse jeito.” (Ent. 5, linha 46). ISTUNDAR • (n/d) • [V] • (n/e) • Torrar, queimar a pele sob o sol. • ...o sole tava reganhano, tava de istundá. (15; 530). ISTURDIA • (n/d) • [Adv] • (n/e) • Outro dia. • Isturdia ainda falei no café a sariema tá advinhano chuva. Aí ês falaro “vai chovê não” ( ). (13; 328). IXCUMUNGADO • (A) • Nm [Ssing] • Maldito. • Ê falô assim: “pode ir ixcumungado, cê vai de sole, mais cê vorta debaxo de chuva.” (15; 535). IXEMPRAR • (n/A) • [V] • (n/e) • Aprender com os próprios erros. • Aí pegô, ê num ixemprava não. (2; 225). J JABE • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Encaixe da janela no quadro de madeira. • Madeira de cedro e os portão de guatambu, e eu fiz na praina de mão, né? Porque o banco, você coloca no banco, passa a praina, até fica lisinho, né? E vai modelando ela, né? Até dá uma janela, e 442 depois faz o quadro, faz os jabe, e jeita, a janela assenta certim dentro daquele quadro ali. (4; 297). JACÁ • (A) • Nf [Ssing] • Ind. • Espécie de cesto feito de taquara ou de cipó. • INF.: Carguero é/ ês arruma dois jacá assim feito de taquara. PESQ.: O quê? INF.: Jacá, balaio. ... Intão, uns fala balaio e otos fala jacá. (14; 169, 171 e 175). FOTO 26 – Jacá Fonte: Acervo pessoal. JAGUNÇO • (A) • Nm [Ssing] • Inc. • Capanga, assassino de aluguel. • Aí ê falô: “nem assim eu tô sastifeito. Esse povo, a vaca num pegô ês/ mas eu pego.” Ranjô dois jagunço pegô e matô essa Compania de Reis tudo. Todo mundo que tava na Compania de Reis. (2; 215). JEQUITIBÁ • (A) • Nf [Ssing] • Tup. • Árvore ornamental e de madeira útil para construção. • A serra devagarinho, umas tábua bonita de jequitibá, jequitibá é um pau branco, né? (22; 41). JERIZA • (A) • Nf [Ssing] • Cast. • Raiva, ódio. • INF. 1: Era. Era o J.H. Dipois no oto dia quando maicô o casamento, o sole tava reganhano, tava de istundá. O rapaiz ( ) o casamento cumigo/ ê neim lem casa num vortô mais. E eu tamém num vi cara dele. Tomô jeriza do J. PESQ.: Tomo o quê? INF. 1: Jeriza do J. H. (15; 532 e 534). JINELA • (n/A) • Nf [Ssing] • Lat. • O mesmo que janela. • Da jinela da minha casa cê pesca assim na represa. PESQ.: Nossa que beleza! INF.: Ficô cheinho, beraninha a jinela.” (2; 193 e 195). JOÃO DEITADO • (n/d) • NCm [Ssing + prep. ADJsing] • (n/e) • O mesmo que pau-a-pique; Quitanda feita de fubá e assada na folha de bananeira. • ...e aquele João Deitado que eles fala, conhece? (36; 196). 443 L LADERADA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Várias subidas seguidas. • Andava de noite, no iscuro, naqueas laderada. Todo mundo acustumado, né? (14; 478). LADERÃO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Subida acentuada. • Arava aquele monte de chão, aques laderão na divisa do Teca, né? (16; 118). LADROAGEM • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • O mesmo que roubalheira. • Que cada um prantava, tinha suas fazenda, morava nas suas fazenda, aqui o Barreiro era poucas casa, todo mundo trabaiava, num tinha essa ladroagem que tem hoje, que hoje em dia a maió parte é ladrão, maconhero, cachaceiro, e em buteco, trabaiá ês num que não, eu revortada por causa disso, fia, eu tô num ponto de raiva. (18; 7). LAMPARINA • (A) • Nf [Ssing] • Cast. • Pequeno recipiente com um líquido iluminante (óleo, querosene, etc.) no qual se mergulha um pequeno disco de madeira, de cortiça ou de metal traspassado por um pavio que, aceso, fornece luz atenuada; luminária. • O que eu sei contá é no começo da vida da gente na roça, era muita dificuldade. Lá num tinha nada, num tinha luz num tinha nada. E era tudo cum lamparina de querosene. (5; 6). LAMPIÃO • (A) • Nm [Ssing] • It. • Espécie de caixa, rodeada de vidros, com luz no interior. • Mas aqui, quando eu morei pra cá, não tinha essa liga, era tudo lampião... (16; 22). LARANJA DE BICO • (n/d) • NCf [Ssing + prep. + Ssing] • Ár. • Laranja usada para fins medicinais tais como: labirintite, dor de cabeça, etc. • É igualzinho a laranja de bico, e aí nóis passava ate no rio cheio, dava vorta na ponte pra pode vim pra escola, fico na escola, num feiz nem o 4° ano, porque da moda do outo, num tinha professor, era só uma salinha pequena de escola. (18; 89). LARANJA DE LASTROS • (n/d) • NCf [Ssing + prep. + Ssing] • Ár. • Laranja que cresce enrolada ao cipó. • ...tá pareceno aquela laranja de lastros, sabe? (17; 205). LARANJA IOA • (n/d) • NCf [Ssing + ADJsing] • Ár. • Laranja extremamente doce. • A sinhora qué ioa? Laranja ioa? (15; 768). 444 FOTO 27 – Laranja ioa Fonte: Acervo pessoal. LARGAR DE MÃO • (n/d) • [Loc V] • Lat. • Desistir. • ...largou de mão disso aqui. (10; 79). LASTRO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Lugar distante. • Lá naquele lastro lá... (35; 20). LAVRAR • (A) • [V] • Lat. • Aprainar, tornar a superfície plana. • Aí ês riscava assim/vamo supô que a /ês lavrava o pau que é redondo, né? (1; 672). LÉGUA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Antiga unidade brasileira de medida itinerária, muito usada no meio rural, equivalente a 3.000 braças, ou seja, 6.600m. • INF.: Pudia saí/ nóis saía cedinho, sete hora, seis e meia, mais memo assim a distância era grande. Naquê tempo ês falava era légua. Era seis légua. E seis légua hoje é trinta e seis quilômetro. PESQ.: Trinta e seis quilômetros? INF.: E cada légua corresponde a... (14; 259 e 261). LEITERO • (A) • Nm [Ssing] • Fr. • Aquele que vende ou entrega leite. • Não mandava o creme. A mantega, né? Aí ia pro Glória, pra Passos memo. E vinha de véspera. De oito em oito dia ês trazia. Leitero num tinha não. Num usava tamém. Quaise num usava esse leite tratado, num usava nada, né? (3; 70). LEVADÔ • (A) • Nm [Ssing] • Aquele que leva algo ou alguém. • Era essa da capelinha de São Miguel. São Miguel protetor das arma acumpanha nóis até o final da vida. É o levadô das nossa arma ( ). É, e lá Nossa Sinhora da Parcida. É. Nóis fazia de São Sebastião. Trêis. Com a de São Sebastião. (3; 459). LIMA DE BICO • (n/d) • NCf [Ssing + prep. + Ssing] • Ár. • Fruta cítrica usada apara culinária e fins medicinais. • Nós conhece ela lá por lima de bico, diz que é boa pra labirintite, né? (18; 87). 445 LINHA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Estrada, via. • Um dia eu saí lá na linha da/ da serra do Veado que ia lá pa Ventania. Crariô adiente. Eu suzinho, de noite. Eu já tinha visto falá isso mais/ a mula/ eu tinha uma mula boa/ mula ativa. A oreia da/ se a mula rifugá arguma coisa tem mais se ela num rifugô num tem nada. (4; 75). LUMIAR • (n/d) • [V] • (n/e) • O mesmo que iluminar. • Querosene é pra lumiá a lamparina, querosene, lamparina, ocê já viu? E pra lumiá, num tinha essa luiz elétrica né? (36; 156, 157). M MACETAR • (A) • [V] • Lat. • Amassar com um macete. • ...cum farinha, e aí maceta... (36; 19). MACUQUENTA • (n/d) • Nf [ADJsing] • (n/e) • Pessoa encardida, suja. • Eu falo, hoje num tem criança macuquenta mais. (1; 604). MAIS • (A) • [Prep] • Lat. • Com; em companhia de. • E ieu mais os meus irmão que era piqueno pra nóis num tinha nada mió do que cumê rosca, pão, forró. (14; 222). MALE-OIADO • (n/A) • NCm [Ssing + V p. pass.] • Lat. Inveja. • INF. 1: E ês fala que num pode batizá a criança caquilo, né? INF. 2: É. INF. 1: Bertueja batizada nunca sara. INF. 2: É. Aqui, male-oiado tamém num pode. (1; 540). MAMINHA-DE-CADELA • (A) • NCf [Ssing + prep + Ssing] • Lat. • Espécie de fruta silvestre proveniente da planta conhecida como maminha-de-cadela. • PESQ.: Não, mas que que eram as frutas que tinham no pasto pa comê? INF. 1: Uai, era gabiroba, essas coisa. Gaitera. PESQ.: Que mais? Só? INF. 2: Maminha de cadela. INF. 1: Ah, maminha de cadela. PESQ.: O que que era maminha de cadela? INF. 1: Era uma arvinha que dava uma frutinha. (9; 108 e 109). FOTO 28 – Maminha-de-cadela Fonte: Acervo pessoal. 446 MANCHA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • O mesmo que veio de diamante. • Eu já tava morano na Varge, né? Aí ranjemo um cisternero, e falei: “Então pra caba de vê isso, justei os cisternero pra abri uma cisterna lá.” Foi em riba de uma mancha, foi em riba de uma mancha, mas vai dá diamante pra lá, e aí eles me robaro diamante, e foi o ó, num lavaro, num juntava tudo, né? (19; 40). MANDIOCÁRIO • (n/d) • Nm [Ssing] • Plantação de mandiocas. • O mandiocário que tava trançando assim a rama da mandioca. ( ) cana, cada purrete de cana que ia imbora. (15; 624). MANERO • (A) • Nm [ADJsing] • Lat. • Aquilo que é leve. • Pá ir até que dava porque aí o carro ia mais manero. (14; 264). MANGAVEIRA • (A) • Nf [Ssing] • Tup. • Árvore ornamental e que produz frutos comestíveis. • É gaitera, aquela mangaveira... (17; 234). MANSA DE CARRO • (n/d) • NCf [ADJsing + Ssing] • Lat. • Boiada preparada para o carro de boi. • PESQ.: Que que o sinhor fazia mais? E a dona C. ajudano. INF. 2: Ajudano. Quantas boiada nóis vendemo, mansa de carro. (4; 129). MANTEIGA DE LEITE • (n/d) • NCf [Ssing + prep. + Ssing] • Lat. • Substância extraída da nata do leite. • Fazia manteiga de leite, batia. (17; 300). MANTIMENTO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Qualquer tipo de alimento. • ...tem terra que dá mantimento sem pôr nada... (36; 147). MARCELA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • O mesmo que camomila. • PESQ.: O sinhor tomava chá de quê? INF. 1: De afavaca, era de todo jeito. PESQ.: É? Era bom pra quê esses chás? INF. 2: Gripe, né? INF. 1: Ah, pra gripe memo e pá tudo quanto há. PESQ.: É?INF. 2: Quando soltava o intestino: a marcela. INF. 1: É. INF. 2: Dava diarréia. PESQ.: Que que é marcela? INF. 1: Marcela é uma raminho que dá na horta. Margosa! (9; 282 e 286). MARCHADÔ • (A) • Nm [Ssing] • (n/e) • Espécie de cavalo cuja característica predominante é a marcha. • INF.: A minha mãe pois água quente prele lavá os pé e ê tava lavano os pé e falô po meu pai assim ó: “ ô cumpade J.”. “O que que é cumpade S.” “Eu vô te falá uma coisa.” “Que que foi?” “Ocê num sabe onde tá a mãe dessa égua que ocê me imprestô?” Aí meu pai: “num sei.” Ela era muito trotona e animale trotão é/ faiz a gente cansá, né? PESQ.: Trotão é que/ que que ele faiz? INF.: Trotão é/ no modo dele andá, chacoaia dimais. Marchadô é/ ê num cansa né?... (8; 22). MARCHA PICADA • (n/d) • NCf [Ssing + ADJsing] • Híbrida: Fr. + Lat. • Tipo de marcha de determinados cavalos. • A mula pegô uma marcha picada, né. Pocotó, pocotó. (4; 249). MARGOSA • (A) • Nf [ADJsing] • Lat. • Que possui sabor amargo. • PESQ.: Que que é marcela? INF. 1: Marcela é uma raminho que dá na horta. Margosa! INF. 2: Margosa! PESQ.: É? INF. 2: Margosa por tripa. (9; 286, 287 e 289). MARIQUINHA • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Tripeça muito usada para serviço de cozinha. • INF.: Intão, tinha a mariquinha que é juntado trêis pau e fura por exemplo nos pé dele e dipois põe um gancho de arame e dipois lá onde vai fazê a cumida faiz a trempe de pedra como se fosse 447 um buraco cavado. Abre aqueas trêis perna assim e um gancho lá e a panela põe na artura que qué. PESQ.: Hã?INF.: Põe ela berano o chão, põe se quisé po mais alto põe ( ) aquilo era/ é/ era a chapa bem dizê. PESQ.: Hã? Chama como? INF.: É mariquinha. PESQ.: Mariquinha. E alguém conhece por outro nome? INF.: Que eu saiba é só por mariquinha. É um nome só. Num tinha oto não. (14; 245, 252 e 254). MAROLA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • O mesmo que marolo; fruto nativo do Cerrado. • Onte a minha minina trouxe marola lá de Piumhi, aqui não existe também, e no Piumhi aquelas beira lá tem muito. (17; 243). MARQUESIM • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Cama usada para doentes. • Punha numa marquesim, numa caminha. (11; 4). MASCATE • (A) • Nm [Ssing] • Ár. • Vendedor ambulante. • Gente lá da roça vinha aqui na cidade? Não vinha. Num vinha não. O mascate ia lá levava umas peça de pano e ia vendeno. (11; 59). MASCATEADOR • (n/A) • Nm[Ssing] • (n/e) • Aquele que vende de porta em porta todo tipo de mercadoria. • O pai do B. Espanhol memo, foi um mascateador uai... (1; 530). MASCATEAR • (n/d) • [V] • Lat. • Ato ou efeito de vender mercadorias de porta em porta. • ...os espanhol aparecia mascatiano pras roça... (16; 520). MATA-BICHERA • (n/d) • NCf [V + Ssing] • (n/e) • Remédio para curar feridas de animais domésticos. • Aí o L. jogô aquê ( ) não aquê mata-bichera ( ) aquê roxo, pa mode não sentá musquito. Apricô ( ) num instantinho sarô. (1; 139). MATRACA • (A) • Nf [Ssing] • Ár. • Instrumento de percussão, formado por tabuinhas movediças, ou argolas de ferro, que, ao serem agitadas, percutem a prancheta em que se acham presas e produzem uma série rápida de estalos secos. • Mais era bunito, chegava batia a matraca. A gente até acordava cum ela. (13; 428). MELADO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Caldo feito da cana-de- açúcar. • ...tem um lugar lá, na Gurita lá embaixo chama Melado... (25; 12). MENTRUSTE • (n/A) • Nm [Ssing] • Lat. • Planta medicinal usada para fazer chá. • INF. 2: Aquê ramo que dá ( ) mentruste. INF. 1: É mentruste. INF. 2: É, hortelã. PESQ.: Hortelã, mentruste. (1; 384 e 385). 448 FOTO 29 – Mentruste Fonte: Acervo pessoal. MERRÉIS • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Valor monetário. • É merréis, né? Naquele tempo 200 cruzeiro, né? (6; 31). METER O FUMO • (n/d) • [Loc Verbal] • Lat. • O mesmo que dar bronca. • Aí o home tava, meteu o fumo no casal, matou... (15; 134). MIADA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Novelo de fio para tecer. • Não, tinha um negócio chamado drobadora, eles fazia, o fiado tava na rorda, e aí passava pra drobadora assim, óia, chamava miada, era de tingir aquelas miada de quarqué cor bunita tamém p[r]as cocha, sabe. (12; 67). MIÃO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Peça que prende o eixo do carro de boi. • INF.: Duas cambota, um mião. Mião ia no meio. PESQ.: Como que chamava? INF.: Mião. PESQ.: Mião?INF.: Mião. É. Cambota era feita de trêis peça. (14; 384, 386 e 388). MISSÃO • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Instituição de missionários enviados para pregação do catolicismo. • INF.: Aí teve umas missão aqui. PESQ.: Ahn? INF.: A S. era piquena. PESQ.: Ahn? INF.: Mais cê pricisava vê o tanto de gente que ajuntava. Rodava isso tudo aí de tratore, de carreta. Aquê povão memo. (3; 95). MODA • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • O mesmo que canção; música. • O rádio, eu gosto dele, porque compra CD, põe ali, e ouve umas modas bonita né? (10; 141). 449 MODE • (n/d) • [Adv] • (n/e) • A fim de; para. • ...aquê roxo, pá mode não sentá musquito... (1; 140). MOIRÃO • (A) • Nm [Ssing] • Inc. • Madeira utilizada na construção de cerca. • Toca esse pordo, esse pordo chegava na portera e pulava pum lado e pulava pô oto. Quondo vê pulô no moirão da cerca. Morreu ispetado no moirão da cerca porque ele num era dele. Era de Santo Reis. Num dianta! (2; 253). MOITAR • (n/d) • [V] • (n/e) • O mesmo que esconder; ocultar. • Tem, mas tá moitada atrás da lavoura de café, né? (16; 188). MOITONA • (A) • Nf [Ssing] • Obs. • Grupo espesso de plantas. • Lá em casa teve uma veiz/ ((dexa eu vê))/ O T. já morava na cidade/era da J. G. achava graça do tanto que ele era esperto. Aqueas moitona arta assim/ era da J. o tale Bob... (1; 157). MORTANDADE • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • O mesmo que matança. • ...uma tar duma, uma veiz fizero uma mortandade lá cum cigano... (18; 399). MUCADO • (n/d) • [Pron] • (n/e) • Tanto; quantidade indefinida. • Eu lavei um mucado cedo das panela. (13; 74). MULA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Animal mamífero resultante do cruzamento de jumento com égua. • Eu já tinha visto falá isso mais/ a mula/ eu tinha uma mula boa/ mula ativa. A oreia da/ se a mula rifugá arguma coisa tem mais se ela num rifugô num tem nada. (4; 76 e 77). MULERO • (n/d) • Nm [Ssing] • Lat. • Aquele que compra e vende mula. • Ês falava/ uns tocava a boiada, era boiadero. Os que tocava mula a gente falava era/ é os mulero. Tocava/ é/ ês ia comprá lá em Três Lagoas. (14; 313). MUMBUCA • (n/A) • Nf [Ssing] • Tup. • Abelha grande e negra. • Lá da Mumbuca lá? (17; 274). MUNHECA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Cast. • O mesmo que punho. • Roda na munheca... (16; 495). MUNHO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Engenho composto de duas mós sobrepostas e giratórias, movidas pelo vento, por queda-d’água, animais ou motor, e destinado a moer cereais. • INF.: Aí mandô pô aquê angu de fubá de munho nas costa. Eu tenho o sinale até hoje, quemado, a mancha. PESQ.: Mandô pô o quê?INF.: Angu de fubá de munho nas costa. (2; 74 e 77). MUNJOLO • (A) • Nm [Ssing] • Afr. • Engenho, movido a água, usado para pilar milho e, primitivamente, para descascar café. • E a farinha punha lá no munjolo. O munjolo massetava o mio até virá fubá. (11; 124). MUTIRÃO • (A) • Nm [Ssing] • Ind. • Auxílio gratuito que prestam uns aos outros os lavradores, reunindo-se todos os da redondeza e realizando o trabalho em proveito de um só, que é o beneficiado, mas que nesse dia faz as despesas de uma festa ou função. • INF.: Intão e tinha tamém/ tinha muito mutirão pa capiná roça. De mio, de arroiz, de café... PESQ.: Mutirão? Mutirão é quando juntava um monte de gente? INF.: Isso. Uns falava mutirão, otos falava ajitório. (14; 492 e 494). 450 N NEGOCERA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Negócio; trato. • Teve um velório que o A. R. participou, aí eu perguntei um amigo; “Ah o A. R., porque o A. R. aqui nesse velório, hein?” Ele falou: “Não, ele é nosso parente.” Meu pai fez essa negocera com ele, e eu não sabia que eu tinha parente, ele tem parente aqui, como é que ele tá? (20; 232). NÓ CEGO • (n/d) • NCm [Ssing + ADJsing] • Lat. Pessoa de cárater duvidoso. • INF.: O povo lá era munto nó cego. PESQ.: Por que? INF.: Assim ruim, mal. A gente criô lá naquela infermidade, daquê jeito. (2; 25). NOSSA MÃE • (n/d) • [Interj] • Lat. • Interjeição de espanto; admiração. • Mas fala em silo, que ano de seca brava, não foi? Nossa mãe. (20; 190). NOSSO CAVALO MARCHA BEM • (n/d) • [Fraseologia] • Lat. • Chegar na hora exata. • Da moda do ditado, nosso cavalo marcha bem. (32; 23). O OCA • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Perfuração redonda nas rodas do carro de boi. • INF.: Intão a roda ela contém trêis buraco, onde vai o exo. PESQ.: Hã? INF.: E tem dois ( ) buraco redondo... PESQ.: Hã? INF.: Que chama oca. PESQ.: Oca? INF.: Oca. E dipois tem o exo tamém. Aí no exo vai o chumaço, que é o que faiz cantá o carro de boi. (14; 403 e 405). O CORO COMEU • (n/d) • [Fraseologia] • Lat. • Expressão usada para designar uma surra. • É, pro pai, chegou da roça, o coro comeu. (18; 100). ÓLEO DE CAPAÚVA • (n/d) • NCm [Ssing + prep + Ssing] • (n/e) • Óleo extraído da árvore capaúva, que possui diversas aplicações medicinais. • Óleo de Capaúva é bão pra reumatismo. (1; 416). OREIA DA ÁRVORE • (n/d) • NCf [Ssing + prep + Ssing] • Lat. • Fungo comum em árvores. • PESQ.: Eu ouvi falar esses dias que aquele negócio que dá na carne/ na carne não, na árvore também cura ferida, quando cê risca a árvore. INF. 2: Oreia da árvore? Não? (1; 399). 451 FOTO 30 – Oreia da árvore Fonte: Acervo pessoal. ORNAR • (n/d) • [V] • Lat. • (n/e) • O mesmo que funcionar. • Aqui toda vida num ornô esse negócio de farmácia não... (25; 121). P PAGODE • (A) • Nm [Ssing] • Sansc. • Festa; divertimento. • Acho que fazia muito é pagode, sabe? (22; 83). PAIA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Haste seca das gramíneas (esp. cereais), despojada dos grãos, utilizada na indústria ou para forragem de animais domésticos. • Punha paia rasgada nele e usava tocinho. (14; 238). PAIADA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Capoeira fina; mato ralo. • Essas paiada de cima abriu era mais poco pra trais ( ) mais agora, mais pra trais. (13; 69). PAIÓ • (n/d) • Nm [Ssing] • Cast. • Construção próxima à casa da fazenda onde é armazenado o milho seco. • É dexe jeito. Leva pro paió, vai aquê desajeito, iguale a gata tá munto grande, gorda. (1; 179). PALMOS • (A) • Nm [Spl] • Lat. • Medida da distância que vai da ponta do polegar à do mínimo, estando a mão estendida. • De primero era cova, né? Sete palmos de fundura, né? (29; 151). PANHAR • (A) • [V] • Cast. • Adquirir, pegar. Int. • Esses dia, o L. falô que achava que a gata tava panhando cria. (1; 168). PANHAR VENTO • (n/d) • Loc. Verbal] • Cast. • O mesmo que apanhar friagem; ficar doente por causa de vento frio. • Ele não pode panhar vento, com pneumonia nessa idade eu tenho medo. (19; 167). 452 PANINHO DE BUNDA • (n/d) • NCm [Ssing + prep + Ssing] • (n/e) • Fralda de bebês. • Aí tinha que tirá/ês falava paninho de bunda, hoje é fraldinha. (1; 573). PANO DE SACO • (n/d) • NCm [Ssing + prep+ Ssing] • Lat. • Pano feito de saco de linhagem, utilizado para limpeza ou armazenamento de diversas coisas. • A tia M., tadinha, pra lavá ropa, a vida dês lá, aquês pano de saco antigamente vinha com açúcar, então cabia as camisa tudo, e prá lava isso. (1; 673). PAPEADERO • (n/d) • Nm [ADJsing] • (n/e) • Pessoa que fala muito. • Ele é papeadero assim... (17; 415). PAPUDO • (A) • Nm [ADJsing] • Lat. • Aquele que possui papo provocado por doença. • Esses dias tava perto de casa, no corgo do Ouro, tinha uma família lá que os home e as mulheres tudo papudo, ah... (2; 108). PASSAGEM • (n/d) • Nf [Ssing] • Fr. • O mesmo que menopausa. • Ela tava fazeno passagem, que ela casô nova, né? Criô as fiarada tudo. Morreu munto nova. (10; 478). PASTO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Erva para alimento do gado; pastagem. • ...os homi ia roçá pasto, usava foice. Ia capiná, usava inxada. Ia torá mato, usava serrote. Serra, né? (10; 354). PAU-A-PIQUE1 • (n/d) • NCm [Ssing + prep + V] • (n/e) • Quitanda feita de fubá e assada na folha de bananeira. • De repente, ela veio com um tantão de quitanda ( ) ela ia fazê assim de tarde currido e ( ) não sei que que ela arranjô que o biscoito tava duro memo. É de pau-a- pique, mais tudo duro. (1; 101). FOTO 31 – Pau-a-pique Fonte: Acervo pessoal. 453 PAU-A-PIQUE2 • NCm [Ssing + prep + V] • (n/e) • Construção feita de ripas ou varas entrecruzadas e barro. • As casa, a maió parte era feita de pau-a-pique e adobo. (5; 43). PAU NA FORCA • (n/d) • NCm [Ssing + prep. + Ssing] • Lat. • Instrumento usado para matar pessoas. • Tinha pau na forca... tem lá em Jacuí. (16; 357). PEÃO DE MANSAR BURRO • (n/d) • NCm [Ssing + prep. + V + Ssing] • Lat. • Pessoa encarregada de amansar cavalos e burros. • Ah, eu é, fui peão de mansar burro, animar, quando eles falava assim: “Tem um animal é, manhoso.” Eu ia lá e comprava ele, e montava, e consertava aquilo, ganhava dinheiro era assim, mansava burro, mansava e acetava animal de boca, animal que eu andava todo mundo gostava. (19; 235). PÉ-DA-GUIA • (n/d) • NCm [Ssing + prep + Ssing] • (n/e) • Junta de bois que está localizada atrás da guia. • Uai, esse aqui é o derradero, do cabeçaio, chaveia, do meio, pé-da-guia. Essa aqui é junta de guia. Nóis tinha um boi que parecia cum esse aqui, chamado pexão. (4; 223). PEGAR • (A) • [V] • Lat. • Começar, principiar. • Aí nóis pegô e foi imbora da iscola... (8; 74). PELEJAR • (A) • [V] • Lat. • Batalhar; trabalhar muito. • INF. 1: Eu cheguei, pelejei pa tirá esse gado. Cadê se dá jeito d’eu tirá. Aí chegô um cumpade meu e ajudô a tirá o gado da horta. (15; 629). PEQUETITO • (n/d) • Nm [ADJsing] • (n/e) • O mesmo que pequeno. • Uai, nóis que é véio aqui ocê me entrega um celular, tá perdido, nóis num dá conta de mexê, vejo esses minino pequetito hoje em dia tá aí, internet. (17; 364). PEROBA • (A) • Nf [Ssing] • Ind. • Árvore conhecida por fornecer madeira de boa qualidade. Bastante conhecida também na região de Passos por possuir valor medicinal. • Ele cortava peroba, rancava aquês cavaquinho de peroba e punha pá fervê. A gente tomava aquilo ( ). (1; 472). PERRENGUE • (A) • Nm [Ssing] • Cast. • Estar indisposto; passar dificuldade. • ...passou uma noite nesse perrengue aí... (20; 194). PIÃO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Trabalhador rural. • PESQ.: Mais trabalhava mais era cum plantação? INF. 1: É, plantação. Aí ( ) que tratá dos pião tinha que levá cumê pra eles. (5; 63). PIÃO DE BURRO • (n/A) • Ncm [Ssing + prep + Ssing] • Lat. • Trabalhador rural que lida apenas com burros. • É, depois que ele fico viúvo lá em Araxá, ele veio pra cá viúvo, ele começo a empreita, tinha um tar de M. Barbosa, empreiteiro que entregava as empreitada, né? E punha as turma pra fazê as limpeza nas rua, e ele era um home que bibia muito, e era pião de burro, chegava final de semana, ele ia pro São João Batista, e vinha tonto, chegava perto da casa longe, e gritava, né? (4; 209). PIÃOZADA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Reunião de vários piões. • ...o cara vinha trazê dinhero, comprava o gado, ia embora, mandava a piãozada buscá, né? (19; 161). 454 PIAU • (n/d) • Nf [Ssing] • Ind. • Qualquer animal que possui pintas espalhadas pelo corpo. • Num murria. Aí eu e meus irmão, mais véio levantaro tudo pa vê matá o porca. Uma porcona que tava gorda. Porca piau . (10; 624). PICAÇO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Espantalho usado em plantações de diversas culturas. • Levava um buneco de pano, falava picaço. (13; 410). PICADA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Caminho Abertura feita na mata fechada para permitir a passagem de pessoas e animais. • Pois é, aí eu e mais o Z. A. abrimo as primera picada porque o J. F. que era dono lá, ele num queria garimpo, pegaro a, achava uns chibiuzinhos pro lá, e o Joaquim Ferrera falo: “Oh, eu num quero garimpero aqui.” (19; 27). PICÃO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Erva conhecida por seu poder medicinal, por isso, muito usada para a infusão de chá. • INF. 1: Hipatite? INF. 2: E só dava nas criança e curava cum picão né?INF. 1: Picão. Mas hoje hipatite é curada cum picão. (1; 523 e 524). PILÃO • (A) • Nm [Ssing] • Fr. • Espécie de vaso de madeira onde se pila e descasca arroz, milho, café, etc. • PESQ.: Era foice. Tem alguma coisa que usava antigamente que não usa mais no campo? INF. 2: Socá arroiz no pilão. PESQ.: Ah, socá arroiz no pilão. INF. 2: Socá arroiz no pilão... (5; 150 e 152). PINERA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Objeto formado de fios entrançados e usada para separar substâncias reduzidas a fragmentos, retendo as mais grossas. • Mais, nóis não têm nem rapé nem pinera, • pinera de taquara assim de baná feijão, de ( ) feijão. Nóis tem aquela fininha de cuá trem de mio verde. Aí, né, às veiz arranja lá com o Carlão lá tem munta pinera à toa e ( ). (1; 37 e 38). PINGA • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Bebida feita através da fermentação da cana-de-açúcar. • É. Intão. Bãozinho memo. Tamém gosta dumas pinga ... Agora, o T.P. gostava de falá que a veinha tamém gostava duma pinga. ... Pede. Pede cinco, pede deiz. Pedi um rear pra comprá pinga. ... Aí vai bebê mais pinga pá ficá tonto. ... Cê vai bebê mais pinga. (13; 241, 246, 274, 275 e 278). PINGAIADA • (n/d) • Nf [ADJsing] • (n/e) • Aquele que consome muita cachaça; pinga. • Era pingaiada. (26; 142). PINGUELO • (n/A) • Nm [Ssing] • (n/e) • O mesmo que revólver. • É, mas eu graças a Deus nunca matei ninguém não, mas dedo no pinguelo pra matá, tive umas par de veiz, e não pricisou, louvado seja Deus, né? (19; 154). PINICAR • (n/A) • [V] • (n/e) • O mesmo que coçar. • Dá coceira. Pinica... (2; 45). PITINHO • (A) • Nm [Ssing] • (n/e) • Cigarro; cachimbo. • Nessa época, o meu pai foi, foi aprendeu a fumá com os escravo ainda, e eu cheguei a conhece treis escravo que sobro, houve a forria, no meu tempo ainda, que eu já tinha nascido, então esses escravo sobro, eles era carapina, criolo muito ajeitado, mas num era escravo mais não, cunheci treis, ensinou meu pai a fumá, ês tinha aquela satisfação de fazer um pitinho pro meu pai pitá. Vamos pra lá. (19; 163). 455 PITITINHO • (n/d) • Nm [ADJsing] • (n/e) • O mesmo que pequeno. • E daí quando nóis todo mundo ( ) nóis envinha embora os cachorrinho da C., um pititinho latiu cum ela ( ) envinha um grandão, juntô nessa cachorrinha dibaxo do pé de café...(1; 125). PITISQUINHO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Pedaço pequeno de terra. • Cada um tinha seu pitisquinho lá, pedacinho de vivê. (7; 67). PORDO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Cavalo novo, aos três anos aproximadamente. • Aí, ê pegô, fechô um pordo dos mió da tropa dele lá no curral. (2; 244). POSAR • (A) • [V] • (n/e) • Pernoitar em um lugar qualquer. • E aí depois o marido dela /o genro dela trabaia fora e ela fica só ela com os menino sem pará e a T. tem dia que posá lá com ela. . Tem que a T. í lá posá com ela por causa do medo do bicho. (1; 92). PRECATA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Chinelo feito de pneu. • INF. 1: As precata. Sabe que que é precata? PESQ.: Não que que é precata? INF. 1: Precata é aqueas arça de arreio. (5; 197 e 199). PRICISÃO • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Necessidade. • É, bobagem mesmo, né? Num tem pricisão daquilo. (4; 62). PROSÊ • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Conversa, bate-papo. • PESQ.: E que horas que ês tira o leite? Cedinho? INF. 1: Fica num prosê danado. (12; 523). PURGANTE • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Pessoa chata; metida. • Então era um movimento loco, agora punha a famia, a piãozada, tinha gente demais, ali em Painera nada, mas em Passos, cortava uns ramo, e acabô que chega cedo, chegasse o sol nem tinha saído, vai embora, vai dormi mais, depois ocê vem, se chegasse carçado, ah, ocê é purgante? Num aceitava ninguém carçado não, tinha que ser discarço. (19; 198). Q QUADRO DE SABÃO • (n/d) • NCm [Ssing] • Lat. • O mesmo que pedaço/barra de sabão; pacote. • ...fazia sabão, até hoje tô com essa idade, 75 anos, e não sei quanto custa um quadro de sabão... (28; 53). QUALÉ • (n/d) • [Pron] • Pronome interrogativo. Variante de qual. • Acho que tem, mas eu nem não sei qualé mais. (22; 70). QUANDO É FÉ • (n/d) • [Adv] • Lat. • O mesmo que de repente. • E eu fiquei mais meu marido morano lá embaixo, quando é fé, eu peguei número da conta, e aí quebrei minha perna, e aí foi cumpricano, e aí eu vim pra qui, mas eu vim pra qui, nosso Deus, foi custoso demais tamém, e aí me deu catarata, foi preciso de eu, eu fiqueio, me deu laborintite... (33; 67). QUITANDA • (A) • Nf [Ssing] • Afr. • Biscoitos, bolo ou qualquer doce de forno. • O cupim quemava assim e ficava certinho. Eu lembro do cupim e lembro das quitanda que ês fazia ( ). (13; 487). 456 QUORESMA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Período de quarenta dias compreendido entre a quarta-feira de Cinzas e o domingo de Páscoa. • Agora hoje em dia quoresma é festa, é baile todo dia. (13; 450). R RABICHO • (A) • Nm [Ssing] • Cast. • Amor, paixão. • O rabicho dele cum a mãe é grande. Falei gente do céu cum esse rapaiz. (15; 861). RABO DO FOGÃO • (n/d) • NCm [Ssing + prep + Ssing] • Lat. • Parte frontal de um fogão a lenha. • A gente chegava lá e ele tava cum pano marrado na cabeça, sentado no rabo do fogão. (14; 43). RAJADA • (n/A) • Nf [ADJsing] • Cast. • Raiada, estriada. • PESQ.: Essa aí que carrega o gato na boca? INF. 2: Não, é aquela rajada. (1; 165). RAMA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • O conjunto dos ramos de uma planta; ramada, ramagem, ramalheira, ramaria. • O mandiocário que tava trançando assim a rama da mandioca. ( ) cana, cada purrete de cana que ia imbora. (15; 623). RANCHEIRO • (A) • Nm [ADJsing] • Cast. • Aquele que trabalha ou possui rancho. • É, muito famosa, e é de boiadeiro, tem o rancheiro, né? (19; 157). RANCHO • (A) • Nm [Ssing] • Esp. • Cabana provisória feita no mato ou nas roças, geralmente de palha. • Aí desceu ieu e ocê até na porta do rancho pegado na mão. Foi ou não foi? (2; 140). RANJAR • (n/d) • [V] • (n/e) • Começar, principiar. • Isso é bobeira ( ) ranja uma correria. (1; 07). RAPADURA • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Produto da cana-de-açúcar confeccionado em forma de pequenos tijolos. • Uai, fazia rapadura, fazia açuca. (11; 232). RASGAR • (A) • [V] • (n/e) • Sair de forma impetuosa. • Quando foi, e a portera lá da coisa, não tem problema não, e rasgô... (31; 343). RASTÉ • (n/A) • Nm [Ssing] • Lat. • Instrumento formado por uma fileira de dentes de ferro por onde se passa o linho a fim de se tirar a estopa. • Mais, nóis não têm nem rasté nem pinera, pinera de taquara assim de baná feijão, de ( ) feijão. (1; 37). RASTERINHO • (A) • Nm [ADJsing] • Lat. • Que se eleva a pouca altura; raso. • Mentraste é aquê de florzinha branca. Mestruste dá é rasterinho assim. Aqui nessa horta eu já vi munto. (1; 391). REBARBA • (n/A) • Nf [Ssing] • Fr. • Sobra, resto. • Desses quinze fico só ieu lá na rebarba. Os oto tudo/ os oto catorze morreu. Mais ês já tava tudo sequinho, cum bronquite brabo. (2; 60). 457 REBENTADA • (A) • Nf [ADJsing] • Obs. • Sem dinheiro ou recursos; quebrado, falido. • INF. 1: Mais ea pudia pagá uma pa todo dia posá cum ea, né? PESQ.: Pudia, né? INF. 1: Pur caus’ que ea num é rebentada, né? Ela pode. (12; 165). RECOMPERÁ • (n/d) • [V] • (n/e) • Recuperar, melhorar. • Aí meu pai acho que eu num ia recomperá, né? Ficá mai’ bunitinho, expriente, assim mai’, hum, hum ... (2; 16). RECURSO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Ajuda; meio para solucionar um problema ou sair de situação complicada. • Não, não, passei muito pra lá e pra cá, mas não sei, a gente era mais simpre que hoje, né? Hoje tem mais recurso, né? (24; 129). REGANHAR • (n/d) • [V] • (n/e) • Sol muito forte. • ...o sole tava reganhano, tava de istundá. (15; 530). REGO D’ÁGUA • (n/d) • NCm [Ssing + prep. + Ssing] • Lat. • As história aqui é esses criolo é, trabaiava nessas fazenda aqui, e puxo, esse rego d’água meu aí, punha tanto d’água que quisesse, aqui na porta, sabe? Mais os criolo, o dono morava lá nos C., e pois os escravo pra tabaiá aqui pra fazê, nem ferramenta dereito eles num tinha pra fazê, puxou, fizero um rego d’água aqui, já, é, na fazenda em antes do, dela ser pros R.B., cumpadi R. B. então comprou aqui, mas já tava pronto, o rego d’água já tava pronto, tinha sido dos escravos, a fazenda era bruta, ele saía lá do bode, e ia no retiro do J. D. aqui na Babilônia, sem pisar na terra de ninguém. (19; 206, 210). FOTO 32 – Rego d’água Fonte: Acervo pessoal. RÉIS • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Moeda usual no início do século passado. • Uai, aí ele viu que num dianta nada minha fia. Ocê fazê uma massage cum oto, fazê um truque cum oto. Se ocê faiz um truque numa pessoa cum deiz mi réis cê toma um prijuízo de 40. (2; 257). 458 RELAR • (n/d) • [V] • (n/e) • Encostar; roçar. • ...ocê vai relando na carça... (16; 278). REMOSA • (n/d) • Nf [ADJsing] • (n/e) • Algo ou alguma coisa gordurosa. • INF. 2: Ês fala que a mustarda é quente, é remosa. E é memo? INF. 1: E colocava no pano. PESQ.: Remosa? O que é remosa? INF. 2: É trem quente ( ). INF. 1: É da natureza dela, trem forte. (1; 321). RETIRERO • (A) • Nm [Ssing] • (n/e) • Aquele que, numa fazenda, ordenha o gado. • E aí a gente ia rezá. Às veiz a gente ia rezá na fazenda. Ês punha leite./ que meu irmão era retirero. Aquês camarada que era retirero. Aí nóis ia rezá na fazenda. Tinha uma taba grande assim. Tipo um vão pa rezá, né? (10; 318). RETIRO • (A) • Nm [Ssing] • (n/e) • Local um tanto retirado da sede da fazenda pastoril, onde se solta o gado para engorda. • Mais lá ês é cinco. Os oto dois tava levano leite. Ês tem um retiro. Leva leite lá pa linha das Água lá. Tem o B., o V.... (13; 232). RETRATO • (A) • Nm [Ssing] • It. • A representação por figura ou imagem de uma pessoa ou lugar. • ...eu fui votar a primeira vez, eu tirei aquele retratinho, que eu tinha medo, eu tinha... (29; 15). REZADÔ • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Curandeiro, benzedeiro, que faz rezas. • É. É. Agora/ e tamém num pudia abri a porta e janela que eas tava atrais dos rezadô. Num sei ( ). Mais era bunito, chegava batia a matraca. A gente até acordava cum ela. (13; 427). RIBA • (A) • [Adv] • (n/e) • Em cima de algum lugar. • No caminho que nóis ia pa escola e o papai taiava, taiava a ( ), tirava por riba e fazia aquê coro da árve, pingava aquilo ali ó... (1; 407). RIPA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Pequeno pedaço de madeira. • ...era muito mal feitinho assim, feito de ripa com pano roxo... (29; 161). RODA • (n/A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Máquina de fiar linho; variante de roda de fiar (roda de fiar > roda – caso de elipse). • Eu era piquininha e sabia fiá na roda. Oh! Eu já sabia fiá na roda. (10; 375). RODERO • (A) • Nm [Ssing] • (n/e) • Eixo de um carro ou de uma máquina. • PESQ.: Que que é mesa? É a parte de trás? INF.: A mesa é o que ia em cima dos rodero. (14; 414). RUADA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Espaço entre os pés de uma plantação de café. • Agora/ no café trabaia suzinho/ na rua/ ruada /suzinho, né? (8; 35). RUINDADE • (n/A) • Nf [Ssing] • Cast. • Aquilo que é ruim física ou moralmente. • Num sei / Eu arranjei uma ruindade essa noite sô. (15; 45). 459 S SABÃO DE BOLA • (n/d) • NCm [Ssing + prep + Ssing] • Lat. • Sabão feito de diversos tipos de óleo. • Fazer o sabão de bola, que é bom pra lavar a cabeça, tirar caspa. (17; 39). SABÃO DE CUADA • (n/d) • NCm [Ssng + prep + Ssing] • Lat. • Sabão feito de cinzas e gordura. • Fazia aquela gurdura, dipois fazia a cinza. Pegava a cinza/ a lata inchia de cinza ia pono água e aí pingava/ fala que era sabão de cuada. (5; 284). SABÃO DE PELOTA • (n/d) • NCm [Ssng + prep + Ssing] • Lat. • Sabão feito de gordura de porco. • Não, fazia sabão de pelota. (17; 19). SABÃO PRETO • (n/d) • NCm [Ssng + prep + ADJsing] • Lat. • Sabão feito com soda e gordura de vaca. • Fazia o sabão preto, da vaca. (5; 276). SABUGO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Substância esponjosa e leve, que se encontra no interior de certas árvores e em especial no sabugueiro. • O ferro era de brasa. Quemava cum sabugo, essa coisa. ( ) era pa passá. (5; 265). FOTO 33 – Sabugo Fonte: Acervo pessoal. SACUDIDO • (A) • Nm [ADJsing] • Lat. • Forte, saudável, galhardo, esbelto. • Ele era sacudido, mais era véiaco dimais. (8; 38). SANAPISMO • (n/A) • Nm [Ssing] • Fr. • Papa medicamentosa, que tem como principal componente a mostarda. • O sanapismo é isso de queimá. (1; 339). SANFONA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Instrumento músico, com cordas de tripa muito tensas, que são friccionadas por uma roda, posta em movimento por uma manivela. • Os vizinho 460 pudia/ ia munto lá em casa. Era divirtido. Chegava no dumingo tocava viola, sanfona. (10; 456). SANGRA D’ÁGUA • (n/d) • NCf [Ssing + prep + Ssing] • Planta comum em brejos. • INF. 1: Então, sangra d’água, sangra d’água é uma beleza pra esse negócio aqui. PESQ.: O que que é sangra d’água, é aquela resina? INF. 1: É uma resina de árvore. (1; 402). SANTO REIS • (n/d) • NCm [Ssing + Ssing] • Os três reis magos. • Falô: “uai, num tem jeito co poder de Santo Reis de jeito nenhum.” (2; 242). SAPÉ • (A) • Nm [Ssing] • Ind. • Espécie de capim de folhas duras, muito usado para cobrir casas. • Pensa que eu dexei ês pó teia na minha casa? Pois sapé. (15; 653). SARIEMA • (A) • Nf [Ssing] • Ind. • Ave pernalta, de asas curtas pouco adequadas para o voo, que vive nos descampados da América do Sul e se alimenta de pequenos roedores, insetos e lagartos. • Isturdia ainda falei no café a sariema tá advinhano chuva. Aí ês falaro “vai chovê não” ( ). (1; 327). SILO • (A) • Nm [Ssing] • Cast. • Tulha subterrânea, impermeável, onde se conservam forragens verdes, cereais, etc. • Então ele fez o silo de milho, eu não vou falar essa variante, de diversas variedades, mas o milho geralmente 104, 105, 106 dias aí é o silo, sabe? (20; 97, 99). SINHANA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • O mesmo que Sebastiana. • Sinhana. De primeiro tinha tanta Sebastiana, Sinhana. (17; 96). SINTIDO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Consciência, lucidez. • INF.: É. Uai, a gente grande memo, o sintido foge. PESQ.: Foge. INF.: Foge o sintido. E a hora que dá o branco da cabeça, todo mundo da pessoa. E num/ acontece. É... (13; 151 e 153). SISTEMA • (A) • Nm [Ssing] • Fr. • Forma determinada de viver. • Elas era assim, certa, tinha um certo sistema... (28; 154). SISTEMÁTICO • (A) • Nm [ADJsing] • Fr. • Diz-se do indivíduo que, por ser metódico ao extremo, se torna ranheta, ranzinza. • Nóis modô pa cá, né? Aí os povo lá/ meu pai quis mudá porque ele era assim um homi sistemático num gostava que/ né? Era sistemático/ daquês véio sistemático, né? (10; 55). SOCA • (n/d) • [V] • (n/e) • Ato ou efeito de amassar. • A cinza a gente soca numa lata veia, bem socado, e põe água, e ela pinga aquela água roxa embaixo assim, e para a vazi[lh]a, pra por na panela de fazer sabão, porque lá na roça ninguém comprava soda, era da água da cinza pra po[r] no sabão pra cortar a gordura, pra dar o sabão. (17; 11). SOCADO • (A) • Nm [ADJsing] • (n/e) • Aquilo que foi bem amassado. • A cinza a gente soca numa lata veia, bem socado, e põe água, e ela pinga aquela água roxa embaixo assim, e para a vazia, pra por na panela de fazer sabão, porque lá na roça ninguém comprava soda, era da água da cinza pra pô no sabão pra cortar a gordura, pra dar o sabão. (17; 11). SODA DE QUADRA • (n/d) • NCf [Ssing + prep. + Ssing] • (n/e) • Ingrediente usado para fazer sabão. • Cozinhava aquilo com soda de quadra, fazia... (28; 58). 461 SOGA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Tira de couro, cujas extremidades se prendem às pontas do boi, e pela qual ele é puxado ou guiado. • Põe a soga. Aí põe a canga, aí abutoa a brocha aqui, na guela dele aqui. (4; 211). SOMBRAÇÃO • (A) • Nf [Ssing] • Cont. • Alma do outro mundo. • Às veiz o medo faiz a sombração. (4; 117). SORTERÃO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Aquele que não se casou. • Ela foi namorada desse moço que êa caso cum ê./ Era um sorterão rico. (15; 174). SUADERA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) •Ato ou efeito de transpirar. • Inelação. Mais diz que dá uma suadera nela. Ela dá de sinti mal. (13; 100). SUJOA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • O mesmo que parteira. • Intão quando tinha uma criancinha/ quando ia nascê uma criança ês falava que tinha que i chamá a sujoa. (14; 23). SUPITAR • (n/d) • [V] • (n/e) • O mesmo que borbulhar. • ...aqueas coisas, supitava na lata e tornava tudo... (32; 310). SUSSUARAMA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • Cobra nativa do Cerrado. • Têm as sussuarama, já apareceu aqueas marela, no chapadão pareceu. (18; 136). T TACAR COM O FUMO • (n/d) • [Fraseologia] • (n/e) • Dar um sermão; uma bronca. • ...e tacô com o fumo nela... (30; 118). TACHA • (A) • Nf [Ssing] • Obs. • Tacho grande, usado nos engenhos de açúcar. • ( ) aquela tacha que tava aquela beleza. (5; 323). TAIO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • O mesmo que corte. • Ele feiz não pra ea pá num falá que tava taio gande. (15; 35). TAMANDUÁ • (A) • Nm [Ssing] • Tup. • Mamífero possuidor de grandes garras, nativo do Cerrado. • Um bicho lá, tamanduá, veado, né? (22; 27). TAMOERO • (A) • Nm [Ssing] • (n/e) • Peça central do carro de bois. • Aqui tem um cambão que infia aqui nesse tamoero. (4; 213). TAPERA • (A) • Nf [Ssing] • Tup. • Casa muito velha e abandonada. • É, e, portanto lá, tem essa tapera até hoje assim, a tapera dos outros moradores... (30; 188). TAPO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Pequena gase usada para curativos nos olhos. • De noite ele limpô essa aqui. No oto dia tiro / ferramenta / o tapo. “ Hoje eu já enxerguei falei / Daqui a quinze dia que vem. (15; 191). 462 TARRAXA • (A) • Nf [Ssing] • Incert. • Pequeno parafuso. • Ele fez o encanamento com tarraxa, e... (17; 129). TATU PEBA • (A) • NCm [Ssing + ADJsing] • Tup. • Tatu peludo nativo do Cerrado. • Tatu peba, né? (18; 415). TECEDERA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Mulher que tece pano. • Pá levá pás tecedera que tinha tiare, né? (10; 389). TEMPO BÃO • (n/d) • NCm [Ssing + ADJsing] • Lat. • Tempo chuvoso. • É, nós tem que pedir a Deus é saúde, e tempo bão, eu sempre falei disso, eu sempre mexi com roça, a roça choveu bem, deu um clima bão, tudo vai bem. Tá ruim pra chover, não tá? (21; 122). TEMPO QUENTE • (n/d) • NCm [Ssing + ADJsing] • Lat. • Confusão; briga. • Tinha 11 ano nessa época, ih, mas foi um tempo quente, foi pra casa, foi preso, arrumô um advogado, o advogado cabo tirano ele, ele ficô uns dois ano, e ele acabo vortano pra fazenda... (19; 233). TERRERO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Espaço de terra plano e largo onde se criam animais domésticos. • O terrero tava que era pura galinha. Intão a minha irmã saiu pa vim casá e aquê povão lá. (10; 606). TIARE • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Aparelho ou máquina destinada a produzir tecidos. • Pa levá pas tecedera que tinha tiare, né? (10; 389). TIRADERA • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Correia ou corrente que, nos carros de bois puxados por quatro animais, prende a canga dos bois da frente à dos bois do coice. • Aí tinha as tiradera. Tiradera era uma... espécie de coro mais grossona pa aguentá, né? (14; 363). TIRAR NA CORDA • (n/d) • [V] • Desc. • Tirar água potável de poço artesiano. • Não tinha torneira, tinha que pegar água no poço tinha que tirar na corda. (26; 97). TIRIÇA • (n/A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Sintoma que pode ter várias causas, caracterizado pela cor amarela da pele. • INF. 2: Dor de ouvido forte em criança, dor de barriga. Era tanta coisinha. Tiriça né? INF. 1: Tiriça. PESQ.: Que que era tiriça? INF. 1: Uai, tiriça era/hoje é. INF. 2: Uai, hoje é tiriça memo ( ). ... Então a gente fala tiriça. (1; 510, 511, 513, 514 e 526). TOCAR • (A) • [V] • (n/e) • Conduzir gado. • O L. foi ajudá o T. tocá criação e eu fui a pé e ês me acompanhano. (1; 119). TOCINHO • (A) • Nm [Ssing] • Celt. • Gordura dos porcos, subjacente à pele, com o respectivo couro. • Usava tocinho e punha ali. (14; 240). TOMAR BENÇA • (n/d) • [Loc V] • Incert. • Pedir para ser abençoado por pessoas mais velhas. • Tomava bença, pegava na mão, beijava a mão, né? (28; 167). TOPAR • (A) • [V] • Onomat. • Deparar, encontrar. • De veiz em quando eu topo cum ela no Ki-Barato lá. (12; 179). 463 TORNERO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Chuva em excesso. • Chuvia dimais, fazia tornero, né? O povo ia e num achava custoso. É... / era trêis festa que tinha. Aí quando passava no oto sábado, aí sempre fazia/ ês falava pagode. Aí... (13; 465). TORRESMO DO CAPADO • (n/d) • NCm [Ssing] • Cast. • Toicinho frito em pequenos pedaços. • Nunca, fazia no tacho, torresmo do capado, matava... (28; 55). TRABISSERO • (n/d) • Nm [Ssing] • Lat. • Almofada que serve de apoio à cabeça. • Um dia o dotor apricô injeção no trabissero do duente. (11; 11). TRAMELA • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Peça usada para fechar portas e/ou janelas. • Fechava com tramela. (19; 304). FOTO 34 – Tramela Fonte: Acervo pessoal. TRATO • (A) • Nm [Ssing] • (n/e) • Comida para animais em geral. • Num tem trato. Trato da mão de Deus. Esses brotinho que tá saino da berada. (13; 68). TREIÇÃO • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Ajuda prometida aos vizinhos para limpar uma plantação. • INF.: Ês fazia na quoresma. Mais festa de dança, essas coisa. Ês fazia treição de capiná. PESQ.: Fazia o que? INF.: Treição. A pessoa tava cum uma roça suja aí juntava os vizinho. ... E fazia treição. (13; 406 e 408). TREM • (A) • Nm [Ssing] • Fr. • Qualquer objeto ou coisa; negócio, treco, troço. • Nóis tem aquela fininha de cuá trem de mio verde. (1; 38). TREQUINHO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Coisa; trem; um objeto qualquer. • Um trequinho que faz prum, prum... (16; 497). TRILHO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Caminho, via. • Naquê tempo era um tri[lho] pá passá cavalo um atrais do oto anssim ó. (11; 108). TROPA • (A) • Nf [Ssing] • Fr. • Caravana de animais, geralmente burros ou bestas, usados para o trabalho de carga. • Ia um tocano os animale, a tropa assim arriada e apiava pa ajudá carregá. (4; 42). 464 TROTÃO • (A) • Nm [ADJsing] • (n/e) • Animal que trota. • Trotão é/ no modo dele andá, chacoaia dimais. Marchadô é/ ê num cansa né? Aí ê perguntô meu pai ((vozes)) (8; 22). TROTE • (A) • Nm [Ssing] • Fr. • Andadura natural das cavalgaduras, entre o passo ordinário e o galope, e que se caracteriza pelas batidas regularmente espaçadas das patas. • PESQ.: Ela num marchava? INF. 1: Era só trote. Cê sabe o que é trote? PESQ.: Não, o que que é trote? INF. 1: É tuada dura. (4; 244). TRUPICAR • (A) • [V] • Lat. • O mesmo que tropeçar. • ...hoje você trupica em latinha... (32; 168). TUIA • (A) • Nf [Ssing] • Cont. • Grande arca usada para guardar cereais. • Ingordava o capado. Matava o capado, tinha a carne e tinha a gurdura. E o mantimento todo tanto que cuía num vindia não. Punha na tuia lá no canto. (11; 114). TURAR • (n/A) • [V] • Durar, conservar. • PESQ.: A Dercy da televisão. INF. 1: Ah! Quantos ano? PESQ.: 101. INF. 1: Ah, não. Aí é turá dimais, né? (12; 590). TUSTÃO • (A)• Nm [Ssing] • It. • Designação de moeda em geral; dinheiro. • Essa casa vai desmantelano e o fio manda arrumá ela. Eu num gasto um tustão. (15; 691). U URTIGA • (A) • Nf [Ssing] • Fr. • Planta cujas folhas provocam coceira. • Lá em casa tem também, dá na curtura, a urtiga. (17; 71). URVAIO • (n/d) • Nm [Ssing] • (n/e) • Orvalho, umidade. • Umas bota assim. Tinha as butina e tinha a polônia. Usava aquilo pa num moiá muito de urvaio. (5; 213). USUCAPIÃO • (A) • Nm [Ssing] • Lat. • Método de adquirir determinada propriedade depois de um tempo morando/trabalhando nela. • ...e a gente foi fazer usucapião do terreno dele... (31; 129). V VARA DE FERRÃO • (n/d) • NCf [Ssing + prep. + Ssing] • (n/e) • Vara comprida com uma ponta de ferro utilizada para tocar gado. • Ela falô: “Ranjo.” Eu já tava rapaizinho, né? Aí ele, pra candiá boi, só servia pra candiá boi nessa época, né? E aí fui pra lá nessa fazenda desse fazendeiro, né? Bons conserto, é, eu mandei os carrero foi embora, eu tomei conta da vara de ferrão, ele tinha olaria, tinha... (34; 96). VEADO GAIEIRO • (n/d) • NCm [Ssing + ADJsing] • (n/e) • Mamífero nativo do Cerrado. • (n/e) • No dia que nós fomos lá na nascente, nós viu foi o veado gaiero e a ema, eles aparecem por aqui? Saem desse. (18; 139). 465 VEIÁCO • (A) • Nm [ADJsing] • Cast. • Aquele que ludibria de propósito ou por má índole. • INF.: Lá tinha uma lavora de café e tinha um homi que trabaiava cum ês aí. PESQ.: Ahn? INF.: Diz que era munto véiaco. (8; 32). VENDA • (A) • Nf [Ssing] • (n/e) • Pequeno estabelecimento comercial onde se vendem artigos variados. • PESQ.: Aí aparecia lá em casa. Aí meu pai punha um prato de comida pra ele. Aí ele cumia. Aí ele pedia dinhero pra ir beber. Aí meu pai num dava dinhero pra ele não beber. INF. 1: Mais ele pidia nas venda, né? (12; 681). VESPRONA • (n/d) • Nf [Ssing] • (n/e) • O mesmo que véspera. • Todo dia 25 de dezembro vesprona da Compania de Reis saí, cê iscuta cá da fazenda aquê povo afiano o instrumento no buraco. (2; 226). VESTE • (A) • Nf [Ssing] • Lat. • Peça de roupa, em geral aquela que reveste exteriormente o indivíduo e, em grau menor ou maior, o caracteriza. • Eu nasci em 27 e ela casô em 32. E eu lembro direitinho, a veste dela. (10; 592). VIOLERO • (A) • Nf [Ssing] • Prov. • Tocador de viola. • Ticia o corte de car/ e o meu pai/ tava chique. Ele era violero, cantava. Era bunito. Era um preto bunito, meu pai. (10; 391). VORTIADA • (A) • Nf [ADJsing] • (n/e) • Algo ou alguma coisa envolta por. • Era duas peça vortiada. As cheda é onde vai o fuero pa po aquela... Mais ês fazia só de taquara, né? Intão, tinha a istera dipois a parte de tráis pa fechá a istera, ela era vortiada assim. (14; 423 e 442). X XARÁ • (A) • Nm [Ssing] • Cast. • Aquele que possui o mesmo nome que outra pessoa. • ...chamava V. B., meu xará... (30; 15). Z ZAGAIA • (n/A) • Nf [SSing] • (n/e) • Armadilha feita de madeira e com uma lança na ponta. • A zagaia, e aí ele mexeu na cama como se ele tivesse deitano... (30; 128). ZANGAR • (n/d) • [V] • (n/e) • Piorar, agravar. • Eu tomo quando eu zango. (15; 292). ZAROIA • (A) • Nf [ADJsing] • Obs. • Estrábica, cega de um olho. • Intão, ela casô. Ela já morreu, mais ela dexô uma purção, uma purção de fio. Mais ela era zaroia memo. (14; 564). ZELAR • (A) • [V] • Lat. • Cuidar; tomar conta; tratar com zelo. • A minha patroa me queria bem, e o, se eu saísse de noite ela punha peso na janela da minha cama pra mim vortá, porque a casa tava aberta, e me zelava como fio, eu falei: “Ah, não dá não.” (34; 323). 466 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Rio São Francisco possui grande importância para história da formação brasileira, e também, para a formação da região sudoeste de Minas Gerais. O Parque Nacional da Serra da Canastra abarcando o referido rio, tornou-se tão importante quanto o mesmo. Inserindo duas paixões dentro de um mesmo contexto, temos como resultado o tarabalho aqui apresentado. À medida que desenvolvíamos a pesquisa, acreditávamos, cada vez mais, no dizer de Isquerdo (2001, p.91): “o estudo do léxico de uma região mostra dados que deixam transparecer elementos significativos relacionados à história, ao sistema de vida, à visão de mundo do grupo estudado.” A ideia inicial de realizar um estudo linguístico-descritivo focando a região da Serra da Canastra, mais especificamente os municípios de Passos, Delfinópolis, São João Batista do Glória, São Roque de Minas e Vargem Bonita, surgiu a partir da verificação da carência de trabalhos nos centros acadêmicos no que se refere às pesquisas relacionadas à língua portuguesa nessa localidade, especialmente na área dos estudos lexicais. Partindo dessa constatação e objetivando contribuir para uma descrição mais ampla do português brasileiro, bem como trazer uma visão dos aspectos relacionados à cultura e à visão de mundo das pessoas que vivem naquela região, começamos a desenvolver esse trabalho. Tivemos, nesta tese, o objetivo de investigar o léxico rural do Parque Nacional da Serra da Canastra – localizado no Sul/Sudoeste de Minas, relacionando-o à história e à cultura da região. Acreditamos que o léxico é a área dos estudos linguísticos que melhor reflete a realidade sócio-histórica e cultural de um povo. Esse pressuposto já se mostrou bastante evidente na fase inicial desta análise. Ainda durante as gravações conseguimos perceber a existência de um vocabulário com características próprias, retratando a diversidade linguística e cultural das pessoas que moram naquela região. Na Introdução, procurou-se mostrar que este trabalho tem como finalidade um estudo sociolinguístico-cultural, uma vez o objetivo primordial era relacionar o vocabulário habitual dos falantes da região à sua história e cultura. Buscou-se, também, apresentar o arcabouço teórico que fundamentou a pesquisa, os métodos e procedimentos empregados para coleta, seleção e análise do vocabulário, as hipóteses e os objetivos específicos e a estruturação do texto. No capítulo 1, Aspectos Históricos da Região Sudoeste de Minas, buscou-se mostrar como se deu o processo de ocupação da região sudoeste do Estado de Minas Gerais, apontando desde as primeiras entradas e bandeiras até o processo de colonização e povoamento da região. Foram apontadas também as histórias do 467 Rio São Francisco e do Parque Nacional da Serra da Canastra. Além disso, procurou-se ainda apresentar, de maneira bem sucinta, a história dos cinco municípios nos quais foram realizadas as gravações. No Capítulo 2, Língua, cultura e sociedade, enfocamos os pressupostos teóricos que embasam os estudos lexicais. Em um primeiro momento, debatemos o tema língua, sociedade e cultura, mostrando o desenvolvimento dessa linha de pensamento desde fins do século XIX – abordamos teóricos da antropologia linguística, da cultura, da sociolinguística, discussões importantes para embasar uma pesquisa como esta. Posteriormente, centramos nosso estudo na lexicologia, já que trabalhamos com o léxico regional, pois um de nossos objetivos era a construção de um glossário. No capítulo 3, Métodos e procedimentos, abordou-se os procedimentos metodológicos adotados. Inicialmente, para a escolha dos informantes e para a realização da pesquisa de campo, quando gravamos as trinta e seis entrevistas, apoiamo-nos em Labov (1969) e Duranti (2000). Já as transcrições seguiram o modelo proposto pelo Projeto Pelas Trilhas de Minas: as bandeiras e a língua nas Gerais. Em um segundo momento, com os dados selecionados – 561 lexias –, voltamo-nos para a construção das fichas lexicográficas, consultando 6 dicionários – datados do século XVIII ao XX – previamente selecionados; em seguida realizamos análise linguística desses dados. Para a construção do glossário, adotamos metodologia sugerida por Haensch (1982). No capítulo 4, Apresentação e análise dos dados, apresentamos os nossos corpora coletados nas 36 entrevistas com moradores dos municípios analisados. As lexias daí hauridas são apresentadas na forma de fichas lexicográficas. Essas fichas constituíram uma análise em que se estudou e se relacionou a lexia coletada a épocas passadas e atuais. Foram feitos os seguintes levantamentos: o número de vocábulos dicionarizados e não dicionarizados; o número de lexias presentes em cada dicionário; a classificação gramatical dos vocábulos; a origem das lexias; marcações diatópicas como lusitanismos, brasileirismos e regionalismos; análise dos casos de mudança, variação e manutenção linguística entre os vocábulos pesquisados. Ponderando sobre as informações retiradas dos dicionários consultados, foi possível constatar que a proposta de manutenção linguística de Milroy ao abordar a ideia de rede social que possui o objetivo de explicar a relação entre os padrões da conservação do vernáculo e os de mudança no decorrer do tempo é pertinente, ao menos no campo lexical, uma vez que, a partir dos dados, verificaram-se apenas 3,40% de casos de mudanças linguísticas ou substituição, frente aos 84,33% de casos de manutenção entre as lexias dicionarizadas; a análise quantitativa revelou um número bastante expressivo de lexias não dicionarizadas (31,72%). Explica-se tal ocorrência pela constatação, no vocabulário dos entrevistados, de diversos casos de variantes fonológicas, como também o uso de vocábulos, 468 no entanto, com outras significações; o exame das lexias por classe gramatical aponta que os vocábulos que exercem as funções de nomes e verbos são os mais produtivos, representando 93,04% dos casos. Podemos afirmar que essas duas classes gramaticais são aquelas que mais mostram os costumes e tradições do Parque Nacional da Serra da Canastra/MG. Conforme Souza (2014), o estudo linguístico com ênfase na relação entre léxico e cultura, proposto por Duranti, permite descobrir padrões interativos que revelam visões de mundo e formas de relação entre os indivíduos. No Capítulo V, abordamos os estudos dialetológicos presentes no mundo, principalmente no Brasil. Descrevemos as lexias comuns encontradas nos glossários já realizados dentro do Projeto “Léxicos Regionais Mineiros” através de mapas dialetais. No Capítulo VI apresentamos a construção de um Glossário a partir dos dados retirados dos nossos corpora. Em um primeiro momento, organizamos as lexias pelo critério onomasiológico e, posteriormente, pelo critério semasiológico. Com isso, pudemos traçar um perfil sociocultural dominante na região: o léxico dessa parte do Sudoeste de Minas reflete o mundo rural – as plantas, as condutas, as crenças e os costumes. Sociedade e cultura refletidas na língua, tão bem descritas nas palavras de Aragão (1992, p.01) quando afirma que “as relações entre língua, sociedade e cultura são tão íntimas que, muitas vezes, torna-se difícil separar uma da outra ou dizer onde uma termina e a outra começa.” 469 Painel Parque Nacional da Serra da Canastra/Minas Gerais Fonte: Acervo pessoal. 470 REFERÊNCIAS ABBADE, Celina Márcia de Souza. A lexicologia e a teoria dos campos lexicais. In: CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA (CNLF), 15., 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: CNLF, v. Xv, n. 5, p.132-1343, 2011. AFONSO, José Eduardo. A Guerra dos Emboabas. São Paulo: Ática, 1998. AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira: gramática, vocabulário. 4.ed. São Paulo: Hucitec/Brasília: INL, 1982 (reprodução fac-similar da 2ª ed.; 1ª ed. 1920). AMARAL, Eduardo T. Roque. A ausência/presença de artigo definido diante de antropônimo em três localidades de Minas Gerais: Campanha, Minas Novas e Paracatu. 2003. 250f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, 2003. BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/bacia_do_rio_s%c3%a3o_francisco. Acesso em: 30 jan. 2016 BALDINGER, K. Teoria Semântica: hacia una semântica moderna. Madrid: Alcala, 1970. BARBOSA, M. A. Léxico, produção e criatividade: processos do neologismo. São Paulo: Global, 1981. BARBOSA, M. A. Contribuição Ao Estudo de Aspectos da Tipologia de Obras Lexicográficas. Revista Brasileira de Linguística, São Paulo, v.8, p.15-30, 1995. BARBOSA, Maria Aparecida. Da Neologia à Neologia na Literatura. In: ISQUERDO, A. N.; OLIVEIRA, Ana Maria Pinto Pires de (Org). 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Chega de tarde, tá tão cansada que Nossa Sinhora da Parcida. 5 INFORMANTE 2: Cheguei de tarde correno, o L. falou: “a sinhora vai acabá isso depressa?” Isso é bobeira ( ) ranja uma correria. Mas falei: “até a hora que tá lá é bão/ é um serviço só. Aí eu paro, eu cunverso, eu tô tabaiano. Eu gosto duma coieta. Eu falo que eu fiquei véia, mas eu gosto duma coieta. Assim saio das coisa. INFORMANTE 1: Eu também gosto, mais, ieu num vô mais não. INFORMANTE 2: Ah! Mais eu fazia mũtos ano, minha fia mũtos ano. 10 INFORMANTE 1: Que a senhora não ia panhá? INFORMANTE 2: Mũtos anos. Mais, agora eu panhei. Mais aqui, esse café, esse povo que tem café, é o povo do C. que panha e ês panha de turma, vem gente da cidade. Aí um dia o L. falô ( ) eu tenho sirviço pá mãe, mandô falá. Ele é iguale ao Lula, gosta de tabaiá, gosta do Lula ( ). Falei “o quê?” “Tabaiá de trator, roçá pasto, cortá lenha, trabaiá de motosseco”. Fui inventano ( ). “Não, panhá café”. “Vô panhá café lá?” É o povo do C. que 15 panha. (Não, mas é panhá um cafezinho. Vai vê ele chama as muié aqui da rua.) PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: “Ah, então eu vô” e esqueci. Ah, eu vô um dia, primeiro dia se eu achá bão eu vorto no oto dia, se eu acha ruim eu vorto pra casa. Aí eu fui o primeiro dia, fui o segundo dia, fui até acabá. Bão./ Não, teve uns dia que choveu, um dia eu fui na cidade aí falei: “Eu achei até bão”. 20 INFORMANTE 1: Deus me livre. Nossa Sinhora! INFORMANTE 2: Mais o derradero, acabô ( ) limpinho. Um bunito terrero, assim limpinho. O oto café mais véio e sujo é o povo do C. que ia panhá. PESQUISADORA: Vocês panharam os mais limpos? INFORMANTE 2: É, o novo, aquele ali tá limpinho. Não tinha mato ninhum. Ninhum mato. 25 INFORMANTE 1: Catá café é bão. INFORMANTE 2: É. INFORMANTE 1: Eu hoje não cato mais, porque eu não abaxo. INFORMANTE 2: Hum! Aí falô que se nóis quisesse panhá lá, aí nóis foi. Mais lá tava ruim, uns café sujo. PESQUISADORA: Mas aí é sujo de mato? 30 INFORMANTE 2: Hein? PESQUISADORA: É porque cresce mato em volta? INFORMANTE 2: Jogô veneno mas tava aquês matão seco. INFORMANTE 1: Seco, né? PESQUISADORA: Sei. 35 INFORMANTE 2: Ontem, ele teve aqui pirguntano se nóis queria barrê.( ) Ninguém vai querê isso não. Mais, nóis não têm nem rasté nem pinera, pinera de taquara assim de baná feijão, de( ) feijão. Nóis tem aquela fininha de cuá trem de mio verde. Aí, né, às veiz ranja lá com o C. lá tem mũta pinera à toa e ( ). PESQUISADORA: O C. é o que panha normalmente o café? INFORMANTE 2: É. Ele mexe com porco. E depois ( ) num tem amizade e nem inimizade, num é assim ( ) 40 /nem o H. num gosta de mim nem eu gosto muto dele. Aí ele falô “num é que eu num gosto é que vê poco”. A gente num panha mũto custume muta intimidade. INFORMANTE 1: Hum! PESQUISADORA: Num tem muita conversa, né? INFORMANTE 2: É. 45 PESQUISADORA: Nem dá para saber se gosta ou num gosta. INFORMANTE 2: É sério intão. É desse jeito.( ) Aí se o T. foi lá pedi pá panhá/ pá barrê é, aí tem os dono da ferramenta, é o dono da terra que tem que dá. Até que era bão. Pá gente ganha uns troquinho. Mas nóis tamém vai entrá oito hora, oito e meia, nove, nove e meia a hora que nóis pode í[r]. Num tem que pegá cedo, é currido, mas num precisa de corrê. Aí nóis vai cuida de uma coisa, lava ropa, passa um pano na casa. 50 INFORMANTE 1: é! ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 2 INFORMANTE 2: ( ) mais depois de tá lá é bão. Lá tem uma vista bonita, a vista lá pá Ventania, pás Furna, pá Serra das Furna. Aí eu falei: “esse lugar ( ) eu nunca tinha vindo aqui”. INFORMANTE 1: Não, só de saí, de falá que tá ino já é gostoso. INFORMANTE 2: É. Eu num saio na casa de ninguém, na casa dos vizinho. Tenho medo de andá por estrada ( ). 55 PESQUISADORA: A senhora não é muito de andá não, né? INFORMANTE 2: ( ) INFORMANTE 1: Não, e aqui os vizinho é longe, né? INFORMANTE 2: Eu falo, eu venho até aqui na J. e lá na C. quando eu vô levá a Mãe Rainha, aí eu saio aqui. Quando chega ali eu viro naquele matinho, aí eu fico me sentindo meio suzinha, lá tem um matão, ( ) um 60 barracão ( ) quando tá chegando aqui em casa eu não fico com medo. Aí eu vô topá com um estranho ( ) é só! ( ). INFORMANTE 1: ((Risos)) ((ela óia no forno e ela desanima)) INFORMANTE 2: ((Risos)) ( ) ((capaiz de ser o vento)) PESQUISADORA: O vento por quê? 65 INFORMANTE 2: É porque ela tá falando que ele esquenta muito, que ele esfria. PESQUISADORA: É, ela foi assar esses pães aí e não deu muito certo não. INFORMANTE 2: Alá! PESQUISADORA: Ah. Tá bão eu como. INFORMANTE 1: Eu também como. 70 PESQUISADORA: Eu num tô nem aí. INFORMANTE 2: Ela tá tristinha pra que num cresceu, muchô. Uai, mas tá até bunito, com a cor boa, sadio, amarelinho, intão. PESQUISADORA: Tá. INFORMANTE 2: Ah. É porque muchô. 75 INFORMANTE 1: Ixi. Nóis come, nóis faiz chá, móia ele no chá, móia ele no leite, num tá nem aí. INFORMANTE 2: Uma veiz eu fui lá na T., minha irmã. Passei. Aí, jantô. Não, fiz janta pro cêis. Aí eu falei: “não num vô jantá não”. Nóis lá ia daqui da roça e passô la. Ela ligô se tivesse galinha levá... /pro L. comprá duas pra sortá na casa da fia dela que tava aparecendo currupião e que acaba com aquê é galinha. PESQUISADORA: O que que é currupião? 80 INFORMANTE 1: É um bichinho assim que tem um ferrão maió que esse e ele tem veneno quase iguale cobra... PESQUISADORA: Mas ele é parente do escorpião? INFORMANTE 1: É o escorpião. INFORMANTE 2: É o escorpião. PESQUISADORA: Ah! 85 INFORMANTE 1: Ele dá onde tem muita casca, muita madera. PESQUISADORA: Mas ele é chamado de currupião também? INFORMANTE 2: É chamado de escorpião a vida inteira, é, até na televisão eis fala escorpião. Não, na cidade tem demais dele,( ). É, o povo tá cramando demais. ( ) PESQUISADORA: E aí tia G.? 90 INFORMANTE 2: E aí depois o marido dela /o genro dela trabaia fora e ela fica só ela com os menino sem pará e a T. tem dia que posá lá com ela. Tem que a T. í[r] lá posá com ela por causa do medo do bicho. Que não drumia de noite por causa do medo do bicho. Matô aquê, mas às veiz tinha outro. Aí... INFORMANTE 1: Mas que bicho? INFORMANTE 2: Curripião. 95 INFORMANTE 1: Ah! INFORMANTE 2: Aí depois falô pro L. comprá a galinha/ ah então leva aqui de casa nóis passa lá/ aí o L. falô: “nóis leva hoje”. Aí nóis chegô lá, a janta tava pronta. “Não, fiz janta pro cêis, fiz janta pro cêis”. Aí tem hora que anda de carro e chega na cidade com estômago até ruim ( ). Aí deu um prazo, eu comi um cadinho. Daí ela tá falando de quitanda dura. De repente, ela veio com um tantão de quitanda ( ) ela ia fazê assim de tarde currido 100 e ( ) não sei que que ela arranjô que o biscoito tava duro memo. É de pau-a-pique, mais tudo duro. INFORMANTE 1: ((Risos)) PESQUISADORA: Ela faz biscoito de pau-a-pique? INFORMANTE 2: É, bolo. Essa badulaquera. Ah. Até que ela tava falando que o pau-a-pique tava duro, mas tava não, era amolação dela. Esse aí tá maciinho. Tem dia que ela faz e eu nem provo. Nem num ligo pra essas coisa. 105 ( ) Mais até tava bão o pau-a-pique, eu até custei pra jantá, eu jantei cedo e desci comeno pau-a-pique. Ela arranjô aquela sacolada ((Risos)) falou assim / eu falei não “T. eu num vô levá esse tanto não, lá em casa é só eu e o ( )/ “não, mais às veiz móia no café amanhã e se não quisé dá pos cachorrinho branco e ês comi. Lá na S. o cachorro tá mũto véio, comi bem poquinho. Aí eu truxe, eu móiava no café, iguale ês tão falano assim. Aí ficava gostoso assim, no leite. Ainda sobrô mũto pra dá pro cachorro ainda. Mas ela deu aquela sacolada. Ela falou: “eu 110 mandei” / mandô lá pa A. do C., mandô. Lá pá Z. ( ). ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 3 INFORMANTE 1: Óia aqui onde saiu uma berruga no cachorro. Óia lá! INFORMANTE 2: Esses dia eu falei pro L.: “essa cachorrinha tá com berno, carrapato aí.” Ê falô: “Mãe, isso não é carrapato não, isso é berruga. INFORMANTE 1: É berruga. 115 INFORMANTE 2: É berruga. PESQUISADORA: É. INFORMANTE 2: Essa cachorrinha ( ) no dia da panha do café eu fiquei sem graça. Um dia ês foi comigo. O L. foi ajudá o T. tocá criação e eu fui a pé e ês me acompanhano. “Tomara que o L. vem depressa que esses cachorro vai embora porque ele não pode fica aqui.” Tem gente trabaiano lá, a lógica era ês começa a latí. Aí até 120 o L. passou ali eu disse: “chama os cachorro” e ele largô eu e fiquei lá. Aí depois nóis ia de carro e ês não foi mais. ( ) ela chegou lá naquela nheca, naquela alegria ((uiuiui)). Requebrano, requebrano, naquela festa. Aí eu falei assim: “ainda bem que nóis tava lá no cantinho pra cá, e os outros panhador ( ) tava panhano lá perto do N. B. lá”. E daí quando nóis todo mundo ( ) nóis envinha embora, os cachorrinho da C., um pititinho latiu cum ela ( ) envinha um grandão, juntô nessa cachorrinha debaxo do pé de café, eu falava: “vai lá L. 125 acuda, vai acuda, se não vai matá, o cachorrão é grande”. Aí ele falô “ porque ea veio” aí eu falei “veio cá por causa da gente, não veio sozinha”. Aí depois ( )/ ês era grande, ela era pititinha dibaxo do pezinho do pé de café ele esfregô ela. Aí quando vê, nóis tava no caminho assim e ela passô sujinha de terra memo e latino braba (( auauau)). (( Já mordeu nela e ea tá)). / Ainda tá arrastano mala. INFORMANTE 1: Tá brava. 130 INFORMANTE 2: É. O L. pensou de pegá ela e pô no carro aí não, nóis passa e ela acompanha. Acho que ês tornou a juntá ela, menina. INFORMANTE 1: Nossa tadinha! INFORMANTE 2: E essa cachorrinha não parecia ( ) porque ela é a melhor de tudo para dá manifesto das coisa. Mas ea gosta de anda dimais, falei: “Nossa Senhora é capaz dessa cachorrinha morrê”. Aí eu falei: “é L., 135 ao invés de ter acudido ou parado o carro aquela hora e tocado os cachorro, você é que foi curpado”. “Uai mas eu pensei que ela curria” Aí ele: ( ) “a cachorrinha não tá aqui não”. ( ) Ai, que coisa boa. Mais aí ela ficou com o corpo duro, um machucadinho na perna poco e suja de terra, aquele ovão feio, de tipo tava doente memo, tava com febre, aí depois foi agradano ela e a febre passô. Aí o L. jogô aquê ( ) não aquê mata-bichera ( ) aquê roxo, pá mode não sentá musquito. Apricô ( ) num instantinho sarô. Falei: ( ) / Porque eu tenho luxo com 140 esses cachorro. Porque cachorro na roça/ porque eu fico muito suzinha e ês vê as coisa. PESQUISADORA: Serve de companhia, né? INFORMANTE 2: É, dá um sinale. INFORMANTE 1: Cachorro/ês é vira-lata né? Mas essa pretinha/marronzinha/ eu tenho uma lá em casa que parece uma criança. 145 INFORMANTE 2: Hã? INFORMANTE 1: O telefone toca e se a gente não vai lá atendê, ela vai lá e fica latino no telefone até a gente atendê INFORMANTE 2: Gente! INFORMANTE 1: E se eu tô lá no quartinho e o telefone toca, ela vai lá na sala late no telefone e vai lá no 150 quartinho e chora em roda de mim. INFORMANTE 2: Ói p cê vê! Hã... INFORMANTE 1: Pá mim í(r) lá atendê o telefone. INFORMANTE 2: Não, ês é ativo. Essa raça de cachorro. Ês é esperto. INFORMANTE 1: É. 155 INFORMANTE 2: Lá em casa teve uma veiz/ ((dexa eu vê))/ O T. já morava na cidade/era da J.. O G. achava graça do tanto que ele era esperto. Aqueas moitona arta assim/ era da J. o tale Bob. O tale garrô a latí com gente na rua. O povo até recramô. O T: “uai eu num posso largá fechado aqui, morde uma pessoa na rua e ainda vai dá trabaio pra mim e ê ta ficando enjuado memo./ Marrá/ Cachorro marrado aqui na cidade” ( )”. Aí ele troxe pra cá, ficô mũto tempo aqui. De vez em quando a menina vinha acá vê o Bob ( ). E esse cachorrinho sumiu 160 mas, exalô. Nem nutícia nem nada. Num sei se foi algum bicho grande que matô, se alguém carregô. Até eu achei ruim quando o cachorrinho sumiu. Depois esse aqui...foi cria de uma cachorrinha que tinha lá em casa. E ela é boa, essa cachorrinha. PESQUISADORA: Essa aí que carrega o gato na boca? INFORMANTE 2: Não, é aquela rajada. 165 PESQUISADORA: A cachorra carrega o gato na boca pra dar de mamar pra ele. INFORMANTE 1: É, uai / O dia que a G. foi lá, a G. chegô falano que ela carrega o gato. INFORMANTE 2: Carrega. Esses dia, o L. falô que achava que a gata tava panhando cria. Eu achava/ quero ver depois se essa cachorra vai dá conta. Depois ela deve ir arrastano o gato. Quando ela parí e os gatinhos vai acompanhano. 170 INFORMANTE 1: Vai acompanhá a cachorra. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 4 PESQUISADORA: Ela põe a gata na boca e sai arrastano. INFORMANTE 2: É. É. Ela é grandona. Vai rasgano, sem governo. INFORMANTE 1: E como/ ês fala que gato com cachorro não cumbina, né? INFORMANTE 2: Num cumbina de jeito nenhum. Num gosta. 175 INFORMANTE 1: E ela adotá. INFORMANTE 2: Intão! PESQUISADORA: Às vezes a gata nem que mamá e ela carrega a gata. INFORMANTE 2: É dexe jeito. Leva po paió, vai aquê desajeito, iguale a gata tá mũto grande, gorda. Ela vai pelejano. Se fosse cachorrinho ( ). 180 INFORMANTE 1: É, mas gato né? INFORMANTE 2: É porque gato com cachorro num cumbina, não. Briga demais. Amola muito. INFORMANTE 1: A irmã da minha nora ela/ela/ quando a S. ganhô a Mel que é pretinha, ela ganhô o filhote de uma pit-bull. INFORMANTE 2: Ah! 185 INFORMANTE 1: Eu num gostava dela de jeito nenhum nem ela gostava de mim. Aí eu peguei e falei pro E.: “a Pitty eu não quero aqui”. INFORMANTE 2: Sei. INFORMANTE 1: A Mel ainda pode deixá que é do G.. A Mel ainda pode deixá, mas a Pitty, não. Eu num quero sabê de cachorro de raça de jeito nenhum. Aí, levô pa casa da irmã da S. 190 INFORMANTE 2: Ah! INFORMANTE 1: E ela deu cria/ela arrumou cachorrinho de um cachorro preto e ela deu cria de uns cachorrinho tudo preto. INFORMANTE 2: Ói! INFORMANTE 1: E ela matô todos cachorrinho. 195 PESQUISADORA: Comeu, matô, num gostô de nenhum? INFORMANTE 1: Num gostô de nenhum, matô os cachorrinho/então tem uma tartaruga que é assim de pano, cheia de areia de pô berano a porta. Pá porta num batê. INFORMANTE 2: Sei. INFORMANTE 1: Ah, minha fia. Ela adotô essa tartaruga. Ela carregava essa tartaruga pa todo lado que ela ia. 200 INFORMANTE 2: Oh! INFORMANTE 1: Ela ia pro portão, ela levava a tartaruga e colocava lá. INFORMANTE 2: Gente do céu! INFORMANTE 1: Quando ela vinha pá dento, ela trazia a tartaruga e colocava perto da porta da sala. INFORMANTE 2: Hã? 205 INFORMANTE 1: Quando chegava na hora dela durmi, que ela ia pá casinha dela, ela carregava a tartaruga e colocava lá dentro da casinha dela. INFORMANTE 2: Gente! INFORMANTE 1: E ninguém punha a mão na tartaruga. INFORMANTE 2: Dicerto era porque era preto. Dicerto, os cachorro preto ela num quis. 210 INFORMANTE 1: Com certeza. PESQUISADORA: Decerto ela achou que não parecia com ela, sei lá. Falou “decerto não é meu”. INFORMANTE 1: Depois ela deu cria de novo e ela/teve que leva ela no veterinário. Aí ela deu uma febre nela/foi igual a Mel/A Mel deu febre nela também/A Mel não a Téia. PESQUISADORA: Aí morreu? 215 INFORMANTE 1: Aí ela morreu. Quando foi um dia, ela amanheceu morta. INFORMANTE 2: Hum! Mas é engraçado! Cachorro/ quarqué criação que é mais de estima eles é pirseguido pá sumí. Quando é umas criação ( ) lá uma vaca ( ). INFORMANTE 1: Eu tinha uma que era coisa mais linda. Era cachorro de criança. PESQUISADORA: É, o que? 220 INFORMANTE 2: A quê lá vê/uma vaquinha pretinha e tem umas que é mais bonita, aquela ali é mais mansinha e mema coisa é cachorro ( ) tem uns mais mansinho. É /É mais perseguido. Cachorro/ ( ). INFORMANTE 1: O que que é isso? PESQUISADORA: Café, uai. INFORMANTE 1: Ah, eu num quero não. 225 TERCEIRO: (Pretinho básico). PESQUISADORA: Daí, eu tomo. INFORMANTE 2: ( ) PESQUISADORA: Café é tão bom. INFORMANTE 2: ((Risos)) 230 PESQUISADORA: Nossa que desprezo! ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 5 INFORMANTE 1: É que um num gosto de café sozinho. PESQUISADORA: Nossa, ela te cantô pra trazê um biscoito. TERCEIRO: (não, cê num tá tomando café sozinha. Tá tomando café com a G., com a tia G.) INFORMANTE 1: ((Risos)) 235 INFORMANTE 2: ((Risos)) TERCEIRO: (num é sozinha) PESQUISADORA: É, mas não vai impolgá e mordê a gente não, né? INFORMANTE 1: Mais eu não gosto de café sozinho. Mas é um barato tia G., eu gosto de café,mas não sozinho. INFORMANTE 2: Ah, gente. 240 INFORMANTE 1: Igual ocês, pegá café pô no copo e tomá, eu não. Tomo de jeito nenhum. INFORMANTE 2: É de graça. PESQUISADORA: Eu tomo café sozinho direto. INFORMANTE 1: Se tiver qualquer coisa de comê, eu tomo café. INFORMANTE 2: Ah! 245 PESQUISADORA: Eu pego café sozinho/Pego uma xícara de café e vô tomano. INFORMANTE 2: Eu tamém. INFORMANTE 1: Eu não. INFORMANTE 2: Eu tamém sou dexe jeito. INFORMANTE 1: Lá em casa eu faço café se tivé alguma coisa pra comê ou quando chega alguém. 250 INFORMANTE 2: Ah! INFORMANTE 1: (Mas o contrário pra mim só). Eu tenho nescafé só pá pô no leite. Café eu gosto dele no leite. INFORMANTE 2: Não, lá em casa o Luís quase não é de café. Nem bebe. Mũto custoso. Ê gosta é de refrigerante, cum pão, cum carne, mas café não. Eu tenho que fazê todo dia pra mim. Aí eu ponho na minha garrafinha e sobra um restinho. 255 INFORMANTE 1: E a senhora fuma tia G.? PESQUISADORA: A senhora fuma? Ah! INFORMANTE 2: Fumo. INFORMANTE 1: Nunca vi ela fumano. PESQUISADORA: Também não 260 INFORMANTE 1: Mas como ela falô que ela faz café todo dia/porque sempre quem fuma que... PESQUISADORA: Mas a senhora fuma um cigarro de palha? INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Hã! INFORMANTE 1: Quem fuma é que gosta de café. 265 INFORMANTE 2: Gosta de café. Então é dexe jeito. Aí depois mais tarde fica lá na garrafinha. Jogo o resto fora de noite ou cedo. Tem dia que eu bebo mais, principalmente quando o tempo tá frio, aí eu sou mais beradera de garrafa de café. Aí eu bebo aquea garrafinha. INFORMANTE 1: Eu não! Eu gosto mais é de um chá. Ixi! Eu num tenho preguiça de fazê um chá. INFORMANTE 2: Ah, gente! 270 INFORMANTE 1: Eu gosto dele bem quente, bem quente memo. Esse chazinho de afavaca, de hortelã, eu só não gosto de funcho. Funcho eu não gosto não. INFORMANTE 2: Mas aí o funcho é bão pá saúde tamém. INFORMANTE 1: O funcho / eu acho que ele tem gosto de gurdura. PESQUISADORA: Tia G.,que chá a senhora costuma fazê? Senhora faz chá ou nada? 275 INFORMANTE 2: Não, de vez em quando eu faço ( ) de funcho e hortelã no meio. INFORMANTE 1: Ah eu gosto! INFORMANTE 2: Mas é muito custoso. O hortelã tá meio acabadinho, mas hortelã é bão. INFORMANTE 1: Ó! Eu faço / de hortelã / na minha casa eu tenho o pé de hortelã / que ele morre e eu pranto de novo. 280 INFORMANTE 2: Hum! INFORMANTE 1: Mas o hortelã/ eu gosto dum chá de hortelã, um chá mate... INFORMANTE 2: Ah é! O mate tamém é bão. INFORMANTE 1: Que aí eu ponho o hortelã junto. PESQUISADORA: Antigamente o povo usava muito chá para doença, né? 285 INFORMANTE 2: Ah, Nossa! O povo nunca prucurava dotore, num prucurava remédio, num prucurava farmácia não. Quando ficava mũto duente/ mũto ruim lá na roça ( )... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: Mas acontece, quando tava muito ruim muntava de cavalo e ia lá no Carmo buscá remédio. Lá na Ventania. Ota hora naquês povo de “mepatia” Ah! Eu lembro. Esturdia memo, nóis tava falano. ( ) N./ peguei 290 e falei pra ele “aquê home é meio parente meu”. Até lá, o dia da festa dos Pinheiro, ês me mostrou ele/ se eu ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 6 lembrava “ah eu não lembro não”. Num sei que que ele tem na Ventania, num sei se é loja, nem sei que porcaria que é ( ). Aí era ele e o pai dele ( ) /e era bão pra tratá da mepatia que era um trem. Era aquês remédio iguale uma águinha na cuié. E minha avó era meia biruta. Era pá bebê poquinho e ela já punha na xícara. Falava pro papai: “Ah cumpade Gerardo vamo pô uma medida maió porque isso num vai valê de nada memo. Tá muito 295 fraquinho”. INFORMANTE 1: ((Risos)) INFORMANTE 2: Mandô! Ea muntuô na hora. Dormiu doi’ dia. Aí papai falou: “que que deu na idéia da cumade M. Ela disse que era fraquinho, era poquinho, só tinha um gostinho ( )”. Mas o povo curava era com isso e chá. Fumentação tamém. 300 PESQUISADORA: O quê? INFORMANTE 1: Fumentação. INFORMANTE 2: Fumentação. PESQUISADORA: O que é isso ? O que era fumentação INFORMANTE 1: Fumentação é assim: quando cê tava com uma dor/tipo assim/ ocê tinha muita dor eles fazia 305 aquele ( ) como que é sinapismo? INFORMANTE 2: Sanapismo. Eu tinha um medo daquilo pega fogo ni mim. INFORMANTE 1: E eu intão. Morria de medo PESQUISADORA: Fumentação e fazia san/sanapismo? O que que era, botava fogo? INFORMANTE 1: Não! 310 PESQUISADORA: Era alguma coisa quente? INFORMANTE 1: Era/Era/Eles fazia da semente da mustarda. Oh, mas aquilo lá queimava. Nossa Sinhora! INFORMANTE 2: O carderão ficava na perna. INFORMANTE 1: Intão quando doía muito/ tinha uma dor num lugar, a gente pegava aquela semente de mustarda e esmoía ela com a garrafa. 315 INFORMANTE 2: Hã? INFORMANTE 1: E colocava o quê? Sal né? Vinagre? Que que era, eu não sei. Será que num era água não? Eu tamém num lembro não. INFORMANTE 2: Ês fala que a mustarda é quente, é remosa. E é memo? INFORMANTE 1: E colocava no pano. 320 PESQUISADORA: Remosa? O que é remosa? INFORMANTE 2: É trem quente ( ). INFORMANTE 1: É da natureza dela, trem forte. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE 1: Aí, e pega e colocava aquela prasta/ colocava aquela erva Santa Maria tamém, ês gostava de 325 colocá ela. PESQUISADORA: Erva Santa Maria? INFORMANTE 1: Ês gostava de colocá aquilo na gente, enrolava um pano. INFORMANTE 2: Queimava. INFORMANTE 2: Nossa Sinhora, aquilo queimava. 330 PESQUISADORA: Deus meu livre! INFORMANTE 1: E não é quente não. Num era colocada quente. Era da natureza memo do remédio. INFORMANTE 2: É/ A mustarda tem até uma meia ardidinha ela é gostosa ( ). INFORMANTE 1: Pá cumê né? INFORMANTE 2: É. 335 INFORMANTE 1: É. Mas eu lembro de fazê da semente dela. INFORMANTE 2: Mas agora, o sanapismo, papai fazia mũto aqui na gente. Quando era uma dor de dente, uma dor de cabeça.( ). Papai fazia ni nóis. Quando ele vinha a gente até incuía de medo. “Não tem pirigo não.” Uai, vai pô fogo nas perna da gente. PESQUISADORA: ((Risos)) 340 INFORMANTE 2: Punha fogo. Dexa eu vê, cumé que era. INFORMANTE 1: Eu num sei como que fazia . INFORMANTE 2: Dexa ô vê. Agora que eu tô cum copo na mão ( ). INFORMANTE 1: Ah, eu lembro ( ). PESQUISADORA: O sanapismo não é a mesma coisa do/como que chama o outro? 345 INFORMANTE 2: O sanapismo é isso de queimá. INFORMANTE 1: É, é esse. INFORMANTE 2: É o outo era/Ai como que era/falava emprasto/ assim. INFORMANTE 1: Emprasto, mas o emprasto era mais fraco. INFORMANTE 2: É. Não, papai fazia ( ). 350 PESQUISADORA: Não, como que chama o que cêis falaram primeiro? Fumentação? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 7 INFORMANTE 1: Ah, fumentação? INFORMANTE 2: Fumentação. PESQUISADORA: Era diferente de sanapismo? INFORMANTE 1: É. 355 INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Não era mesma coisa. INFORMANTE 1: Não, a fumentação era assim ó... INFORMANTE 2: O papai punha assim, arrumava um algodão dento do copo, punha arco, pegava um palito de fosfo, jogava e jogava na perna da gente. 360 PESQUISADORA: Que que isso? Queimava. INFORMANTE 2: Pregava. PESQUISADORA: Pregava? INFORMANTE 1: Pregava o copo/ a fumaça/ a fumaça puxava assim na perna da gente que o copo ficava grudado e não saía. 365 INFORMANTE 2: E era ( ). PESQUISADORA: Consertava? INFORMANTE 1: E não queimava a gente não. A gente que ficava com medo de queimá, mas num queimava não. INFORMANTE 2: Porque vinha aquê fogo/aquê copo queima/o copo pega estalá/quebra. ( ) E era uma beleza 370 pá dor de dente. o povo era muito sufrido memo. INFORMANTE 1: Era sufrido. Nossa Sinhora. INFORMANTE 2: É por Deus memo. Da moda, essa idéia e num queimá a pessoa e era bão remédio. PESQUISADORA: Emprasto era quando... INFORMANTE 1: Emprasto era quando fazia assim/era/era mato, era pranta. Então pegava a pranta colocava 375 numa “vazia” ocu pano. A mamãe massava num pano. Massava, massava, mas o que que colocava eu num sei. Depois vinha caquele punhado de coisa e batia no lugar da gente assim ó. PESQUISADORA: E enrolava um pano? INFORMANTE 1: É. Não, esfregava. O emprasto esfregava, esfregava, esfregava ali ó. INFORMANTE 2: Eu lembro, era hortelã. 380 INFORMANTE 1: O sanapismo era que colocava... INFORMANTE 2: Aquê ramo que dá ( ) mentruste. INFORMANTE 1: É mentruste. INFORMANTE 2: É, hortelã. PESQUISADORA: Hortelã, mentruste. 385 INFORMANTE 2: Que mais? Nossa, punha um tanto de trem. PESQUISADORA: Mentruste, é aquele que chamam também de mentraste? INFORMANTE 1: Não. INFORMANTE 2: Não. Mentraste é aquê de florzinha branca. Mestruste dá é rasterinho assim. Aqui nessa horta eu já vi mũto. 390 INFORMANTE 1: Mas ele dá em lugar fresco. PESQUISADORA: Mentruste serve pra quê? INFORANTE 1: Pra machucado. INFORMANTE 2: Pra tirar a dor tamém. PESQUISADORA: Eu ouvi falar esses dias que aquele negócio que dá na carne/ na carne não, na arvore também 395 cura ferida, quando cê risca a árvore. INFORMANTE 2: Oreia da árvore? Não? PESQUISADORA: Tipo uma resina, sei lá. INFORMANTE 2: Não, mas era isso que eu ia te falá. INFORMANTE 1: Então, sangra d’água, sangra d’água é uma beleza pra esse negócio aqui. 400 PESQUISADORA: O que que é sangra d’água, é aquela resina? INFORMANTE 1: É uma resina de árvore. INFORMANTE 2: ( ) aqueas árvona do campo do Z. D., ali tem. Inda tava comentano cum T.: “uai, T. cê alugo pá Osina e inda num cortô aquea árvona?”. Mas num pode cortá essa árve. Essa qualidade ( ) aquea árve de óleo devia dá um tanto de madera. Ah. Esse povo da Osina caba cum ea. Um lá nos Pinheiro tinha dessa arve. 405 No caminho que nóis ia pá escola e o papai taiava, taiava a ( ), tirava por riba e fazia aquê coro da árve, pingava aquilo ali ó, a resina dela, aí caía umas fumiguinha, uma foinha, um cisquinho num sei se cê chegou a vê esse remédio D./ chamava de Óleo de Capaúva. INFORMANTE 1: Óleo de Capaúva, eu já vi. PESQUISADORA: Óleo de Capaúva? 410 INFORMANTE 2: É ( ) tanto que aquea árve ali chama Óleo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 8 PESQUISADORA: Óleo? INFORMANTE 2: Árve de óleo... árve de óleo. ( ). INFORMANTE 1: Óleo de Capaúva é bão pra reumatismo. INFORMANTE 2: É! 415 PESQUISADORA: Cortava a árvore? INFORMANTE 2: Fazia uma gamela lá. INFORMANTE 1: Vamo supô... PESQUISADORA: Gamela é uma vasilha? INFORMANTE 2: Não, do pau memo ( ). 420 INFORMANTE 1: Não, assim ó, a árvore. PESQUISADORA: O que que é fazer uma gamela na árvore? INFORMANTE 1: Não, é assim ó: a árvore é reta né? Corta reto assim depois corta assim chanfrado assim? Aí, que fica tipo dum cocho aí a resina vem e para aqui onde cortô reto. PESQUISADORA: Ah, é tipo quando seringueiro vai fazê, já vi, já vi. 425 INFORMANTE 2: Ah. E é um remedião. ( ). INFORMANTE 1: Óleo de Capaúba eu já vi falá que é muito bão. INFORMANTE 2: Agora, hoje em dia, da moda, nem tem essas árve mais. INFORMANTE 1: Não. INFORMANTE 2: Cê fala cortá uma árve desse jeito ( ) papai fazia. 430 PESQUISADORA: Cê vai corta uma árve dessa, o Ibama já vem. INFORMANTE 2: Cadeia em riba na hora. INFORMANTE 1: Tia G., qué vê uma coisa que o papai fazia pá nóis e era um santo remédio. Quando/hoje eu falo criança não acontece isso mais, né? Por que que as criança ficava empachada. PESQUISADORA: Empachada é barriga dura? 435 INFORMANTE 1: É, ca barriga dura. Batia e fazia assim puc, puc, puc. INFORMANTE 2: É. É. INFORMANTE 1: E eles pegava aquela cuié de pau. INFORMANTE 2: É! INFORMANTE 1: Quentava no fogo até ficá quente memo. 440 PESQUISADORA: Punha na barriga? INFORMANTE 1: E pegava ela e passava assim pra baxo assim. INFORMANTE 2: É. INFORMANTE 1: Eh, minha fia, o negócio discia, mais discia cum tudo. INFORMANTE 2: É. 445 INFORMANTE 1: Dava uma cagança na criança, mas aí a barriga desvanecia. INFORMANTE 2: A cuié de pau era remédio pá tudo. Num sei se cê lembra/pá caxumba né? INFORMANTE 1: Pá caxumba eu lembro. INFORMANTE 2: Quentá a cuié ( ). INFORMANTE 1: Cuié de pau e a foia de cabaça né? 450 PESQUISADORA: Cabaça é aquele?... INFORMANTE 1: Cabaça é aquela abroba que a gente num come. PESQUISADORA: Aquela dura? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Que serve de enfeite? 455 INFORMANTE 2: Não, a foia da cabaça eu num lembro não. Eu lembro é da ( ). INFORMANTE 1: Eu lembro dês colocá no T., meu irmão. PESQUISADORA: ( ) INFORMANTE 2: (E demora) tudo era remédio, tudo sarava. O povo cresceu, sarô, ficô tudo véio, morreu. INFORMANTE 1: Intão, sabe o que o papai dava muito pra nóis? 460 PESQUISADORA: ((Pingo)) INFORMANTE 1: Que quando tava/dava aquele/cumia alguma coisa, deve que cumia e fazia mal. PESQUISADORA: ((Psiu)) INFORMANTE 1: Papai mandava a gente bebê urina. PESQUISADORA: Credo! 465 INFORMANTE 1: Intão, Nossa Sinhora da Parecida. Cê custava a tomá um golo de urina. Era um santo remédio. PESQUISADORA: Ah, nem se fosse psicológico. INFORMANTE 1: E quando a pessoa tava na roça e tava cum muita febre, muita febre e dor de cabeça. ( ). Ele cortava peroba, rancava aquês cavaquinho de peroba e punha pá fervê. A gente tomava aquilo ( ). PESQUISADORA: Tomava cavaquinho de peroba pra quê? 470 INFORMANTE 1: Pá colerina. Senhora lembra quando ês falava que dava colerina? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 9 PESQUISADORA: Que que é colerina? INFORMANTE 1: Colerina hoje é o que? É...diarréia INFORMANTE 2: Geratação. Da barriga pra baixo. INFORMANTE 1: É vumitá e cagá. 475 INFORMANTE 2: ( ) PESQUISADORA: E a colerina era provocada porque? Água suja? INFORMANTE 1: Ah, num sei. INFORMANTE 2: Num sei se era de cumê, capaiz ( ) as água suja. INFORMANTE 1: Acho que era as água. 480 INFORMANTE 2: As água suja, os porco. Num tinha muita higiene cas coisa. Era limpo e lavado, mas era só cum sabão.( ) INFORMANTE 1: Não, e ota. Tomava água da bica memo, a gente nunca sabia que que vinha naquela água. INFORMANTE 2: ( ) INFORMANTE 1: E sabe duma coisa que fazia muito mal pá gente? Isso eu não esqueço. Porque a gente 485 trabaiava na roça, o sol quente, a gente tomava aquela água morna na cabaça. Nossa aquilo era ( ). INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Aquilo era difícil de descer? INFORMANTE 1: Não, aquilo era um veneno, fazia mal mesmo. INFORMANTE 2: É, é. 490 PESQUISADORA: A colerina é capaz que dava a partir disso daí. INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Colerina seria a cólera de hoje? Que é uma dor de barriga muito forte? INFORMANTE 1: É. Deve sê né? INFORMANTE 2: E, é engraçado, que a pessoa caba assim, se começa de noite quando é madrugada ela já não 495 consegue ficá em pé. Aconteceu com o C. J., aqui, pai do Z. INFORMANTE 1: O papai quando morava naquela casa ali. Um dia deu nele, ele tava vindo da cidade. Ele pediu o home/sei lá do que que ele tava vindo, se era de caminhão ou ônibus, sei lá o que. Ele pediu pra descê, desceu num lugar muito longe e ele veio a pé e dava/ e chegô em casa e esse papai rolava de dor e cãiba. Aí dava tanta cãiba que dava aqueles caroço na barriga dele. 500 INFORMANTE 2: Ah! Uma tal de colerina. INFORMANTE 1: Na mamãe também deu eu lembro. INFORMANTE 2: Lá em casa eu acho que no papai e na mamãe ( ). Es tinha muito medo de dá ni nóis, mas lá em casa graças a Deus nóis nunca deu. INFORMANTE 1: Eu lembro de dá só no papai e na mamãe. 505 PESQUISADORA: Mas o que que dava doença antigamente? INFORMANTE 2: Dor de ouvido forte em criança, dor de barriga. Era tanta coisinha. Tiriça né? INFORMANTE 1: Tiriça. PESQUISADORA: Que que era tiriça? INFORMANTE 1: Uai, tiriça era/hoje é. 510 INFORMANTE 2: Uai, hoje é tiriça memo ( ). INFORMANTE 1: Não, ês fala é o que é? PESQUISADORA: Tiriça é por fora? Aquela grosserinha? INFORMANTE 1: Não. INFORMANTE 2: Ês fala até hoje, é mas ( ) amarelão dá/a pessoa dá amarelão. 515 INFORMANTE 1: Hoje ês fala hipatite. INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Ah. Tiriça era... INFORMANTE 1: Hipatite? INFORMANTE 2: E só dava nas criança e curava cum picão né? 520 INFORMANTE 1: Picão. Mas hoje hipatite é curada cum picão. PESQUISADORA: Mas hepatite é aquela A, aquela fraca? INFORMANTE 1: É aquela fraca. Então a gente fala tiriça. PESQUISADORA: Tiriça? INFORMANTE 1: Também tinha bertoeja. 525 INFORMANTE 2: Isso memo. PESQUISADORA: Bertueja? INFORMANTE 1: Ah, agora é bertueja. Eu não sei o que é bertueja. PESQUISADORA: Bertueja, eu acho que é o que eles chamam de brotoeja. Eu acho. INFORMANTE 1: ( ) 530 PESQUISADORA: Brotoeja é tipo uma coceira né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 10 INFORMANTE 1: É uma coceira, mas dá em neném tamém. PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: E ês fala que num pode batizá a criança caquilo, né? INFORMANTE 2: É. 535 INFORMANTE 1: Bertueja batizada nunca sara. INFORMANTE 2: É. Aqui, male-oiado tamém num pode. INFORMANTE 1: ( ) INFORMANTE 2: Tem que benzê as criança... INFORMANTE 1: Antes de batizá. 540 INFORMANTE 2: Antes de batizá pá num ficá com o oio ruim/jogá oio ruim. É umas coisa que é certa, mas parece bobeira. INFORMANTE 1: Ah, é umas coisa antiga, mas gente, né? ( ) PESQUISADORA: Ah, tem coisa que a gente tem que respeitá, né? INFORMANTE 2: Vai mudano, mudô tudo ( ). Tem que mudá na moda do causo. Eu lembro quando a 545 mamãe/A G. tá cum apareinho ligado/( ). PESQUISADORA: Esquenta não/esquenta não tia G. INFORMANTE 1: Ah, probrema dela. PESQUISADORA: Finge que ele num tá aqui: eu já aproveitei um monte coisa aqui. Pode continuá. INFORMANTE 2: É a iscola. 550 PESQUISADORA: É a escolinha do professor Raimundo. INFORMANTE 1: Iscolinha do professor Raimundo. INFORMANTE 2: Quando a mamãe tava esperano neném/ porque nóis morava lá nessa roça/ e ela tá lá do memo jeito. Agora não/ Agora lá é ota roça, tem ( ) todo mundo tem carro. Mas lá era um ermo escondidinho, só passava doido. Mamãe gosta de doido/ quando nóis era pequeno/papai saía pra tabaiá./ Quando a mamãe tava 555 esperano neném sabe como era sofrido pra ela? Eu poco me lembro porque eu era mais véia. Todo mundo tinha aquela vergonha dos fio, tinha que prendê a barriga. Aí ninguém via ( ) fazê enxovalzinho iguale hoje/compra. INFORMANTE 1: Iscundia ne? INFORMANTE 2: A mamãe fazia dos trapinho, de ro[u]pa véia na mão, na máquina. Fazia na mão. /É. E tamém/tinha um negócio/Ês falava a frarda da camisa. 560 INFORMANTE 1: A mamãe também fazia. INFORMANTE 2: Que era o primero pano que tinha que pô. PESQUISADORA: O que? Como chamava? INFORMANTE 2: A frarda da camisa pá pô nas criança. INFORMANTE 1: Que nem nóis/ ês fala assim a barra da camisa, a parte de baixo da camisa, falava a frarda de 565 camisa. INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE 2: Aí tinha que tirá/ês falava paninho de bunda, hoje é fraldinha. PESQUISADORA: Paninho de bunda? ((Risos)) 570 INFORMANTE 2: É. Aí fazia tamém um de pô no imbigo/redondinho/vai as tirinha por riba/sabe como a mãe fazia aquilo/fazia pos quarto iscondida. Enfiava de baixo da cama. Óia o tanto que nóis era bobo. INFORMANTE 1: E nem oiava. INFORMANTE 2: Num balainho debaxo da cama. PESQUISADORA: Num pudia mostrar? 575 INFORMANTE 2: Hein? Ah o povo era mais de vergonha. Num pudia mostra. INFORMANTE 1: Uma bobeira de fazê iscundido. INFORMANTE 2: Isso memo. INFORMANTE 1: Mas a mamãe também fazia. INFORMANTE 2: E criava aquê tanto de fio e aquea pobreza, aquele aperto. Oh, criô todo mundo. Todo mundo 580 cresceu, cumeu, bebeu, prendeu trabaia. Tá tudo véio, graças a Deus. INFORMANTE 1: Era aquela coisa custosa. Ota coisa menina/que eu lembro ( ) da minha vó daná cum nóis, no tempo do frio. A gente era mũto desmanzelado. Por isso que eu falo lugar atrasado ( ). Nosso pé ficava carranhento. Minha vó chegava lá ( ). Ela chegou “nossa seu pé tá muito carranhento” cêis vai embora lá pá aquea bica d’água pô esses pé de moio/cum/ e esfregá farelo/ paia de arroiz, farelo de arroiz”. 585 INFORMANTE 1: Ah, eu lembro da mamãe esfrega ( ). PESQUISADORA: Aí limpava o pé? INFORMANTE 1: Fejão, fejão cozido. A mamãe falava fejão pagão. Pegava aquele fejão pagão e massava na mão assim... PESQUISADORA: A minha mãe fala também, feijão pagão é feijão inteiro, né? 590 INFORMANTE 1: É. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 11 INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Cê cozinha, mas ele fica inteiro. INFORMANTE 2: É. INFORMANTE 1: Aí cê pegava aquê fejão pagão/ É pagão porque não tem nada. Num tem sal, num tem 595 gurdura, num tem nada. PESQUISADORA: Ah, por isso que é pagão? INFORMANTE 1: Ela massava ele assim, passava na nossa cara, passava nos nosso pé. INFORMANTE 2: Ah! INFORMANTE 1: Eu falo, hoje num tem criança macuquenta mais. 600 INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Ah, tem. INFORMANTE 1: Ah! INFORMANTE 2: Ah! PESQUISADORA: Num tem macuquenta como antigamente, mas tem sim. 605 INFORMANTE 1: Ih, minha fia. Rachava os pé/ por uma assim que dava no sangue. As mão das criança, assim, tudo rachava. INFORMANTE 2: Ah, mas num tinha nada de passá, num tomava banho direito. Lavava na bacia ( ). INFORMANTE 1: Ah, num sei o que que era. Só sei que rachava. INFORMANTE 2: As casa/ a nossa num era não/ mas era tudo casa de chão. A nossa era ( ) 610 INFORMANTE 1: De taco? INFORMANTE 2: Não, ela era de uns tijolão largo, parece tijolo. Lisinho. Depois/ Ota coisa ali, que ês fala que é ruim aparece perto de casa: largatixa./Agora, na minha vó era cozinha de chão./ INFORMANTE 1: essa é largatixa, não é calango não. INFORMANTE 2: É largatixa. E... 615 PESQUISADORA: Parente do calango. INFORMANTE 2: ( ) era tudo de assuiaio de tábua. O L. fica veno bobeira na televisão/ê fala que isso aparece perto da casa é ruim. Lá em casa tinha um que morava perto do currale, entrava nos buraco. Acho que até o gato pegou/sumiu faz tempo. Es fala que isso é ruim ( ). É bão tê aquele ramo catingudo ( ). PESQUISADORA: Aquele ramo o quê? 620 INFORMANTE 2: Aquê ramo catingudo. Uns fala gambá e oto num sei que/ chama. INFORMANTE 1: Guiné. Ês chama ele de guiné. INFORMANTE 2: É. Que é bão tê ele em casa. Isturdia eu cortei um tanto. Aí o L. falô “Cortô mãe? Eu tava aguano ele”. Eu cortei e falei: “Ah, ( ). E ota coisa que o papai usava G., que hoje eu tava lembrano como que o povo era sofrido, mas era inteligente. Ia serrá a madera... 625 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: ( ) num sei se a Dade chegô a vê o pai dela. ( ) ((como que pode sê assim)). PESQUISADORA: Que que era? Ele usava o quê? INFORMANTE 2: Pá serrá madera, serrá tábua. PESQUISADORA: Hã? 630 INFORMANTE 2: lá no B. M./aquê dia que cê foi lá/capaiz de lá ainda tê a serra/ ainda. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: É um serrotão. Cê lembra daquilo Dade? INFORMANTE 1: Lembro. INFORMANTE 2: Tinha a arça de pegá dum lado e o oto doto. 635 INFORMANTE 1: Um ficava lá em cima e o oto cá embaxo. INFORMANTE 2: Aí fazia assim ( ). INFORMANTE 1: Estaleiro, né? INFORMANTE 2: É, estaleiro. Acho que era num barranco. E punha umas furquia, sei lá. Duas furquia. Fazia aquê estalero e jogava aqueas tora desse tamanho assim em riba. Ês tocava aquilo de pau. 640 PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE 2: Aí papai trabaiava embaxo. Daí eles ( ) aço que lavrava aquês pau primeiro. INFORMANTE 1: Ês fazia assim, sabe G. Bão num sei se ( ) igual a tia G. lembra, se é igual quando eu lembro. Ês ia num lugar no barranco, aí cortava o barranco retinho assim e pra cá e tirava bastante terra e ficava na altura que o home ficava embaxo e o oto em cima que o debaixo dava pá fazê assim sabe. 645 INFORMANTE 2: É. Era assim. INFORMANTE 1: Aí, eles colocava dois pau de lá e dois assim em cima do barranco. Ês vinha rolano aquela/porque és num dava conta de pega aquela madera e colocá em cima. INFORMANTE 2: É. É. PESQUISADORA: hã? 650 INFORMANTE 1: Aí, és colocava a madera lá em cima e vinha rolano assim até ele vim em cima daquele pau. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 12 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: É. INFORMANTE 1: Aí um ficava lá em cima e o oto embaxo. PESQUISADORA: Mas eles falavam que iam fazê o quê? 655 INFORMANTE 1: Serrá. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE 1: Era serra. PESQUISADORA: Mas como que chamava o negócio? Serra? INFORMANTE 1: Serra. 660 INFORMANTE 2: Mas o coisa que fazia assim era o estalero né? O papai falava. INFORMANTE 1: Estalero. INFORMANTE 2: ( ) Acho que ês lavrava madera. INFORMANTE 1: Lavrava. INFORMANTE 2: E riscava. 665 PESQUISADORA: Lavrar é o quê? Cortar? INFORMANTE 2: Aí, ês lavrava assim ( ) redondo. Aí, pra ela ficá quadradinha. INFORMANTE 1: ( ) pô ela quadrada. INFORMANTE 2: Daí riscava de lápis dum lado e de oto pá saí certinho na tábua. INFORMANTE 1: Aí ês riscava assim/vamo supô que a /ês lavrava o pau que é redondo, né? Pá ê ficá quadrado. 670 Lavrava de lá, depois lavrava de cá, depois de cá. Aí colocava ê em cima do estalero, aí és riscava a largura/a grossura que ês queria a tala. Aí riscava assim. Aí ele tinha/o que tava lá em cima tinha que passá/ que batê a serra só em cima ali e ia serrano ali. Ia serrano. Ia serrano. PESQUISADORA: Hã! INFORMANTE 2: O dibaxo tamém era a mesma coisa, num pudia perdê o ( ). 675 INFORMANTE 1: Não, o dibaxo num pegava o risco porque o dibaxo num dava pá oiá pá cima. O dibaxo era só pá puxá. INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Ele só fazia força. INFORMANTE 1: Eu mesmo puxei. Eu mesmo ajudei muito serrá aquilo lá. 680 INFORMANTE 2: Ah! INFORMANTE 1: Mas eu só ficava imbaxo. INFORMANTE 2: Não, eu lembro ( ) cê ficava em cima? INFORMANTE 1: Eu em cima, eu nunca fiquei. INFORMANTE 2: Ah! 685 INFORMANTE 1: Eu só ficava imbaxo/que o de cima ele tinha/além de sê pirigoso lá em cima ele ainda tinha que tê força pá impurrá ela pá baxo e o oto puxá. PESQUISADORA: Hum. INFORMANTE 2 : Eu lembro é/eu ia levá cumê po papai/mais o véio chamava C. A. Infiava po mato adento e num tinha medo. 690 INFORMANTE 1: Ah! INFORMANTE 2: Eu morava no meio do mato tamém. Aí ê falava assim. INFORMANTE 1: ((Ô beleza)) ((Mais ficou linda limpinha)) INFORMANTE 2:((Nossa mas ficô)) Aí. INFORMANTE 1: ((Ela tava doidinha pá tomá banho)) 695 INFORMANTE 2: Ó p cê vê... INFORMANTE 1: ((Tá toda cherosa?)) INFORMANTE 2: Aqui. “Cê pode entá dento do mato naquê caminho das árves, quando cê escutá o baruio da serra cê pode í[r] ino.” Só que lá dento do mato era limpinho. Aquê tempo tamém num tinha onça, num tinha nada e o rio era até perto. Aí eu catava a cuínha de cumida e se mandava. 700 PESQUISADORA: Catava o quê? INFORMANTE 2: Cuia. Levava cumida era na cuia. INFORMANTE 1: A cuia é feita de cabaça. PESQUISADORA: Aí levava cumida dentro da cuia? INFORMANTE 2: É desajeitado/tinha que carregá assim ó. Aí ê tinha um biquinho tarrancava naquilo ali./Pirigo 705 caí caquilo/quebrá a cuia e ainda perdê o cumê. PESQUISADORA: Dizem que ontem apareceu uma onça por aí. Anteontem. Aqui. Será que é mentira deles? INFORMANTE 2: Ah, mas tá todo mundo falano que tá apareceno onça aqui por bera memo. INFORMANTE 1:((Nossa que beleza)) INFORMANTE 2: ((Ficô muito linda)) ((Ficô mũto chique)) 710 PESQUISADORA: Chique demais... ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 13 INFORMANTE 1: Aonde cê vai? PESQUISADORA: ( ) ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 2 INFORMANTE: J.B. (75 anos, Analfabeto, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 14 PESQUISADORA: É o seguinte seu Z., o senhor vai contá uma história de antigamente, quando o senhor morava/ o senhor era piquinininho e morava lá naquela roça. INFORMANTE: Hum! Quando eu era piqueninho desse tamanhozinho assim, era feinho que era uma coisa triste. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí, um dia meu pai falô assim: “A. será que quando ê crescê, ê vai ficá mai’ bunitinho? 5 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí minha mãe falo assim: “Óia A., pra Deus nada é impossíve. Aí eu crisci, num fiquei tão feio cumu isso. Porque da moda do oto, graças a Deus, eu casei, né? PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Hoje eu já tô de idade. Todo lugá que eu vô, arrumo namorada. 10 PESQUISADORA: Ó, as namoradas. Num pode contá das namoradas. INFORMANTE: Aí, antão eu acho que o meu pai/ a minha mãe é que tava certa e meu pai tava errado. Porque meu pai achô que eu ia ficá feinho. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí meu pai acho que eu num ia recomperá, né? Ficá mai’ bunitinho, expriente, assim mai’ hum, 15 hum ... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Eu acho que eu num sô mũto dos feio demais, não. PESQUISADORA: Não, o senhor tá bão. INFORMANTE: Pá quem gosta do que tá feio ainda serve, né? Lá no cantinho. 20 PESQUISADORA: Tá certo. INFORMANTE: Antão, na nossa terra, quando nóis morava... PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: O povo lá era mũto nó cego. PESQUISADORA: Por quê? 25 INFORMANTE: Assim ruim, mal. A gente criô lá naquela infermidade, daquê jeito. Ninguém dava valor em ninguém. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Cê ia prucurá a pessoa por uma coisa, num arrumava, danava ca gente, batia. Punha os cachorro por riba da gente. 30 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E aquilo a gente foi ficano revortado caquilo sabe? Po resto a gente ficô até sem tê amizade naquê lugá, cumprendeu? PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE: Aí dispois disso, eu e um irmão meu viremo trabaiá dimais. Trabaiá dimais. 35 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Nóis levantô aquea peteca independê dês, ês ficô de mal cum nóis pur caus’ que nóis tinha as coisa e num dependia dês. PESQUISADORA: Ô, mas era custoso. INFORMANTE: Lá a terra lá era custosa. Quondo/ agora a história que eu queria contá o Z. disse que num pode 40 contá porque é de muié, quondo eu era desse tamãezinho que eu tava quereno morrê... PESQUISADORA: Não, pode. Se não for de namorada pode. INFORMANTE: Tem muié pos meio, é pió ainda que namorada. PESQUISADORA: Não, então pode contá. Conta seu Z. Vamo vê a história de quando o senhor era piqueno. E tava duente. 45 INFORMANTE: Quondo eu era piqueninho, nóis foi quinze minino po Carmo. PESQUISADORA: Quinze meninos era o quê? Eram seus irmãos? INFORMANTE: Quinze minino lá da região que eu morava. PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: Aí, cada quar mais ruim. Morre num morre, morre num morre. Tava cuidano. Um dia morre 50 um. Oto dia morre oto. Minha mãe/morrê fio das ota muié minha mãe chorava. PESQUISADORA: Hã? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 15 INFORMANTE: “A. de Deus, o Z. vai morrê tamém”. Meu pai falava “A. dexa! Se morrê é por Deus, nóis num vai tê fio mais, nóis já tá de idade, é o caçula. Mais dexa se morrê é por Deus.” PESQUISADORA: Hum? 55 INFORMANTE: Um dia minha mãe chegô no médico, o médico falo assim pra ela: “Dona A., os oto já lá vai, tá ficano poco.” PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Desses quinze ficô só ieu lá na rebarba. Os oto tudo/ os oto catorze morreu. Mais ês já tava tudo sequinho, cum bronquite brabo. 60 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: O médico ixpricava um remédio, mais as mãe dês num fazia. “Não, coitadinho, ê já tá sofreno, ranjá jeito dê sofrê mais.” Esse dotor chegô lá/ minha mãe chegô lá. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: No médico um dia. O médico saiu lá ixaminano eu. 65 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Virô assim: “dotor, se o sinhor mandá até cortá um pedaço dele eu corto. Mais eu quero vê esse minino são.” PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: “O sinhor resorve.” Ê falô: “não, intão agora já mudô o jeito, num é remédio de farmácia mais. 70 Se ocê fazê o remédio que eu to manadano, ele escapa.” PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí mandô pô aquê angu de fubá de munho nas costa. Eu tenho o sinale até hoje, quemado, a mancha. PESQUISADORA: Mandô pô o quê? 75 INFORMANTE: Angu de fubá de munho nas costa. PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: Fazia, punha num paninho fininho e punha lá. Aí que chora dereito. /Eu recomperei./ E dotor ( ) “cumu é dona A.?” “Ah dotor, deu uma recompensa muito boa. Ê miorô, tá mais mimosinho e tudo.” Mais eu dei uma recaída de novo. E a minha mãe era mũto devota e a minha madrinha que era irmã. Aí a minha mãe falô 80 pra ela assim: “G. de Deus, o Z. tá morreno.” Aí a minha madrinha chegô e disse: “Mãe/ mais num pode morrê. Nóis tem que levá ê pra tráis, os oto tudo morreu.” Minha mãe falô assim: “mais tamém mais que porta me lá! Qué morrê, que morra! Mais só uma coisa eu vô fazê, vô oiá lá pá serra e fazê um voto: se ê num morrê eu dô ê pás muié.” PESQUISADORA: Hã? 85 INFORMANTE: Aí, eu sarei! PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE: ((Risos)) PESQUISADORA: E sô Z.! Na marra né? INFORMANTE: Sarei, aí recomperô na hora. Aí que que eu tive de fazê. Agora eu saio, chegano na Aparecida 90 do Norte, as muié /mexe pra ‘qui, mexe pra ‘li/ a chefe lá da cozinha. O que manda é o dom da pessoa. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Eu falei assim/ falei assim: ( ) “da manhã em diante essa muié tá cumeno na minha mão.Vô namorá cum ela ( ).” Minha irmã falô: “se tá ficano doido da cabeça? Ela é irmão do sô F.” “Que me porta me lá, pode sê até do prisidente da república.” E nóis tava no tercero andar, no derradero andar lá em cima, quinze 95 andar. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí as lavaderas de ropa por causa de lá corrê o ar, mais gostoso, ia e ficava lá. Aí peguei e fui sabê das lavadera de ropa tudo, “tim tim por tim tim” da vida da muié. Se ela era biata, se ela era largada do marido/ que que era isso. /Ela era largada do marido. /Aí quando foi no oto dia eu fui cunversá cum ela. Falei 100 assim: “ M., eu acho que ocê já foi uma muié mũto sufrida. Eu tenho um poco de curisidade de sabê o pensamento dos oto, sabê a vida dos oto um poco. Eu acho que eu sei. Cê sofreu mũto, no casamento seu, sofreu.” Ela falô assim: “quem te contô?” Falei: “Ninguém uai! Eu tenho moternidade de falá as coisa.” Falei assim: “eu sô meio/ óio a sorte, óio as coisa da vida dos oto, cunheço um poquinho”. Ea falô assim: “Mais cumu, cê num me cunhece, primera veiz que cê me vê, cê sabe?” “Não cê casô cum marido que num te deu valor, o 105 cara era viajante, cara de contrabando, o cara num te deu um pingo de valor. Foi ou não foi? É ou não é? Fala pra mim se é ver/ se é mintira?” Mais as impregada/ as lavadera já tinha me contado tudo. Aí ea falô assim... PESQUISADORA: O sinhor é malandro hein seu Z.? INFORMANTE: “Cumé que vem isso na sua cabeça?” E, até agora, vô te falá, tive namorada na minha infância de criança, tive namorada agora adulto. Muié nunca feiz eu chorá, e essa ( ) da mãe, na hora que eu saí de lá eu 110 chorei. PESQUISADORA: Ô sô Z., paixão hein? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 16 INFORMANTE: Chorei memo. Mais se ocê vê/ cê tem / cê já teve namorado, cê já foi apaxonada. Se ocê vê uma pessoa chorano por você de amore, por amizade, por quarqué coisa assim, cê tamém num riseste. A hora que saí/dispidi assim dela que ea me abraçô, incosto cumigo dum lado do oto.../ Num sô mũto certo da cabeça não. A 115 muiézada gosta de mim, uai. PESQUISADORA: É a promessa da mãe do senhor. INFORMANTE: Hum! Nóis saiu daqui isturdia. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Disliga esse trem aí agora só pra eu te contá esse caso pra eu í[r] imbora. Não esse ( ). 120 PESQUISADORA: Não seu Z. num preocupa não. Pode contá. O sinhor vai contá um de lá da época que o sinhor morava lá nos padre e depois o sinhor conta esse. INFORMANTE: Lá dos padre? PESQUISADORA: Aí eu disligo. INFORMANTE: Lá dos padre. Antão lá vai, vô chutá. Quondo eu morei lá nos pade, primera veiz que cê foi lá, 125 que que o J. falô pra nóis? PESQUISADORA: Num lembro. INFORMANTE: P cê vê ta guardado cumigo até hoje. PESQUISADORA: Que que o J. falô? INFORMANTE: Que que o J. falô? A hora que ocê apiô do carro, que eu peguei na sua mão e fui cunversa cocê, 130 cê lembra que que o J. falô? PESQUISADORA: Não, seu Z. Faz muito tempo, o sinhor tem cabeça boa. INFORMANTE: Mais eu guardei na minha cabeça. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: O J. falô: “tira a mão dessa minina que ea é fia do home mais brabo de dento da cidade.” Cê 135 tinha discido da camionete, ê tava na camionte ainda ( ). “ E quem que é o pai dessa minina?” Aí ê falo assim “é o B.” Aí eu falei assim: “dagora em diente acabô o papo porque é/ nóis dois cumbina iguale irmão. Antão ela é minha subrinha. Vamo bora pegado na mão. Aí desceu ieu e ocê até na porta do rancho pegado na mão. Foi ou não foi? PESQUISADORA: Deve tê sido! A cabeça num é muito boa mais não. 140 INFORMANTE: E dsipois? PESQUISADORA: O que aconteceu depois? INFORMANTE: Depois que que eu dei pro cê trazê pro seu pai? PESQUISADORA: A fita do G.? INFORMANTE: É. 145 PESQUISADORA: Hã! O sinhor ainda sabe algum caso do Gerardinho ainda ou não? INFORMANTE: Mũto poco. P cê vê eu lembro docê. Dispois, cê num tava nessa turma.Aí tinha uma turma lá um dia e invadiu o rancho. Invadiu. Invadiu o rancho que num tinha lugá ninhum pra drumí. Aí eu cheguei lá, em cima e falei assim: “desce o G., é seu irmão. Desce o G., o minino do B., ocê N. e oto lá que era mũto da minha amizade. Desce cêis trêis lá pra baxo, pra drumi lá em casa pá sobrá lugá pras minina. Tinha mais trêis moça lá 150 que quiria drumí lá no E. Aí depois arrumaru um rolo lá que deu pá todo mundo lá. Mais eu ali, J. fora de brincadera ali eu fui um pai pá turma. Foi ou não foi? Fala verdade. PESQUISADORA: Não, com certeza. INFORMANTE: Ali eu fui um pai pá turma. Z. chegava lá, pegava panela grande minha pá fazê frango, pegava as coisa e ieu ia lá pra cima ajudava. Ah! A S. que que ela aprontô lá um dia. A S. tinha ela cumu uma parente. 155 Esse dia lá ela me matô de rarva. Chegô assim perto de mim: “Z. piciso cumê aquê frango lá”. “S. cê num vai cumê aquê frango. Nem preço ninhum. Esse frango eu truxe lá do Santo Antônio, ganhei ele pá cantá no terrero. Ó o tanto de galinha que tem aí. “Não, Z. eu piciso cumê aquê frango. E tem que sê aquele.” Uma frangaiada lá, as galinha, franga, mais duma setenta, galinha lá no terrero. “Não, Z. Eu quero aquê frango”. “Não, aquê não.” “Z. cê num tem dó de mim, de ieu num cumê aquê frango e meu fio nascê ca boca torta, nasce alejado aí? 160 “Simone cê tá cum rolo cumigo!” “Não, ( )”. “Não, num vô dexá matá.” Chega o neguinho ca’quea cara mais safada: “ô Z. ea ta grávida sim. Sinhor dexa ea cumê o frango. Pôe preço, nóis paga aí.” “Não, D. Num tem preço ninhum. Pra mim é pra criá. Aí num dei. Uma hora ea vai ( ) o D. pega esse danado desse frango e mata. Matô o frango. ( ) Nóis tudo armuçano lá, ea dá aquea gaitada e ( ) F., eu gosto dimais do F., da M. Dá aquea gaitada “eh Z., cê caiu no bico da/ bico meu hein?, num tô grávida coisa ninhuma, Z.! Eu cumi seu frango de 165 graça.” ( ) mais pra que que quiria matá aquele né? Ô bicho custoso! PESQUISADORA: Sô Z., o sinhor tem saudade do seu Ita? INFORMANTE: Eu tive lá há pocos dia. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Tá cum/ ainda num tem mêis ainda né? Que eu fui lá. 170 INFORMANTE 2: É capaiz que não né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 17 INFORMANTE: Num tem mêis ainda não. Trabaieie trêis/duas semana e meia po M. Eu fui lá/ fui lá mas eu gosteio. PESQUISADORA: Por que? INFORMANTE: Adorei do rancho. Tá uma beleza. 175 PESQUISADORA: Tá? INFORMANTE: Faiz tempo que cê num vai lá? PESQUISADORA: Faiz, nunca mais voltei. A última veiz que eu fui, foi quando o sinhor ainda tava lá. INFORMANTE: Cê picisa í[r] lá p cê vê que coisa. Dá tristeza e dó. PESQUISADORA: Por quê? 180 INFORMANTE: De vê o rancho cumé que tá. PESQUISADORA: Por que, tá abandonado? INFORMANTE: O mato tava entrano dento do rancho quando eu fui lá. PESQUISADORA: Nossa! INFORMANTE: Mais só serve lá, o que miorô lá, sabe que que foi?/ ficô bão lá? 185 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Minha casa cabô tudo. Tá tudo desbandonada. Até porta tá destrangolada. Tava só a lancha do pade V. lá de Paraíso. O que foi que sirviu lá. É só a rampa que ês feiz. Ficô bunito. Ficô uma água mais ou meno dessa fundura assim ó. Ficô no jeito de tomá banho. Entá dento da água. Ficô uma água bunita. Da jinela da minha casa cê pesca assim na represa. 190 PESQUISADORA: Nossa que beleza! INFORMANTE: Ficô cheinho, beraninha a jinela. Fizeru uma rampa do bico donde era/ que ia pro Manguero ( ) incaxo a ota lá num lajedo de pedra que ês feiz cimentado assim. A água vem berano as pedra. Foi só esse sirviço que mioró. Mai’ aquês mato ali embaxo, piombo, tirô aquê poste que ia lá pra casa. Quebro/ as iscada tá quase tudo quebrada. Tá tudo chujo. Só num fui lá na bica. Mai’ lá na cisterna. Mais deve tá pió. Mais os rancho 195 tá tudo ruim, do domicílio tá do memo jeito. PESQUISADORA: É? Tá tudo ruim? INFORMANTE: Mais sabe que que aconteceu que mais... INFORMANTE 2: Conta o negócio lá do arraiá do Gancho. PESQUISADORA: É. Que que é a história do arraiá do Gancho? Sinhor conta essa e depois eu prometo que 200 deixo o sinhor conta uma de mulher. INFORMANTE: Não, depois eu vô imbora. PESQUISADORA: Não, conta mais essa. Conta mais essa do Gancho. INFORMANTE: Quondo ieu era minino... INFORMANTE 2: Da Compania de Reis ( ) 205 INFORMANTE: Ah, da Compania de Reis... PESQUISADORA: Conta essa que eu dexo o senhor í[r] embora. INFORMANTE: Da Compania de Reis era assim. O Neca Júlio. Que era dono da fazenda ( ). Aí ê pegô/ era daquês que num querditava em nada. Ê pego/ deu/ “se esse povo vim eu vô pegá essa vaca das mais braba que tivé aqui pá matá essa Compania de Reis.” Ê pegô a vaca e fechô dento do currale. Quondo a Compania de Reis 210 chegô cantô, o véio ficô dimirado. Aí ê falô “nem assim eu tô sastifeito. Esse povo, a vaca num pegô ês/ mas eu pégo.” Ranjô dois jagunço pegô e matô essa Compania de Reis tudo. Todo mundo que tava na Compania de Reis. PESQUISADORA: Matô? INFORMANTE: Matô. Interrô lá dento dum buraco antigo. O povo antigo fazia isso. Esse povo memo sabe que 215 que ês fazia. Aqueas criola que trabaiava na fazenda arranjava aquês negrinho. Aí quondo aquês negrinho ia criano dento da fazenda, quondo tava num tamanho assim. Reunia aquês quarenta, cinqüenta animal. Aquês neguinho tava de a pé. “Vai lá e toca aquês animal pro curral.” Neguinho tocava aquês animal até parecia, que Deus me perdoe, tentação. O animarzinho chegava na porta do curral e vortava pra tráis. ( ) o véio catava a carabina. “Cê num presta pra nada!” Pá! Matava o neguinho e interrava lá nesse buraco.Lá na fazenda do Chico 220 Tertulino lá no Derfinopolis. Aí ( ) / era um cimitério. Aí mataru essa Compania tudo. Aí pegô, ê num ixemprava não. Acontecia essa coisa cum ele, ê passava duma pra ota, dota passava pra ota. Ele num ligava caquilo. Aí ê pegô e matô essa Compania de Reis. Todo dia 25 de dezembro vespróna da Compania de Reis saí, cê iscuta cá da fazenda aquê povo afiano o instrumento no buraco. O buraco é poco pá diante da fazenda, num desbarrancado. E aquê povo vem de lá. Aquea Compania de Reis cantá lá dento da fazenda. E lá é assombrado 225 de verdade. Lá é. O Chico do seu ( ) moro lá mas ê via mũta coisa errada. Via um rapaiz andano em cima do forro. Aquê rapaiz foi o Chico que matô. Pur caus[a] da muié dele. Ês fala que eu sô reporte. Eu sei de mũta coisa, comprendeu? Mũta coisa. Agora eu vô falá quondo é uma coisa que prigunta, quondo ieu tô ca idéia no lugá. Prigunta pra ele pro cê vê. Nóis às veiz cunversa, fica aqui um tantão. E dispois nessa fazenda memo. PESQUISADORA: Hã? 230 INFORMANTE: ( ) Dá um coro em Santo Reis. Pegô o boi mais brabo que tinha pá matá a turma tamém. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 18 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ê num ixemprava. A Compania de Reis chego lá, cantano, afino os instrumento, cantô lá na fazenda. Aí virô e falô assim: “aquê boi que tá lá no oto currar de cima é do cêis. Pode í[r] lá pegá ele e levá pro cêis.” O cara chegô lá ca bandera, cum coisa que ia toriá o boi e levô a bandera na frente do boi assim e ( ) o 235 home tinha falado o nome do boi, falô o nome do boi. O paiaço levô a mão na cabeça do boi assim e coçô o boi, o boi saiu acompanhano ês junto ca bandera. Aí o home desacussuô. Falô: “uai, num tem jeito co poder de Santo Reis de jeito nenhum.” Mata uma turma, vem ota fica pió. Num dianta uai. As coisa/ as coisa num dianta. Foi/ esse lá po lado do Guapé. ( ) Chegô a Compania de Reis cantano, a Compania de Reis pobre, cantano. Tudo pobezinho. Aí, ê pegô, fechô um pordo dos mió da tropa dele lá no curral. Pô esse aqui pá dá po Santo Reis. Ês 240 faiz leilão, ês faiz o que ês quisé. ( ) Foi, a Compania de Reis cantô mũto male. Mais ou meno. Que nem num gostô. Falô: “ah, aquele pordo bão num dô ele pá Santo Reis não. Vô pegá aquê ruinzinho lá e vô dá. Aí foi lá e fechô oto podrinho mai’ ruim e ( ) o bão que ele tinha dado pá Santo Reis. Ele num quis dá porque achô que ês num valia. Ê pegô e falô: “esse podrinho é pro cêis levá pra Santo Reis.” Aí o cara falô: “ranja uma cordinha patrão, que nóis leva.” Pegô o podrinho e foi arrastano. Petitinho. E o grande que era de Santo Reis fico lá no 245 currale. A hora que ês saiu ê falô pá muié: “muié”/lá po lado da Capoerinha perto do Guapé. “Muié, vamo lá sortá o pordo que era de Santo Reis, meu/ o ruim foi pá Santo Reis. Dexa aqui que agora fica pra nóis.” Toca esse pordo, esse pordo chegava na portera e pulava pum lado e pulava po oto. Quondo vê pulô no moirão da cerca. Morreu ispetado no moirão da cerca porque ele num era dele. Era de Santo Reis. Num dianta! PESQUISADORA: Aí, ele desistiu? 250 INFORMANTE: Uai, aí ele viu que num dianta nada minha fia. Ocê fazê uma massage cum oto, fazê um truque cum oto. Se ocê faiz um truque numa pessoa cum deiz mi’ réis cê toma um prijuízo de 40. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Se ocê faiz a bobage de/ se premete de dá uma coisa pra uma pessoa, prum Santo e fala não, num vô dá, vô dá menos. Não é aquilo ali! A prumessa tem que cumpri. 255 PESQUISADORA: Tá certo. INFORMANTE: Porque ( ) teve mũta gente lá na nossa terra que acabô na miséria, teve gente que acabô/ fazia festa e ficava cum dinhero pra ês. Fazia essa festa de Santo Reis, tudo. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: ( ) T. C. era dono de fazê isso. 260 PESQUISADORA: Fazia festa e ficava cum o dinhero. INFORMANTE: Porque o Santo minha fia, o juro... PESQUISADORA: Ele cobra mesmo! INFORMANTE: Cê pega um juro no banco, cê 20%, 30% cê paga. O juro de Deus nosso Senhor ninguém nunca pagô. 265 PESQUISADORA: Tá certo sô Z. INFORMANTE: É drobado que ninguém paga. Ninguém paga. PESQUISADORA: Tá certo. Agora que o sinhor contô a história eu vô liberá o sinhor. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 3 INFORMANTE 1: J. A. (80 anos, Analfabeto, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 19 PESQUISADORA: Pronto Z. agora você pode contar, você sempre morou na roça? INFORMANTE: Morei. PESQUISADORA: Nunca foi pra cidade. INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Vai na cidade só por precisão? 5 INFORMANTE: Pá passiá, pá picisão, í[r] a missa, né? PESQUISADORA: Hã? Mas caso contrário num vai de jeito nenhum? INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: E como que era a vida antigamente na roça era mais fácil que hoje ou não? Ou era mais difícil? 10 INFORMANTE: Uai, era mais difici’, né? Era mais difici’ mais era mais fáci’ tamém porque o que ocê fazia tinha valor, hoje num tem, né? PESQUISADORA: Não e como é que era pra trabalhar? INFORMANTE: Ah, era pesado, né? PESQUISADORA: Num tinha ferramenta ninhuma, né? 15 INFORMANTE: Era quais só braçal memo, né? PESQUISADORA: Era só braçal. É. INFORMANTE: ( ) Trabaiava era cum boi, cum arado. Boi, essas coisa, né? Carro de boi, num tinha carro num tinha nada. PESQUISADORA: Usava o carro de boi pra transportá as coisas? 20 INFORMANTE: Pra transportá. PESQUISADORA: E criava o quê? INFORMANTE: Uai, criava o que nóis cria hoje memo. Gado, porco, galinha, essas coisa, né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Que nem no dia de hoje. Rotina de hoje memo. 25 PESQUISADORA: Num era diferente não? INFORMANTE: Não. Isso aí leva a mesma/ como se diz/ o antigo leva a vida de hoje/ é custosa aí. É isso. PESQUISADORA: A roça era mais difícil mais era mais fácil ao mesmo tempo? INFORMANTE: Era. Pá cê fazê um dinhero, cê fazia fartura. Hoje fiz e fica mais na ilusão, né? É um carro, é uma gasolina, é um cunserto, depois/ Fico mais fácil mais ficô mais pesado tamém. 30 PESQUISADORA: E hoje tá tudo muito caro, o governo num dá incentivo nihum. INFORMANTE: Num dá assintença, num dá nada, né? Intão é ( ). Troxe mais aperto pá vida, né? De primero trabaiava, tinha mais jeito de passiá, tinha tempo. PESQUISADORA: Hoje em dia já num tem, né? INFORMANTE: Não. Hoje se ocê sai hoje tem que vortá logo. Já tem uma coisa p cê fazê. 35 PESQUISADORA: Tem. E tem que fazê tudo rápido. E ainda tem a sigurança porque a roça já num é siguro mais, né? INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Antigamente ficava tranqüilo, né? INFORMANTE: Hoje num tem uma sigurança, né? Num tem uma cunfiança. 40 PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: De primero num tinha negócio de ladrão, hoje já tem. Mudô muito, né? Cada ano que passa lá vai mudificano mais, né? PESQUISADORA: Cê num tem vontade de í[r] pá cidade? INFORMANTE: Uai, inquanto eu tive saúde, Deus mandá saúde eu num tenho não, né? 45 PESQUISADORA: O sinhor qué ficá aqui naroça mesmo, né? E Cê lembra dumas histórias antigas da roça, que o povo contava? INFORMANTE: Ah, nisso aí eu sô ruim de memória. PESQUISADORA: É? Cê num lembra de história, não? INFORMANTE: Não. Caso essas coisa, tem gente que tem dom pra isso. Piada, essas coisera, ( ). Nessa 50 parte eu num sô... PESQUISADORA: Bão não? INFORMANTE: Num sô inteligente nisso não. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 20 PESQUISADORA: Ah não mas isso num é inteligência não. Tem gente que é falado né? INFORMANTE: Gosta de falá, né? 55 PESQUISADORA: E mais a vida era custosa. Eu tenho cunversado cum muita gente e eles têm me contado como era a vida na roça. Como que era pra levá leite antigamente. Como que era pra fazê tudo. INFORMANTE: Ah, era muito custoso, né? Num tinha caminhão leitero, era muito custoso. Onde eu fui criado lá memo num tinha caminhão, num vindia leite lá não. PESQUISADORA: Como que era? 60 INFORMANTE: Tirava leite e fazia mantega. Desnatava o leite, né? PESQUISADORA: Aí desnatava o leite e mandava desnatado? INFORMANTE: Mandava o creme. PESQUISADORA: Creme? INFORMANTE: A gurdura. 65 PESQUISADORA: Como que chamava o caminhão que buscava? INFORMANTE: Ah, num lembro. PESQUISADORA: Intão manda num era o leite. INFORMANTE: Não mandava o creme. A mantega, né? Aí ia pro Glória, pra Passos memo. E vinha de véspera. De oito em oito dia ês trazia. Leitero num tinha não. Num usava tamém. Quaise num usava esse leite tratado, 70 num usava nada, né? PESQUISADORA: Num usava nada, né? Tomava da roça. O povo antigamente cumia era, matava porco, fazia gurdura. INFORMANTE: Gurdura. Tá tudo mudificado. Agora modificô tudo, né? Intão, a vida era essa. PESQUISADORA: E lá onde você morava? Como é que era? Tinha muita plantação? 75 INFORMANTE: Não. Prantava só pro gasto essa época. Num tinha esse negócio de lavora ( ). Era uma rocinha de mio, um arroizinho. Ingordava um porquinho. PESQUISADORA: E tava bão. INFORMANTE: Num tinha grande ilusão, né? PESQUISADORA: Não num tinha não. Hoje em dia o povo tem muita. 80 INFORMANTE: Tem muita ilusão e a dispesa hoje é muita, né? PESQUISADORA: Ah, com certeza. Cês ainda tão fazendo a festa de a/ Nossa Sinhora Aparecia? Do terço? Cês fizeram ano passado? INFORMANTE: Fizemo. Cê num veio, né? PESQUISADORA: Num vim, eu tava viajando. 85 INFORMANTE: Cê tava viajano. Seu pai falô. PESQUISADORA: Tava viajando ( ). Antigamente o povo era mais devoto, né? INFORMANTE: Ah, era. Rezava, né? Agora hoje pur caus’ que mora perto da cidade, í[r] na cidade rezá já tá bão, né? PESQUISADORA: Já tá bão dimais. Já num isquenta mais não. 90 INFORMANTE: É hoje/ o povo da roça mudô tudo pá cidade. Aqui quando eu mudei pra cá, cumé que é, eu num morava aqui não, eu morava do lado de cima lá. Morava mais o C. Vinha durante a semana trabaiava. Iguale seu pai quando morava lá na Água Azul. PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Aí teve umas missão aqui. 95 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: A S. era piquena. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Mais cê pricisava vê o tanto de gente que ajuntava. Rodava isso tudo aí de tratore, de carreta. Aquê povão memo. 100 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Hoje cabô tudo! PESQUISADORA: Não, hoje num tem mais isso não. INFORMANTE: Nem casa pro cê fazê as novena num tá achano mais, né? PESQUISADORA: O povo num vai, né? 105 INFORMANTE: Marca na casa dum um dia ê fala hoje eu num posso, tenho que í[r] em tar lugar, vamo marcá pra tar dia. Aí ta tudo pogramado, cê tira do pograma, discontrola, né? Aí a turma vai disanimano, né? PESQUISADORA: Vai, aí larga de rezá, né? INFORMANTE: Larga. Aí nunca pode, né? PESQUISADORA: Aí o ovo vai desanimando de rezá. Quando você mudô pra cá tinha muita gente em volta? 110 INFORMANTE: Aqui em vorta tinha, tinha muito vizinho aí. PESQUISADORA: É? Cês num foram os primeiros a chegar na região não? INFORMANTE: Já tinha muita. O povo do Z. F. já morava aí nessa época. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 21 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Fazendão. 115 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Tinha muita gente. Tinha colonha nessa fazenda aí. O A. tinha colonha. PESQUISADORA: Colônia era onde morava... INFORMANTE: É. Tirava leite, oiava/tocava roça. PESQUISADORA: Sei. 120 INFORMANTE: Antão. ( ) PESQUISADORA: Então, faz quanto tempo que vocês tão morando aqui nessa roça? INFORMANTE: Ah, aqui deve fazê uns vinte e cinco ano por aí. PESQUISADORA: É? Faz isso tudo que vocês tão morando aqui? E antes cês moravam onde? INFORMANTE: Morava lá no C. 125 PESQUISADORA: O C. seu filho? Eu num sei onde o C. mora. Ele mora na roça também? INFORMANTE: Mora pra lá do D. PESQUISADORA: Uai, é indo pra roça do meu pai? INFORMANTE: Pra cá ( ) prantô lá no M. PESQUISADORA: Eu lembro, eu lembro do M. 130 INFORMANTE: Pra cá do M. um poquinho. PESQUISADORA: Intão aqui já tava/ já tinha bastante gente quando vocês chegaram aqui. INFORMANTE: Já tinha. PESQUISADORA: E hoje em dia você tá plantando milho? INFORMANTE: Pranto. 135 PESQUISADORA: Cê cuida do que mais, tem uns porquinho ali, tem as goiaba. INFORMANTE: Goiaba, milho, um gadinho, vai tocano, né? PESQUISADORA: Ah, tá certo. Olha que passarinho bonito! Que passarinho é aquele? INFORMANTE: Canarinho, né? PESQUISADORA: Canarinho? E antigamente o povo ficava duente na roça o que que eles faziam pra curá? 140 Tomava o quê? Ou num tomava nada, rezava pra... INFORMANTE: Só de casa, de horta, né? PESQUISADORA: É. Que chá que usava? INFORMANTE: Ah, num lembro. PESQUISADORA: Ô, cê num era muito de chá. 145 INFORMANTE: Não. Era muito custoso. PESQUISADORA: Ah era. E essa chuvinha fina. Vai chuvê nada. Vai ficá desse jeito. INFORMANTE: Vai chovê sim. PESQUISADORA: Ah, vai nada Z. Cê falô que quando cê tava vindo de onde? Ontem que choveu? INFORMANTE: Lá perto de Itaú. Pra cá da ponte de Itaú ali. ( ) à tarde. 150 PESQUISADORA: Tava vindo de lá e choveu. INFORMANTE: Tava vino de Reberão. ( ). PESQUISADORA: Tava consultando né? Uai, eles foram todos pra lá. Podem voltar nós só estamos conversando. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 4 INFORMANTE 1: M.G. (76 anos, Analfabeto, sexo masculino) INFORMANTE 2: C.G. (72 anos, Analfabeto, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 22 PESQUISADORA: Não seu M., o sinhor finge que o gravador num tá aí e o sinhor pode contá história de assombração. Tá até longe. Nós nem precisamos ver. Eu vô sentá de cá pra vê os dois. INFORMANTE 1: Mai’ num tem assombração mais’ não. PESQUISADORA: Mais antigamente tinha? INFORMANTE 2: Antigamente tinha. 5 PESQUISADORA: Ou não? INFORMANTE: Ah, eu nunca vi não. PESQUISADORA: O sinhor nunca viu? INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Não? Graças a Deus, né? Credo assombração não, né? 10 INFORMANTE 2: Mais eu já vi. PESQUISADORA: A sinhora já viu? INFORMANTE 1: Não, mais diz que num pode oiá pra tráis. PESQUISADORA: Por quê? INFORMANTE 1: Uai, eu num sei. 15 INFORMANTE 2: Que assombração vai atráis. Agora eu vô contá prela dos difunto da roça. PESQUISADORA: Conta dos difunto da roça. INFORMANTE 1: Ai, ai, ai. INFORMANTE 2: Porque o difunto da roça mũta gente já fica assombrado de medo de vê o difunto lá na sala. Porque num põe na urna. Ranca a porta e faiz uma mesa assim da porta e põe o difunto em cima da mesa sem 20 caxão. Já fica veno aquea sombração, né? E cobre cum lençol. A pessoa chega na porta e oia aquilo lá já é uma sombração. Porque o pé do difunto fica anssim pá banda da porta ó. O nariz fica anssim debaxo do lençole. Ah, gente mais é feio difunto lá na roça. Mais é muito feio. Só de chegá na porta representa que é uma sombração. INFORMANTE 1: Ah, mais agora num tem isso mai’ não. INFORMANTE: Bão. Mais ela qué sabê as coisa do passado. 25 PESQUISADORA: É, como que era antigamente. Hoje tá tudo muito moderno. INFORMANTE 1: Fazia uma grade e punha o bitelo em cima da grade, punha no ombro assim... INFORMANTE 2: Puisé... PESQUISADORA: Punha o quê? INFORMANTE 1: Uma grade cá ó. 30 INFORMANTE 2: Mais só os que era mais rico, né? Juntava muita gente e fazia um gradiado assim de pau. E punha o caxão em cima e pegava de quatro e ia levano aquela... PESQUISADORA: Isso já para o cimitério? INFORMANTE 2: Da roça pá cidade. PESQUISADORA: Ah, tá. 35 INFORMANTE 1: Era longe. INFORMANTE 2: E quando era um pobre... INFORMANTE 1: Ixi!!! PESQUISADORA: Muito. Mas andava quantos qui/ andava tudo á pé? INFORMANTE 2: Tudo à pé. Carregano no ombro. 40 INFORMANTE 1: Ia um tocano os animale, a tropa assim arriada e apiava pá ajudá carregá. INFORMANTE 2: Quando era um difunto pobre que o povo num juntava muita gente pá levá, aí punha o difunto assim em cima da mesa, punha um pau em cima dele e marrava o difunto no pau e em cima do difunto o pau. PESQUISADORA: Coitado do difunto! INFORMANTE 2: Em cima do difunto assim ó e marrava de corda. Um pegava na ponta do pau e oto pegava na 45 ota ponta do pau e ia carregano o difunto e ia balangano. PESQUISADORA: Tadinho do difunto! O sinhor viu seu Mário fazê isso com o defunto? INFORMANTE 1: Não, iessa eu num carreguei não. PESQUISADORA: Não? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 23 INFORMANTE 2: Mais tinha lá fazia muito isso. Marrava o pau em cima do difunto. 50 PESQUISADORA: Tadinho do difunto. E como chamava esse pau? Tinha um nome? INFORMANTE 2: Banguê. PESQUISADORA: Ah, falava banguê. INFORMANTE 2: Marrava num banguê. Aqui era o difunto, punha o pau em cima. INFORMANTE 1: Ês falava na cuberta. 55 PESQUISADORA: Lá na cuberta? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: O que era coberta? INFORMANTE 2: É isso aí. INFORMANTE 1: É isso aqui. 60 PESQUISADORA: Ah, tá. To doida. Num isquenta não. Inrolava na cuberta? INFORMANTE 1: Um dia a cuberta rasgo lá na mata do Saguão, lá perto de Bom Jesus. A cuberta rasgô e o difunto caiu. PESQUISADORA: Hum... Que que aconteceu seu M.? INFORMANTE 1: Aí, ês falava que lá era assombrado porque lá caiu uma difunta lá. 65 PESQUISADORA: Gente! INFORMANTE 1: Rasgô a cuberta ou disatô a corda. Sei lá cumé que foi. Caiu lá. PESQUISADORA: E como... INFORMANTE 1: Mais isso eu num vi não. Vi contá. PESQUISADORA: O sinhor viu contá, o sinhor num participô não? O sinhor nunca viu assombração lá na roça? 70 INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: O sinhor/ Graças à Deus. INFORMANTE 1: Um dia eu saí la na linha da/ da serra do Veado que ia lá pá Ventania. Crariô adiente. Eu suzinho, de noite. Eu já tinha visto falá isso mais/ a mula/ eu tinha uma mula boa/ mula ativa. A oreia da/ se a mula rifugá arguma coisa tem mais se ela num rifugô num tem nada. 75 PESQUISADORA: Aí o sinhor foi? INFORMANTE 1: Aí oiei pra tráis. Falei ah vô “oiá pra tráis”. Diz que num pode oiá. INFORMANTE 2: Diz que num pode oiá pra tráis, cê oiô pra tráis? INFORMANTE 1: Oiei pra tráis, o caminhão tava lá no oto ispigão, crariô lá adiente. Aquela lanterna num era assombração, era o caminhão que envem. 80 PESQUISADORA: Tá vendo, assombração que nada! INFORMANTE 1: Num era nada, né? PESQUISADORA: O sinhor andava muito à noite? Sozinho na roça? INFORMANTE 1: Ixi! Ia longe atráis dum pagodinho. PESQUISADORA: ((Risos)) Como é que era as festas antigamente na roça? Tinha muita festa ou não? 85 INFORMANTE 1: Ah, ranjava, né? INFORMANTE 2: Eu já vi, gente que já morreu eu já vi. PESQUISADORA: A sinhora já viu. INFORMANTE 2: Já. PESQUISADORA: Mas assim , a sinhora viu rapidinho depois sumiu? 90 INFORMANTE 2: Sumiu. Deus me livre de ficá perto da gente. INFORMANTE 1: Mais isso aí é quem tem vidência. PESQUISADORA: Ah, tá. Quem tem dom de vê, né? INFORMANTE 1: É. Tem oto que tem de iscutá, né? PESQUISADORA: De escutá? 95 INFORMANTE 1: É, às veiz iscuta ( ). PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE 2: Mais aí se uma pessoa fala que tá ouvino voiz, tá ovino chamá os oto leva po oto que tá ficano doido. PESQUISADORA: Às vezes num é oto nada. 100 INFORMANTE 2: Intão, num é nada disso não. É ota pessoa que já morreu que ta chamano. Aquea pessoa. PESQUISADORA: Ah, mas quem morreu tem que ficá lá quietinho, né? INFORMANTE 2: Tem que ficá, mais num ficá. PESQUISADORA: Num vem amola nóis não. INFORMANTE 2: Ês num fica lá não. 105 PESQUISADORA: Não tem uns que num ficam não? INFORMANTE 2: Fica não. PESQUISADORA: Ou ninguém fica. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 24 INFORMANTE 2: Pensa que ês tá lá no cimitério? Vai tudo atráis do povo. PESQUISADORA: Credo! Nem vô durmí essa noite. Vô ficá cum medo. A sinhora tá passando medo ni mim, 110 uai. INFORMANTE 2: Não. Mais ocê num tem nada a vê, uai. Cê nunca viu, cê nunca iscutô. PESQUISADORA: Não, nem quero. Tenho medo. O G. meu irmão que é corajoso, andava na roça assim longe. À noite sem medo ninhum. INFORMANTE 1: Às veiz o medo faiz a sombração. 115 PESQUISADORA: É verdade. O sinhor tem razão, seu M. O medo faz a assombração. INFORMANTE 2: Às veiz um baruinho à toa cê ficá cum medo já acridita que é assombração. PESQUISADORA: Acredita mesmo. INFORMANTE 1: E tem gente que tem muita corage de assombrá o oto. É um pirigo, né? PESQUISADORA: É. Esse é o mais pirigoso, o que tem corage de assombrá o oto. 120 INFORMANTE 2: Tomá uma purretada. PESQUISADORA: Deus me livre! E seu M., conta uma história aí da roça. Boa. Como que era, como que o sinhor trabalha lá na roça. Como que era antigamente, se era mais fácil. Se era mais difícil. Fiquei sabendo que o sinhor lidava cum boi. INFORMANTE 1: É custoso, amansava boi. 125 PESQUISADORA: Que que o sinhor fazia mais? E a dona C. ajudano. INFORMANTE 2: Ajudano. Quantas boiada nóis vendemo, mansa de carro. PESQUISADORA: É? INFORMANTE 2: Eu que ajudava mansá. PESQUISADORA: E o sinhor fazia só isso? Só amansava boi? 130 INFORMANTE 2: Prantava tamém. INFORMANTE 1: Prantava roça, né? PESQUISADORA: Hoje em dia sinhor tem/senhor tá na roça ainda, né? INFORMANTE 1: Tem uma rocinha lá, tem uns bizerrinho. PESQUISADORA: Mas num mexe com amansá boi mais não né? 135 INFORMANTE 1: Não, não. Nóis passa ês no tronco assim e apricá injeção nês e só isso. PESQUISADORA: É. E como o sinhor fazia pra amansá antigamente? INFORMANTE 1: Laçava, marrava, punha uma cangaia no pescoço dele assim. Ele ficava dereiano caquela cangaia até tirá corda do pescoço pá depois pô a canga. PESQUISADORA: E quanto tempo que o sinhor gastava? 140 INFORMANTE 1: Um ano ou mais. PESQUISADORA: Um ano nesse processo? INFORMANTE 1: Uai, é. Ia carriano cum ele. Aqui o carrinho ó. PESQUISADORA: Ah, tá. É bunitinho, né? INFORMANTE 1: Ia carriano cum ês, ês cresceno, mansano vendia aquele e comprava oto. 145 PESQUISADORA: Mas então o sinhor pegava boi piqueno? Boi não. O sinhor pegava bizerro. INFORMANTE 1: Bizerrão, garrotinho. Aí amansava e vindia. Quando colonizava mais vindia e comprava oto e ia amansá de novo. INFORMANTE 2: E a roça de arado. Marrava o arado atráis dos boi. Cê num sabe que que é arado. Cê ainda num viu não. 150 PESQUISADORA: Eu acho que eu sei mais ou menos. Arado é aquele disco? INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Que vai furano a terra? INFORMANTE 2: É um disco assim que vai furano a terra. PESQUISADORA:Hã? 155 INFORMANTE 2: Era o dia intero pra lá e pra cá., pra lá pra cá. Quando era de tarde tinha arado poco. PESQUISADORA: Era sufrido dimais. INFORMANTE 1: Fazia uns risquinho desse tamanho. Agora o trator faiz um... Riscão. É ó, rapidinho. Que mais que usava, era arado. PESQUISADORA: Quais eram as ferramentas daquela época? 160 INFORMANTE 1: O carro, o carro de boi que tinha que apertá ele no exo prele cantá, né? PESQUISADORA: No exo, era o exo que fazia ele cantá? INFORMANTE 1: É, uai. Aí rodava no cocão assim e cantava. PESQUISADORA: Cocão é uma peça? INFORMANTE 1: É uai. Aquela ali. Cê nunca viu carro de boi cantá? Já uai. Aí na ixposição tinha. 165 PESQUISADORA: Não mas... INFORMANTE 1: O Zé Coração é carrero. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 25 PESQUISADORA: Esses dias eu vi um. Lá em Jacuí tem um encontro de carro de boi. INFORMANTE 1: Intão. PESQUISADORA: Aí eu tava indo em Jacuí e vi um monte de carro de boi. Aí eu vi eles cantando mas eu não 170 sei assim como é o processo de carro de boi não. INFORMANTE 2: É bunito, né? PESQUISADORA: É bunito. Eu gosto. Eu tirei uma foto até do/do/desse negócio. O sinhor sabe quando é esse encontro agora de novo? INFORMANTE 2: Tinha que tê gravado. 175 PESQUISADORA: Eu vô vê pro sinhor. O sinhor gosta de carro de boi? Tem um encontro lá. Lota de carro de boi. INFORMANTE 2: Acho que na Ventania teve né, M. esse ano? INFORMANTE 1: Teve, uai. INFORMANTE 2: Em Bom Jesus teve. 180 PESQUISADORA: Também teve? INFORMANTE 2: Um tanto de carro de boi. PESQUISADORA: Eu acho bunito o carro de boi, mas hoje em dia só pra festa mesmo. INFORMANTE 2: É só pra festa. Ah, é que o povo de hoje num tem paciência. PESQUISADORA: Tem não. 185 INFORMANTE 2: Puxá um carro cheio, despeja e dá um montinho. Demora pra í[r] lá buscá. Agora no trator vai lá e num instantinho tráis muito. PESQUISADORA: Intão, quem qué sabê de carro de boi... Que beleza! INFORMANTE 1: Esse aí é boi. PESQUISADORA:Hã? Isso aqui é lá na fazenda do sinhor? 190 INFORMANTE 1: Não. Isso aí era foinha. Aqui. Lá em casa tinha pé de parma , tinha a casa/tem a casa lá. PESQUISADORA:Hã? INFORMANTE 1: Mais isso aqui é foinha de setenta e sete. PESQUISADORA:Hã? INFORMANTE 1: Já pensô setenta e sete. Eu alembro dereitinho. Aí eu ganhei a foinha e puis no quadro. 195 PESQUISADORA: E quantos bois pode colocá num carro? INFORMANTE 1: Uai aí tem deiz boi. PESQUISADORA: Mas o máximo que põe é dez? INFORMANTE 2: Doze. INFORMANTE 1: Deiz, doze. Agora ês usa pô só seis. 200 PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE 1: Põe mais poco. Fica mió de carriá. PESQUISADORA: Carriá é o quê? Puxá o boi? INFORMANTE 1: É, aí. Toca o boi lá no canto, põe a soga. A soga é essa aqui. PESQUISADORA: Soga é isso aqui. 205 INFORMANTE 1: É essa aqui ó. Agora essa aqui é a canga. PESQUISADORA: Ah, ta. É soga isso aqui? INFORMANTE 1: É. A (jojo) que ês fala. Intão toca ê lá e ê já tem o lugázinho dele de chegá lá no canto. Põe a soga. Aí põe a canga, aí abutoa a brocha aqui, na guela dele aqui. PESQUISADORA: Sei. 210 INFORMANTE 1: Aqui tem um cambão que infia aqui nesse tamoero. PESQUISADORA: Tamoero. Ãhã. INFORMANTE 1: Aí vai/ vai embecano a turma. Um, dois, trêis, quatro... PESQUISADORA: Tem um monte. INFORMANTE 1: Cinco de cada banda, né? 215 PESQUISADORA: Tem deiz contando de cada lado. Deiz ou doze. Colocam eles sempre um do lado do oto? INFORMANTE 1: Cinco de cada lado. PESQUISADORA: Mas é bunito né? INFORMANTE 1: Intão. PESQUISADORA: Essa parte aqui chama como? 220 INFORMANTE 1: Uai, esse aqui é o derradero, do cabeçaio, chaveia, do meio, pé-da-guia. Essa aqui é junta de guia. Nóis tinha um boi que parecia cum esse aqui, chamado pexão. PESQUISADORA:Hã? INFORMANTE 1: Intão quando ele arcançava, ele mitia o chifre. Ê se eles arcançasse, pudia corrê. Sinão o chifrão véio cumia. 225 PESQUISADORA: Mas normalmente boi de carro num é manso? Não? Num é muito manso não? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 26 INFORMANTE 1: Ês fica neivoso, né? PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE 1: Aí ês fica meio brabo. Se bestá cum ês, ês dá coice, ês dá chifrada. Num pode bestá não. PESQUISADORA: O sinhor já levô alguma chifrada de boi. Dexa eu vê. Isso aqui é do sinhor tamém? Isso aqui 230 é um cavalo ou uma mula? INFORMANTE 1: É uma mula preta. PESQUISADORA: O sinhor tinha mula? INFORMANTE 1: Tinha. PESQUISADORA: O sinhor criava ou não? 235 INFORMANTE 1: Não comprei ela, ela tava mamano. PESQUISADORA:Hã? INFORMANTE 1: Aí crio, mansô. PESQUISADORA:Hã? INFORMANTE 1: Mais cumigo ela num marchava. 240 PESQUISADORA: Ela num marchava? INFORMANTE 1: Era só trote. Cê sabe o que é trote? PESQUISADORA: Não, o que que é trote? INFORMANTE 1: É tuada dura. PESQUISADORA: Ah, tá. 245 INFORMANTE 1: Tic, tic, tic. Aí tinha um home que comprô ela. Ele era/eu num sei que que ele ranjô. A mula pegô uma marcha picada, né. Pocotó, pocotó. PESQUISADORA: O que que é uma marcha picada, anda rapidinho? INFORMANTE 1: Maciinha. PESQUISADORA: Ah, tá. 250 INFORMANTE 1: É maciinho. Aí eu falei se ela marchasse assim cumigo, eu num vindia. PESQUISADORA: O sinhor num tinha vindido. INFORMANTE 1: Num vindia, mais cumigo ela num marchava. PESQUISADORA: Será que ela num ia ca cara do sinhor. INFORMANTE 2: Põe uma balinha na boca. 255 PESQUISADORA: Obrigada. Não que isso tá ótimo. Obrigada. Mais intão ela num marchava com o senhor de jeito ninhum? INFORMANTE 1: De jeito ninhum . Num sei porquê! Ieu/ maciinha, mas maciinha memo. PESQUISADORA:Hã? INFORMANTE 1: Falei: “ah, vô vendê ela.” Ela num marcha. 260 PESQUISADORA: Aí o sinhor vendeu pro irmão do sinhor. INFORMANTE 1: Aí vendi pro meu irmão. Aí ele pois marcha nela. Cumé que quando era minha num marchava? PESQUISADORA: Uai, seu Mário às vezes era algo pessoal, né? INFORMANTE 1: Eu num sei. Num sei que acontecia. 265 PESQUISADORA: Como que chamava essa planta aqui? INFORMANTE 1: Parma, né? PESQUISADORA: Ah, tá. E dá pro boi comê ou não? INFORMANTE 1: Mais aqui... INFORMANTE 2: Mais tem gente que come isso aí, mais nóis num come não. 270 INFORMANTE 1: É pranta do Nordeste. Cê já viu na televisão, né? PESQUISADORA: Já, já. Já vi. INFORMANTE 1: Puisé, isso aí é parma. INFORMANTE 2: Lá em casa tinha muito, mais nóis nunca cumeu. INFORMANTE 1: E o gado nosso tamém num come não, porque aqui tem fartura de pasto. 275 PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE 1: Porque ês come ela quando a coisa tá preta memo. PESQUISADORA: Aí quando num tem jeito ês come. INFORMANTE 1: Aí ês come. Mais aqui não. Aqui tem fartura de pasto. Graças a Deus. PESQUISADORA: Ta certo intão. Mas o carro de boi é muito bunito. 280 INFORMANTE 1: É que aqui o carro cabô aqui atráis. PESQUISADORA: É aí fico sem um pedaço dele. INFORMANTE 1: Ficô apertado dimais. PESQUISADORA: Humhum. Mas também com esse tanto de boi como é que tira uma foto que ca/saia todo mundo. 285 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 27 INFORMANTE 1: Aí cê num lembra. Quem me deu essa foinha foi o home que a muié matô aqui na rua Paraná. Ela num lembra. PESQUISADORA: Não. Ele foi assassinado? Foi morto? A mulher dele matô. INFORMANTE 1: É. Quem matô ele foi... PESQUISADORA: Credo! Mulher má. Por que que ela matô ele? 290 INFORMANTE 1: Ciúme. PESQUISADORA: Credo! Bobera hein? INFORMANTE 1: Ele foi drumi e ela matô ele. PESQUISADORA: Credo! Mas a mula do sinhor era bunita. INFORMANTE 1: Era. 295 PESQUISADORA: Pena que ela... INFORMANTE 1: Num marchô cumigo. PESQUISADORA: Num marchô cum o sinhor, o sinhor teve que vendê. INFORMANTE 1: Aí essa argola, eu tenho tudo isso aí guardado. PESQUISADORA: Como que chama essas argolas? 300 INFORMANTE 1: É argola de ( ) de enfeite. PESQUISADORA: Quê? INFORMANTE 1: De enfeite. De enfeitá ( ). PESQUISADORA: Mas era bunito. O sinhor tem/era a mesma mula que o sinhor tava andano quando viu fantasma não? 305 INFORMANTE 1: Não. Essa é ota. PESQUISADORA: Sinhor gostava de mula/de comprá mula. INFORMANTE 1: Gostava. Comprava uma mula, vindia comprava ota. PESQUISADORA: Hum. Tem uma história/como é que é o jumento num tem filho, a mula num tem filho. Como que é a história deles. Tem um que não pode procriá. 310 INFORMANTE 2: A mula num cria. PESQUISADORA: Hum. INFORMANTE 2: Essa aí/essa é mula. PESQUISADORA: Ela num cria? INFORMANTE 2: Mula num cria. A jumenta cria. 315 PESQUISADORA: Hum. INFORMANTE 1: É... PESQUISADORA: A mula é filha de quem? INFORMANTE 2: A mula é fia da jumenta. INFORMANTE 1: Não, a mula é fia da égua cum jumento. 320 PESQUISADORA: Hum. INFORMANTE 2: Puisé, mas a jumenta tem a mula. INFORMANTE 1: A jumenta cria a mula cum cavalo. INFORMANTE 2: Ai, agora compricô. INFORMANTE 1: Não, num compricô. 325 PESQUISADORA: Não, peraí. O cavalo e jumento/ égua e jumento dá mula? INFORMANTE 1: Dá uma mula. PESQUISADORA: E o burro? INFORMANTE 1: Cavalo cum jumenta dá mula. PESQUISADORA: E o burro? Num existe burro? 330 INFORMANTE 2: Jumento cum égua cria burro. Ês fala é jegue, né? PESQUISADORA: Hum. Aí o jegue é filho de quem? INFORMANTE 1: Fio de quem? ((Risos)) INFORMANTE 2: É fio do jumento. PESQUISADORA: Jumento com quem? 335 INFORMANTE 1: Ca jumenta. INFORMANTE 2: Ca jumenta. PESQUISADORA: Hum. INFORMANTE 1: Jumento cum jumenta. INFORMANTE 2: A jumenta é aquela mulinha piqueninha. 340 PESQUISADORA: Intão a jumenta... INFORMANTE 2: Cria jumento. PESQUISADORA: Mas com o jumento ela pode fazê um burro. INFORMANTE 1: É. Jumenta cum cavalo pode saí um burro. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 28 PESQUISADORA: Hum. Essas coisas são muito complicadas, né? É muito jumento, muito cavalo. 345 INFORMANTE 2: O cavalo ca jumenta cria mula. PESQUISADORA: E a mula num cria? INFORMANTE 2: Num cria. PESQUISADORA: Ela num pode tê... INFORMANTE 1: A mula num cria. 350 PESQUISADORA: Senão vira muita bagunça, né? INFORMANTE 1: É isquisito, né? PESQUISADORA: Senão vai nasce o que o filho da mula. INFORMANTE 1: Quem será que inventô isso? PESQUISADORA: Ah, num sei. Alguma pessoa quem tem muita paciência. 355 INFORMANTE 2: A mula num cria. A mula é fia da jumenta. PESQUISADORA: É um processo muito complicado. INFORMANTE 1: A mula é fia ca égua, ca jumenta. PESQUISADORA: Hum hum. INFORMANTE 1: E a jumenta com o cavalo dá burro tamém. 360 PESQUISADORA: E burro num cria? Existe o feminino do burro? Ou não? INFORMANTE 2: É a mula, uai. PESQUISADORA: Ah, é. Gente eu num sô da roça. Cês tão rindo de mim, né? INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: Eu tô brincano. Eu num cunheço nada desses negócio. 365 INFORMANTE 2: Ah, o Cleidismar que é home, foi criado na roça, ele num sabe mũto bem essas coisa. Que é o meu fio. PESQUISADORA: Ele num sabe muito não? INFORMANTE 2: Ah, ele num sabe muito bem esses negócio aí não. PESQUISADORA: Tá vendo, num é todo mundo. Não preciso ficar com tanta vergonha intão. 370 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 5 INFORMANTE 1: M.A. (80 anos, Ensino Fundamental Incompleto, sexo masculino) INFORMANTE 2: O.B.S. (75 anos, Ensino Fundamental Incompleto, sexo feminino) INFORMANTE 3: H.B.S. (80 anos, Ensino Fundamental Incompleto, sexo masculino) INFORMANTE 4: E.B.S. (80 anos, Ensino Fundamental Incompleto, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 29 PESQUISADORA: Então seu M. e dona O. vamos contá história da roça. Minha pesquisa é sobre/história de roça. INFORMANTE 1: Eu já contei as minha mais o[u] meno. PESQUISADORA: Ah, mais o sinhor vai contá de novo, seu Milton eu num lembro mais não. INFORMANTE 2: O que eu sei contá é no começo da vida da gente na roça, era muita dificuldade. Lá num tinha 5 nada, num tinha luz num tinha nada. E era tudo cum lamparina de querosene. A gente num tinha jeito de passiá de noite. Num tinha nada. Isso foi logo depois que eu casei eu já tava dano aula. Fazia plano de aula é/porque eu tinha medo de ficá lá fora. Ia lá pra cama derramava querosene na cama ( ). PESQUISADORA: E num tinha energia elétrica né? INFORMANTE 2: Não, num tinha não. Ixi. Levô muitos ano. Muitos ano pá tê a facilidade da energia. 10 PESQUISADORA: E a sinhora trabalhava dando aula e o seu M. na roça? E o que que o sinhor fazia lá na roça? INFORMANTE 1: De tudo. PESQUISADORA: De tudo? INFORMANTE 1: Capinava, tirava leite. INFORMANTE 3: Ele ajudava ela a ficá à toa. 15 PESQUISADORA: Então tá que os dois ficavam à toa. De jeito ninhum. INFORMANTE 1: Conta pr’ela o negócio lá da merenda da iscola. Daquele tempo. INFORMANTE 2: Não, no começo num tinha merenda num tinha nada. Num tinha privada, num tinha nada. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: O A. E. que era o diretor ( ) hoje tem a maior mordomia. 20 PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE 2: Tem até computador, tem tudo. Ele feiz eu ranjá pá fazê uma fossa lá pertinho de onde era a iscola. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 2: Cum certeza o B. já falo onde que é. 25 PESQUISADORA: Ãhã. Já deve tê falado. INFORMANTE 2: Aí tinha de pegá/ num tinha uma carroça, carro de boi que tinha era longe. Os minino foi carregano o adobo que tinha feito lá em casa e foi carregano de/ cumé que fala/ num tinha carrinho. Ês ranjava uma tábua/ cê lembra cumu é que era? INFORMANTE 1: ( ) pasto. 30 INFORMANTE 2: E carregava aquês coisa de barro. Pá fazê essa fossa. INFORMANTE 1: Adobo cê sabe que que é né? PESQUISADORA: Adobe, não? INFORMANTE 1: É uma forma que ês faiz um barro é iguale tijolo mais num é queimado. INFORMANTE 2: Arguma casinha lá deve tê isso. 35 INFORMANTE 1: É quase iguale um bloco. Assim ó. PESQUISADORA: E o adobe serve pra quê? INFORMANTE 2: Pra fazê parede. INFORMANTE 1: Pra fazê parede, adobo que chama. INFORMANTE 2: Pra fazê parede. As parede da/ da fossa lá. 40 PESQUISADORA: Era tudo feita de adobo. INFORMANTE 1: As casa, a maió parte era feita de pau-a-pique e adobo. PESQUISADORA: O pau-a-pique é o que? INFORMANTE 1: Os pau-a-pique é uns bambule assim. INFORMANTE 2: Não, fazia a maió parte da casa de madera. Faiz uns isteio. 45 PESQUISADORA:Hã? INFORMANTE 2: Cum certeza a do seu pai ( ) era desse jeito. PESQUISADORA: Deve sê. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 30 INFORMANTE 2: Aí, né. Fazia isso. Depois as parede era feita de/ agora cê fala. INFORMANTE 1: Aí punha ( ) embaxo, punha os caibro em cima e trançava de bambu. E aí, massava barro e 50 jogava e ia jogano ( ) fazia parede de casa de pau-a-pique. PESQUISADORA: Essa era a casa de pau-a-pique, e cubria como? INFORMANTE 1: Cubria de sapé. PESQUISADORA: E que que era sapé? INFORMANTE 1: Antigo. Sapé é um ramo. Dispois fazia de teia comum. Mais dipois mais premero era de sapé. 55 PESQUISADORA: E o sinhor mixia cum leite quando o sinhor morava/ quando cês começaram na roça/ quando cês tavam na roça? INFORMANTE 1: Não. Tirava só po gasto né? Nessa épuca. Agora, dispois que nóis tirava pra diente. Mais nessa épuca... INFORMANTE 2: Mais tirava no cumeço, que tinha aquela casa véia, feiz aquela casa véia ( ) 60 PESQUISADORA: Mais trabalhava mais era cum plantação? INFORMANTE 1: É, plantação. Aí ( ) que tratá dos pião tinha que levá cumê pra eles. PESQUISADORA: Levava cumida pra eles? INFORMANTE 2: Levava ( ). PESQUISADORA: Levava no quê? 65 INFORMANTE 1: Levava aquelas baciada de cumida, levava os prato... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Punha bacia lá, ês bibia água ( ) . PESQUISADORA: Ia cumeno. O povo sofria num sofria? INFORMANTE 1: E era gostosa. 70 PESQUISADORA: E era boa. E antigamente o povo mandava vê na cumida e num tinha problema ninhum né? INFORMANTE 1: Não. INFORMANTE 2: E de primero num tinha essa mordomia de querê cumê carne todo dia, né? Igual hoje, se num tivé carne na mesa num come. PESQUISADORA: Num come né? 75 INFORMANTE 2: Num come não. PESQUISADORA: Eu num faço questão não eu num como carne. INFORMANTE 1: Nóis come um poco, mas tamém num é muito chegado não. INFORMANTE 2: Era coisa que num tinha muito lá na roça. Tinha era mandioca, é ovo, é batata, verdura que a gente prantava que tinha gente que num prantava nada. ( ( vozes)) ( ). 80 PESQUISADORA: Era cumida da roça. INFORMANTE 2: Era cum gurdura de porco. PESQUISADORA: A gurdura de porco tava presente. INFORMANTE 2: Num fazia mal pra ninguém. PESQUISADORA: Não! E carne que que cês cumiam? Porco? 85 INFORMANTE 2: É... INFORMANTE 1: Quando matava porco né? INFORMANTE 2: Os vizinho matava cada um é/ tinha/acabava chegano um pedacinho de carne dum vizinho, do oto. Porque era muita gente. PESQUISADORA: Hã? 90 INFORMANTE 2: Intão era assim. Pá vim na cidade, passava ((barulho)) ( ). PESQUISADORA: Ficava isso tudo sem vim? E se ficasse duente lá na roça, como que fazia? INFORMANTE 2: Era difícil. PESQUISADORA: Tratava cum quê? INFORMANTE 2: Era cum remédio de roça decerto. 95 INFORMANTE 1: Os mais antigo, ( ) lá na Caieira, onde é o L. P. PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE 1: Trazia até ali de carro ( ). INFORMANTE 2: Isso num é do nosso lado lá não é da Mumbuca. PESQUISADORA: Ah, tá. É ota história. 100 INFORMANTE 1: ( ) PESQUISADORA: Trazia no quê? Cavalo. INFORMANTE 2: No banguê. INFORMANTE 1: Marrava duas arça assim... INFORMANTE 2: Igual marrá uma rede. 105 PESQUISADORA: E trazia a pessoa. Trazia o duente ou... INFORMANTE 2: Trazia morto. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 31 INFORMANTE 1: Passando male, passando male. INFORMANTE 2: Geralmente era morto. INFORMANTE 1: Agora, quando é morto ês fala no banguê, né? 110 PESQUISADORA: Hã? Aí era o banguê Era o banguê que já trazia a pessoa. INFORMANTE 1: Banguê. Era uma vara cumprida assim que trançava de corda e punha a pessoa assim. PESQUISADORA: Nossa Sinhora! INFORMANTE 1: ( ) foi aquela mulher do A. N. PESQUISADORA: Que que tem ela? 115 INFORMANTE 1: Ela foi a última ( ). PESQUISADORA: ( ) de banguê? INFORMANTE 2: Ah, num sei se foi a última não. INFORMANTE 1: Foi a úrtima. PESQUISADORA: E como é que era casamento na roça? 120 INFORMANTE 1: Ah, ( ). PESQUISADORA: Era um festão ou não? INFORMANTE 1: Ah, era. ( ) INFORMANTE 2: Ele era do lado da Mumbuca. PESQUISADORA: Ele morava na Mumbuca. E a sinhora morava onde? A sinhora tamém é... 125 INFORMANTE 2: Lá nos Campo. PESQUISADORA: A sinhora que é dos Campos e ele é de lá. Aí o sinhor casô e veio pros Campos? Como é que era os custumes da Mumbuca? O sinhor conta os da Mumbuca e depois a dona O. conta os dos Campos pra mim. INFORMANTE 1: Na Mumbuca era aquele povão de a cavalo. Ia lá pra Bom Jesus e... 130 PESQUISADORA: Eu cunheço a Mumbuca ali mais ou menos. INFORMANTE 1: Ia aquela turma de a cavalo, ia e vortava. Pegava aquela ( ). PESQUISADORA: E depois de moço/depois que o sinhor casô que o sinhor veio morá nos Campos? Morô lá muitos anos? INFORMANTE 1: Eu nasci e criei lá. 135 PESQUISADORA: Na Mumbuca? INFORMANTE 1: Na Mumbuca. PESQUISADORA: E a vida lá era difícil tamém? INFORMANTE 1: Era difici’. PESQUISADORA: O sinhor trabalhava com o pai do sinhor? 140 INFORMANTE 1: Trabaiava. Toda roça naquê tempo era mais difici’ ainda, né? PESQUISADORA: Com certeza. INFORMANTE 1: Hoje tá muito fáci’. PESQUISADORA: Num tinha ferramenta quase ninhuma. INFORMANTE 1: Não num tinha não. 145 PESQUISADORA: Usava o que pra trabalhá? INFORMANTE 1: Era inxada, inxadão, machado, foice. PESQUISADORA: Era foice. Tem alguma coisa que usava antigamente que não usa mais no campo? INFORMANTE 2: Socá arroiz no pilão. PESQUISADORA: Ah, socá arroiz no pilão. 150 INFORMANTE 2: Socá arroiz no pilão... PESQUISADORA: Hoje em dia ninguém faiz isso mais. INFORMANTE 2: Socá canjica ( ). PESQUISADORA: Socava tudo no pilão? INFORMANTE 2: Socava. 155 INFORMANTE 1: Arava terra de boi era assim. PESQUISADORA: Ará a terra de boi é que colocava o arado no boi? INFORMANTE 1: Isso. PESQUISADORA: Hoje em dia ninguém faiz isso mais? INFORMANTE 1: Não. Prantadera que colocava no animal. 160 PESQUISADORA: Aquela que colocava no burro? No cavalo? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Não hoje o mundo ta moderno e o povo reclama à toa num reclama? INFORMANTE 3: ( ) isfregá o carcanhá pra fazê fogo. PESQUISADORA: Hã? 165 INFORMANTE 3: De primero tinha que í[r] isfregano o carcanhá assim até saí fogo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 32 PESQUISADORA: Fogo, pra quê? INFORMANTE 3: Pá acendê fogo cedo. PESQUISADORA: ((Risos)) Que isso? Que sofrimento! INFORMANTE 2: De primero era difícil memo. 170 INFORMANTE 1: Lá na bera do rio tinha uma famia que todo dia tinha lá/tinha lá. Tinha a tarefa. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Cortava um gaio de aroera. E punha fogo nele. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Ficava quemano a noite intera pá acendê fogo no oto dia. 175 PESQUISADORA: Jesus! INFORMANTE 1: Mais durava. PESQUISADORA: ( ) o quê? INFORMANTE 1: Durava o fogo. PESQUISADORA: Ah, tá. 180 INFORMANTE 1: Punha fogo nela verde e fogo ficava até no oto dia. PESQUISADORA: Pra e/eles iam usá o fogo só no outro dia? INFORMANTE 1: Só no oto dia cedo. INFORMANTE 2: É, cendê pá fazê café. INFORMANTE 1: Cendê o fogo porque num tinha fosfo naquê tempo, num tinha nada. 185 PESQUISADORA: Num tinha nada né? INFORMANTE 1: Não. Eu carcei a primera butina sabe quantos ano eu tava? PESQUISADORA: Quantos anos? INFORMANTE 1: Quatorze ano. PESQUISADORA: Vixe. O sinhor andava discalço antes? 190 INFORMANTE 1: Discarço. ( ) com os pezão no chão. PESQUISADORA: Se tava frio tava discalço, se tava calor tava discalço? INFORMANTE 1: Primero, dispois usô a ( ). PESQUISADORA: Cêis podem contá também gente, num tem importância não. Todo mundo pode participar da cunversa. 195 INFORMANTE 1: As precata. Sabe que que é precata? PESQUISADORA: Não que que é precata? INFORMANTE 1: Precata é aqueas arça de arreio. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Cortava ali tipo uma chinela ( ). 200 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: Desse tipo aqui assim ó. Desse jeito. INFORMANTE 1: É tipo isso aí. PESQUISADORA: Hã? Igual às Havaianas nossas aqui. INFORMANTE 1: Usava isso aí. 205 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Pá saí assim nos orvaio ês tinha/ ês fala polônia. PESQUISADORA: Polônia. INFORMANTE 2: Polaina. PESQUISADORA: Ah, sei. 210 INFORMANTE 1: ( ) Umas bota assim. Tinha as butina e tinha a polônia. Usava aquilo pá num moiá muito de urvaio. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 3: Precata era de pneu. PESQUISADORA: Hã? 215 INFORMANTE 3: Precata era de pneu. INFORMANTE 1: É tinha umas de pneu. PESQUISADORA: Mas devia ser pesada dimais, num divia? E como que eles faziam/ os móveis da casa? Tinha? Ou quase num tinha/ tinha. INFORMANTE 1: ( ) era muito poco. 220 INFORMANTE 2: Ah, era uma mesa, um armário, uma partilera na parede. INFORMANTE 1: O banco, as cadera. PESQUISADORA: Ia durmi cedo? INFORMANTE 1: Ah, ia. PESQUISADORA: Cedinho tava tudo/todo mundo durmindo? 225 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 33 INFORMANTE 1: Era custoso, né? Num tinha um rádio. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Mais era sei lá. PESQUISADORA: A sinhora ia contá alguma coisa de primero a sinhora começou a falá e...Acho que a sinhora perdeu o assunto. 230 INFORMANTE 2: Ixi. PESQUISADORA: Que que será que a sinhora ia contá, hein? INFORMANTE 2: Ah, de primero era assim: a gente quiria vim pá assisití festa. Era Natal, era Semana Santa, a gente quiria vim. PESQUISADORA: Hã? 235 INFORMANTE 2: Mais aí tinha de vim de carro de boi. PESQUISADORA: Nossa! INFORMANTE 2: Vinha de carro de boi. Uma puera na istrada e a gente sentada no carro de boi. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: Sentava lá no chão do carro de boi memo. 240 PESQUISADORA: Mais chegava aqui que jeito? INFORMANTE 2: Uai, chegava aqui de carro de boi. PESQUISADORA: Não mas que jeito assim, chegava sujo? Limpo, mais ou menos? INFORMANTE 1: Vinha sentado dento do carro. ( ) dava muita bacada, INFORMANTE 2: Não, ela qué sabê ( ) 245 INFORMANTE 1: Chegava impoeradinho. INFORMANTE 2: Até, os cílio assim chegava cheio de puera. PESQUISADORA: É aquela que o nariz enche de puera, fica aquele puerão na boca. INFORMANTE 1: Muita gente vinha pá interná na Santa Casa e vinha de carro de boi até na porta da Santa Casa. PESQUISADORA: Mais o duente já chegava mal na porta da Santa Casa. 250 INFORMANTE 2: ( ) porque lá tinha um buracão na frente. PESQUISADORA: Na Santa Casa? INFORMANTE 1: Mais ês chegava. ( ) INFORMANTE 2: Puisé, mais passava por onde, pá num passá naquê buracão? PESQUISADORA: Ah, o povo dava uma volta capaiz. 255 INFORMANTE 1: Mais tinha passage. PESQUISADORA: E pá /pá fazê o sirviço doméstico. Como é que era? INFORMANTE 2: Ah, o sirviço doméstico é ( ). INFORMANTE 4: Era/era/ quando morava no ( ) inchia os balde de prato, de talheres, de tudo e ia lá pra bica. Levava lá pra lavá. 260 PESQUISADORA: É? Aí ia fazê/ passá ropa divia sê difícil né? INFORMANTE 1: Era ferro de brasa né? INFORMANTE 4: O ferro era de brasa. Quemava cum sabugo, essa coisa. ( ) era pá passá. INFORMANTE 2: A gente ficava até meia roca de tanto soprá. De tanto soprá pra podê... PESQUISADORA: Tinha que ficá quente o ferro? 265 INFORMANTE 1: Ficava quela cinzaiada na ropa. PESQUISADORA: Mas a ropa ficava suja ou limpa nesse processo de passá? INFORMANTE 1: Incardida né? INFORMANTE 2: Num ficava suja não porque a gente soprava e saía a cinza. INFORMANTE 1: Jogava um poquinho de pó de café em riba/pá avivá as brasa um poquinho. 270 PESQUISADORA: O pó de café fazia avivá? INFORMANTE 2: Tinha ferro que sortava umas brasinha e ficava quemano os pedacinho da ropa. PESQUISADORA: Aí ficava os furinho? INFORMANTE 3: Ficava. Agora pá tomá banho, quando murria vaca lá. Fazia o sabão preto, da vaca. ( ) A gente tomava banho caquele sabão. 275 PESQUISADORA: Como é que chamava o sabão? INFORMANTE 3: Sabão preto. INFORMANTE 4: Sabão de cinza. PESQUISADORA: Sabão de cinza? Mais fazia do quê? A vaca morria e pegava o que da vaca? INFORMANTE 1: As gurdura, né? Pegava a gurdura da vaca pá fazê sabão. 280 INFORMANTE 4: Fritava. Fazia aquela gurdura, dipois fazia a cinza. Pegava a cinza/ a lata inchia de cinza ia pono água e aí pingava/ fala que era sabão de cuada. PESQUISADORA: Por que que falava de cuada? É de cuada? INFORMANTE 2: Sabão de cuada é o caldo da cinza. (( vozes)) sabão de cuada é o que saía embaxo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 34 INFORMANTE 1: Aí dispejava o sabão. 285 INFORMANTE 2: Hoje é a soda. PESQUISADORA: Ah, hoje põe a soda no lugar. INFORMANTE 4: Naquê tempo num tinha soda, punha a diquada que ês falava. PESQUISADORA: Gente! INFORMANTE 1: Era difici’. 290 PESQUISADORA: E hoje em dia o povo num cunhece mais nada disso, né? Nem ouve falá. INFORMANTE 1: É. INFORMANTE 2: Teve uma pessoa que cansou de me pidi pra arranjá um sabão de cinza. Falei: “Meu Deus, vô ranjá onde?” Aonde? É... INFORMANTE 4: Eu nem sei fazê. 295 INFORMANTE 1: Ingraçado, cê tava fazeno sabão, chegava uma pessoa ( ) às veiz o sabão tava na hora de tirá, virava uma água. PESQUISADORA: Por que? INFORMANTE 1: Por que que era cumadi? INFORMANTE 4: Ah, eu num sei. 300 INFORMANTE 3: Oio ruim. É oio ruim. INFORMANTE 1: O sabão virava uma água. Esse sabão num prestava mais. INFORMANTE 2: Um dia chegô uma mlher lá “nossa mais que bele/que chero de sabão.” Já tava quais na hora de descê. Quando ela foi imbora e a mamãe foi lá, tinha derramado tudo. ((vozes)) PESQUISADORA: Gente! 305 INFORMANTE 1: Subiu, virô água. PESQUISADORA: Sabão num pode ter participação de ota pessoa. Num pode nem visitá a pessoa se tivé fazeno sabão? INFORMANTE 1: A pessoa num pode não. (( vozes)) PESQUISADORA: Hoje em dia ninguém faiz isso não. (( ruídos)) 310 INFORMANTE 4: E agora tem de tudo e o povo ainda recrama. PESQUISADORA: É verdade. Antigamente era muit mais difícil e o povo hoje reclama... INFORMANTE 3: Agora conta causo de fazê açuca, fazê melado é mais doce. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: Lá em casa tinha ingenho. ((vozes)) Tinha ingenho, muía cana. 315 PESQUISADORA: Hã. INFORMANTE 2: Chegava de madrugada ( ) ficava pono o cavalo no ingenho, um punha a cana e o oto tocava o cavalo. Chegava manhecia o dia aquela caxa grande cheia de garapa. Punha nas caxa e ia apurá. PESQUISADORA: Aí ia fazê a rapadura? INFORMANTE 2: A rapadura, o açúca mascavo. 320 INFORMANTE 1: ( ) aquela tacha que tava aquela beleza. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Já tava bem adiantado. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: Caiu um calango no meio. 325 PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE 1: Nóis pegô e jogô fora. PESQUISADORA: Ai que raiva. INFORMANTE 2: Naquele tem pó num era calango. Naquele tem pó era aquelas largatixa. INFORMANTE 1: Não naquê tempo era calango. ( ) 330 PESQUISADORA: Esse calanguinho que anda na casa da gente? (( vozes)) ( ) Perdeu o quê? INFORMANTE 1: Perdeu a madrugada. PESQUISADORA: Ah não. É muito sacrifício. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Mais é o que vocês falaram mesmo na roça era muito mais difícil, hoje tá muito mais fácil e o 335 povo reclama. INFORMANTE 1: No caso da iscola... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: iscola era um/ era uma ( ) mais tinha ( ) cartera grande assim ( ) pá sentá ( ) se tinha setenta aluno, pá senta tinha deiz cartera. ( ) um ficava impurra pra lá, impurra pra cá ( ). 340 PESQUISADORA: A sinhora era guerrra. INFORMANTE 2: Era muit difici’ minina ( ) PESQUISADORA: Nossa a sinhora era jovenzinha. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 35 INFORMANTE 2: Porque lá a iscola ficô fechada ( ) dezembro, janero, feverero, março. PESQUISADORA: Hã? 345 INFORMANTE 2: Abril. Os minino ia lá, chegava lá tava fechada. ( ) PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: Aí o papai veio aqui na cidade e o Ananias Emerenciano é o/ é o/ que era o diretor da iscola. Ele foi o primero professor dessa iscola. Aí ê me chamô/chamô o papai e falô “ ô Antunino, cê num tem/cê num cunhece uma moça o[u] fia sua o[u] quarqué coisa. Abri aquela iscola lá. Porque do jeito que tá num tem jeito.” 350 PESQUISADORA: Hum hum. INFORMANTE 2: Vim aqui no meu avô/ o meu avô falava o Ananias tem que se virá. Aí o papai chegô lá na roça e falô que era pá me levá no oto dia. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 2: No oto dia papai me troxe lá na casa dele. Isso era no dia dezessete de maio/ dezessete de 355 maio. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: Aí eu falei (( vozes)) ( ) no oto dia. PESQUISADORA: Gente! INFORMANTE 2: ( ) mais vô como? 360 PESQUISADORA: Calma gente num é assim não. INFORMANTE 2: E eu fui registrada na data daquele dia. PESQUISADORA: E a sinhora já teve que começá a trabalhá rapidinho? INFORMANTE 2: ( ) INFORMANTE 1: Demorô quanto tempo pá recebê? 365 INFORMANTE 2: Um ano. Passô um ano interinho, sem recebê um centavo. PESQUISADORA: Intão a sinhora feiz por gosto mesmo? INFORMANTE 1: ( ) discontava do imposto, né? PESQUISADORA: Que isso! Era municipal na época, né? INFORMANTE 1: Era. 370 PESQUISADORA: Gente, agora eu vô desligá e a gente pode conversá. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 6 INFORMANTE: J. S. (80 anos, Analfabeto, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 36 PESQUISADORA: Qual é o nome do senhor mesmo? É J.S. ? INFORMANTE: É. J.S. PESQUISADORA: É J. ( ) / o senhor nasceu em 4 de junho de 1900 e... INFORMANTE: De 1928. PESQUISADORA: Faz quantos anos que o sinhor falou que tá benzendo? 5 INFORMANTE: 50 ano. PESQUISADORA: O sinhor nasceu aqui em Passos? INFORMAMTE: Aqui em Passos, lá no bairro da Penha. PESQUISADORA: Bairro da Penha? INFORMANTE: Ah, tá. 10 PESQUISADORA: Os pais do sinhor/ são/ eles/ era, daqui? INFORMANTE: Daqui mesmo. PESQUISADORA: Daqui de Passos? INFORMANTE: Daqui de Passos. PESQUISADORA: Qual que era o nome do pai do sinhor? 15 INFORMANTE: P.E. PESQUISADORA: E da mãe? INFORMANTE: M.C. PESQUISADORA: O sinhor viu Passos crescer. INFORMANTE: Uh! Eu naisci foi lá na Casa Seca... Porque a água era difíci’. 20 PESQUISADORA: Casa Seca? Por que a água era difícil? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Que interessante seu J. INFORMANTE: Era só cisterna. PESQUISADORA: E o sinhor lembra de alguma história aqui dessa época/ engraçada/ sei lá/ alguma coisa 25 interessante que aconteceu de assombração, senhor lembra de algum ((Risos)). INFORMANTE: Caso de assombração? PESQUISADORA: É. Passos tinha assombração. Ou nada? INFORMANTE: Não, não. Caso de assombração que alembro moça/ foi assim.( ) Aconteceu cumigo/ eu gostava muito ( ) aí os cachorro ( ) apontô o tatu ( ) e nóis foi ( ) e cavucô e cavucô e não 30 achemo o tatu e no chão. Aí nóis foi imbora. Isto aconteceu comigo. PESQUISADORA: Isto aconteceu com o sinhor? INFORMANTE: É, aconteceu cumigo. PESQUISADORA: Mas o sinhor conhece alguma que aconteceu com outra pessoa? INFORMANTE: Não. 35 PESQUISADORA: Que o sinhor achou impressionante? Ou não? INFORMANTE: Não, não. Também não. PESQUISADORA: Não? E nessas histórias de benzeção do sinhor, tem alguma coisa assim ( ) ? Porque são cinqüentas anos benzendo, né? INFORMANTE: É. É cinqüenta anos bezeno. Oh! ( ) meio doido cuma dor de cabeça. Intendeu? 40 PESQUISADORA: Intendi. INFORMANTE: Cuma dor de cabeça muito forte. ( ) PESQUISADORA: Tava com essa dor de cabeça fortíssima. O sinhor é casado? INFORMANTE: Sou viúvo, né? PESQUISADORA: Viúvo? 45 INFORMANTE: Fui casado, né? PESQUISADORA: Mas o sinhor não casô de novo não? INFORMANTE: NÃO! PESQUISADORA: O sinhor tem quantos filhos? INFORMANTE: ( ) Num sei. P.? 50 PESQUISADORA: Uai, o sinhor esqueceu? INFORMANTE: Vem cá. Isquici. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 37 PESQUISADORA: A. é quem? Filha? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: O sinhor participa de Congada também, né? 55 INFORMANTE: Eu saio. PESQUISADORA: ( ) desde quando o sinhor participa? INFORMANTE: Ah, tem... PESQUISADORA: ( ) anos? INFORMANTE: ( ) 60 PESQUISADORA: O sinhor mexe com quê? INFORMANTE: Oh não! Tem mais minina. Ó, eu mexo com Congo desde de idade de seis ano. PESQUISADORA: Desde... INFORMANTE: Seis ano que eu cumecei a dançá Congo. Lá na Casa Seca. PESQUISADORA: Na casa que era onde num tinha água, né? 65 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: E é ali na Penha que o sinhor falô. INFORMANTE: É, lá na Penha. PESQUISADORA: Ah, tá. Interessante. TERCEIRO: Oi? 70 PESQUISADORA: Ele quer saber quantos filhos... ele tem. Que ele não ( ). INFORMANTE: Quantos cêis é? Mais de nove, não é isso? TERCEIRO: Intão, morreu trêis. PESQUISADORA: Ficaram seis. TERCEIRO: Intão é seis. 75 PESQUISADORA: Intao são seis filhos que o sinhor ( ). O sinhor começou a dançar Congo desde os seis anos? INFORMANTE: Desde os seis ano de idade. PESQUISADORA: E quem levô o sinhor pro Congo? INFORMANTE: Minha mãe. PESQUISADORA: Sua mãe? 80 INFORMANTE: É. M.C. PESQUISADORA: Quem é esse aqui do quadro? INFORMANTE: Na onde? PESQUISADORA: Aqui do lado. Aqui ó. INFORMANTE: Hein? 85 PESQUISADORA: ( ) Desse lado aqui. INFORMANTE: Esse aí é um preto véio que pintaro. Aí ês ficaro/ dipois que pintô o preto véio ficô cum medo e me deu. O rapaiz que pintô o preto véio ficô cum medo. Aí ê pirguntô: “ sinhor qué po sinhor?” Falei: “quero”. Aí ele foi e me deu ele. PESQUISADORA: E esse pai Joaquim quem era? 90 INFORMANTE: Esse aqui. ( ) PESQUISADORA: É famoso? INFORMANTE: É famoso benzedô. PESQUISADORA: Benzedor ele? INFORMANTE: É benzedô ele. 95 PESQUISADORA: E como que/ a benzeção surgiu na vida do sinhor? Que que aconteceu? INFORMANTE Eu pra te expricá o que aconteceu foi o siguinte: eu num tinha riligião, eu não acreditava em nada. Só em Deus, né? ( ) teve um fio aqui meu, o D. ficô duente. Intendeu? PESQUISADORA: Intendi. INFORMANTE: Ê fico duente aí ( ) levei ele no médico. No dotô Z. L. ( ) infantil. E eu num acreditava em 100 centro ispirita ( ) aí a sinhora lá ( Deus dê discanso eterno pro esprito dela) “fala po sô J. que picisa de vim cá porque o fio dele/ ele num tem cunhecimento e se ele vié cá o fio dele vai sará, sua famía vai miorá.” Aí eu tinha um fio, o D. ê era alejado. Tinha um que dismaiava, intendeu? PESQUISADORA: Intendi. INFORMANTE: Aí, é isso. Eu vô, mais dexa ê sará primero. Moça, cum cinco veiz que ê foi lá, ê sarô. 105 PESQUISADORA: Sarô? Sarô total? INFORMANTE: Saro total. Hoje ele é casado. Pai de famía. Ô moça, aí quando eu vi ê são. Eu falei “uai”. Eu memo aqui. Aqui nessa casa aqui. Vai, num sei lê, nem escrevê, né? Tô errado diante de Deus, né? Eu dicidi cunhecê ( ) ê sarô ( ) Eu vô lá. Aí me apreparei aqui e fui lá. Fui lá e ela falô: “ Ó, sô J., o sinhor, tem o dom de benzê dado 110 por Deus. O sinhor é preciso cuidadr disso.” “se fô pra o bem da minha famía e pra o bem de que me procurá em nome de Deus, eu vô...” ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 38 PESQUISADORA: Sinhor vai seguir? INFORMANTE: Eu vô sigui. E daí por diente, moça graças ao poder de Deus mudei de vida. Mudei de vida. Dipois de lá mudei de vida. A minha famía miorô e tale. O que ele me passava eun num sintia mũto bem, sabe? 115 PESQUISADORA: Por que? O que ela passava? INFORMANTE: Num sei. Eu num sintia mũto bem. Mais eu aceitava, intendeu? Mais ea curô minha famía. O que fô bão pra mim e pra todos que me procurá em nome do vosso no me eu quero recebê de vorta, num quero que ninguém vem e orientá não. Cê intendeu? PESQUISADORA: Intendi. 120 INFORMANTE: Porque eu num sei lê, num sei escrevê. Eu quero recebê diretamente mandado por vós. Aí moça... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Pegô vim as intuição na minha cabeça. Por ixemplo/ intão as oração que eu rezo ninguém me insinô. 125 PESQUISADORA: O sinhor reza assim, é intuição? INFORMANTE: Ninguém me insinô. Cê me intendeu? PESQUISADORA: E o sinhor tem uma reza pra cada um? INFORMANTE: Não. Não. Não. PESQUISADORA: Às vezes chega um/ alguém aqui pra ser benzido e o sinhor acha que é... 130 INFORMANTE: Não. Não. Não. Tudo tem que sê ( ) Tudo ele tem que sê dominado, dotrinado e pirduado por Deus. Intendeu? PESQUISADORA: O sinhor prega isso? INFORMANTE: Ixatamente. Tudo tem que sê dominado, dotrinado ( ) Deus. Só num tem cunhecimento do que Deus é por todos nóis. 135 PESQUISADORA: Só num tem esse conhecimento, né? É verdade. INFORMANTE: O que Ele é por todos nós. Cê tá me intendendo? PESQUISADORA: Tô entendendo o sinhor. INFORMANTE: Por que a maioria do povo é fio de Deus e tem arguns que num aquerdita que num é filho de Deus. 140 PESQUISADORA: Desencaminha, né? INFORMANTE: Exatamente ( ) Ês num vê que somo todos irmão dento de Deus. Não, igual, mais é irmão. Não igual, mais é irmão. PESQUISADORA: Mas somos/ é/ pregado por Deus. INFORMANTE: ( ) aqui nesse mundo ta tudo nóis somo fio de Deus ( ) 145 PESQUISADORA: O sinhor sempre morô aqui? O sinhor cumeçô a benzê aqui? INFORMANTE: Foi aqui. Aqui memo. Aqui memo. PESQUISADORA: Intao faiz muitos anos que o sinhor mora aqui. INFORMANTE: Ah, deve tê... PESQUISADORA: Sempre dentro de Passos? 150 INFORMANTE: Sempre dento de Passos. PESQUISADORA: O sinhor nunca morô na zona rural? INFORMANTE: Já, já morei, uai! PESQUISADORA: Ah, os inhor já moro na zona rural. Onde o sinhor morô? INFORMANTE: Morei aqui na Samambaia... na Samambaia, né? 155 PESQUISADORA: A Samambaia. Ainda tem nome de Samambaia hoje? INFORMANTE: Num sei se lá ainda tem nome de Samambaia. Lá na/ perto da Casa Funda. PESQUISADORA: Casa funda? Tinha córrego/ ribeirão lá perto? INFORMANTE: Isso tinha. PESQUISADORA: O sinhor lembra os nomes? 160 INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Num lembra os nomes de lá não? INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Morô quantos anos na zona rural? INFORMANTE: Ah, vim pá cá pá cidade... 165 PESQUISADORA: O sinhor num sabe lê nem escrevê até hoje? INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Nunca aprendeu? INFORMANTE: Nunca. PESQUISADORA: Num foi à escola... Num aprendeu a lê? 170 INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Ah! E os filhos estudaram? Aprenderam? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 39 INFORMANTE: ( ) os que num quiseram, né? Mas induquei pra todos aprendê. PESQUISADORA: Pra todos aprenderem. Tá certo. Educação é importante seu J. INFORMANTE: Num quisero, né? 175 PESQUISADORA: O sinhor começô a benzê desse jeito? INFORMANTE: Hum? PESQUISADORA: E agora são cinqüenta anos... INFORMANTE: ( ) pelo amor. Cumecei a benzê pela dor ( ) trêis filho duente, cumé que cê vai fazê? O médico num discubria. E ieu ganhano aquê ordenadinho. 180 PESQUISADORA: O sinhor trabalhava em quê? INFORMANTE: Na lida de café. PESQUISADORA: Ah, tá. O sinhor tem umas histórias de Congada pra contá pra mim? INFORMANTE: História de Congo? PESQUISADORA: É. O sinhor deve tê muito, dançando desde os seis anos. 185 INFORMANTE: Ah, mais história de Congo é assim: o povo fala que era feiticero, né? Porque ieu num acredito nisso hoje, né? Porque eu tenho o poder de Deus e é. Conforme eu te falei. O dom que Deus dá pra todos nós é dominá e dotriná e apresentá aquele que num tem cunhecimento que ele é filho de Deus. PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE: Hein? Aí cê pratica as oração que é mandada por Deus, né? 190 PESQUISADORA: A verdade é dá o caminho pro/ pra pessoa. INFORMANTE: As pessoa da cunfiança de Deus. As pessoa da cunfiança de Deus. PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Ês falava macumbero, mais porque num tinha esse cunhecimento, né? PESQUISADORA: De benzeção, né? 195 INFORMANTE: É anos de benzeção, né? ( ) cum dor de cabeça. E veio cá cum tenção do mal. Porque ele saiu daqui duente. Eu apresentei ele a Deus ( ) atacô ele. PESQUISADORA: Na verdade ele num tava preparado para recebê Deus quando vê ele recebeu aí saiu cum dor de cabeça. INFORMANTE: Saiu cum dor de cabeça.Cê intendeu? Porque num tava preparado para ouví aquilo que era 200 mandado por Deus. Ele só tava preparado para ouví o mal, mais cumu ele ouviu o bem de Deus, ele saiu duente. Depois é que ele miorô. Intendeu? PESQUISADORA: Entendi. E as Congadas existem por que seu J.? Que que é o objetivo da Congada? Por que que existe a festa? INFORMANTE: Ah, não. Aí se tá tocano naquilo que tá ligado ao mistério de Deus. Por exemplo, esse dom que 205 eu tenho é um mistério de Deus. PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE: Eu sou analfabeto de num sabê lê nem escrevê. Todas pessoa que vem aqui admira do que eu falo. PESQUISADORA: É verdade. 210 INFORMANTE: Hein? Todas as pessoa que faço orações que eu faço. Hein? PESQUISADORA: Com certeza. INFORMANTE: Mistério de Deus. Poca pessoa que num aceita, mais depois vai passano, vai passano. Eas aceita e vortam aqui novamente. PESQUISADORA: É questão de aceitação. É verdade. 215 INFORMANTE: Não, num é isso. É porque Deus é mistério. E num tá iscrito no invangelho é a palavra de Deus. O que ta iscrito no invangelho é a palavra de Deus. O que tá iscrito na Bíblia é a palvra de Deus. Cê intendeu? Porque esse mundo ele deu pra nóis vivê em paiz. Intão a pessoa tem que entendê o que é o mistério de Deus pá aceitá a vida que Deus deu a ele assim. PESQUISADORA: Alguém lê a Bíblia pro sinhor? 220 INFORMANTE: Uai, eu num sei/ não eu num tenho, uai! PESQUISADORA: Ah, o sinhor num tem Bíblia? INFORMANTE: Não, é conforme eu tava te falano, eu recebo intuições. Intuições. Aquilo que vem na minha cabeça em nome de Deus, eu falo. Intendeu cumé que é? PESQUISADORA: Entendi. E a congada, surgiu como? 225 INFORMANTE: A congada faz parte da pré- ixistência da fé, né? PESQUISADORA: A festa é pra homenagear os três? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Acontece quando? INFORMANTE: Em dezembro. 230 PESQUISADORA: No começo de dezembro? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 40 INFORMANTE: No dia vinte e cinco de dezembro. Que é Nossa Sinhora do Rosário. A primera é Nossa Sinhora do Rosário, né? Porque é a protetora dos escravos, né? PESQUISADORA: Eu num cunheço a história da congada seu J. INFORMANTE: Não? 235 PESQUISADORA: Não, num conheço nada. INFORMANTE: Cê num é daqui de Passos não? PESQUISADORA: Não/ sô masis num cunheço muito. INFORMANTE: Ah! PESQUISADORA: E eu acho interessante história. 240 INFORMANTE: Ah. A congada é ( ) PESQUISADORA: Minino Jesus tamém, né? INFORMANTE: É o padre agora pois Minino Jesus, né? Mais já comemorava o minino Jesus no dia vinte e cinco de... PESQUISADORA: Na verdade o que acontece na congada, é canto ou é dança? 245 INFORMANTE: Não. É canto. PESQUISADORA: Só canto. E que tipo de música? INFORMANTE: Ah! Aí é na cabeça de cada um. Num tem cumé que fala, num tem compositor. PESQUISADORA: Não? INFORMANTE: Não tem compositor. 250 PESQUISADORA: Tem congada e qual é o outro tipo mesmo? Folia de Reis é a mesma coisa? INFORMANTE: Não, é outra linha. PESQUISADORA: Qual é a diferença dos dois? INFORMANTE: Os trêis Reis Santo é o nascimento do minino Jesus. Aí os trêis reis mago foi caçá minino Deus. Foi caçá o fio de Deus quando nasceu, os trêis reis santo. 255 PESQUISADORA: Isso é folia? INFORMANTE: Já ouviu na história, né? PESQUISADORA: Já ouvi na história. Aí levaram os presentes. INFORMANTE: Exatamente, num é isso. PESQUISADORA: Agora a congada, não. Ela é homenagem a esses três... 260 INFORMANTE: Aos trêis santo. São Benedito, São... PESQUISADORA: Quem trouxe para o Brasil a congada? INFORMANTE: Ah, foi os africano. PESQUISADORA: Ah, eles que trouxeram para cá? INFORMANTE: Trouxe pra cá. 265 PESQUISADORA: E depois ficou uma tradição? INFORMANTE: Uma tradição... PESQUISADORA: Entre as pessoas aqui... INFORMANTE: Aí os filhote, né? Os filhote de africano... PESQUISADORA: Quem continuaram a tradição? 270 INFORMANTE: que continuou a tradição. É na Bahia, Minas, né? PESQUISADORA: O que que o sinhor faz dentro da congada? Sinhor tem/ o sinhor representa o que lá dentro? INFORMANTE: Eu sô o capitão. PESQUISADORA: O que que é o capitão dentro da congada? INFORMANTE: É o cacique. 275 PESQUISADORA: Cacique? Qual é o seu papel? INFORMANTE: Ieu? É cantá. PESQUISADORA: O sinhor ta cum 80 anos e tá forte, né? INFORMANTE: Lá vai pelejano, né? Só que fiquei ruim da vista, né? PESQUISADORA: Mas o sinhor não está enxergando bem? 280 INFORMANTE: Não, bem não. Já operei a vista... PESQUISADORA: É catarata? Que que é? INFORMANTE: É catarata. PESQUISADORA: E o sinhor num inxerga muito bem não, né? INFORMANTE: Não, num inxergo muito bem não. 285 PESQUISADORA: Mais não quis fazer cirurgia? INFORMANTE: Não de novo não. Azar num podê mexê muito, né? Mexe vai até cabá, né? PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: O sinhor num quis mexê? 290 INFORMANTE: Num quis porque o restinho que eu tenho ainda tá bão. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 41 PESQUISADORA: Tá bão. Às vezes é pior mexê. O sinhor tem razão. INFORMANTE: Ah, num adianta não. Num adianta não. PESQUISADORA: O sinhor sabe aí um caso engraçado pra me contá então? INFORMANTE: Ah, minina. 295 PESQUISADORA: Lembra dum aí pra me contá. INFORMANTE: Ih. ( ) PESQUISADORA: Outro caso de assombração, caso de quaresma? O sinhor conhece algum? O que que o sinhor acha da quaresma? O sinhor acha que existe... INFORMANTE: Eu respeito muito a quaresma... ( ) 300 PESQUISADORA: Por que que o sinhor acha que a quaresma é um tempo diferente? INFORMANTE: Ah, é. Porque é a ordenação do mistério de Deus para o bem de todos nós. ( ) Quarenta e cinco dias que Deus ( ) nome de Cristo ao mundo pá nos dá intendimento do mistério do mistério. Meu cunhecimento é assim moça: “Cristo é o Deus”. Mais Ele pá nos insiná a vivê Ê veio como fio de Deus. Mais Ele é o Deus. 305 PESQUISADORA: Hum hum! INFORMANTE: Mais ê veio cumu fio. Sinão ê num ia aceitá o sacrifício da vida. PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE: Tá intendeno? PESQUISADORA: Tô. E a quaresma é um tempo diferente? 310 INFORMANTE: Ah. É respeitá os quarenta e cinco dia que Cristo/ Deus veio pá nos dá insinamento pá nóis recebê o mundo que Ele dexô pá nóis. PESQUISADORA: Recebê o que? INFORMANTE: Recebê o mundo que Ê dexô pá nóis. PESQUISADORA: Ah! Entendi. E o senhor acha/ assim porque na quaresma tem gente que acredita em 315 assombração? INFORMANTE: Arma tem uai! PESQUISADORA: Espírito. O sinhor já ouviu falá de algum caso? INFORMANTE: Não. Tem aqueles que passaro por esse mundo. Passaro por um mundo. E desencarnô sem conhecê que era fio de Deus. Ai ele vorta pá sê perdoado, uai. Ele vorta. Ele vorta numa casa que ele morava. 320 Ele vorta notra. Aí ês vai mostrá ele o caminho que ele feiz errado aqui em nome de Deus pá ê pegá o caminho certo e í[r] embora. PESQUISADORA: Então, na verdade é porque ele num cumpriu a missão dele aqui? INFORMANTE: A missão dele aqui, ê num respeitô aquilo que Deus otorizô ê recebê aqui e praticá cum os outro. 325 PESQUISADORA: Quando o sinhor morô na fazenda, o sinhor ficô sabeno de algum caso? Porque fazenda é comum, né? Caso de assombração? INFORMANTE: Não, não, não. Fazenda ninhuma. PESQUISADORA: O sinhor lembra da época do ouro aqui? Quando acharam ouro em Jacuí? INFORMANTE: Não, num lembro. 330 PESQUISADORA: Aliás, o sinhor num lembra não que é muito antiga. Mas o senhor já viu falar em alguma coisa? INFORMANTE: Não, não. Dessa história nunca vi falá. PESQUISADORA: Do ouro em Jacuí? INFORMANTE: Não, essa num ouvi falá não. 335 PESQUISADORA: O sinhor conhece Jacuí? INFORMANTE: Não, nunca fui lá. PESQUISADORA: Nunca foi? Que cidade aqui em volta que o sinhor cunhece? Ou o sinhor num sai/ quase num si? INFORMANTE: Não. Eu saio. Cunheço Pratápolis, Itaú, ( ) já fui, né? 340 PESQUISADORA: ( ) Fortaleza. É/ Jacuí é ali perto. INFORMANTE: É pra diente um poquinho., né? PESQUISADORA: Tem história de escravo aqui ô/ seu J. Daqui de Passos? INFORMANTE: Não, num cunheço não. História de escravo. PESQUISADORA: Passos é uma cidade relativamente nova, né? 345 INFORMANTE: Não, Passos teve escravo mais num foi sacrificado, né? Tinha mais liberdade, né? PESQUISADORA: Num foi tão sacrificado quanto... INFORMANTE: O povo foi mais homano. Mais homano. PESQUISADORA: O povo foi mais o quê? INFORMANTE: Mais homano. 350 PESQUISADORA: Ah, tá. Nossa mais é muit tempo benzeno, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 42 INFORMANTE: Ixe! PESQUISADORA: Cinquenta anos. O sinhor já deve ter visto tanta coisa, hein? Tanta gente ruim vindo, tanta gente boa. INFORMANTE: Nossa! Só Deus é que pode ... Teve gente que chegô amarrado aqui e pidi cum o nome de Deus 355 pá disamarrá. PESQUISADORA: Tem muita gente que vem com o coração fechado aqui seu J.? INFORMANTE: UH! Nossa mãe! Santo Deus! PESQUISADORA: Já teve caso que o sinhor falô “ ah, num tem jeito, pode í[r] embora que num vai tê jeito de benzê?” 360 INFORMANTE: Não, graças a Deus não. PESQUISADORA: ( ) cê num tem jeito? INFORMANTE: Não, não. Já, já. PESQUISADORA: Num tem como? INFORMANTE: Não, já. Presta tenção conforme fô o caso da pessoa, procê intendê dereitinho. Cê num pode 365 benzê a pessoa na hora. PESQUISADORA: Cê tem que fazer uma preparação? INFORMANTE: Não, num é isso. A pessoa num tá preparada pá recebê. Aí cai aí, machuca, istribucha. PESQUISADORA: Si. INFORMANTE: Conforme a orientação, cê pega o endereço e manda a pessoa imbora. Aí a pessoa vai imbora, 370 cê reza na casa da pessoa. Aí a pessoa miora. Passa trêis, quatro mêis a pessoa vorta aqui. PESQUISADORA: Para ser benzida? Aí ela tá preparada para ser benzida? INFORMANTE: Aí ela tá preparada. Aí ela tá preparada. Aí ela vorta. Tem gente que chega aqui e fala: Senhor vai me benzê”, conforme ela tivé eu falo: “num posso”. Aí eu pirgunto o nome e o endereço, né? PESQUISADORA: Hã! Aí o sinhor reza intencionando pra ela, lá na casa dela. 375 INFORMANTE: Lá na casa dela. Porque ela tem que vivê bem lá num é isso? PESQUISADORA: É verdade. INFORMANTE: Ela num pode vivê bem aqui. Intão cê pede licença de Deus e reza. Aí a pessoa cum o passá dos dia, miora. Vê que veio aqui e miorô. Aí sem ocê chamá, ela vorta. “eu tive aqui na casa do sinhor, melhorei muito...” Intendeu? 380 PESQUISADORA: Ah, tá. E o sinhor já incontrou gente assim que num aceitou o que o sinhor falou? INFORMANTE: E muito! E muito. E depois vortô. PESQUISADORA: Na hora que o sinhor falou num aceitou? INFORMANTE: E dispois vortô aqui novamente. Dipois vortô novamente. Muita vez. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 7 INFORMANTE: J.B. (75 anos, Analfabeto, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 43 PESQUISADORA: Então, lá na terra do senhor? INFORMANTE: Lá na minha terra o povo era male, ignorante. Tinha um tar de J. B. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: O cara vem aqui, é parente dele. PESQUISADORA: Parente do tio Z.? 5 INFORMANTE: Vem aqui mũto no Z. esse J.B./ o tar de E. veio mũto aqui no Z.R. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Exe J.B. só fazia as coisa errada. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Pessoa, o que cê deve, cê deve pagá. Num dianta, cê num paga hoje. Passa uns deiz dia, uns 10 quinze dispois cê tem que pagá. Esse J.B. fazia só maldade cum oto. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Quondo foi pra ê morrê. Este home morreu que nem uma criação, morreu no meio do pasto. PESQUISADORA: Credo! INFORMANTE: Morreu no meio do pasto. Ê ficava po rio/ nóis era criança tudo tinha medo dele. Ê curria assim 15 e falava: “corre que a pulícia envem. A pulícia qué vim pegá.” Mais ê matô num foi um, nem doisi. Matô um punhado, meu pai sabia tudo os que ê matava. PESQUISADORA: Ê matava por quê? INFORMANTE: Quarqué/ lá na minha terra num tinha esse negócio de nego falá/ xingá o oto não. Ô, J. Lá era assim: o cara discurtia cocê, cê pudia falá Graças a Deus aquê lá tá livre, aquê lá agora vai memo! Num tinha 20 cunversa não. Esse J.B. ele discurtia cuma pessoa e ficava trêis, quatro dia siguino aquela pessoa pá matá. PESQUISADORA: Credo! INFORMANTE: Ele matô um cara, um criolo de famia, gente boa. Matô o criolo e corda marrada no pescoço do criolo e espingarda de tiracosta no peito. Lá ia arrastano o nego pá in/jogá n’água. Chegava lá/ ês matava a pessoa, chegava lá punha a pessoa dento da canoa no rio, né/ num era represa não. Era o rio que curria. Chegava 25 lá marrava umas duas pedra boa naquê difunto e tacava no meio do rio. Quem que ia achá aquilo na vida? PESQUISADORA: Ninguém. INFORMANTE: Nunca achava. E ele lá ia arrastano este criolo da casa dele, qué vê a distância? Cumu daqui no posto Martin do rio. PESQUISADORA: Hum hum. 30 INFORMANTE: Ele arrastano o nego, marrado no pescoço arrastano. E o Z.T. que era irmão dele e T.I. ele era vô daquê Toin que vinha aqui, do meu primo. Aí tar de T. bateu o jueio no chão e falô assim: ô João pelo amor de Deus que cê tivé, no leite que cê mamô na minha mãe num faiz isso não. Vamo levá exe criolo pra tráis e vamo sipurtá ele. A muié dele fica sabeno, os fio fica sabeno. Vamo sipurtá ele. Nóis vende tudo que tivé e tira ocê da cadeia. Cê fica lá uns dia só pá cumprí pena e nóis te tira.” “ Eu vô jugá n’água é mais trêis, mais dois. Vô 35 tê que jugá é mais trêis ainda vai me dá mais trabaio pá levá isso lá e vim cá marrá cêis dois po pescoço e jugá lá. ( ) irmão.” O irmão levantô e falô: “J. pelo amor de Deus num faiz isso.” “Cêis pega o caminho dôceis senão é mais dois que vai morrê.” PESQUISADORA: Credo esse homem era bravo mesmo! INFORMANTE: ( ) E dispois vê que ê morreu no meio do pasto urrano que nem jumento. 40 PESQUISADORA: Mas por que/ ele morreu como? INFORMANTE: Uai, morre uai. Pessoa/ nem dento de casa ê num morreu S. Ê ficava correno assim, num parava, num cumia, num bibia quando foi ficano mais véio pá morrê. O tar de sô A., o cara feiz uma casa pá ele. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Feiz a casa arrumadinho. Intregô a chave na mão dele. Aí sô ( ) irmão dexe J.B. ( ) “Ô S. cê 45 vai imbora, quando fô daqui quinze dia cê vem e o seu dinhero tá interadinho aí.” O home veio pá buscá o dinhero ê saiu pá caçá co home. Chamô o home pá í[r] caçá cum ele. Jogô o home no rio. Até onte o home num apareceu. PESQUISADORA: Às vezes hoje ele aparece, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 44 INFORMANTE: Tem base? Lá era assim mia fia. Onde nóis foi criado num era brincadera não, é da moda daquê 50 Sasá Mutema do Desemboque. Nego lá num tinha jeito de discurti cum outo e ficá iguale hoje. Nego truva aí pá rua, dá um tapa, vai preso. Lá nego discurtia um co oto pudia falá: “aquê lá tá morto.” PESQUISADORA: Credo! INFORMANTE: Exe J.B. deu dois tiro no meu pai. Mai’ meu pai era meio/ meio lá meio cá, sabe? Meu pai tinha batido num cunhado dele há duas semana atráis. Aí e foi e deu dois tiro no meu pai. Meu pai virô assim pra ele: 55 “ô bobão, disso aí eu num tenho um pingo de medo. Cê acha que eu num levanto cedo, num aprivino e num fecho meu corpo? E agora vô te cortá no facão.” E ê foi correno lá po capãozinho e meu pai chego lá pois ele / ( ) ele entrô dento da canoa e saiu po meio do rio. “Cê tá é doido D. num tem jeito de mexê cocê não.” Meu pai quiria cortá ele no facão. Tem base? PESQUISADORA: Não. 60 INFORMANTE: Lá num era mole não. PESQUISADORA: O povo lá era doido. INFORMANTE: Uai, eu te falava. O pió de tudo lá era isso, cada um era dono do seu nariz. Comprendeu? Tinha impregado/ tinha impregado era só na fazenda do tar J. G. E o tar de Z. P. era duas fazenda que tinha na rigião. Lá ninguém tinha fazenda. Cada um tinha seu pitisquinho lá, pedacinho de vivê. Tinha sua casinha ali, nego 65 prantava o que quiria. Cumia o que tinha porque ia caçá cum oto, ês istumava até cachorro na gente quando era muleque piqueninho. A mãe da gente falava “vai lá no fulano ranjá tempero dum trem.” Chegava lá ês até istumava cachorro na gente. Cê bobo. PESQUISADORA: Deus me livre! A turma lá era nervosa. INFORMANTE: Não. Mas esse povo, J. ninguém tem merda ninhuma. 70 PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: Num tem um desse B. que vê falá assim, fulano tá rico, milonário. Num tem um dês. Essa turma lá. Nego lá tinha fazenda, tinha aquês sítio bão. Vivia aquea vida de fartura tudo. O povo hoje vai assim rodano. O que num é bem pessuído num vai adiente. Lá tinha nego que tinha/ cê tinha uma terra assim/ vô falá procê, tinha seu petisquinho aqui. 75 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: O dês era de cá. Ês ia fazê essa cerca aqui, passava mais um poquinho pra cá. Vinha pra cá assim. Se ocê largasse, tinha que saí. PESQUISADORA: Eles eram malandros então. INFORMANTE: Eu acho. Meu pai tinha oito arquer de chão. Quondo nóis cismô da mão, nóis tava cum dois 80 arquer de chão assim. Dois arquerinho de chão. Os oto seis ês tomo. Ia tomano. Ia mudano a cerca e se falasse achava ruim. Teve uma veiz que nóis tinha/ os terreno nosso era assim tudo passava no corgo. E era de cá e de lá. Um tar G. C., vendeu po L.A. que era subrinho dele, aí pegô e passô o nosso de cá pra ele, pro G. C. isso po L.A. e ficô cum oto pra lá po G. Nóis ficamo sem nenhum/ nenhum petisquinho de chão. PESQUISADORA: Gente! 85 INFORMANTE: Sem casa de morada, sem nada, sem nada. Aí meu pai deu de cima, meu pai duente ia po Guapé, vai daqui, vai dali. Teve mió foi pra nóis num foi preles. Quando a represa veio aquês nego lá tinha deiz, vinte arquer de chão, trinta. Num recebeu um centavo, num tinha decumento. Ninguém tinha iscritura daquilo. Aí meu pai sofreu caquilo. Foi lá passo a iscritura nossa cum usocampião. Nóis tinha a iscritura quando as furna chegô falo “cêis tem direito de recebê tanto. Pagô nóis. Os oto lá tinha terreno mió que nóis recebeu uma carta. 90 ( ) isso aí cêis pegô o boi de disfruitá até agora sem cêis tê pagado imposto nem nada. Agora é do Istado dexa a água tampá. PESQUISADORA: Tá vendo? A desonestidade num leva a nada. INFORMANTE: Não. Por isso eu te falo. PESQUISADORA: ( ) 95 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 8 INFORMANTE: J.B. (80 anos, Analfabeto, sexo masculino) INFORMANTE: P.R.P. (72 anos, Ensino Fundamental I Incompleto, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 45 PESQUISADORA: A história/ começa a contar a história de novo. INFORMANTE: Ah, isso aí é o cumpade do meu pai, o/ ê morava aqui/ lá em Passos. ( ) mai’ ê tinha terra lá perto de onde ê morava. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E ê era assim gambilero. Gambilero é gente que comprava garrote, boi, porco, breganhava, 5 vindia, comprava. PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Intão ele pidia uma égua imprestada po meu pai. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí meu pai pegô e imprestô a égua pra ele pá comprá um gado lá no tale de Poso Alegre memo. 10 Perto da Fazenda Nova, lá tinha um povo/ tinha a igrejinha lá. Chamava Fazenda Nova. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: E era perto lá desse Poso Alegre, onde ( ). PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE: Aí, ê foi pra lá, andô o dia intero, chegô em casa. Naquê tempo lavava os pé na bacia. 15 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: A minha mãe pois água quente prele lavá os pé e ê tava lavano os pé e falo po meu pai assim ó: “ ô cumpade J.”. “O que que é cumpade S.” “Eu vô te falá uma coisa.” “Que que foi?” “Ocê num sabe onde tá a mãe dessa égua que ocê me imprestô?” Aí meu pai: “num sei.” Ela era muito trotona e animale trotão é/ faiz a gente cansá, né? 20 PESQUISADORA: Trotão é que/ que que ele faiz? INFORMANTE: Trotão é/ no modo dele andá, chacoaia dimais. Marchadô é/ ê num cansa né? Aí ê perguntô meu pai ((vozes)) Aí ê perguntô meu pai se ele num sabia onde tava a mãe da égua que ele tinha emprestado. Meu pai falô: “ah, eu num sei. Mais pra que que cê quiria?” “Não, é porque se eu subesse aonde ela tá, eu ia comprá ela pá num parí uma égua tão ruim iguale essa que eu tô esbagaçado. 25 PESQUISADORA: ((Risos)) Pelo amor de Deus vô mandá matá essa égua. Deus me livre. INFORMANTE: É. Intão aí é dexe jeito. E ê falava ota coisa tamém. Disse que tinha um aqui onde ê morava/ tem um lugá aqui que chama Morro do Café. Num sei se cê já viu falá. PESQUISADORA: Não. Morro do Café não. INFORMANTE: Lá tinha uma lavora de café e tinha um home que trabaiava cum ês aí. 30 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Diz que era mũto véiaco. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Pra trabaiá na/ roçano pasto, capinano. Intão eu acho que ê trabaiava acho que era no meio da turma. Agora, no café trabaia suzinho, na rua, ruada suzinho, né? 35 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Aí ês falava assim pra ele: “nóis qué pega ocê é no café ainda.” “Não, cêis pode pegá eu onde cêis quisé.” Esse cara véiaco. Ele era sacudido, mais era véiaco dimais. Aí depois de capiná café, ê num tinha prática e os oto tudo tinha. PESQUISADORA: Num tinha o quê? 40 INFORMANTE: Prática. PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: Prática é custume. Aí num tinha prática aí/ quando foi de duas hora pá tarde esse home sacudido foi froxano, froxano, froxano. Cansano. Ele pegô falô pro ( ): “ó isso aqui (ele tava no café ruado) isso aqui num foi home, num foi gente que prantô não, ruado dexe jeito aqui. Isso aqui foi o diabo que prantô.” 45 PESQUISADORA: Credo! INFORMANTE: Uai, porque todo lugá ele levava vantage, lá ele levô disvantage. Ê falô: “eu num venho aqui mais nunca.”E num vortô lá mesmo não. PESQUISADORA: Mas é cada história boa de antigamente, né? INFORMANTE: Uai, é uai. Negócio de sombração, né. Tem gente que fala que sombração num ixiste. 50 PESQUISADORA: Hã? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 46 INFORMANTE: Maisi, ieu/ eu num sei se era os tempo ou não, mais ieu já vi. Eu, S. meu irmão. Tem aí o J. H., num sei se ocê cunhece. PESQUISADORA: Não. J.H. eu num cunheço não. Acho que não. INFORMANTE: É, tinha o J. A. 55 PESQUISADORA: O J.A. eu/ era leiteiro num era? INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Não? INFORMANTE: O M.F. cê cunhece, né? PESQUISADORA: M. mora lá perto de casa. 60 INFORMANTE: Intão, o M. é um dos que viu. Pode perguntá ele. Nóis foi na iscola. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Nóis foi na iscola e na iscola que nóis tava ês ia pra fazê/ formá prova pá fim de ano. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Ês saía daqui pá í[r] lá na roça fazê, mais ês ia de a cavalo, né? 65 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Marcô o dia lá, nóis isperô, isperô num foi/ era o professore... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Emerenciano Campos. PESQUISADORA: Sei. 70 INFORMANTE: Esse Emerenciano até ê morreu faiz poco tempo. Ê compretô setenta ano de casado. Acho que a mulher dele é viva ainda. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E ele num foi nada. Aí nóis pegô e foi imbora da iscola já tinha quase uma légua pá andá pá chegá em casa. Quando nóis foi passá num certo lugá apareceu dois bode paralelo de nóis e nóis foi veno aquilo. 75 Lá vai, lá vai impariado numa certa distância. Trinta braça paralelo cum nóis na istrada. PESQUISADORA: Trinta braças? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: O que que é braça? INFORMANTE: Braça corresponde a dois metro. 80 PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: Cada dois metro tinha uma braça. Intão é uns sessenta metro. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E nóis jogano pedra, nóis jogano pedra nês. Dipois que nóis viu que aquilo lá era uma coisa diferente, nóis largô mão de jogá pedra e fincô num carrerão só e cada/ aí já tava perto de casa. Aí cada um foi 85 pá sua casa e ... PESQUISADORA: Falo sai fora. Deus me livre. INFORMANTE: Não. Eu mais a minha mãe viu tamém. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Eu, minha mãe, S. e S. mais véio. Nóis só tinha trêis em casa. Nóis é oito irmão, nóis só tinha 90 trêis. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: O mais piqueno que era o S. minha mãe tava carregano ele. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Nóis viu numa lavora de arroiz assim. Nóis foi ((vozes)) 95 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Nóis foi na casa dum vizinho e tinha uns animal assim perto desse arroiz. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E era tempo da quaresma. PESQUISADORA: Hã? 100 INFORMANTE: Aí, meu pai/ minha mãe nóis foi na casa do J. da Dona. A Dona era mãe dele. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Quando vê apareceu um lençol branco assim. Aquele lençol ( ) passô na cerca de arame assim e entrô no arrozal assim e sumiu. PESQUISADORA: Hum? 105 INFORMANTE: A minha mãe pegô o S. po braço assim e/ que era o mais novo/ o S. tava no braço/ o S. que era mais novo tava no braço. Aí pegô o S. po braço e saiu rastano o S. e ieu já tava mais isperto, mais véio, né? E nóis yinha um café de cá ( ). PESQUISADORA: Credo! Assombração num tá cum nada não. Deus me livre. Mas o povo num pode duvidar, né? Num pode brincar. ((vozes)) 110 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 47 INFORMANTE 2: Mais cê lembra uma veiz que o/ que eles conta que uma muié correu atráis do tio J.O./ ah do tio J.O./ do tio J.O. seu pai? Que ele veio correno e chutô um monte de fejão? INFORMANTE: Um monte de fejão. Ah, ê era casado de novo. Ês fala isso. Ês falava. INFORMANTE 2: É. Ês falava que ele passô de a cavalo e tinha um/ uma muié na bera da istrada. PESQUISADORA: Deus me livre de assombração eu tô correndo! Agora eu vô parar de gravar, mas a gente pode 115 continuar conversando. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 9 INFORMANTE 1: Z.L. (87 anos, Analfabeto, sexo masculino) INFORMANTE 2: M.J.F. (71 anos, Analfabeta, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 48 PESQUISADORA: Hoje em dia minino num tem mais medo de pai e mãe mais não. Mas então seu Z.L. eu vim aqui pro sinhor me contá umas história da roça. INFORMANTE 1: Da roça? PESQUISADORA: O sinhor morô a vida intera, deve saber muito bem sobre a roça, né? INFORMANTE 1: O que eu tem na roça? Num tem nada. 5 PESQUISADORA: Não, como que era a vida? INFORMANTE 1: Ah, era dura. PESQUISADORA: Quando o sinhor era minino lá na roça? INFORMANTE 1: Ah, quando eu era minino eu trabaiava, sete ano e ieu já trabaiava. PESQUISADORA: O sinhor fazia o quê? 10 INFORMANTE 1: Mixia cum carro de boi, candiero. PESQUISADORA: É? Mas o sinhor fazia o que cum carro de boi? INFORMANTE 1: Puxava lenha pra cidade, pra cá. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Puxava mio. 15 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Lenha. PESQUISADORA: Fazia de tudo? INFORMANTE 1: Tudo. PESQUISADORA: O meio de transporte era carro de boi? 20 INFORMANTE 1: É, era o carro de boi. A pé ou a cavalo. Pá vim aqui. PESQUISADORA: Ou carro de boi? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: O carro de boi era só quando tava cheio? INFORMANTE 1: Era. Quando picisava memo, né? 25 PESQUISADORA: Aí... INFORMANTE: Vinha a pé ou a cavalo. PESQUISADORA: Pode contá história da roça, agora eu só vô ouvir, num vô falá mais. INFORMANTE 1: ((Risos)) PESQUISADORA: Meu pai falo que o sinhor é bom de história de roça dum tanto. 30 INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: Num é nada? Mas o sinhor trabalhava na roça cum carro de boi, como que era? Fazê pá passiá? Fazia o quê? INFORMANTE 1: Ah, passiá num tinha/ num passiava não, né fia? PESQUISADORA: Não? Por que? 35 INFORMANTE 1: Porque num tinha jeito. A coisa era feia. PESQUISADORA: Tinha brincadera? INFORMANTE 1: Num tinha tempo. PESQUISADORA: Tempo? Mais naquela época gastava muito dinhero? INFORMANTE: Uai, num gastava porque num tinha. ((Risos)) 40 PESQUISADORA: Onde que era a roça que o sinhor morava quando era piqueno? Ou o sinhor morô a vida intera só nessa? INFORMANTE 1: Não, morei nos Campo, cá na fazenda tráis do morro. PESQUISADORA: Na onde? INFORMANTE 1: Tráis do morro ali. 45 PESQUISADORA: Mas a vida intera ou o sinhor mudô? INFORMANTE 1: Mudei. Fui pá Jacuí, fui pá lá perto da Ventania. PESQUISADORA: Hã? Aí o sinhor ficô andano. Mais aí o sinhor fico mais aqui em... INFORMANTE 1: Mais aqui. PESQUISADORA: E o sinhor foi crescendo e o que o sinhor foi fazendo na roça? Minino o sinhor andava de 50 carro de boi, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 49 INFORMANTE 1: Era. PESQUISADORA: Depois o sinhor foi ficar maior foi fazê o quê? INFORMANTE 1: Uai, eu mixia só cum carro de boi. PESQUISADORA: Só? Mas o sinhor fazia/ o... 55 INFORMANTE 1: Dispois/ dispois que eu casei que eu larguei mão. PESQUISADORA: Aí o sinhor num mexeu cum carro de boi mais não. INFORMANTE 1: Mixi pra mim só. PESQUISADORA: Aí o sinhor ia passá cola pos minino na iscola, né? INFORMANTE 1: É. 60 PESQUISADORA: Aí o sinhor num mexeu cum carro de boi mais. E como eram as ferramentas que tinham na época po sinhor trabalhá? INFORMANTE 1: Era só inxada. PESQUISADORA: Mais nada? INFORMANTE 1: Mais nada. 65 PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: Era duro, só inxada. PESQUISADORA: Era? INFORMANTE 2: Roçá pasto. INFORMANTE 1: Roçá pasto, cortá de machado. 70 PESQUISADORA: Cortá lenha? Ê era sufrido hein? O sinhor sofreu bastante na roça ou não? INFORMANTE 1: Bastante. PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: Mais era bão, né? Eu achava mió do que hoje. PESQUISADORA: Por que? 75 INFORMANTE 1: Ah/ porque a gente era novo, né fia? PESQUISADORA: O que que o sinhor sente saudade da época do sinhor de minino? INFORMANTE 1: Tenho. PESQUISADORA: E o que que o sinhor lembra? INFORMANTE 1: Uai, lembro quando nóis batia bola assim. Ia... 80 PESQUISADORA: O sinhor tem história de quando o sinhor era minino? INFORMANTE 1: Ia no pagodinho. PESQUISADORA: Que que é o pagodinho? INFORMANTE 1: Era o mió. PESQUISADORA: Ah, é. E o sinhor gostava dum pagodinho, né? E como que era as brincaderas quando o 85 sinhor era piqueno. Era/ era igual hoje, né? Minino hoje num brinca mais, né? INFORMANTE 1: Hoje? Hoje é só brinquedo, né? PESQUISADORA: E vocês brincavam de quê? INFORMANTE 1: Uai, brincava de bola, dessas coisa, brincava de pique. PESQUISADORA: Hã? E o sinhor tem um caso lá da roça pra contá pra nóis? 90 INFORMANTE 1: Ah, num tenho não. PESQUISADORA: Ah, seu Z. L. agora o sinhor honra. Meu pai disse que o sinhor é bom de papo até. Sinhor sabe dumas histórias boas lá da roça. Tinha assombração lá? Sinhor já viu uma ou não? INFORMANTE 1: Isso eu num vi não. PESQUISADORA: Deus me livre, né? 95 INFORMANTE 1: Cê viu? PESQUISADORA: Eu? Eu não. Credo! INFORMANTE 1: Ês falava que tinha, mais num tinha nada, né? PESQUISADORA: O que que era as frutas que tinha lá na roça pro cêis comerem? INFORMANTE 1: Só laranja e manga. 100 PESQUISADORA: Só? Mas a N. falo que comia ota coisa. INFORMANTE 1: O quê? INFORMANTE 2: Gaitera. INFORMANTE 1: Ah, gaitera era no pasto. PESQUISADORA: Não, mas que que eram as frutas que tinham no pasto pá comê? 105 INFORMANTE 1: Uai, era gabiroba, essas coisa. Gaitera. PESQUISADORA: Que mais? Só? INFORMANTE 2: Maminha de cadela. INFORMANTE 1: Ah, maminha de cadela. PESQUISADORA: O que que era maminha de cadela? 110 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 50 INFORMANTE 1: Era uma arvinha que dava uma frutinha. PESQUISADORA: Era gostosa ou é gostosa a frutinha? INFORMANTE 1: É gostosa a frutinha. Madura, né? Porque se ea tivé verde é amargo. PESQUISADORA: E o sinhor? Dizem que o sinhor tava pra rua jogano truco. O sinhor gosta dum truco? INFORMANTE 1: Não. 115 PESQUISADORA: O sinhor tava pro jogo ou não? INFORMANTE 1: Tava prum truquinho. PESQUISADORA: É? E passa a tarde inteira? INFORMANTE 1: Passa o dia intero, né? PESQUISADORA: É? Ganha muito ou não? 120 INFORMANTE 1: Ganha bastante. Ganha bastante. PESQUISADORA: O sinhor ganha bastante no truco intão? E como o sinhor fazia pá trabalhá lá roça? INFORMANTE 1: O quê? PESQUISADORA: Lá na roça, como o sinhor trabalhava? Levantava tarde, levantava cedo? INFORMANTE 1: Nada. Levantava/ tinha que levantá cedo, né? 125 PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: Sete hora tinha que tá no sirviço. PESQUISADORA: Sete? Mais isso era tarde! INFORMANTE 1: Num era nada. Oh, ficava o dia intero lá na roça pelejano. Parava de noite, né? PESQUISADORA: Hã? 130 INFORMANTE 1: Parava iscuro. PESQUISADORA: É? E como que funcionava, tomava café da manhã cedo e que hora que almoçava? INFORMANTE 1: Num tinha armoço. ( ) PESQUISADORA: Ia trabalhá sozinho? INFORMANTE 1: É. 135 PESQUISADORA: E o sinhor trabalhava no começo com o pai do sinhor? INFORMANTE 1: Não. Meu pai quondo eu nasci ê já tinha falicido. PESQUISADORA: Ah é? INFORMANTE 1: Fazia dois mêis. INFORMANTE 2: Nossa! Num cunheceu o pai. 140 PESQUISADORA: Naquela época ficava doente na roça tinha que fazê o quê? Na época do sinhor. INFORMANTE 1: Uai, tinha que vim de carro, né? PESQUISADORA: De carro de boi, né? INFORMANTE 1: De carro de boi. PESQUISADORA: E trazia pra onde? 145 INFORMANTE 1: Trazia pros colega que tinha aí. PESQUISADORA: E se murria velava onde, lá na roça? INFORMANTE 1: É na roça. PESQUISADORA: E fazia como? INFORMANTE 1: Uai, trazia na cacunda, no banguê. 150 PESQUISADORA: Ê, o famoso banguê, né? INFORMANTE 1: Banguê. PESQUISADORA: Trazia/ mas vinha interrá aqui na cidade? Num tinha cimitério na roça? INFORMANTE 1: Interrava aqui, levava pá Ventania. PESQUISADORA: É? 155 INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: E festa? Que tipo de festa tinha lá na roça? INFORMANTE 1: Uai, tinha só essa festinha. Tinha Cumpania de Reis. PESQUISADORA: Mas só de Compania de Reis? Num tinha outras festas não? INFORMANTE 1: Tinha, uai. 160 PESQUISADORA: Qual/ que festa mais que tinha? INFORMANTE 1: Tinha uma sanfoninha. PESQUISADORA: É? Pagodinho, que o sinhor gostava de í[r], né? INFORMANTE 1: É. Em junho tinha festa junina ou não? PESQUISADORA: Em junho tinha festa junina ou não? 165 INFORMANTE 1: Ah, tinha. PESQUISADORA: E o que que o povo fazia pra comê? INFORMANTE 1: Uai, era biscoito, pipoca, essas coisa. INFORMANTE 2: Bolo de fubá. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 51 INFORMANTE 1: Bolo de fubá tamém tinha. 170 PESQUISADORA: Tinha bolo de fubá? ((vozes)) Hã? INFORMANTE 1: Num tinha mais nada não. PESQUISADORA: Não? ((vozes)) INFORMANTE 1: Bolo, pau-a-pique. PESQUISADORA: O sinhor vai lá jogá o truco, deve ser bom de cabeça, né? 175 INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: Tinha festa e cêis bin/ ah sinhor já falô de que que cêis bricavam na roça, né? De bola... E a mininada era levada? INFORMANTE 1: Ixi! A mininada era levada né? PESQUISADORA: E o sinhor participava de Compania de Reis ou não. 180 INFORMANTE 1: Ah, arguma veiz eu cumpanhava a Cumpania, mais cantá não. PESQUISADORA: Gente, cêis podem conversá tamém. Todo mundo pode participar. Não pode falá. Ô seu Z.L. deixa eu vê que mais que tinha na roça que o sinhor vai contá pra mim. O sinhor num tem nada assim pra contá da roça? INFORMANTE 1: Não. Num tem nada não. 185 PESQUISADORA: Ah, sinhor Z.L. sinhor tá me enganando. O sinhor conhece as histórias da roça, tá é cum vergonha de mim. INFORMANTE 1: É. INFORMANTE 2: Almuçava né e depois levava merenda, né? INFORMANTE 1: Levava angu doce, né? 190 INFORMANTE 2: Angu doce. Eu lembro, minha mãe fazia. INFORMANTE 1: Fazia. Levava. INFORMANTE 2: Mamãe fazia muito angu doce. PESQUISADORA: E tinha energia elétrica? INFORMANTE 1: Ah, tinha. 195 PESQUISADORA: Na roça? INFORMANTE 1: Lamparina. PESQUISADORA: Essa era a energia elétrica do sinhor? Era lamparina? INFORMANTE 2: A água tirava era na cisterna. PESQUISADORA: Como que tirava a água? 200 INFORMANTE 1: Candeia. PESQUISADORA: O que que era candeia? INFORMANTE 1: Candeia é um/ uma caxopinha assim. PESQUISADORA: Hã? E aí fazia o que com a candeia? INFORMANTE 1: Punha azeite/ azeite de mamona. 205 PESQUISADORA: E punha fogo? INFORMANTE 1: Punha fogo, punha um pavio. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: Azeite de mamona. INFORMANTE 1: Aí punha punha um treinzinho po fogo num entá pá dento e tacava fogo. 210 PESQUISADORA: E a água? Tinha água encanada ou não? INFORMANTE 1: Não. Era do corgo mia fia. PESQUISADORA: Mas como fazia pá buscá? Ia no corgo? INFORMANTE 1: Era na cacunda mia fia. PESQUISADORA: É? Mais num furava poço, num fazia nada? 215 INFORMANTE 1: Dispois furô, né? ( ) Mais de primero não. PESQUISADORA: Não? INFORMANTE 1: Não. INFORMANTE 2: Ia tudo na bica. ((vozes)) PESQUISADORA: E banheiro como é que fazia? Era fora da casa ou dentro da casa? 220 INFORMANTE 1: O banheiro era numa baciinha. PESQUISADORA: É/ não. Banheiro num era pra tomá banho não. Pra fazê xixi ia aonde? INFORMANTE 1: Uai, era na horta mia fia. INFORMANTE 2: Era nas moita. PESQUISADORA: Jesus, era muito sofrimento. 225 INFORMANTE 1: Não. Num era não. PESQUISADORA: Não era não. Era bão? INFORMANTE 1: Era bão. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 52 PESQUISADORA: Sinhor gosta da roça, né? ((vozes)) INFORMANTE 1: Morei lá a vida intera. Deusde minino. Nasceu lá. 230 PESQUISADORA: Criô lá, né? E o sinhor tem saudade de lá hoje? INFORMANTE 1: Ah, tenho. E, é bão, né? Cidade num presta não, né? PESQUISADORA: Por que que num presta? INFORMANTE 1: Uai, é uma baruiada danada. PESQUISADORA: É um movimento danado. Essa exposição aqui deve fazê um barulho, né? 235 INFORMANTE 1: Ih! Faiz! PESQUISADORA: O sinhor dorme? O sinhor divia í[r] pá exposição bailá. INFORMANTE 1: Uai, pra quê? PESQUISADORA: E o pagodinho? O sinhor gosta dum pagodinho. INFORMANTE 1: ( ) 240 PESQUISADORA: Lá tem pagode ó de monte. INFORMANTE 1: É? Mais agora as perna num dá. PESQUISADORA: Não? Num dá não? INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: Conta um caso ingraçado de quando o sinhor era piqueno pra mim. Pode ser um engraçado 245 ou um triste, tanto faiz. Mas eu prefiro os engraçados. INFORMANTE 1: Mais causo eu num sei né, fia? PESQUISADORA: Não! Mas que aconteceu com o sinhor. Nada? INFORMANTE 1: Nada! PESQUISADORA: Nada de engraçado? 250 INFORMANTE 1: Nada. INFORMANTE 2: Quando o sinhor era novo que que foi que aconteceu. Igual meu pai contava que vinha na cidade e tomava chuva, e os carro de boi, os boi/ via cobra no caminho, via bicho. INFORMANTE 1: Uai, uma veiz eu vim cum seu pai e chegô lá na Bucaina lá nóis foi bebê água. Invinha trazeno quejo. Aí puis o saquinho de quejo assim e caiu dento d’água. Aí foi piciso de seu pai me ajudá trazê até 255 aqui pá vendê. Um do lado e oto do oto sigurano. Moiô. PESQUISADORA: Caiu tudo? INFORMANTE 1: Caiu tudo dento d’água. PESQUISADORA: Tá vendo? É só apertá o sinhor, que o sinhor conta um caso. Tá veno é a N. que vai arrancá história do sinhor. Vai me substituir, pode perguntá. 260 INFORMANTE 2: vai lembrano dos passado aí. PESQUISADORA: Ô época boa né? INFORMANTE 1: Boa. Eu achava bão. Eu sufria, mais era bão. INFORMANTE 2: Hein, Z. L. igual falava, os povo antigo, meus vô lá. Murria/ até é feio falá mais murria tudo à mingua, lá. Sem remédio. 265 INFORMANTE 1: Murria memo, né? PESQUISADORA: Ficava duente como é que fazia? Curava com o quê? INFORMANTE 2: Uai, era vinha... INFORMANTE 1: Vinha cá buscá remédio. Vinha a cavalo. ((vozes)) Era custoso, né? PESQUISADORA: E vinha aqui e fazia o quê? 270 INFORMANTE 1: Informava cumé que tava lá. INFORMANTE 2: O farmacêutico mandava... INFORMANTE 1: Mandava lá na roça memo. PESQUISADORA: É. Num tinha chazinho na época? Pra tomá ou não? INFORMANTE 1: Chá? Uai, tinha. 275 PESQUISADORA: O sinhor tomava chá de quê? INFORMANTE 1: De afavaca, era de todo jeito. PESQUISADORA: É? Era bom pra quê esses chás? INFORMANTE 2: Gripe, né? INFORMANTE 1: Ah, pra gripe memo e pá tudo quanto há. 280 PESQUISADORA: É? INFORMANTE 2: Quando soltava o intestino: a marcela. INFORMANTE 1: É. INFORMANTE 2: Dava diarréia. PESQUISADORA: Que que é marcela? 285 INFORMANTE 1: Marcela é uma raminho que dá na horta. Margosa! INFORMANTE 2: Margosa! ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 53 PESQUISADORA: É? INFORMANTE 2: Margosa por tripa. PESQUISADORA: Nossa Sinhora! Tá vendo era sufrido, né? 290 INFORMANTE 1: Bão. Bão. PESQUISADORA: Conta mais um causo aí da roça. Aconteceu o que/ o que que aconteceu com o senhor. INFORMANTE 1: O que da roça? Aconteceu foi só isso. PESQUISADORA: O sinhor ia trabalhá/ num aconteceu nenhuma história cum carro de boi? O sinhor ia trabalhá, o boi fugia. 295 INFORMANTE 1: Não, trabalhava lá na roça, roçano pasto, cortano lenha. PESQUISADORA: Hã? O boi num fugiu um dia? INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: O boi num deu trabalho? INFORMANTE 1: Não, tamém não. Trabaio num dava não. 300 PESQUISADORA: O boi do sinhor era bãozinho dimais. INFORMANTE 1: Bão dimais. ((vozes)) ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 10 INFORMANTE: P.O. (80 anos, Analfabeta, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 54 PESQUISADORA: Mete bronca dona P. Pode contar a história da senhora. INFORMANTE: Premero de tudo, eu vô te contá uma história. PESQUISADORA: Então conta... INFORMANTE: Eu tinha quatro ano. Eu lembro que que se passô. PESQUISADORA: Hã? 5 INFORMANTE: Eu nasci no ano de 1927. Dia 19 de novembro. PESQUISADORA: 19 de novembro? INFORMANTE: Em 32, 31 eu lembro que que se passava. PESQUISADORA: Que que se passava dona P.? INFORMANTE: Passava que eu num dexava ninguém pintiá o meu cabelo, só a minha irmã mais velha que eu 10 dexava que ela era serena, gordinha, calma, né? PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE: Intão, ela sentava, cantava cumigo e pintiava meu cabelo e eu durmia. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Eu tinha trêis, quatro ano. 15 PESQUISADORA: A sinhora era piquinininha. INFORMANTE: Piquinininha. Eu lembro... Na roça lá na... Estiva daqui a sete légua, oito légua, né? Lá onde eu nasci e criei, né? PESQUISADORA: Foi lá na Estiva? Estiva era o quê? Uma cidade? INFORMANTE: É. Hein? 20 PESQUISADORA: Era uma cidade ou era um lugar? INFORMANTE: Não, uma fazenda. PESQUISADORA: Aqui em Passos mesmo? INFORMANTE: Do Z. A., do Z. da B. PESQUISADORA: Do Z. da B.? 25 INFORMANTE: É. Eu fui nascida lá e criada lá. Os meus pai foi nascido e criado, né? PESQUISADORA: E como chamava o pai da sinhora? INFORMANTE: Intão meu pai... hein? PESQUISADORA: O pai da sinhora... qual era o nome dele? INFORMANTE: O. F. R. era o meu pai, né? 30 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Eles foi criado lá na fazenda do coronel J. L. Os dois. Eles se casaram ele. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Meu pai ca minha mãe. PESQUISADORA: Seu pai com sua mãe. Ahã. 35 INFORMANTE: Na fazenda, naquele tempo usava, né? PESQUISADORA: Casar na fazenda? INFORMANTE: Não, as pessoa fazê o casamento. Juntava/ tinha um moço bão/ seu pai e a sua mãe: “ Ocê vai casá com fulano.” PESQUISADORA: Ah, sei. 40 INFORMANTE: Naquê tempo. PESQUISADORA: Fazia isso? INFORMANTE: Era nesse tempo. E aí eu lembro. Daí pá bem dizê que eu perco o sono eu lembrano. PESQUISADORA: A sinhora vai lembrano daquela época? INFORMANTE: Hein? 45 PESQUISADORA: Nessa fazenda Estiva a sinhora morou ou não? INFORMANTE: Morei, né? Onde eu vivi mũtos anos, né? PESQUISADORA: É? A sinhora morou lá desde que idade? INFORMANTE: Eu fui criada, né? PESQUISADORA: É? E quantos irmãos a sinhora tinha? 50 INFORMANTE: A gente modô pá cá pá cidade eu já era moça, né? A minha mãe já tinha morrido. Nois modô pra cá em ( ). PESQUISADORA: Hum? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 55 INFORMANTE: Nóis modô pá cá, né? Aí os povo lá/ meu pai quis mudá porque ele era assim um home sistemático num gostava que/ né? Era sistemático/ daquês véio sistemático, né? 55 PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Aí a gente (intão vem pá cá) era nova ainda. Mais antes disso a gente vinha mũto aqui na cidade. Eu vinha ca minha mãe, né? Porque eu era ispoleta. Assim ela gostava de me trazê, né? PESQUISADORA: Aí a sinhora vinha passiar na cidade? INFORMANTE: Eu vinha cum ela, né? Fazê compra, né? Naquê tempo ( ) a minha mãe ( ) 60 PESQUISADORA: O que vocês vinham comprar na cidade? INFORMANTE: Hein? PESQUISADORA: O que vocês vinham comprar? INFORMANTE: Vinha comprá pano, né? PESQUISADORA: Fazia roupa lá na roça? 65 INFORMANTE: Comprá ropa. É. Às veiz na roça comprava. Às veiz tinha um casamento das minha irmã. A minha mãe vinha fazê a compra, né? E ieu vinha cum ela. PESQUISADORA: Claro. INFORMANTE: A gente fica lá na minha tia. Lá na rua do São Binidito, né? PESQUISADORA: Hã? 70 INFORMANTE: A gente discia/ eu cunhici mnto o... mé que chama aquela rua lá, meu Deus? PESQUISADORA: Pode lembrar. Nós não estamos com pressa. INFORMANTE: Ah, vá. G. D. Cunhici o sô G. D. PESQUISADORA: Ah! O que tem nome de rua? INFORMANTE: É. Eu cunhici ele. Eu era piquena, bem piquena. A gente discia cedinho... Ele tinha uma/ ele era 75 duente não sei ( ). Ele tava andano... eu sabia a casa dele. Lá a gente passava quieta ( ). Cedinho, nóis já ia imbora. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E ele tava andano , baxinho, carequinha. E era assim/ dava atenção pá gente. PESQUISADORA: É? 80 INFORMANTE: É. Minha mãe chamava I. Falava: “Bom dia sô G.” e ele respondia alegrezinho: “Bom dia dona I.” ( ) Ele cunhicia minha mãe. PESQUISADORA: E a sinhora trabalhava lá na roça ou não? Só o pai da sinhora? INFORMANTE: Quando eu já era grande, eu trabaiei na fazenda. PESQUISADORA: O que a sinhora fazia lá? 85 INFORMANTE: Era cuzinhera. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: É. Cuzinhava memo. Fazia quejo. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Né? 90 PESQUISADORA: Fazia queijo, fazia comida da casa? INFORMANTE: Fazia cumida, né? PESQUISADORA: E passeava lá na roça ou não? INFORMANTE: Hein? PESQUISADORA: A sinhora passiava lá na roça? 95 INFORMANTE: Passiava ( ). PESQUISADORA: É? INFORMANTE: A gente passiava lá na osina. Passiava nas ota fazenda. Pá cá onde tinha parente da gente. A gente passiava. PESQUISADORA: Passiava lá? 100 INFORMANTE: É passiava, dançava mũto. PESQUISADORA: É? O que vocês dançavam? Tinha baile? INFORMANTE: Ah, é sim. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Era divirtido. 105 PESQUISADORA: Tinha uns bailão bom? INFORMANTE: Baile na roça. Era bão baile, era divirtido. PESQUISADORA: Era? INFORMANTE: Era divirtido e bão, né? PESQUISADORA: E a sinhora vinha de vez em quando na cidade fazê umas comprinhas? 110 INFORMANTE: Hein? PESQUISADORA: Só de vez em quando é que a sinhora vinha fazê umas comprinhas na cidade? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 56 INFORMANTE: É na cidade. PESQUISADORA: E a sinhora já ouviu falá da expressão “Sertões do Jacuhy”? INFORMANTE: ( ) Hein? 115 PESQUISADORA: “Sertões do Jacuhy”, a sinhora já viu a expressão ou não? A sinhora já tinha ouvido? INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Que aqui tinha ouro, ali no Jacuí? INFORMANTE: Aonde tinha o[u]ro? PESQUISADORA: Lá no Jacuí. 120 INFORMANTE: Ah, lá no Jacuí. Já vi falá. PESQUISADORA: A sinhora conhece alguma história dessa época? INFORMANTE: A história do oro lá de Jacuí não. Mais a gente cunhicia... os que i faturá os oro. Os garimpero. Tinha mũto garimpero que a gente cunhicia lá. PESQUISADORA: (Chegou um aí). 125 INFORMANTE: Mũto garimpero. PESQUISADORA: ( Oi. Jóia. Bão) INFORMANTE: Veio fora da hora, né? Quenta o cumê lá e come. PESQUISADORA: Ele almoça aqui? INFORMANTE: ( ) A gente cunhicia mũtos garimpero dela. Lá na roça. 130 PESQUISADORA: E quando a sinhora veio aqui pra Passos na cidade era/ não tinha quase nada? Como é que era? INFORMANTE: Não. Antes quando a gente veio a cidade já tava mais voluída, né? PESQUISADORA: Ahã! INFORMANTE: Ah, já tava. Mais quando a gente vinha cá, eu me lembro desta cidade mũto piquinina. 135 PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Eu lembro quando a cidade era quais tudo descarço, né? Ou era carçada de paralelepipe, né? PESQUISADORA: Ahã? INFORMANTE: A gente vai falá só das coisa boa. PESQUISADORA: Não! Pode falá das coisas ruim também. Se a sinhora quiser. 140 INFORMANTE: Não, não, não. As coisa ruim a gente dexa pra lá. ((Risos)) PESQUISADORA: ((Risos)) Tá certa. INFORMANTE: Coisa ruim a gente num qué lembrá não, né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ó! ... Lá na praça da matriz era uma coisa importante porque as pessoa era mũto chique. Hoje é 145 mũto chique, mas hoje é normal, né? PESQUISADORA: Ahã. INFORMANTE: Hoje quem trabaiô, vistiu bem, calçô bem, cumeu bem. PESQUISADORA: A sinhora tá certa. É verdade. INFORMANTE: Intão ... Agora naquê tempo não... O pobre num tinha um crediário... 150 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Vistia o que pudia, cumia o que pudia, né? PESQUISADORA: Não é igual na época de hoje? INFORMANTE: Era... PESQUISADORA: Que é mais fácil. 155 INFORMANTE: É. Intão... (que aí eu tô falano e aí ocê apuveita as coisa boa). PESQUISADORA: (Não, pode falá) A sinhora vai falando que depois a gente vê. INFORMANTE: Mais aquela/ essa cidade nossa (era). PESQUISADORA: Pode ir contando as histórias da sinhora aí. INFORMANTE: Mũto chique/ aquê jardim da praça da matriz era uma verdadera beleza. 160 PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Aô! Ali era uma beleza. Num sei purque ês ( ) largô. Prefeito, né? PESQUISADORA: Ah, prefeito. ( ) complicado. INFORMANTE: Aqele jardim era coisa/ beleza. PESQUISADORA: É? Eu nunca vi foto (lá antiga não) 165 INFORMANTE: Era uma coisa beleza. Mũto bunito. PESQUISADORA: A sinhora conheceu lá a história daquela matança lá no Fórum? INFORMANTE: Ah, não. Aquela lá eu não alembro. PESQUISADORA: A sinhora não lembra? INFORMANTE: Não, dos Medero. Não alembro. 170 PESQUISADORA: Não, a matança do Fórum. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 57 INFORMANTE: Puisé, essa mesma. PESQUISADORA: A sinhora não lembra. INFORMANTE: Não. Aquê tempo eu num era nem nascida. PESQUISADORA: Não? 175 INFORMANTE: Não. Aquela lá não. PESQUISADORA: É antiga aquela história. INFORMANTE: Eu fiz oitenta anos no mêis/ tô cum oitenta e/ oitenta e sete mêis. PESQUISADORA: Daqui uns dias a sinhora faz oitenta e um. INFORMANTE: ((Risos)) 180 PESQUISADORA: A sinhora é de que mês? INFORMANTE: Novembro. PESQUISADORA: Ah, é! Dezenove de novembro. INFORMANTE: É. Eu tô cum oitenta/ o dia do casamento do Fernando eu tava fazeno oitenta ano e sete mêis. ((Risos)) 185 PESQUISADORA: Era o dia certinho. INFORMANTE: ((Risos)) Era. PESQUISADORA: Verdade. INFORMANTE: Fazeno oitenta anos que eu tava cum sete mêis. PESQUISADORA: Tá vendo? 190 INFORMANTE: Tava lá na rede. A gente foi criado na rede cum baieta. A gente foi imbruiado cum baieta. PESQUISADORA: Baieta? INFORMANTE: Baieta é uma coisa que vem da Bahia. Um tecido que vem... que vem da Bahia. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: Vermeinho. Tecido de lã que é vermeio. 195 PESQUISADORA: E qual era o nome dona P.? INFORMANTE: É que nem assim/ esse tecido aqui... vermeinho/ a baieta. PESQUISADORA: Baieta? INFORMANTE: Baieta/ a palavra é vermeia. PESQUISADORA: É? Num sei. É vermelho na ( ) 200 INFORMANTE: É a palavra é vermeio/ baieta. PESQUISADORA: E que mais a sinhora lembra dessa época? INFORMANTE: Se ocê ficá neivosa, ficá vermeia... Cê tá feito uma baieta. PESQUISADORA: Ah! ((Risos)) Essa é boa. INFORMANTE: Essa palavra é porque tá vermeio. 205 PESQUISADORA: É? Num sabia. INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Pra mim é uma novidade. E que mais que tinha lá na roça que hoje em dia não usa mais? INFORMANTE: Aí. A gente/ mais era mũto bão, era mũto bão, era mũto gostoso nessa cidade. A gente rezava mais. 210 PESQUISADORA: ((Risos)) Hoje em dia o povo tá rezano poco? INFORMANTE: Num tinha priguiça não. Rezava mais. Agora as pessoa pobre, os pobre, aqueas moça/ aqueas/ aquê povão, memo, povão memo. A gente discia, ia na praça/ aquea praça da matriz dento do jardim tava gente nobre, né? Os povo rico, as gente nobre tava dano vorta dento do jardim. PESQUISADORA: Tava lá? 215 INFORMANTE: Agora as pessoa populares, a gente da vorta em roda ali co´s namorado. Em roda do jardim ficava ASSIM. Otas pessoa vai te contá que era isso aí. PESQUISADORA: Era sim. INFORMANTE: Era bão... Hã!... Era divirtido. PESQUISADORA: Era. 220 INFORMANTE: Dimais da conta... A gente tinha/ ia pra praça/ tinha o mecrofone lá no cinema, né? PESQUISADORA: Ahã. INFORMANTE: Ali tocava música/ a gente pagava/ tocava música pros namorado/ o namorado/ o namorado tocava música pra gente. PESQUISADORA: Ah! Intão era divertido. 225 INFORMANTE: Era divirtido memo naquea praça ( ). Ah! Como sempre, né?/ Tem as coisa ruim, mas mũta bondade. PESQUISADORA: Muita coisa boa. INFORMANTE: Mũta coisa boa. PESQUISADORA: E lá na roça que que mais cês faziam? 230 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 58 INFORMANTE: Hã? PESQUISADORA: Quando a sinhora era piquena, a sinhora lembra? Lá na roça ( ). INFORMANTE: Lembro, eu lembro. Lembro é quando eu era na roça/ quando eu era piquinininha é na roça que eu lembro. PESQUISADORA: E o que que a sinhora lembra de lá? 235 INFORMANTE: Ah. A gente ia nas fazenda, né?/ Tinha ( ) ainda argumas dela ainda aí. Que ainda vive ainda. PESQUISADORA: Hã? Quem? As pessoas lá da fazenda? INFORMANTE: É. Tem... PESQUISADORA: E o pai da sinhora trabalhava com quê? 240 INFORMANTE: É.../ o meu pai/ ês trabaiava/ o meu pai gostava é de tocá a meia. PESQUISADORA: Tocá ? ( ) INFORMANTE: É impreita nas fazenda, né? PESQUISADORA: Ah, sei. INFORMANTE: Impreita, pegava assim impreita. Prantava arroiz/ fejão/ mantimentos, né? 245 PESQUISADORA: Ahã. INFORMANTE: Mio. Eis tocava roça de mio/ ê gostava ( ). Porque eu tinha uns irmão, né? Que era sacudido lá nas roça ondé que a gente morava. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Eu era do tempo assim ó... / morava numa ota fazenda lá/ nota fazenda lá/ é a dos L. 250 PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: É de Lorenço. Sabe? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aquela casa que tem ali pra baxo do Wenceslau? PESQUISADORA: Sei. 255 INFORMANTE: Era da gente/ nosso patrão. Aquela casa... PESQUISADORA: É do Z. da B.? INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Ah, do L.? Verdade. INFORMANTE: Zé da Beca. 260 PESQUISADORA: É outra fazenda. INFORMANTE: É ota fazenda. A fazenda vizinha, né? PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: A gente morava nela. Morava nas duas. Às veis dava certo numa. PESQUISADORA: Do Z. B., do L. 265 INFORMANTE: Mais quando a gente mudô pá cidade. Nóis morava de lá. Na Estiva. PESQUISADORA: Ah, na Estiva. INFORMANTE: No Z., né? PESQUISADORA: No Z. B. INFORMANTE: É o Z. B. 270 PESQUISADORA: O Z. B. morreu faz poco tempo, né? INFORMANTE: É, morreu. Faiz poco tempo. Isso faiz dois ano e poco, né? PESQUISADORA: É. Até aquele terminal ali da/ praça é no nome dele. INFORMANTE: É faiz dois ano e poco. É. Era o ídolo do meu pai. PESQUISADORA: O Z. B.... É? 275 INFORMANTE: Uh! Nossa era tudo po meu pai. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: Porque ê nasceu, meu pai já morava lá. A minha mãe já morava lá. Eu tinha um irmão/ meu irmão que morreu lá em São Paulo/ que nóis foi/ até que telefonô na sua casa. Sua mãe que veio cá chamá as minina, né? Era afiado dele. Ele era ainda piquinininho... O padre ia lá na roça sempre. Lá rezava... as irmã dele 280 era tudo mũto riligiosa, né? PESQUISADORA: Do Zé? INFORMANTE: Rezava mũto. A gente aprendia rezá lá na fazenda. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: No mêis de Maria eas/ eas fazia a reza, né? E a gente ia e coroava. Intão a gente era piquena e 285 aprendeu a rezá lá. PESQUISADORA: A rezar lá. INFORMANTE: A rezá, né? O sole tava quente, eu me lembro. Eu era piquena, a gente ia/ quando o sole tava quente na roça. A gente inchia o lito d’água, punha na cabeça e lá ia aguá o cruzero, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 59 PESQUISADORA: O cruzeiro... 290 INFORMANTE: Pá chuvê, né? PESQUISADORA: Ah! Cês tinham o hábito de molhar o cruzeiro para chover? INFORMANTE: Pá chuvê. Isso na roça, Aí junta tudo aquês povo./ Porque todo ano tem aquela seca, né? PESQUISADORA: Ahã. INFORMANTE: Intão quando dava aquea seca forte, as molheres, as criança, né? 295 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Passava no corgo assim, inchia o lito d’água ((Risos)) punha na cabeça e ia rezá. Ia lá no cruzero/ era pá cima da fazenda. A gente ia rezá, jogá água no pé do cruzero. Pá chuvê, né? PESQUISADORA: Pá chovê, né? Mas engraçado ainda tem gente que tem esse hábito hoje em dia, né? INFORMANTE: É. 300 PESQUISADORA: Lá na roça do meu pai tem um/ o cruzero que a sinhora fala é uma vez, né? INFORMANTE: É uma cruiz. PESQUISADORA: Lá no meu pai tem. De vez em quando joga água lá. INFORMANTE: Cruzero. Lá na roça tinha cruzero de São Sebastião. TERCEIRO: Vamo almoçá? 305 PESQUISADORA: Obrigada. TERCEIRO: Num tá na hora não. PESQUISADORA: Bom apetite! INFORMANTE: É que nóis ia aguá o cruzero, né? Rezava no cruzero. Tempo da quaresma a gente rezava... PESQUISADORA: Como que era no tempo da quaresma? 310 INFORMANTE: É no tempo da quaresma a gente rezava pás arma. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Tinha. Tinha que rezá/ e a gente ia longe. No cruzero mais longe. Pá tirá as arma, né? A gente rezava mũto pás arma... PESQUISADORA: É. 315 INFORMANTE: E aí a gente ia rezá. Às veiz a gente ia rezá na fazenda. Ês punha leite./ que meu irmão era retirero. Aquês camarada que era retirero. Aí nóis ia rezá na fazenda. Tinha uma taba grande assim. Tipo um vão pá rezá, né? PESQUISADORA: Essa tábua grande era pra quê? INFORMANTE: ( Ô fio dento da caçarola tem comida, tem misturado fejão. Pega lá, quenta po cê.) 320 PESQUISADORA: Ele esquentou. INFORMANTE: (Ah, cê esquento? Ah, tá bão. Vai saí aí.) PESQUISADORA: Não, num tem importância não. Depois/ a gente vê que pega... INFORMANTE: Aí nóis ia rezá e ês punha leite, fazia bolo. Ês tinha/ bolo lá. Ês era mũto bão. Divirtido./ A nossa patroa que era muié do Dé que era mũto chique, né? 325 PESQUISADORA: Hum hum... INFORMANTE: ( ) cê num lembra dela não. PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: Cê num lembra dela. PESQUISADORA: Acho que não. 330 INFORMANTE: Cê num alembra dela não. Ele era muito chique. Era mũto boa. E o aniversário dela era dia vinte e oito de feverero. PESQUISADORA: Hum. INFORMANTE: No derradero dia. PESQUISADORA: No derradeiro dia. 335 INFORMANTE: É. Quando ea tava na fzaenda era das mió pianista dessa cidade. Ea era das mió... PESQUISADORA: Ela tocava piano lá. INFORMANTE: ( ) E mũto bem. Tocava que era aquela beleza. E as fia dela, acho tamém que é. PESQUISADORA: Qual? INFORMANTE: Uma ótima dentista. A J. I. Tem os neto, os fio... 340 PESQUISADORA: Aquea/ eu isqueci/ aquela professora de história é filha dele? Do Z. B.? INFORMANTE: A J. I. tem/ tem o R., o M. O R. é advogado. Ele é advogado. Tem o R. O mais velho mora lá na fazenda. /Morava lá na fazenda. PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: E a fazenda lá é .../ coisa/ da famía/ da quinta geração. 345 PESQUISADORA: Da quinta geração do Z. B., né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: E a sinhora lembra as ferramentas que usavam naquela época pra trabalhar? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 60 INFORMANTE: Hã? PESQUISADORA: A sinhora lembra as ferramentas que usava? 350 INFORMANTE: LEMBRO UAI! PESQUISADORA: Que que usava naquela época? INFORMANTE: Naquela época usava/ as pessoa/ os home ia roçá pasto, usava foice. Ia capiná, usava inxada. Ia torá mato, usava serrote. Serra, né? PESQUISADORA: Hãhã. 355 INFORMANTE: Naquê tempo era serra porque num tinha serra elétrica, né? PESQUISADORA: Aí usava aquilo. INFORMANTE: Naquê tempo era tudo mũto atrasado, né? PESQUISADORA: Ah. E o recurso era pouco, né? INFORMANTE: É. 360 PESQUISADORA: Aí num tinha muita ferramenta, né? Tinha carro de boi? INFORMANTE: Num tinha cultura, né? Poca gente/ naquê tempo usava as muié num picisava de aprendê, né? PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: Era só os home, né? Era longe. Os meus irmão mais velho montava/ tinha cavalo. Tinha/ meu pai tinha cavalo. Era bege/ tinha cavalo. Tinha uma vaquinha. 365 PESQUISADORA: Hã? Intão. Tava bão. Tinha leitinho? INFORMANTE: É. Ê era trabaiadô. PESQUISADORA: Era? INFORMANTE: Era trabaiadô, mũto respeitado. Tinha uma vaquinha, tinha um cavalinho, né? PESQUISADORA: E... e/ tinha carro de boi na época? 370 INFORMANTE: É minha mãe/ meu pai. Minha mãe era assim: trabaiadera. Fiava mũto. Meu pai vistia/ tava chique/ cum uma carça ticida no tiare. PESQUISADORA: Ah, ela usava... INFORMANTE: Eu era piquininha e sabia fiá na roda. Oh! Eu já sabia fiá na roda. PESQUISADORA: Olha! Então fazia o tecido. 375 INFORMANTE: É. Ea mixia cum argudão, né? As cuberta era tudo de argudão. A ropa do meu pai era/ eu lembro dereitinho/ minha mãe é/ preparava o argodão. Cê cunhece argodão ( ). PESQUISADORA: Algodão o quê? INFORMANTE: Argodão ganga. PESQUISADORA: Ganga? Não! Que que é o algodão ganga? 380 INFORMANTE: Eu tinha aqui um punhado de semente de argodão ganga. Que ele é um remédio mũto bão./ Eu tinha/ o argudão é ganguinha. PESQUISADORA: É. Que que... INFORMANTE: O ganga memo. PESQUISADORA: Que que é ganga? 385 INFORMANTE: É o argodão. Intão minha mãe/ ea preparava o argudão pá fiá bem fininho. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Pá levá pás tecedera que tinha tiare, né? PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: Ticia o corte de car/ e o meu pai/ tava chique. Ele era violero, cantava. Era bunito. Era um preto 390 bunito, meu pai. PESQUISADORA: Era? INFORMANTE: Era. Era bunito. PESQUISADORA: Ele era violero? INFORMANTE: Ê gostava. É, ê era violero. Ê ia nas festa. Gostava de cantá. Tocá viola, de cantá. Ê era vaidoso, 395 né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí a minha mãe ticia/ é/ fiava dois quilo de/ de/ levava pá tecedera. Aí ticia um corte. Aí minha mãe fazia/ era aqueas carça assim que marrava aqui sabe? PESQUISADORA: Sei. Tinha nome as calças? 400 INFORMANTE: ( ) aí ê/ tava chique. Ali ê tava chique. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Tava chique, sabe? PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: É a E.? 405 PESQUISADORA: Não é a T. INFORMANTE: Ah, num é não, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 61 PESQUISADORA: Não, num é não. INFORMANTE: A minha mãe fazia carça pro meu pai. Tinha uma maquininha assim. Tá lá em São Paulo. A minha irmão levô. 410 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E jogô, abandonô ela lá. A máquina que costurava pra nóis todo. Sabe? Que a minha mãe fazia... PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Ficô pá minha irmã mais nova que mora em São Paulo. Hoje tem só eu e ela. 415 PESQUISADORA: Ah! Só a sinhora e ela agora? INFORMANTE: Dos irmão tudo. Tem só eu e ela. Lá de São Paulo. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí... a minha mãe fazia carça ganga po meu pai. Aquea.../ eu tinha dez ano e eu fazia camisa po meu pai e cueca. 420 PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: Samba-canção. PESQUISADORA: Naquela época usava, né? INFORMANTE: É. A minha/ era/ na casa que nóis morava lá é da/ lá na roça. A gente/ era uma casona grande que era mũta gente. 425 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Tinha mũto irmão. Eu tinha quatro irmão home e seis nóis. Era nove/ nóis era nove que criô tudo. Quatro home e seis muié. PESQUISADORA: Quatro homens e seis mulheres. Não, então eram dez, né? INFORMANTE: Eram deiz. Um morreu. Depois morreu. 430 PESQUISADORA: Ah, foi morreno tudo... INFORMANTE: Ficô deiz. Criô sete. Deiz. PESQUISADORA: Aí criou? INFORMANTE: Eu e a A. PESQUISADORA: Ah, sei. 435 INFORMANTE: Aí intão, tinha aquea sala cunprida memo, né? Sala grande, cheia de cadera. Assim cadera daquela cadera de abrí ( ). Daqueas antiga memo. PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Antiga memo, né? De abrí em roda assim da mesa. A gente morava numa casa/ nóis tinha santo assim ó. Ali, ali dava vorta. 440 PESQUISADORA: Era um monte de santo? INFORMANTE: Na parede. PESQUISADORA: Na parede. INFORMANTE: Santo na parede. PESQUISADORA: A mãe da sinhora era muito religiosa entã. 445 INFORMANTE: Católica. Na Semana Santa/ hoje eu estranho minina. Na Semana Santa num tinha/ os irmão que era barbado já num tinha nada de barbado. A minha mãe fazia cumida e falava “vem rezá. Num picisava chamá ota veiz. PESQUISADORA: Tinha o hábito de rezá. Hoje em dia ninguém reza pra cumê, né? INFORMANTE: Era pá rezá. Todo mundo ajueiava ali. E a minha mãe tinha uma imagem grande assim. Um 450 crucifixo grande assim ó. Com as bola grande. Era grandão. Era grandão assim ó. Punha lá e nóis ia rezá. E tampava tudo os santo. PESQUISADORA: Na época da Semana Santa? INFORMANTE: Nóis tinha mũto santo. Aí tampava tudo os santo. ( ) lá na vorta daqueas cadera e/ ia mũta gente lá em casa, os vizinho. Gente boa. Os vizinho pudia/ ia mũto lá em casa. Era divirtido. Chegava no 455 dumingo tocava viola, sanfona. PESQUISADORA: Era um bailão então? INFORMANTE: E vinha gente de a cavalo, né? PESQUISADORA: Era uma fulia então? INFORMANTE: Era. Aí aquea mesona nóis ia rezá ca minha mãe. Num tinha nada de falá depois eu venho rezá 460 não. PESQUISADORA: Era na hora. INFORMANTE: É. Num tinha nada disso não. Intão minha mãe insinava pá gente rezá. Eu sô até mũto filiz Graças a Deus. Sô mũto filiz, sabe? Eu ‘prendi rezá cedo, a minha mãe dizia pá nóis: “nóis tem que rezá.” A gente tem de rezá porque nóis reza pos nosso amigo”. É tanto que eu rezo todo dia pos meu vizinho. Todo dia! 465 Todo dia eu rezo po cêis. Todo dia na minha oração. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 62 PESQUISADORA: Graças a Deus. INFORMANTE: Eu rezo pos meu vizinho, né? PESQUISADORA: Que bom! INFORMANTE: Intão minha mãe dizia pá gente/ a R. parece ca minha mãe/ quem num cunheceu a minha mãe é 470 a R. escrita. A minha mãe era arta, assim grande, pretinha, bem pretinha. Tinha poquinho cabelo, andava de saia cumprida, né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ela morreu tinha cinqüenta e trêis ano, os dente clarinho. PESQUISADORA: Ela morreu com cinqüenta e trêis? Ela morreu muito nova, uai. 475 INFORMANTE: Morreu muito nova. PESQUISADORA: Que isso, cinqüenta e trêis é muito nova. INFORMANTE: Ela tava fazeno passagem, que ela casô nova, né? Criô as fiarada tudo. Morreu mũto nova. PESQUISADORA: Ela tava fazendo o quê? INFORMANTE: Ela casô nova, né? Naquê tempo tinha de casá nova. 480 PESQUISADORA: A sinhora falô que ela tava fazeno passagem? INFORMANTE: É. É. Aí ela morreu na passagem. PESQUISADORA: Que que era a passagem? INFORMANTE: Aí deu câncer no ute/hein? PESQUISADORA: Ah! Tá é a menopausa hoje em dia. 485 INFORMANTE: É. Manopaus. Manopaus. PESQUISADORA: Aí ela tava fazeno e morreu? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Deu câncer. INFORMANTE: É. Ela sofeu ela mũto/ tinha o/ aqui tinha o dotore Antonho/ cê já viu falá no dotore Antonio 490 Pexoto? PESQUISADORA: Não, num cunheço esse não. INFORMANTE: Não? Nem o Pexoto cê cunhece? PESQUISADORA: Não. Foi o que cuidô dela? INFORMANTE: O Antonho Pexoto já faiz mũtos ano que ê morreu. Ele ia na roça vê a minha mãe, né? 495 PESQUISADORA: Ela morava na roça ainda? INFORMANTE: Os fazendero nosso patrão era mũto bão, sabe. Mũto bão. Levava o dotore Antonho Pexoto/ dotore Antonho Pexoto ia lá na roça vê a minha mãe. PESQUISADORA: Sei. E como cês arrumavam na roça, as moças. Cês tinham perfume pá saí? Passava/como que era? 500 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Naquela época quase num tinha essas coisas, xampu. INFORMANTE: Não. É. PESQUISADORA: Como que cês arrumavam pra ir pro baile? Como que vocês arrumavam? INFORMANTE: Pá... 505 PESQUISADORA: Pra í[r] pro baile? Como que infeitava? INFORMANTE: Uai, mais, uai infeitava mũto bem, uai. PESQUISADORA: Como que vocês enfeitavam? INFORMANTE: Infeitava mũto bem naquê tempo que a gente ia. Tinha mũta festa lá, mũto baile. E a gente ia/ infeitava mũto bem. 510 PESQUISADORA: E como que vocês infeitavam? Punham o quê? INFORMANTE: Pintiano, eu punha fita. PESQUISADORA: Usava fita naquela época? INFORMANTE: Usava fita, né? Vistido rodado, babado, godê. PESQUISADORA: Godê usa até hoje! 515 INFORMANTE: Godê, né? PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE: No tempo de São João era a coisa mai’ boa, uai. Na roça. PESQUISADORA: Por quê? INFORMANTE: Ah porque tinha mũta festa de São João, Santo Antonho, São Pedo. 520 PESQUISADORA: Aí era festa todo dia. INFORMANTE: E a gente ia e dançava memo e cantava/ o padre dançava memo. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Eu falo, às veiz eu to dento de casa e to cantano a fia de João aí. E ieu lembro da roça, né? PESQUISADORA: Fia de João era uma música? 525 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 63 INFORMANTE: A fia de dotor João a gente cantava na roça, né? PESQUISADORA: É. Aí que legal. INFORMANTE: Era bão. PESQUISADORA: Era época, né? INFORMANTE: Época boa. Nessa fazenda que nóis morava aqui ó. Ia sempe/ sempe tinha professor lá. 530 Professor ou/ tinha um professor aí que/ fio do Zé Violão, Sô Arberto. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ele ia pá roça, ficava lá. Às veiz ia assistí ( ) na roça, né? PESQUISADORA: Tinha o quê? INFORMANTE: Sô Arberto, o professore Arberto. 535 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Tinha/ é ele ia pá roça. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Lá pá fazenda, né? PESQUISADORA: Ãhã. 540 INFORMANTE: Intão a/ eu num ia na iscola porque eu já tava mais maiozinha, mais a minha irmão mais nova foi mũto na iscola. Ele ia pra/ ele gostava da roça. Tinha aquela losa pro fio dos fazendero, né? PESQUISADORA: Aí tinha? INFORMANTE: Pos colonho, né? PESQUISADORA: Lá também tinha. 545 INFORMANTE: Ele intão/ ês levava o professore. PESQUISADORA: E a sinhora num istudô? INFORMANTE: Não. Eu num istudei. O que que aprendi, aprendi sozinha. Sabe, eu fiquei oito dia na iscola. Quando eu já ia casá. A minha professora era a / a muié do Olivera Maia. PESQUISADORA: Hã. 550 INFORMANTE: E do coronel Francisco Avelino Maia. PESQUISADORA: Ah, o da avenida ali. INFORMANTE: Filho dele. A minha professora era lá a dona H., boazinha que era uma gracinha, né? Os parente dela morava lá perto/ de frente o colégio da irmãs. PESQUISADORA: O CIC. 555 INFORMANTE: Ela ainda vive, tá boa. Tá viva ainda. ( ) a que era minha professora. Intão ela num acreditava que/ tinha uma ota professora que era lá de Cássia. ( ) e a minha irmã as ota minina tudo já tinha sufrido iscola. E ieu não. ( ) inteligente, né? Aí/ ela era a minha professora, né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E a B. minha irmã, ( ) idade ieu já tava moça já. Ia quais casá, né? Aí, chegava na hora de/ eu 560 num sabia fazê continha. Era ruim na continha. E a Badia sabia fazê continha direitinho. Ela já tinha sufrido iscola, né? PESQUISADORA: Ela já tinha. Ahã. INFORMANTE: É. Aí/ mais eu/ na hora da leitura eu insinava dereitinho. Cê acredita que eu aprendia a/ é/ a lição eu aprendia de cor. Lia de cor. Cê acredita isso. 565 PESQUISADORA: Mas a continha.../ Acredito. Continha só que a sinhora num gostava. INFORMANTE: Continha eu era ruim. Eu era ruim... PESQUISADORA: Mas matemática é ruim, mesmo. INFORMANTE: Puisé. Eu era ruim. Intão, tinha a dona H. PESQUISADORA: Hã? 570 INFORMANTE: Falava a B./ a B. era a ota professora. Colega dela. De noite, no Wenceslau. PESQUISADORA: Hã? PESQUISADORA: Mais aí tinha uns moço. Os moço ia sabê da gente. E o A. C. que era marido da R. ele era muito ingraçado, né? Era muito ingraçado, né? PESQUISADORA: Era um colega divertido? 575 INFORMANTE: Intão ele era aluno da dona M. M. J. da D. e eu era da H. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: “B. eu num acredito que ea fala que é a primera veiz...” Que eu falava que era a primera veiz que eu tava na iscola. Eu lia dereitinho. Eu lia dereitinho, memo. Como se eu já soubesse./ Eu num sabia. PESQUISADORA: Mas foi a A. que insinou para a sinhora? 580 INFORMANTE: É. Hein? PESQUISADORA: Foi a A. que insinô a sinhora? ( ) INFORMANTE: Não, eu aprendi sozinha. PESQUISADORA: Mas a sinhora era muito danada, uai. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 64 INFORMANTE: Mais eu aprendi sozinha. 585 PESQUISADORA: A sinhora era muito esperta então, uai. INFORMANTE: Dimais da conta, uai. Ninguém / quem alembra quando tinha quato ano minina? PESQUISADORA: Intão? INFORMANTE: É mũto custoso. PESQUISADORA: Lembrar das coisas quando é piqueno, né? E a sinhora lembra. 590 INFORMANTE: Quando eu tinha quato ano, cinco ano. ( ) ó eu tinha cinco ano, a minha irmã mais véia, casô, eu tinha cinco ano. Eu nasci em 27 e ela casô em 32. E eu lembro direitinho, a veste dela. Num tinha transporte, ea veio a cavalo. Vinha era a cavalo pá cidade pá casá, né? E ia era a cavalo tamém, né? PESQUISADORA: Ahã. INFORMANTE: Fazia aquê festão e meu pai/ eu lembro direitinho, direitinho memo. Quando meus irmão era 595 vivo, que ês era mais véio, eu contava pra ês e ês num acreditava. E ( ) PESQUISADORA: Num tem base que a sinhora lembra isso. INFORMANTE: Aí o meu pai/ minha irmã ia casá / ela era gordinha/ chamava M./ era gordinha. Meu pai pois uma porca ingordá pá matá po csamento. PESQUISADORA: Sei. 600 INFORMANTE: A minha mãe chocô mũta galinha no terrero/ era aquê terrero sujo, cheio de porco andano, barro, a gente andava cum pé tudo cheio de bicho. PESQUISADORA: Nossa Sinhora! Que transtorno. INFORMANTE: Era. Mais o chiquero tava cheio de porco. PESQUISADORA: Aí enchia de bicho. 605 INFORMANTE: O terrero tava que era pura galinha. Intão a minha irmã saiu pá vim casá e aquê povão lá. O povo que ia sê padrinho dela, as pessoa que ia acompanhá. Os parente. E o meu pai/ de madrugada ( ) meu pai foi matá a porca. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: Matá o porco. 610 PESQUISADORA: Pra fazê a festa. INFORMANTE: Pá fazê a festa do casamento. Mũta muié qu tinha lá em casa pá ajudá no casamento. Ieu num gostei de vê matá porco. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: Quando nóis ingordava porco, aquilo, no dia de matá, eu sufria/ eu curria lá pra baxão. 615 PESQUISADORA: A sinhora num via mesmo? INFORMANTE: Dava uma embulia. PESQUISADORA: Dava uma embulia? INFORMANTE: Que se ieu ficasse aqui o porco num murria. PESQUISADORA: Ah! 620 INFORMANTE: Num murria. PESQUISADORA: A sinhora ficava cum dó. INFORMANTE: Num murria. Aí eu e meus irmão, mais véio levantaro tudo pá vê matá o porca. Uma porcona que tava gorda. Porca piau. PESQUISADORA: Porca o quê? 625 INFORMANTE: ( ) eu fiquei deitada chorano e tampano o ovindo. Chorano. PESQUISADORA: A sinhora num quiria vê de jeito ninhum? INFORMANTE: Eu tinha cinco/ ainda num tinha cinco ano. PESQUISADORA: E a sinhora lembra direitinho? INFORMANTE: É. Eu ainda num tinha cinco ano. 630 PESQUISADORA: E a sinhora lembra. INFORMANTE: Direitinho. PESQUISADORA: Eu num tô lembrano nem o que eu fiz ontem. Imagin quando eu tinha cinco anos? Num lembro de jeito ninhum. INFORMANTE: Dereitinho. 635 PESQUISADORA: Que bom, a memória da sinhora é boa, né? INFORMANTE: ( ) Graças a Deus. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 11 INFORMANTE: C.M. (75 anos, Analfabeta, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 65 PESQUISADORA: Intão tá dona C. a sinhora vai me contá as histórias da roça. INFORMANTE: Quando ficava uma pessoa duente, que via que tava mũto ruim. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Punha numa marquesim, numa caminha. PESQUISADORA: Hã? 5 INFORMANTE: E pegava quato pessoa e duas na cabicera e duas no pé. E punha aquela pessoa duente naquea caminha e o coitado ia gemeno e os oto ia balançano. Até chegá na Ventania. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Chegava na Ventania, tinha só um dotor, era cego. PESQUISADORA: Nossa Senhora. 10 INFORMANTE: Um dia o dotor apricô injeção no trabissero do duente. PESQUISADORA: ((Risos)) Que horror dona Clarice! INFORMANTE: Seu pai deve de lembrá. Chamava dotor Mazoni. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ê ficava parpano. Num tinha apareio, ixaminá sangue, fezes não. Parpava ca mão. 15 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aonde tá dueno? Aonde tá dueno? Parpava o duente tudo pá achá ondé que tava a dor. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E aí era só esse médico que tinha lá na Ventania. Tinha o dotor Luis, mais o dotor Luis sumiu logo. Ficô lá o dotor Mazoni até morrê. 20 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Era assim que era o ixame. Num tinha apareio de ixaminá sangue, ixaminá fezes, fazê eletro. Essas coisa num ixistia. PESQUISADORA: Num tinha nada. INFORMANTE: Só carcano a mão. Carcava a mão em tudo. E ficava lá. Às veiz arranjava uma casinha pá ficá 25 uns dia, dipois quando ia miorano ia vortano pá roça traveiz. Só tinha cavalo. Condução num tinha. PESQUISADORA: Hã? Só tinha cavalo! INFORMANTE: Só. Só tinha cavalo e carro de boi. PESQUISADORA: A sinhora é da época de carro de boi? INFORMANTE: Uh! Quantas veiz ajudei carriá. 30 PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Muito. PESQUISADORA: É uma coisa que não existe mais hoje, carro de boi. Ninguém usa. INFORMANTE: Quase num tem! PESQUISADORA: Hã? 35 INFORMANTE: Uma veiz que a minha mãe ficô muito ruim e num tinha transporte. Aí quando foi de madrugada pegô o carro de boi e pois um cochão no carro de boi, pois uns trabissero e umas cocha. Pois ela e levô de lá da fazenda lá na Ventania. Subino uma serra que ocê nem pensa, nem em pensamento a gente acha que num sobe aquela serra lá. Subia. Levô a minha mãe lá na Ventania e que tempo que gastô. PESQUISADORA: Nossa, imagino. 40 INFORMANTE: Que tempo que gastô nessa viagem pá chegá lá no dotor Mazoni. PESQUISADORA: Era muito longe? INFORMANTE: Era umas duas légua e meia. Era longe né? PESQUISADORA: Era longe. INFORMANTE: E nessa tuada de carro de boi era longe. 45 PESQUISADORA: Era longe, porque a gente pensa dois quilômetros e meio/era duas léguas e meia né? É pertinho. INFORMANTE: Parece que de carro é perto, mas pá í[r] rodano de carro de boi, dano bacada porque num tinha istrada. PESQUISADORA: Hã? 50 INFORMANTE: Num tinha istrada. PESQUISADORA: Tinha não né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 66 INFORMANTE: Tinha não. Istrada só pra andá cavalo, um atrais do oto. PESQUISADORA: Intão ficá duente na roça era prejuízo? INFORMANTE: Nossa Sinhora! Daqui lá onde eu moro é/ acho que é trinta légua. É mais de trinta quilômetro. 55 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: A moça/ uma moça vizinha lá ficô duente foi no carro de boi e troxe pra cá. ( ) PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Gente lá da roça vinha aqui na cidade? Não vinha. Num vinha não. O mascate ia lá levava umas peça de pano e ia vendeno. 60 PESQUISADORA: Ah, mascate era o que vendia lá na roça? INFORMANTE: É vindia na roça ( ). PESQUISADORA: E o que que ele vendia? INFORMANTE: Pano. Levava tecido. Oto levava carçado, outo levava uma cesta de pão. Ia saí lá vendeno. E minina era difíci’. Agora hoje tem as coisa tudo fáci’ e o povo crama. 65 PESQUISADORA: Intão. O tanto que era difícil na roça. Fica duente o tanto que era difícil. INFORMANTE: Nossa uma duença lá/ o meu pai era muito intendido da medicina. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Que ê foi criado cum dotor. PESQUISADORA: Hã? 70 INFORMANTE: Ê foi criado cum dois dotor. Intão ele num istudô medicina mais pegô muita experiência da medicina. Foi o dotor Carvalho que tem o nome dele nessa rua aqui( ). PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: Muito antigo já. PESQUISADORA: Sei. 75 INFORMANTE: Intão tudo que o dotor ia fazê meu pai acumpanhava. Ê sigurava a baliza pá ajudá. PESQUISADORA: Segurava o quê? INFORMANTE: A baliza de ferramenta. PESQUISADORA: Ah, tá. Certo. INFORMANTE: Intao ele aprendeu muita coisa cum esse dotor. Ê era primo do dotor Lorenço. Criô junto. Mais 80 distância longe mandava lá em casa chamá meu pai pá í[r] lá ixaminá um duente. O que que ele tinha? Ele só tinha o termômetro. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: De midí a febre. Aí ia lá e ispiculava porque tava duente, porque que tava porque que num tava. Fazia receita e ia um de a cavalo lá na Ventania fazê a forma do remédio. 85 PESQUISADORA: Fazê o quê? INFORMANTE: A forma do remédio. PESQUISADORA: Ah, tá. Hã? INFORMANTE: Porque vinha no dotor aqui nem um vinha. Era longe dimais. PESQUISADORA: Aí ia tudo lá no pai da sinhora. E como fazia para as mulheres terem neném? 90 INFORMANTE: Uai, aí chamava as ota lá. Aí juntava lá e fazia o parto. PESQUISADORA: Aí eram elas que faziam? INFORMANTE: Era elas. Nossa num dava pra trazê aqui né? PESQUISADORA: O neném num agüentava sigurá né? Porque imagina de carro-de-boi? INFORMANTE: Nossa! Era na proteção de Deus. E as muié tudo ganhava os neném era lá memo. Ou pá morrê 95 ou pá vivê era lá memo. PESQUISADORA: Era na roça. INFORMANTE: Na roça. PESQUISADORA: E as mulheres que ajudavam? INFORMANTE: Era as ota. Eu acho isso um absurdo. 100 PESQUISADORA: O quê? INFORMANTE: Essa muié isperá neném lá na roça. PESQUISADORA: Mas hoje em dia ninguém ispera mais não né? Vai chegando a época ês tão tudo aqui na cidade. INFORMANTE: Mais hoje tá fácil de linha. Até lá no arto da serra, das montanha tem linha de automóve’. 105 PESQUISADORA: Ah, tem mesmo. INFORMANTE: Naquê tempo era um tri[lh]o pa passá cavalo um atrais do oto anssim ó. PESQUISADORA: E como que fazia pá/ cêis faziam pá fazê quando tinha muito/ fazê cumida? Na roça como é que era? Era difícil? INFORMANTE: Não, até que cumida dava. Prantava de tudo, né? 110 PESQUISADORA: Ãhã. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 67 INFORMANTE: Ingordava o capado. Matava o capado, tinha a carne e tinha a gurdura. E o mantimento todo tanto que cuía num vindia não. Punha na tuia lá no canto. PESQUISADORA: Hum. Na onde? INFORMANTE: Na tuia. 115 PESQUISADORA: Era/era um depósito? INFORMANTE: É. Era um depósito. Punha aquê tanto de/tantão de arroiz, oto tantão assim de fejão. As lata de gurdura na dispensa, as lata de carne. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Levava uma lata de mio po munho e fazia fubá, do fubá fazia o angu, fazia o bolo, fazia o 120 mingau, fazia tudo do fubá. PESQUISADORA: Fazia tudo! INFORMANTE: E a farinha punha lá no munjolo. O munjolo massetava o mio até virá fubá. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E depois a torradera ia lá e cuava a canjiquinha e torrava a farinha. 125 PESQUISADORA: Torradera era uma máquina pra torrá? INFORMANTE: Uma máquina. Era ca mão. PESQUISADORA: Era tudo com a mão. INFORMANTE: Passava uma tabuinha assim no fundo do tacho pá torrá a farinha. PESQUISADORA: Hã! 130 INFORMANTE: E pensa que calor ficava essa mão. PESQUISADORA: Não num podia/ que que acontecia quando saía, às vezes tava lá no quente e saía no frio. Como que falava mesmo? INFORMANTE: Ia lavá um mio que tava de mio saía cum braço quente e ficava torrano a farinha lá no calor do fogo depois vinha lavá o mio que tava de moio. O mio ficava de moio oito dia. 135 PESQUISADORA: Mas o que que eles falam mesmo, por exemplo, a pessoa que ta torrando café aí ta naquele calor e sai no frio? INFORMANTE: Estopora. PESQUISADORA: É isso mesmo. Eu já ouvi muito essa expressão da minha avó. INFORMANTE: Estopora. 140 PESQUISADORA: Ela entorta a boca. INFORMANTE: Entorta a boca, entorta pescoço, braço. PESQUISADORA: E tem cunserto? INFORMANTE: Ah, picisa tomá muito remédio, fazê muita coisa. Mas num cunsertá muito direito não. PESQUISADORA: Sei. 145 INFORMANTE: Fica mais o[u] meno meia torta. É iguale ao derrame que dá agora na pessoa. A pessoa fica meia inutilizada. PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE: A quitanda/ ah tale dia nóis vai fazê quitanda. Aí já privinia os ovo, o leite e a mantega. Aquela coiserada. Aí uma incendia o forno. Cê por certo nunca viu um forno? 150 PESQUISADORA: O forno de roça, já. Aquele que é feito de tijolo? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Já. Lá em casa tem. Lá na roça do meu pai. INFORMANTE: Aí, às veiz se as muié da casa era poca chama uma vizinha pá ajudá. PESQUISADORA: Hã? 155 INFORMANTE: Aí é aquea farra o dia intero de fazê quitanda. PESQUISADORA: E fazia que tipo de quitanda? INFORMANTE: Aí fazia biscoito, fazia pão-de-quejo, fazia bolo, fazia pau-a-pique. PESQUISADORA: Pau a pique era aquele que fazia na folha de bananeira? INFORMANTE: Era. Pau-a-pique inrola na foia. E enforma primero quando o forno tá bem quente. 160 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E depois tira aquela fornada de forno que tava muito quente e aí pode pô o bolo, o pão-de-quejo, o biscoito pá ficá bem sequinho põe no forno mais fresco num é muito quente não. E as quitanda de fubá põe no forno mais quente. Porque eas é mais dura de assá. PESQUISADORA: Hum... Tá vendo a gente num sabe isso hoje. Aliás ninguém faz quitanda né? 165 INFORMANTE: Ah, eu fiz muita. PESQUISADORA: Não, hoje em dia. O povo compra tudo na padaria. INFORMANTE: É porque aqui num tem jeito, lá a gente tinha as coisa. Agora aqui vai comprá compra de tudo. Ainda gasta o gás e o tempo da gente. Intão corre ali e... PESQUISADORA: Tá certo. 170 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 68 INFORMANTE: Às veiz num vem boa. Num é bem do gosto da gente. Compra caro. PESQUISADORA: Ãhã. INFORMANTE: Mais sai mais fácil. PESQUISADORA: É com certeza. INFORMANTE: Que aqui nóis vai comprá os ovo, o leite, a mantega, o fermento, compra tudo.( ) fazê. 175 PESQUISADORA: E comida de sal? Juntava pra fazê também ou não? INFORMANTE: Cada uma fazia nas suas casa. Agora quando tinha muito camarada no sirviço, ia ajudá fazê. Fazia/ o fejão já posava cuzinhano. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Num panelão. Posava cuzinhano o fejão, né? Pro oto dia vermeinho. Aí cedo já cumeçava. Uma 180 ia ranjá verdura, ota ia lavá o arroiz, otas ia arranjano. Fazia aquês panelão quando tinha mais camarada na roça. Ficava boa a comida, fazia aquê tantão, né? PESQUISADORA: Era muito né? INFORMANTE: Cum gurdura de porco. PESQUISADORA: Num usava óleo naquela época né? Usava antigamente gurdura. Sinhora usa gurdura ainda 185 hoje ou não? INFORMANTE: Ah! Eu num uso porque o médico proibiu. Gurdura de porco faz male. PESQUISADORA: Antigamente acho que não fazia mal porque o povo trabalhava muito né? INFORMANTE: É. A gente quemava aquea gurdura. Armoçava quando era meio-dia já quiria cumê mais. Porque nóis trabaiava era correno. 190 PESQUISADORA: Era né? INFORMANTE: E ês ainda gritava “pé pesado”. PESQUISADORA: Pé pesado? Pé pesado é o quê? INFORMANTE: Por que andava divagá. Tinha é que corrê. PESQUISADORA: Credo! E o que que a sinhora fazia na roça? 195 INFORMANTE: Uai, na roça fazia de tudo. Fazia de tudo em casa e ajudava os home. PESQUISADORA: Ainda ajudava na lida? INFORMANTE: Judava. ( ) na lida. PESQUISADORA: A sinhora fazia de tudo intão? INFORMANTE: Fazia sabão, fazia farinha, torrava café, apartava vaca, fazia quejo, tratava de porco. Nossa! 200 Ninguem aquerdita no tanto que eu já trabaiei. PESQUISADORA: Era uma correria danada. INFORMANTE: Era correno e ês ainda gritava. PESQUISADORA: Pé pesado. A sinhora trabalhano feito uma loca e ês ainda ficando bravos. INFORMANTE: A vaca invistia. 205 PESQUISADORA: A minha mãe ficava na janela lá em cima assim e ainda gritava: “sua moleza. Aparta essa vaca, suas moleza.” Minina mais eu infrentava vaca chifruda em riba de mim. PESQUISADORA: Nossa Sinhora. INFORMANTE: Um dia a/eu sigurei o laço no esteio e o laço num correu e a vaca veio ni mim. Ela pur caus[a] que o laço num incurtô., ela chego ni mim e me deu uma cabeçada e me dirrubô e muntô em cima. Eu fiquei 210 deitada de costa fazendo assim na cara dela. Que que vale a minha mão na cara dela? PESQUISADORA: Ela num tava nem aí pá mão da sinhora. INFORMANTE: Aquê linguão pra fora lambeno minha cara. Tava até babano. PESQUISADORA: E aí? INFORMANTE: Eu pelejano bateno lá. Que que vale? Aí que meu irmão pegô um porrete foi lá e tirô ela de 215 cima de mim. E a minha mãe gritava sua moleza. PESQUISADORA: E a sinhora passano o maior aperto. E ela gritando suas moleza. INFORMANTE: Nossa Sinhora da Parecida. E essa vaca invistia. PESQUISADORA: Credo! A vaca era brava? INFORMANTE: As vaca lá de casa era braba e num era uma só não. Tinha vaca lá que invistia até na sombra. 220 PESQUISADORA: Credo! INFORMANTE: E eu tinha que apartá e carregá o bizerro e guardá. PESQUISADORA: Nossa mais a vida da sinhora era sufrida mesmo. INFORMANTE: Num to te contano do terço a metade. PESQUISADORA: Era muito pior? 225 INFORMANTE: Nóis tinha ingenho de cana. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Quando era lá meia-noite meu pai já levantava. Já tá amanheceno, já tá amanheceno. Ô, vamo po ingenho. Ia po ingenho e nóis rodava nesse ingenho até de noite. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 69 PESQUISADORA: E o que que vocês faziam no ingenho? 230 INFORMANTE: Uai, fazia rapadura, fazia açuca. PESQUISADORA: E como é que funcionava o ingenho? INFORMANTE: Açuca fazia só pra nóis, num fazia pá vendê não. O açuca faiz do ponto do melado. Dexa posá no cocho. Dexa ele ( ) lá. Dipois tem uma forma assim ó. Que aqui no fundo da forma tem uns buraco. Aí forra de bagaço e põe melado ali. Aquê melado espaiado e põe mais bagaço em cima e põe um barro bem limpinho 235 por cima. Aí aquele barro vai passano e vai lavano aquê melado e o melado preto sai tudo embaxo. E fica aquele açúca crarinho. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: Pra gente fazê doce. Ê mais é um doce bão. PESQUISADORA: É? 240 INFORMANTE: De açúca. PESQUISADORA: A sinhora fazia doce de quê? INFORMANTE: Uai, nóis fazia de tudo. Fazia doce de mamão, doce de cidra, doce de leite, pé-de-moleque. PESQUISADORA: Pé-de-moleque é famoso, né? INFORMANTE: E lá em casa fazia cum leite. Fazia doce de leite e ingrossava cum mindoim. 245 PESQUISADORA: Hum! Divia ficá gostoso, né? INFORMANTE: É. Mais é um doce/ quanto eu fiz. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Fiz muito. PESQUISADORA: A sinhora fez muito doce de pé-de-moleque/ fazia de tudo, né? E antigamente as moças eram 250 prendadas né? Fazia de tudo. INFORMANTE: Ah, tinha que fazê. Ih... PESQUISADORA: Pra casá tinha que sabê fazê tudo, né? INFORMANTE: Tinha que sabê fazê tudo. Lá em casa ês apertava nóis no sirviço. Mais apertava memo. PESQUISADORA: Uai, mais a mãe da sinhora gritando moleza. Deus me livre! 255 INFORMANTE: Mais ela num ia lá no currale ajudá. PESQUISADORA: Não? INFORMANTE: Hã, se ela ia. Jogava nóis nos chifre da vaca braba. Mais isso num é que eu to contano vantage não. Porque o povo fala que todo veio foi pião. Mais é porque o povo de antigamente tinha aperto. PESQUISADORA: Tinha, né? 260 INFORMANTE: E os pai manda, tinha que obedecê. Agora se o pai mandá um fio apartá uma vaca fala não pai eu num vô não investe ni mim. ( ) PESQUISADORA: Acabô, né? INFORMANTE: Tá doido. Hoje eu tô um caco, mais o que eu já trabaiei e já fiz nesse mundo eu falo que eu já fiz minha parte. Pois casei e foi a mesma rotina. Ajudá o Mário arriá e amansá boi de carro. Pá pô no carro. 265 Quantas veiz eu sigurei o laço aqui debaxo do braço, pá cangá boi. Pá vendê manso pá ganhá mais lucro. Esse terreno aqui num tinha essa casa não. Foi quarenta nuvia que eu ajudei o Mário a amansá de carro e vendeu e comprô esse terreno aqui dessa casa. PESQUISADORA: A sinhora ajudo a amansá quarenta? INFORMANTE: Oh, num foi só quarenta não. 270 PESQUISADORA: Quarenta foi pra comprá aqui. Foi muito mais. INFORMANTE: Foi muito mais, uai. Aqui agora dipois que eu vimpra cá é que paro de amansá boi lá em casa. E era eu que ajudava. PESQUISADORA: Gente a sinhora era corajosa dimais. INFORMANTE: Uai, corajosa, era a pricisão, minha fia. 275 PESQUISADORA: Não era coragem, era precisão, né? INFORMANTE: Era pricisão, era precisão. PESQUISADORA: Mais é isso aí. A roça num é fácil, né? INFORMANTE: Ai minina. Hoje o povo num agüenta mais na roça. Roça num tem moleza não. PESQUISADORA: Num tem não. 280 INFORMANTE: Ah, mais a gentye já cresce acustumano porque eu entrei no sirviço pesado eu tava cum oito, nove ano. Até agora/ agora que eu num tô dano conta quero trabaiá ainda mais. PESQUISADORA: Não mais já tá bom. A sinhora tem que ficá sussegadinha agora. INFORMANTE: Mais aí eu quero mais num dô conta. Num tô falano que caí aí à toa no meio da casa. PESQUISADORA: Intão tem que ficá mais sussegadinha agora. 285 INFORMANTE: E assim memo eu faço todo meu sirviço, num faço muito bem não. A casa tá meio male arrumada. PESQUISADORA: Tá não. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 70 INFORMANTE: Essa semana num rumei casa, num lavei ropa. Num fiz nada.Porque a corage num deu. E ainda quiria trabaiá mais. 290 PESQUISADORA: Não agora a sinhora já tá boa, num precisa trabalhá mais não. Já trabalho dimais. INFORMANTE: Eu quero mais a força e a corage num tá dano. PESQUISADORA: A força eu até acho mas a coragem eu tenho certeza que a senhora ainda tem. INFORMANTE: Esses quadro aí fui tudo eu que pintei. Tem ali, tem aqui, tem lá pra dentro. Eu pintei uns seis pano de cuzinha pá vendê. 295 PESQUISADORA: Ah, eles são bunitos. INFORMANTE: Vindi um tanto, aí ainda tem pá vendê. Tem pano pá fazê mais. Se Deus ajudá que eu mioro um poco eu vô fazê mais. PESQUISADORA: Tá certo trabalhá nunca é dimais. 300 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 12 INFORMANTE 1: C.J.S. (85 anos, Analfabeta, sexo feminino) INFORMANTE 2: B.J.R. (70 anos, Ensino Fundamental I incompleto, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Agosto/2008 71 INFORMANTE 1: Lá na cidade choveu? INFORMANTE 2: Eu tava durmino na roça. Choveu aqui na roça. INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: A sinhora que é a dona C.? INFORMANTE 2: É ela. 5 PESQUISADORA: A sinhora que é mãe dele? INFORMANTE 2: É. Ahã. É a dona C. PESQUISADORA: Eu sou filha dele. Eu sou neta do G. INFORMANTE 1: Caçula? INFORMANTE 2: É. 10 PESQUISADORA: É. Sou a caçula dele. INFORMANTE 2: Ela é minha fia. PESQUISADORA: Eu sou gêmea. INFORMANTE 1: Quantos cê tem? INFORMANTE 2: Tenho trêis. 15 INFORMANTE 1: Esse é o quê? INFORMANTE 2: Esse é... PESQUISADORA: Esse é filho do retireiro lá de casa. INFORMANTE 2: É o rapaiz que mora lá em casa. PESQUISADORA: Dona C. eu vim aqui porque eu faço um trabalho na faculdade e eu tô pesquisando sobre a 20 vida na roça. Aí eu queria que a sinhora me contasse um poco. A sinhora mora a vida intera aqui num, é? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Quantos anos a sinhora tem? INFORMANTE 1: Eu tô cum 85. PESQUISADORA: 85? 25 INFORMANTE 1: É. Tô véia, né? PESQUISADORA: Tá nada. ((Oi, tudo bem. Prazer, G.)) INFORMANTE 1: A T. num quis vim? INFORMANTE 2: Não, ela ficô lá. A irmã dela tá lá. A D. tá lá tamém. INFORMANTE 1: Ah! 30 INFORMANTE 2: É, uai. Ãhã. Ela é boa de idéia uai. Só falei quem era. A sinhora num me cunheceu mais da Teresa a sinhora lembrô. É, uai. PESQUISADORA: A sinhora cunhece minha mãe? INFORMANTE 2: Cunhece uai. TERCEIRO: Perguntano se a sinhora cunhece a mãe dela. 35 INFORMANTE 1: Cunhece a Teresa? INFORMANTE 2: É, uai. Ãhã. Nóis/ cadê?/ Tá só ocêis aqui na roça agora? TERCEIRO: Uai, nóis tem seis aqui INFORMANTE 2: Hã? A ota turma tá pá cidade? TERCEIRO: Não, o Airto mais o Odair tá cortano trato. 40 INFORMANTE 2: Ah, certo. TERCEIRO: O Irto chegô aí agora ó com... INFORMANTE 2: Humhum! TERCEIRO: O Irto, o Ademir. INFORMANTE 2: Mais ela qué sabê da sinhora cumé que era de primero. Que que era custoso? Se era fácil. Se 45 hoje tá mió, né? INFORMANTE 1: É. Só pelejano, né? INFORMANTE 2: ((Risos)) TERCEIRO: É. Ela qué fazê umas pergunta pá sinhora. PESQUISADORA: Sinhora qué sentá aqui do meu lado? 50 TERCEIRO: Senta ali pá sinhora cunversá cum ela. INFORMANTE 2: É. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 72 PESQUISADORA: A sinhora quer sentar aqui em cima? Uai/ mais/ eu fiquei muito grande aqui. Vamos trocar. Eu sento daí e a sinhora senta daqui. ((Risos)) INFORMANTE 1: Ficô arta, né? 55 PESQUISADORA: Fiquei. INFORMANTE 2: É uai. PESQUISADORA: A sinhora quer trocar? Aí ó. Senta do meu ladinho. Isso. Pronto. A sinhora cabe aqui direitinho. INFORMANTE 1: É. 60 PESQUISADORA: A sinhora mora a vida inteira na roça? INFORMANTE 1: Moro. PESQUISADORA: Sempre aqui nessa casa? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: É? A sinhora veio pra cá em que ano? 65 INFORMANTE 1: Ih! Num sei mais, né? PESQUISADORA: Faz muito tempo? INFORMANTE 1: Faiz mũtos ano. PESQUISADORA: Mas a sinhora veio morá aqui porque a sinhora casô ou o pai da sinhora morava aqui? INFORMANTE 1: É. Logo ( ) Essa casa já tem uns cinqüenta ano, num é memo, Zezé? 70 INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Já tinha cinqüenta ano quando a sinhora veio pra cá? INFORMANTE 1: Que mora aqui. PESQUISADORA: É. Os filhos nasceram todos aqui? INFORMANTE 1: Foi tudo. 75 PESQUISADORA: É? Que bão, hein? A sinhora vai na cidade de veiz em quando ou não? INFORMANTE 1: Ah, vô só de picisão. PESQUISADORA: Se num precisa a sinhora num vai não? INFORMANTE 1: Eu não gosto de cidade não. PESQUISADORA: Por que a sinhora num gosta de cidade? 80 INFORMANTE 1: É uma barueira danada, né? PESQUISADORA: É ruim, né? INFORMANTE 1: Eu gosto é mais queto. PESQUISADORA: É? E o que a sinhora faiz aqui o dia intero? INFORMANTE 1: Hein? 85 PESQUISADORA: O que que a sinhora faiz aqui o dia intero? INFORMANTE 1: Uai, quando a N. tá trabaiano, eu faço/ barro casa/ arranjo... PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Mais/ mais a sinhora tá conservada dimais. Tá muito esperta. A sinhora tem 85? 90 INFORMANTE 1: É 85. Fiz em maio. PESQUISADORA: É? Mais a sinhora tá muito esperta. INFORMANTE 1: Isperta nada. ((Risos)) PESQUISADORA: Tá sim. A sinhora é ágil. Senta/ sentô aqui rapidinho. Levantô. Ela tá ágil, né? INFORMANTE 1: Tá véiaco. 95 TERCEIRO: ( ) muitos ano. PESQUISADORA: Uai, 85 anos. Como que era a vida aqui de primeiro? A sinhora chama dona C., né? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Como era a vida aí? INFORMANTE 1: Eu que liderava tudo. A N. era piquena, né? Oiava os minino, cuzinhava, tudo, né? 100 PESQUISADORA: Hã? Pode contar. INFORMANTE 1: É. TERCEIRO: É pá sinhora falá a vida da sinhora pá ela. PESQUISADORA: Pode falar a vida de antigo. Pode falar à vontade aí ó. A sinhora é boa de cunversa? INFORMANTE 1: ((Risos)) Pelejava ca vida, né? 105 PESQUISADORA: Pelejava, né? Quantos filhos a sinhora tem? INFORMANTE 1: Era deiz. Aí morreu um. Ficô nove ca N. PESQUISADORA: Hã? TERCEIRO: É. PESQUISADORA: O resto é só homem? 110 TERCEIRO: É só eu. INFORMANTE 1: É só ela. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 73 TERCEIRO: É oito home ( ). PESQUISADORA: Tem oito homens e uma mulher? TERCEIRO: É. 115 PESQUISADORA: Olha. Tem só uma mulher para ajudar a sinhora. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Ela é a mais nova? TERCEIRO: É. PESQUISADORA: Cê é a mais nova? Intão como é que era a vida aí? 120 INFORMANTE 1: Pelejano ca vida. Daqui e dali, né? PESQUISADORA: A sinhora trabalhava aqui na roça? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Que que a sinhora fazia? INFORMANTE 1: Uai, arranjava a casa, fazia cumida. Às veiz ia na roça ajudá, né? 125 PESQUISADORA: Ajudá o marido da sinhora? O que que a sinhora fazia lá na roça pá ajudar? INFORMANTE 1: Uai, é mio, arroiz. Prantava, né? Era mũto sirviço. PESQUISADORA: Muito serviço? Hoje em dia tem menos ou não? INFORMANTE 1: Ah, hoje tem menos, né? Que eu num trabaio quase. PESQUISADORA: Agora a sinhora fica mais dentro de casa? 130 INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Mas num pode facilitá aí de fora não, né? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Escorrega, cai. É complicado, né? INFORMANTE 1: É. A gente véio caino, aí cabô, né? 135 PESQUISADORA: Cabô. INFORMANTE 1: Machuca ( ) PESQUISADORA: Machuca muito fácil, né? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Quando é mais novo é mais fácil de consertá, né? 140 TERCEIRO: Sara mais rápido. PESQUISADORA: É sara mais rápido. Agora quando tá mais velho é mais complicado. O meu vô/ minha avó caiu/ sinhora lembra? Ela quebrô aqui/ a bacia. Agora a perna ficô torta. INFORMANTE 1: A qualé? PESQUISADORA: É a Z. 145 INFORMANTE 1: Ah, intão. Ea quebrô a peina? PESQUISADORA: Quebrô. Mas já faz um tempinho. Aí ela quebrô a bacia e hoje em dia ela anda mancando. INFORMANTE 1: Intão é por isso que ea manca? PESQUISADORA: Por isso. Uai. INFORMANTE 1: E cumé que é? Ea tá boa? 150 PESQUISADORA: Graças a Deus. INFORMANTE 1: Ea mora suzinha? PESQUISADORA: Mora. Ela num gosta de companhia. INFORMANTE 1: Mais é ruim, né? Dá uma dor de noite e num tem pá quem chamá. PESQUISADORA: Não, mais num dianta. Ela gosta é de ficá sozinha. Ela tem telefone lá na casa dela. Qualquer 155 coisa ela liga. Ela liga direitinho. INFORMANTE 1: Num posa nenhum minino cum ea? PESQUISADORA: Ninguém. Ela gosta de ficá sozinha. Ela num tem graça cum ela não. ((Risos)) INFORMANTE 1: ((Risos)) PESQUISADORA: Ela gosta de ficar quieta lá na casa dela. 160 INFORMANTE 1: Mais ea pudia pagá uma pá todo dia posa cum ea, né? PESQUISADORA: Pudia, né? INFORMANTE 1: Pur caus[a] que ea num é rebentada, né? Ela pode. PESQUISADORA: Ela pode. Mas ela num gosta. Nem os netos podem ir lá durmi. Ela não gosta de jeito nenhum. 165 INFORMANTE 1: Todo dia ... Num digo anssim ficá de dia. De noite í[r] lá um e posá cum ela. O neto o[u] pagava um, num é memo? PESQUISADORA: Mas num adianta. Ah, não/ ela gosta é de ficar lá quietinha. Sozinha. INFORMANTE 1: ( ) eu vi ela. Faiz mũto tempo que eu vi ela. PESQUISADORA: É. 170 INFORMANTE 1: Ea tava morano na roça. Ea teve aqui. PESQUISADORA: É. Intão faiz tempo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 74 INFORMANTE 1: Faiz. PESQUISADORA: Porque meu avô morreu já faiz quase uns dez anos e depois ela foi pra cidade e num voltou mais. 175 INFORMANTE 1: Intão, eu num vi ela mais. A N. tem visto, né? TERCEIRO: De veiz em quando eu topo cum ela no Ki-Barato lá. PESQUISADORA: Cê mora na cidade? TERCEIRO: Não. Eu moro aqui. PESQUISADORA: Ah! Cê vai lá de veiz em quando? 180 TERCEIRO: É. Quando eu vô fazê compra lá no Ki-Barato. PESQUISADORA: É. Ela mora lá perto do Ki-Barato. Aí de veiz em quando encontra? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: De vez em quando ela vem aqui na roça, dona C. INFORMANTE 1: É? 185 PESQUISADORA: É. Mas ela vem assim/ vem o quê? ... um dia... vai embora. Ela num durmiu/ nunca mais durmiu na roça... INFORMANTE 1: Ea num posa aí? PESQUISADORA: De jeito ninhum. INFORMANTE 1: Hã... 190 PESQUISADORA: Ela nunca mais durmiu depois que meu avô morreu. Ela vem dar uma voltinha. INFORMANTE 1: Quantos neto ea tem? PESQUISADORA: Ela tem quatro. INFORMANTE 1: Ocê? PESQUISADORA: Sou eu, mais dois irmãos e tem uma tia minha que tem uma filha. São quatro. Ela só tem dois 195 filhos, né? Que é meu pai e minha tia. Aí ela tem quatro. INFORMANTE 1: Intão. Aí pudia um neto posá cum ela todo dia, né? PESQUISADORA: Não. Mas num.../ ela num gosta. INFORMANTE 1: Ô N. arruma café pra ês. PESQUISADORA: Não, num precisa preocupar não, dona C. Mas intão dona C., a sinhora criô os filho tudo, 200 gostá de ficá aqui na roça. INFORMANTE 1: Tudo aqui. PESQUISADORA: Cidade, a sinhora num quer í[r] não? INFORMANTE 1: Ah! Cidade é uma baruieira danada, né? Às veiz a gente ta durmino, acorda inté assustada, né? 205 PESQUISADORA: A/ é verdade, né? Que é muito barulho, né? Passa gente gritando. INFORMANTE 1: Aquea rua ali nossa... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Ea subia e discia. Agora ea só sobe, né? Intão o baruio ( ) não. PESQUISADORA: Qual que é a rua da sinhora? 210 INFORMANTE 1: Ali na Au.../ rua Aurora. PESQUISADORA: Ah, tá. A sinhora tem casa ali. INFORMANTE 1: Tenho. Inté ea tá pá cabá de arranjá. Num acabô de arranjá ea não. Tá chumiscada por dentro tudo. PESQUISADORA: Sei. 215 INFORMANTE 1: Mais tem que fazê ( )... PESQUISADORA: Aí de vez em quando você vai lá? A rua Aurora é aquela?.../ Qual é a rua Aurora mesmo? ((Bigada, N.)) INFORMANTE 2: É aquela perto do sinalero. PESQUISADORA: Ah, tá. Aquela perto do sinalero? 220 INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: Sei onde é a casa da sinhora. A sinhora só vai de vez em quando, pra ir ao médico? INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: A sinhora vai pra í[r] no médico? INFORMANTE 1: É no médico pá... 225 PESQUISADORA: Mas a sinhora parece ter saúde boa num tem? INFORMANTE 1: Não. De veiz em quando vai fazê umas consurtinha. PESQUISADORA: Mas a sinhora parece ser forte, né? INFORMANTE 1: Graças a Deus. Dói uma dor de cabeça. PESQUISADORA: Hã? 230 INFORMANTE 1: Uma doi nas peina. ((Risos)) PESQUISADORA: Mas assim, fora isso a sinhora num tem nada? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 75 INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: A sinhora não toma remédio pra nada não? INFORMANTE 1: Não. Tomo pá pressão e po coração. 235 PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: Tomo direto... PESQUISADORA: A sinhora planta aqui na roça? INFORMANTE 1: Ê num qué café? PESQUISADORA: Ele tá tomano ó. 240 INFORMANTE 2: Tô aqui bebeno. PESQUISADORA: Tá todo mundo tomano. Gostoso o café. Docinho. Eu gosto de café assim. Minha mãe faiz um café sem açúcar dona C. do céu. INFORMANTE 1: Maigoso. PESQUISADORA: Nossa Sinhora! 245 INFORMANTE 1: Ah! O café mũto doce é ruim. PESQUISADORA: Não, mas do jeito que ela fez tá bão. INFORMANTE 1: Mais ê maigoso num vai não, né? PESQUISADORA: Nossa dona C. do céu! Minha mãe/ ela esquece do açúcar. Ela num toma café. Então ela vai fazê café... 250 INFORMANTE 1: Ea num bebe? PESQUISADORA: Bebe não. INFORMANTE 1: E faiz café? PESQUISADORA: Faiz. Bebe mas num faiz./Não/ Ela faiz mais num bebe. Aí ela num experimenta o café. Aí ela faiz aquele café margoso! Deus me livre! Sem açúcar. Pra quem tá cum muita dor de cabeça é uma beleza. 255 INFORMANTE 1: É. Café tem a midida, né? Ê mũto doce num presta, mais ê tamém maigoso é ruim. PESQUISADORA: Ês falam que muito doce prega a língua, né? ((Risos)) O açúcar. INFORMANTE 1: ((Risos)) PESQUISADORA: O açúcar é uma tristeza. Tinha muita festa religiosa aqui antigamente na roça? INFORMANTE 1: Hein? 260 PESQUISADORA: Festa religiosa? Tinha aqui na roça? INFORMANTE 1: Uai. De vez em quando ês vai no terço que tem. TERCEIRO: Aqui antigamente tinha mais que agora. PESQUISADORA: É? E como que era antigamente? Tinha mais? Como que era? INFORMANTE 1: Ah, era mais, né? Agora cabô quais tudo, né? 265 PESQUISADORA: O povo parece que num reza muito, né? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: O povo num esquenta. INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: O povo parece que num reza muito mais. 270 INFORMANTE 1: É. TERCEIRO: Num tá isquentano de rezá. INFORMANTE 1: Hoje é crente/ é/ ( ) ota nação, né? ( ) é Deus num é memo? PESQUISADORA: A sinhora vai no terço de vez em quando? INFORMANTE 1: Vô. 275 PESQUISADORA: Ah! Intão tá bão. De vez em quando a sinhora dá uma rezadinha. O povo hoje já num tá/ meio/ tudo largado, né? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Num isquentano de rezá. INFORMANTE 1: É. 280 PESQUISADORA: Num isquenta não. INFORMANTE 1: É. ( ) Todo dia reza pá durmí, né? PESQUISADORA: Ah! Tem de rezá. Agradecê que passô mais um dia. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Afinal de contas, Deus permitiu que a gente tivesse vivo mais um dia, né? 285 INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: A tia G. que falô/ a sinhora cunhece a tia G. que mora ali? Antes de ir pá minha roça? INFORMANTE 1: A qualé? PESQUISADORA: A tia G.? TERCEIRO: A G. mãe do L.A. 290 PESQUISADORA: Cunhece? INFORMANTE 1: Cunheço. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 76 PESQUISADORA: Intão, ela/ah/ ela acabô de falá que quando ela vai lá na cidade pra recebê um dinheirinho, ela passa na igreja pra rezá. Porque.../ pá agradecê mais um mêis que ela tá viva. ((Risos)) TERCEIRO: ((Risos)) 295 PESQUISADORA: Ela falô assim que ela vai agradecê pelo mês que ela passô, tava viva e agra/ pidi pro outro pra ela tá viva tamém. INFORMANTE 1: ((Risos)) PESQUISADORA: Boa idéia, né? INFORMANTE 1: Aquea coitada, né? Só ela e o rapaiz. 300 PESQUISADORA: É. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Só ela e o L., né? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Mora lá. Tava panhano café esses dias. Vê se tem juízo? 305 INFORMANTE 1: Ea num quis í[r] pá cidade. PESQUISADORA: Não. TERCEIRO: Panhano café pra quem? PESQUISADORA: Pro T. eu acho. TERCEIRO: ( ) 310 PESQUISADORA: Tem gente que gosta de sofrê, né? TERCEIRO: E num picisa, né? PESQUISADORA: Não. Pelo amor de Deus. Mas/ eu acho que ela fica muito sozinha. Ela vai lá divertir num é possível. TERCEIRO: Capaiz que a pessoa acha até bão, né? 315 PESQUISADORA: É. Às vezes vai lá panhá pra que/ acho que é uma companhia, né? TERCEIRO: É. Não. PESQUISADORA: A sinhora trabalhava muito quando era mais nova? INFORMANTE 1: Ah, trabaiava, mais hoje já num trabaio mais. PESQUISADORA: Não, mais a sinhora já trabalhô muito, uai. Cum 85 num precisa trabalhá mais não. ((Risos)) 320 A sinhora já trabalhô tudo que tinha de trabalhá, né? INFORMANTE 1: É. Trabaiô um poco. PESQUISADORA: É. Um poco. Tenho certeza que a sinhora trabalhô muito. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: A sinhora ajudava o marido da sinhora aí, né? 325 INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: ((Ó a galinha cantano aí.)) INFORMANTE 1: Agora ficô fio pra trabaiá no lugá meu, né? PESQUISADORA: Ah, é. Agora ês trata da sinhora, né? INFORMANTE 1: É, uai. 330 PESQUISADORA: A sinhora ajudô muito tempo. TERCEIRO: Mas é capaiz que os fio tá mais cansado que a sinhora, num é não, mãe? Os fio capaiz que veve mais cansado do que a sinhora. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Como é que é dona C.? 335 TERCEIRO: A sinhora acha que ( ) sim ou não? INFORMANTE 1: ((Risos)) PESQUISADORA: Ela só ri. O marido da sinhora morreu faz tempo? INFORMANTE 1: Ah! Faiz mais de 20 anos. PESQUISADORA: Que ele já morreu? 340 INFORMANTE 1: 20 anos? TERCEIRO: Mais de 20 anos? O tempo passa tão rápido, né? PESQUISADORA: Passa. INFORMANTE 2: Passa. PESQUISADORA: Hoje em dia nem começô e o ano já terminô. Aí nóis já tamo o quê/ mais do meio do ano/ já 345 tamo em agosto. INFORMANTE 1: É. Ou? Hoje é dia dos pai? PESQUISADORA: Hoje é. INFORMANTE 1: É dia quanto? Num é no dia doze? PESQUISADORA: Hoje é dia dez. Hoje é o segundo domingo de agosto. 350 INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: Hoje é dia dos pais. A sinhora tem muito neto? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 77 INFORMANTE 1: Tenho, tenho um punhado. PESQUISADORA: É? Quantos netos a sinhora tem? A sinhora lembra? INFORMANTE 1: Ah, quantos neto que é, N.? 355 PESQUISADORA: Tem um montão? TERCEIRO: Ah, deve sê duns quinze pra lá. PESQUISADORA: E quantos/ tá tudo moço já? Ou tem piqueno também? INFORMANTE 1: Já casô, já é moço. TERCEIRO: O mais novo é só do meu irmão. Do V. Ês é mais novo. Mas o otro é tudo moça já, moço. 360 PESQUISADORA: Ah, é? TERCEIRO: É. INFORMANTE 1: É. TERCEIRO: Já tem até casado já. Já tem neto. PESQUISADORA: A sinhora já tem bisneto? 365 TERCEIRO: Já. INFORMANTE 1: Já. PESQUISADORA: A sinhora pajeia os bisnetos de vez em quando? INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: Ês vem passiar aqui na roça de vez em quando? 370 INFORMANTE 1: De veiz em quando vem dois. TERCEIRO: A sinhora tem dois, né mãe? É, bisneto a sinhora tem dois. PESQUISADORA: Dois? Mais é piqueno ainda? TERCEIRO: É. PESQUISADORA: São piquenos os bisnetos? 375 INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: É tudo neném ainda? Bisneto? TERCEIRO: Não. Já é grandinho. Já é grande ( ) desse portizinho assim. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE 1: O menor é... 380 TERCEIRO: É o A. do R. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Quantos anos tem o menor? ( ) TERCEIRO: Não. PESQUISADORA: Ah, já é grande? 385 TERCEIRO: Deve sê duns cinco por aí. O mais novo. PESQUISADORA: Ah, é. De vez em quando a sinhora dá umas voltas aqui na roça, pelo menos ou não? INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: Na roça a sinhora passeia ou não? INFORMANTE 1: Ah, num passeio não. 390 PESQUISADORA: Não? Por que? INFORMANTE 1: Num gosto de passiá não. PESQUISADORA: A sinhora gostá de ficá em casa? INFORMANTE 1: Eu gosto é de ficá queta. PESQUISADORA: É? Mas por quê? 395 INFORMANTE 1: Ah, bobagem ficá passiano, né? PESQUISADORA: Ah! ( ) mas batê uma prosinha./mas bat~e/ cunversá. Mas cunversá de vez em quando é bom. TERCEIRO: Essa aí é sua irmã? INFORMANTE 2: Essa aí é minha fia. Brigado pelo irmã. 400 PESQUISADORA: ((Risos)) Ou então eu que vô tê que ficá triste, né? ((Risos)) INFORMANTE 1: É só ocê de muié? PESQUISADORA: Só eu. Tem dois mais velhos. Eu tenho um irmão mais velho e tenho/ e eu sou gêmea. INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: Tenho um irmão/ junto comigo. 405 INFORMANTE 1: Gêmeo co cê? PESQUISADORA: É gêmeo comigo. INFORMANTE 1: Já casô o oto? PESQUISADORA: Já. Os dois já casaram. Só eu que não. Eu fiquei por último. INFORMANTE 1: O gêmeo seu casô tamém? 410 PESQUISADORA: Casô. Casô cum uma moça/ mora lá em Angra dos Reis. Lá na praia. INFORMANTE 1: Aquele ali é o que seu? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 78 PESQUISADORA: Esse aqui? Qual? Esse piqueno? Esse aí é filho do retirero lá da roça. INFORMANTE 1: Aí. PESQUISADORA: É. 415 INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: Do// Ele chama A. A sinhora cunhece? A J. Ele é casado com a J. INFORMANTE 1: A J. eu cunheço. PESQUISADORA: Neta da dona E. A J. é neta dela. Ele é filho dela. INFORMANTE 1: Ah! Tá grande, né? 420 PESQUISADORA: Tá grande. Ê já tá cuns oito ou nove. O pai dele mora/desde que casô. Antes um pouquinho de casar ele já morava lá na roça. INFORMANTE 1: Aí? PESQUISADORA: É. Agora ele já tá cum oito anos. Faz mais de oito. Que antes de casar ele já foi morar lá na roça. 425 INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: Agora já tá com esse aí cum oito. No mínimo tem oito anos. INFORMANTE 1: Tem só esse? PESQUISADORA: Não tem mais um. INFORMANTE 1: Home? 430 PESQUISADORA: É. Home. Nasceu tem cinco meses. INFORMANTE 1: Ah. PESQUISADORA: É novinho... É piqueno. INFORMANTE 1: Ê num quis café. PESQUISADORA: Quem? 435 INFORMANTE 2: Ê bebeu. TERCEIRO: Eu dei pra ele. PESQUISADORA: Os dois beberam. INFORMANTE 2: Nóis já bebemo café já dona C. PESQUISADORA: O piqueno e o meu pai beberam. 440 INFORMANTE 1: Mas o G. ingordô, né? PESQUISADORA: Não, ele é filho do G. Ele chama B. INFORMANTE 1: O B., né? PESQUISADORA: Ingordô. Ele era magro. A sinhora lembra dele? INFORMANTE 1: Ele era magro. 445 PESQUISADORA: Mas come dimais e fica à toa. INFORMANTE 1: Mas num é não, é a saúde da pessoa. PESQUISADORA: Por que a saúde? INFORMANTE 1: Uai, a saúde é a saúde, num sente nada. Come bem. PESQUISADORA: Come. 450 INFORMANTE 1: Por que as pessoa que é duente num come nada, né? PESQUISADORA: Não. INFORMANTE 1: Fala que qué um mingau, uma coisa, né? PESQUISADORA: É. Não, ele é bão graças a Deus. Alá, tá gordo. Dizem que gurdura é sinal de saúde. INFORMANTE 1: A G. ingordô/ é/ cumé que chama/ingordô a T.? 455 PESQUISADORA: A minha mãe tamem tá gordinha. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: É mas num tá muito não. Mas tá gordinha. INFORMANTE 1: Cas que ea num era gorda não. Ea era magra. PESQUISADORA: Ela era magra, né? Não, mas a minha mãe também tá mais forte. Ah, mas fica na cidade, 460 comendo muito, num faiz nada. Num faiz nada assim... INFORMANTE 1: Trabaiá, trabaia mais o sirviço lá é menos. PESQUISADORA: É verdade. INFORMANTE 1: É leve. Arrumá uma casa, fazê uma comida. Arrumá uma coisa. Aqui na roça não. Ea tano morano aí, ea tem que judá o B. Fazê arguma coisa, né? 465 PESQUISADORA: É. INFORMANTE 1: Judá cum arguma coisa. PESQUISADORA: Não. Mas agora os dois tão na cidade. Meu pai quase num vem na roça. Só vem pra passiá agora. Ele alugô as roças. Ele num quis mexê mais não. INFORMANTE 1: Ah! 470 PESQUISADORA: Cansô. Num dá dinheiro. Só decepção. INFORMANTE 1: Cê vem mũto aí? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 79 PESQUISADORA: Eu? Só venho de vez em quando. Agora tô vindo bastante porque eu preciso fazer essa pesquisa com os costumes. É, eu tô vindo/ com os custumes da roça. Aí eu tô vindo mais. Aí esses dias eu fui lá na casa da vó dele. 475 INFORMANTE 1: Da dona T.? PESQUISADORA: Não. Na casa da bisavó na verdade. Dona E. A sinhora cunhece? INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: Dona E. Ela mora ali... perto... INFORMANTE 1: A mãe d rapaiz? 480 PESQUISADORA: A dona E. é mãe da dona T. Vó desse minino aí. Mãe da J. INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: Sogra do B. A dona E. INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: Aí eu fui na casa dela. Ela tem 96/94 anos. 485 INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: Mais ela tá esperta também. Sinhora precisa vê. TERCEIRO: E ela ainda faiz as coisa? PESQUISADORA: Faiz. Só que ela é levada. Se dexá ela foge. E ela num enxerga muito bem. Num caminha muito bem não. Mas ela já tem 94 anos também. Aí ela foge, vai aguá... 490 INFORMANTE 1: A qualé que tem 94? PESQUISADORA: A dona E. A bisavó dele. INFORMANTE 1: Ah! PESQUISADORA: Aí ela foge, vai aguá as palntas. ((Risos)) TERCEIRO: ((Risos)) 495 PESQUISADORA: Ela é levada dona C., a sinhora também é? A sinhora foge de veiz em quando deles ou não? TERCEIRO: Não, ela não foge não. PESQUISADORA: A sinhora anda bem aí, né? INFORMANTE 1: Eu o quê? PESQUISADORA: A sinhora anda bem aqui na roça, né? 500 INFORMANTE 1: Ando dento de casa. Lá fora num pode. PESQUISADORA: A sinhora num sai lá fora Não? Por que? TERCEIRO: Não. Í[r] lá fora ela vai, mais assim/ igual assim, tano de chuva ela nem na porta num vai. PESQUISADORA: Pra não escorregar, né? TERCEIRO: É. Mas/ ( ) a memória dela é boa porque ela num foge de casa. 505 PESQUISADORA: Não? TERCEIRO: Graças a Deus não. Porque cê já pensô o trabaio que dava pra mim? PESQUISADORA: Não. Cê que cuida dela? TERCEIRO: É. Daí ela num foge não. Fica dento de casa. Cuida ( ). PESQUISADORA: A sinhora que faz almoço? 510 INFORMANTE 1: O dia que ea num taí é. PESQUISADORA: Mas quando ela taí ela que faz? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Aí a sinhora só ajuda? INFORMANTE 1: É. 515 PESQUISADORA: A sinhora acorda cedinho? INFORMANTE 1: Ó, eu acoido. A hora que ês vai tirá o leite, eu acoido e num drumo mais. PESQUISADORA: Na hora de tirá o leite a sinhora acorda e num dorme mais? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: E que horas que ês tira o leite? Cedinho? 520 INFORMANTE 1: Fica num prozê danado. PESQUISADORA: Num prozê danado? INFORMANTE 1: Liga rádio, né? Liga televisão. Ah! PESQUISADORA: Aí a sinhora num dorme mais? Mas aí a sinhora levanta ou não? INFORMANTE 1: Hein? 525 PESQUISADORA: Aí a sinhora levanta? INFORMANTE 1: Não, levanto não. PESQUISADORA: ((Risos)) A sinhora só acorda? INFORMANTE 1: Fico queta. PESQUISADORA: Ah! Tá certo. Mas aí a sinhora fica deitada. 530 INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Aí a sinhora levanta que hora? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 80 INFORMANTE 1: Ah, eu levanto ali pás 6:30, 7:00 horas. PESQUISADORA: Aí a sinhora levanta e vai começar o dia? INFORMANTE 1: É. 535 PESQUISADORA: Aí faz uma coisa ali, faz outra aqui. INFORMANTE 1: Aí eu vô arranjá. A N. vai trabaiá, né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Panhá café. PESQUISADORA: Hã? E esse tempinho de chuva? 540 INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: E esse tempinho de chuva? INFORMANTE 1: Fria, né? PESQUISADORA: Tá bão? INFORMANTE 1: Uai/ hoje/ choveu de noite, né? 545 PESQUISADORA: Ah eu nem vi. Disse que choveu. Eu durmi feito uma pedra. INFORMANTE 1: Cê tava aí? PESQUISADORA: Eu tava. Nós durmimos aqui hoje. Eu durmi até e nem vi. INFORMANTE 1: O irmão seu mora na cidade memo? PESQUISADORA: Um mora lá em Passos. Ele chama G. Agora, o outro, mora lá em Angra dos Reis no Rio de 550 Janeiro. INFORMANTE 1: Aonde que a muié dele mora? PESQUISADORA: É. Os dois casaram e mora lá. Ele é engenheiro... eletricista. Aí ele trabalha numa empresa lá. Ele e a mulher dele. INFORMANTE 1: A muié dele trabaia tamém? 555 PESQUISADORA: Trabalha. Na mesma empresa. Agora, o outro meu irmão, o mais velho, mora lá na cidade. Mexe cum política. INFORMANTE 1: ( ) Qualé que é gêmeo co cê? PESQUISADORA: O que é gêmeo comigo mora lá no Rio. INFORMANTE 1: É o mais novo? 560 PESQUISADORA: É o mais novo. Ele mora lá no Rio de Janeiro. Agora o mais velho, ele/ Mora em Passos. Ele é/ mexe cum política lá. ((Risos)) INFORMANTE 1: Ah. PESQUISADORA: O minino gosta. Ele parece meu pai. INFORMANTE 1: Goido? 565 PESQUISADORA: Gordo. ((Risos)) Boa, dona C. ((Risos)) Ele é daquele jeito. O outro é mais magro. Parece minha mãe. O outro. Mora lá no Rio. Tem umas histórias aí da roça pá sinhora contá? INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: Tem uma história da roça pá contá. Tinha assombração aqui ou não? INFORMANTE 1: Não, nunca vi não. 570 PESQUISADORA: Deus me livre, né? Mas história, a sinhora cunhece alguma? INFORMANTE 1: Graças a Deus. PESQUISADORA: Graças a Deus, né? Credo! Vê assombração num tá cum nada não, né? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Mas a sinhora conhece alguma história aí da roça? 575 INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: A sinhora cunhece alguma história aí da roça? INFORMANTE 1: Ah, já isquici, né? PESQUISADORA: Ah! Mas a cabeça da sinhora/ ela disse que é boa, uai. INFORMANTE 1: Já tá véia, né? 580 PESQUISADORA: Tá nada. A sinhora tá nova. INFORMANTE 1: Tá. Tá novinha. PESQUISADORA: A sinhora não viu a Dercy Gonçalves lá? Morreu com 101 anos? INFORMANTE 1: Qualé? PESQUISADORA: A Dercy da televisão. 585 INFORMANTE 1: Ah! Quantos ano? PESQUISADORA: 101. INFORMANTE 1: Ah, não. Aí é turá dimais, né? PESQUISADORA: Né nada. Eu quiria viver até 101. E ela viveu até 101 e com saúde. INFORMANTE 1: É. 590 PESQUISADORA: E com saúde. Num tava ruim não. Agora imagina morrê cum 101 anos e com saúde. INFORMANTE 1: É. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 81 PESQUISADORA: Enxergava bem. Tudo certo. Ela tava gordinha. Mas a vida antigamente aqui como é que era? INFORMANTE 1: A vida de premero era mais fácil, né? PESQUISADORA: Por que que era mais fácil? 595 INFORMANTE 1: Parece que os trem era mais barato. Que hoje é tudo caro. PESQUISADORA: Mas e para viver? Era mais fácil? INFORMANTE 1: Ah, era. PESQUISADORA: Como é que o pessoal vivia? INFORMANTE 1: Cê vê que era mais fáci’... Tudo... 600 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Agora é tudo custoso, né? PESQUISADORA: Tudo. E o povo? O povo antigamente era melhor? A sinhora acha? INFORMANTE 1: É tudo iguar, né? PESQUISADORA: Por que? 605 INFORMANTE 1: Hoje e de premero, né? PESQUISADORA: Não mudou muita coisa não, né? INFORMANTE 1: ((Risos)) PESQUISADORA: Tá certo. E como que fazia antigamente pra í[r] pra cidade? Ia à pé? INFORMANTE 1: Não. 610 PESQUISADORA: Fazia como? INFORMANTE 1: Eu ia mũto a cavalo na cidade. PESQUISADORA: É? E demorava muito tempo? INFORMANTE 1: Quando picisavam eu ia a cavalo. Agora, hoje é mais fácil, tem carro. Os minino tem um carro aí/ tá picisano mandá cunsertá. 615 PESQUISADORA: Cum carro é mais fácil, né? INFORMANTE 1: Ah, é. PESQUISADORA: Rapidinho, né? INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Se tiver passando mal. Chega rápido, né? É mais fácil de ir. Hoje melhorou muito, né? 620 INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: E antigamente. Como é que fazia pra mandá o leite pra cidade? INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: E o leite pra cidade, como é que ia? INFORMANTE 1: O que que cê tá falano? 625 PESQUISADORA: O leite? Como é que ia pra cidade? INFORMABTE 1: Uai. Ia no leitero. O leitero tinha toda vida. PESQUISADORA: Aí o leitero levava? INFORMANTE 1: Agora, hoje... é ... ( ) tem mũto caminhão, né? PESQUISADORA: Tem muito. É bom que o caminhão leva pra cidade, né? 630 INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Mas aqui vem caminhão? Ou cês têm que levá o leite lá na frente? INFORMANTE 1: Não, tem um subrinho meu que pega ali embaxo e leva lá. PESQUISADORA: Ah! Tá. Ele pega e leva. INFORMANTE 1: ( ) 635 PESQUISADORA: Onde que mora o sobrinho da sinhora? Ele mora aqui perto? INFORMANTE 1: Não. Ele mora lá perto do O. PESQUISADORA: Ah, tá. Ah, tá. Ele é leitero? INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: Ele é leitero? 640 INFORMANTE 1: É. TERCEIRO: Ele puxa leite lá po A. PESQUISADORA: Ah! Pro A. do laticínio? TERCEIRO: É. PESQUISADORA: Hã? Aí pega e leva? 645 TERCEIRO: É. INFORMANTE 1: O T. morreu? INFORMANTE 2: Hein? O T.? INFORMANTE 1: O T. INFORMANTE 2: Puisé.T. num adiantava/ ê caçô ca mão, né? 650 INFORMANTE 1: É. INFORMANTE 2: Ih! Aqui ó. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 82 PESQUISADORA: O T. num guentô não. TERCEIRO: ((Risos)) PESQUISADORA: O batidão. Ele não agüentô não. 655 INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: Não. Mas coitado! Ele tava muito duente, né? O médico falô pra ele num tomá mais e ele num agüento. Tomô. Morreu. TERCEIRO: ((Risos)) PESQUISADORA: Coitado! A última veiz que ele apareceu lá em casa ele tava tão inchado. 660 INFORMANTE 1: Inchado? PESQUISADORA: Inchado. Ele tava muito ruim. Ele tava inchado aqui ó. Tudo incahdo... Ah, mas ele estragô dimais, coitado. INFORMANTE 1: É. Mais é abibida, né? PESQUISADORA: Ah, a bebida. Bebia dimais, né? 665 INFORMANTE 1: É. TERCEIRO: É, num controlava, né? PESQUISADORA: Ele num controlava. Beber pode, né? Mas... INFORMANTE 1: A bibida. A bibida num presta pra ninguém não. Caba cum dinhero do borso. Caba por dento, né? 670 PESQUISADORA: Acaba. É uma tristeza, né? Mas ele era assim/ bebia de segunda a segunda e não comia nada não. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Só bibia, bibia, bibia. INFORMANTE 1: É. 675 PESQUISADORA: Aí aparecia lá em casa. Aí meu pai punha um prato de comida pra ele. Aí ele cumia. Aí ele pedia dinhero pra ir beber. Aí meu pai num dava dinhero pra ele não beber. INFORMANTE 1: Mais ele pidia nas venda, né? PESQUISADORA: Pidia nas venda. Tava nem aí. INFORMANTE 1: É. 680 PESQUISADORA: Ele e o irmão dele de vez em quando ia lá na minha vó também, na cidade. INFORMANTE 1: Ah! E aquê Z.? Sarô? PESQUISADORA: O Z.? Nada! Sarô nada. Agora o Z. aposentô e tá bebeno o dinhero da aposentadoria. INFORMANTE 1: Ai, ai, ai. Intão agora acabô de levá a breca. PESQUISADORA: Acabô. Vai levá a breca. 685 INFORMANTE 1: Mais agora tem dinhero à vontade, né? PESQUISADORA: À vontade. Ele recebe no dia/ no quinto dia útil e bebe omêis intero. Mais ele tá mais forte, né? INFORMANTE 1: Iche! Tem mũto tempo que eu não vejo ele. PESQUISADORA: Faiz tempo. Ele num tá muito bom da caxola. Eu acho. 690 INFORMANTE 1: É. Mais é por causa de tanto bebê, né? PESQUISADORA: É. INFORMANTE 1: Uai, vai ino discontrola. PESQUISADORA: Discontrola. A cabeça dele já num funciona mais não. INFORMANTE 1: É. 695 PESQUISADORA: De vez em quando/ faiz muito tempo que ele num vai lá em casa mais não. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: É. De vez em quando ele ia lá. Agora ele aposentô. Ê fica/ ele nem aparece. Agora ele num precisa pidir dinhero. INFORMANTE 1: Agora ele ( ) de ninguém. 700 PESQUISADORA: Agora ele financia a própria bebida. INFORMANTE 1: ((Risos)) PESQUISADORA: Ele bebe tudo. Eu tenho um parente lá também, casado com uma tia minha que gostá de tomá umas. Todo dia de preferência. Uma, não! Muitas. Aí ele aposentô agora tamém. Bebe o dia intero. INFORMANTE 1: Qualé? 705 PESQUISADORA: Ele chama/ ela cunhece pai, a família da mãe? Não, né? INFORMANTE 2: Uai. É casado com a A. PESQUISADORA: Casado com a A. Sabe a minha mãe? A irmã dela que chama A.? INFORMANTE 1: Sei. PESQUISADORA: Ela é casada com R. Ês chama ele de R. E ele toma todo dia. Agora ele aposentô... 710 TERCEIRO: R.? Quem é esse? PESQUISADORA: Casado cum uma tia minha. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 83 INFORMANTE 1: Agora ê tem dinhero pá bebê? PESQUISADORA: Uh! Mas aí, é o seguinte: ele não sabe ir receber, aí a minha tia que vai receber para ele. Aí ela dá deiz reais pra ele. A minha tia. Aí ele bebe o mêis intero cum deiz reais. 715 INFORMANTE 1: Ah! TERCEIRO: É mais ainda tá bão, né? Que ela pega e vai recebê pra ele. Agora essas pessoa que vai lá e recebe. Que que é? O salário é R$415,00. PESQUISADORA: R$415,00 pá bebê é muita coisa. TERCEIRO: Intão. É uai. 720 PESQUISADORA: Dá pá ficá muito tonto. TERCEIRO: Ele é poco dinhero pro cê comprá as coisa de cumê pá dento de casa. Que as coisa tá cara. Mais pá bebê... PESQUISADORA: É muita coisa. INFORMANTE 1: A pinga incareceu bem, né? 725 PESQUISADORA: Incareceu? Num sei. INFORMANTE 1: O litro de pinga tá custano quanto? TERCEIRO: Ah, ês fala que é R$5, R$6. INFORMANTE 1: É R$5,00, é mais de R$5,00. PESQUISADORA: A família do meu namorado produz cachaça. 730 INFORMANTE 1: Quem? PESQUISADORA: Mais é cachaça de exportação. Num vende aqui não. INFORMANTE 1: Vai pra fora? Mais é aqui? PESQUISADORA: Não. Ele mora em Belo Horizonte. INFORMANTE 1: Hã! 735 PESQUISADORA: É mais longe ainda. INFORMANTE 1: Cê vai casá? PESQUISADORA: Uai, num sei quem sabe, né? É a idéia, né? INFORMANTE 1: Deus ajuda, né? PESQUISADORA: Ajuda. 740 INFORMANTE 1: Que arranja casamento bão. PESQUISADORA: Tem que sê, né? Casamento ruim é melhor ficar sozinho, né? INFORMANTE 1: É. Ah, é, né? Num semo pá combiná é mió ficá sozinho. PESQUISADORA: É verdade. INFORMANTE 1: Cum pai e mãe, né? 745 PESQUISADORA: Porque às vezes tem pessoa custosa, né? INFORMANTE 1: É. Mas Deus ajuda que seje bão o casamento, né? PESQUISADORA: É. Vamô vê. Mais intão. Vô parar de amolar a sinhora. Vô embora. INFORMANTE 1: Inda é mũto cedo. PESQUISADORA: Nada. Muito cedo. Cedo foi a hora que a sinhora levantô, uai 6:30. 750 INFORMANTE 1: ((Risos)) ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 13 INFORMANTE 1: G.F.R. (75 anos, Analfabeta, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 84 INFORMANTE: ( ) Pelado. E o seu irmãozinho? Vai saí iguale ocê? Acho que ê vai saí assim memo. TERCEIRO: ( ) INFORMANTE: Num faiz male não. Depois eu passo ( ) fogo lá ( ) piqueno. Tem dia que tá de noite e ieu quero café, eu aindo côo. Tem dia que eu num quero não. PESQUISADORA: A sinhora já tá fazeno almoço? 5 INFORMANTE: Não. Cuzinhano fejão. É/ meu armoço tá facinho. Tem uma carne de porco pronta, ali tem uma panelinha de carne de vaca pronta. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Eu vô fazê só mais uma verdura e o arroiz. É iguale ieu. Se eu fô fazê, tem o arroiz pronto, se o L. num fô saí trabuçano em antes do armoço, ieu isquento aquele ali que eu fiço onti. 10 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí ele nem janto. Eu cumi um poquinho. Tá ali na panelinha o meu. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Até já tratei um poquinho dos cachorro cedo. Agora vô fazê um arroiz e uma verdura. Aqui tá só ieu e o L. Aí às veiz eu faço/ mandioca ieu num sô mũto de fazê não. Eu gosto de mandioca, mas num... ( ) 15 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Cuzinho até ficá maciinha. Eu gosto, o L. tamém gosta. Mai’ sei lá com o tempo descamba. Vai arrancá um pé de mandioca, só um poquinho o resto que fica lá as galinha istraga. PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Agora, até oto dia eu falei “uai ( ) / vô fazê uma abobra”. Era tempo de abobra/ abobrinha, 20 xuxu. É uma virdura. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: ( ) monte de panela. Foi lavá panela. Sabe quantas? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Seis, sete, oito panela. 25 PESQUISADORA: Uai, vixe! INFORMANTE: Dexe jeito. Aí cato e vô lá na tornera lavá minhas culerinha véia. ( ) Aí a gente vai fazê uma misturinha, às veiz uma caneca d’água suja, uma carne, daí eu junto mais aqui. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Quando eu vô lavá aquê tanto de trem cum coisa que feiz cumê prum povão. Agora é bão. Nóis 30 vai prus café. Só faço arroiz, feijão e carne. PESQUISADORA: Aí a sinhora leva marmita? Ou a sinhora vem almoçar aqui? INFORMANTE: Leva. Não, nóis leva. Aí eu dexo pá fazê mais tarde na hora de í[r] pá num ficá mũto frio põe no sol. Aí fica quente. Porque tem dia que leva e ê nem num armoça. Ê vai lá, trabaia um poco. Aí vem cá liga a bomba pá jogá água pás vaca. 35 PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: Isturdia pra trais/ é/ tinha um bizerro que ficava/ ê entrô lá na cana. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí ( ) ês falô que vinha cortá cana. PESQUISADORA: Hã? 40 INFORMANTE: Aí num pode dexá ê lá dento que ês vem primeo e põe fogo aí e quema o bizerro lá. PESQUISADORA: Cês alugaram a terra aqui pra usina? INFORMANTE: Não, ali do T. PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: Ê pulô pra lá. Só um. 45 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí o L. tava largano ê fechado até mais tarde. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Pos oto num entrá. Aí ê tinha que vim cá sortá. E as vaca pra cá e pra cá tem água. Pra cá num tem. Só a água da caxa. Essa caxa aqui é piquena e aquela lá istragô, cai só um poquinho d’água no fundo dela. 50 Ela num enche mais. PESQUISADORA: Hum? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 85 INFORMANTE: É tudo véia, tudo quebrada. ( ) de carrera disligano a bomba. Iguale quando eu fazia. Quando o comarada tá aqui num picisa procupá porque o cumarada liga a bomba, tampa ali, segue pra cima. PESQUISADORA: Hã? 55 INFORMANTE: Agora, quando eu saio, aí é preocupá. Agora, esses dia nói’ foi pá cidade, essa semana. Aí ê falô: “vô passá as vaca pá baxo de novo, que aí num picisa preocupá cum a água.” PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Falei “ intão”. Ê falô “ às veiz se quisé vim de tarde.” PESQUISADORA: Sei. 60 INFORMANTE: De tarde, se quisé posá. Intão, aí passô. Mais ali pra cima ainda tem um pastinho mais o[u] meno prês andá. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: ( ) PESQUISADORA: Mas tá seco, né? 65 INFORMANTE: Tá, tá mũto. PESQUISADORA: Aí tá colocano trato pras vacas? INFORMANTE: Tá nada. Num tem trato. Trato da mão de Deus. Esses brotinho que tá saino da berada. Essas paiada de cima abriu era mais poco pra trais ( ) mais agora, mais pra trais. A ota aqui abriu primero. Aí eas foi andano aí pá berada. Mais tapeia, cê picisa de vê. ( ) Aí dá gosto de vê. ( ) 70 PESQUISADORA: Mais agora tá muito seco, né? INFORMANTE: Tá. É/ na hora que entrá o tempo das chuva ( ) PESQUISADORA: ((Eu vô dexá aqui)) (( Já tem uma locinha ali)) INFORMANTE: Já intão. Eu lavei um mucado cedo das panela. PESQUISADORA: Lavô? 75 INFORMANTE: Lavei. ( ) Seu ( ) falô “vim tirá a sinhora da cama.” “Não.” PESQUISADORA: O Z. ésogro de quem? INFORMANTE: Do T. PESQUISADORA: Quem é T.? INFORMANTE: É um que mora no T. P. Hã.../ é / ês tem uma minina disisperada, ativa. Chegava aqui, num 80 dava sussego, sobe na cama, mexe na televisão e sobe na portera. Fuça numa coisa, fuça notra. Aí agora, ea ficô duentinha porque o carro pegô ela. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Dexô ela dismaiada lá no Nossa Sinhora Paricida. Aí foi, num morreu mais ficô lá no CTI mũtos dia. Ficô internada na Santa Casa mũtos dia. Daí veio pá roça. 85 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Aí eu fui lá vê ela. Ela tava assim quetinha, bobinha. PESQUISADORA: Mas a menina num morreu não? INFORMANTE: Morreu não. Aí ficô uns dia, vortô í[r] na iscola. Diz que ela é mũto inteligente na iscola. A professora gosta mũto dela. Ia lá pá Santa Casa vê ela, ficá cum ela pá mãe dela discansá. Porque ela é boa 90 aluninha memo. Aí agora tornô a ficá duentinha traveiz. Teve pobema, machucô o purmão. Tá dano/ deu pumunia. E o home/ o pai dela foi/ é mũto tabaiadô ( )/ quando dá na idéia de bebê tamém vai mũtos dia bebeno e num isquenta a cabeça não. PESQUISADORA: Ih! Coitado. INFORMANTE: Aí a minina fica duente ( )/ aí ê disispera e garra a bebê. Intão é/ mas trabaiadô é mũto. 95 PESQUISADORA: Mas ele tem só ela de filha? INFORMANTE: E um minininho. Um casalinho. É. Agora ês taí. Eu num tava nem sabeno que ês tinha vindo. Mais agora ela tá tomano inelação. Agora, eu tava falano... PESQUISADORA: Tomando o quê? INFORMANTE: Inelação. Mais diz que dá uma suadera nela. Ela dá de sintí mal. 100 PESQUISADORA: Que que é isso? ( ) INFORMANTE: Aquele que tampa o vapor. PESQUISADORA: Ah! Aquele do nariz. INFORMANTE: É. Agora tá fazeno o teste cum chá casero. Ele tava falano pra mim. Um raminho que tem no mato. Um chazinho. 105 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: É... eucalipero. Oto dia até peguei uma embornazada. Veio num sábado aqui. Falei “oh, vô pegá aí, o que as arve tivé.” Parece que tá semo bão a ( ). PESQUISADORA: Como/ mas é/ ah deve ser por causa do pulmão/ deve ter perfurado o pulmão no acidente. INFORMANTE: É, foi. Diz que ês fala que num aconteceu nada, daí apareceu essa pumunia. Aí falei “ pode 110 tamém ela tê pegado lá no hospital.” PESQUISADORA: Infecção hospitalar, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 86 INFORMANTE: É. Até pode sê tamém. E ela agora tá..../ agora ela tava falano pra mim (ele teve um tempão aqui). PESQUISADORA: Hã? 115 INFORMANTE: A fia dele levô ela na iscola isturdia e falô pra professora dela que num tava podeno í[r] ainda não. Mas aí ela falô que a hora que ela pudé í[r], né? Na hora que ela tivé tomano os remédio... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Que ela num pode tomá puera não. Intão ela num pode vim pá roça. Esse puerão que tá aqui na roça. Chega de tardinha a gente fica até iscundido na puera, na fumaça. Mais ela veio ( ). 120 PESQUISADORA: Mas eles num moram na roça intão? INFORMANTE: Não, ês mora é aqui no T. A mãe da minina. PESQUISADORA: Mora aqui na roça? INFORMANTE: Mora aqui na roça. PESQUISADORA: Ah, tá. 125 INFORMANTE: E é o que a professora falô na hora que ela tivé mais miózinha, que vê que dá para ela í[r] pá mandá o remédio que ela cuida. ( ) dá os remédio. PESQUISADORA: Mas ela não está indo na escola? INFORMANTE: Não, não. PESQUISADORA: E quantos anos ela tem? É piquena? 130 INFORMANTE: É piquenininha. Ela é/ ela é bem mais novinha que o P.H. Ela tá no primeiro aninho. PESQUISADORA: Ela deve tê uns sete anos? INFORMANTE: Não! PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Acho que é cinco ano. Cume que chama aquilo? A iscolinha de cinco ano? 135 PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: Prezinho. PESQUISADORA: Prezinho. Introdutório. Eles vão mudando. INFORMANTE: É. Ês vão mudano o nome. Intão. Ela tá naquela iscolinha. Mais antes dela entrá na iscolinha ela vinha cá, catava uns papelinho e já iscrivia o nome dela aqui no papel, da mãe. Ela é inteligentinha. A mãe dela 140 falava “aí, eu insino ela e ela tem a cabeça boa tamém.” PESQUISADORA: E foi acidente de carro? INFORMANTE: Foi. PESQUISADORA: Atropelada. INFORMANTE: O carro impurrô ela. Mais’ ela que foi curpada. Que ela apiô do carro do pai dela e foi correno. 145 O carro veio... ( ) tava quais saino da Santa Casa. É/ o genro do home, da moda do oto do home que eu num sei quem é... / danô cum ela, cum a mãe da minina. Que picisava pagá que o carro do home istragô, do sogro dele. É...aí ea falô assim “ieu pagá. Eu tenho é que dá graças a minha fia num tê murrido do jeito que eu vi ela lá.” Uai, eu falei assim ocêis que tinha que pagá, a minininha é que foi disisperada memo. PESQUISADORA: Ah, mas minino num pensa, né? 150 INFORMANTE: É. Uai, a gente grande memo, o sintido foge. PESQUISADORA: Foge. INFORMANTE: Foge o sintido. E a hora que dá o branco da cabeça, todo mundo da pessoa. E num/ acontece. É... PESQUISADORA: Agora ainda mais criança... 155 INFORMANTE: É. É certo. PESQUISADORA: Devia ter falado pro genro dele “cê que vai pagá a despesa do hospital aqui”. INFORMANTE: É certo ( )... PESQUISADORA: Porque o motorista tem que tá atento a essas coisas, porque criança sai mesmo, uai. INFORMANTE: Uai, ela é ali do Nossa Sinhora Parcida. É vizinha do J. O L. “mãe é ali onde é a sorveteria 160 quando o J. tava aí.” Ê num saía de lá, falava o J. tá aqui. Era sorveteria. PESQUISADORA: Quem é o J.? INFORMANTE: J. é o minino/ fio do J. É/ agora ê num tá aí não. Agora ê tá lá pa...( ) Alfenas. PESQUISADORA: Que que ele faiz lá em Alfenas? INFORMANTE: Ah, ê tá fazeno curso de infermero. 165 PESQUISADORA: Ah, ele faiz faculdade? INFORMANTE: Faiz. Ê feiz aqui no Cefan mũto tempo. Aí aqui ê já entro trabaiano na Santa Casa. Trabaiô aqui uns dois anos. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: De ajudante, aí foi de, infermero. Aí apareceu um curso lá pa fazê. 170 PESQUISADORA: Hã? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 87 INFORMANTE: ( ) quem já tinha as experiença, essas coisa. Aí ê feiz o teste. Foi lá e passo. Ah, foi dum dia pro Oto, duma semana pa ota. Ê teve que chispá pa lá. Ele agora é apertado pra ele. Ganha poquinho assim o sirviço dele. E o J. que tá pelejano, pagano caro. Mai(s) ê vem mũto. Quando tem uma forguinha ê vem cá. PESQUISADORA: Hã? 175 INFORMANTE: Que ê vem na cidade, ê vem aqui. Ê tava aí “ê a cidade é boa, lá tem de tudo”, falano pro Luís. De tudo memo. [Uma roça, lá um gado pr’ele aprendê] “Gostei de trabaiá lá”. Agora, esses dia se Deus quisé ê forga. E ê fala, um dia eu chamei ele de fio do Berto, que trabaiasse lá po Rio de Janero. Falei: “ê fio do Berto”. O fio do Berto tá lá po Rio de Janero. Lá é pirigoso. PESQUISADORA: É. Lá em Angra. 180 INFORMAANTE: É. Aí depois ê falo assim par mim “( ) tem negocio de resgate”. Eu falei “nossa J. ( ) cada um, fio de Deus tem o dom puma coisa. Óia p cê vê J.: chega perto/chegá pessoa duente/ chega lá ea tá duente precisa oiá, acudi. Gente mijado, cagado( ). “Não titia é facinho. Eu chego lá na porta, uai, cê ta aí? Pode fica aí que já vô imbora. É desse jeito. PESQUISADORA: Uai, intão tá fácil né? 185 INFORMANTE: Mais ingraçado ê ainda num tava trabaiano ainda não, mas ê falo ( ) PESQUISADORA: Ê gosta é da turma... INFORMANTE: É dos pirigoso PESQUISADORA: Ê gosta é da turma ensangüentada mesmo. Deus me livre! INFORMANTE: É. Já viu falá naquê caso que matô o home, a muié. Cortô o pé, cortô a mão. É, os vizinho 190 telefonô. Sei lá. Telefone anônimo, já tava catingano. Eu alembrei dele, aí eu falei trem bobo po J. PESQUISADORA: É, o J. ia gostá dessa história. Deus me livre. A sinhora tá falano daquele lá de Passos? INFORMANTE: É. Aquê lá do São Francisco. PESQUISADORA: Que matô o pai e a mãe/o padrasto INFORMANTE: O padrasto e a mãe. 195 PESQUISADORA: Por causa de dinheiro pra droga, num foi? INFORMANTE: É. Deiz reale. Iscutei falano no rádio. PESQUISADORA: É. Eu ouvi falando sobre essa história. INFORMANTE: Aqê dia nóis tava aqui. ( ) E aquê dia nóis até fico trabaiano, né? PESQUISADORA: Eu num sei como é que foi a história. Eu vi mais ou menos. Mas eles acharam o pai e a mãe 200 só depois? INFORMANTE: É. Depois que ês telefono. Decerto os vizinho viu a catinga, né? PESQUISADORA: Não, porque deu tempo até de catingar? INFORMSNTE: Deu. É/ no rádio ês falô é... ainda aquê home da rádio Passos aquê que fala na parte da tarde. PESQUISADORA: Hã? 205 INFORMANTE: Tem que andá Cuma cruiz na testa, uma cruiz no pescoço. ( ) uma cruiz no pescoço, uma cruiz ( 0 tá mũto pirigoso. ( ) tem que andá é ca cruz no coração, na mente ( ). PESQUISADORA: É verdade. Por que credo! Topa cum rapaiz desse. Deus me livre. INFORMANTE: É. Diz que ê tava trabaiano, decerto ê num guentô ficá dento de casa. Aí diz que pegô ê pá banda do Itaú. Na MG memo aqui. Em Itaú. 210 PESQUISADORA: Indo para Itaú? Mas nós fomos lá na casa da mulher do B. ela num gosta muito de conversá não. INFORMANTE: Ah, é. PESQUISADORA: Ela é mais quieta. INFORMANTE: Ah! 215 PESQUISADORA: Ela num falô nada. INFORMANTE: Oh! PESQUISADORA: Num contô nada. INFORMANTE: Uai. Tarveiz nem lembrô. Ah! Mais lembro sim. Tem gente que é mais... PESQUISADORA: Mais queto mesmo. Na verdade ela que queria conversá cumigo. Ela que fico me 220 perguntando as coisa. INFORMANTE: Uai (Risos) PESQUISADORA: Perguntô onde meus irmãos moravam. Quantos irmãos eu tinha. Se a minha mãe tava/ tinha ingordado. Ela falô que meu pai ingordô. INFORMANTE: Ah! Todo mundo falô. ( ) Ê falô que ela tá cum a cabeça boa mais ( ) Teve ota pessoa que 225 falô (num sei se é a dona I. )... PESQUISADORA: Ela é piquinininha. INFORMANTE: É! Ês é baxinho memo. Ela... PESQUISADORA: Tá ela lá. Tem três filhos dela lá. INFORMANTE: Ês é cino. 230 PESQUISADORA: Mas lá tem três. Não. Tem três homens e uma mulher. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 88 INFORMANTE: Mais lá ês é cinco. Os oto dois tava levano leite. Ês tem um retiro. Leva leite lá pá linha das Água lá. Tem o B., o V.... PESQUISADORA: Mas ês são tudo solteiros, os que moram lá? INFORMANTE: Tudo! Casô só um. O que casô morreu. 235 PESQUISADORA: Oh! INFORMANTE: Ah! Aquê povo lá é engraçado. O dia que vim a farta da muié/ a farta da mãe/ vai fazê mũta farta pra ês. Porque trabaia ali só perto deles, só um sirviço. E pra cunversá cum a gente assim picisa de vê que mais educado que é. Que beleza! PESQUISADORA: É. São educados. 240 INFORMANTE: É. Intão. Bãozinho memo. Tamém gosta dumas pinga. PESQUISADORA: Gosta. Chegô lá começamos a falar do T. P. T. P. que morreu de tanto beber. Aí tinha um lá meio tonto. INFORMANTE: É. Ês é companhero. PESQUISADORA: A mulher bebe também? A moça? 245 INFORMANTE: Bebe. Agora, o T.P. gostava de falá que a veinha tamém gostava duma pinga. É. Puisé a/ aquê lá é de famía ( ). Faiz mũto tempo que eu num vejo ês. O D. criô aquela famiona. Eu acho que ês é cino home e a N. Um pedacinho de chão da herança da mãe da dona C. Eu lembro só um poquinho, poquinho da avó dela. Assim quando nóis mudô pra cá. Quando a I. casô eu acho que era ( ) deu í[r] lá ca I. PESQUISADORA: Hã? 250 INFORMANTE: É. É. Era magrinha e baxinha. As ota tamém. Umas que eu via assim poças veiz era baxinha. Já a mãe do A. era artona. PESQUISADORA: Quem era o A.? INFORMANTE: Arceu era o marido da I. minha cunhada. Ela era artona, gorda. E acontece que ês é memo lugá de gente baxotinho. 255 PESQUISADORA: É. Ela é bem piquinininha. INFORMANTE: Ê criô um povão e comprava um pedacinho de terra em roda dali. Comprô... E ês veve sempre apertado cum aquela terrinha deles ali. PESQUISADORA: Mas eles são muito desorganizados. Parece, né? INFORMANTE: É. É. Ês num liga mũto. Drome até tarde. Um dia, faiz mũtos anos, o T. ( ) pás Água de trator ( 260 ) fazê sirviço pre´le. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Ele sumiu. O T. “uai, acho que ês morreu, num apareceu aqui cum armoço.” Não, o T. veio da cidade e troxe o armoço. De veiz em quando eu lembro do T. acho que ele ( ). Aí ele ( ) pra terra dele pra lá. Aí de tarde apareceu, num aconteceu nada não. 265 PESQUISADORA: Não, tinha era bibido todas e tinha ficado lá decerto. INFORMANTE: ( ) Esses tempo veio um ou dois, o Z.L. tava coieno fejão, aí veio. Quando eu vejo ês/ de veiz em quando ês aparece aqui, o mais novo. O L. fala assim: “ o M. é assim , se ele tivé tonto, ê vem cá.” Aí acho que ê dá na cabeça de vim cá pidi uma carroça, um trem de mio, ele dá na idéia. PESQUISADORA: Hã? 270 INFORMANTE: ( ) M. é assim quando ê tá tonto dá vontade de vim aqui. ( ) aí o L. zomba dele. Mais é um coitadinho. “M. cê tá mũto tonto, M.” Ota hora pidi dinhero. PESQUISADORA: Pede dinhero? INFORMANTE: Pede. Pede cinco, pede deiz. Pedi um rear pra comprá pinga. Aí se o L. tivé, ê arruma. Aí passa, passa, vem trazê. Aí vai bebê mais pinga pá ficá tonto. “Ah, num vô bebê não.” 275 PESQUISADORA: Ah/ é o T. também era assim. Tava tontinho e falava que num tinha bebido. INFORMANTE: Ês era cumpanhero. Ê num saía de lá. ( ) coitado do T. E aí o L. ( ) “Cê vai bebê mais pinga. Não, já tá tonto vai caí do cavalo.” “Não, num cai não.” “Ah, L. cê fica zombando dele, ê vai e fica cum raiva.” Não, num tem pirigo não, que o M. é um bobinho de gavá ele. ( ) O M. num tem pirigo não. Agora faiz mũto tempo que ele num aparece. Agora memo tava coieno fejão po Z, veio dois. Trabaiô mũto aí. ( ) É o B. 280 PESQUISADORA: Tinha um tonto lá mas não sei qual era. INFORMANTE: É um que tira leite. Num sei se é um que tira leite. M., B., W. É um dos mais novo. ( ) Eu ainda falei pro L. ( ) sobe pr’aquês buraco. O Z. L. e o professor trabaiá pra cá ( ) aí chama ês, ês vem, ês ressucita. Aí vem ês. Tamém num tem um santo dia que ês vem cá e num chama pá í[r] na casa dês. “Ê sinhora falô que ia lá em casa e num foi nada.” Falei: “Uai, num tem jeito.” 285 PESQUISADORA: Aí eles chamam pra ir lá? INFORMANTE: Chama. “Vai lá dá umas prosa ca mãe.” Aí eu falo: “ieu sô inrolada, quase num saio.” “Mais a mãe tamém é assim.” PESQUISADORA: É. Ela falou que num gosta de sair. INFORMANTE: É dexe jeito. 290 PESQUISADORA: Que ela só vai na cidade se tiver muita precisão. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 89 INFORMANTE: É.É. PESQUISADORA: Aqui também ela não passeia não. Na roça. INFORMANTE: É dexe jeito. A vida intera. Aí, iguale pá recebê pá ela. É a N. que recebe. E ela fica quetinha num cantinho. ( ) iguale assim, e a num para, vai lá ajunta um ovo, toca uma galinha, toca um pintinho, coisa 295 de véia de roça memo. PESQUISADORA: Ela tá ágil, né? Ela tem 85 anos mas ela tá boa. INFORMANTE: É. Aquela lá é bem mais véia do que eu. PESQUISADORA: Ela tem 85 anos mas ela tá esperta. INFORMANTE: É. Intão. 300 PESQUISADORA: Num sei se é porque ela é muito pequena. INFORMANTE: Intão, (num demora) porque era pá isquentá a cabeça caquês fião dela que fica lá meio parado ( ) meio enjuado ( ). PESQUISADORA: Mas ela num é não. Assim... Ela tá tranquilinha. Cabeça fresca. INFORMANTE: Intão. O M. falô isso pra mim ( ). Falei “uai, eu tô cum cabeça de argudão, sô mais véia que 305 ela.” PESQUISADORA: Ó, o beija-flor. INFORMANTE: Beja-flor. PESQUISADORA: Ele vai tomar choque. INFORMANTE: É. Não, o fio ainda passa. ( ) coisa da sorte. De primero, antigamente ês falava que esse beja-310 flore era mũto ruim. Minha mãe falava, minha vó. Que bão é aquê azulzinho. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Agora, hoje, o povo fala que esse aí é que é bão. Nutiça boa, traiz fartura. PESQUISADORA: Hã? Oi? Passô. O povo antigamente tinha muita história, muita crença? INFORMANTE: Nó, tinha mũta dessas bobera. 315 PESQUISADORA: É? INFORMANTE: ( ) passarinho, cantiga de gavião, curuja... PESQUISADORA: Cantiga de gavião? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Por que se escutasse o gavião cantando era ruim? 320 INFORMANTE: Era agoro. PESQUISADORA: Era agoro? ((Risos)) INFORMANTE: É bobera ( ). É. Agora o azulzinho que era bão, notícia boa... ( ) passarinho não, passarinho canta cada um na hora que qué, dá vontade de cantá iguale a gente. PESQUISADORA: Uai. Passarinho. Mas o povo antigo tinha essas histórias mesmo. 325 INFORMANTE: O T. falava que aquê que cantava “vai chovê”, “vai chovê” ( ) mais a sariema. Agora eu falo a sariema tá cantano “vai chovê”. Isturdia ainda falei no café a sariema tá advinhano chuva. Aí ês falaro “vai chovê não” ( ). PESQUISADORA: Ah, às vezes até acontece mesmo porque eles tem/ devem sentir mais as mudanças climáticas. 330 INFORMANTE: É. A natureza de Deus é muito ativa, né? PESQUISADORA: É. INFORMANTE: É dexe jeito. PESQUISADORA: Intão o povo antigo tinha essas histórias? INFORMANTE: Tinha. Era passarinho trazê nutiça boa, nutiça ruim. Passarinho ( ). 335 PESQUISADORA: O povo acreditava muito nessas coisas. INFORMANTE: É memo. Nessa bobera. É. Já tá fazeno a pirgunta não? PESQUISADORA: Não. Pode falando. Tô não. INFORMANTE: Falano bobera. PESQUISADORA: Pode í[r] falano. 340 INFORMANTE: Aí é o que eu tava falano ( ). É... ( ) tá até ali. PESQUISADORA: O quê? INFORMANTE: ( ) pô a água. Meu primo fez uma ( ) bonita. Aí teve uma festa lá, foi no ano passado. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí chamô nóis primo tudo. Nóis aqui, da cidade, da Franca, que mora em São Paulo. Mais lá de 345 Franca num veio, mais perto de São Paulo veio. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: ( ) tava fazeno um trabaio pá/ deu um trabaio prês arrecardá o sino da igrejina de São Miguel e foi mũto trabaioso prês. Ó, uns dois ano aquela coisa. Quando a água veio chegano, tampô. Aí o padre Birajara foi lá pegô o sino caquelas canoa motorizada pegô o sino. 350 PESQUISADORA: Hã? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 90 INFORMANTE: E foi tampano divagarzinho. Num foi duma veiz não. Minha tia foi lá e pegô as image, imajona grande, da capelinha do cimitério. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí guardô na casa dela. Uma veiz eu fui lá e vi as image. Aí até fazê a igreja, morreu a véia. Aí 355 os primo tinha mandado fazê a igreja, construí ela. Mais lá é tudo apertado. O tempo foi passano. Aí ês, um primo meu, arrendô/ deu um pedacinho da terra. Feiz a capelinha. Aí depois rezô missa lá mais ês doido pá pegá esse sino. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí ês foi lá na Ventania. 360 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: O padre Birajara imprestô o sino. Coisa de padre, coisa da Igreja, p[ro padre lá de Fortaleza de Minas e ele num quiria intregá o sino e o sino era da minha avó. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Eu lembro, ea falava, a mamãe falava, papai falava. Todo mundo falava que foi ea que comprô. 365 E ela era viúva. E tem as iniciais dela no sino. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí ês foi lá e viu. Ê tava numa casinha cheio de bosta de passarinho ( ). Aí custô dimais memo, arranjô até advogado, uma bobera pur causa dum sino. Aí foi pegaram ê./ A chegada do sino, aí já ( ). Aí levô ele lá pá capelinha já tava perto da missa e a Companhia de Reis. A chegada da Companhia de Reis. O 370 sino, ês pois na camionete. Aí pois ele lá em riba. Já tava tudo prontinho no coreto. Todo mundo que quisesse lá batê o sino, pudia. Eu num subi lá pá batê não, ieu iscutei. PESQUISADORA: Hã? E foi onde? Lá no... INFORMANTE: Lá na Varge dos Pinhero. Aí tá ali o papele. Aí meu primo ( ) / ê feiz uma lauda ali ó. PESQUISADORA: Hã? 375 INFORMANTE: Aí tamém quando ê falô isso lá, aí nóis pidiu cópia ( ). Aí até veio dois padre lá do Guapé, falô “nóis veio de pertinho. Quase vizinho aqui.” Aqui é longe. É de lá do rio, nos Pena. PESQUISADORA: Ah, os Pena? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Eu já fui lá. Eu cunheço o lugar. 380 INFORMANTE: Intão, é de lá os padre. Até os padre chorô, minina. Aí ê feiz, a fia dele ajudô. A fia dele é formada. Aí dipois... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí a fia dele interpretô/ aí pirguntô advogado, aí interpretô um poquinho só. Fala o nome do papai ( ) ês vinha e o papai pirguntava cumé que tava no Pinherão. Aí fala o nome do papai. Tio H. falava o 385 Pinherã. ( ) é bunito. “Uai, L. cê num istudo ninhum e ocê teve a cabeça boa ( ) de guardá na cabeça e fui escreveno.” A fia dele é professora, ( ) tamém. PESQUISADORA: Ah! Tá. INFORMANTE: É. Pá alegorá a chegada do sino. Mais já tinha tido missa lá. Deve tê chamado a famia. PESQUISADORA: Hã? 390 INFORMANTE: ( ) os tio nosso tinha murrido tudo, tenho só uma tia lá. Ea nem num foi. PESQUISADORA: Aí a sinhora foi? INFORMANTE: Fui. Aí fui. Nóis foi tudo lá de casa. ( ) mais teve dança de tarde. Aí a famia Freire. Aí a veiarada ó. PESQUISADORA: Dançô atá? 395 INFORMANTE: Ah! Eu nem tava iscuntano o que ês tava no som. Tava cunversano cum ( )./ “ô tia Ada é a dança dos Freire. Bamo nóis dois.” Falei: “bamo dois pau.” PESQUISADORA: Vamos onde, hein? Presta atenção. INFORMANTE: É a terra dos Freire. PESQUISADORA: O povo antigamente também tinha uma história de / eles respeitavam muito a quaresma. Hoje 400 em dia o povo num respeita, né? INFORMANTE: Hãhã. Ah! Nossa Sinhora! Se tivesse de fazê um casamento, antes da quoresma, se tinha que fazê uma festa de dança, é / tamém/ a festa lá da igrejinha. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ês fazia na quoresma. Mais festa de dança, essas coisa. Ês fazia treição de capiná. 405 PESQUISADORA: Fazia o que? INFORMANTE: Treição. A pessoa tava cum uma roça suja aí juntava os vizinho. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Levava um buneco de pano, falava picaço. PESQUISADORA: Picasso. 410 INFORMANTE: É. Aí vamo supô se ia roçá pasto ( ) aí falava que ês ia é/ juntava aquê povão. Eu lembro. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 91 PESQUISADORA: Fazia treição. INFORMANTE: É. E fazia treição. Mais... PESQUISADORA: Treição era capinar? INFORMANTE: É. Juntava um povo assim da cumunidade e ia. 415 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: É. Trabaiava o dia intero e aí ia uma turma de muié e fazia quitanda, ota turma ia fazê armoço. Aquê tanto de cumida. E os home capinano. Eu lembro poco. Aí ês fazia ( ) inxada ( ) eu lembro. Aí era aquea canturia. Era bunito.. Eu lembro poco. Hoje em dia num tem nada mais disso. PESQUISADORA: Tem não. E o povo num respeita mais nada. 420 INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Época de quaresma era época de assombração, né? INFORMANTE: É, o povo rezava pás arma. Tinha receio. É, é... Aí ês falava que a gente num pudia oiá pá tráis não que ar arma invinha. Oi p cê vê. Se rezava prelas, eas ficava alegrinha. PESQUISADORA: Claro! Tem que rezá, né? 425 INFORMANTE: É. É. Agora/ e tamém num pudia abrí a porta e janela que eas tava atrais dos rezadô. Num sei ( ). Mais era bunito, chegava batia a matraca. A gente até acordava cum ela. PESQUISADORA: Matraca era um tipo de sino, um treco de fazê barulho, né? INFORMANTE: É. Uma tabuinha assim, batia. PESQUISADORA: Batia e fazia barulho. 430 INFORMANTE: É. Tem aquea do meio, trêis. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí tocava ( ). PESQUISADORA: E batia matraca? INFORMANTE: É.Aí ês rezava, cantava, pidia um pai-nosso e umas três ave-maria pás arma. E tale coisa. E diz 435 que num pudia incontrá. Aí se tivesse ota turma rezano de lá do corgo... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ês tinha que mudá os caminho tudo pá podê num incontrá. Era dexe jeito. Hoje em dia... PESQUISADORA: E por que num pudia encontrar? INFORMANTE: Uai, ês falava que as arma tava junto. 440 PESQUISADORA: Ah! Elas num pudiam encontrar. INFORMANTE: É! E eas num incontrava não. PESQUISADORA: Oh! INFORMANTE: Mai’ tinha aquês trem po meio do mato, pos brejo. Aí otos dava vorta. Num incontrava não. Ês respeitava uns [a]os oto. Agora não! Tinha respeito cas coisa. 445 PESQUISADORA: Tinha. INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Hoje em dia tem mais não. INFORMANTE: ( ) . É. Agora hoje em dia quoresma é festa, é baile todo dia. PESQUISADORA: Eles num respeitam mais não. Sexta-feira da paixão, deu mei-noite já é sábado. 450 INFORMANTE: É. É. Já gosta de cumê carne, de fazê... PESQUISADORA: O churrasco já tá armado. INFORMANTE: Até o sábado ( ). PESQUISADORA: E as festas religiosas tinham muitas? INFORMANTE: Tinha duas do ano. 455 PESQUISADORA: Que que era? INFORMANTE: Era essa da capelinha de São Miguel. São Miguel protetor das arma acumpanha nóis até o final da vida. É o levadô das nossa arma ( ). É, e lá Nossa Sinhora da Parcida. É. Nóis fazia de São Sebastião. Trêis. Com a de São Sebastião. PESQUISADORA: Era animada? 460 INFORMANTE: Uai, pelo jeito da roça era. Porque o povo andava longe, mas era de a oé, discarço no barro. Principalmente São Sebastião que era no mêis de janero, que antigamente... PESQUISADORA: Chuva, né? INFORMANTE: Chuvia dimais, fazia tornero, né? O povo ia e num achava custoso. É... / era trêis festa que tinha. Aí quando passava no oto sábado, aí sempre fazia/ ês falava pagode. Aí... 465 PESQUISADORA: O que que era pagode? Era festa? INFORMANTE: Era dança. É, mais tamém era assim, café, chá, quitanda feita no forno, fugão de lenha. Aí dava/ era onze hora, era hora do café. E o povo jantava e dipois num cumia ( ). Aí tamém largava lá na mesa intera o resto da noite. Ota hora ês sirvia no cumeço da noite, ficava a noite intera po povo cumê. Mais era só isso, era quitanda de fubá, bolo de farinha de trigo, biscoito, pão-de-quejo nem usava. É... 470 PESQUISADORA: Era biscoito?, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 92 INFORMANTE: É. Era biscoito. Só que era um biscoito mũto bem feito no fugão de lenha. Forno de lenha que ês falava. PESQUISADORA: Como? INFORMANTE: Forno de lenha. Forno de cupim. 475 PESQUISADORA: Forno de cupim? INFORMANTE: É. Mai’ era de cupim memo. PESQUISADORA: Pegava o cupim e fazia? INFORMANTE: É. Pegava os pedaço de cupim, cortava certinho e ia incabuiano, incabuiano ( ). Agora na... PESQUISADORA: Incambuiar era juntar? 480 INFORMANTE: É. Inveiz de fazê tijolo era de pedaço de cupim. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E num sei como que num caía terra nessa criatura. Eu lembro. Num caía terra. PESQUISADORA: Terra nas quitandas? INFORMANTE: Não, não. O cupim quemava assim e ficava certinho. Eu lembro do cupim e lembro das 485 quitanda que ês fazia ( ). Lá na casa do papai tinha. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: O forno de cupim, num sei se era na porta da cuzinha. Sei que arrumô uma boca pertinho da porta. Aí de veiz em quando as galinha bota lá dento, lá por cima. Dento não! Dento a mamãe tampava. PESQUISADORA: Tampava. Ah! 490 INFORMANTE: Perto dos cantinho que fazia aquês pilar grande. Aí no cantinho assim eas pudia botá. Mas dento num pudia não. PESQUISADORA: Aí tampava? INFORMANTE: É. Ninho de galinha ( )... PESQUISADORA: E quando eles morriam, a sinhora tava contando, o que eles faziam? 495 INFORMANTE: Ah, quando ês murria fazia assim: ( ) ele era duente tadinho. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ele era alejado, ele tinha o ( ) torto, andava de camisola. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Cedo, no frio memo, quando manhecia aquele nublinão, caía geada. Ê saía pá istrada gritano 500 cavalo: ((ruídos)) Mamãe falava... PESQUISADORA: Saía de camisola? Camisola, só camisola. Antigamente os home usava camisola, era tipo um ropão, né? INFORMANTE: Era. Não sabe por que? Porque ê tinha a urina sorta. PESQUISADORA: Ah, tá. Por isso ele tinha de usá. 505 INFORMANTE: É, é. E ficava mi/ficava tudo urinadinho aqueas/tudo moiadinho. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: E num usava brusa não. O povo passava um frio. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Fiava, passava no tiare a lã, e tinha os carnero. E cortava lá. Eu memo ajudava. De noite era 510 sirviço nóis ajudá a abrí lã na mão. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Uma ispinharada na lã. Papai tinha carnero... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí cortava/ajudava a cortá a lã. ( ) Nóis tinha que lavá o cardero cedo. 515 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Pô pá isquentá, secá daí punha sabe aonde, na mesa. PESQUISADORA: Aí abria a lã na mesa? INFORMANTE: Não, pá cortá a lã. PESQUISADORA: Hã? 520 INFORMANTE: É uma mesona cumu daqui (na casa da minha avó)/cumu daqui lá naquela istante. PESQUISADORA: Era grandona. INFORMANTE: Grande, daquela maderona seca. Aí nóis impialava ês po papai. PESQUISADORA: Impialava? INFORMANTE: Aí marrava ês, aí ia corta aquea pele fininha/ aquê medo de cortá/às veiz cortava o remédio era 525 carvão. PESQUISADORA: Ah! Punha carvão no dedo? INFORMANTE: Não, no machucadinho do carnero. PESQUISADORA: Ah tá. INFORMANTE: Aí no lugá daquele carvão saía uma manchinha de lão preta da ota veiz. 530 PESQUISADORA: Ui, outro de novo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 93 INFORMANTE: O passarinho hoje ta incucado. Aí, nóis já abria lã/catá ispinho de benzinho. Aquê ispinho brabo. PESQUISADORA: Benzinho? INFORMANTE: É. ( ) Ispinho de benzinho, otos fala ispinho de gancho. Aí tirava... 535 PESQUISADORA: Ispinho de quê? INFORMANTE: Ispinho de gancho. Porque ele tem um ganchinho. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E nóis tinha que cortá, abri, ficava no balaio certinho assim. Aí cardava, a mamãe cardava/ as muié fiava. Eas fazia murtirão de fiado, eu lembro. Cada uma lá vai ca sua rodinha na cacunda. Aí fazia esse 540 fiado, ticia e fazia gasaio de frio. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: A mamãe fez po papai, fiô.Minha tia ((ruídos)) coiana. PESQUISADORA: Coiana? INFORMANTE: Num sei se é esse que ês fala que é veneno de gato. 545 PESQUISADORA: Coiana? INFORMANTE: É. Gisele ( ) mais tingia um azul iscuro. PESQUISADORA: Era? INFORMANTE: Pudia rasgá, pudia perdê/ era... PESQUISADORA: E a cor não saía? 550 INFORMANTE: Não saía, um azul iscuro. Mais ficava um trem quente, mais quente memo. E, era beleza. ( ) Aí depois é...meu tio/ ele usava palitozinho xadreizinho lã/falava lãzinha, forrado. Aí, de palito, ia bem agasaiado e as perinha moiada de urina. PESQUISADORA: Tadinho. INFORMANTE: É doido. Aí se tivesse um duente ruim/ que tava bem ruim ( ) ele era do contra fala tá mió? ( ) 555 tá ruim, num ta bão não. Passano a noite cum ele ( ). Nossa ( ) tá muito ruim picisano passá a noite cum ele. PESQUISADORA: Passá a noite é o que? INFORMANTE: Uai, é assim: a pessoa tá morre e não morre igual tá no hospital fica oiano/os infermero fica oiano toda hora. Aí tinha que juntá os vizinho e a famia e ia passá a noite. PESQUISADORA: Pra vigiá? 560 INFORMANTE: É. Pá acudi. Pô vela. PESQUISADORA: Ah, passá a noite era rezá um pro outro? INFORMANTE: É. Não! Antes a pessoa vivo. Quando tava morre num morre. PESQUISADORA: Ah, passá a noite é fica botando vela? INFORMANTE: É. Rezava terço. Aí é/ aí da moda, a famia num guenta no finzinho da vida aquele sofrimento. 565 Aí o povo juntava pá acudi. Ficava de compania ali. PESQUISADORA: Ah sei. PESQUISADORA: É. Tomava um café de noite, cumia as coisa. Aí quando murria, aí que era o custoso. ( ) cê vai morrê, vô fazê o caxão procê num pudia, né? PESQUISADORA: Fazia só depois que murria? 570 INFORMANTE: Só depois, naquê tempo num tinha pronto. E ainda mais lá que era longe, aí meu tio ia no Carmo, na Ventania e ( ) fazia os papele que tinha que interrá. Aí já levava os pano pás muié fazê a ropa. E num sei se punha ropa dispois que/ tava na hora de interrá. Porque ês fazia de noite cum lamparina, né? Era difícil. Aquilo ficava cum ota ropa. Isso eu num bem lembro não. E cubria cum lençol, punha naquês bancão de tábua. 575 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 14 INFORMANTE 1: J.R.P. (75 anos, Ensino Fundamental 1 Incompleto, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2008 94 PESQUISADORA: Assim/ o sinhor/ assim/ num tem problema com o gravador. O sinhor num tá nem aí pra ele, né? INFORMANTE: Uai. Não. Num tem não. PESQUISADORA: Porque tem uns mais envergonhado, a gente tem que deixá mais assim/ não/ não deixá na vista se não fica cum vergonha e num fala direito. 5 INFORMANTE: Fica mais discreto, né? PESQUISADORA: É. Mais intão, vamos lá, né? A vida de antigamente como é que era? INFORMANTE: É... PESQUISADORA: Na roça. INFORMANTE: Ah, era difici’. Era difici’ e/ lá.../ Pá cumeçá quando nascia uma criança nem no hospital num 10 vinha, né? Era tudo.../ incrusive minha avó era/ era assistente de criança. Quando ia nascê criança piquena, ela é/ meu avô até falava “ah, essas pessoa assim... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Essas muié, tratava eas de sujoa. PESQUISADORA: Sujoa? 15 INFORMANTE: É. Agora o porquê disso eu num sei. PESQUISADORA: Mas sujoa? INFORMANTE: Aqueas que acompanhava o nascimento das criança, né? Intão quando... PESQUISADORA: Mas elas acompanhavam ou faziam? INFORMANTE: Não, elas fazia o parto. Ela ajudava a fazê o parto. 20 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão quando tinha uma criancinha/ quando ia nascê uma criança ês falava que tinha que í[r] chamá a sujoa. PESQUISADORA: A sujoa. Mas tinha outro nome também, não tinha? INFORMANTE: Partera. 25 PESQUISADORA: Ah! Tá. INFORMANTE: Tinha otros que chamava de partera. Incrusive a minha avó tamém foi partera tamém. PESQUISADORA: E eles falavam partera e sujoa? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Que engraçado. 30 INFORMANTE: Não. Sujoa eu via só meu avô falava isso. Os outro não falava. Falava partera. PESQUISADORA: Eu nunca ouvi falá em sujoa. INFORMANTE: Intão... PESQUISADORA: Intão cidade... INFORMANTE: E outra coisa tamém. Eu tinha um tio... 35 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ê gostava de marrá um lenço na cabeça..../ esse tio meu, era irmão do meu avô. Era tio sigundo. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Por parte do meu pai. Ele/ acho que deu peumunia nele e aquilo de veiz em quando vortava, né? PESQUISADORA: Hum? 40 INFORMANTE: A gente chegava lá e ele tava cum pano marrado na cabeça, sentado no rabo do fogão. E lá/ ê chamava M. e tinha apelido de N. Tratava ele de N. “Ô tio N., o sinhor tá bão?” “Ah, meu fio num tô bão não. Eu/ me deu uma infrueza danada”. E eu ficava pensano que infrueza é essa? Aí dipois eu lembro num livro é o nome cientifico da gripe é infrueza. PESQUISADORA: Ah, ele usava o nome científico? 45 INFORMANTE: Ê usava mais ele num sabia. Ele/ ele num sabia lê, num sabia nada... PESQUISADORA: E como falava, né? INFORMANTE: Num sei. E dipois que eu discubri que a infrueza é o nome científico da gripe é infrueza. Intão, ê falava infrueza, né? Mais intão. Era dessa manera. PESQUISADORA: Ele amarrava o pano na cabeça pra melhorar? 50 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 95 INFORMANTE: É. Eu acredito que sim. Mais intão/ quando/ era difici’ que/ é/ as muié quando tá assim pra ganhá neném num tem dia, num tem hora, num tem mêis, num tem nada, né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão, às veiz eas tava passano mal, tava num dia que nem hoje que tá choveno assim, às veiz meia- noite no iscuro, às veiz ( ) ia buscá longe... 55 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: A distância de duas léguas, trêis léguas. Tinha que levá um cavalo arriado pá ela í[r] de a cavalo. No iscuro, né? Ia às veiz longe, intão eas passava dificurdade, né? Essas/ as partera passava dificurdade, né? PESQUISADORA: E tinha que chamá a parteira pra fazer o parto? 60 INFORMANTE: Ah! Tinha. Tinha que chamá. Intão chamava e Deus ajudava que dava tudo certo. Num que ouvi falá que morresse uma criança por farta de cuidado na hora do nascimento, né? PESQUISADORA: Hã? Remédio era natural? INFORMANTE: Não. É/ remédio era natural mais aonde nóis morava num tinha/ eu nunca morei em Bom Jesus da Penha. Eu sô natural de lá, mais nunca morei lá. 65 PESQUISADORA: Morava em Passos mesmo? INFORMANTE: Eu morava no município de Passos, na zona rural mais os pai da gente tinha/ por causa de lá ser mais perto, registrava a gente lá. PESQUISADORA: Hum. INFORMANTE: E lá num tinha médico. Lá tinha só farmacêtico. 70 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Os farmacêtico era que cuidava... PESQUISADORA: Receitava? INFORMANTE: Dava remédio. Ês manipulava esse remédio iguale esse meopático, né? PESQUISADORA: Hum? 75 INFORMANTE: Tinha os modo dês prepará o remédio. Intão tinha farmacêtico./ Baõ./Incrusive tem um irmão meu, o M. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Hoje ê tá cum mais de sessenta ano. PESQUISADORA: Hã? 80 INFORMANTE: Ê foi disinganado daqui pos médico e meu pai/ aí tem um dotor lá/ num é dotor é.../ um farmacêtico lá no Bom Jesus... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ês tratava ê por L. Falô pra/ pra ele/ pro meu pai: “olha J., se ocê truxé o minino pra cá eu curo o minino.” 85 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí que feiz/ meu pai/ meu pai pegô, levô ê pra lá e pegô mais/ mais Oto irmão meu que é o S... PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Ficô lá cum ês e ieu fiquei mais o S. meu irmão/ ficô na casa onde que morava o meu pai e .../ foi o M. e a I. foi pra casa do meu avô. 90 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão... Isparramô tudo. Durante quais... ah/ um mêis e tanto/ quais dois mêis. Aí deu remédio pra ele tudo. Foi vê ê receitô pra ele usá é leite de cabrita, né? Aí ê usô leite de cabrita e hoje ele é fortão que nem gripe ê num dá. PESQUISADORA: Ele era criança? 95 INFORMANTE: Ele era criança. Ele tinha uns/ ah ele tinha um ano por aí, deiz mêis/ um ano/ um ano e poquinho. Deitava ele assim no chão, no cochão no chão ele ia rolano, rolano. De repente ele tava lá no chão. PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE: Tinha que vortá ê pra cama. PESQUISADORA: ((Risos)) Intão quando murria? Se num tinha/ se num tinha nem médico pra fazer parto, 100 quando murria fazia o quê? INFORMANTE: Ah! Aí ia/ ( )/ murria criança/ não, eu num lembro que morresse criança assim não. PESQUISADORA: Mas e se morresse adulto? INFORMANTE: Agora, quando murria adulto que ieu/ num era todo lugá não/ lá tinha um lugá chamado Poso Alegre. 105 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Que num cumércio nem nada/ é/ é uma zona rural. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Intão ês levava aquês corpo que murria levava pra lá ( ). Às veiz levava pra Bom Jesus/ quando num levava para Bom Jesus, levava pra lá. 110 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 96 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Intão tinha uns que era muito pobre/ intão pegava e arrumava banguê, né? Banguê/ ês arrumava um negócio assim de tábua cum quatro/ tipo de uma prancheta dessa aqui. Tipo de maca dessa de hoje. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Intão dava pra quatro pessoa carregá, né? Intão ia/ tipo dum andor de santo assim/ na procissão. 115 PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Intão ês levava desse jeito. PESQUISADORA: E levava pra interrá/ ( ) nesse Pouso Alegre? INFORMANTE: É, nesse Poso Alegre. PESQUISADORA: Lá tinha um cimitério? 120 INFORMANTE: Lá tinha um cimitério. Hoje num tem lá/ acabô/ hoje num tem mais. Tem os distroço lá do que era do muro, né? PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Porque lá tem/ ieu ficava pensano “porque que que um cimitério na zona rural desse jeito?” Aqui em Passos tamém tinha. Daqui eu num sei onde fica. Mais lá dipois a gente pensano bem, ieu fiquei 125 analisano e ieu discrubi o porquê que lá tinha. PESQUISADORA: Por que que lá tinha? INFORMANTE: Porque que/ lá é/ porque lá é do tempo dos banderante. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: Intão, lá ês minerava o[u]ro no rio São João, né? 130 PESQUISADORA: Sei? INFORMANTE: Que fica pertinho. PESQUISADORA: Hum hum? INFORMANTE: Intão, esse cimitério lá, ê foi feito/ aberto nos tempo dos banderante. PESQUISADORA: Na verdade, quando murria algum banderante interrava ali. 135 INFORMANTE: É. Interrava ali naquele lugar. PESQUISADORA: Hum? Intão teve banderante mesmo por aqui?/ É/ eu já li alguma coisa sobre a história. INFORMANTE: Intão. Jacuí, por exemplo, é que/ ês garimparo o o[u]ro em Jacuí. PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Mais Jacuí faiz parte do memo lugá do Poso Alegre. Incrusive, Poso Alegre, fica mais perto de 140 Jacuí do que daqui. PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: É. A região do rio São João onde/ lá tem cada monte de cascalho. Lá que ês tirava do rio pra fora pra podê limpá o[u]ro, né? PESQUISADORA: Hã? 145 INFORMANTE: Mais aí dipois cabô tudo, porque ês fala que/ é lenda/ que lá tem um lugá lá que tem uma panela de o[u]ro. PESQUISADORA: Panela de ouro? INFORMANTE: Interrada lá em certo lugá lá. PESQUISADORA: Hã? 150 INFORMANTE: Já foi muita gente lá verificá. PESQUISADORA: Procurá a panela. ((Risos)) INFORMANTE: Mais num achô nada, né? PESQUISADORA: Eu queria sabê onde tá essa panela. INFORMANTE: Eu tamém quiria sabê uai! 155 PESQUISADORA: Uai. INFORMANTE: Quem achasse ela num pricisava trabaiá mais, né? PESQUISADORA: Uai, que que é isso! Ia sê uma beleza. Sinhor trabalhava na roça? Fazendo o quê? INFORMANTE: Uai, eu trabaiava/ toda vida eu, eu trabaiava no sirviço braçal /é / plantano mio, arroiz ( ) mais antes disso, eu tinha sete ano, oito ano... 160 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Meu pai tinha uma ( ) tinha um carro de boi. Lá na roça num havia cundução. Num tinha caminhão, num tinha/ pra transportá as coisa tinha era carguero. PESQUISADORA: Cargueiro? INFORMANTE: Carguero era/ num sei se cê sabe o que era. 165 PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: Carguero é/ ês arruma dois jacá assim feito de taquara. PESQUISADORA: O quê? INFORMANTE: Jacá, balaio. PESQUISADORA: Jacá é balaio? 170 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 97 INFORMANTE: É esses balaio de taquara. Cê cunhece esses balaio, né? PESQUISADORA: Sei. Cunheço. INFORMANTE: Intão, uns fala balaio e otos fala jacá. Intão ê punha duas arça neles e tinha aquês arreio/ duas arça em cada um e cada um, um gancho assim. Intão punha ês assim ó... PESQUISADORA: Hã? 175 INFORMANTE: E vinha pá cidade trazê ( )... PESQUISADORA: Punha em cavalo? INFORMANTE: É, punha em cavalo memo. Intão a pessoa muntava num e vinha puxano oto. Tinha gente que puxava trêis, quatro cavalo assim. E otos num/ esses/ tinha os mais pobre que num pudia comprá carro nem boi. Esses que tinha carro de boi trazia de carro. Meu pai tinha uns boizinho lá. 180 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Que ele pegô ota guia. Ele vinha toda semana. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Intão, ê trazia farinha, trazia capado... PESQUISADORA: Capado é o porco? 185 INFORMANTE: É o porco gordo. Trazia pinhão. PESQUISADORA: Pinhão? Que que é pinhão? É uma... INFORMANTE: É o tipo duma/dum/ é uma árve que dá uma pinha/ ela distribui assim iguale uma cabeça de aio. Ela tem aquês dente. Cê num cunhece não? PESQUISADORA: Eu acho que eu cunheço pinha/ pinhão. 190 INFORMANTE: Ela é desse tamanho assim ó. PESQUISADORA: Pra que que serve o pinhão? INFORMANTE: Uai, aquilo é bão. Ês come aquilo lá torrado/ num sei mais de que jeito que é não. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: A cor dele é da cor daquela ta[lh]ia lá. 195 PESQUISADORA: É marrom, né? INFORMANTE: Marrom. PESQUISADORA: Eu já vi sim. INFORMANTE: Intão/ é/ intão trazia/ trazia é / ah/ era rapadura/ é/ oto açuca. Ês trazia isso e levava/ levava querosene, sal, uns pano... 200 PESQUISADORA: Pra que que eles levavam querosene? INFORMANTE: É porque lá num ixistia/ num ixistia energia elétrica. Intão a querosene era usada pra lamparina, né? Mais antes disso... PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Eu cheguei a arcançá um poco do tale candiero. 205 PESQUISADORA: Candiero era para por luz tambem? INFORMANTE: Era. Candiero tem dois nome pra candiero. Tem o candiero é/ carrero de boi que chama os boi na frente ( ). PESQUISADORA: Candiero é o que conduz? INFORMANTE: E o oto é candeero. O candeero é esse/ é acendia/ chamava candeia. Uma peça de ferro assim 210 feita de/ feita na ferraria. Intão punha um pavio grande nela e enchia de azeite. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: E ali aquela/ a luz que usava ( ) candeero. PESQUISADORA: O candeero/ a peça como chamava? INFORMANTE: Candeia. Narguns/ eu cunheço/ num sei se é na casa da minha tia tem uma peça dessa. É uma 215 pecinha piquena/ mas e a querosene de primero vinha na lata de 20 litro. Hoje ainda tem lata de querosene. Vinha num caxote de madera. Hoje quando compra ela vem sorta, ela num vem num caxote de madera mais. Mais intão, era desse jeito. Levava sal, levava/ quando meu pai vinha levá/ nóis era piqueno. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ê levava aquê tanto de rosca, pão... E ieu mais os meus irmão que era piqueno pra nóis num 220 tinha nada mió do que cumê rosca, pão, forró. Ês falava forró, né? PESQUISADORA: ((Risos)) Forré é aquele/ tipo uma rosquinha piquena, né? INFORMANTE: É. Intão, às veiz meu pai num dava dinhero pra nóis, nóis pegava cuía fejão assim ( ) cuía fejão nas roça. PESQUISADORA: Hã? 225 INFORMANTE: E ficava depois que coiesse/ ês/ fica muito fejão assim pá tráis. Intão nóis cuía lá e batia esse fejão, vindia e dava o dinhero pro meu pai comprá quitanda pra nóis. Mais quando eu já tava cum sete ou mais... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Eu memo/ cumecei a vim cum meu pai. PESQUISADORA: Hum? 230 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 98 INFORMANTE: No carro de boi. Intão lá vinha o carro dele/ vinha... Tinha muitos que vinha de lá tamém. Mais num vinha tudo de uma veiz. Mais lá tinha umas deiz pessoa que vinha trazê trem no carro de boi. Intão, nóis posava no caminho... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Meu pai tinha um companhero ( ) ieu intão ieu/ minha mãe arrumava aquê caxote que 235 justamente esse caxote que usava levá querosene. Punha paia rasgada nele e usava tocinho. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Usava tocinho e punha ali. Quando num era no balaio, ota hora no caxote. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E pá fazê a cumida, panela naquê tempo num tinha não. Num tinha panela de alumínio, era só 240 de ferro. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão, tinha a mariquinha que é juntado trêis pau e fura por exemplo nos pé dele e dipois põe um gancho de arame e dipois lá onde vai fazê a cumida faiz a trempe de pedra como se fosse um buraco cavado. Abre aqueas trêis perna assim e um gancho lá e a panela põe na artura que qué. 245 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Põe ela berano o chão, põe se quisé pô mais alto põe ( ) aquilo era/ é/ era a chapa bem dizê. PESQUISADORA: Hã? Chama como? INFORMANTE: É mariquinha. PESQUISADORA: Mariquinha. E alguém conhece por outro nome? 250 INFORMANTE: Que eu saiba é só por mariquinha. É um nome só. Num tinha oto não. PESQUISADORA: Mais aí vocês tinham que posar porque nao dava tempo de chegar em Passos? INFORMANTE: É num dava tempo porque... PESQUISADORA: Na cidade. INFORMANTE: Pudia saí/ nóis saía cedinho, sete hora, seis e meia, mais memo assim a distância era grande. 255 Naquê tempo ês falava era légua. Era seis légua. E seis légua hoje é trinta e seis quilômetro. PESQUISADORA: Trinta e seis quilômetros? INFORMANTE: E cada légua corresponde a... PESQUISADORA: Seis. INFORMANTE: Seis quilômetro. Intão era trinta e seis quilômetro. Intão num dava pá fazê pá fazê essa viagem 260 duma veiz. Pá í[r] até que dava porque aí o carro ia mais manero. Levava poca coisa e andava depressa, né? E boi tem uma coisa, o carrero. Pá vim pra cá era uma tuada diferente pá í[r] pra casa / ês/ ês memo procura í[r] mais dipressa. PESQUISADORA: Ah, é? Eles ditam a... INFORMANTE: É pá í[r] pra casa ês procura í[r] mais dipressa, pá vim é mais demorado. 265 PESQUISADORA: Engraçado! INFORMANTE: Uai, intão. Até a criação tem vontade de vortá pra casa. PESQUISADORA: É verdade ( ) Dipois a gente cunversa. Mais, intão naquela épuca que mais que tinha? Quando o senhor morava na roça? INFORMANTE: Ah, tinha aques boiadero que passava lá... 270 PESQUISADORA: O boiadeiro passava levando boi? INFORMANTE: É. Tocano boiada. Comprava boi aqui pá levá pá fora. Pro Estado de São Paulo. Pra/ dexa eu vê se eu lembro/ pra... acho que é Gaspar Lopes. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: É o lugar onde ês imbarcava o trem de ferro pra í[r] pra fora, né? Mais e.../ é/ ês levava pra lá. 275 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Mais ( ) eu tava falano de vim aqui pra Passos. Primeramente meu avô contava que antes de vim aqui buscá sal e querosene, aqui ês quase num vinha. Ês ia de carro de boi em Casa Branca. Que ( ) Casa Branca. PESQUISADORA: Vixe! 280 INFORMANTE: Casa Branca porque lá é que chegava lá na Casa Branca/ que/ a istrada de ferro foi feita aqui em 1919, foi que ela chegô aqui. PESQUISADORA: Hum hum. INFORMANTE: Intão, antes disso tinha que í[r] em Casa Branca e dipois mudô mais é/ ês foi fazê uma istrada quando chegô em Biguatinga. 285 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Biguatinga é um/ uma estação ferroviária pra cá de Guaxupé. PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: ( ) Biguatinga. Aí dipois... ( ) / mais isso num era do meu tempo era do tempo dos meus avô. PESQUISADORA: É bem antigo. 290 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 99 INFORMANTE: Dos meu avô. PESQUISADORA: É que nem o ouro em Jacuí. É antigão, né? INFORMANTE: É. É. Antigo. PESQUISADORA: É do tempo de avô. INFORMANTE: É. É antigo. Eu lembro que meu/ eu tinha uma avó que comprô umas terra. Essas terra tava 295 meio inrolada e deu uma demanda. Intão, eu tinha um tio... PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: É.../ E nessa demanda ele ia arrumá as papelada ou tinha que í[r] em Jacuí ou Cabo Verde que é.../ que as iscritura, dos papel antigo... PESQUISADORA: Hum? 300 INFORMANTE: Era feito nessas duas cidade que era mais antigo. Aqui era/ Passos, essas outra cidade aqui era... PESQUISADORA: Passos já foi distrito de Jacuí, né? INFORMANTE: Foi. É... Incrusive aqui foi distrito até de Uberaba ( ). PESQUISADORA: É? INFORMANTE: É! Me parece. Mais é o que eu tô falano. Quando os boiadero que tocava os boi pá levá pá/ pá 305 Gaspá Lopes... PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Ês falava/ uns tocava a boiada, era boiadero. Os que tocava mula a gente falava era/ é os mulero. Tocava/ é/ ês ia comprá lá em Três Lagoas. PESQUISADORA: Hum? 310 INFORMANTE: Comprava/ ês usava/ deles é a bruaca que era pra guardá as comida ( ). PESQUISADORA: Bruaca? INFORMANTE: É um caxote quadrado cuberto cum coro de boi. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E... aquele coro num dexa, num dexa entrá água, né? É lacrado. 315 PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Intão usava essas bruaca. Eu cheguei a cunhecê bruaca. Cheguei a vê. Num sei/ hoje/ num sei mais aonde tem mais ( ). PESQUISADORA: Mas é capaz que hoje em dia num tem mais. INFORMANTE: Só em museu pá vê. 320 PESQUISADORA: Só no museu. Hoje muita coisa só no museu pá gente vê mesmo. INFORMANTE: É. PESQUISADORA: O povo foi perdendo, né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: E também o mundo foi ficando moderno, foi melhorando. 325 INFORMANTE: É. Foi mudando/é. PESQUISADORA: Imagina de carro de boi daqui até Casa Branca que sofrimento que era. INFORMANTE: Até Casa Branca. Intão. PESQUISADORA: É muito longe. De carro já demora. E de carro de boi? INFORMANTE: Intão já demora. 330 PESQUISADORA: E como é chamado o conjunto do carro de boi? Tem nome? Ou é só carro de boi? INFORMANTE: Não, tem o carro de boi, tem os bois, tem a junta de guia aqu é os dois que vai na frente. PESQUISADORA: É a junta de guia? INFORMANTE: É. A junta de guia são dois boi. Que ês é atrelado dois, né? PESQUISADORA: Ah, tá. 335 INFORMANTE: Ês é de dois em dois. PESQUISADORA: Cada dois chama... INFORMANTE: Intão, normalmente o carro tem oito junta, deiz junta. Intão é dezesseis boi ou vinte boi mai’ o[u] menos assi. PESQUISADORA: Hã? 340 INFORMANTE: No máximo é vinte boi. É/ normalmente é... Intão tinha as canga que cangava ( ) que/ as canga que ia pá imendá aquilo lá tudo... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: As junta todas... PESQUISADORA: Hum? 345 INFORMANTE: Intão tinha as canga e os tamoero. PESQUISADORA: Tamoero? INFORMANTE: Tamoero feito de coro de boi, é tudo trançado. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Era turcido num era trançado. 350 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 100 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Tinha os tamoero, dipois tinha os canzil que era os buraco que ia imbaxo pá botuá no pescoço do boi. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Chamava brocha. É uma pecinha piquena assim. 355 PESQUISADORA: Brocha? INFORMANTE: É brocha. É feita de coro tamém. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: E dipois tinha os cambão. Aí tinha as tiradera. Tiradera era uma... espécie de coro mais grossona pá aguentá, né? 360 PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: ( ) Tinha junta de guia e dipois tinha as de cabeçaio, a de cabeçaio era a que ficava no cabeçaio do carro aqui ( ). PESQUISADORA: Como que chamava? INFORMANTE: Cabeçaio. Cabeçaio. Junta de cabeçaio. 365 PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE: E a da frente depois da do cabeçaio chamava era chaveia. PESQUISADORA: Chaveia? INFORMANTE: Era junta de chaveia. Era a segunda ( ). PESQUISADORA: Um carro de boi era uma coisa complexa intão? 370 INFORMANTE: É, uai. PESQUISADORA: Até montar um carro de boi devia ser um tempão. INFORMANTE: E dipois tem o/ o carro de boi... Pá fazê o carro de boi tem/ tem/ é tudo feito de madera nobre. Madera de ( ) por exemplo. PESQUISADORA: Hã? 375 INFORMANTE: Tinha/ ( ) as roda. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão, tinha trêis peça. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Duas cambota, um mião. Mião ia no meio. 380 PESQUISADORA: Como que chamava? INFORMANTE: Mião. PESQUISADORA: Mião? INFORMANTE: Mião. É. Cambota era feita de trêis peça. PESQUISADORA: Hã? 385 INFORMANTE: E dipois. É. Pá pô aquea ( ) em vorta ês chamava.... é chapa. PESQUISADORA: Chapa? INFORMANTE: Chapa ês punha em vorta assim e ia/ e levava lá na ferraria. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão já tinha os ferrero que era apropriado pra fazê aquilo. 390 PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Agora, hoje/ hoje num tem ferrero mais que faiz isso. Porque de primero ês fazia/ ferrava animal, cavalo. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão a roda ela contém trêis buraco, onde vai o exo. 395 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: E tem dois ( ) buraco redondo... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Que chama oca. PESQUISADORA: Oca? 400 INFORMANTE: Oca. E dipois tem o exo tamém. Aí no exo vai o chumaço, que é o que faiz cantá o carro de boi. PESQUISADORA: Como que chama? Que faz cantá? INFORMANTE: Chama/ é o chumaço. PESQUISADORA: Chumaço. INFORMANTE: É. E a mesa é composta tamém por cadião, é uma parte de fora. 405 PESQUISADORA: A mesa? INFORMANTE: A mesa... PESQUISADORA: Que que é mesa? É a parte de trás? INFORMANTE: A mesa é o que ia em cima dos rodero. PESQUISADORA: Ah, sim. 410 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 101 INFORMANTE: Intão tinha/ ela era feita de trêis/ é trêis ou quatro parte. Ela tinha um minhão que é um/ uma peça de madera que vai atráis. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Que tem as cheda que é duas... PESQUISADORA: As o quê? 415 INFORMANTE: Cheda. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Era duas peça vortiada. As cheda é onde vai o fuero pá pô aquela... PESQUISADORA: Vai o suero? INFORMANTE: Elas vem cum doze fuero. 420 PESQUISADORA: Ah! Fuero! INFORMANTE: Os fuero é mai’ ou meno de metro. Intão põe ela incarriada assim e... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí cê pode pô lenha ali. ( ) Pô/ carregá mio ou ota coisa a granel. Aí já vai a estera, né? PESQUISADORA: Hã? 425 INFORMANTE: A istera é feita de taquara tamém. PESQUISADORA: Taquara é um tipo de bambu? INFORMANTE: Ela pode sê feita cum bambu tamém. PESQUISADORA: Ah, a taquara na verdade então é uma estera. Num é um bambu. INFORMANTE: ( ) o bambu faiz a istera tamém mais naquele tempo ês fazia mais só de taquara porque 430 taquara era o que tinha muito. Agora hoje ês faiz só de bambu porque memo taquara quase não existe mais. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ainda tem ainda. Eu/ eu cunheço certos mato qua ainda tem. PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Mais ês fazia só de taquara, né? Intão, tinha a istera dipois a parte de tráis pá fechá a istera, ela 435 era vortiada assim. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Era caniço. PESQUISADORA: Caniço? INFORMANTE: Chamava caniço. Era uma peça... 440 PESQUISADORA: Caniço eu já ouvi falar nessa peça, mais eu não sei como é que é que é não. INFORMANTE: Intão, era de pô atráis pá num/ pá fechá, né? PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Intão era desse jeito, intão. PESQUISADORA: O carro de boi dava um trabalhão. 445 INFORMANTE: Carro de boi. PESQUISADORA: Montar um carro de boi num devia ser fácil não. INFORMANTE: E hoje num tem nem quem faiz mais. Ele é complicado, né? PESQUISADORA: Lá em Jacuí tem um encontro de carro de boi de veiz em quando. Não tem? INFORMANTE: Não. Lá/ eu fui lá em Jacuí e tinha acho que cem ou cento e dois carro de boi. Bom Jesus tem, 450 São Pedro da União tem. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: O prefeito de São Pedro da União gosta tanto de carro de boi que ele quando/ ele vai/ ele vai só ele/ ele tem oito carro de boi. PESQUISADORA: Uh! Que isso? 455 INFORMANTE: É. Intão é um hobby dele. Ê gosta memo. PESQUISADORA: Legal. Legal isso. INFORMANTE: É pá quem gosta, né? PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Eu fui lá. Eu fui mais o E. foi junto, as minina, a minina do E. mais piquena “nó, meu pai eu 460 quero”./ Porque viu um rapaiz lá/ um carro de boi: “Eu quero montá no boi, eu quero muntá.” PESQUISADORA: Ai meu Deus do céu! INFORMANTE: Aí ê pegô até arrumô um pá ela muntá e deu uma vortinha lá. PESQUISADORA: É porque tem boi que é mansinho, né? INFORMANTE: É mansinho, é! 465 PESQUISADORA: E como que era as festa antigamente? Tinha muita festa? INFORMANTE: Uai, tinha. Tinha muita festa. Tinha/ meu avô memo fazia muita festa. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Lá, uai ( ) naquê tempo ês fazia festa, andava oito dia/ a Compania andava oito dia, né? A Compania é sete ou oito cantadô. Mais sempre ia mais porque uns cansava, né? 470 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 102 PESQUISADORA: Hã? Aí revezava? INFORMANTE: Andava de noite, no iscuro, naqueas laderada. Todo mundo acustumado, né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão naqueas/ no dia da chegada fazia aquea janta mais que tinha tudo quanto é espécie de carne... 475 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: ( ) e dipois tinha os doce, né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Bão, num era todas ela não. Num era aqueas/ que as pessoa mais... PESQUISADORA: Hã? 480 INFORMANTE: As mais forgada, né? PESQUISADORA: Hum hum! INFORMANTE: Agora, tinha os oto que fazia festa e fazia só o doce memo. E dipois tinha o leilão e aquilo tudo era dividido/ dividido na festa memo. Tudo gastado ali. PESQUISADORA: Ãhã. 485 INFORMANTE: Intão e tinha tamém/ tinha muito mutirão pá capiná roça. De mio, de arroiz, de café... PESQUISADORA: Mutirão? Mutirão é quando juntava um monte de gente? INFORMANTE: Isso. Uns falava mutirão, otos falava ajitório. PESQUISADORA: Como? INFORMANTE: Ajitório. 490 PESQUISADORA: Ah, tá. INFORMANTE: É, intão fazia/ juntava muita gente. Meu pai memo feiz um. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Capaiz que feiz é faiz tempo. Foi em 1900... 58... PESQUISADORA: Hum? 495 INFORMANTE: Teve 102 pessoa. PESQUISADORA: Vixe. INFORMANTE: Pá capiná uma roça. Assim memo num acabô não. PESQUISADORA: Vixe mãe! Credo! INFORMANTE: A roça era grande, né? E era ruim de capiná porque era lugá de pedra. Lugá/ naquê tempo quais 500 que nem arado num tinha. Arado era de boi. Arado de boi ficava muito male arado. Num ficava bão, né? PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ficava bão terra cortada. Agora terra bruta que era a primera veiz que era pasto, com o tempo falava terra bruta. PESQUISADORA: Hã? 505 INFORMANTE: Aí num fica bão. PESQUISADORA: Tinha essas festa então? Festa de Reis... Mutirão. Mutirão era juntar pra trabalhar depois tinha comida? INFORMANTE: ( ) Não. Num tinha cumida. PESQUISADORA: Num tinha cumida não? 510 INFORMANTE: Tinha cumida na/ tinha o armoço, tinha a janta e dipois tinha baile, né? Agora, no baile tinha lá uma... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Uma... quitanda. Ês fazia biscoito, pão-de-quejo, bolo, broinha de canjica, broa de mio... PESQUISADORA: Hã? 515 INFORMANTE: Tem um caso até interessante que... PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Eu tenho um/ dois primo. Um até já morreu agora faiz uns seis mêis. Tava cuns oitenta e num sei quantos anos. Tem um oto que mora no Geriátrico. Esse que mora no Geriátrico é sorterão. PESQUISADORA: Hã? 520 INFORMANTE: Intão, nóis trabaiava, nóis trocava dia porque lá/ lá na roça nóis nem via dinhero não. Nóis ia juntava deiz/ quinze pessoa a gente ia trabaiá pá um pá oto. Até junta uns deiz ou quinze. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: Dipois ajuntava tudo numa roça, num dia só. PESQUISADORA: Hum? 525 INFORMANTE: Intão, um certo mutirão que teve lá/ eu tenho um/ o J. esse/ o J. N. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE: É fio do que eu falei que da infrueza, né? PESQUISADORA: Hã? Ãhã. INFORMANTE: E o J. que é irmão dele tamém. 530 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 103 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: O J. é sorterão que mora no Geriátrico. Intão, esse J. arrumô uma moça lá, que ele tava/ acho que num sei se tava afim dele ou num tava. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ea chamava Margarida. 535 PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: E ela morreu tamém. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão, esse J. ele era muito brincadô, muito gozadô. PESQUISADORA: Hã? 540 INFORMANTE: Aí quando nóis tava trabaiano lá ê falô: “ ó gente, vô contá uma caso pro cêis, pá turma.” Nóis tava uns deiz ou quinze reunido lá na hora do armoço. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: “Ah, o que que é?” “É do J. meu irmão.” “Uai, que que tem o J.?” “Ah, o J...( ) / e ela era zaroia. A moça, né? 545 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Aí ê pegô e falô assim: “é,o J., a hora que saiu as buruteia lá...” As buruteia que falava era... quitanda. Buruteia. PESQUISADORA: Buruteia? Nossa que engraçado. INFORMANTE: Era as quitanda. E ês repartia era na pinera. 550 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Intão, ia na turma tudo assim as pinera. Aí ê falô assim: “o J. quando saiu as buruteia lá, ê tava pensano que a M. tava oiano nele, ela tava oiano era na pinera de buruteia. PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE: Pur caus’ que ela era zaroia. 555 PESQUISADORA: ((Risos)) Coitada da moça. INFORMANTE: ( ) Intão, ela casô. Ela já morreu, mais ela dexô uma purção, uma purção de fio. Mais ela era zaroia memo. PESQUISADORA: Era? INFORMANTE: Mai’ esse J./ ele/ tudo pra ele/ tudo pra ele/ ele/ ele inventava as coisa. ( ) ê falava assim: “ah, 560 pessoa num pode ficá muito véia pá casá não.” PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE: Ê falava: “eu sô novo, vô numa festa. Chego numa festa, num baile na roça. Ó quem chegô! Chegô fulano, bertrano, ciclano, chegô o J. N. Ah! Tudo bão. Aí vai traveiz.” PESQUISADORA: Hã? 565 INFORMANTE: “Aí dipois a gente vai ficano véio, quem chegô na festa? Chegô fulano, bertrano e ciclano, J.N. Ah! Esse J.N. já tá é batido.” PESQUISADORA: ((Risos)) J.N. já morreu? INFORMANTE: Já morreu. ( ) Esse que falô do caso do irmão dele. PESQUISADORA: Da zarolha, coitada. 570 INFORMANTE: Mais era divirtido esse J. Trabaiava junto cum ele. Ê inventava as coisa, remedava os oto. Ele num tinha tristeza na vida. PESQUISADORA: Mais é bom trabalhar com gente alegre, né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Intão, mais tio, já tá bão. Brigada. Brigada pela entrevista. 575 INFORMANTE: De nada. PESQUISADORA: E dipois eu volto pra gente conversar mais tá? INFORMANTE: Tá. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 15 INFORMANTE 1: E.M.H (94 anos, Analfabeta, sexo feminino) INFORMANTE 2: B.J.R. (70 anos, Ensino Fundamental 1 Incompleto, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Agosto/2008 104 INFORMANTE 2: Ah! Mai’ fica, uai. Tá bão./ Tá enxergano. Tá vivo. Tá respirano, tá bão. INFORMANTE 1: ( ) cuma doraiada INFORMANTE 2: Mai’ agora tem a turma do condor. A senhora já viu aquela propaganda ((Risos)) INFORMANTE 1: Vamô entá pá dento. PESQUISADORA: Vamô. 5 INFORMANTE 1: Vamô sentá aqui. Entá pá dento. INFORMANTE 2: Cê é fia de quem? TERCEIRO: Seu J. A. INFORMANTE 1: Vamo enta pa dento. PESQUISADORA: Como que a senhora chama? 10 INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: Como que a senhora chama mesmo? INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: Como que a senhora chama? INFORMANTE 1: Eu? 15 PESQUISADORA: É. INFORMANTE 1: E. PESQUISADORA: Como? INFORMANTE 1: E. PESQUISADORA: Ah, tá. 20 INFORMANTE 1: Cê é gente de quem? PESQUISADORA: Eu, sô filha dele. A J. mora lá na roça dele. INFORMANTE 1: Mora? PESQUISADORA: É. INFORMANTE 1: A J. da T.? 25 PESQUISADORA: É. A J. da T. INFORMANTE 2: Isso. INFORMANTE 1: É neta minha. PESQUISADORA: É neta da senhora? INFORMANTE 1: É. 30 PESQUISADORA: Aí ela falô que a sinhora sempre morô na roça? INFORMANTE 1: É. ( ) PESQUISADORA: Aí eu vim aqui pá sabê umas história da sinhora. INFORMANTE 1: Enta pá dentu. Faça bondade. Enta pá cá. INFORMANTE 2: Não. Mais aqui tá bão. Aqui ó. 35 INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: Ela qué ( ) INFORMANTE 1: ( ) Vem cá vê minha cuzinha. INFORMANTE 2: Mas tá bão, legal. Ahã. Tá até fresco aqui hein? INFORMANTE 1: Jogô uma água na casa agora. 40 INFORMANTE 2: É bão uai. PESQUISADORA: Aí ficô fresquinho? INFORMANTE 1: É fico fresquinho. INFORMANTE 2: Humhum. INFORMANTE 1: Num sei / Eu arranjei uma ruindade essa noite sô. 45 PESQUISADORA: Deixa eu sentá perto da senhora. INFORMANTE 1: Aí é muito baxo. Num sei se foi do fio que tá pra fora. A gente fica incomodada, né? INFORMANTE 2: Ãhã. INFORMANTE 1: Num sei cumé que eu arrumo. INFORMANTE 2: Ah, mais ( ) 50 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 105 INFORMANTE 1: Faz dias. INFORMANTE 2: ( ) O rapaz da senhora tá pra fora? INFORMANTE 1: Tá. Tá em Reberão fazendo tratamento. INFORMANTE 2: Uai que isso! / Cumé que ê chama? TERCEIRO: O. 55 INFORMANTE 2: O O. Eu ainda falei pra G. “ O O., ele me conhece” INFORMANTE 1: O O. conhece sim uai. PESQUISADORA: Ele ta internado? INFORMANTE 1: Tá. Ele internou na/ em Passos teis veiz. Internô premero lá no ponto socorro. Fico lá veio ( ) TERCEIRO: Lá ê só guardo vaga vó. 60 INFORMANTE 1: É. Depois foi pa São José. INFORMANTE 2: Hã? INFORMANTE 1: Ê falô: “ quer pagá cunsurta”. Pagô. Veio de lá, veio pio. INFORMANTE 2: Eh! Isso é ruim. INFORMANTE 1: Foi pá Santa Casa. . . 65 INFORMANTE 2: Aí ó, ruim é duença. INFORMANTE 1: Ficô lá na Santa Casa uns dia, ele veio meio lá e meio cá. Mais tava bão. Alimentano bem, cunversano bem, mas ê feiz tratamento em Reberão. INFORMANTE 2: Hã . . . INFORMANTE 1: Desde do premero do princípio do encontro disso. 70 INFORMANTE 2: Ah! INFORMANTE 1: Ele operô do coração. Pois o apareio. Ele é operado/ sofre do coração. Desde de minino. INFORMANTE 2: Hã? INFORMANTE 1: Aí ele ficô pra lá. Lá num tinha vaga. O minino do ( ) J. Senhor cunhece ele né? Do povo da I. 75 INFORMANTE 2: Da I.? TERCEIRO: O T. INFORMANTE 1: O T. INFORMANTE 2: Ah! Sei! Eu cunheço. INFORMANTE 1: Aquê povo é bão pra nóis. ( ) nossos parente. Aí ó ( ) veio buscá ele que achô que era pra ele 80 í[r] pa Reberão. Que ê foi e perdeu a viagem depois tornô a ranjá o lugá. INFORMANTE 2: Hã. INFORMANTE 1: Onti fez oito dia que ê saiu daqui. INFORMANTE 2: Ah! Deus ajuda que dê certo né? Ele tá passando bem lá? Teve nutícia? TERCEIRO: Tá. O I. liga pra ele di noite. Ele chega da usina e liga pra ele. Ele fala “não, tô bão aqui. Num 85 precisa procupá não.” PESQUISADORA: Mais ele tá internado? INFORMANTE 1: Tá. Tá internado. PESQUISADORA: E que que ele tem? É coração? INFORMANTE 1: Coração inchô mũto. Ficô mũto inchado. Ê vem cá e fica fuçano cum essa horta aí mexe cum 90 cutelo mexe cum inxada. Num tem ( ) de ficá parado. Aí zanga. PESQUISADORA: O que que é cutelo? Mexe que que é isso? TERCEIRO: Foicinha. INFORMANTE 2: Foice INFORMANTE 1: Aquilo lá. Alá. Foicinha. 95 PESQUISADORA: Ah. Tá. INFORMANTE 2: A G. tá querendo sabê dessas coisa. PESQUISADORA: A sinhora sempre moro na roça? INFORMANTE 1: Eu moro aqui na roça toda ( ) INFORMANTE 2: Quantos anos faiz que a senhora mora aqui? 100 INFORMANTE 1: Uh! Quantos anos. O rapaizinho aqui foi nascido. A T. foi nascida e criada aqui. PESQUISADORA: E aqui nessa casa? INFORMANTE 1: Nessa casa. INFORMANTE 2: Ahã. TERCEIRO: Minha sogra veio gatiando pra cá./ Minha sogra tem 63 anos. 105 INFORMANTE 1: A sogra dela veio gatiando pra cá. INFORMANTE 2: Hum Hum. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 106 PESQUISADORA: Então faiz muitos anos mesmo que a senhora mora aqui. INFORMANTE 1: Faz mũtos anos que eu moro aqui. Trinta e seis anos que o meu marido morreu e foi enterrado. 110 INFORMANTE 2: Foi quantos? Fez quantos anos? INFORMANTE 1: ( ) trinta e seis anos. TERCEIRO : Quarenta. INFORMANTE 1: Quarenta e seis anos. PESQUISADORA: A senhora ta com quantos anos? 115 INFORMANTE 1: Eu? Carcula a minha idade. PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 1: Eu sô novinha PESQUISADORA: Novinha? Tá jovenzinha? INFORMANTE 1: Noventa e quatro ano. 120 PESQUISADORA: 94? INFORMANTE 2: A sinhora tá sacudida hein? INFORMANTE 1: Ainda to contano 94 ano. INFORMANTE 2: É gozado hein? Eu passo muito aqui na porta e eu num cunhecia a sinhora não INFORMANTE 1: Não? 125 INFORMANTE 2: Eu sempre passo aqui bastante. Eu tenho as terra aqui nas Areias também. INFORMANTE 1: Nas Areia tem ali também. INFORMANTE 2: É. Ahã. E eu sempre passo bastante por aqui e eu num cunhecia a sinhora não. Eu lembro de vê fala. / Quando eu era rapaizinho eu vinha muito na festa aqui nos Campo. INFORMANTE 1: Aqui nos Campo? 130 INFORMANTE 2: O marido da senhora chamava J. H.? Num é? INFORMANTE 1: É! Sô muié do João Henrique. INFORMANTE 2: É! INFORMANTE 1: O J. também morreu de repente. Morreu cunversano./ Que eu tinha uma minina duente, que num andava, num falava. Ê falo: “ó se ocê num óia essa minina direito eu venho buscá ela. ” “ Morrê, eu vô 135 morrê de noite.” Eu falei: “ah! Larga de sê bobo, o feijão ta muito bão J. larga disso.” “ E óia essas minina: a M. e a T. Deixa eas casá com gente que pode, num pode, que estime eas, né? E o que vai zelá do cêis é esse minino que tá aí./ O Osmar tava cum sete ano. INFORMANTE 2: Aí ó. INFORMANTE 1 : é o que vai zelá do cêis. 140 PESQUISADORA: Aí ele morreu nessa noite? INFORMANTE 2: Não. INFORMANTE 1: Aí ele deu um ronco e acabô. Nem vela na mão dele eu puis. PESQUISADORA: Nem vela? INFORMANTE 1: Nem vela na mão dele eu puis. 145 PESQUISADORA: Por quê? INFORMANTE 2: Morreu rápido uai! INFORMANTE 1: Uai nem deu tempo. Morreu rápido. PESQUISADORA: Ah, entendi. INFORMANTE 1: É de raça minha fia. Nóis é tudo de raça. 150 PESQUISADORA: De morrê de repente? INFORMANTE 2: Não, mas a sinhora graças a Deus tá forte. PESQUISADORA: A sinhora 94 morrê de repente ((Risos)) INFORMANTE 2: Eu quero morrê de repente igual a sinhora. INFORMANTE 1: É meu marido. / Morrê de repente. Onti de noite eu falei pá M./ é/ êa é casa com o Z. Ela ficô 155 viúva. Casô cum o povo/ O. T., conhece ele? INFORMANTE 2: O. T. ... uai ! Eu ando ruim. Ó p cê vê as coisa a sinhora ta cum essa idade e tá boa, e eu tô um poco mais novo e tô ruim de idéia . TERCEIRO: Esses dia ela tava falando pra nóis que é nóis que tá caducano. INFORMANTE 2: É verdade. 160 TERCEIRO: Nóis fala as coisa aqui e ela eh ó, óia os caduco. PESQUISADORA: A senhora ta boa e eis tão. . . INFORMANTE 1: Intão ela casô a premera veiz cum o irmão do Onofre cum o cumpade do J. INFORMANTE 2: Onofre Trajano. Oh! O. é irmão da muié do T. P. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 107 INFORMANTE 1: Não. 165 TERCEIRO: É. INFORMANTE 1: É. TERCEIRO: É vó! É tio Onofre, uai. INFORMANTE 1: É! INFORMANTE 2: Ah. Intão eu sei quem que é ele. 170 TERCEIRO: Ele é irmão do meu sogro. INFORMANTE 1: ( ) Aí a Maria caso cum o cumpade João e ficô viúva. / Foi na cidade, o caminha pegô ele matô ele. INFORMANTE 2: É memo. Eu lembro dele. Lembro daquele acidente. Lembro daquilo. INFORMANTE 1: Aí fico/ Ela foi namorada desse moço que êa caso cum ê./ Era um sorterão rico./ Quatro ( ) 175 namorô nove ano cum o cumpade João. Fico viúva, ele vino aqui. E eu sem vista, que eu sofro mũto. Fiquei sem vista quinze ano. INFORMANTE 2: Oh! INFORMANTE 1: Num inxergava nada. PESQUISADORA: Aí a sinhora pois óculos? Aí. . . 180 INFORMANTE 1: Não aí eu fui na cidade opera ( ) TERCEIRO: Opera catarata. PESQUISADORA: Ah. Da catarata? Aí a sinhora operô? INFORMANTE 1: Operei. Aí puis o óculo. Num queria pô óculo, pois. Mais sem ele eu enxergo também. PESQUISADORA: Ah. Mais hoje a senhora precisa usar óculos ou não? Sem ele a senhora enxerga também? 185 INFORMANTE 1: Enxergo sem ele. Aí, depois ( )/ vinha cá todo dia, o C.. Eu falei: “Ré”!! PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 1: E eu sem vista. Aí pegô a berá e o povo pego os passarinho a cantá: “ ( ) o C. vai casá cá M., a viúva. Vai casá cá viúva.” Aí eu falei “ O., eu vô limpá minha vista.” “ Ah, mãe que isso? T. P. disse que a sinhora num passa / num tura um ano, mãe. “Que eu num ture um ano. Eu vô limpá minha vista.” “ Sinhora 190 resorveu agora?” “ Resurvi”, Intão, bamô pá cidade. Nóis sair uma hora dessa, posei na cidade. De noite ele limpô essa aqui. No oto dia tiro / ferramenta / o tapo. “ Hoje eu já enxerguei falei / Daqui a quinze dia que vem. PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 2: ((Risos)) PESQUISADORA: Aí a sinhora animô? 195 INFORMANTE 1: Animei. Vortei pa limpa a ota. Limpô a ota. Ele tomô conta. Eu num fui no calô do fogo. Ele tomô conta de lavá a ropa. A M. tava de resguardo de um rapaizinho / já tá moço / o fio dela ( ) / E ela ficô doida dessa vida e a M. “ ah, mamãe / por que mamãe casô, Maria casô cumé que faiz, cumé que num faiz?” Eu falei cê vai po fugão. Foi po fogão fazê cumê. Que ele faiz cumida mũto bem. INFORMANTE 2: É uai. 200 INFORMANTE 1: Em termos de fazê coisa só o que ele num faiz nesse mundo é doce. PESQUISADORA: Quem num faiz doce? INFORMANTE 2: O Osmar. PESQUISADORA: Ah, o Osmar. É o filho as senhora né? INFORMANTE 1: É, é o fio meu. Mais ele faiz de tudo. 205 INFORMANTE 2: Aí. INFORMANTE 1: Aí a ropa ele tomô conta. Lavava ropa e estendia c’ aquela água e tudo. Água pingando, num trucia. PESQUISADORA: E ele, lavava bem? Lavava direitinho ou não? INFORMANTE 1: E eu oiava e falava: “ coitado do meu fio” mas o tempo é poco. Pois deu os quinze dia e eu 210 falei “ ah, vô pegá berada. “ Cheguei o reio nos treim. Ele falou: “ mais Deus é bão pa mãe. A mamãe teve cega quinze ano. INFORMANTE 2: Óia p cê vê. PESQUISADORA: A sinhora num enxergava intão nada? INFORMANTE 2: Faiz quantos anos que a sinhora opero? 215 PESQUISADORA: Faiz quantos anos? Quinze. INFORMANTE 1: Ah! TERCEIRO: O João era piquinininho num era? INFORMANTE 1: Era. Piquinininho. TERCEIRO: Faz 21 ano. 220 PESQUISADORA: 21 anos? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 108 INFORMANTE 2: Ó p cê vê cume que compensô. Se pensa que num compensa ó p cê vê. E hoje o povo... PESQUISADORA: E hoje a sinhora enxerga direitinho? INFORMANTE 1: Dereitinho INFORMANTE 2: ... Tem uma coisa que o cara (que o genro) que eu já vi uma pessoa falá e eu num esqueço... 225 INFORMANTE 1: ( ) já a gente dúvida num faiz né? PESQUISADORA: Não, e num pode tê medo não. O mundo hoje tá muito moderno. INFORMANTE 2: ... que nunca é tarde. INFORMANTE 1: Antes eu tinha medo de zangá e eu num inxergá nada. PESQUISADORA: A sinhora tinha meso de quê? 230 INFORMANTE 1: De zangá a minha vista. Aí eu num vê nada e meus óio fundá. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE 1: É o medo que eu tinha. PESQUISADORA: Mas aí a sinhora foi e ... ? INFORMANTE 1: Fui, logo uso o ócro. 235 PESQUISADORA: E agora a sinhora tá inxergando tudo. INFORMANTE 1: Tô inxergano. Esse povo num dexa eu fazê. Eu falei: “ mũta coisa eu peciso d’eu bulí pos neivo num indurecê. INFORMANTE 2: É memo. INFORMANTE 1: As fia casada num qué, a T. num qué e essa daqui num qué dexá. 240 PESQUISADORA: Mais a sinhora faiz as coisa aqui? INFORMANTE 1: Faço! Uai. PESQUISADORA: Uai. INFORMANTE 1: Faço cumida, faço as coisa ali. / Mais é eas que faiz agora. Num qué dexa eu fazê nada. Falei: “ Ah! ( ) Eu quebo o pau cum eas aí.” 245 INFORMANTE 2: ((Risos)) PESQUISADORA: A sinhora fica brava com elas aí. INFORMANTE 1: Fico braba cum todas duas cum a neta e cum a fia. PESQUISADORA: Ela é filha de filho da sinhora? INFORMANTE 2: Ela é casada / cum o neto dela. 250 PESQUISADORA: Ah! Cê é casada cum neto! Tá. É neta né? INFORMANTE 1: É neta. INFORMANTE 2: Ela é subrinha do Matheus. Ela é fia da... PESQUISADORA: Do Matheus da lá da... INFORMANTE 2: Tua avó quando morreu. / Seu avô morava impariado lá em casa. Morava na horta ( ) 255 PESQUISADORA: A sinhora chama Elvira? INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: O nome da sinhora é Elvira? INFORMANTE 1: É eu chamo Ervira. PESQUISADORA: É. A sinhora faiz muitos anos / A sinhora trabalhava na roça quando era moça ou não? 260 INFORMANTE 1: Uh! Tabaiava na roça de tudo. Desde a idade de sete ano até dezenove eu tabaiei na roça. PESQUISADORA: É? E o que que a sinhora fazia na roça? INFORMANTE 1: Capinano uai. Capinano pranta. / Igual ao papai, prantano. Pegava impreitada pra comprá ropa pra mim uai. Mũto irmão nunca me deu um lenço. Treze irmão e nunca me deu um lenço. PESQUISADORA: O pai da sinhora? 265 INFORMANTE 2: Os irmão num dava. PESQUISADORA: Num dava aí a sinhora tinha que trabalhar? INFORMANTE 1: O papai o que fazia era pra cume. INFORMANTE 2: Aí. INFORMANTE 1: Aí ( ) só na inxada né? Pegava a impreitada. E cedo / eu ia cedo pa roça e chegava só 270 anoitecendo. A mamãe ( ). INFORMANTE 2: É! INFORMANTE 1: Graças a Deus eu nunca bebi remédio. PESQUISADORA: Não? INFORMANTE 1: É agora que eu tomo remédio. 275 PESQUISADORA: É, a sinhora ta tomano remédio pra quê agora? INFORMANTE 1: Agora eu tô tomano remédio pra o estamo. Mas o cumê / o cumê me imbucha. INFORMANTE 2: Uai. Ahã. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 109 INFORMANTE 1: Eu tô tomano remédio pro estamo. PESQUISADORA: Aí a sinhora toma remédio? 280 INFORMANTE 1: Tomo remédio pra carçá o coração PESQUISADORA: Pra quê? INFORMANTE 1: Pra carçá o coração. PESQUISADORA: Pra carçá o coração? Mais aí a sinhora toma só esses? INFORMANTE 1: O fio se eu te mostrá o tanto de remédio que ele toma / ele levo. 285 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: O tanto de remédio que ele usa. Cê fica boba. PESQUISADORA: O filho da sinhora que ta internado. INFORMANTE 1: É quais cem remédio ( ) e eu remédio. PESQUISADORA: E a sinhora toma só dois. 290 INFORMANTE 1: Eu tomo só dois remédio. PESQUISADORA: Olha que benção. INFORMANTE 1: Eu tomo quando eu zango. TERCEIRO: Ela toma o dia que dá na cabeça aí de tomá. Mas toma... INFORMANTE 1: Mais eu bebo é chá. 295 PESQUISADORA: Chá? INFORMANTE 2: Chá de quê que a sinhora gosta? INFORMANTE 1: Hã? PESQUISADORA: A sinhora gosta de que chá? INFORMANTE 1: Eu gosto mais é de bebê um chá de funcho, ( ) Hartelã. 300 PESQUISADORA: E pra que que serve o chá de funcho? INFORMANTE 1: Chá de funcho é bão pra raliá o sangue. INFORMANTE 2: É! INFORMANTE 1: Raliá o sangue. Gente de idade tem mũto sangue. Eu tenho mũto sangue. PESQUISADORA: Hã? 305 INFORMANTE 1: Esse rapaz / esse é neto meu / ele num ta aqui, foi pa cidade / quiria que eu fosse pa cidade. Eu falei: “ Rá, eu nem vô.” PESQUISADORA: Ainda bem que a sinhora num foi que eu peguei a sinhora no pulo. INFORMANTE 1: Hã? INFORMANTE 2: ((Risos)) 310 PESQUISADORA: Pra conversar com a senhora, né? Se não eu chego aqui e a sinhora num ta. Que que eu ia fazê. ((Risos)) INFORMANTE 1: Não, tá bão. Vortava uai. Ficava pra lá. Seu pai tá sacudido. Num é seu pai? PESQUISADORA: É meu pai. INFORMANTE 1: Pois é, tá sacudido. 315 PESQUISADORA: Tá sacudido né? Tá forte. INFORMANTE 2: Tô sacudido pá ficá à toa. INFORMANTE 1: ((Risos)) Mais ficá à toa é bão dimais INFORMANTE 2: Ah, é bão. PESQUISADORA: A sinhora gosta de ficá à toa? 320 INFORMANTE 1: É bão demais... PESQUISADORA: Ah! A sinhora num gosta. A sinhora falô que briga cum elas pra fazê as coisa. INFORMANTE 1: Brigo pá fazê as coisa mais eas num qué dexá. PESQUISADORA: Intão, a sinhora num gosta não. INFORMANTE 1: ( ) ê ficô cumigo aqui. E ê ficô e a M. foi pá casa dela lavá ropa. Essa fia casada. Ê 325 ficô cumigo aqui. E ê ficô na bera da televisão e eu falei: “é agora”. Eu vô vê adonde minhas galinha tá. Eu vô vê adonde minhas galinha tá. PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 2: ((Risos)) INFORMANTE 1: Saí ali de intimão, na hora que eu cheguei ali no pé de caju, uma galinha ( ) iscundida. / Que 330 morreu as minha galinha tudo. Agora que formô terrero de novo traveiz. PESQUISADORA: Agora que formô terrero? INFORMANTE 2: Morreu. Uai, aqui no rapaiz no Toninho Procopio, que mora ali nas minha terra morreu tudo. INFORMANTE 1: Aqui limpô o terrero. PESQUISADORA: Limpô o terrero? Mais assim porque elas morreram, senhora sabe ou não? 335 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 110 INFORMANTE 1: Eu acho que é duença. Eas tava até pono. Intirtia, murria. Eu falei “vô levá um cumê po G./ tava cuns pintinho assim ó./ Vô levá cumê po G., ê cumê. E trupiquei numas teia, um chão duro. Mêis de agosto. E trupiquei na teia e bati no chão duro./ Eu bati aqui ó, no chão. PESQUISADORA: Machucô. INFORMANTE 1: De óco. De óco. Acho que o óco fundô pá cima e taiô aqui ó. 340 PESQUISADORA: Taiô? Ah, meu Deus! Coitada da sinhora. INFORMANTE 1: Esse povo/ e sangue saía, que rapaiz ficô da cor dessa parede. INFORMANTE 2: ((Risos)) PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 1: E eu o sangue saino e eu vim pá dento, ( ) correno. ( ) era o J. P., mesmo. Num tinha 345 comprado aí não. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Chegô lá já telefonô pa ( ). Ô ( ) a madrinha machucô. O Itamar lá pros coqueirinho. E a vai chama o I. ( ) o I. me leva de pressa. A M. chegô: “Mamãe que que isso?” Ele feiz pra e a pa num falá que tava taio gande. 350 PESQUISADORA: ((Risos)) Pra num falá que tava taio grande. INFORMANTE 2: ((Risos)) INFORMANTE 1: Ê passô apertado. INFORMANTE 3: Caiu assim ó. ( ) PESQUISADORA: Nossa! 355 INFORMANTE 1: Catô oito ponto aqui ó. PESQUISADORA: Nossa! Que isso. INFORMANTE 3: Caiu INFORMANTE 2: ( ) que nem a sinhora aqui mesmo... PESQUISADORA: A sinhora tem que tomá cuidado. A sinhora num pode ficá passiando assim não! 360 INFORMANTE 1: Agora eu ando com porrete. PESQUISADORA: A senhora anda com porrete? INFORMANTE 1: Eu ando cum cabo de bassora eu vô lá ( ). PESQUISADORA: Aí a sinhora apóia no cabo? INFORMANTE 1: Eu firmo no cabo da bassora e venho pra riba. 365 PESQUISADORA: É porque a sinhora num pode facilitá não. INFORMANTE 1: Eu num vi dor nada. Quando refrescô, deu o ponto, aquilo tava ardeno, falei “Lovado seja Deus”. Num mexo mais cum isso. INFORMANTE 2: ((Risos)) INFORMANTE 1: O Osmar pa cidade. Tinha ido pa pagá a força aqui de medo de ficá no escuro. Parô no A. B. 370 O I. já passô lá “Ô tio O, ô tio O.” Custô a escutá/veio. Porque ele escuta poco. Veio. “Ó tuxe a madrinha”. “Pra quê que toxe a mamãe? Que que é isso na testa dela?” “Eu tô falano com a mamãe, mas mamãe é muto temosa” ( ) Ah, mas isso acontece né? “Acontece”. “É só agora ela caí e num machuca mais né?” “A mamãe tá falano que vai caí traveiz”. INFORMANTE 2: ((Risos)) 375 PESQUISADORA: ((Risos)) Mas a senhora tá muito levada. INFORMANTE 1: Mas eu sempre fui: Eu agora saio aí e ês fica ( ) “Eh dona E., donde tá “Eu tô aqui no paió dibuiano mio pas galinha” fica lá: “vem pra dentu”. PESQUISADORA: Fica cum medo da sinhora caí. A sinhora gosta, a sinhora sai toda tarde? Pa dá uma passiadinha na roça? 380 INFORMANTE 1: ( ) caí a toa. INFORMANTE 2: Num pode facilitá não. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: Essa iscada é pirigosa. INFORMANTE 3: É pirigoso. ( ) 385 INFORMANTE 2: É pirigosa PESQUISADORA: E na idade da sinhora não é bom facilitá não. Por que senão machuca. INFORMANTE 2:É mió sai pa porta da sala, né. A porta da sala é baxinha. PESQUISADORA: Aqui é ruim de saí, de descê, né? INFORMANTE 1: É ruim de descê, mais eu desço cum porrete aí desço e subo. 390 PESQUISADORA: Ah! Tem que ficá vigiando a sinhora mesmo. INFORMANTE 1: A horta de cove, num to mexeno cum ela. Agora entreguei po povo. Falei “essa aqui óia um ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 111 cado, o João óia, a Maria óia. Num vô mexe cum horta de cove mais não. INFORMANTE 2: É, não. Dá trabaio. PESQUISADORA: Aí a sinhora delegou. Cada um faiz uma coisa. 395 INFORMANTE 1: Cada um faiz uma coisa. Mas aí, cedo / A M. posa aqui cumigo ( ) esses dia tudo posa aqui cumigo. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Faiz o Armoço. PESQUISADORA: Hum 400 INFORMANTE 1: Arruma a cuzinha e desce pa casa dela e vai tabaia um cado. Essa sobe pra cima e fica aqui cumigo. E depois ela faiz a janta, nóis janta, ela arruma a cuzinha vai pa casa dela e a Maria vem pa cá. É dois sordado pra me vigiá. PESQUISADORA: Intão a sinhora num fica sozinha de jeito ninhum. INFORMANTE 1: Não / A T. vem de veiz em quando 405 PESQUISADORA: T. é a mãe da J.? INFORMANTE 1: É a mãe da Juana. Ela vem de vez em quando. PESQUISADORA: A Teresa mora longe daqui? INFORMANTE 1: Mora lá na fazenda véia. INFORMANTE 2: Mora ( ) 410 PESQUISADORA: Perto dos campo. INFORMANTE 2: Não, é perto lá. INFORMANTE 1: Lá pertinho da casa da J. INFORMANTE 2: É INFORMANTE 1: Mas é uma distancinha da casa... 415 INFORMANTE 2: Mas num é longe tamém não. É bão de í lá. É uma estrada boa aí. INFORMANTE 1: É uma estrada boa. Eu fui lá só uma veiz. Quando o R. machocô. Aí eu fui lá vê ele, porque ele é boa pessoa, né. E a casô / a fia dela casô muto bem. Todas duas. INFORMANTE 2: Ahã PEQUISADORA: Ô dona Elvira têm umas histórias boa aí da roça de antigamente? 420 INFORMANTE 1: Hein? PESQUISADORA: Historia da roça de antigamente? INFORMANTE 1: Eu sô da roça. PESQUISADORA: Não e historia, a sinhora sabe de alguma daí? INFORMANTE 1: Não 425 PESQUISADORA: Não? Num tinha uns caso de assombração aí não. INFORMANTE 1: Não, num tem assombração não PESQUISADORA: Credo! Ainda bem né? Que num tem INFORMANTE 1: Num tem nada. Assombração aqui é eu. PESQUISADORA: ((Risos)) A sinhora né não uai. 430 INFORMANTE 1: Eu ando nessa casa intera de note ai ( ) PESQUISADORA: E que que o pai da sinhora fazia lá / quando ele trabalhava na roça INFORMANTE 1: Ê tocava serviço de roça e ritiro. PESQUISADORA: É INFORMANTE 1: É 435 PESQUISADORA: Tinha carro de boi naquela época? INFORMANTE 2: Onde cêis morava? E aonde que morava? INFORMANTE 1: Lá no pé do Carmo. INFORMANTE 2: Pé / Ah no Carmo. Itapixé. INFORMANTE 1: Eu sô de lá. 440 PESQUISADORA: De Itapixé INFORMANTE 1: É de Itapixé. Contá que que foi/que é casamento. Eu agora querdito em muta coisa. Essa aqui que eu tô contano foi namorada do Zico nove méis. Ê veio/aí falô pro ( ) “não” ( ) que e a deu o fora nele. PESQUISADORA: Hum INFORMANTE 1: Ê a escuto e ê a deu o fora nele aqui 445 PESQUISADORA: Hum INFORMANTE 1: Largô mão. Encontô cum cumpade João , casô. E eu, cum meu marido (eu vim aqui) “é eu vô pidi casamento, pode?” ( ) mas num gostava dele não. Parece que oiva e num achava graça ( ) INFORMANTE 2: ((Risos)) ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 112 INFORMANTE 1: Aí meu Deus do céu, num vai não. Um rapaiz lá pediu casamento comigo. 450 PESQUISADORA: Hum INFORMANTE 1: Tratô cum papai: Aí este rapaiz tá colocano ( ) fica bão tale e coisa. “Eu vô anotá, papai” “Num vai dá resposta já não.” Papai deu a resposta. Que pudia. Meu pai era interessaro. Pudia. Eu falei “Pá tô fora.” INFORMANTE 2: ((Risos)) 455 PESQUISADORA: ((Risos)) A sinhora num quis sabê disso não? INFORMANTE 1: Não. Capaiz. Eu sô pobre, pois no dia lá num tê o quê ( ). Um dia pode falá cumigo “casei cocê, cê num tinha nada, cê era pobre”. O que eu vô falá? PESQUISADORA: É verdade. Sinhora tinha razão. INFORMANTE 1: Num tem nada de falá, né? 460 INFORMANTE 2: É. INFORMANTE 1: Aí larguei mão. PESQUIADORA: Hum? INFORMANTE 1: Dispois eu vim na/assisti uma peça na Ventania./ Já morreu meu irmão J. Cheguei... PESQUISADORA: A sinhora veio assisti uma peça? 465 INFORMANTE 2: Não, uma festa. PESQUISADORA: Ah, uma festa... INFORMANTE 1: Festa do Divino. PESQUISADORA: Ah, a sinhora veio numa festa do Divino? INFORMANTE 1: E o meu avô morava na Ventania, P. L. Meu avô era chamado P.L. e ê veio, chegô aqui na 470 Boa Vista pá comprá um café/ que ê gostava de café. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: Comprá café pá torrá. Naquela épuca num vindia café de bote. Chegô, nóis tava lá pá Ventania. Ê largô de ajudá panhá café e foi pra lá. PESQUISADORA: Hã? 475 INFORMANTE 1: Chegô lá, ê falô cumigo assim: “ ó sábado eu vô lá na tua casa.” Aí eu falei: “fazê o quê?”. “Vô lá pidi o casamento.” Pode isso? E ieu de casamento pidido cum oto. Falei: “que que isso?” PESQUISADORA: Nossa Sinhora, a sinhora tava numa confusão danada. Intão, hein? INFORMANTE 1: Num era rico, não era pobre. PESQUISADORA: Não, mas aí esse é um Terceiro. Aquele lá a sinhora largô mão. Aí a sinhora tava de 480 casamento pidido cum oto... INFORMANTE 1: Oto lá. E larguei mão do oto lá. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: ( ) Naquê tempo pudia inrolá. PESQUISADORA: Naquele tempo pudia inrola até, né? 485 INFORMANTE 1: Aí mamãe falô que ia lá. ( ) tava aqui veio cá e comprô umas criação. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: E ê foi ajudá a levá as criação pá podê chegá lá em casa. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: Chegô lá em casa, ê ficô sábado, dumingo, sigunda, terça. Pensei “será que num vai imbora 490 não?” PESQUISADORA: ((Risos)) A sinhora já tava preocupada? INFORMANTE 2: ((Risos)) INFORMANTE 1: Precupada. E o oto vai/ ia lá em casa e ieu num/ cunversava cuns minino e pirhuntava: “aonde que a Ervira ta?” ( ) “ Ea tá trabaiano na casa de fulano, CE ciclano.” Passava. Bão, pá me pidi o 495 casamento. A mamãe/ o casamento lá em casa o prazo era assim: era um méis e um dia. PESQUISADORA: Isso era prazo na hora/ quando pidisse o casamento?... INFORMANTE 1: Ea foi apertô/ falô. Pidiu o casamento o papai já respondeu mele. Falei: “num vai dá certo.” PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Pidiu o casamento e ê falô assim ( ) meu padrinho de batismo. 500 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Ê num teve corage de falá não. Mandô meu tio pidi. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: Aí ê pidiu o casamento . “Eu já casei, num tenho nada cum isso”, disse papai. A mamãe foi e pirguntô assim: “pra quando é o casamento, J.?” “Lá pá setembo.” “Intão tá. Intão vamo maicá o dia. Nóis vamo 505 maicá o dia.” ( ) ficô lá e no oto dia veio imbora. Dia de sábado. Chegô lá no Mambembe tinha uma dança. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 113 Chegô lá e incontrô cum ota moça lá. Chegô lá a moça já sabia. “Ah, cê pidiu casamento ca fio do C.M. porque que cê agora qué namorá cumigo?” “Ah, num vô casá, num cunheço esse povo não.” PESQUISADORA: Hã? ((Risos)) INFORMANTE 1: Um moço do Carmo incontrô oto rapaiz lá ó. ( ) do Carmo. Incontrei cum esse rapaiz lá 510 cunversei cum ê. Ê falô: “vô lá na tua casa.” Eu falei: “pode í[r].” Pode ((Risos)) PESQUISADORA: Quê isso dona E.? A sinhora tratava no casamento toda semana. ((Risos)) INFORMANTE 1: Toda semana. Uai, se eu não berganha num ( ). Num sabia. Tinha um tale de Z. L. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Era primo do papai. 515 PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 1: Pro cê vê cumé que foi o rolo. PESQUISADORA: Nossa Sinhora, a sinhora gostava duma confusão. INFORMANTE 1: Aí esse Z. L. foi lá/ “Ó C. eu vim cá hoje e num vim passiá não.” Eu falei: “mal.” PESQUISADORA: ((Risos))É mal. 520 INFORMANTE 2: ((Risos)) INFORMANTE 1: Destampei a rezá. ( ) o rapaiz. “A E. tá incontrano cum rapaiz lá no Carmo e ê veio aqui num veio?” “Veio.” Uai, às veiz ê tá errado. “ Mais num faiz mal não/ que o rapaiz que vai casá cum ela encontrô ca moça a noite interinha. Dançô, falô que num tem nada cum ea. Intão, num dexa ea casá cum ê não. Ê é um rapaiz que não trabaia, um rapaiz que num faiz nada.” Saí lá fora assim/ parece que eu fiquei atá zonza. 525 Saí lá fora e falei assim:”se ê num trabaiá pá zelá de mim, eu ajudo ê. Corage eu tenho pá ajudá ê.” PESQUISADORA: Ó! Hã? INFORMANTE 1: Ah! Papai virô assim:” ea qué casá cum ê, dexa casá.” PESQUISADORA: Isso já era seu J.H.? INFORMANTE 1: Era. Era o J.H. Dipois no oto dia quando maicô o casamento , o sole tava reganhano, tava de 530 istundá. O rapaiz ( ) o casamento cumigo/ ê neim l’em casa num vortô mais. E eu tamém num vi cara dele. Tomô jeriza do J. PESQUISADORA: Tomo o quê? INFORMANTE 1: Jeriza do J. H. Aí ê oiô na janela/ nóis passava assim na istrada ( ) na casa da ( ) . Ê falô aasim: “pode í[r] ixcumungado, cê vai de sole, mais cê vorta debaxo de chuva.” Ah, rapaiz mais põe chuva 535 nisso. INFORMANTE 2: Ah, mais intão teve bão. INFORMANTE 1: Teve bão. PESQUISADORA: No casamento? Oh! INFORMANTE 1: Choveu a noite interinha e dipois de tarde, das quatro hora, dipois do sirviço, veio debaxo de 540 chuva. PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: E tava um sole ragalado. PESQUISADORA: Foi/ a praga desse rapaiz foi forte. Deus me livre! INFORMANTE 1: Foi forte. A praga dele. 545 PESQUISADORA: Mas também a sinhora ficava tratano casamento cum os oto e ó... Depois fugia, uai! INFORMANTE 1: ( Risos) Papai quiria que eu casasse cum rico ou não rico. E tudo casô cum pobre. A que casô mais bem foi a R. Casô cum tale J.de S. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Das veiz o sinhô cunhece ê. 550 INFORMANTE 2: Não. INFORMANTE 1: Do povo/ ê mora no Pacheco aqui. INFORMANTE 2: Não. INFORMANTE 1: É que semana passada teve um rapaiz aqui/ foi quinta-fera que o ( ). TERCEIRO: Foi. O tio O. ainda tava aqui. 555 INFORMANTE 1: Foi quinta-fera. O B. era tio/ tio dele. PESQUISADORA: Tio de quem? INFORMANTE 1: Tio do ( ) marido da R. PESQUISADORA: Ah, ta. INFORMANTE 2: A R. é irmã da sinhora? 560 INFORMANTE 1: É irmã minha. Tamém já morreu. Nóis era treze irmão. PESQUISADORA: Treze? INFORMANTE 1: É. Treze irmão. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 114 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 2: Óia. 565 PESQUISADORA: Tem quatro vivos ainda? INFORMANTE 1: Quatro vivo ainda. PESQUISADORA: E quem que é o mais velho? INFORMANTE 1: Os mais véio já morreu tudo. PESQUISADORA: Não, dos quatro que ficaram. 570 INFORMANTE 1: O mais véio é a M., o A... TERCEIRO: Não vó, dos que ficô é a sinhora. INFORMANTE 1: Ficô ieu. PESQUISADORA: A sinhora é a mais velha? INFORMANTE 1: Eu fique intremeio o A. e a M. é a mais véia, é o A. dipois é ieu. Eu tô aqui uai. 575 INFORMANTE 2: Oh! O pai do V.M. é parente/ é irmão da sinhora? Não, né? TERCEIRO: É o tio Z. INFORMANTE 1: Subrinho. TERCEIRO: O tio Z. é irmão da sinhora, uai. INFORMANTE 1: O Z. M. era irmão. 580 PESQUISADORA: É irmão da sinhora? INFORMANTE 1: Morreu o cumpade M. Morreu ( ) M., J. , cumpade C. PESQUISADORA: Na época da sinhora tinha carro de boi? INFORMANTE 2: Ah! Eu cunheço/ eu cunheci dois irmão da sinhora. Era o pai do V e aquele que mora em Passos que tem um rapaiz dele que trabaia no SAAE que é genro do O. 585 TERCEIRO: O J. pai do R., né? INFORMANTE 1: O J. M. PESQUISADORA: A sinhora vai passiá lá na cidade de veiz em quando ou não? INFORMANTE 1: Ah, eu vô lá só por duença. PESQUISADORA: Credo! 590 INFORMANTE 1: Eu num gosto de lá. PESQUISADORA: Não, mais a sinhora tem que í[r] lá passiá, uai. INFORMANTE 1: Ah, eu num gosto de lá. INFORMANTE 2: Não. PESQUISADORA: Não? 595 INFORMANTE 1: Nem a água lá eu num gosto. PESQUISADORA: Nem a água por que? INFORMANTE 1: Fiquei internada nove dia e a água ia daqui pra lá, num é R.? PESQUISADORA: Mesmo? A sinhora não tomava a água de lá? INFORMANTE 1: Não. 600 INFORMANTE 2: Não, mais a água da cidade é ruim sim. PESQUISADORA: E a sinhora gostá de morá aqui na roça intão? INFORMANTE 1: Eu gosto de morá aqui. Moro aqui nessa casa num é de hoje. Essa que casô cum Z., a M. veio pra cá gatiano. PESQUISADORA: Veio nenenzinho. 605 INFORMANTE 1: Eu morei um ano lá na casa/ nas terra do meu pai. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Mais eu com mũto, poco caso ninguém faiz de mim. Se fizé eu fico até duente. INFORMANTE 2: Aí, tá certo. INFORMANTE 1: ( ) ea quando nasceu. Eu falei assim pra ês: “óia, ô vô ajudá ( ) J. Compra o pano, nóis faiz 610 e economiza. “Ah, compra uma ropa que preste ( ). Ê troxe os pano e eu fui na casa duma tia minha custurá. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: Os pano, porque eu num tinha máquina. Na Mao eu fazia, mai’ na Mao ficava feio. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Choveu um chuvão. Meu tio pegô um animale/ arranjô/ carregano eas, me levô lá em casa. 615 PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Aí ê tava cum umas cana na horta ( ) prantava de tudo, o J. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Era poquinho, mais gostava de ta prantano. INFORMANTE 2: Aí é bão. 620 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 115 PESQUISADORA: Gostava de trabalhá. INFORMANTE 1: O mandiocário que tava trançando assim a rama da mandioca. ( ) cana, cada purrete de cana que ia imbora. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: Papai, abriu a portera e botô o gado na horta. 625 INFORMANTE 2: Ah! Mais aí foi ruim. PESQUISADORA: Oh! INFORMANTE 2: Isso num é bão não. INFORMANTE 1: Eu cheguei, pelejei pá tirá esse gado. Cadê se dá jeito d’eu tirá. Aí chegô um cumpade meu e ajudô a tirá o gado da horta. 630 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: No oto dia eu já falei / que o meu marido é assim se batesse nele aqui assim, pudia batê de cá. PESQUISADORA: Era uma pessoa boa. INFORMANTE 1: Boa. Aí é/ a natureza da T. é do meu/ é do J. PESQUISADORA: T. é a filha da sinhora, a mãe da J.? 635 INFORMANTE 1: É a mãe da J. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Aí eu falei: “ó batiza essa minina e nóis vai imbora. Não vamo tulerá isso mais um cado.” Ficô, pranto um arroiz. Prantô um arroiz, coieu dois alquer e um pedacinho de chão poco maiozinho do que essa casa. Deu que num deu bana pra baná. Arroiz/ daquê arroiz que ês falava Japão. 640 PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 2: Ãhã. INFORMANTE 1: Mais um arroiz graúdo. Papai chegô lé e falô: “o J. vai prantá áqüeas terra de arroiz?” Eu falei: “ah, num sei, papai.” Male. PESQUISADORA: Mal? ((Risos)) Era mal. 645 INFORMANTE 1: É papaiqué vê nóis pás costa. Num falei nada cum ele. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Fiquei quetinha. Guentano aquilo. A mamãe chegô lá “que que teu pai tá falano terra de arroiz lá em casa? Num sei o que que tem...” Eu falei assim: “ó mamãe o J. vai prantá uma terra de arroiz.” “É pra prantá. Pode capiná ( ) pra prantá.” “Quie nóis num vai ficá aqui não.” Pensa que eu dexei ês pô teia na minha 650 casa? Pois sapé. Eu já cunheço do jeito que meu povo era, uai. O irmão mais véio fartava cumê o J. vivo. E meu marido ficô guentano aquilo. PESQUISADORA: Nossa! INFORMANTE 2: É, uai. INFORMANTE 1: Aí eu falei: “uai, eu vô imbora.” 655 PESQUISADORA: Aí cês mudaram? Vieram pra cá? INFORMANTE 1: Aí eu mudei pra cá. A cumade R. C... PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: Aqui era dês morá. A casa tava fechada ( ) intrava no aberto/ a parede tava com cada rombo que era assim ó, de tanto as vaca lambê. 660 PESQUISADORA: O que que tava um rombo? INFORMANTE 1: As vaca... INFORMANTE 2: As parede. INFORMANTE 1: Comeno a parede. PESQUISADORA: Hum? 665 INFORMANTE 1: Aí dipois ranjô um ingastaio aí/ uma cerca ao redó da casa. Passei pá casa, fugão num tinha. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: ( ) PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Passei pra essa casa e num saí dessa casa mais. 670 INFORMANTE 2: Tá veno? PESQUISADORA: E a sinhora ta aqui até hoje? INFORMANTE 2: É, uai. INFORMANTE 1: Agora, meu marido foi criado com os Carvalho. PESQUISADORA: Hã? 675 INFORMANTE 2: Ãhã! INFORMANTE 1: Se num fosse pra mim querê, isso tudo era meu aqui. Mais eu tenho famía e eu quero boas ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 116 amizade num quero cunfusão. INFORMANTE 2: Claro. PESQUISADORA: Tá certinha a sinhora. 680 INFORMANTE 2: É, uai. INFORMANTE 1: As terra é assim, nóis morre e num leva nada. INFORMANTE 2: E a amizade fica pra contá pros oto , né? INFORMANTE 1: Pá toda vida. Ês farta advinhá o que que eu quero. INFORMANTE 2: Aí, tá vemo? 685 INFORMANTE 1: Num quero sabê disso não. INFORMANTE 2: Oh! É importante. INFORMANTE 1: Essa casa vai desmantelano e o fio manda arrumá ela. Eu num gasto um tustão. INFORMANTE 2: É tá certo. INFORMANTE 1: Eu mandei chamá ele aqui pá/que eu falei assim “nóis tá trabaiano. A gente fica de pos/ quem 690 mora assim num pode tirá ninhuma raiz de mandioca pá ninguém, né? INFORMANTE 2: É. INFORMANTE 1: Que num é nosso só. Mandei chamá ele aqui, ele me deu a horta e a casa. INFORMANTE 2: Aí. PESQUISADORA: Oh, que bão, hein? 695 INFORMANTE 1: A horta e a casa é minha. INFORMANTE 2: Aí. PESQUISADORA: Pessoa boa. INFORMANTE 1: O povo acha que aqui é ruim. INFORMANTE 2: Esse povo que a sinhora ta falano aí dos Carvalho é do S. é muito bão. Gente boa, taí. 700 INFORMANTE 1: É. INFORMANTE 2: É, uai. INFORMANTE 1: Inda mais dipois que cuidaram da minha sogra. Ò, coitada. INFORMANTE 2: O S. é do lado da sinhora, né? INFORMANTE 1: Hen? 705 INFORMANTE 2: O pessoal do S. é do lado do Itapixé, num é? INFORMANTE 1: É. INFORMANTE 2: O Z.S., o Z. INFORMANTE 1: O Z., o Z.S. INFORMANTE 2: Ês num é daqui não. 710 INFORMANTE 1: O Z./ o Z. é marido da minha fia M. INFORMANTE 2: Ãhã. INFORMANTE 1: Cunhece o Z. tamém? INFORMANTE 2: Cunheço, uai. PESQUISADORA:O Z. num é o lá da cidade não, né? 715 INFORMANTE 1: Hojê ê tá lá pá cidade. INFORMANTE 2: O Z. não. Não. PESQUISADORA: Não. INFORMANTE 1: Casô véio coitado. Casô de idade. Tem só um minino. Um rapaiz. Mais bão pra ês. Num é por caus[a] que é meu neto não. 720 INFORMANTE 2: O G. foi namorado da fia do Z.S. E engraçado ele sempre foi invocado a sê padre. Ê teve no convento. PESQUISADORA: Ah! A/ da/ ele foi namorado da... Uai, eu isqueci o nome da namorada dele. INFORMANTE 2: D. PESQUISADORA: Ah, é. D. D. Foi namorado da D. É meu rimao mais velho. 725 INFORMANTE 1: Pá casá cum oto agora. PESQUISADORA: É, ela casô. Meu irmão foi namorado dela, mais ele gostava de seminário. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Aí ele largô dela e foi morá no seminário. Aí depois ele saiu do seminário. Saiu e casô com uma moça da cidade. 730 INFORMANTE 2: E eu ainda penso viu, G. O tanto que essa aqui é mansa. PESQUISADORA: Se tivesse casado ca D. INFORMANTE 2: A ota é uma brabeza. É uma muié custosa, num tô falano mal não. INFORMANTE 1: A D. é boa. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 117 PESQUISADORA: A D. é boa. A mulher dele é teimosa. 735 INFORMANTE 2: É teimosa, mais é teimosa memo. E absurdo. PESQUISADORA: É brava. INFORMANTE 2: É boa pessoa/ tá falano assim do gênio da pessoa e não da pessoa em si. INFORMANTE 1: Arranja um café pá nóis. TERCEIRO: Que vó? 740 INFORMANTE 2: Eu quero é tomá água. PESQUISADORA: Eu acho que ele cumeu hoje uma carne muito salgada porque ele ta bebeno água toda hora, uai. INFORMANTE 1: Quem? Seu pai? INFORMANTE 2: Eu acho que eu isquentei o coro. 745 PESQUISADORA: Bebendo água toda hora. INFORMANTE 1: Que que ele arranjô? PESQUISADORA: Uai, num sei acho que ele comeu uma carne muito salgada. INFORMANTE 1: Hum. PESQUISADORA: Agora a sinhora num faiz cumida mais não? 750 INFORMANTE 1: Não, quem faiz é ela. Quando num é ela, é o O. O O. tem medo da fumaça vim nos meu óio. PESQUISADORA: O O. num é casado não? INFORMANTE 1: Não, ficô pá me ajudá. PESQUISADORA: Ah, intão ele ajuda muito a sinhora. INFORMANTE 1: ( ) Ê mora cumigo aqui, é só os dois na casa. 755 PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: Hum hum. PESQUISADORA: É? Que bão! Intão ele é uma companhia e tanto pá simhora. INFORMANTE 1: É. PESQUISADORA: Daqui uns dia ele já tá aí de volta. 760 INFORMANTE 1: ( ) casa não/ num tem água lá fora. PESQUISADORA: Tem. É que ele qué uma vasilha pra por laranja. INFORMANTE 1: Pô laranja? PESQUISADORA: É que ele pegô um tanto lá na roça. INFORMANTE 2: A sinhora qué ioa? Laranja ioa? 765 PESQUISADORA: A sinhora quer laranja ioa? INFORMANTE 1: Ô! É bão. Meu fio/ laranja e banana é cum ele. PESQUISADORA: É? Daqui uns dia ele tá de volta pra fazê companhia ´pra sinhora. INFORMANTE 1: É. Isso memo. Tô pidino a Deus pá isso. PESQUISADORA: A sinhora deve tá inquieta, né? 770 INFORMANTE 1: Minha vida é rezá e pidi a Deus. PESQUISADORA: Intão, a sinhora deve tá inquieta porque é ele que fica aqui com a sinhora. INFORMANTE 1: ( ) Tem hora que ê fica quetinho, parpa nas perninha e fala “mamãe tá ficano magrinha.” PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 1: “Mamãe ta cum a perna ruim. Bem! Dexa eu vê/ levanta vê se tá cuma febre... 775 TERCEIRO: Nem durmí direito, minha sogra diz que ela tá durmino... INFORMANTE 1: Como cê chama? PESQUISADORA: Eu chamo G. INFORMANTE 1: ( ) ((Risos)) PESQUISADORA: É um nome diferente, né? 780 INFORMANTE 1: É um nome diferente. PESQUISADORA: Tomá um cafezinho. Gostoso. Eu gosto tanto de café. INFORMANTE 1: Café tamém eu sô chegadinha. Eu tive quinze dia/ quinze ano sem vista. Dipois, em antes desse povo casá ( ) /quando o I. / ficô ca mãe dele. Ele ficô desse tamanho aqui ó. Criô cum nóis aqui cumu fio, né? Intão, o I. foi trabaiá na osina quando ê ficô moço pá casá. Garrá diante da inxada, hein? Casamento faiz 785 coisa. PESQUISADORA: Faiz coisa. Tá vendo? INFORMANTE 1: ((Risos)) PESQUISADORA: Casamento faiz coisa. A sinhora tem razão. INFORMANTE 1: Dipois de trabaiá ê ficô aqui. 790 INFORMANTE 2: Vô pô meia dúzia de limão aqui tamém. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 118 INFORMANTE 1: ( ) PESQUISADORA: Não pode deixar aí mesmo. Num tem importância. INFORMANTE 1: Fui lavá o fugão ali em cima/ naquea brasa ali ó. PESQUISADORA: Hã? 795 INFORMANTE 1: A escadera dueu e eu falei: “num é nada e cuntinuei a trabaiá.” Somei cum nada não. A coluna virô. INFORMANTE 2: Ei! PESQUISADORA: A coluna virô? INFORMANTE 1: Virô. Ó eu tinha um ovo aqui ó. É torta a coluna. 800 INFORMANTE 2: Hum hum. PESQUISADORA: Isso foi de trabalho? INFORMANTE 1: Foi de trabalho. PESQUISADORA: Olha. INFORMANTE 1: Ela é torta. Aqui lá/ minha coluna num indireitô não. Fiquei nove dia no hospitale. E num 805 indireitô. PESQUISADORA: E faz muitos anos? INFORMANTE 1: Faiz ano isso. O I. ainda era sortero. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE 1: Já tem rapaizinho grande. 810 PESQUISADORA: Mais essa moça tem filho grande? TERCEIRO: Eu tenho. Meu minininho vai fazê deiz ano já. PESQUISADORA: Ah! Pensei que já era um moção. INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: Ela é tão moça. 815 INFORMANTE 1: Mais tá cresceno mũto. Lá na cidade ê ficava trancadinho lá. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Foi bão comprá esse pedaço de chão aqui, o O./ o I. INFORMANTE 2: Bão. INFORMANTE 1: Ê veio pra cá, virô home. Mais tudo que é a turtura, né? 820 PESQUISADORA: Tudo que é o quê? INFORMANTE 1: ( ) o passarinho quando ê ta na gaiola ê num cresce. Assim é o minino. TERCEIRO: Ea tocava a campainha. Eu trancava o portão porque ele tinha quatro aninho, né? Ê era piquinininho. E ê chegava lá no portão. Quando via ês, ê gritava memo pra ês trazê ê pá roça ( ). PESQUISADORA: E agora mora na roça. 825 INFORMANTE 1: E gosta. PESQUISADORA: E gosta. INFORMANTE 1: Fala pra ês/ isturdia o I. brincô aqui, tá trabaiano na osina à custa de mim ca mãe dele. Coitadinho, né? PESQUISADORA: Hum. 830 INFORMANTE 1: A M. é mũto duente. Tem diabete, a M. INFORMANTE 2: Ah, sei. INFORMANTE 1: Aí ê trabaia de moto. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Vai na osina e vorta cá todo dia. 835 PESQUISADORA: Mas serviço é bom, né? INFORMANTE 2: Mais ê tá trabaiano na ciadde? Ê vai pá cidade? TERCEIRO: Vai. INFORMANTE 1: Tá bão. Tá cum saúde. PESQUISADORA: Trabalhar é. Tá cum saúde. Isso mesmo. 840 INFORMANTE 1: Eu tô cum medo quando pegá a chovê. PESQUISADORA: Por quê? INFORMANTE 1: Ah, fica mais custoso. PESQUISADORA: Ah, pra ele ir de moto, né? INFORMANTE 1: Prele í[r] de mota, né? 845 PESQUISADORA: Ah, moto é bom é no calor. Tempo seco, né? INFORMANTE 1: Aí ê foi e falô assim que eu ia mudá pá cidade. Ê falô “eu num vô. Eu vô mora aqui com o vô Z. e a vó M.” ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 119 PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 1: ( ) 850 PESQUISADORA: Aí ele num quis ir pra cidade não? INFORMANTE 1: Num qué í[r] pá cidade não. PESQUISADORA: Gracinha. INFORMANTE 1: E ê lá na cidade/ nóis chegava lá. “Mãe a campainha tocô. È o tio O. ca vó.” PESQUISADORA: Aí ele ficava doidinho pra vir pra roça? 855 INFORMANTE 1: Não, ê quis/ mais a mãe num dexava. PESQUISADORA: Ah! INFORMANTE 1: O rabicho dele cum a mãe é grande. Falei gente do céu cum esse rapaiz. PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 1: Chega aqui/ o dia que ê num vem cá, a gente acha ruim. Pertinho aí. 860 INFORMANTE 2: É uai. PESQUISADORA: E cadê ele agora? INFORMANTE 1: Tá pá iscola. TERCEIRO: Tá pá iscola. PESQUISADORA: Hum. 865 INFORMANTE 1: Ê tá istudano. PESQUISADORA: Ele tá na terceira série? TERCEIRO: É, deve sê. PESQUISADORA: Estudar é preciso também, né? Bom estudar. INFORMANTE 1: O O. toda vida duente, mais agora de certo tempo pra cá, coitado. Ê disquilibrô memo. 870 INFORMANTE 2: Ê. É ruim. Aí é ruim. PESQUISADORA: Naõ, mas Deus ajuda. A sinhora tá rezando aí. A sinhora vai vê, ele vai melhorá loguinho. INFORMANTE 1: Eu deito na cama e tô vemo aquê jeito dele assim. Se arrumasse aquea cama. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Endereitava. Troxe a cama, desmanchô a cama dele. Toxe áqüea ali ó. 875 PESQUISADORA: Essa aqui que tá aqui de frente? INFORMANTE 1: Que tá aqui na frente. Ê dorme aqui. PESQUISADORA: Hum? INFORMANTE 1: Ê durmia no quarto de lá. PESQUISADORA: Sei. 880 INFORMANTE 1: Aí eu titrei a cama dele de lá e passei pá cá pá ficá fácil pá mim ta desceno e subino. PESQUISADORA: Hã? INFORMANTE 1: Que ele dá um gimido, eu tô rente cum ê. INFORMANTE 2: Aí, uai. Tá vemo? PESQUISADORA: Aí ta vendo? Um cuida do outro, né? 885 INFORMANTE 1: É, um cuida do oto. INFORMANTE 2: A sinhora tá sacudida memo, viu? Que ó ( ). PESQUISADORA: A sinhora cum/ é 96 ou 94? 94, a sinhora tá forte. INFORMANTE 1: 94. INFORMANTE 2: Forte dimais. Vixe a sinhora tá bichareda. 890 PESQUISADORA: Enxergando bem, andando. INFORMANTE 2: É. INFORMANTE 1: Se eu vevê até feverero... PESQUISADORA: Fazendo até arte, né? INFORMANTE 1: Não, num faço arte não. 895 PESQUISADORA:Num pode é fazer arte não, se não a turma fica preocupada. INFORMANTE 1: Se dé vontade de fazê arte, eu deito. PESQUISADORA: É. Boa ideia. TERCEIRO: Nem deitada, ela num sussega. PESQUISADORA: Ê dona E. 900 TERCEIRO: Uai, ela deitô ali isturdia. Eu tava/ o tio O. já tava internando vó? Não! Ele foi pra cunsurtá e num tinha vino. PESQUISADORA: Hã? TERCEIRO: Aí eu falei: “vó, eu vô ligá pro I. quando ele vim, inveiz dele vim direto. Ele chega lá e procura sabê dele, né?” 905 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 120 INFORMANTE 2: É, uai. TERCEIRO: Onde que ê tá. Ela tava deitada lá e eu fazeno janta aqui e ela deitada. Já de tardezinha memo. PESQUISADORA: A sinhora feiz arte? TERCEIRO: É aqui dento o telefone é ruim, né? ( ) de área. INFORMANTE 2: Hum hum. 910 TERCEIRO: Fui pra perto daquela árve ali. Liguei pra ele e falei: “cê chega aí e num vem imbora não. Procura o tio O. que ele foi pá cunsurtá e ainda não veio.” Aí ê falô: “não, eu vô vê cadê ele aqui intão.” E vim imbora pra dentro. Quando cheguei ali na porta e falei “vó, eu já liguei pra ele”, cadê a vó em cima da cama? INFORMANTE 2: Ei! PESQUISADORA: A sinhora tinha caído? 915 INFORMANTE 2: Não. TERCEIRO: Foi o que pensei. Aí oiei ali num tinha ninguém. Tava iscuro no quarto. Num tinha ningue. Fui no banhero, ela num tava. Fui no oto quarto lá num tava. Aí eu falei: “ ela caiu e rolô pá dibaxo da cama.” Pensei, né? PESQUISADORA: ((Risos)) A cara dela. 920 TERCEIRO: Aí entrei ali acendi a lâmpada , oiei/ falei”uai”/ pronto cabô! Aí cheguei aqui na porta e dei um tamanho dum grito nela. “Eu tô aqui.” “Vó que que a sinhora tá fazeno aí?” Tava dentro da horta de cove. INFORMANTE 2: ((Risos)) PESQUISADORA: ((Risos)) INFORMANTE 1: Tava aguano a horta. 925 PESQUISADORA: Mas a sinhora, hein? Ela pensando que a sinhora tava durmindo, e a sinhora tava dentro da horta de couve. TERCEIRO: Ela ficô ali. Eu saí e ela ficô deitada. INFORMANTE 2: É, uai. PESQUISADORA: A sinhora só isperô ela virá as costas, né? 930 INFORMANTE 1: Uai, se eu falasse ea num ia dexava. Intão eu fui lá aguá a horta. PESQUISADORA: ((Risos)) A sinhora é esperta. Ô dona E. agora nós vamos dar um susseguinho pra sinhora. Oto dia eu volto. INFORMANTE 1: Ah, mas ta bão. Eu quero que cê fica o resto do dia cum nóis. PESQUISADORA: Intão, mais aí oto dia eu volto porque tem que ir lá pra cidade ainda . 935 INFORMANTE 1: Pá cidade? PESQUISADORA: Aí eu volto o dia que o O. tivá aí que a gente bate um papo cum ele também. INFORMANTE 1: Hum. PESQUISADORA: Certo? INFORMANTE 1: Certo. 940 PESQUISADORA: Aí eu volto pra gente cunversá mais um poquinho. INFORMANTE 1: Bão. PESQUISADORA: Oi! Tudo bão? INFORMANTE 2: E aí cumé que vai? INFORMANTE 1: Aí o rapaiz que eu tô falano. 945 PESQUISADORA: É neto da sinhora também? INFORMANTE 1: É neto tamém. É o que passô susto. Foi ele. Que eu ( ) ((Risos)) PESQUISADORA: ((Risos)) Chegô aí. INFORMANTE 2: É, uai. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 16 INFORMANTE 1: M.J.R. (Analfabeto, 78 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: C.A.M. (Analfabeta, 76 anos, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 INFORMANTE 1: Nossa Senhora. PESQUISADORA: Ela é levada? INFORMANTE 1: Ihh! Ela ganha da J. da C., do Gaúcho que é mais velho do que ela, ela ganha dês tudo. PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: Ela passa a mal ela vai embora. 5 PESQUISADORA: Olha, ela brinca com cachorrinho. INFORMANTE 1: Não tem medo de nada, não, ela não tem medo de nada, não tem medo de escuro, não tem medo de nada não. PESQUISADORA: Uai, até eu que sô grande tenho medo de escuro, uai. INFORMANTE 1: Ih, mas tem minina que não tem não. Olha, o Daniel estava reclamando da casa, estava na 10 casa da Lúcia, então esses dias agora a Lúcia tá vindo pra qui, viu? Vai ficar um pouco aqui, e ela dorme muito tarde, tarde memo, é 11h00, 11h30, meia noite, aí tá no quarto dali, nossa, cum as luiz tudo apagada, ela sai de lá no escuro, e vai parar lá no meu quarto, a porta tá aberta, ela vai lá no meu quarto. PESQUISADORA: Ah, não é perigoso ela lá perto daquela moto, não? INFORMANTE 1: Não, esses dia ela subiu na raia dela, e subiu nela, uai. 15 PESQUISADORA: É? INFORMANTE 1: Ih. Ê, ê... PESQUISADORA: Que isso. INFORMANTE 1: Ela subiu na roda lá na raia, lá ia subino em riba dela, vem cá oh. INFORMANTE 2: O Rosângela, vem cá, a Gisele tá querendo saber da vida da roça como era, se era fácil. 20 PESQUISADORA: Vai ter que me contar agora. INFORMANTE 1: Ocê pó contar, não precisa de eu contar não. INFORMANTE 2: Não, ocê qui sabe. PESQUISADORA: Não, você que vai dá notícia pra nós, uai. INFORMANTE 2: Não, que isso. 25 INFORMANTE 1: Vive na roça toda vida, e toda vida foi custosa, uai, não precisa saber. PESQUISADORA: Não, mas eu quero saber os detalhes, se era gostoso, como vocês faziam quando você era pequeno lá na roça, como é que era custoso, no que trabalhava, a ferramenta. INFORMANTE 1: Trabalhava muito, fazê, fazia pouco mesmo. PESQUISADORA: Ah, eu quero que você me conta essas história da roça, uai. 30 INFORMANTE 2: Como é que era de primero. INFORMANTE 1: De primero a coisa era feia né? Não era fácil. PESQUISADORA: Não era fácil não, né? Porque a coisa era feia Loi? INFORMANTE 1: Porque não tinha um movimento, uai, não tinha recurso. INFORMANTE 2: Não tinha recurso, era tudo... 35 PESQUISADORA: Aí os dois aproveitam os dois de uma vez. INFORMANTE 1: O que? PESQUISADORA: Um ajuda, vai lembrando. INFORMANTE 2: É, uai. INFORMANTE 1: Quando eu morava lá na ponta da serra vinha aqui, ou era de cavalo, ou de caminhão leitero, 40 mas... PESQUISADORA: Aonde que era na ponta da serra, era que lugar? INFORMANTE 1: Lá perto da, até debaixo d’água. PESQUISADORA: Na onde? INFORMANTE 1: Tá debaxo d’água. 45 PESQUISADORA: Ah, era em São José da Barra, antiga? INFORMANTE 1: É, Tinha São José da Barra, mas num era São José da Barra. PESQUISADORA: Teve uma vez que você falou um negócio de um porto que atravessava ali, quando não era alagado ainda. INFORMANTE 1: Tinha, porto, tinha. 50 INFORMANTE 3: Você precisa saber de que a história? PESQUISADORA: Não, história antiga, é esse negócio de fazenda. INFORMANTE 1: Como é que era, pessoal vivia de primero. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 122 INFORMANTE 3: Ah, como funcionava? PESQUISADORA: É. 55 INFORMANTE 1: Antigamente pra ir pro Glória aqui não passava no barco, não tinha barco não, tinha só o Porto do Gordurinha lá em cima. PESQUISADORA: Porto do porto? INFORMANTE: Porto do Gordurinha. PESQUISADORA: Porto do Gordurinha era perto ali do Glória? 60 INFORMANTE 1: Pra riba do Glória. INFORMANTE 2: Antes do leitero, tinha que mexer com creme lá, né? INFORMANTE 1: Era creme, catava leite e carregava na garupa. INFORMANTE 3: Aquele meio nosso lá antigamente, nem estrada tinha de passa caminhão, né? INFORMANTE 2: Pois é, uai. 65 INFORMANTE 1: Zé Curinga que é bão pra contá história, que ele era o cremeiro, fazedô de creme lá. PESQUISADORA: Cremero era quem... INFORMANTE 1: Puxava creme. PESQUISADORA: Mas o leite não é in natura não? INFORMANTE 1: Não, desnatava ele. 70 PESQUISADORA: Desnatava ele, e vendia a nata? Ou não? INFORMANTE 1: Vendia só a gurdura. INFORMANTE 3: É, vendia só a nata, o leite dava porco. INFORMANTE 1: O leite espumava dava porco. INFORMANTE 3: Leite magro, né? 75 INFORMANTE 1: Leite magro dava pro porco. INFORMANTE 3: E é o memo que dispeja 50 litro de leite duma veiz dentro do... INFORMANTE 1: E eu ia espera 200, 300. PESQUISADORA: E como chamava a maquininha que tirava o trem? INFORMANTE 3: Desnatadeira. 80 PESQUISADORA: Desnatadeira? Hoje em dia não tem isso mais não, né? INFORMANTE 1: Não, é daquela época. INFORMANTE 3: Ah, ninguém pode ter né? INFORMANTE 2: Ah, não sei não, o povo de fora, parece que até a casinha até tinha caído. INFORMANTE 3: São pecinhas, é 30 e tantas pecinhas. 85 PESQUISADORA: Era? INFORMANTE 3: Era. PESQUISADORA: Nossa, mas era coisa demais, tinha que contar. INFORMANTE 3: 36 pecinha, não é? PESQUISADORA: Montava e desmontava? 90 INFORMANTE 1: Tinha que montar, é, montava, depois desmontava e lavava. INFORMANTE 3: E se ocê não soubesse ir colocando nos pratinhos, eram pratinhos tipo uns pires assim, só que mais fundinho, e cum buraquim no meio, se ocê não soube colocar aqueles pratinho num dava certo. INFORMANTE 2: E era gozado que a bicha quando cê rodava ela sem nada tinha uma velocidade, né? Ela vira um palito assim. 95 PESQUISADORA: Mas ela pesava a medida que ia tirando, ou não? INFORMANTE 1: Não. PESQUISADORA: Ela era sempre leve? INFORMANTE 1: Não, cê ia tocando, ela ia, tinha dois canos, um saía leite magro, que já tinha leite magro, e o outro creme. 100 INFORMANTE 3: Saía nata num caninho, e o leite por outro. INFORMANTE 1: E o leite por outro. INFORMANTE 2: Pra ará a terra era mais fácil que hoje. PESQUISADORA: Como que arava terra naquela época? INFORMANTE 1: De boi, uai. 105 PESQUISADORA: De carro de boi? INFORMANTE 3: Não, de boi no arado. PESQUISADORA: Ah, põe o arado no boi? INFORMANTE 1: Punha, punha o arado. PESQUISADORA: O que mais que tinha que não usa hoje? 110 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 123 INFORMANTE 1: Nossa senhora! INFORMANTE 3: Ara era, nossa, desanimava, um risquim pra lá, um risquim pra cá, ocê chegou a ver, né bem? INFORMANTE 2: Cheguei, uai. INFORMANTE 3: Ocê lembra. INFORMANTE 2: Tá doido, o povo ficou preguiçoso hoje, fico bão, né? 115 INFORMANTE 3: Arava aquele monte de chão, aqueas, laderão na divisa do Teca, né? INFORMANTE 2: Hum, tá loco hein, eu num isqueço uma veiz que eu fui leva cumida, eu lembro. INFORMANTE 1: Ou era cavalo, ou era carro de boi. INFORMANTE 2: Eu fui leva um cumê lá pro pai... PESQUISADORA: Carro de boi também era usado na época? 120 INFORMANTE 1: Só tinha carro de boi. PESQUISADORA: Ali em Jacuí tem o encontro de carro de boi todo ano, eu fui lá esses dias, tem um monte de carro de boi no caminho. INFORMANTE 2: O B., eu lembro que eu vi uma cobrona, eu vortei feito doido por aquela ladera abaixo. INFORMANTE 1: Não é do meu tempo não, não é do meu tempo não. 125 PESQUISADORA: Não, mas pode contar o que não é do seu tempo também, tem problema não, quanto mais antigo melhor. INFORMANTE 1: Nem do tempo do meu pai também, eu acho que num era, era não. Diz que antigamente ês puxava café aqui de Carmo, pa Campinas, pa embarca pa Santos. INFORMANTE 3: Uai, ocê num viu o... 130 PESQUISADORA: E puxava com carro de boi? INFORMANTE 1: Carro de boi. INFORMANTE 3: Reportage aí na televisão um dia desse, que o pai dele fazia isso? É, um veinho de 70 e tantos anos pareceu na televisão num carro de boi, contano pro reporte, que o pai dele levava café pro Porto de Santos, e trazia sal e querosene de vorta. 135 INFORMANTE 1: É, levava, aí dispois mudou pra Casa Branca, aí veio pra Casa Branca. INFORMANTE 2: Ficou mais perto um poco. INFORMANTE 1: Mais perto, levava café, café, açúcar batido, e trazia arame, trazia querosene. INFORMANTE 3: Querosene, tal. INFORMANTE 1: Tal. 140 INFORMANTE 2: Aquelas coisa que num tinha aqui, né? INFORMANTE 1: Aquelas coisa que num tinha. INFORMANTE 3: Porque antigamente o povo ia pra cidade só pra comprá. INFORMANTE1: Num tinha. INFORMANTE 3: O sal e o querosene, porque o L. fazia na roça. 145 PESQUISADORA: E você trabalhava na roça? INFORMANTE 1: Trabalhava. PESQUISADORA: Trabalhava junto com seu pai? INFORMANTE 1: Era. INFORMANTE 3: Era mais tirar leite mesmo, e mexer com carro de boi. 150 INFORMANTE 1: Não, fazia de tudo, fazia de tudo. PESQUISADORA: E levava, como você fazia pra comer no meio dali, como diz a história? Como você sabe? Levava comida? INFORMANTE: Levava, uai. PESQUISADORA: Mas comia fria? 155 INFORMANTE: Não, quando nós usava, não [...] eu num cheguei a fazer isso não, mas pra trás ês fazia, a comida no caminho memo, levava toicinho, levava feijão, macarrão, arroiz. PESQUISADORA: Mas como faziam comida? INFORMANTE: No chão, buraco no chão, as pedra aí, as panela. PESQUISADORA: E fazia comida. 160 INFORMANTE: Tinha um trem que chama, eu num dô conta de fazê, F. do Mato feiz, eu não tenho, se eu fô tentá fazê, eu acho que num, chamava tripeça. PESQUISADORA: Tripeça? INFORMANTE: É, é uma, é um pau, três pau sim óia, e trançava, num é arame num era, era cipó em riba assim, então cumo ele era arto assim, abria as perna dele pra lá, e pra lá as três perna só, uma pra lá, outra pra cá, punha 165 um gancho ali, pindurava panela, e chegava fogo debaxo e só cuzinhava o arroiz, o feijão. PESQUISADORA: Chamava tripeça? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 124 INFORMANTE: É, tripeça. PESQUISADORA: Por causa que esse trabalho tinha três pés, né? INFORMANTE: É, três pernas. 170 PESQUISADORA: Aí o povo tentava fazer. INFORMANTE 2: É igual aquelas de sentá, aquelas três peças de sentá... INFORMANTE: É, só que ele é marrado cum cipó PESQUISADORA: O que era esse negócio? INFORMANTE 2: Era um negócim redondo assim, B. chego a vê, né? Tipo uma tábua, bem redondim, furava 175 um buraquim no meio, e punha três pezinho. PESQUISADORA: Ele chamava tripeça também? INFORMANTE 2: Falava tripeça. PESQUISADORA: Tripeça. INFORMANTE: Lá ficava a noite inteira, era gostoso sentá, ele era meio [...] 180 PESQUISADORA: Tá vendo, vocês tão lembrando um monte de coisa que usava antigamente, não usa hoje mais tripeça. INFORMANTE 2: Nossa, G., tem coisa demais, eu memo tem muita coisa que eu já fiz hoje, nem existe mais. PESQUISADORA: Você já fez... INFORMANTE: Você num asseste Terra de Minas? 185 PESQUISADORA: De vez em quando. INFORMANTE: Ah, você pricisa assistí todo sábado o Terra de Minas que se, aí, Nossa mãe. INFORMANTE 2: Só passa coisa antiga, o Terra de Minas é, cada coisa. INFORMANTE: Di primero era candeia. PESQUISADORA: Chamava candeia? 190 INFORMANTE: É, chamava. PESQUISADORA: Oh, num sabia. INFORMANTE: A candeia usava é azeite, um pano assim, um pedaço de pano, turcia ele. INFORMANTE 2: Turcia ele pra fazê, igual fazê pavio de lamparina, né? INFORMANTE: Ficava pindurado e chegava fogo, aí quebrô, um trem bão hoje pra pessoa, hoje a gente tá tendo 195 pouco, se arrumá uma candeia ocê cumeça a durmi pra oiá nela, é uai, dá sono. PESQUISADORA: Mas e a fumaça, como é que faz? INFORMANTE: Mas a candeia num dá fumaça, né? INFORMANTE 2: Ah, dá, aquele óio de mamona, mas querosene é a pió, eu acho. PESQUISADORA: Aí tá vendo, então, mas na sua época usava candeia? 200 INFORMANTE: Usava, lá na casa do João. INFORMANTE 2: E eu num lembro lá em casa deu, da lamparina, mas lá na casa do Nirso tinha candeia, ficava uma num quarto, uma na varanda quea tinha, e uma na cuzinha, ficava pinduradinha a lamparina, nem tirava de lá. PESQUISADORA: Ah, mas o povo antigamente também costumava dormí cedo, né? Não tinha muito o que 205 fazer. INFORMANTE 2: Ês ia durmi, a maioria das pessoa ia durmi, né? PESQUISADORA: Escurecia e ia dormir. PESQUISADOR: Teve uma época que o povo andava bastante, essa época mais recente o povo andava bem pras roça, mas teve uma época mais pra trás que eu acho que era bem quieto, não era? 210 PESQUISADORA: E quando você era moço morava lá na roça? INFORMANTE: É, morava. PESQUISADORA: E como é que vocês se divertiam lá, tinha baile? INFORMANTE: Tinha, era baile. INFORMANTE 2: A diversão era baile e jogo de bola, né? 215 INFORMANTE: Mas é muito boa, porque hoje num tem nem isso. INFORMANTE 2: O trem num presta, né? Só briga. INFORMANTE: A diversão de hoje, quando eu morava na Ponta da Serra memo, nós andava léguas atrás de uma festa lá, a festa da Barra, era na Cachoeira, era. PESQUISADORA: Você lembra da época que tava construindo Furnas ou não? 220 INFORMANTE: Lembro, uai. PESQUISADORA: Então conta a história pra nóis de Furnas. INFORMANTE: Eu cunheci lá muito em antes de construí, lá eu vi construí, eu fui lá muito em antes de fazê Furnas, não tinha nada, que a Furnas, fazê ela foi fáci, foi quato ao, mas estudá ela foi 10 anos. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 125 INFORMANTE 2: Eles diz que enchia saco, saco de pano cheinho de lambari só nesse tal de [...], os pexim batia 225 lá e.... INFORMANTE: No tempo da arribação, ês pulava... PESQUISADORA: Arribação era o que? INFORMANTE: Piracema. PESQUISADORA: Ah, Piracema. Eles iam subir na correnteza, falava era arribação? Aí, tá vendo? Altas coisas, 230 arribação. INFORMANTE: Nossa senhora, aí firvia de gente de Piracicaba, São Paulo, firvia de caminhão pra pega peixe lá, uai, tinha muito Jaú. PESQUISADORA: E você lembra na época que inundou? INFORMANTE: Lembro, uai, foi dia 9 de novembro de 72. 235 PESQUISADORA: Foi quando inundaram a... INFORMANTE: Fecharam as comporta, ês avisaro os da reserva, avisô o padre, deixou recado, se tive casa lá tira, que dia 9 vai fechá. PESQUISADORA: E aí tirou os povo tudo das casas. INFORMANTE: E aí tiro o povo, o povo já tinha saído quase tudo, purque ês sabia que ia fecha memo, né? B. 240 lembra bem. PESQUISADOR: Não, eu lembro, bem pouco assim, mas eu lembro, uma pessoa que tinha assim. INFORMANTE 2: Ele tinha mais que 11, ocê tinha o que, uns 10 ano? PESQUISADOR: Eu tinha 8, tinha 8 anos. INFORMANTE: Tava muito pequeno, né? 245 INFORMANTE: Mas o studio dela começou em 48. PESQUISADORA: Então foi em 62 que inundaram? INFORMANTE 2: Só o Pedro agora, Pedro... INFORMANTE: Começo a fazê e fecho, o isso em 68 fechô, o estúdio dela em 48 fechô... PESQUISADORA: Passou 10 anos pra estudar? 250 INFORMANTE: É, as primera pessoa que apareceu lá, foi num domingo, eu lembro como se fosse hoje, nóis ia pra Barra, eu e o pai a cavalo, nós tupemos com dois, três homes a pé, vestido de ropa amarela, aí parô tranquilo, ês pergunto o que tava fazeno, ês falô que tava fazeno medino marco de avião, ocê num lembra aquele marco de avião que ocê acho lá nas Areias? Então, aí ia... PESQUISADORA: Os marco de avião? 255 INFORMANTE: Era uma pedrona com metro de bronze em cima. PESQUISADORA: O que é, marco de avião? O que é o marco de avião? INFORMANTE: É um marco botava no chão, o avião passava mais ou menos numa direção, ocê sentava no chão, ficava um arto assim e vinha o avião lá de cima, es fotografava aqueas peça lá que se usava no aparei dês, lá na Serra da Lacuna tem uns fincado, tem otros dibaxo d’água. Aí ês aparecero, tinha uma [..] lá, midino, e 260 coisa, vem midino, vem vindo, parecia, sumia, parecia, sumia, e depois ês ia deceno rio abaixo. Mediro a água... três, quatro, cinco, mediu a água 5 anos, isso óia numa marca lá, esse eu fui lá muito, o J. M. pegô pra marcá pra ês, pegô o serviço, ês foi lá, pois numa régua numerada lá, marca pra cá, caiu no barranco, então dentro de 5 ano, todo dia ocê tinha que i[r] lá pra vê o tanto que a água subia, e o tanto quela abaxava, tinha que marcá no caderno pra depois, de três em três meis, ês vinha, pegava aqui, e passava pro papel, de três em três meis es 265 vinha pra passa pro papel, quando chuvia muito a água entava muito, quando baxava entrava no chão, foi quatro ano fazeno isso. PESQUISADORA: Depois que eles construíram a estrutura da usina? Vamo voltar na roça, a roça é muita assombração ou não? INFORMANTE: Ês falava, viu? Nunca vi não, ês falava de dia, mas eu nunca vi não. 270 PESQUISADORA: Mas o senhor sabe umas histórias boa de assombração aí ou não? INFORMANTE: Ês falava que tinha, sombração num existe, sombração é um medo, se você tive medo, essa crença sua faiz sombração procê, ocê anda a pé. PESQUISADORA: Uai, credo. INFORMANTE: É, uai, ocê vai no escuro de noite, ocê vai relando na carça, essa barra na carça na otra aí, ocê tá 275 cum medo, tem um trem atrás de mim. PESQUISADORA: É verdade. INFORMANTE 2: É verdade, A. N. aconteceu isso cum ele, uai, ele saiu de São Pedro, aquea vendinha que tinha ali perto do J., num sei se ocê lembra, e foi pa casa dê, aquele tempo num era jeans, era brim, né? Nele andá, ia fazeno assim as perna, né? Aí quanto mais ele curria, mais baruio fazia, né? Aí gritano de longe, pra mãe dele 280 abri a porta, e aí ela: “O que é, T.?” Ah, tem um sombração trás de mim, que vem correno, não tem nada atrás ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 126 docê, uai, aí ela falô assim pra ele, a cuzinha dês lá era cumpridona assim, que nem essa área. Ea falo: “Anda pra lá, pra mim vê uma coisa.” Aí ele andô, a carça feiz baruio, aí a sombração é a carça. PESQUISADORA: Assombração tá junto de você. INFORMANTE: Aquea junto da figuera, hoje em dia tá lá uai. 285 PESQUISADORA: Mas como é a história? INFORMANTE: Ês fala assim que tem um tacho de oro, e um cardeirão de oro interrado lá, mai num sei. PESQUISADOR: A figueira era plantada de cabeça pra baixo, não é? INFORMANTE: A figueira era plantada de cabeça pra baxo. PESQUISADORA: A figueira? 290 INFORMANTE: É, a raiz da figueira tem essa artura, ah, eu tinha uns 6, 5 anos, 6 anos, nós fez um piquinique lá, depois disso eu passei lá muntos ano, muitas veiz, primera veiz que passei lá, era uns 5 ano, nós feiz um piquenique lá, era tudo debaxo dela, a raiz era dessa artura do chão, e os gaio dea é baxinho assim, pra baxo, pro lado do chão, o gaio cresce e cresce pro lado do chão, ele vai só assim pra frente e pro lado do chão, lá tinha a turma, muita gente falava que via isso e via aquilo lá. 295 PESQUISADORA: Aquele do cara dos cabritos lá? INFORMANTE: O bendito, disse que viu um cabrito lá, outro dia passou lá, num tinha rastro de nada, num tinha nada, e os minino do Z. L. tamém, ês passava pur nóis e contava esse causo, isso eu num contei não, saía da roça, era de tarde, os três, F., [...] e foi aí os três, pronto, a estrada de carro passava berano ela, e os três juntinho assim. Aí tampano o pé assim, e num sei se é o M., acho que é o L., acho que o M. ia na frente, diz que levantô uma [...] 300 assim, óia, é três moça, mas três moça bunita, moça arrumadinha travessano na frente da estrada assim, travessano, andano no rumo da estrada sim, óia pra frente, ele virô pra trais, e falo pro M.: “uai, M., qual é aqueas três moça que lá vai ali? Aí, quele virô pra frente já num viu mais nada. PESQUISADORA: Ai quando ele virô, falo com M., cadê moça. INFORMANTE: Cadê a moça, num tinha ninguém. 305 PESQUISADORA: Já tinha sumido tudo. INFORMANTE: Tinha sumido. PESQUISADORA: Credo, Deus me livre INFORMANTE 2: Tia M., que morava naquea casa véia ali da, ali do Z. B., eu num lembro a casa, num lembro memo, aonde ea morava, ea falava que ali tinha muita sombração, né? Que passava veinho, que a veinha passava 310 de chinelo, tinha um corredorzão, você lembra, né? Cumprido assim, diz que a veinha descia rastano precata, aqueas precata antiga, que o povo fazia esforço de ir se arrastando a precata, e chegava na cuzinha, mixia nas panela, jogava fecho de lenha no terrero, aí Tio O. mudô de lá, aí papai mudo pra lá, eu tinha 10 anos quando nós mudemos pra lá, aí daí um pouquinho, num deu tempo de armá a cama nossa, que era aqueles catre ruim antigo, ruim de armá, né? Catre é uma coisa de cama, é que antigamente o povo falava catre, num é? 315 PESQUISADORA: Num era cama. INFORMANTE 2: Num era cama, falava catre, mamãe falava catre, aquelas camas, aí num deu tempo de armá, aí mamãe falava assim: “Ocês dorme no chão.”Aí pego, dexô a porta aberta pra vê a veinha passá, fiquemo acordada, fiquemo, essa veínha, óh, moremos lá uns 6 anos, a veínha nunca vortô. PESQUISADORA: Ela tava com vergonha da plateia uai, era muita gente pra ver. 320 INFORMANTE 2: Lá todo mundo ficava cum vontade de vê sombração, num sabia nem o que era sombração, né? Passo sombração nunca, e Tia O. falava que mexia nas panela, que jogava o fecho de lenha no terrero, que passava arrastano as precata. INFORMANTE: O, aconteceu com Tiquinzote, a Tiquinzote era uma tia que morava em Ventania, é, morava em Ventania, e eu num sei nos Campo, quais é qualé que passava perrengue, num sei se era minha vó, ou se foi 325 quando B. tava ruim, morreu. PESQUISADORA: B.? INFORMANTE: É, era um tio nosso, B., um tio nosso, mai véi que o ti J., acho que foi ele memo, e o T. tava aí nos campo, ele tinha vindo, tava aí na casa da minha avó, e eu acho que foi um dês memo, foi um dês, o tio Z., num sei, que tava ruim, um dês bem antigo, o B. sabe, ali na casa da M. R., ocê lembra aquea casa do falecido J. 330 C., ali num lembra? Aonde é do Q. hoje, berano a do Q., sabe? Lá tinha uma portera. INFORMANTE 3: A portera do rancho que eles falava. INFORMANTE: É, dentro da casa, na portera, era portera e uma cava e mato tampado, escuro pur cima, e aí ês via num único caminho que tinha, tava de noite, preciso i[r] na Ventania avisá o povo que fulano num vai passa dessa noite não, aí o T. falô: “Eu vô.” Quando foi, e a portera lá da coisa, não tem problema não, e rasgô, a hora 335 que foi chegano lá na bera da portera, a mula nervosa, nervo, mai[s] nervo memo, num quiria i[r] de jeito nenhum, marrô a mula num pau, e foi lá na portera, era um boi preto que ês criava. Tinha muitas arvorezinhas pra descansá ali, e aí levanto, tocô o boi, e foi falá, a mula passô. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 127 PESQUISADORA: Era um boi que ficava na portera? INFORMANTE 2: Ficava deitado, porque lá era fresquim, né? 340 INFORMANTE: Esses dia eu passei, tava oiano ali. PESQUISADORA: Tá parado aqueles meio ali, em? A tal de roça num tá mole não, se num abri o olho vai o resto embora. INFORMANTE: Vai. PESQUISADORA: O senhor já ouviu fala da história do sertão de Jacuí, aí do ouro? 345 INFORMANTE: Que tinha oro aí? PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Ês conta essa história, eu nunca ouvi isso não, não ouvi fala. PESQUISADORA: Ês falava que tinha sertões aí, num é? INFORMANTE: Tinha pau na forca... tem lá em Jacuí. 350 PESQUISADORA: O que é pau na forca? INFORMANTE: De matá gente. INFORMANTE 3: Tá precisando botar em ação. INFORMANTE: Tá memo, cum esses deputado sem vergonha, né? PESQUISADORA: Lá tem pau na, tinha pau na forca? 355 INFORMANTE 2: Tem, eu ouvi falá que tem até hoje, num sei se tem memo. INFORMANTE: Tem, tem na praça lá. PESQUISADORA: Credo. INFORMANTE 3: Você conhece Jacuí? INFORMANTE: Eu fui uma vez, faz muito tempo. 360 INFORMANTE 3: Eu fui também uma vez, faz muito tempo que eu fui lá. PESQUISADORA: Eu fui lá também, uma vez. INFORMANTE: O R. conhece muito, vai muito lá. INFORMANTE 2: Jacuí é bem véio, né? É mais véio do que aqui, né? PESQUISADORA: É mais velho que Passos, na verdade Passos já pertenceu a Jacuí. 365 INFORMANTE: Já foi capital mineira por duas hora, né? PESQUISADORA: Ah, porque o governador tava aí, presidente? INFORMANTE: Não, capital memo por duas horas, decretado capital por duas horas. PESQUISADORA: Ah, mas porque? INFORMANTE: Ah, eu num sei... 370 INFORMANTE 3: Às vezes tava de passagem só. INFORMANTE: Não, tava não. PESQUISADORA: Mas durou pouco essa... INFORMANTE: Duas horas, porque aí depois foi pra Ouro Preto, aí foi, cadaí, foi pra São Jão Del Rei lá, depois de Ouro Preto. 375 PESQUISADORA: Viro capital? INFORMANTE: Foi pra Belo Horizonte, Belo Horizonte é novinha. PESQUISADORA: Mas o senhor morô na roça só lá na Ponta da Serra ou aqui também? INFORMANTE: Morei aqui nos campo, Ventania, morei por toda banda. PESQUISADORA: Morou em vários lugares? Você também, L., morava muito tempo nas roças? 380 INFORMANTE 2: Não, só [...] né? Morou 4 anos lá perto da Ventania, né? Eu faz 30 anos só. PESQUISADORA: Só 30. INFORMANTE 2: Só 30. INFORMANTE: Era bão pra montá restaurante chique, muito chique. INFORMANTE 2: E cê sabe que tá fazeno 30 ano esses dias? É, foi começo de, foi em finzinho de julho. 385 INFORMANTE: Que nós moro lá, né? INFORMANTE 2: Que nós mudemos de lá pra cá. INFORMANTE: É, mudou. INFORMANTE 3: Mudou dos campos, né? INFORMANTE 2: É, nós foi daqui dos campo dia 31 de julho, e vortemo pra lá tamém finzinho de julho, que 390 antigamente o povo tinha aquela bobage de num pode mudar em agosto, né? PESQUISADORA: E tinha assombração que tinha nome, assim, fala. INFORMANTE: Falava mula sem cabeça, lobisomem. PESQUISADORA: Fora essas, tem alguma regional aqui, ou não? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 128 INFORMANTE 2: Outros falava que era bizerro preto, outros falava que era cachorro, né? Que tal portera tinha 395 isso, e aquilo. PESQUISADORA: Geralmente essa igual você falou das moça bonita era pouca, né? INFORMANTE 2: E naquela portera do córrego do bambu ali, aquela ali, ali perto da [...], dobrano ali, o povo ali falava assim que ali tinha sombração, tinha gente que passava de noite, vinha uma muié de branquinho e abria a portera pa gente, ne? 400 PESQUISADORA: Que assombração educada. INFORMANTE 2: Ês fala, aí nossa, o povo murria de medo de passa ali aonde uma vez viemo de uma novena de uma festa lá no sitio do Sinhá, nós fomos com o povo da B., que era D., né? Aí duma banda pra cá nóis veio sozinho, né? Aí o C. até pergunto, quer que leva ocês? Com aquele jeitinho dele, né? Aí não, nóis veio correno, quando nóis tava chegano pertinho do córrego do bambu, o porão ali, saiu um lobo correno de lá. 405 PESQUISADORA: Aí... INFORMANTE 2: Aí não tem perigo não, você acha que num tem perigo não, aí nóis correu aí o Q. falô assim: “Nossa, tinha portera agora, em.” Aí eu falei assim: “Ah, se a sombração abri[r], mió que nóis passa correno mais di pressa.” E pra saí tinha uma chave, mas pra passa, né? Tivemo que abri essa portera, sombração não abriu portera nenhuma pra nóis. 410 PESQUISADORA: Nada dela aparecer pra abri[r] a portera. INFORMANTE 2: Nada, passamo correno no, ali naquea casa, e tinha uma moitona de, daquele tem peludo, porão, o tatu correno tamém. INFORMANTE: Precisava vê quando tava a casa a noite interinha, aí ia, essas história assim, por causo disso, sombração, de tudo, uma noite aí um repetia um... Nossa Senhora Aparecida!!! Uma vez nós estava ali nos 415 Campo, minha avó tava duente, eu tava ali nos Campos, e uma hora dessa, chega umas hora dessa assim, sol entrando, aí o jegue veio chegano, ah home de Deus. INFORMANTE 3: Não, cabô. INFORMANTE: Aí cabô o mundo, aí veio o cavalo. Ele ia deixano do lado de fora memo, passano, se fez ele, uma vez ele sortô o carro foi passano, ele foi coisa, a hora que os galo começô a cantá de madrugada, ele falô: 420 “Opa, dexa eu ir bora, tô indo embora, é madrugada.” PESQUISADORA: Ele ficava a noite inteira conversando? INFORMANTE: Ficava, ficava a noite intera. PESQUISADORA: Mas ficava aonde, pra coversa na cozinha? INFORMANTE: Cozinha, e ia fazeno cumida. 425 INFORMANTE 2: No chão, ali numa bacia, e ali rudiava aquele tantão de gente ali, ê, ia queimano lenha, comeno pipoca, comeno bolinho. INFORMANTE 3: A televisão já tava animada? Porque ele ia gosta muito, viu? INFORMANTE: Já. PESQUISADORA: Gente, quantos anos que ele, já morreu? 430 INFORMANTE 2: É, morreu novo coitado, né? PESQUISADORA: Foi. INFORMANTE 2: Tinha 50 e poucos anos. PESQUISADORA: Cavalo tinha sumido? INFORMANTE 2: É, deve fazê uns 15 anos. 435 INFORMANTE: Não, faiz mais, não, 15 anos faiz quase que o tio Veca morreu, uai. INFORMANTE 2: Mas a mamãe também faiz, mamãe feiz 16... INFORMANTE: Acho que o Tio morreu em 80 e pouquinho, faiz uns 25 ano já. INFORMANTE 2: Será? Faiz isso não, B. INFORMANTE: Faiz, pô pergunta que faiz. 440 PESQUISADORA: O que? INFORMANTE: Que o J. R. morreu, faz não uai. INFORMANTE 3: Faz quanto? INFORMANTE: Uns 25. INFORMANTE: Uns 25, ele morreu em 80 e pouquinho, foi sim. 445 INFORMANTE 2: Não, B., mas nós já morava aqui na cidade, uai, nós mudemos pra cidade em 82, uai. INFORMANTE 3: É ué. INFORMANTE 2: Mas nóis já morava aqui. INFORMANTE: Pois é, ué. INFORMANTE 2: Bem dispois que nóis morava aqui, uai. 450 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 129 INFORMANTE: Não, pode pergunta, sabe por quê? A mãe agora,vai fazê 30 que a mãe morreu, e foi bem perto, até vou perguntar a Sônia uma hora, quando de[r]. PESQUISADORA: Na cidade? INFORMANTE: Não, a L. tem muito, a L. morava na roça, uai, a L. nós ainda morava na roça, uai. PESQUISADORA: Quem é a L.? É a mulher do G.? 455 INFORMANTE: É a irmã. PESQUISADORA: Ah, irmã, ele era parente de vocês? INFORMANTE: Era da minha vó era primo, é teimoso igual. INFORMANTE 2: É, a mãe dele é prima da sua avó. PESQUISADORA: Que vó? 460 INFORMANTE 3: Da sua avó Z., uai, minha mãe é prima, é igual, e não perde. INFORMANTE: É primo primeiro. PESQUISADORA: Uai, mas que engraçado, ele é Ribeiro. INFORMANTE: É que o marido da M. Ribeiro é que ela tinha Ribeiro, num é? PESQUISADORA: É, num era parente chegado não, né? De irmão pra primo. 465 INFORMANTE: Era primo, né? PESQUISADORA: Era primo. INFORMANTE: Era pra primo. PESQUISADORA: Vocês vinham muito na cidade, ou não? INFORMANTE: Vinha, de vez em quando vinha. 470 PESQUISADORA: Vinha na cidade pra que? Pra compra as coisas? INFORMANTE: É, só pra compra as coisas. PESQUISADORA: Mas ficava mais era na roça? INFORMANTE: Ficava mais era na roça. PESQUISADORA: E quando vocês eram meninos, vocês brincavam de que na roça? 475 INFORMANTE: Ih, de tudo, era de tudo. INFORMENTE 2: Eu lembro quando eu vim crismar, era dia de São Pedro, um geadão, saímos lá de casa 5h00 da manha, nossa, os pé nosso endureceu, num tava tendo jeito nem de andá, e ia crismar, e aí num deu conta nem de vorta pra tráis de tanto, fazia boia d’água na sola do pé, de tanto andá. INFORMANTE 3: Outro dia eu estava conversando com o senhor A., nós nascemos na melhor época do mundo, 480 não vai ter época melhor que essa no mundo, foi uma época de transformação igual você falou, certeza que era, e mudo tudo pra melhor, fico bão. INFORMANTE: Quando a gente morava na banda da serra, minha mãe ficava doente, precisava de vim, tinha que vim, de dia, tinha que sair lá da ponta da serra de carro de boi, vinha até no São Bento aonde é a casa da usina ai, sabe? Ali tinha um boxiano ali, tinha ali aques telefone, já viu dês, G.? 485 PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: Roda na munheca... PESQUISADORA: Não, já vi aquele, como chamava aquele, será? INFORMANTE 2: Um trequinho que faz, prum, prum... INFORMANTE: Aí meu pai vinha e ligava pro Banlaú, pro Gavião, ligava no ponto de táxi aqui, e aí que ele saía 490 e ia lá busca, e era um dia pra ir, era, porque saía lá da roça aonde tava, saía dua hora da madrugada, o pai saía, vinha na frente, quando o carro chegava lá, o [...] chegava lá meio dia, uma hora. PESQUISADORA: Gente, demorava muito. INFORMANTE: Mas num tinha caminho. PESQUISADORA: E quando o povo morria na roça, como é que o povo carregava pra enterrar? 495 INFORMANTE: Banguê. PESQUISADORA: Banguê? Que era o Banguê? INFORMANTE: Era uma cocha.Você punha ele dentro de um lençol forte, uma cocha forte, pegava uma vara dessa grussura assim, marrava duma ponta a outra, e punha deitado dentro da cocha... INFORMANTE 2: Soltava as quatro ponta da cocha junto com a outra, e pau colocava no ombro dum, no ombro 500 doutro, e ia carregano. INFORMANTE: É, mas ninguém gostava de trazê de carro de boi. PESQUISADORA: Trazia mais no Banguê. INFORMANTE: É, no Banguê. PESQUISADORA: Mas enterrava no que? No Banguê também? 505 INFORMANTE: Não, na terra mesmo, uns tinha caixão, outros era no chão memo tinha terra lá, terra memo. PESQUISADORA: Sapato naquela época num tinha, ou? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 130 INFORMANTE: Ah não. INFORMANTE 2: Antigamente as pessoa não carçava carçado só não dava conta de trabaiá e comprá. INFORMANTE: É, quando aparecia os mascate português, os espanhol aparecia mascatiano pras roça, né? 510 PESQUISADORA: Ah, aí comprava se tivesse dinheiro, né? INFORMANTE: Aí é uai. PESQUISADORA: Tinha que fica só na vontade. INFORMANTE: Trocava... INFORMANTE 3: Nos trocávamos, a gente usava muita barganha. 515 INFORMANTE 2: Mas ninguém dava conta de compra carçado não, a gente carçava o carçado e ficava fora do pé. INFORMANTE 3: Aquilo lá comia o pé da gente. INFORMANTE: O pai do B. Espanhol memo, foi um mascateador uai, o C. R. INFORMANTE 3: C. R., é pai daquela mulher que é vizinha nossa lá, G., é avô daquela moça que é vizinha 520 nossa lá. PESQUISADORA: A E.? INFORMANTE 3: Pai da mãe da E., filha do Espanhol. PESQUISADORA: Tinha muito mascate na roça? INFORMANTE: Tinha muito. 525 PESQUISADORA: Comércio era feito assim? INFORMANTE: O comércio era feito assim, de mascate. PESQUISADORA: E eles aceitava mantimento em troca? INFORMANTE: Aceitava, galinha, porco, aceitava tudo, o que tivesse, se tivesse dinheiro, bem, se não tivesse... PESQUISADORA: Vinha comida também, não tem importância? 530 INFORMANTE: É, vendia por prato de comida, vendia trem a troco de prato de comida, PESQUISADORA: Era fácil de negociar então, uai? INFORMANTE: É, a troco de um prato de comida, ês tava cum fome, num tinha o que comê, dava um prato de cumida, ês dava água. PESQUISADORA: E com o que eles carregavam as coisas? 535 INFORMANTE: Num malote. PESQUISADORA: E aquele caso que o tio dele veio trazer galinha pra vender, né? Porque perdeu um cavalo uma vez. INFORMANTE: Perdi. PESQUISADORA: Quem, a T.? 540 INFORMANTE 3: Sim. INFORMANTE: A [...] que falou que foi comprá lá e trazê, né? Aí ele já, no São Bento, aonde o caminhão ia, né? E ele fez uns canudo, mandô fazê uns canudo e lá... PESQUISADORA: Canudo? INFORMANTE: Canudo de babosa, tipo de bambu, tipo de um balaio, aí encheu. 545 PESQUISADORA: Ah, chamava e canudo? INFORMANTE 2: Isso, chamava de canudo, canudo de por... PESQUISADORA: Canudo era tipo de um balaio pra por coisa? INFORMANTE 2: Era, só que era cumprido assim, e fino a conta de cabe a galinha memo. PESQUISADORA: Ah tá, usava pra transportar galinha? 550 INFORMANTE 2: É, transportar galinha, porque aí punha um dum lado, e outro doutro, e as galinha ficava tudo esparramadinha. INFORMANTE: De madrugada quando vem de trem vem morrendo galinha, ali perto da Barra Nova, tinha uns pretos, eles pegou as galinha morta e deu preles, morava o Z. A. lá, o Z. A. de armoço pra ele, ajudo ele, numa baxadinha perto da barra nova ai, uma baxadinha tinha uma grama ali, perto do córgo, a G. é capaz de lembra 555 dela, e o cavalo fico muito manso, e marrô na garupera do outro, sabe, e muntô cavalo no outro, e falo assim: “Óia, aí do que vê, nem pra trás eu num óio.” INFORMANTE 2: De tanta raiva quele tava. INFORMANTE: E muntô no outro e rasgô, na entrada da barra que sai ali pro, da cachoeira, ali tinha uma portera, aí, no que ele abriu a portera pra passa, cadê o outro cavalo? 560 PESQUISADORA: Ele perdeu o cavalo? INFORMANTE: E aí vortô lá, o cavalo passano. INFORMANTE 2: As galinha tinha cabado. INFORMANTE: Aí quando ele chegô aqui no São Bento, o caminhão já tinha vindo embora. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 131 PESQUISADORA: Ah não, mas coitado, perdeu o tempo. 565 INFORMANTE 2: Mas ele era muito estabanado, ele rumava mal arrumado. PESQUISADORA: É o que? INFORMANTE 2: Uma veiz ele foi trazê, ah, ele era muito desorientado, rumava as coisa de quarqué jeito, sabe, ia só jogano, né? INFORMANTE: Eu vendi muita galinha ino pra Belo Horizonte. 570 INFORMANTE 2:Vai andá de carroça, então tinha que por tudo certim lá, não, foi jogano tudo prus outro, e aí morreu três ou quatro, fico por baxo ali morria memo, uai, tudo que ele ia ruma era assim. INFORMANTE: Quando eu morava na ponta da serra, que abriu a rodovia do T. aí, o Z. B., era, tinha um caminhão aí, ele ia pra Belo Horizonte levá açúcar daqui da usina pra Belo Horizonte, ele foi e fez freguesia comigo e com o T., ti do T., sabe? Toda segunda fera ele ia daqui pra lá, aí em roça assim, pó compra ovo, 575 galinha, frango, ovo, galinha, galo, peru, trazia que eu compro e ponho em cima do caminhão, e levo, e tinha uma gaiola de grade, sabe? E punha em cima do caminhão, eu levo. PESQUISADORA: Levava pra Belo Horizonte? INFORMANTE: Levava pra Belo Horizonte, e vendeu galinha pra Belo Horizonte, enquanto tava puxano açúcar, ele, o dia que ele num ia, o dia que ele vortava, tinha dia, as veiz tinha dia que ele vortava de Belo Horizonte 580 vazio, ele falô: “Óia, fala pra ês dia de segunda fera num vim não, purque eu num vem, só vem terça.” PESQUISADORA: Aí esse negócio, vinha com galinha, ovo e trazia açúcar? INFORMANTE: Não, ele levava açúcar e às veiz vinha vazio, às veiz vinha vazio, às veiz vinha cheio, às veiz vinha carregado de açúcar, é caminhão piqueno, levava açúcar daqui pra lá, era caminhão piqueno naquela época, era caminhão piqueno. 585 PESQUISADORA: Ah sei, tem mais história da época da roça, quando você morava lá? INFORMANTE: Mais era essas mesmo, sufria demais. PESQUISADORA: Num tinha muito recurso, né? INFORMANTE: Nessa época num tinha era nenhum. INFORMANTE 3: Num era muito não, era nada. 590 INFORMANTE: Não tinha era nenhum. PESQUISADORA: É. Tudo que ia fazê era mais difícil? INFORMANTE: É, a primera estrada que foi aberta aqui de Passos pra Ventania, essa que passa por ditrás do morro aqui, passa na sua porta lá, já pus o inxadão, daque docêis lá, óia, a estrada de ferro foi feito e inxadão, foi feito a inxadão, ah, cê bobo. 595 PESQUISADORA: É o que eu te falo, foi uma época da mudança total do mundo foi dos anos 50 até agora. INFORMANTE: A mudança mudo que ela foi mudada meia de uma vez. PESQUISADORA: Foi, foi rápida a mudança. INFORMANTE: Foi de 54 pra cá, foi da época porque quando obrigou o Getúlio se suicidar, o Getúlio tava no governo, né? 16 anos, e aí ele morreu, entro o outro, e aí quando foi 56, teve a eleição pra Juscelino, pra governo, 600 Juscelino ganhou, e aí o Juscelino deixou o Brasil deveno até hoje, pagano dívida até hoje, mas em 5 ano ele feiz o que os outro num feiz. INFOTMANTE 2: Mas isso aí era uma consequência, de todo jeito ia acontece isso, muito rápido não, mas o cara era arrojado, né? PESQUISADORA: Se você lembrar de outras histórias aí, o senhor me liga, aí eu venho aqui. 605 INFORMANTE: Tá bom, mas ocê precisa de tantas assim? Pega o Tio A. no pulo. PESQUISADORA: Já falei com ele [...]. E na roça, ainda tem muita gente morando, será? Mas gente mais velha, será que eu vou achar? PESQUISADORA: Olha, eu penso que eu tô preguiçoso, eu tô muito mais sacudido que muita gente que tá trabalhando ai, mesmo sem trabalhar. 610 INFORMANTE 2: Tem uns rapaizinho aí de 16, 17 anos, tem uns que num sabe fazê nada, né? Num dá conta de fazê nada. INFORMANTE 3: O povo hoje quer muito [...] INFORMANTE 2: É, mas que a vida hoje é bem mais fácil tamém é, né? PESQUISADORA: E você, L., conta umas história pra nós aí agora, ele já contou bastante, o E., agora lembra 615 dumas suas aí, e as moça, como que fazia pra arruma, L.? INFORMANTE 2: Nada, num penteava cabelo, o povo nem banho direito tomava di primero, né? Pra ruma... PESQUISADORA: Tinha perfume não? INFORMANTE 2: Não, tinha perfume não passava um pó de arroiz lá e pronto, né? Ficava tudo, pó de arroiz ruim, né? 620 PESQUISADORA: E o cabelo, como que cuidava? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 132 INFORMANTE: Só lavava, penteava e pronto, né? Antigamente, quem tinha mais dinheiro, às veiz ainda fazia uma permanente, arguma coisa, assim, né? A única coisa que fazia era isso, mas nada assim, igual de hoje não, vixe. PESQUISADORA: Permanente é enrolar o cabelo? 625 INFORMANTE 2: É. INFORMANTE 3: Pintar o cabelo não existia isso, né? Não existia. INFORMANTE 2: Às veiz quando queria que o cabelo ficasse mais bunitinho, ficava sim, macinho, passava gema de ovo cum limão e abacate, sabe? Batia aquilo tudo num prato assim, ó, e passava aquela meleca assim, tudo na cabeça, e dexava ali uma hora mais ou menos, e depois lavava, e aí o cabelo ficava macinho, brilhando, 630 durava pouco. PESQUISADORA: Era natural. INFORMANTE 2: Era, eu lembro uma veiz que eu tava trabalhando [...], nóis batemo numa bacinha até, era eu, eu a [...], a H. do M., Neguinha, a I., nóis tudo passano, e ia lá debaixo de uma laranjeirona que tinha, que lá tinha muito home, né? Pra ninguém vê nóis cum aquela meleca escorreno no cabelo, depois ia lá na bica lá e 635 lavava lá. PESQUISADORA: Bica é aquele negócio que cai aágua, né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Não é igual. INFORMANTE: O D. era bão... 640 INFORMANTE 2: Chupava laranja, ia conversando, só pra lavar. PESQUISADORA: Era uma vidinha boa, né? INFORMANTE 2: Ah, era, eu lembro que pra diverti[r] antigamente era mió do que hoje, é, hoje não tem não, hoje, porque antigamente num tinha bibida, muito difici[l] tê briga, né? PESQUISADORA: Não tinha não, hoje em dia é tudo mal intencionado de mais, não é? 645 INFORMANTE 2: É, festinha, qualquer festinha era em casa de gente pobre e era uma festinha boa, né? Hoje... INFORMANTE: Z. C. que gostava. PESQUISADORA: Z. C.? Z. C. é aquele que morreu? INFORMANTE 2: Que morreu a pouco tempo. INFORMANTE: Ah, tem um bão tamém, o M. também sabe muito ai. 650 INFORMANTE 2: É, o M. tamém é bom pra conta essas coisa, aquele povinho sofreu pra trabaiá, aquele povo dos Ribero lá, nossa, aquele povo sofreu. PESQUISADORA: Por que? INFORMANTE 2: Es tava morano muito longe, tinha que fazê cumida lá pro meu da roça, lá no mei[o] dos mato. PESQUISADORA: Nossa, vida sofrida. 655 INFORMANTE 2: A tia M., tadinha, pra lavá ropa, a vida des lá, aquês pano de saco antigamente vinha com açúcar, então cabia as camisa tudo, e p[r]á lava isso. PESQUISADORA: Nossa, e devia suá tamém, ficava muito quente, né? INFORMANTE: Ficava vermeinha de terra, cabei de trabaiá pra ela a semana intera a semana só, uai, antigamente. 660 INFORMANTE: Nóis que nasceu nesse lugá aqui, Deus tá cuma paciência danada, que nóisn um reza, dá graças a Deus, que o trem aqui é bão, porque era ruim, ah? Que miséria uai, falo hoje, que tem cavalo tudo gordo, até os cavalo ficô gordo, num tem cavalo magro mais, di premero nóis andava naquela barbatana de cavalo. INFORMANTE 2: Chegava nesse tempo, as criação ficava nos ossos caçando vaca, cavalo. INFORMANTE: Hoje cê num vê urubu mais na roça caçando vaca não, tá passando é fome, comendo coco, 665 outras coisa, o negócio pra urubu não fico bom não. Quem nasceu de 50 pra cá, já nasceu já, pegou só trem bão, só vida boa, eu que sô de 40 ainda peguei uma beiradinha ainda, peguei uma beiradinha, mar bem poquinho. INFORMANTE 2: Não tinha dinheiro pra comprá um nada, coitado, porque trabaiava pra comê, na terrinha dês, e eu vi muitas veiz, eu vi isso, eu era pequena, menina menos de uns 6, 7 anos, ês ia lá na moita de cana, cortava um fecho de cana, trazia, tinha uma pedrona perto da porta da cozinha, ia maiano aquela cana ali com a marreta, 670 e dispois um pegava dum lado, o outro dotro, e ia torceno pra sair a garapa, ferve pra fazê açúcar pra bebe café. INFORMANTE: Era, uai, antigamente num tinha isso não, quantas veiz. INFORMANTE 2: É, tinha que socá o arroiz, o café ocê tinha que soca ele no coco, tinha que torrá na panela, socá torrado pra fazê o pó, né? Isso eu fiz muito. INFORMANTE: O povo precisava de uma volta assim, num é pra fazer sofre não, pra dá valor no que tem na 675 mão hoje. Eu que sou muito cabeça eu sou, nem farinha tinha, o povo vingava uma agua no fubá lá e torrava o fubá. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 133 INFORMANTE 2: Ocê sabe que eu fiz isso aqui um dia desse, a P., a sogra da L., ea tamém fala que a vida dea foi muito sufrida, ês foram muito pobre, né? Teve um dia que até nóis sentemo ali na ... ali, e ficamo conversano aí. 680 INFORMANTE: Eu fui na cidade aqui pra riba aqui no sul de Minas, tem uma cidade aí, lá tem uma fazenda dum, véia antiga, que tem di tudo antigo, tem um museu lá, tem um trem doido, só que eu isquici o nome, eu vi passa na televisão, eu esqueci o nome da cidade, é perto de Itu. PESQUISADORA: Eu to querendo ir em Ouro Preto passear uma semana, vocês conhece aí? INFORMANTE: Não, nunca vi lá não. 685 INFORMANTE 2: Se quiser ir nós vamos, a G. vai, nós fica uma semana ali, quando o povo for trabalhar, nós vai de férias. INFORMANTE: Na hora que o povo for trabalhar, nós vai de férias. PESQUISADORA: Um vidão hein... INFORMANTE: O ano passado que nós fomos num bão, foi lá em Caldas Novas, você já foi lá? 690 INFORMANTE 2: Não, você sabe qual é o negócio, a T. na pode nem, nós vamos no rio, fica a semana inteira, e ela não molha nem o pé na água, ela não gosta nem de ouvir falar em água. INFORMANTE: Não, mas lá. INFORMANTE 2: Não, mas lá em Caldas Novas também se não quiser molhar não precisa não. INFORMANTE: Mas lá é bão. 695 PESQUISADORA: Eu não conheço lá. INFORMANTE 2: Lá é bão, diz que... INFORMANTE: Em Caldas Novas INFORMANTE 2: Mas lá você não fica 2, 3 dias não, tem que ser pelo menos uma semana. PESQUISADORA: Lá é muito longe também, né? 700 INFORMANTE: O bom é agora, que bão lá é agora com tempo de frio, porque a agua lá é quente. PESQUISADORA: Mas capaz que lá num faz frio nada.Aí é pior, bom é quando a agua é fria. INFORMANTE: Não, mas dia de dumingo daqui, o dia que nóis foi, nós foi dia 19 de agosto, nós saiu daqui cheguemo lá era duas horas, cheguemos lá, nós fomos almoçar, e depois fomos andar pras piscinas lá, uma coisa assim, aí nisso escutei falando, os funcionário falando, que naquele dia lá tinha 3 mil pessoa, mas não tinha 705 ninguém, você não via ninguém, o negócio lá é maior que esse jardim, lá é grande. INFORMANTE 2: Fizeram uma piscina lá de praia, que tem onda de 7 metro. PESQUISADORA: Uai vishi, credo. INFORMANTE 2: Quando nós foi lá tava fazeno, diz que agora tá pronto, vai inaugurá agora, ou inagurô, num sei. 710 INFORMANTE: A mulherada num dá muito certo nessa onda de 7m não. PESQUISADORA: Morre. INFORMANTE 2: Lá é bão até pra criança que tá gatinhano. PESQUISADORA: É, com certeza. INFORMANTE 2: A Lúcia soltou o Isaac lá dentro dessa piscininha, coisinha de água assim, é grandão, coisinha 715 de água assim, é grandão, menino. PESQUISADORA: Ah não, é boa, a estrutura é grande. INFORMANTE: Aqui, ó, do tamanho desse terreno aqui, óh, só que a água, maior do que esse gramado aí a piscina, só que só dentro d’água. PESQUISADORA: Olha, aí menino não tem perigo de ficar? 720 INFORMANTE: Não tem perigo, ela pode soltar. PESQUISADORA: Ah, mas essa aí, ela ia querer uma piscina funda, pra ela tá rasinha. INFORMANTE 3: Olha, tem muito lugar bonito que compensa ir, olha, eu tenho. INFORMANTE 2: Muito melhor do que ir em praia. PESQUISADORA: Olha, com certeza, praia sem dúvida. 725 INFORMANTE 2: Porque lá... PESQUISADORA: Ah, eu gostei de lá porque... INFORMANTE: Eu gostei de lá, só uma coisa que não presta lá, eu se fosse pra eu vortá lá, eu levo daqui, leva água com 20 litros d’água, a água pra beber lá não presta, só comprada, só agua comprada, agua natural não existe. 730 PESQUISADORA: Ah é? É ruim? INFORMANTE: Não vale nada, não tem agua, agua pra beber. INFORMANTE 3: Só água mineral? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 134 INFORMANTE: Só nas mineral, lá a vantagem disso é assim, você chega no hotel, entra pra dentro do quarto do hotel, o rapaz que vai leva as mala procê, já te ensina o segredo do cofre, você pega todos os seus de comê, seus 735 dinheiro, tudo, tudo, você põe tudo dentro do cofre, ês te dão o cartão. PESQUISADORA: Ah, paga água no final do... INFORMANTE 2: É, paga no dia de saí, passa tudo que você vai comprar nas barraca, nas coisa. PESQUISADORA: Ah, no hotel. INFORMANTE 2: Ocê anda com o cartão no pescoço, ele abre até as porta dos quarto, num tem chave os quarto. 740 INFORMANTE: Cartão magnético, ocê põe ele no pescoço, o que ocê precisa compra, quiser compra, é, e ele tem a chave. PESQUISADORA: Lá tem supermercado, não, né? INFORMANTE 2: Tem, mas só na cidadezinha, no parque lá não. PESQUISADORA: Ah, entendi. 745 INFORMANTE: Lá dentro não tem não. PESQUISADORA: Ah, entendi, é um parque, então por isso que gasta tudo lá dentro. INFORMANTE 2: Pra você entra lá tem até a gurita de passa quando guarda. INFORMANTE: E vai ficando lá dentro, os hotel... INFORMANTE 2: É, lá dentro tem hotel, mas é pouco, então tem muito na cidade, lá não tem casa de mora, só 750 hotel. PESQUISADORA: Lá é turístico, né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: A pousada do Rio Quente é famosa, tem até cantor sertanejo que canta essa musica, Pousada do Rio Quente. 755 INFORMANTE 2: Então, ê lá é bunito viu, é uma ladera, mas é bonito. PESQUISADORA: Lá é o que? INFORMANTE: É tipo duma ladera, ocê óia pra um lado é só terra, óia pro outro é um morrão. INFORMANTE: Lá o hotel que nóis ficô é apartamento, o hotel que nós ficô é três andar, cada andar deve ter uns 15, 20 apartamento. 760 INFORMANTE 2: Tem um quarto até, número 300 e tanto, né? INFORMANTE: Não, 500 e tanto, o nosso foi 501, uai. PESQUISADORA: Vamos dar sossego pra turma, né pai? INFORMANTE 2: É, vamos embora. PESQUISADORA: Eu volto, se vocês lembrar de mais história vocês me ligam, se vocês lembrar de mais 765 história. INFORMANTE: Pega o A. R., o A. R. PESQUISADORA: É, eu também quero ir na roça, ver se eu acho umas pessoas que moram lá na roça mesmo, você não conhece L., umas pessoa que mora lá na roça? INFORMANTE 2: O mestre também é bom, né? 770 INFORMANTE: A coisa procê é boi e prosa, né? PESQUISADORA: É, então eu preciso de pessoas que mora na roça também. INFORMANTE 2: Povo mais véio sabe da vida custosa, né? INFORMANTE 3: Não, mas igual contou aí, não tem muita coisa, tem? Tem coisa de mais? INFORMANTE: Tem coisa de mais, ishi. Ocê quer ir lá arrancá o carrerão de oro lá na Ponte Figueira nós vai lá. 775 PESQUISADORA: Ah, beleza, sai pra cima, desce pra baixo. Ah, eu não vou abusar muito não, vai que eu chego lá e tem. INFORMANTE 2: Não tinha ido lá arrancá? PESQUISADORA: Ah não... INFORMANTE: A pessoa que interro dá pra pessoa que quisé. 780 PESQUISADORA: Ah, só parece, não vamos abusar, né? Vai que tem. INFORMANTE: É, uai, vai que tem. INFORMANTE 2: Aqui na cremação acharam um dia desses, cês viram? INFORMANTE: Aqui foi um cofre que ela roubou. INFORMANTE 2: Então, fez errado uai. 785 PESQUISADORA: Então pode ser isso tamém. INFORMANTE: Você lembra quando robô do Nardim borracheiro? INFORMANTE 3: Não, eu lembro de falar naquela época. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 135 INFORMANTE: Robô do N., borracheiro o cofre e os trem, né? Empurro e caço, caço daqui ali e num acho, agora um cara tinha uma, compro uma casa ali no Cremação, e foi fazer uma mudança na casa, e foi cavucar na 790 beira do muro dentro da coisa. PESQUISADORA: Mas tinha dinheiro dentro? INFORMANTE: Não, não tinha nada. Foi cavucar, aquele ferro tá lá, foi cavucano, quando acho um cofre interrado, interrado aberto, e chamô a policia, e aí chamô a policia, a policia foi e aí coisa, acho que acho uns papel dentro, dentro do cofre num tinha cavado, e aí tava no do N., e chamô o N. lá, N. falô: “Não, o cofre é meu 795 memo.” PESQUISADORA: Mas o dinheiro. INFORMANTE 2: De certo quem moro em antes lá, é que enterro né? INFORMANTE 3: O cara cavucou. PESQUISADORA: Uai, dava pra grampear o que moro antes, uai. 800 INFORMANTE: Não, ma der repente era casa de aluguel, né? Era... PESQUISADORA: Opa. Vamos pai então? E., depois eu volto aí, se vocês lembra uma história aí. INFORMANTE: Ea pego a chave do D. e brincano cum ele, né? E cadê D., e caça essa chave daqui, e caa pra ali, e perdeu, aí foi lá, fui abri a tampa da máquina ali, ela foi e pendurô dentro daonde põe o retrato ali, ela penduro a chave. 805 INFORMANTE 2: O cadeadinho sumiu, faz uma semana que sumiu, hoje eu achei, tava dentro dum porta jóia lá dentro do quarto. PESQUISADORA: Como ela chama? INFORMANTE: I. [...] PESQUISADORA: O E., eu vou ter que voltar aqui depois pra você me contar essas outras histórias. 810 INFORMANTE: Dos Medeiros. PESQUISADORA: Dos Medeiros é a matança do fórum ou não tem nada haver? INFORMANTE: O Medeiros batia, matava. PESQUISADORA: E o caso lá daqueles golpes que... INFORMANTE: Do C., esse foi recente, foi recente, tem 28 anos, eu lembro que o J. nasceu, nos dias, matou em 815 agosto, e o Z. nasceu em outubro. INFORMANTE 2: A J. estava nenenzinha, J. estava pequenininha. PESQUISADORA: Então foi em 79 então, né? INFORMANTE 2: Em 79, faz 29 anos, fez agora em agosto, né? Vai fazer 29 anos, a J. tinha um ano e pouco. INFORMANTE: Tem que guarda o lixo nuclear, aonde? 820 INFORMANTE 3: Não, não, vai fazer um buracão, sabe o que é, o povo ao invés de fica quieto numa coisa, é, nós estamos comendo coisa pior do que lixo nuclear, e outra coisa, a questão de terra, rapaz, inundação, município de Passos tem 1200m² Furnas tem 1400m² de água, com essa escassez de terra boa, pra fazer, poxa, usina nuclear é coisa simples rapaz. PESQUISADORA: Gasta pouco espaço. 825 INFORMANTE 3: Não, o gerador, eu já trabalhei em Angra dois, o gerador que gera dois mega watts, eu Furnas gera 1300, é do tamanho desse terreno aqui tudo, olha, pra você vê que... INFORMANTE 2: O negócio que vai correno assim? INFORMANTE 3: É um gerador só que gera 1500 mega watts. INFORMANTE 2: Fica lá no cantinho assim? 830 INFORMANTE 3: É, fica ligado, o de Furnas fica ali, desce a agua das turbinas, né? Desce da agua das turbinas né? INFORMANTE 2: Ah não, uma vez que nós fomos lá em Furnas, desceu um negócio assim. PESQUISADORA: Ah não, mas deve ser diferente, né? Furnas, é porque a agua entra. INFORMANTE: Porque é um negócio pequeno que gera muito mais, ainda passo uma usina nuclear nos Estados 835 Unidos, a outra na... PESQUISADORA: Na Alemanha. INFORMANTE: Na Alemanha, passo na televisão. PESQUISADORA: Falando que eles nem sabe aonde fazer também né? INFORMANTE: Acho que é 40% de lixo ruim, por não sei quanto de tempo, eu não sei não. 840 INFORMANTE 3: Não, é um negócio que eles montam lá no Urânio, né? Que precisa pra... ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 17 INFORMANTE 1: M.J.R. (Analfabeto, 78 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: C.A.M. (Analfabeta, 76 anos, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: Conta história, senhor M., então. INFORMANTE: Tião do Mato, é teu tio, né? PESQUISADORA: Aham, aí foi fazer o que? INFORMANTE: Aí foi lá na varanda do engenho, que queimava lenha pá fazê rapadura, moía guarapa a pura pra rapadura, isso cê sabe? 5 PESQUISADORA: Aham. INFORMANTE: Aí ele foi lá, encheu o saco de cinza quente, é burrage, né? Eles fala é burrage, e foi chupá laranja, tinha muita laranjeira, quando ele vortô lá, a cinza tinha queimado o saco, e não teve jeito dele ferruá. PESQUISADORA: Eita. INFORMANTE 2: A cinza a gente soca numa lata veia, bem socado, e põe água, e ela pinga aquela água roxa 10 embaixo assim, e para a vazi[lh]a, pra por na panela de fazer sabão, porque lá na roça ninguém comprava soda, era da água da cinza pra po[r] no sabão pra cortar a gordura, pra dar o sabão. PESQUISADORA: Sabão era feito de gordura, né? Alguém foi juntando óleo? INFORMANTE: Tinha que por de por de quadra, né? Eles falavam de quadra, já ouviu falar? PESQUISADORA: Quadra porque era quadrado? Ou não, não tem nada a ver? 15 INFORMANTE 2: O que? PESQUISADORA: Sabão, sabão de quadra, não é? Que eles falavam? INFORMANTE: Não, fazia sabão de pelota. PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE 2: Enrolava com mão assim, fazia aquela bola. 20 PESQUISADORA: É o famoso sabão de bola? INFORMANTE 2: Sabão de bola. PESQUISADORA: Minha mãe faz de vez em quando o sabão. INFORMANTE 2: Mas não é com cinza? PESQUISADORA: Não, ela põe é a tal da soda. 25 INFORMANTE: É, naquele tempo. INFORMANTE 2: Mas eles falava que era bão pra lavar a cabeça, pra não dar caspa. PESQUISADORA: Não, disse que esse sabão é uma beleza. INFORMANTE 2: Mas aqui pode fazer de cinza, pega tudo na padaria, e faz banho, banha eles numa lata velha e vai pondo a água... barreleiro. 30 PESQUISADORA: O que é barreleiro? INFORMANTE: É isso. PESQUISADORA: O barreleiro é o que? É a mistura? INFORMANTE 2: A lata que é cheia de cinza, pra por a água em cima, e lavar em baixo com aquela água roxa que sai de baixo, e aí põe na gordura pra ferver, e fazê o sabão 35 INFORMANTE: É de quadra. PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE 2: Fazer o sabão de bola, que é bom pra lavar a cabeça, tirar caspa. PESQUISADORA: Não, mas é bom demais, e o tanto que a água de roça é boa. INFORMANTE 2: Pra tirar coceira. 40 PESQUISADORA: Não é igual essa aqui não, essa aqui tem um problema, a gente vai tomar banho nessa água, tem tanto cloro que a gente tem coceira. INFORMANTE: É... INFORMANTE: Dá coceira. Pinica... PESQUISADORA: Dá, pinica, coça a gente. 45 INFORMANTE: Hoje memo, eu passei perto duma árvore que chama Boizinho. PESQUISADORA: Como? INFORMANTE: Boizinho. PESQUISADORA: Boizinho? Que árvore é essa? INFORMANTE: Uma árvore da foia dura, uma foia grossa assim, de que tomar banho naquela, fazer o chá dela, 50 beber e tomar banho é bom pra alergia. PESQUISADORA: É? Nunca vi, eu conheço uma erva que se chama Pata de Vaca, uma folha que parece Pata de Vaca, não é? Não é a mesma não, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 137 INFORMANTE: Não, não é a mesma não. Essa chama Boizinho. PESQUISADORA: Antigamente o povo usava muita erva pra fazer remédio? 55 INFORMANTE: Eu trouxe urtiga pra um home aqui... INFORMANTE 2: Pra toma banho? INFORMANTE: Eu não sei o que ele ia fazer com a urtiga não. PESQUISADORA: Urtiga é bom também, não é? Pra... INFORMANTE: Aí, aí, aí. 60 PESQUISADORA: Urtiga quando tem aqueles negócios na pele, não é bom? INFORMANTE 2: Uai, eu tô... INFORMANTE: Urtiga é aquele que você passa assim, e ele empipoca na hora. PESQUISADORA: Gente, mas o que ele ia fazer com urtiga? INFORMANTE: Você já ouviu falar na urtiga, não já? 65 PESQUISADORA: Já, urtiga é aquele que você passa e pinica, eu já vi, é uma plantinha, dá uma coceira na hora, pipoca a pele. INFORMANTE: Não, pipoca tudo. PESQUISADORA: Aham, eu já vi, lá na roça do meu pai eu acho que tem. INFORMANTE: Lá em casa tem também, dá na curtura, a urtiga. 70 PESQUISADORA: O que é a... INFORMANTE 2: Falando de assombração, um dia lá na roça, na minha casa na roça, eu estava perto do guarda- louça assim, escutano um rádio, e eu tava em pé, e a lavadeira de roupa da minha mãe estava em pé pertinho, eu acho que estava. INFORMANTE: E ela já tinha morrido. 75 INFORMANTE: E ela já tinha morrido fazia tempo. PESQUISADORA: Credo dona C. INFORMANTE 2: Eu vi que ela estava emparinhadinha comigo assim, eu não fiquei com medo não. PESQUISADORA: Ah, mas é porque a senhora tem o dom de ver. INFORMANTE 2: Ela gostava muito de mim, porque lá na roça ninguém sabia costurar, e eu tirava medida no 80 corpo dela com a fita métrica pra fazer escala e cortar os vestido dela, pa fazê bem bonitinho, e ela era uma véia muito feia, o cabelo dela era mais arrepiado que o meu, era, cabelo dela mais arrepiado que o meu. PESQUISADORA: Mas o da senhora não é arrepiado não, uai. INFORMANTE 2: Oh... PESQUISADORA: Né não. 85 INFORMANTE: Mas ela era da bundinha arrebitada, cintura fina, e eu fazendo os vestidos pra ela medido na fita, ficava na maior canseirinha pra fazer o vestido dela medido na fita. PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE 2: E ela gostava de mim, porque eu era boa pra ela, nóis lá em casa, era bão, não era, eu não fazia ruindade não, ela gostava de mim. 90 PESQUISADORA: Aí apareceu do lado da senhora? INFORMANTE 2: Já fazia muito tempo que ela tinha morrido, eu vi que ela estava empariadinha comigo, ela chamava Sinhana. PESQUISADORA: Sinhana? INFORMANTE: Sinhana. De primeiro tinha tanta Sebastiana, Sinhana. 95 PESQUISADORA: Sinhana, né? Hoje em dia está voltando de novo, o povo tá pondo esses nomes de novo. INFORMANTE 2: Eu não fiquei com medo não. INFORMANTE: Sebastiana. PESQUISADORA: Não ficou não? INFORMANTE 2: Eu vi que era ela que estava junto comigo assim, ela gostava de mim. 100 PESQUISADORA: Olha, eu até podia o povo pode gostar de mim, mas eu não quero que ele volta pra falar não, não. INFORMANTE 2: Ela não falo nada não, ela só ficou quieta, eu vi que ela estava junto comigo.. INFORMANTE: Esses dias tava perto de casa, no corgo do Ouro, tinha uma família lá que os home e as mulheres tudo papudo, ah. 105 PESQUISADORA: Papudo do papo grande? INFORMANTE: Ah, papo mesmo, papão. PESQUISADORA: Era água? INFORMANTE: Água, curpa da água, água de lodo vermeio, aquela água que põe no filtro ela não côa, é lá embaixo o filtro e não passa. 110 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 138 INFORMANTE 2: Aquela aguinha nossa lá do fundo da horta tem o vermeio. INFORMANTE: Eles só bebia água lá desse corgo. Aí o G. A., um homem que veio lá da Petûnia, que teu avô conhece, teu, o B. lembra dele. PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE: O B. do mato. 115 PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE: Aí mudou pra lá, não tinha cano de plástico ainda, não tinha, era só cano de ferro, ele comprou um encanamento de ferro, encanou uma mina lá de riba, até lá na casa dele, que a muié dele era uma coisa medonha, nojenta. INFORMANTE: Pega mais bala aqui, olha. 120 PESQUISADORA: Não, obrigada dona C., eu chupei todas que a senhora me deu. INFORMANTE: Não, pode pegar mais. PESQUISADORA: Não, obrigada, já tá bom, obrigada, dona C. INFORMANTE 2: Você não quer mais não? PESQUISADORA: Não, eu já chupei muita bala, obrigada. 125 INFORMANTE: Ele fez o encanamento com tarraxa, e... PESQUISADORA: Vai chupando uma bala. INFORMANTE: Fez rosca no cano, e encanou a água, pôs cadeado lá na caxa lá em riba, cadeado, em, e cê acredita que apareceu um rato morto lá, e estava fedendo dentro da água dele? PESQUISADORA: Nossa, quase morreu. 130 INFORMANTE: E aí perdeu o encanamento tudo, e aí foi preciso furar a cisterna pra água, a mulher beber água da cisterna, ela não bebia água do encanamento. PESQUISADORA: Mas que mulher enjoada também. INFORMANTE: Ela era terrível. Aí um dia ela falou: “Ah não, a vida tá muito ruim, dá vontade de bebê veneno.” Aí ele era meio... ele falou: “Óia muié, se cê for beber veneno, cê bebe bastante memo, que aí tem 135 muito.” E, ele mexia lá com matar furmiga, que naquele tempo, que as formigas cortavam o cafezal tudo, se ocê for beber veneno, aí tem muita formicida, bebe bastante memo pá não ficar nem morta e nem viva não. Aí acabou a conversa, tinha uma veia preta lá, apanhou, você lembra? Ah, a C., a mulher falava: “A sua C.” Que nem criança novo, troca roupa todo dia. PESQUISADORA: Ah. 140 INFORMANTE: É, mas. PESQUISADORA: Essa C. era a mulher? INFORMANTE: É, era essa enjoada, né? PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE: Era essa enjoada, a outra trabalhava lá. 145 PESQUISADORA: É enjoada mesmo, credo. INFORMANTE: Nossa, a muié era uma coisa doida, essa C. do G. A., ê G. A. PESQUISADORA: Petúnia era aonde? INFORMANTE: Patrimônio esse, aquela cidade que tem lá, pra lá dos cafundó, lá eles falam Petúnia, Patrimônio, mas mais era Petúnia, chama Petúnia, lá pro lado da, pra lá dos cafundós, e... 150 INFORMANTE 2: Mas essas pesquisas que você faz é pra escrevê livro? PESQUISADORA: Não, não é pra escrevê livro não. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 18 INFORMANTE: M.J.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: Nós começamos a gravar, mas é um bate papo descontraído, você pode contar daí, o senhor Z., na verdade ele não contou muita coisa, né pai? Ele falou assim, do começo daqui que o senhor falou, ele não contou nada, ele falou mais, depois que ele começou a falar mais da época do, os motoqueiros tão vindo aqui. 5 INFORMANTE: É, ele falou mais recente. PESQUISADORA: É, ele não falou coisa muito antiga, ele falou da casa dele. INFORMANTE: Então, e o que eu sei então, é que passa então dês do meu avô, né? Materno, falava pra minha mãe, e minha mãe falava pra mim e aí vei vindo isso muitos ano, né? Muito ano, e aquilo foi passando, né? Assim. 10 PESQUISADORA: Veio a história, né? De boca em boca. INFORMANTE: É, como é que pode contar, vinha conta a mesma coisa, nunca perdi, né? PESQUISADORA: Com certeza, a história não dá pra perde não. INFORMANTE: É, quando o vale não era habitado, começa o povoado cobrir. PESQUISADORA: Quem foi o primeiro a chegar aqui? 15 INFORMANTE: Ouvi fala qui era Maria Babilônia, né? PESQUISADORA: Ah é. INFORMANTE: Por isso que deu o nome no Vale, né? PESQUISADORA: E Babilônia significava o que mesmo você falou? INFORMANTE: Como é qui era, como é memo, confusão, muitas terra, terra larga, não é grande, né? Mas num 20 sei purque, ela trouxe esse nome dela, né? Da muié. Ela vive falando Babilônia lá, né? PESQUISADORA: Entendi, e ela foi a primeira que chegou? INFORMANTE: É, marido dea chama M., tinha pelido di Mané Grande. PESQUISADORA: E aí eles começaram a povoar, mas você é parente deles, é descendente deles não? Vocês são da mesma. 25 INFORMANTE: Não, de primero não, dispois eles, pelo que conta, acho que dali uns, levou mais ou menos, levou o que, uns 10 ano, chegou meu avô materno, né? Que aí intero terceira famia, que era Maria Babilônia, Lúcio, e meu avô materno, né? Que que começo duas, três fazenda. PESQUISADORA: Tendi. INFORMANTE: Aí como não tinha estrada, né? Acho que nem de cavalo, ês vinha di pé. 30 PESQUISADORA: De pé? INFORMANTE: É, depois que pegou pra fazer os trizinhos, assim fazer, pra chegá aqui de cavalo, né? Sempre contava, aí dispois de cavalo pegô, passaram muitos anos que ês veio de cavalo, tinha uma estrada lá no quilombo, mas só pra carro de boi, né? Porque lá aonde ocês passaro aonde tem as uva lá, as coisa de uva lá. PESQUISADORA: Ah, que aquele moço mais cedo falou que tem uvinha, não sei o que? 35 INFORMANTE: É, aí saía a única saída de carro de boi, nos tempo do meu avô, né? Isso faz muitos ano né? Que eles ia busca sal lá em Passos. INFORMANTE 2: Tempo que tinha a represa ainda? INFORMANTE: Passava. Parece que vi conta causo que ia compra sal em Passos, mas parece que passava uma canoa, não lembro como é que é isso não, mais ou menos assim, pegava lá perto da Ponte Arta. 40 INFORMANTE 2: Isso, passava pelo Rio Grande. INFORMANTE: É ali memo. INFORMANTE 2: É, eu já, eu tenho conhecimento dessa história, o C., o Carneiro, eles assava porco lá. PESQUISADORA: Eu não entendi, eles passavam no barco? INFORMANTE 2: Passava, o rio não tinha represa nem embaixo e nem em cima, o rio ficava estreito também. 45 INFORMANTE: É, eles falava que era mais remano, mais carmo, agora que es passaro de canoa, né? PESQUISADORA: Era mais o que? INFORMANTE: Era mais calmo, assim, né? Saía remano. PESQUISADORA: Entendi. INFORMANTE 2: E aí fico largo e curto depois que fez a represa e fechou, né? Represa. 50 INFORMANTE: E aí depois fez essa casa de pedra que desmanchou aqui, durou 119 anos, né? PESQUISADORA: Aqui tinha uma casa de pedra? INFORMANTE: É, uma casa de pedra. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 140 INFORMANTE 2: Era aqui nesse lugar, né? INFORMANTE: Era. 55 INFORMANTE 2: Eu lembro, faz pouco tempo até que fechou. PESQUISADORA: Ah, tem uma casinha do lado ainda que tem o telhado de pedra, era do lado dela? INFORMANTE: Era do lado, tem a foto dela. PESQUISADORA: E quem construiu essa casa de pedra? INFORMANTE: Então, meu bisavô, avô do meu pai. 60 PESQUISADORA: 119 anos? INFORMANTE: É, que ea durou, ea era baxinha. PESQUISADORA: Mas é engraçado, a casa do senhor Z. também é baixinha, e é de pedra, mas não faz calor de jeito nenhum. INFORMANTE: Não, nós moro nessa aqui, num é fria nem quente, por causa, que coisa engraçada, né? Fala a 65 verdade. PESQUISADORA: Porque é uma casa baixa, que você pensaria assim, nossa, se fosse telha normal, ferveria, seria um forno. INFORMANTE: É, e 40 grau na sombra, né? PESQUISADORA: E eu achei fresquinha a casa do senhor Z., não é pai? 70 INFORMANTE: Aqui num, na entrada aqui, tinha uma porta do lado dessa aqui, eu pus até um isopor, porque ela é tão baxa que e num sei como é qui es morava assim, es falava pra mim: “Baixa a cabeça.” Eu isquecia. PESQUISADORA: Batia a cabeça depois no isopor. INFORMANTE 2: Aquele dia que eu, uma vez que eu tive com o Ti A. aqui na casa de vocês ainda era ela, uai, nós tomou café e foi pra baixo aí. 75 INFORMANTE: Então, é que tá com os dia contado aqui. PESQUISADORA: Mas faz tempo que desmanchou? INFORMANTE: Foi três anos que fez em agosto agora. PESQUISADORA: Ah, faz pouco tempo. INFORMANTE: É. 80 PESQUISADORA: E aqui depois que a região foi povoada tem história, aqui tem lenda, alguma coisa? INFORMANTE: Ah, tinha várias que ês contava, né? PESQUISADORA: O senhor conhece algumas? INFORMANTE: Conheço. PESQUISADORA: Pode conta à vontade. 85 INFORMANTE: Pior que ês contava, meu pai contava, ele não gostava muito de contar não, mas ele gostava de conta, falava com língua, né? PESQUISADORA: O que? INFORMANTE: Comedô de língua, né? PESQUISADORA: Comedô de língua? Não, nunca ouvi falar disso não, o que era isso? 90 INFORMANTE: Ah, ês contava essa lenda, não vou falá que é verdade, lenda não é verdade, fala que menino que leva comida pru pai na roça, naquele tempo usava, né? Não foi aqui que aconteceu, aí punha cumida, aí matava o frango, né? E aí ele ia leva, o pai capinano naquele tempo, aí ficou lá com a mãe dele, falou: “Não...” Aí comia o pedaço de frango no caminho, o menino, aí foi levar, chegou lá, o pai dele falou assim: “Porque sua mãe.” Eu matei um frango, tinha só esses pedacinho, ah, tem um amante dela lá, que gosta dela lá, vai lá [...] 95 PESQUISADORA: O menino falou? INFORMANTE: É, pro pai, chegou da roça, o coro comeu. PESQUISADORA: Ah, com certeza. INFORMANTE: Aí depois ela falou: “Eu vou por a franga.” Ele falou: “Vai fica 7 ano comen[d]o língua de gente.” É de gente depois não sei como é que revoltô, passô pro gado, né? Aí virô várias vezes, meu pai contava 100 que viu, com uma chutava na ponta, aqui no pé e murria na hora. É, contava isso, aconticia lá, aconticia lá, só via carro, passava um mês e sumia, parecia em outro luga, meu pai contava. PESQUISADORA: Gente, que isso. INFORMANTE: É, contava aqui perto do Zezico ali, eu era menino. PESQUISADORA: Que tinha feito rolo? 105 INFORMANTE: Não é que aí o gado estouro, uma vaca ficô deitada aqui, foi lá, vai se essa, nóis vai lá, pede o home pra nóis, nóis pruveita a carne. Chegou lá o tempo todinho oiano ela, tava sem a língua, vi conta que viu, meu avô nem si fala, conta direto. PESQUISADORA: Vocês foram lá porque vai ser erva, o que era erva? INFORMANTE: Aquela do mato aí que é... 110 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 141 PESQUISADORA: Ah, erva matava a vaca, entendi. INFORMANTE: É, fala erva de rato. E isso foi muitos ano, né? Que ele contava, dispois disapareceu, né? Ês falava que era num sei quanto. Cabô, num conta caso mais. PESQUISADORA: Então, eu tô a procura de casos. INFORMANTE: Tinha vários, né? Ques contaro, é caso memo, que no Brasil memo tem de lobisome, coisa de 115 filme, isso es contava direto, né? Que via memo conta que era pessoa qui prifiria morrê, o povo mais véio, falava: “Meu tio fulano de tal, ou avô dele.” Vai contá causo, meu ti contava isso que ele preferia morre e não contava mintira, contava que me conto. É um porco, atrás, acho, na frente de baxo, e vei pro meu lado, e aí sumia, ele contava isso direto assim, quase me matava nóis de medo, era só chegá semana santa, diz que parecia memo. 120 PESQUISADORA: O povo antigamente tinha coisa com semana santa, né? Hoje em dia o povo nem liga, faz churrasco na sexta feira da paixão. INFORMANTE: Não, ishi, come carne, faiz tudo, naquele tempo nosso. Eu memo não peguei num foi tanto, no tempo da minha mãe, ea falava que a mãe dela coava mantega de porco pra não passa pro, aqueas coisa aí, por isso que as vezes a pessoa cumia. 125 PESQUISADORA: Cumia o que? Burrinha? INFORMANTE: É... PESQUISADORA: É, não, por exemplo, matava o porco, a gordura pra não come carne nenhuma, coava a gordura pra não ter nenhum sinal de... PESQUISADORA: Ah, nada de, entendi, hoje o povo come. 130 INFORMANTE: Ixe, demais. INFORMANTE 2: Bicho grande, onça, tem por aqui não? INFORMANTE: Tem as sussuarama, já apareceu aqueas marela, no chapadão pareceu. INFORMANTE 2: É, né? INFORMANTE: Ali eu memo já vi várias veiz, você vai saindo, aí aparece. 135 INFORMANTE 2: No dia que nós fomos lá na nascente, nós viu foi o veado gaiero e a ema, eles aparecem por aqui? Saem desse. INFORMANTE: De vez em quando, eu já vi, eu já vi uma fêmea com dois ali, quase no pé da serra ali, eu to veno ela, fui andano, eu vi, eu falei: “Uai, mas eu não tenho criação daque tamanho.” Uma gracinha, ê, mas correu, arrancado dela é tiçardo, eu já vi, aqui memo que é uma reserva quês fala, daque deputado memo, o 140 deputado lá de C. M., eu já vi o rastrim dele, é uma gracinha, bixim mai bunito. PESQUISADORA: Eu nunca vi não. INFORMANTE: Uma casquinha assim. PESQUISADORA: É bonitinho? Lá na casa do, na roça do meu pai estava com problema esses dia, né? Com lobo. 145 INFORMANTE: Ah, lobo guará. PESQUISADORA: O lobo comeu todas as galinhas do quintal, teve um dia que umas 10 morreram de susto. INFORMANTE: Aquele pega, ele tá uivando esses dia, não sei se era aqui ou era lá óia, dano cada uivado, uiva muito de madrugada ou escureceno, vai uivano e andano né? Vai imbora. INFORMANTE 2: Ele dá um uivadão também, né? 150 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: É um dia nós levamos um susto com um lá, vishi. INFORMANTE 2: Lá em casa um dia passamo apertado lá. INFORMANTE: Ê, o lobo guará. INFORMANTE 2: No terrero da cozinha assim, uma madeira. 155 PESQUISADORA: E a gente de fora da casa. INFORMANTE: Fareja galinha, né? Então. PESQUISADORA: É, ele tava no galinheiro mesmo. INFORMANTE: E num dá pra entende, lobo não sobe em arvre, e pega galinha te empulerada, né? Ês fala isso, que ele tinha, é, num dá pra entendê, um lobinho guará, por exempro, óia, ocê sabe que é dois, três, quato ano, 160 cinco ele morre, lobo pega lá, lobo num sobe, lobo é igual cachorro, cachorro num sobe em arvre, num tem jeito, num consegue subi, pega, uai. INFORMANTE 2: Não, o galo lá em casa tem uma árvore na porta da sala, e eu acho que ele caiu no ponto do lobo. PESQUISADORA: Morreu, né? 165 INFORMANTE: Num dá pra intender não. PESQUISADORA: Não, esse lobo foi um, tá lá. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 142 INFORMANTE 2: De primeiro eles tinha uma lenda do tirar o ( ) igual o ( ) arrancava o olho do lobo o que queria. PESQUISADORA: O difícil era arrancar o olho do lobo. 170 INFORMANTE: Tirar dele vivo, penso ele sortar e mata? INFORMANTE 2: E dá certo do lobo fica vivo ainda, né? INFORMANTE: Es falava que punha um pedacinho de coro pra matá, né? Ês cai. PESQUISADORA: Pedacinho de coro do lobo? INFORMANTE: É, pra dá sorte. 175 PESQUISADORA: O difícil é pegar o lobo, né gente? INFORMANTE: É... INFORMANTE 2: Não, mas lá em casa tá fácil de pegar ele. INFORMANTE: Hoje já não usa mais, nem tem cachorro tamém, di primero matava ele, hoje num mata mais. PESQUISADORA: Não, uai, não pode matar não, porque hoje a lei protege, né? Vai todo mundo preso. 180 INFORMANTE: E nem pode, né? Tá doido. INFORMANTE 2: Aqui pra baixo tem uma reserva grande aqui? INFORMANTE: Tem, aqui drobrano aqui. INFORMANTE 2: Mas não tem morador? INFORMANTE: Não, não, tem uns 7, 8km, desabitado, num mora ninguém, dobro aqui, óia. 185 INFORMANTE 2: Vira a esquerda do último morador? INFORMANTE: Não, tem o cunhado do A., marido da, mora ali, óia, aonde tá seu carro ali, óia, dali da casa dele pra lá, é uns 8km ou mai, viu? É só mato e nascente ali, é perto dos Meles. PESQUISADORA: É do C. M.? INFORMANTE: Não, lá de Paraíso. 190 PESQUISADORA: A gente conhece. INFORMANTE 2: É dele, mas como é que é isso, ele pego isso aí? INFORMANTE: Não, é porque ele mexe cum café, né? E tem qui tê essa reserva, né? Quarqué lugá. INFORMANTE 2: Ah, ele comprô ela. INFORMANTE: É, num pricisa sê lá em Paraíso não. 195 PESQUISADORA: Ah tá, ele pode ter fora de Paraíso. INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Ah, eu não sabia disso não, pra mim era só na terra que ele administra. INFORMANTE: Não, quarqué lugá, tem várias aqui, é 20%, né? PESQUISADORA: 20%, isso. 200 INFORMANTE: Aqui parece que é, não sei quanto tava aqui, 150%, ou mai, num sei, é grandi, aí disconta lá, né? Fica como se fosse lá. PESQUISADORA: Ah, eu não sabia não, pra mim era o mesmo lugar. INFORMANTE 2: Eu acho que é até uma coisa errada isso aí, né? Uai, o cara tem que ter aonde é na cidade dele, não é? 205 INFORMANTE: Então, tamém acho, ê tem uma reserva aqui. INFORMANTE 2: Lá perto de mim tem um rapaz também, que até eu comprei as terra pra ele, catô as terra dele inteirinha, e comprô um pedaço. INFORMANTE: Da reserva. INFORMANTE 2: É uns 8km daqui, 10km, a reserva, eu acho que não é justo não, tem que ser no lugar, não é? 210 INFORMANTE: A reserva ali é grande, uai. PESQUISADORA: Ah, mas então fica ali, não... INFORMANTE: É, fica só no papele, num vendi, vei no cumeço, nu cumeço es viero várias veiz, ele não, só sobrevoava, os camarada dele que falava que um dia se desse certo num ia vorta aí mais, num vortô. PESQUISADORA: Só pra registrar mesmo no papel. 215 INFORMANTE: Pra pode dar pro IBAMA que vei aí, né? Acho que aprovo, então, aí num vortô aí mais. PESQUISADORA: O C., mas antigamente o que era o meio de transporte aqui? Carro de boi? INFORMANTE: Cavalo di primero, cavalo, burro, cavalo, muitos anos. PESQUISADORA: E o que vocês usavam nos cavalos pra carregar as coisas? INFORMANTE: Usava? Então, era, antigamente quando não tinha essas coisa, es falava bruaca, né? Que é feito 220 de coro, de carregá, depois pego, usava memo, fazia assim, casinha piquena, assim, cumpridinho, muito forte, e punha tamém, né? Hoje, mais tem, mais recente que pegou os sacos que apareceu, mas num tinha. PESQUISADORA: E era tudo transporte no lombo do burro e do cavalo? Depois que fizeram a estrada pra cruzar carro de boi? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 143 INFORMANTE: É, pra Ponte Arta aqui, óia. 225 PESQUISADORA: Você não chegou a carriá boi não, né? INFORMANTE: Muito poco, quando eu cheguei já tinha mais transporte até de jipe, quem tinha jipe, mais é, esse tempo do meu pai minino, meu avô memo era carro de boi, carretão, né? PESQUISADORA: O senhor Z. tem um carro de boi lá na garagem dele, na varanda dele. INFORMANTE: Tem, tem, aqui tem uns 3, 4. 230 INFORMANTE 2: Tem carro de boi rodando aí ainda? INFORMANTE: Ali no, onde nóis tava falano lá perto do Vale do Céu lá, perto do minino lá, acho que lá tem uns que inda roda, acho que de quatro boi tamém, acho que perto da Casca D’anta, qui tamém tinha, ainda tem. PESQUISADORA: Lá em Jacuí, esses povos ali naquela região ali, tem carro de boi. INFORMANTE: Ah, em Jacuí, eu já ouvi fala memo. 235 PESQUISADORA: Tem, em Paraíso, aquela região, não sei Paraíso mesmo tem, eu sei que Jacuí não, Jacuí, como chama aquela cidade perto de Paraíso. INFORMANTE: Guaranésia ali? PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: Aceburgo. 240 PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: Guaxupé? PESQUISADORA: Não, mais perto. INFORMANTE: Perto de Paraíso? É. PESQUISADORA: Itamogi. 245 INFORMANTE: Ah. PESQUISADORA: Itamogi também tem carro de boi, encontro de carro de boi. INFORMANTE: Ah, eu já vi mostrando no Globo Rural, tem bastante. PESQUISADORA: Eu sei desses dois. INFORMANTE: É bunito, né? Globo Rural já filmo aquilo ali. 250 PESQUISADORA: O barulho dele é bonito. INFORMANTE: É. INFORMANTE 2: Como chama aquele rapaz do Globo Rural que gosta daquilo, né? INFORMANTE: Nelson Araújo? INFORMANTE 2: É, ele tem alguma coisa por aí ou não? 255 INFORMANTE: Tem perto de Barretos ali, eu acho, por causa da cachoeirinha bunita, eu cunheço algum. PESQUISADORA: Quem que é? INFORMANTE: N. A., do Globo Rural, é eu já vi, de veiz em quando es passa aí. PESQUISADORA: O A. N. que disse que gosta de... INFORMANTE: Ah, gosta de anda de moto, mais de vaga tamém, mais acelerado. 260 PESQUISADORA: Não? Não é igual esse povo maluco aí não? INFORMANTE: Não, anda cá turma de Beraba, na cidade de vaga, uma veiz passô aqui de moto, uma moto boa. PESQUISADORA: Essas moto aí precisa de documentação pra anda nelas aqui, precisa não, né? INFORMANTE: Não, carrega, num pode rodá não, na rodovia, não sei se é camionete, ou carretinha, veio do Paraná, Paraná, as carretinha, vei de lá qui na camionete, tem qui tê nota, parece que ês fala. 265 PESQUISADORA: É, nota fiscal. INFORMANTE: É. PESQUISADORA: E aqui vocês tem um posto, não é? Vocês vendem Gasolina? INFORMANTE: É, tem umas coisa de mergência pra essas, tá com chaves pra, essas coisa que são mergência, não tem, óio de motor, 270 INFORMANTE 2: A gasolina, o olho de motor, elas é muito longe, ter aqui. INFORMANTE: Então, não é, que ês faz a coisa aqui pra mudar a marcha. INFORMANTE 2: Eu tava vendo uma mulher vendendo lá, eu até achei barato a gasolina, uai, R$4,00 o litro, uai. INFORMANTE: É. 275 INFORMANTE 2: Pode ser mais caro, uai, aqui só pra trazer essa gasolina aqui é muito custoso, uai. INFORMANTE: Então, mai aqui vendi tamém esse preço, só qui enche a pet até bem na tampa, pra num dá troco, e vendia a 7,50, aí dá troco di mais, né? PESQUISADORA: Ah não, tem que ser sem troco, se não judia demais, uai. INFORMANTE: É, ês põe até memo em cima, bem cheia. 280 INFORMANTE 2: Eu vi um rapaz tocando um carrinho de pet, pensei que era pinga, mas é gasolina, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 144 INFORMANTE: Gasolina, é. Então ê pois a bomba lá di relógio, que marca lá, só que num deu certo, é trepida, aí os númeru num fica certo, aí cê põe dois litro, ela marca um e mei, né? Então o relógio... PESQUISADORA: Aí não dá, né? Ela podia por dois e marcar dois e meio, ou dois, marcar um e meio não dá não, né? Aí é sacanagem. Mas vocês são, não, vocês não são os últimos, mais pra frente tem gente, tem vizinho 285 aqui? INFORMANTE: Não, pra cá, que nem eu ti falei, daqui 8km pra lá, né? Que é a Gurita, aqui é divisor de água, corre pra lá e pra cá. PESQUISADORA: Gurita é o que? É uma cidade? INFORMANTE: É um vale também, só que maior que esse aqui, vai pra lá, pru lado de. 290 INFORMANTE 2: E falar nisso, e aquele doutor lá, coageno com o J. L., tava adoentado? INFORMANTE: Z. R.? INFORMANTE 2: É. INFORMANTE: Ah, não saro não, já faz tempo. INFORMANTE 2: Pois é, ele até mora perto de casa, eu vi ele passando na rua... 295 INFORMANTE: É até o Urugai, meu irmão que arrumo a fazenda prele comprar, tá cum problema na coisa lá, né? INFORMANTE 2: É uai, é novo, né? PESQUISADORA: O que ele teve? INFORMANTE 2: O que é memo que ele tem? 300 INFORMANTE: Ah, não sei, um dia eu perguntei daquele médico lá de Passos, é amigo dele, o Dr. G., né? Ele memo falô, ah num é fáci não. PESQUISADORA: Ah, tem gente que fica doente mesmo, não tem jeito, né? INFORMANTE: É, e num para né? PESQUISADORA: Eu não sei quem é esse não, eu não conheço não, conheço pai? 305 INFORMANTE 2: Uai, conheço, uai, ele mora ali em Santa Inês, na esquina ali da travessa Belo Horizonte, ele é casado com aquela psicóloga, filha do J. L., né? INFORMANTE: É M., né? Eu conheço ele muito. PESQUISADORA: Não sei quem é não, não to sabendo não. PESQUISADORA: É no fundo da casa do Doutor, o Doutor F. ne, a casa tem uns coqueiros, lá de baixo você vê, 310 na esquina. PESQUISADORA: Ah tá, sei. INFORMANTE: É, ele vinha muito, toda sexta ele vinha pra cá, sexta de tardi, na sexta, posava sábado, domingo ele ia embora, né? INFORMANTE 2: E ia lá pra baixo, né? 315 INFORMANTE: É, lá nos Cândido. PESQUISADORA: O senhor mora aqui a vida inteira? INFORMANTE: Nascido e criado. PESQUISADORA: É? Então o senhor conhece essa região inteirinha aqui? INFORMANTE: Uai, modéstia parti cunhece, uma serraiada. 320 PESQUISADORA: Conhece todos os vales, grutas? INFORMANTE: Ah, conhece, ultimamente eu não ando tanto, eu já andei muito, vixi. PESQUISADORA: Agora você fica mais aqui? INFORMANTE: É, saí assim também, ma eu já andei muito aqui, viu? É grande essa serra aí. PESQUISADORA: Ah, imagino, e essa serra tem lendas, ou não? A serra. 325 INFORMANTE: Ah tem. PESQUISADORA: Tem várias? Tem história? Eu já escutei a história da, ah, lá em, na Casca D’Anta que eles contam muita história de uma tal de Zagaia. INFORMANTE: Ah, verdade, essa memo. PESQUISADORA: Eles contam, lá é direto eles gostam de conta essa história, mas cada um tem uma versão pra 330 esse negócio. INFORMANTE: Não, essa é verídica, né? PESQUISADORA: O que é a Zagaia? INFORMANTE: Então, aquele coisa que es fazia de madera que fincava. PESQUISADORA: Era uma espécie de arma? 335 INFORMANTE: É, só que ela tinha as coisa pra baixo assim, de madera, é naquele tempo que não tinha jeito de carrega dinhero, né? Comprava gado, longe levava tocado, é a história que ês memo conta, meu avô conta, aí es ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 145 ia posa lá, já tinha Rube, levava dinhero, posava, Rube era um ponto de poso, né? Posava, aí aparecia os home lá, e matava e pegava o dinhero, né? PESQUISADORA: Era o dono da fazenda? 340 INFORMANTE: É, que tinha essas coisa que era coberto cum pano, né? Aí ficava assim, aí vamos supô, ocê tá num quarto lá né? Aí, depois de lá, puxava a coisa e descia assim. Passou muito tempo, não tinha lugá ermo lá, né? Aí depois es falaro que tinha uma pretinha lá que fumava, né? Ficô sem fumo pra fumá, que fica doido, né? Aí um boiadero tava de poso lá, que falô assim, ela paro e falou assim: “Não, o pedaço de fumo deu, pedaço de fumo prela.” Ele falô assim, o dia que eu vô acha aqui, eu trago procê, coitado, nunca vi, quase compro prele, aí 345 ele pego, e falo: “Num vô deixa.” Quando foi na ... de noite ele num deitô na cama nada, a hora que o coisa veio, a hora que a, ele deito, sorte que, pronto, só pego dinhero, passo fogo no poma todo, e levô a mulherzinha, essa pretinha. A mema história que eu vi contá desse jeito. PESQUISADORA: É, eles contam muito lá na Casca D’Anta. O senhor conhece São João da Canastra? INFORMANTE: Fui lá uma vez só, piqueninho, né? 350 PESQUISADORA: Eu não conheço lá. INFORMANTE: É doutro lado da serra, tem um campim de futebol, né? Umas casa assim. PESQUISADORA: Dizem que lá é bacana. INFORMANTE: É, lá é um lugarzim bão de... PESQUISADORA: De conhecer. 355 INFORMANTE: É, lá é, não, chapadão, né? Ocê desce pro lado de lá, né? É pro lado de Tapira, é Tapira lá, né? INFORMANTE 2: Tapira que é um lugar que o cara planta antule lá de toda cor, não é? INFORMANTE: Tapira? É essa Tapira de lá. INFORMANTE 2: Copo de Leite, já vi no Globo Rural. INFORMANTE: Ah é, de São João lá na Tapira parece que tá 35km lá na Tapira. 360 PESQUISADORA: Ah, pertinho. INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Mas deve ser difícil chegar lá, né? INFORMANTE: Lá na Tapira? Não, se for por São Roque aí não, Vargem, São Roque, lá no São João Tapira, motoqueiro passa demais lá, nossa. 365 PESQUISADORA: Ah, certeza, depois que eu vi eles passando nos lugares aí. INFORMANTE 2: Daquele lugar ali também que tem uns galho ali, sai no São João, se quiser, aonde tem aquelas placas ali? INFORMANTE: É, não, só que não tem de taia não, tem que subi, tem que sê taiado, ês fecha uma estrada que tinha no [...], né? Que ali tava perto, em relação que vai pro São Roque, no São Roque dá 105, 105km, taia por 370 aqui dá menos, é 45km, né? Só quês fecho a subida lá, quês fala garage. PESQUISADORA: Porque? INFORMANTE: O home antigo lá, traficante, tinha uma garage com um jipe, um doginho 29, ês, sei lá, vai ali na portaria do São Roque. PESQUISADORA: Ah, tinha que pagar pra entrar. 375 INFORMANTE: É, aí ês fecho, aí pra ir de carro aí tem que ir nu São Roque, né? Barreiro, Vargem, São Roque, má é longe, né? É, estradão também. INFORMANTE 2: É, no dia que nós subiu a serra, tinha um cara indo lá pro São João. PESQUISADORA: São João da Canastra. INFORMANTE: É, como fala, é. 380 PESQUISADORA: Tem mais alguma história interessante, C. pra contar? INFORMANTE: Ah, tem várias e várias, só que no momento assim, pra você lembra no momento. PESQUISADORA: Não, mas o senhor pode uma hora assim, que o senhor lembrar, lembrei, a gente liga. INFORMANTE: Mas tem várias, cada um tem uma, não é que nem eu, igual meu irmão que num tá aqui, a V. sabe, assim, nóis tudo quês vem passano né? Igual cê falô, tem que passá pra num deixá morre né? 385 PESQUISADORA: Pois é, esse é o objetivo, se não acaba. INFORMANTE: É, então, tinha um, essas chacina que ês fazia aqui antigamente, aqui no Gurita que eu tô falando que é do C. M., só que lá em baixo, uma tar duma, uma veiz fizero uma mortandade lá cum cigano, não sei o que, meus avô, nem meu pai num lembro, viro briga na famia de Lopes, lá em baixo, desceno aqui dá uns 50km, que mato muié, ês contava isso, minha mãe num gostava de contá esa história não, pai dea que contava 390 prela, né? Veio que é, mato, num sei como é que esses Lopes, deu uma briga, só sei que ele mato, foi matano, dano tiro assim, mato muié, muié tava amamentano, e foi, chegou lá pra, o menininho novinho, a mulhé morta e ele tava mamando nela. PESQUISADORA: Credo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 146 INFORMANTE: É, mamãe não gostava de contá, o povo antigo é. 395 PESQUISADORA: Mas tem história de chassina, história forte, né? INFORMANTE: História forte, forte, essas ês contava, aonde ês soube lá, que fala trio de cemitério, tem até uma foto ali, óia, tinha um cemitério que teve uma tal de febre amarela da época, morreno gente, morreno, num vencia leva, aí parece que o prefeito, nem sei, acho que Delfinópolis num era emancipado, deu orde de interrá lá, aí fico com o nome de Cemitério dos Tatu, porque tatu furava tudo. 400 PESQUISADORA: Furava tudo. E diz que tem tatu que gosta de cemitério, né? INFORMANTE: É, então, tem umas poucas. PESQUISADORA: Como eles chama? Tatu, tem um nome. INFORMANTE: Tatu peba, né? PESQUISADORA: É, que gosta de cemitério, não é? 405 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Não, mas já tá ótimo, e a medida que o senhor for lembrando, pode me para, olha, eu lembrei de mais alguma, que amanhã eu vou tá aqui. INFORMANTE: Então, e tem várias. PESQUISADORA: Vou até parar, se não fica muito. 410 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 19 INFORMANTE: J.S. (Analfabeto, 85 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: M.S. (Analfabeta, 83 anos, sexo feminino) INFORMANTE 3: S.P. (Alfabetizada, 70 anos, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro PESQUISADORA: Ué, mas engraçado que ontem a gente veio aqui, não tinha poça d’água na estrada, e aí hoje tinha, lá perto da V. INFORMANTE: É, talvez ocês num viu. INFORMANTE 2: Ou às veiz choveu lá e aqui não, né? Aqui num choveu não. PESQUISADORA: Às vezes choveu muito fininho, né? 5 INFORMANTE: Isso, é. PESQUISADORA: Porque não tinha aquelas poças d’água, eu achei interessante, eu falei: “Uai S., choveu ontem a noite, e nós nem vimos.” Porque tava cheio de poça d’água, assim, um monte, e debaixo das árvores custa secar, né? Fica aquela, a água demora mais a secar porque é sombra. INFORMANTE: A terra aqui é muito úmida. 10 PESQUISADORA: Bom. INFORMANTE 2: Mas pra fazê barro tamém. PESQUISADORA: É uma tristeza, vocês têm um quintal grande. INFORMANTE: Plantio aqui num perdi[r] quase, chove, dá sor, uns 15, 20 dia, tem prantio fáci[l]. PESQUISADORA: Porque é muito úmida a terra, então aguenta, entendi. Isso é bom, né? 15 INFORMANTE 2: Esses dia de sor que deu, lá tamém deu em Passos, né? Ocê furava no chão assim, lá embaxo, tava moiado. PESQUISADORA: Ih não, lá em Passos seca tudo, Passos é muito seco, né? Muito quente, aqui é mais fresco que Passos, né? INFORMANTE 2: É, aqui sempre tem um vento, lá num venta quase, né? Porque... 20 PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: Passos e Ribeirão é as áreas mais quentes que tem aqui. PESQUISADORA: É, eu acho que Ribeirão é mais quente que Passos. INFORMANTE: É mais quente. PESQUISADORA: Nós tivemos em Ribeirão quarta feira, sorte que tava nublado, tava com cara de chuva, 25 porque se tivesse de sol mesmo, Nossa Senhora, ia tá muito quente, mas aqui é bão pra dormir, quetinho de tudo. INFORMANTE: É bom memo. PESQUISADORA: Um sossego, lá na V. é quietinho também. INFORMANTE: A V. hoje desceu pra cá? PESQUISADORA: A V. foi na igreja, ela e o C., desceram os dois, foram na igreja, mas eles disseram que daqui 30 a pouco eles voltam. INFORMANTE 2: Ês voltam. PESQUISADORA: Eles já tão de volta, a V., vixe Maria, ela tem serviço hein? INFORMANTE 2: Ela trabaia, viu. PESQUISADORA: É muita coisa, porque ali não para, é gente o tempo inteirinho, e ela tem que atender, ela tem 35 as moça que ajuda, né? Mas acho que as moças só fazem comida. INFORMANTE 2: É, as moça só fica na cozinha, né? INFORMANTE: No sábado e domingo queas vão. PESQUISADORA: Mas elas, mas ela funciona, ah, ela funciona sexta também, não funciona? INFORMANTE: Todo mês. 40 PESQUISADORA: Mas aí no meio de semana não, né? Não. INFORMANTE 2: E ela se for só duas pessoas também, ela não atende não, pode ser a hora que for, ela não faiz cumida pra duas pessoas. PESQUISADORA: Só pra mais? INFORMANTE 2: É, ea diz que num compensa fazê cumida pra duas pessoa. 45 PESQUISADORA: Entendi, e aí ela nem faz? INFORMANTE: Não, ela desloca assim, não compensa ela fala, né? Não desdobra assim... PESQUISADORA: Não compensa, né? Ah, mas ali não vai duas pessoas não, quando vão, vão mais pessoas. INFORMANTE 2: Vai. PESQUISADORA: Vai? 50 INFORMANTE: Tem dia que ela tá aí, cheia de gente. PESQUISADORA: E aí ficam só, ah, mas no meio da semana tem que ser muito, férias, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 148 INFORMANTE 2: Ela diz que no meio da semana é pra fazê limpeza, pra prepara pro fim de semana, lavá as ropa. PESQUISADORA: E aqui é capaz que assim, independente de ser calor ou frio, tem gente, né? 55 INFORMANTE 2: Sempre tem. INFORMANTE: Pode tá choveno, pode tá fazeno frio, pode fazê calô... PESQUISADORA: O povo não liga não, né? E afinal de contas a estrada tá aí por isso mesmo, né? Olha aí, começou, deve ser aquele povo, né? Deve ir uma gasolina demais, uai, eles aceleram demais, uai. INFORMANTE 2: É, bobagem mesmo, né? Num tem pricisão daquilo. 60 INFORMANTE: O pessoar dorme aí, e vem passiá pra cima aqui, e tem umas casa assim do pessoal que mora na cidade, tem casa por aqui, né? Um sei, final de semana vem pra durmi 2 dias, 3 dias. PESQUISADORA: E aí depois vai embora? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Entendi. 65 INFORMANTE: Tem aqui meu subrinho que mora em São Paulo, tem essa casa aí de lá do riberão, ele vem aqui de vez em quando, né? E vai embora, trabalha demais. PESQUISADORA: Mora em São Paulo? INFORMANTE: É, tenho uma subrinha, que tem uma outra casa, casa nova lá embaixo, comprô a terra, comprô vaca, e tá na fazenda, e vai estudá, e vem duas, treis veiz por mês. 70 PESQUISADORA: Ah, mas esse povo vem pra passear, né? INFORMANTE: É, ela é aposentada, ela é nova ainda, mas ela leciona desde a idade de 17, 18 anos. E agora ela aposentô. PESQUISADORA: Ela dava aula? INFORMANTE: Dava, ultimamente ela era diretora dum colégio lá em São Paulo, 75 PESQUISADORA: Entendi, e aí agora ela lá, mas ela tá trabalhando ainda, ou ela tá aposentada de tudo? INFORMANTE: Não, ela... PESQUISADORA: Aí agora ela aposentou de tudo? INFORMANTE: Aposentou de tudo. PESQUISADORA: Ah não, chega um momento que a gente não quer trabalhar mais não, né? 80 INFORMANTE: O marido dela é empresário. INFORMANTE 2: A aposentadoria da pessoa é mais do que o salário? PESQUISADORA: É, mas deve ser... INFORMANTE: Antigamente passava pra supervisão das escolas, o marido dela é empresário. INFORMANTE 2: Faz tempo que você trabalha nessa área? 85 PESQUISADORA: De pesquisa? Faz. INFORMANTE: Mas você estuda ainda? PESQUISADORA: Eu estudo, na verdade é assim, eu sou professora também, eu dou aula numa faculdade lá em Passos, e eu estudo ainda, eu já tô na última fase do meu estudo, já tá bom, chega de estudar, passar a vida inteira estudando. 90 INFORMANTE: Ah, mas então você não tem tempo de trabaiá nessa área, ocê ainda tá estudano. PESQUISADORA: Tenho, eu faço de tudo, eu trabalho, eu pesquiso, da meia noite às 6 eu faço transcrição de entrevista, faço de tudo, e eu tenho muita aula, eu tenho 18 aulas numa escola lá em Passos, tenho 20 aulas na faculdade, trabalho bastante, eu trabalho o dia inteiro eu trabalho de manhã, à tarde e à noite, todos os dias na semana, e na quarta feira eu vou pra Belo Horizonte, toda quarta feira eu tô lá. Não, mas tá na idade, tá bom. 95 INFORMANTE: Minha sobrinha ela estudou, mas estudou muito tempo, agora ela, como fala, ela trabaiô na área, isquici. PESQUISADORA: Ela mora aonde? INFORMANTE: Lá em Passos, ela vai pra Belo Horizonte, todo mês ela tem que ir. INFORMANTE 2: Ea trabaiava num prédio. 100 PESQUISADORA: Como ela chama? INFORMANTE 2: A. E. PESQUISADORA: Ela é engenheira? INFORMANTE 2: Ela é advogada, né? PESQUISADORA: Advogada? 105 INFORMANTE: O marido dela é policia, é da Policia. PESQUISADORA: Policia Cívil ou Policia Militar? INFORMANTE: Policia Cívil. PESQUISADORA: Ah, não conheço não, você conhece A.? Nunca ouvi falar não. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 149 INFORMANTE: E. 110 PESQUISADORA: E.? Ela é advogada? Ela trabalha aonde, no CREA? INFORMANTE 2: No CREA. PESQUISADORA: Mas o CREA é de engenharia, não é? INFORMANTE 2: Mas ela ainda trabaia lá, né? E na área de advogada ela trabaia tamém. PESQUISADORA: Certo, já tem OAB de certo, né? 115 INFORMANTE 2: Tem, é. PESQUISADORA: Tem, ela trabalha. Mas é isso aí, senhor Z. e dona G., eu tô tentando resgatar a cultura do lugar, o meu estudo é baseado nisso, nas história de antigamente, como que foi povoado, é, as lendas que tem na região, e aí no final das contas eu vou fazer um livro sobre isso, eu fiz de Passos, Passos foi meu primeiro trabalho, e aí agora eu resolvi expandir pra Canastra. 120 INFORMANTE: Em Passos ocê conhece a história do Otávio Passos? PESQUISADORA: Conheço bastante coisa. INFORMANTE: Eu tenho um livro aí, pesquisa de Passos. PESQUISADORA: É um livro do Grilo? INFORMANTE: Não. 125 PESQUISADORA: É um da capa rosa? INFORMANTE 2: Marrom, é marrom, né? INFORMANTE: É antigo esse livro, foi feito a pesquisa em tempos que o pessoal sofria. PESQUISADORA: Os coronéis. INFORMANTE: Os coronéis, prefeito, prefeito de Passos, como que as pessoa trajavam, o dinheiro que ês 130 ganhava na época. PESQUISADORA: Entendi, ah, no livro tem isso tudo? INFORMANTE: Tem, tem coisas muito... Negrão que fez esse livro. PESQUISADORA: Ah tá, então não conheço ele não. Eu conheço aquele do Grilo. INFORMANTE 3: Na verdade o do Grilo é a História da Câmara de Passos. 135 INFORMANTE: Negrão era professor, depois aposentô. PESQUISADORA: Ele gosta muito disso, de livro de história, ele é danado. INFORMANTE: É muita história de Passos, aonde que os coronéis guardava dinhero, onde escondia. PESQUISADORA: Esconder é importante. INFORMANTE: Aonde a famia dele vive. 140 PESQUISADORA: Ah, vixe, essa era famosa em, essa mandava na cidade, mandava e desmandava. INFORMANTE: Famia Maia. PESQUISADORA: Família Maia é muito tradicional. É tradicional, eu, lá tem história de chacina essas coisas, né? INFORMANTE: E muita. 145 PESQUISADORA: Muita história sobre isso, né? Aqui também tem, senhor Z.? INFORMANTE: A história de acontecimento assim, de mortandade não tem muito não, é muito pouco, tem aquela que eu te falei lá do, começo lá. PESQUISADORA: A do Cigano, não, qual o senhor me conto mesmo? Não, acho que quem me conto do cigano foi o C.. 150 INFORMANTE: Esse que eu te falei, o marido da Zagaia. PESQUISADORA: Ah, então, o senhor disse que ia me conta da Zagaia, como é a história da Zagaia? Essa Zagaia é famosa por aí, né? INFORMANTE: É, muito famosa, e é de boiadeiro, tem o rancheiro, né? É muito boa de água a região aqui, é uma área que a pessoa transita, não tem mato pra colocá boiada, comprava boiada, o pessoar do estado de São 155 Paulo, comprava boiada por aqui do Tenente F., e tamém na região aí, Mederos, criava muito gado, isso, dormia ali, era rancho próprio pra boiadeiro, o cara vinha trazê dinhero, comprava o gado, ia embora, mandava a piãozada busca, né? E ele veio um determinado dia, e tinha sumido vários, desaparecia, não tinha comunicação, né? Tinha telefone assim, carta, não tinha nem condição de se enxergar, tamém já num adiantava mais, né? E o boiadero desaparecia e num sabia que era feito, um dia chegô esse, e deu fim nisso aí, e tinha uma preta, 160 cuzinhera do finado C., e conversava bastante, e deu muita dó, coitado, vai morre. A Zagaia era um toco de madera pesada, e tinha aqueas pontiaguda cumprida assim, dava pra travessa o corpo de uma pessoa, e foi visado, a preta falou prele: “Óia, quando ocê entra no quarto, ocê observa pra ocê vê o que tem lá no teto.” Aí ele entro, e é perigoso, pegô o revolver, e encostô num canto, e esperô, né? Fico esperano, de repente aquilo caiu lá de cima, caiu em cima da cama que vazô o cochão pra baxo, e aí o cara veio falano pra gente que era Nego, não 165 tinha energia, e aí o cara pois a cara na porta, ele passo o fogo, matô o cara. E aí o cavalo 9 hora da noite, se ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 150 mandô, foi embora, aí ele veio comprá boiada aí, bem perto assim da famia do tentente L., que ali em Passos tem muita gente desse pessoar, né? Pra ir embora, e agora ficô lá, ninguém sabe o que conteceu, onde que sepultô o home, o que foi feito dele, o que foi feito da Preta, o que foi feito da muié, né? PESQUISADORA: Porque sumiu todo mundo? E aí paro de matar também né? 170 INFORMANTE: Aí acabou, esse era o probrema, matô vários. PESQUISADORA: Até descobri o que acontecia, né? INFORMANTE: Aí vinha do estado de São Paulo, passava pela ponte, com vista, porque não tinha essa ponte das vara, né? Saía em Sacramento e entrava, saía, deve dá uns quase 200km de extensão com pouca água, né? Próprio pra boiadero, e dispois acabô. Então esse tenente ele era dono de uma área grande de mais aqui, uns 10 175 mil arquere de terra, essas pessoa que tem terra demais, e aí esse tenente tinha fio ficou ..., né? Florenço, e era fio, munto uma sede, uma casa muito boa, uma madera que precisa de ver, primera qualidade, feiz uma casa que tinha 24 cômodo, a casa, os quadro as janela passava, tinha 30cm uma peça, né? PESQUISADORA: Os quadro? INFORMANTE: Os portais, né? Tinha 30cm, e aí nesse mei[o] tempo o pai dele morre, né? Ês fala que ele num 180 foi sepultado não, uns fala que é lenda, pode até sê, né? Ele morreu tava assim um velório, chegô 4 pessoa, ah, vamô ajudá levá ele pro cemitério, ali no José Batista no Serra da Canastra, e aí levô, pegaro pra ajudar, e ês começaro a multiplicar demais o passo, e o resto do povo num tava dano conta de anda, e eles disaparecero cum esse corpo. PESQUISADORA: Nunca mais souberam? 185 INFORMANTE: Nunca mais soube o que foi feito cum esse corpo desse tenente F., aí fico, mudô a fazenda, essa casa da fazenda, porque eu até hoje eu tenho revorta, na ditadura, ês dismancharo a casa tudo, hoje se tivesse aí, óia, era um histórico. PESQUISADORA: Com certeza, na ditadura queimaram tudo? INFORMANTE: Queimaram tudo, quemô madera, quemô tudo, num ficô nada, boiada, tinha tropa, né? Criação 190 de burro, né? Então era um movimento loco, agora punha a famia, a piãozada, tinha gente demais, ali em Painera nada, mas em Passos, cortava uns ramo, e acabô que chega cedo, chegasse o sol nem tinha saído, vai embora, vai dormi mais, depois ocê vem, se chegasse carçado, ah, ocê é purgante? Num aceitava ninguém carçado não, tinha que ser discarço. PESQUISADORA: Aé? Falava que era purgante, que era enjoado? 195 INFORMANTE: Ele era enjoado, se a pessoa num desse pra sai bem, ele falava: “Óia, vamo pra frente, se não o cavalo te pisa.” Deus me livre. PESQUISADORA: Ele era custoso então, senhor Z. INFORMANTE: Isso era no tempo do meu pai, né? E meu pai morava lá nessa fazenda até determinado tempo, depois que ele mudô pro Araxá. 200 PESQUISADORA: Depois que ele voltou pra cá que ele casou com a mãe do senhor, não é? INFORMANTE: É, depois que ele fico viúvo lá em Araxá, ele veio pra cá viúvo, ele começo a empreita, tinha um tar de M. Barbosa, empreiteiro que entregava as empreitada, né? E punha as turma pra fazê as limpeza nas rua, e ele era um home que bibia muito, e era pião de burro, chegava final de semana, ele ia pro São João Batista, e vinha tonto, chegava perto da casa longe, e gritava, né? Tinha um tal de roquinho, era cozinheiro dele, 205 né? Aí no causo ele chegava, se a janta num tivesse pronta, ele sempre dava umas chicotada no roquinho, aí chegô um dia que o roquinho tinha uma faquinha dessa finurinha, molô essa faquinha bem moladinha, e fico enrolando pra fazê a janta, né? Os outro que tava no rancho, falô assim: “Faiz a janta, Roque, o sinhô M. tá chegano e te bate.” Ah, mas hoje o M. num me bate, ah, num bate purque, ele tá costumado a batê, quando vi o Roquinho cascô a faca no umbigo dele, aí ele caiu morto, ele ia caindo em cima dele, aí ele impurrô ele com a 210 ponta da faca, caí pra lá, num caí em cima de mim não. PESQUISADORA: Aham. INFORMANTE: E aí pegô um pedaço de rapadura, e dobro o chapadão pra cá, bem aqui pra onde o L. tinha fazenda, tinha não, morava, né? Ê mas foi um tempo difícil, precisa de ver, aí o C. era encrenqueiro com os vizinho, encrencô cum italiano, um tar de M. Gambazento, encrencô na divisa, e foi acertá a divisa, levô vários 215 pião, inclusive meu pai tava junto nesse dia, aí ele pegô, começaro a discuti[r], M. tava discarço, que era a divisa era pura água, a butina na mão, ele rumo a butina, e falô pra ele assim: “Até que você é um baturno.” Ele era italiano, sem vergonha, e bateu um par de butina na boca dele, o sangue desceu, né? Acho que até arredô. “Nossa, vai cabá matano ele.” Tinha uma mausa na cintura. PESQUISADORA: Mausa? Não, o que é mausa? 220 INFORMANTE: É uma faca, né? O que acontece, e aí começaro a se pegá no tapa, né? Aí entrô o pessoar pra tirá, aí pego a faca, a faca na cintura de um dês, e deu uma facada num funcionário dele, que sabia que, capaz que até tiro uma boca assim, saiu uma fita de sangue assim, sangue de batê na boca, e caiu, morreu. Ele falô: ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 151 “Agora cêis dão um jeito aí.” E esse M. veio embora, tranquilo nem tava ligano, num tinha medo de jeito nenhum, esse M. viveu um bom tempo aí, criô a famía, a famía já tá tudo moça, e logo as moça cresceu, e ele 225 ficô, já véio, já doente, a famía começo a encrencar por causa de terra de novo, e aí o que acontece, dois irmão mais véio me conto aqui que quer essas terra aqui embaixo aqui, um atirô no outro e mato. Tinha 11 ano nessa época, ih, mas foi um tempo quente, foi pra casa, foi preso, arrumô um advogado, o advogado cabo tirano ele, ele ficô uns dois ano, e ele acabo vortano pra fazenda..., e deu numa época que o pai tava nas urtima, aí ele reuniu, tava lá na serra, pai doente, ruim demais, aí ele dois deles tavam num sei onde aí, aí tinha uma menina, a 230 menina ficô doente, tinha que ir numa farmácia buscá um remédio, aí ês pegaro, trouxe a tropa, fechô o animar pra pegá o remédio. Tava de... que matô o outro aqui, pegô o animá e arriô, arriô e foi pra dentro da cuzinha com a faca na mão, e aí discutiro, e falô: “Como que faz isso aí.” Ai tinha um subrinho, casado com uma das cunhada deles, das irmã deles, né? Deu cinco tiro no Branco, matô, e ele caiu, tem uma escada alta assim que saía na porta do fundo, jogô, e caiu lá, nesse mermo dia o pai morre tamém, foi os dois velório, os dois sepultamento no 235 memo dia. Também num teve processo, num teve crime nenhum, não teve nada. PESQUISADORA: Antigamente não tinha isso não, matava e ficava por isso mesmo. INFORMANTE: Cada história. PESQUISADORA: Eu imagino, como que o senhor construiu essa casa aqui mesmo? INFORMANTE: Como? 240 PESQUISADORA: É, ontem o senhor falou da madeira, da janela. INFORMANTE: Da minha própria mão, né? PESQUISADORA: O senhor que fez? Sozinho? INFORMANTE: Sozinho, não tinha dinhero pra paga ninguém, ela só trazia uma cumidinha pra mim lá da casa do pai dela, né? 245 PESQUISADORA: A dona G.? INFORMANTE: É, tinha 17 anos. PESQUISADORA: Era criança praticamente? INFORMANTE: É, ela tinha 17 eu tinha 21, comecei a lavrá madera, puxá madera, montá a casinha, casinha com esteio, né? Fazê o assuaio, serra madera, fazê o assuaio, tudo de feito a mão, né? E comecei a montá a casinha, 250 nós caso em outubro, quando foi em feverero, feverero de 51, feverero de 52 nós passô pra dentro dela. PESQUISADORA: E aí o senhor já tinha terminado, é inteirinha, o teto é de pedra? INFORMANTE: É tudo de pedra, só isso aqui que não, o resto é tudo de pedra, mas a casinha que nóis morô primero, é luga que é assuaio, dispois a famía foi aumentano, e também tinha assim, muita gente, famía, antes que a famía aumentasse eu fiz mais um quarto, e a gente, sobrô mais um espaço, hoje é a famía grande, 7 né? E 255 aí eu armentei mais dois quarto, e armentei, fiz essa cuzinha aqui que um tinha, né? Essa que desce pra cá em 69, e dispois quando a minha fia primera que casô, foi feito esse banheiro aí. PESQUISADORA: Aqui? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Porque antes não era o banheiro não? 260 INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Era o que? INFORMANTE: Mato. PESQUISADORA: Mato, não tinha nem como chama aquele negócio de antigamente. INFORMANTE: Cisterna, privada? 265 PESQUISADORA: Não, não era isso que o povo chamava antigamente, como que o povo chamava, lá na roça do meu pai tinha, que eles fazia um buraco. INFORMANTE: Fossa. PESQUISADORA: Fossa, como que chamava? INFORMANTE: Fossa. 270 PESQUISADORA: É isso mesmo. Na roça do meu pai aonde é a fazenda do meu avô, que agora meu pai tá com ela, era, muitos anos foi assim, era uma casinha, e aí tinha, eu lembro direitinho, gente eu era pequena, e era desse jeito, eu tinha um medo de cair dentro, o buraco era assim, não tinha nem jeito de enfiar o pé se bobeasse. INFORMANTE: Chamava privada, né? PESQUISADORA: O povo chamava de fossa igual o senhor falou, não era privada não, era fossa, e aí era esse 275 negócio, até hoje ainda tem o buraco ainda tem, a casinha desmancharam, eu tinha um medo de cair naquilo, senhor Z. do céu, eu tinha um trauma de entrar naquele negócio, igual eu tenho trauma de galinha com pintinho, uma vez eu tava na roça, a galinha correu atrás de mim, voo na minha cabeça, mas bicou tanto, e eu não tava nem olhando pros pintinho dela não eu era menina, tinha uns 7 anos, não estava nem ligando pra galinha não, mas quase me matou de bicar, mas como chama a madeira que o senhor colocou aqui? 280 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 152 INFORMANTE: Canela de véio. PESQUISADORA: Mas porque chama Canela de Velho? INFORMANTE: Não sei. PESQUISADORA: O senhor não imagina não? E como o senhor fez as janelas mesmo? O senhor contou ontem. INFORMANTE: Madeira de cedro e os portão de guatambu, e eu fiz na praina de mão, né? Porque o banco, 285 você coloca no banco, passa a praina, até fica lisinho, né? E vai modelando ela, né? Até dá uma janela, e depois faz o quadro, faz os jabe, e jeita, a janela assenta certim dentro daquele quadro ali. PESQUISADORA: A última parte que o senhor faz é o que? Dentro da janela? INFORMANTE: Como? PESQUISADORA: A última parte que o senhor põe na janela é o que? 290 INFORMANTE: É tábua, depois você passa uma travessa nela aqui, pra podê montá a janela, né? E aí fica pronta né? É só coloca a dobradiça e abrir e fecha, né? PESQUISADORA: E como é que fecha, tem que trancá, com o que? INFORMANTE: Com tramela. PESQUISADORA: E aí põe a tramela que é a ultima coisa? 295 INFORMANTE: A última coisa. PESQUISADORA: E eu achei engraçado que não esquenta de jeito nenhum esse negócio de, esse teto de pedra. INFORMANTE: Não esquenta não, isso aqui é a natureza da terra, porque é matéria orgânica, né? Sem queimá. PESQUISADORA: Não, ele não é quente de jeito nenhum, quando faz calor, muito calor, ainda aqui dento fica fresco, não fica? 300 INFORMANTE: Ixe, fica. INFORMANTE 3: Não, essa esquenta, essa não tem jeito não. INFORMANTE: Essa esquenta demais. PESQUISADORA: E no inverno, deixa muito frio ou conserva também, não fica frio demais? INFORMANTE: Não fica muito frio não, é igual eu tô te falando, ela é matéria orgânica, é de acordo com o 305 tempo, né? Pra você ver, a casinha é quentinha, baixinha a casinha, bem fechadinha. PESQUISADORA: E assim... INFORMANTE: Então pode tá chovendo, pode tá... PESQUISADORA: Sol, de chuva, inverno que é a mesma temperatura. INFORMANTE: Geada, né? 310 PESQUISADORA: Que é sempre o mesmo jeito? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Eu achei muito interessante esse negócio. INFORMANTE 3: Mas como o senhor cortava, senhor Z., as pedras? INFORMANTE: As pedras lá na pedreira. Ela é, ela tem um, acho que tudo assim, mas ela é desfiada assim, você 315 pega, enfia uma pá, um pé de cabra, ou quarqué coisa, uma mola de caminhão, cavadeira, vai tremeno ela, ela vai saino, vai saíno e ocê tira o tamanho que queira né? E se fizé só a gente não trouxe uma muito grande, porque num carro de boi num tem como, né? E, mas se quise trazê uma pedra que dá o tamanho de um assuaio de um caminhão, num é dificir. Agora fico muito explorado, que o pessoal puxou pedra de mais, levou pedra de todo canto, né? Ultimamente foi proibido pelo Ibama, né? Agora ninguém mexe mais na terra. 320 PESQUISADORA: Não, né? A casa da V. também era de pedra, né? INFORMANTE: É, ainda era mais véia do que essa aqui. PESQUISADORA: É, o C. falou ontem que tem 119 anos a casa, agora faz 3 anos que derrubou e fez outra né? Mas tem uma varanda lá que ainda o telhado é de pedra. INFORMANTE: É, a casa foi feita em ..., era do avô dela, né? 325 PESQUISADORA: Ah é, o C. falou, o senhor é primo da V., tio? Não, o senhor é primo, mas aí ela é tia? Mas aí escuta a história, ontem o C. me falou, ele é primo da V., e ela é tia da V., é tia, né? INFORMANTE: É irmã do pai da V. PESQUISADORA: É irmã do pai da V., e aí ela casou com o ele, ele virou tio, ele é primo e tio da V. INFORMANTE: E a minha mãe é irmã da mãe da V. 330 PESQUISADORA: A sua mãe, gente é engraçado esse parentesco. INFORMANTE: Mais essa. PESQUISADORA: É divertido isso. INFORMANTE 2: Ele é primo duas veiz da V., né? PESQUISADORA: Duas, é uai, acabou ficando, é confuso. 335 INFORMANTE: Entendeu? A vida continua até hoje, 62 anos de casado. PESQUISADORA: É muito tempo, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 153 INFORMANTE 3: Muito tempo. INFORMANTE: Muita gente já nasceu, crio famía, num existe mais. PESQUISADORA: Vocês tem quantos filho, 7? 340 INFORMANTE: 7. PESQUISADORA: E quantos netos? INFORMANTE 2: 14. PESQUISADORA: Vixe, é bastante neto. INFORMANTE 2: Só ainda não tem bisneto, aí... 345 PESQUISADORA: Mas quantos anos tem a neta mais velha? INFORMANTE: A neta mais velha tem 22 anos, casada já. INFORMANTE 2: Casou. PESQUISADORA: Ah, mas daqui uns dias ela tem menino então. INFORMANTE: Ah, eu acho que não, ela tá pensando. 350 PESQUISADORA: Tá certa ela. INFORMANTE 2: Diz que vai afirmar a vida premero. PESQUISADORA: Tá certinha, ela mora aonde? Em Franca? INFORMANTE: Mora, tudo em Franca. PESQUISADORA: Olha, pode desligar, ah, desliga não, espera aí, eu vou desligar o gravador. 355 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 20 INFORMANTE: S. M. (Alfabetizado, 78 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: A.M. (Alfabetizada, 74 anos, sexo feminino) INFORMANTE 3: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: Pode contar, fica a vontade. INFORMANTE: A Globo não tá chegando por aqui não, né? PESQUISADORA: Não, mas depois eu vou trazer pro senhor, a Globo vem, mas. INFORMANTE: Deixa eu te contá o causo do A. R., oferecero uma casa pro meu pai lá em Passos, e essa casa era da sogra do A. R., e o A. R. o senhor sabe, ele era negociante, eu tenho parente aqui no Glória, eu tenho 5 parente aqui. INFORMANTE 3: Tem, uai, o P. é sobrinho dele, é casado com... PESQUISADORA: Ah, o Paulo é o da diretora lá da escola, a L., isso mesmo. INFORMANTE: É, P. INFORMANTE 2: O apelido dele aqui no Glória é P. 10 INFORMANTE: P. é parente do A. R.? INFORMANTE 3: Ele é sobrinho do S. lá... INFORMANTE: O P. é meu amigo, aconteceu um acidente com ele, coitado, puxa vida. INFORMANTE 3: Pois é, de moto, né? Eu vi ele outro dia, tá arrebentadão. PESQUISADORA: Mesmo? 15 INFORMANTE 3: Pois é, ele é meio malucão, né? Ele é meio doidão pra andar nessas coisas de moto. INFORMANTE: E tem dois meninos. PESQUISADORA: Tem, os gêmeos. INFORMANTE: Os dois menininhos ainda chama Pica Pau, os dois Pica Pauzinhos. Então nós temos amizade, ne? Eles tem amizade com meus netos, até comigo, de vez em quando, o T., e tatatá. 20 PESQUISADORA: Eles fazem agronomia, né? Os dois meninos? INFORMANTE: Fazem. PESQUISADORA: Eles foram meus alunos. INFORMANTE: Esses dias meu neto um dos meus netos muntou com eles no cavalo e foi lá pra serra. PESQUISADORA: Qual neto? 25 INFORMANTE: Qual, o meu? PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Que foi, foi o L. PESQUISADORA: O L. M.? INFORMANTE: É, esse mesmo. 30 PESQUISADORA: Eu fui professora de todos os netos do senhor, uma novidade, olha, a G., do L., como chama o irmão do L., é B.? INFORMANTE: O B. PESQUISADORA: O B., eu fui professora do B., o G. é neto do senhor também ou não? INFORMANTE: O G., é de, deixa eu fala uma coisa procê, ocê acha que eu sô muito cabadão? 35 PESQUISADORA: Não, o senhor tá muito conservado. INFORMANTE 3: Com essa idade que o senhor falou aí, tá zero bala, uai. INFORMANTE: O G. é meu bi, rapaz, pelo amor de Deus. PESQUISADORA: O G. é bisneto do senhor? É o G. que estuda lá no COC também? E os netos, todos os netos são bons, tudo menino educado. 40 INFORMANTE: Eu falo: “G., pelo amor de Deus G., num cresce não, que ocê tá me pono eu véio, G.” PESQUISADORA: Eu pensei que o G. era neto, e é bisneto. INFORMANTE: O M., quando o G. nasceu, o M. tava completando os 17 anos, tem base? PESQUISADORA: O que é isso, então o M. é o pai do G. INFORMANTE: Quando foi pra esse G. nascer, eles, M., mas como que vai ser, M., M., o que é isso M. 45 PESQUISADORA: M. é a... INFORMANTE: M. é a mãe do M., é avó do G. O que é isso, pede a Deus pra vir uma criança sadia, perfeita, e foi o que aconteceu, o G. vem aqui na minha casa quase todo dia, me trata muito bem. PESQUISADORA: O G. é uma gracinha de menino. INFORMANTE: E a mãe do G., se eu tive, pergunta pra mãe do G. quem sou eu, eu sempre tratei ela bem, e ela 50 sempre me tratou eu bem. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 155 PESQUISADORA: Eu não conheço a mãe, eu já vi algumas vezes na escola. INFORMANTE: Inclusive casou, já foi na minha roça com o marido dela, eu fiz o que eu pude pro marido dela, porque ele é também uma pessoa boa, ela não tem culpa de nada ele também não tem culpa de nada, aconteceu, é consequência. 55 PESQUISADORA: E o menino é muito bom, o G., não é? Ele é muito, uma pessoa boa. INFORMANTE 2: Ela trabalhava comigo na prefeitura. PESQUISADORA: A mãe dele, do G.? INFORMANTE 2: É, com 18 anos, e ele 15, eles namorava, foi o primeiro namorado dele e dela. PESQUISADORA: Ele tinha 15, e ela 18? 60 INFORMANTE 2: É. PESQUISADORA: De repente apareceu o G. INFORMANTE: A N. é uma pessoa, não sei se você vai conhecer a N., a N. é uma pessoa muito boa, né? O pai dela é meu amigo, com toda razão eu sempre tratei ela bem, não arrependo e quero sempre tratar ela bem. PESQUISADORA: Não... 65 INFORMANTE 2: A G., G., nós moramos aqui faz 10 anos, a G. veio pra cá com 3 anos. PESQUISADORA: Pequenininha, a G. é minha aluna esse ano. INFORMANTE: Outra coisa que eu não queria, que a G. está me contrariando, é que ela tá crescendo, eu queria que ela ficasse pequenininha. PESQUISADORA: Pequena é mais fácil. 70 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Eu falo que a gente tem, eu tenho três sobrinhos. INFORMANTE: Outra coisa que me assustou, desculpe, a G. foi passando perto da L., a G. tinha uma diferencinha assim da L., eu falei: “Meu Deus do céu, mas a G. está mais alta que a L.” L. é minha filha, a caçula. 75 PESQUISADORA: A L. e sua filha, o senhor conhece, pai, sabe a lá da pousada? INFORMANTE 3: Conheço ela. INFORMANTE: A G. tá passando, eu não queria. PESQUISADORA: Mas eles crescem muito, não cresce? INFORMANTE: Mas fazê o que, né? 80 PESQUISADORA: Fazer o que, não tem jeito, é... INFORMANTE 3: É igual tem muita gente preocupado em ganhar dinheiro, eu queria ficar era novo, com 20 anos, já pensou que beleza, em? Com a experiência de agora, hein? INFORMANTE: Então rapaz. INFORMANTE 3: Não tinha dinheiro que pagasse. 85 INFORMANTE: Essa tecnologia, essas coisas tudo diferente, cara. INFORMANTE 3: E a maioria hoje não tá dando valor nisso. INFORMANTE: Então. INFORMANTE 3: Não tá sabendo usar, né? INFORMANTE: Coisa que eu admiro, sabe? O que eu admiro, meu filho fez um silo, você viu os buracos do silo 90 lá? INFORMANTE 3: Vi, vi. O dia que eu estive lá, estava quase no dia de cortar silo, cortar roça. INFORMANTE: Eu sou curioso, eu tenho arrependimento de não ter estudado, e graças a Deus inteligência eu tenho, eu tinha que ter estudado, eu entendo muita coisa que às vezes pessoas que não tem, que tem mais um estudo melhor do que eu não tem igual eu, entendeu? Então ele fez o silo de milho, eu não vou falar essa 95 variante, de diversas variedades, mas o milho geralmente 104, 105, 106 dias aí é o silo, sabe? Depois deixa murchar as folhas, alguma folha verde, alguma, aí a colhedeira já vai e consegue debulhar e faz o silo de, conversar com quem entende é coisa boa, faz o silo de graúdo, e joga aquela palha fora, aquela palha ela não é uma palha seca, ela é uma palha desidratada, e uma matéria desidratada é um alimento, é alimento. INFORMANTE 3: Aqui eles já estão fazendo muito silo com a auto motriz já? Tá, né? 100 INFORMANTE: Tá. INFORMANTE 3: O T. seu irmão tem a automotriz? INFORMANTE: Tem, tem. INFORMANTE 3: Porque eu vou te falar, essa colhedeira pequena vai acabar, viu? De uma linha, vai ter que fazer todo mundo... 105 INFORMANTE: Já falei pro T. inclusive. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 156 INFORMANTE 3: lá inclusive tinha arrumado outro dia uma grande pra terminar um silo lá, mas aí ela quebrou, é do S. B. aí, ela estava até perto, aí ela quebrou, teve que fazer lá com as pequena mesmo, mas vai mudar tudo pra colhedeira grande sim. INFORMANTE: Então, o L. colocou uma de duas linhas e uma de três, só que a de três não é dele não, não sei se 110 é com a dona L. que ele arrumou essa de três, eu sei que a dona L. tem uma grande, e o M., o grupo Tucaninha tem uma também, tem uma grande, mas ele, o L. não teve oportunidade. INFORMANTE 3: Mas vai ter que ser só com a grande agora. INFORMANTE: Ah, vai ter que ser, não tem a mínima condição. INFORMANTE 3: Ah não, demora demais, é muito homem, a mão de obra tá caro. 115 INFORMANTE: É. INFORMANTE 3: Aquela grande não, a rapidez acaba com tudo. INFORMANTE: Então o L. teve sorte, porque ele conseguiu fazer o silo, mas não foi fácil. INFORMANTE 3: Mas fala em silo, que ano de seca brava, não foi? Nossa mãe. INFORMANTE: Eu levantei, eu dei uma encostadinha, mas não dormi não, esses dias eu tô levantando pra 120 dormir, eu tive um problema, hoje, você toma? Ah você não toma vacina pra gripe não, né? PESQUISADORA: Agora ele pode tomar. INFORMANTE 3: Eu já tomei, mas faz uns dois anos que eu não tomo, tá? INFORMANTE: Eu tomo, mas de vez em quando eu sofro um resfriado, e no começo da semana eu tive um resfriado, um resfriado bem forte, e eu não tô muito bom pra dormir, é tanto que eu fiz questão e deitar mais 125 tarde, pra mim dormir, vou dormir gente, a coisa que Deus mandou pra nós foi o sono. PESQUISADORA: Com certeza. INFORMANTE: É verdade, eu falei: “Eu vou deitar mais tarde, porque eu quero dormir.” Não quero atrasar o seu expediente. PESQUISADORA: Não, o senhor não está me atrasando não, o objetivo é esse mesmo, é assim mesmo. O que o 130 senhor tá contando aqui, o senhor tá falando, é o que eu quero, depois eu vou juntando isso tudo. INFORMANTE: Aí depois você vai fazer as perguntas? PESQUISADORA: Não, eu não vou fazer pergunta específica pro senhor não, o senhor pode ir contando, depois o senhor vai falar assim, tudo o que o senhor está contando aqui, faz parte do trabalho, eu quero saber como que é a vida na... como eu foi no começo quando o senhor veio, por exemplo, o senhor é daqui do Glória, já nasceu 135 aqui? INFORMANTE: Nasci aqui. PESQUISADORA: Então, eu quero saber esse tipo de coisa, como que era, as histórias da época do avô do senhor, porque eu garanto que tem muita história aqui do Glória, as vezes de pessoas que vieram morar aqui, porque o Glória tem quantos anos? 140 INFORMANTE: O Glória é muito antigo, não sei se é 1850, 1860, só que a emancipação política, foi em 1949. PESQUISADORA: É novo. INFORMANTE 3: O Glória era município de Delfinópolis? INFORMANTE: Uma curta temporada. PESQUISADORA: E depois era de onde? 145 INFORMANTE: Passos. Então quando emancipou separou de Passos, eu vi contar uma história, eu fiquei sabendo disso pouco tempo pra cá que Delfinópolis queria a emancipação política, sabe? Mas o município a área não dava, então combinou com Passos, Glória, e o Glória emprestou pra Delfinópolis, Delfinópolis ter força de emancipar, emancipação política que eles chamam de emancipação política. PESQUISADORA: Sei, emprestou terra? 150 INFORMANTE: É, emprestou o município. PESQUISADORA: Ah, entendi. INFORMANTE: Aí é aonde que ele falou que pertenceu a Delfinópolis uma curta temporada que passou a pertencer Delfinópolis, aí voltou pra Passos, e aí... PESQUISADORA: Emprestou só pra emancipar? 155 INFORMANTE: É, aí resolveu o problema de Delfinópolis, aí voltou pra Passos, e ficamos ligadinhos com Passos, embora o Glória não veio de Passos, quando o Glória começou não existia Passos, acho que nem travessia no Rio Grande não tinha, então o Glória veio de cá, uma das cidades mais antigas que tem na nossa região, é Piumhi, então o Glória veio de Piumhi, os cavaleiros aqui nas margens do Rio Grande aqui, Capitólio, eles vieram aqui nessa praça aqui, fincaram um cruzeiro, eu tenho até hoje, eu tenho até um livro aí, depois 160 qualquer coisa eu posso até te emprestar ele. PESQUISADORA: Aquele que o Grilo fez? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 157 INFORMANTE: O que o Grilo, um outro moço também, então aí formou aí o lugarejo, né? Um tal de curato, acho que eles falava curato, curato significa “antes de paróquia”, depois veio a paróquia, né? E depois veio, foi crescendo o povoado, o cruzeiro, a capela, e tá, tá, e você conhece essa igrejinha aqui? 165 PESQUISADORA: Uma que eles reformaram, uma pequenininha que tem ( ) INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Eu já vi. INFORMANTE: Então, essa aqui não é tão nova, a mais antiga é a daqui, até conta que essa aqui foi construída pros pobres. 170 PESQUISADORA: E aquela ali pros ricos? INFORMANTE: Pros ricos, contam assim. INFORMANTE 3: É, antigamente tinha isso, São João Del Rei, essa região tudo tinha isso, né? INFORMANTE: São João Del Rei teve uma conversa de ser a nossa capital, São João Del Rei. INFORMANTE 3: Chegou a ser por um tempo, eu acho que foi, não foi? 175 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Eu sei que Jacuí foi por um dia. INFORMANTE: Jacuí? PESQUISADORA: Foi a capital de Minas Gerais por um dia, o senhor não sabe dessa história não? INFORMANTE: Então eu te pergunto uma coisa, porque que Jacuí é tão antigo? 180 PESQUISADORA: Jacuí é antigo porque na verdade, eu acho que os paulistas vieram pra aquela região e descobriram ouro, e aí começou uma briga, o senhor sabe que tem uma briga entre Minas e São Paulo pela, na verdade eles chamam de sertões de Jacuí, o senhor conhece, são acho que 15 cidades, eu não lembro exatamente quais são as cidades, mas é Jacuí, São Sebastião, Passos, Fortaleza, é uma região grande, Ibiraci, e aí descobriram ouro em Jacuí, o senhor conhece Jacuí? 185 INFORMANTE: Não conheço bem, eu tive perto de Jacuí, mas não cheguei em Jacuí. PESQUISADORA: Lá tem umas, assim, um não é jazida que fala, tem tipo uns restos lá de mineração, que eles faziam ouro, tem construção de pedra, e aí quando eles descobriram ouro em jacuí, eles começaram a brigar pela posse, São Paulo falou: “Essa região é minha.” Claro, tinha ouro, Minas Gerais falou: “Não, é minha.” E aí ficou aquela briga, e aí teve uma época que pertenceu a São Paulo, e aí voltou pra Minas Gerais, e aí o governador de 190 Minas passou uma noite nesse perrengue aí, e ficou uma noite em Jacuí, aí ela virou capital de Minas porque o governador estava lá. INFORMANTE: E você conhece Jacuí? INFORMANTE 3: Eu conheço pouco, já estive lá. INFORMANTE: Mais ou menos quantos mil habitantes? 195 PESQUISADORA: Ah, Jacuí não deve ter nem 10, deve ter uns 5 mil habitantes. INFORMANTE: Não, o que eu... INFORMANTE 3: O perigoso de andar nele, é porque eu nunca vi tanta ladeira assim. INFORMANTE: É, né? Então o que eu não entendo de Jacuí, que eu cheguei a tomar conhecimento de é, como que surgiu Passos, o que eu não entendi, porque Passos veio de Jacuí. 200 PESQUISADORA: É porque assim, quando eu estudei, é porque o Jacuí, a rota do pessoal que fazia, como eles chamavam aqueles que vendia as coisas? Os viajantes, esses caras que andavam vendendo, é caxero viajante é aqueles do gado também, que transportava gado, eles passavam por ali, a rota deles era por lá, e eles descobriram ouro lá, e aí de Jacuí que expandiu pro resto. É igual. INFORMANTE 3: Ah, e uma coisa, a família do senhor é daqui mesmo, não veio de outro lado não, veio aqui do 205 Glória mesmo? INFORMANTE: Eu não conheci meus avós, sabe? INFORMANTE 3: É porque eu sou muito atento com esse negócio de parente, eu gosto de rezar até pra parente de longe, aí outro dia eu tava perguntando pro Tio A. R., eu sei até que é meu bisavô, que ele chamava J. A. R. INFORMANTE: Falar nisso, eu acabei de contar a história do A. R.? 210 PESQUISADORA: Da casa não, o senhor parou. INFORMANTE: Aí pegou, como A. R. gostava de negociar em gado, o meu pai não tinha dinheiro disponível pra comprar gado, né? Gonçalves Dias, meu pai negociou o gado com A. R., pra pagar a casa da sogra dele, que a sogra dele vendeu pro meu pai, então é isso eu conheço. INFORMANTE 3: A. R., uma catira é com ele mesmo. 215 INFORMANTE: A. R. de frente o H. G. daqui do Glória lá perto do orfanato, como é que chama lá, o... PESQUISADORA: Educandário. INFORMANTE: É, educandário, A. R. assim e o G. aqui. PESQUISADORA: H. G. é aquele da esquina? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 158 INFORMANTE 3: É o sogro do G. 220 PESQUISADORA: Ah, eu sei é a casa pra baixo daquele negócio de lanche. INFORMANTE: Então, aí... INFORMANTE 3: Isso, aí eu perguntei ao T. R. quem era o bisavô dele, ele falou que esse bisavô meu veio do Rio de Janeiro, veio de Vassouras, ele não sabe o parentesco depois do bisavô não, depois do bisavô dele ele não conhece ninguém, assim na origem, eu acho que eles vieram pra Ventania, Ventania pra cá. 225 INFORMANTE: Teve um velório que o A. R. participou, aí eu perguntei um amigo; “Ah o A. R., porque o A. R. aqui nesse velório, hein?” Ele falou: “Não, ele é nosso parente.” Meu pai fez essa negocera com ele, e eu não sabia que eu tinha parente, ele tem parente aqui, como é que ele tá? PESQUISADORA: Tá, vixe, a mulher dele morreu faz pouco tempo, né? INFORMANTE 3: Até aconteceu um caso engraçado, né? Ele me chamava eu pra ir pra Serra, né? Até eu fui 230 muitas vezes com ele, até toquei lá na serra pra ele, e eu falei com um primo meu, que eu, ele é bom motorista, mas ele facilita, ele corre demais, ele dirige com uma mão só segurando, e eu falava: “Tio A., garrá nisso aí.” E ele num manda a gente guiá de jeito nenhum, e eu falei pra um primo que eu tinha medo de andar com ele, meu primo fala pra ele, ele não me chamou mais. INFORMANTE: Olha. 235 INFORMANTE 3: O primo meu muito com prosa. PESQUISADORA: Aí ele ficou chateado, nunca mais chamou. INFORMANTE 3: Mas o anjo da guarda dele é forte, viu? Porque ele corre, ele tem um Golzinho que anda pra caramba, e ele aproveita mesmo. INFORMANTE: Eu sei que tinha um cunhado dele que era professor. 240 INFORMANTE 3: É o F. INFORMANTE: F., isso. INFORMANTE 3: Morava na Antônio Carlos ali, né? Na rua Antônio Carlos, descendo pra baixo do fórum. INFORMANTE: Não, não sei, isso eu no sei, eu sei que o professor F., era um cara assim, parece que além de professor, era um cara assim, estimado, tinha nome, né? 245 INFORMANTE 3: É, ele era meio intelectual, meio, né? PESQUISADORA: Não conheço esse não. INFORMANTE: Professor. INFORMANTE 3: Já morreu também. INFORMANTE: Morreu, né? Professor F., mas ele é mais novo do que o A. R. 250 INFORMANTE 3: É, é sim, a mulher do Tio A. morreu a pouco tempo agora. INFORMANTE: É? Aí, tá vendo, pois é, porque eu tenho oportunidade, tem meu amigo ali, conterrâneo, que morou de frente ao A. R., eu vou até falar com ele. INFORMANTE 3: É, ué, passa lá uma hora, Tio A. é ajeitado. INFORMANTE: A Gonçalves Dias faz uma curva assim, não faz? 255 INFORMANTE 3: Faz um curvão lá. INFORMANTE: Naquela curva ali é a casa que meu pai comprou, sabe? Pois é, meu pai morreu, essa casa ficou pra minha irmã, e a minha irmã acabou vendendo essa casa. PESQUISADORA: E o senhor não conheceu os avós do senhor? INFORMANTE: Não conheci. Meu avô materno, ele é, meu pai falava que ele era um homem inteligente sabe? 260 Apesar que ele, estudo, acho que o estudo dele acho que era baixo, mas eu acho que meu avô fez uma coisa importante, que o primeiro formando aqui no Glória, que eu acredito no meu modo de entender, era o filho do meu avô, Dr. J. Q. T., Cirurgião Dentista, formou em Ribeirão Preto. PESQUISADORA: Era seu tio? INFORMANTE: Meu tio, irmã da minha mãe, então acho que foi o primeiro formando acho que foi, o diploma 265 dele deve tá guardado por aí, porque fez um negócio, R. a mulher dele é neta do meu tio, esse formado, esse dentista, é tanto que o pai dela, o pai da M. J. do R., ele foi considerado o melhor dentista, dentista prático formado era o pai. Então o D. foi um dos melhor dentista que eu conheci, eu falo até pro T., T. é famoso em Passos. INFORMANTE 3: T. é meu primo, uai, a mãe dele é minha prima. 270 INFORMANTE: O T. é nosso amigo. INFORMANTE 3: É, fala do B. que ele sabe, o B. INFORMANTE: Pois é, então é isso aí gente, eu acho interessante, eu fico curioso pra saber porque que hoje Passos é considerado das boas cidade do nosso estado, porque nós aqui sempre dependemos, desde que eu me entendo por gente, nós dependemos de Passos. 275 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 159 INFORMANTE 3: Não, mas vocês participam muito com a melhora dela, eu sempre falo que o povo do Glória é muito inteligente, aqui tem muito médico em relação ao percentual de uma cidade do Brasil que tem mais médico. INFORMANTE: O prefeitinho lá, da onde que é o prefeitinho? PESQUISADORA: É, uai. Do Glória, esse prefeitinho é custoso, mas ele tá custoso, estão aumentando IPTU até 280 lá em Passos. INFORMANTE: É? INFORMANTE 3: Não, mas tem que ser mesmo, tem que dar um jeito é de receber tudo, né? INFORMANTE: É, ele é daqui, o pai dele era... INFORMANTE 3: Não, vamos hoje não, o L. M. é daqui, uai. 285 PESQUISADORA: Na verdade o povo do Glória tá tudo no cargo de chefia em Passos. INFORMANTE: Então voltando, a padaria da minha filha você não conhece? PESQUISADORA: Não, acho que não. INFORMANTE: E a cantina da S., cantina aonde almoça, na praça do Cruzeiro ali. INFORMANTE 3: Já, eu já almocei lá. 0 290 PESQUISADORA: Eu não almocei não, eu não conheço não. INFORMANTE: Então, aquela é minha nora, ela é minha nora, é casada com meu filho, sabe? Então o L. é tio dela. PESQUISADORA: O L. M.? INFORMANTE: É tio. 295 PESQUISADORA: É, mas tem muita gente do Glória, eu tenho muito aluno na faculdade que é do Glória, na agronomia eu tive muito aluno daqui. INFORMANTE: Meu cunhado... PESQUISADORA: É do Glória, eu dou aula na faculdade também, eu dô aula na agronomia e dou aula na engenharia, tem muito aluno daqui que vai estudar lá. 300 INFORMANTE: A escola que chamam, a escola de Passos, olha gente, esse prazer que nós temos aqui no Glória, M. B. é, o M., M. era meu aluno, nós fomos criados juntos aqui no Glória, não sei se você lembra do M., M. morreu, eu fiquei até chateado, que morreu novo, o M. B., o M., o N. P., qual mais, ainda tem mais, daqui do Glória fundador de escola lá em Passos. PESQUISADORA: Não, você quer, olha, [...], ele foi diretor do, o B. que tem aqui, ele foi diretor do Itaú, uai, 305 cara muito bem sucedido, mandou... INFORMANTE: B. como? PESQUISADORA: Aquele B., eu esqueci o nome dele, é B. o sobrenome dele, ele foi diretor do Itaú. INFORMANTE: É o V. B.? PESQUISADORA: V. B., V.B. é um cara famosíssimo, e ele muito bem sucedido, foi chefe do Banco Itaú, uai. 310 INFORMANTE: O V. B., você fala assim pra ele, V., você é amigo dele, da confiança dele, V., eu preciso de R$100.000,00 urgente, V., ele fala assim procê: “Vai lá em São Paulo buscar.” Quando você chega no Banco Itaú lá em São Paulo, eles já estão te esperando pra te entregar. PESQUISADORA: Mas o cara é chefão do Itaú, né? INFORMANTE: O V. é desse jeito. 315 PESQUISADORA: É, eu ouvi falar, aqui no Glória você vê história de gente assim, se deu muito bem, fez sucesso, teve muito sucesso na profissão, tem muita história assim. INFORMANTE: A simplicidade, o V. PESQUISADORA: Dizem que ele é super simples mesmo. INFORMANTE: Chega lá... 320 PESQUISADORA: Eu não conheço ele. INFORMANTE: Eu sei que ocê é rico, mas não sei... INFORMANTE 3: Não, nós somos ricos, né? É lógico, tendo saúde, tá piscando bem. INFORMANTE: Ocê pode ser uma pessoa simples, ocê chega no V. ele tem o prazer em te receber. PESQUISADORA: É, já ouvi falar que ele é assim mesmo. 325 INFORMANTE: Importante, é muito importante. PESQUISADORA: Eu conheço muita gente assim, de história do, tem o V., e tem outro também que eu esqueci aqui agora. INFORMANTE: O N. de B., ocês num conhecem ele não, ele morreu um tempo de agora. PESQUISADORA: Esse eu lembro dele. 330 INFORMANTE: Ele morreu o ano passado. INFORMANTE 2: Ele morava lá em Passos. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 160 PESQUISADORA: Esse N.? INFORMANTE 2: Ele morou aqui. INFORMANTE: Mas eu desconfio que o N. de B. não é parente do V. não, o N. de B. ele foi criado aqui de 335 frente a minha casa, o N. de B., ele era amigo do meu irmão, sabe? O N. de B. era de uma inteligência fora do comum. PESQUISADORA: Aqui no Glória tem muita gente inteligente. INFORMANTE: Quando foi... PESQUISADORA: Passos o povo é mais burrinho. 340 INFORMANTE: Quando foi pra quando nós do Glória conseguimos o asfaltamento de Passos Glória, não é Glória Passos não, é Passos Glória. Então o governador, eu participei da palestra do governador F. P., não sei se você lembra do F. INFORMANTE 3: Lembro. INFORMANTE: Quando foi pro, o pronunciamento do F. P. lá na pedra fundamental desse asfalto, quem recebeu 345 o governador não foi o prefeito, o F. não, não foi o F., o F. é, nomeou o N. B.. INFORMANTE 3: Ele era o secretário do F., não é? O N.? INFORMANTE: Isso, é, isso. PESQUISADORA: Mas tem os B. lá em Passos, não é? INFORMANTE: Tem. 350 PESQUISADORA: Mas é os mesmos todos? INFORMANTE: É os mesmos. PESQUISADORA: Eu falo que eu sou professora, eu vou pegando umas coisas, sabe senhor T., então eu observo muito sobrenome, então eu já sei caracterizar todo mundo de onde é, por exemplo, Paraíso tem muito P. INFORMANTE: P.? 355 PESQUISADORA: P., sobrenome P... INFORMANTE: Não, não, sabe porque? P. na realidade, não P. é Santo Antônio de Pádua. PESQUISADORA: Ah, entendi. INFORMANTE: Então meu pai colocou eu e o S. L., e o T. meu irmão, A. P., só que A. P. M. PESQUISADORA: Por causa do Santo. 360 INFORMANTE: É, por causa dos Santos, mas Pádua não tem não. PESQUISADORA: Não tem, lá em Paraíso tem muito P., aqui no Glória tem B., quando fala o sobrenome B., você sabe que é do Glória, e tem um outro que agora eu esqueci, é do Glória, é, e Itaú de Minas, Amorim pode ter certeza, se ele não mora em Itaú, ele já morou pelo menos, a família dele é de lá. INFORMANTE: O primeiro, o segundo prefeito de Itaú, a mulher dele daqui, ele de Passos, o primeiro prefeito 365 de Itaú. O segundo daqui do Glória, dos B., hoje ele é médico lá no Itaú. PESQUISADORA: Quem será? INFORMANTE: Como chama? F. B. PESQUISADORA: F. B., famoso, ele é famoso lá no Itaú. INFORMANTE: É, ele foi o segundo prefeito de Itaú. 370 PESQUISADORA: Dr. F., ele é famoso. INFORMANTE: Tem a praça aqui, a ultima saindo por aqui você indo sentido, que você não vai, sentido Delfinópolis, a ultima praça é no nome do, no nome do pai do F. PESQUISADORA: Do médico lá de Itaú? INFORMANTE: Do médico, quando foi inaugurar a praça ele veio, fizeram uma festinha, ele veio, F. veio. 375 INFORMANTE: G. é B. PESQUISADORA: É, G. é B. INFORMANTE: Eles, é sobrinha desses lá de. PESQUISADORA: Lá de Itaú? INFORMANTE: Isso. 380 PESQUISADORA: E B. é muito comum aqui no Glória, e tem outro sobrenome? INFORMANTE: E outro rapaz que, o N. B. foi o primeiro advogado do Glória, mas fizeram a maior festa, oh, mais um do Glória formado pra advogado, N. B., foi o primeiro. INFORMANTE 3: É, não, ele é conhecidão lá em Passos, eu até pensava que ele era de lá. INFORMANTE: Não, foi nascido aqui de frente. 385 INFORMANTE 3: Ele trabalha na prefeitura tem muito tempo, uai. INFORMANTE: Acho que ele morreu o ano passado, ano retrasado. PESQUISADORA: Eu vou desligar aqui o... ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 21 INFORMANTE: S. M. (Alfabetizado, 78 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) INFORMANTE 3: T.M. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 INFORMANTE: Do arco da véia, da moda do ditado, né? INFORMANTE 3: É, esse tempo que eu passei aqui, oh, essas terras pra vender, meu sogro pegou elas pra vender, não vendia, aonde foi até 8 boi, 4 vaca gorda na chácara aí, aí nóis fez negócio, aí eu, quando recebi um café, aí eu já passei a escritura tudo pra evitar de responder tudo, aí lá vai, esperei 40 ano, agora vai dá uns 12... INFORMANTE: Aí, tá vendo. 5 INFORMANTE 3: Tem a meia com o Zé... INFORMANTE 1: Sei, qual firma que é? INFORMANTE 3: Donizete. INFORMANTE 1: Ah, dá pra comprá muito boi agora, hein? Fazenda e boi garrado. INFORMANTE 3: É, uai, eu tô vendendo as vaca aí 70, 80, eu comprei, eu vendi 5 lote, comprei um apartamento 10 que eu queria lá na cidade. INFORMANTE 1: Foi bom, dá pra vê longe em. PESQUISADORA: Foi, vocês não foi na minha casa no baixo lá. INFORMANTE 1: Quanto pagou no apartamento de Franca? PESQUISADORA: Ah, na época foi 213, foi 213 que deu a cortagem, ajeitei 400 nele esturdia, eu comprei não é 15 pra vender não, é pra famia, se eu tivesse fio vai, fica lá, meu neto chegou aqui, e foi no hospital lá, ficou 8 dia, depois libero, foi pra lá. PESQUISADOR: E quando o senhor começou aqui foi custoso, né? Dificil? INFORMANTE: É, aí eu já, os dois, eu falei com meu sogro, falei assim: “Óia, eu vou arar as terra aqui, vou arar depois aqui, que depois [...] mas eu entreguei no outro dia, entreguei as vaca prele. 20 PESQUISADORA: Mas hoje as coisa tá muito fácil, né? INFORMANTE: Aqui tinha um arqueire aqui, comprei por R$200 conto. PESQUISADORA: Aí. INFORMANTE: Carroxinha. PESQUISADORA: O que? O senhor comprou por 200 o que? 25 INFORMANTE: 200 merréis, 200 conto. INFORMANTE 3: É, uai. PESQUISADORA: O senhor mora aqui faz quantos anos? INFORMANTE: É merréis, né? Naquele tempo 200 cruzeiro, né? PESQUISADORA: É, dinheiro mudou muito, né? Vai mudando. 30 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Aí me disseram que o senhor Tião conhece a história muito tempo, aí eu vim aqui saber. INFORMANTE: Eu fui criado foi na horta, eu mudei pra cá pra... PESQUISADORA: O senhor foi criado pra cima aqui na serra, ou não? INFORMANTE: Ah? 35 PESQUISADORA: O senhor foi criado aonde, na serra aqui? INFORMANTE: Eu sou do Glória, depois eu mudei pra Gurita eu estava com 9 anos, meu pai compro uma fazenda aí, morava nos Canteiros lá. PESQUISADORA: A gente conhece muito lá, tem uma pousada lá, é lá no Vale dos Canteiros, que o senhor tá falando? 40 INFORMANTE: Nos Canteiros, aonde e mora, aquele povo lá. PESQUISADORA: Tem uma pousada lá do, como chama aquele povo? INFORMANTE: Lá eu... PESQUISADORA: Tem uma pousada lá agora, senhor Tião, chama Vale dos Canteiros, eu esqueci o nome do dono de lá, gente. 45 INFORMANTE: Tem pousada lá? INFORMANTE 2: Tem, é ajeitado lá, um senhor muito bom também. PESQUISADORA: Tem, é boa a pousada. INFORMANTE: Minha mãe morreu lá nos Canteiros, na fazenda, minha mãe era do povo de. PESQUISADORA: É, o senhor, por acaso o senhor Orlando Glória não é parente do senhor não? 50 INFORMANTE: Não, o Godim é parente da minha mulher, eu sou do estrangeiro, ela é do estrangeiro. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 162 PESQUISADORA: Ah, eu já ouvi falar desse povo, tem até uma história antiga, boa dos estrangeiros, né? INFORMANTE: É, aí minha mãe morreu lá. PESQUISADORA: O estrangeiro era bravo, não era? INFORMANTE: Estava com 80 e tantos quando ela morreu, hoje eu estou com 88. 55 PESQUISADORA: É, meu tio, eu sou lá do Moacir de Pádua, os campos lá em cima, tinha um tal de Zé Estrangeiro, não tinha? INFORMANTE: É, Zé Estrangeiro era tio da minha mãe. PESQUISADORA: É, tio Veco contava mui causo desse Zé Estrangeiro. INFORMANTE: É, em cima ali. 60 PESQUISADORA: É. Eu tenho uma tia que é casada com filho do Tango, até ele morreu também. INFORMANTE: É lá do Glória, não é? PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Agora minha mulher tem parente dos Godim lá. INFORMANTE 2: Ah, Godim eu conheço, também assim, tem um que é até vizinho de frente com meu tio lá em 65 Passos, por acaso o senhor não conhece o Antonio Ribeiro não, boiadeiro, que mexe com gado? INFORMANTE: Conheci o Zé, Antonio Ribeiro, mas lá do Glória, que era sapateiro. PESQUISADORA: Não, esse mexe com gado, lá de Passos, esse que ele tá falando vem de Passos. INFORMANTE 2: É, ele compra muito gado aí do Jovair, de... INFORMANTE: Ah, ele é boiadeiro, não é? 70 INFORMANTE 2: É. E hoje tá muito fácil, né? De primeiro a coisa era pesada, né? INFORMANTE: É, a coisa arava com boi, não tinha trator, não tinha nada, carro... INFORMANTE 2: O cara pra fazer uma viagem, ele fazia véspera de um mês, né? INFORMANTE: Saía daqui pra pagar imposto de terra, aqui não tinha escrivão, não tinha coisarada. INFORMANTE 2: Apertou. 75 INFORMANTE: E a pé, sem uma, a gente ia todo ano levar aquele punhado pro povo da Serra. PESQUISADORA: Ia aonde? Aqui perto? INFORMANTE: A? PESQUISADORA: Ia aonde? INFORMANTE: Cássia. 80 INFORMANTE 2: Aqui chegou a ser município de Cássia? INFORMANTE: Ah? INFORMANTE 2: Aqui era município de Cássia, não né? INFORMANTE: Era, aqui tudo que precisava fazer, tinha que ir em Cássia, tem banco, tem tudo, se fosse pra mexer com banco tinha que ir em Cássia. 85 INFORMANTE 2: É, muito mais fácil, né? INFORMANTE: Melhorou mesmo. INFORMANTE 2: Eles falou que essa estrada que sai aqui por Capo, Monte Alto, daí vai sair logo, tem cara de sair, né? INFORMANTE: Se o Zezé ganha, tinha que sair, estava quase acabando isso aí, mas Zezé perdeu. 90 INFORMANTE 2: Se ganhar vai sair, mas se não ganhar. PESQUISADORA: É, não, sai sim. INFORMANTE 2: Ganha do, mas não ganha 4 não. PESQUISADORA: É, não, não é fácil ganhar não, tem que arrumar um negócio que convence mesmo, né? INFORMANTE: É. 95 INFORMANTE 2: É, mas tem que cobrar, de qualquer uma tem que cobrar, uai, paga imposto é pra isso, não é? INFORMANTE 3: É, vai dar uma virada no segundo turno, não é? PESQUISADORA: É, uai. INFORMANTE 2: Negócio do... PESQUISADORA: Tá fácil não, o povo gosta bastante do Bolsa Família. 100 INFORMANTE: Ah, mas no segundo turno, se perder segundo turno perde não, segundo turno. PESQUISADORA: Ah,é difícil, né? INFORMANTE: Já tem... PESQUISADORA: É, mas tem que comprar. INFORMANTE 2: É uma roubação esse PT, será que o povo não vê isso? 105 PESQUISADOR: Ah, vê não, sô, povo não vê televisão não. INFORMANTE 2: Pra ocê vê, já prendeu os dois. PESQUISADORA: É. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 163 INFORMANTE: Vai prender... PESQUISADORA: Não, mas viraram herói, o problema é esse. 110 INFORMANTE: É né? Entraram lá, rouba, e olha, entraram também pra rouba. PESQUISADORA: Não é o cara que rouba, é a turma que está em volta. INFORMANTE: É, junta as coisas pra roubar. PESQUISADORA: É, pois é. INFORMANTE: O poder, deixa o PT na mão. 115 PESQUISADORA: É, não, o cara vai, mas vai com raiva mesmo, né? INFORMANTE: Nóis que num trabaia pra nóis viver não. INFORMANTE 2: É, nós tem que pedir a Deus é saúde, e tempo bão, eu sempre falei disso, eu sempre mexi com roça, a roça choveu bem, deu um clima bão, tudo vai bem. Tá ruim pra chover, não tá? INFORMANTE: Não tá chovendo é nada. 120 PESQUISADORA: É, pois é, um ano ruim de chuva né? INFORMANTE: Quem plantou a primeira planta, deu uma colheita boa, quem plantou no terreno segunda vez, foi [...] plantou perdeu tudo. PESQUISADORA: Perdeu, é engraçado, Deus ajuda, em vista de tão pouca chuva que foi, deu muito mantimento, lá pra minha banda deu mantimento de mais, em vista de... 125 INFORMANTE: Mas aproveita a chuva. INFORMANTE 2: Deu mais é safrinha, né? PESQUISADORA: Eu alugo uma terra minha pra um rapaz meu lá que. INFORMANTE 2: Deu muita safrinha. PESQUISADORA: É. 130 INFORMANTE: Eu acho que voltar mais caro, não é? Não colheu. INFORMANTE 2: Não, tá bom, eles colheram lá numas terras que eu alugo pra um rapaz meu, ele plantou umas partes lá em sorgo, eles mexem com leite, colheu três mil saco de sorgo, fez silo, grão, é uai, sem chuva. INFORMANTE: Foi, deu uma colheita de milho boa. PESQUISADORA: É, uai. 135 INFORMANTE: O que plantou primeiro. INFORMANTE 2: É uai, mas pra mina d’água tá ruim, aí é pouca água. INFORMANTE: Vamos lá pra dentro? INFORMANTE 2: Vamos uai. PESQUISADORA: Ah, se o senhor quiser ficar sentado aqui, não tem importância não. 140 PESQUISADOR: Pode ficar a vontade aí. INFORMANTE: Eu tenho problema no joelho. PESQUISADORA: Ah, então vamos sentar lá,é melhor pro senhor, né? INFORMANTE 2: Tá boa a tirada do leite aí? INFORMANTE: Eu fui tirar leite aqui no, lá... 145 PESQUISADORA: Não? Tchau. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 22 INFORMANTE: J. L. (Analfabeto, 85 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: M.L (Alfabetizada, 80 anos, sexo feminino) INFORMANTE 3: (Apenas participa) INFORMANTE 4: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2015 PESQUISADORA: Tem quase nada, acabou quase tudo, né? INFORMANTE: Quase tudo, aonde era mato lá agora, tem é capim assim, no tempo que nóis foi pra lá, papai comprô lá. 5 PESQUISADORA: Como que era a infância do senhor aqui? INFORMANTE: Ah? PESQUISADORA: A infância, o senhor lembra o que o senhor fazia, brincava, história da época, dessa época? INFORMANTE: Ah, nos brincava muito né? PESQUISADORA: O que era as brincadeiras? 10 INFORMANTE: Jogava futebol, depois foi cresceno, a brincadeira era, tem muito tempo, a gente esquece, mais é, brincava de, juntava aquela meninada, e saía tudo pra longe assim, e o que, se a gente conseguisse pega um, aquele que a gente pegava era o que ia corre atrás dos outro, sabe? PESQUISADORA: Tem mais gente aqui na cidade que é quase da idade do senhor, ou não? INFORMANTE: Acho que tem, mas eu nem não sei qualé mais. 15 PESQUISADORA: O senhor não sabe não? INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Mas o senhor, aqui tem uma história antiga da Zagaia, o senhor conhece essa história? INFORMANTE: História. PESQUISADORA: De uma fazenda. 20 INFORMANTE: Ah, não lembro bem não. PESQUISADORA: Lembra não? Mas o senhor pode contar qualquer história, pode conta das namoradas do senhor, o senhor vai num bailão ou não? INFORMANTE: Ah, vou, até hoje eu sou muito. PESQUISADORA: O senhor arruma umas namorada lá? 25 INFORMANTE: Sou véi iguale um cachorro, mai vô. Mais é assim memo. PESQUISADORA: O senhor pode contar o que o senhor quiser. INFORMANTE: Acho que fazia muito é pagode, sabe? Nas beira de cidade. PESQUISADORA: Pagode de viola. INFORMANTE: Aonde tinha casa de capim, tinha uma muié danada pra gosta de ganha um cadim, rumava a 30 casa pra gente ir lá dança, e ficava. PESQUISADORA: Aí vocês iam pra lá. INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Pagode é de viola? INFORMANTE: Não, de sanfona memo, viola, sanfona. Agora que tá mais bom do que na época minha nova, 35 quando eu era mais novo. PESQUISADORA: Tem chovido muito aqui, senhor Almerindo, ou nada? INFORMANTE: Ah? PESQUISADORA: Chovido muito aqui ou não? INFORMANTE: Não, ultimamente não, chovia mais. 40 PESQUISADORA: Antigamente chovia mais? INFORMANTE: Chovia, eu lembro. PESQUISADORA: O senhor lembra de alguma época que foi tão seca como agora? INFORMANTE: Mais ou menos. PESQUISADORA: O senhor lembra mais ou menos? O senhor plantava ou não? 45 INFORMANTE: Se eu plantava? É, mas quase nada não. PESQUISADORA: O que o senhor fazia mais? INFORMANTE: O pagode era dança, quando num era namora, aqui nóis andava no passeio tamém assim, mas aqui num tinha esses jardim assim não, aqueas casa lá, dançava, andava, fazia os outro, andava empareado com a namorada aí, né? 50 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 165 PESQUISADORA: Andava na praça? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: E arrumava muitas namorada ou não? INFORMANTE: Arranjava. PESQUISADORA: Mas e o pai da namorada num era bravo não? 55 INFORMANTE: Os pais? PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Nada, eles num conhece, nóis que ficava, eles num vinha aqui na praça quase. PESQUISADOR: Num sabia, né? INFORMANTE: É. 60 PESQUISADORA: Eles não sabia o que o senhor tava arrumando, né? INFORMANTE: É, tava namorando. PESQUISADORA: E o senhor. PESQUISADOR: Aqui era como antigamente, os homens rodava a praça num sentido, e as mulheres rodava a praça em outro sentido assim? 65 INFORMANTE: Não, nóis rodava era pra uma banda só. PESQUISADORA: Não, era empareado e abraçado. INFORMANTE: É, custumava andar abraçadinho. PESQUISADORA: O senhor devia ser danado, né? INFORMANTE: É 70 PESQUISADORA: Hein, senhor Almerindo, e o senhor casou logo ou não? INFORMANTE: Casei, demorei casar, mas casei. PESQUISADORA: O senhor queria era namorar, né? E aí o senhor custou casar. INFORMANTE: Eu casei com uma prima minha. PESQUISADORA: Casou com prima? 75 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: E como é, uai, a tia era sogra e tia? INFORMANTE: E aí depois eu trabaiei de alfaiate, né? Na época num tinha essa ropa feita, eu trabaiei pra um home 4 ano dado, ele num ensinava, eu sabia fazê tudo, mas num ensinava o corte, eu fui em Belo Horizonte lá na avenida Afonso Pena, né? Libra Martins, até tenho o diploma dele, ensinei o corte, fiz, e não tem direito de 80 ensinar a outro, e tenho o diploma lá em casa. PESQUISADORA: Ah, o senhor é alfaiate então. INFORMANTE: Ah é, alfaiate. PESQUISADORA: O senhor trabalhou muitos anos com isso? INFORMANTE: Pra daná, e ganhei bem dinhero, aqui tinha garimpero demais nessa, no São Francisco, sabe? 85 Eu num vencia, eu botei 15 me ajudano, agora o corte que eu aprendi num precisava aprova não, era só acolchoar bem acolchoado, e já punha a roupa, e já punha e os costureiro costurava. PESQUISADORA: Era diamante que eles dava pro senhor ou era dinheiro? INFORMANTE: Eu garimpei tamém uma veiz, garimpei num lugar que até eles num podia, num chegava gente pra óia, batê pinera lá, eu parava porque nóis parava, eu, meu irmão, porque tinha diamante memo. 90 PESQUISADORA: É? E o senhor encontrou então? INFORMANTE: Eu fui em Belo Horizonte vende o diamante, cheguei lá, vindi, mas cheguei numa casa lá, ês me ensinô, eu cheguei lá, sentava no banco aqui, tem feito um espeio lá, e o home que comprava diamante de lá tava o, vendo a gente que é de fora, sabe? PESQUISADORA: Sei. 95 INFORMANTE: Aí vendi lá, o diamante, e eu tinha diamante a daná, tinha peneirado aí três, quatro diamante. PESQUISADORA: O senhor tirou muito diamante então? INFORMANTE: Tirou, ah, eu tinha alguma coisa. PESQUISADORA: Ah? O que o senhor falou? INFORMANTE: O que me valeu bem era esse diamante, eu tirei bastante, vendi, né? Aí aquela casa ali era 100 minha. PESQUISADORA: Essa aqui aonde tá escrito o Império da Canastra? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Sei, aí o senhor vendeu? O senhor João Roque fala que comprou a fazenda dele com o dinheiro do garimpo. 105 INFORMANTE: É, né? PESQUISADORA: Que aí ele conseguiu. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 166 INFORMANTE: Eu comprei um apartamento lá em Belo Horizonte também, é, na, naquela praça Soares. PESQUISADORA: Ah, eu sei aonde é, eu vou muito lá, eu estudo lá. INFORMANTE: Uma praça redonda, não é? 110 PESQUISADORA: É, uma praça redonda, é bem ali no centro, né? De Belo Horizonte. INFORMANTE: É, é, não é muito no centro não, mas é no centro. PESQUISADORA: Não, mas já tá ali no centro ainda, né? INFORMANTE: É, aí a mulher morreu, e eu dei pros filhos, os que eu tinha, esse apartamento lá é de dois filhos que moram lá. 115 PESQUISADORA: Esses dois moram lá em Belo Horizonte mesmo, moram lá no apartamento? INFORMANTE: Um mora, outro não, um a mora, uma moça, a outra mora aqui comigo. PESQUISADORA: Ah, mora aqui? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: E quantos netos o senhor tem? 120 INFORMANTE: Netos? PESQUISADORA: Tem muitos? INFORMANTE: Não tem muitos não. PESQUISADORA: Já tem bisneto? INFORMANTE: Deixa eu ver, não, bisneto não tem não, tem aqui, deixa eu ver, um, dois, acho que tem cinco, 125 duas mulher e três homem. PESQUISADORA: Então o senhor garimpou muito? INFORMANTE: Ah, na época eu ganhei bem um bucado, mas trabaiava muito de alfaiate tamém, né? PESQUISADORA: E aí quando sobrava um tempo, o senhor ia garimpa? INFORMANTE: É. 130 PESQUISADORA: Hoje em dia não pode fazer mais nada disso por causa do parque, né? INFORMANTE: Ah, é. PESQUISADORA: Mas diz que tem muito diamante aí na serra ainda. INFORMANTE: Eu acho que tem. PESQUISADORA: Mas não tá podendo fazer nada. 135 INFORMANTE: É, é capaz, não sei se ainda tem algum que ainda garimpa, mas parece que tá parado, ê, mas tinha, ocê tirava diamante, ia comprador demais, e agora não tem nem diamante e nem comprado. PESQUISADORA: Aqui tem história de assombração, essas coisas ou não, nessa serra? INFORMANTE: Que eu saiba não. PESQUISADORA: Lenda? 140 INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: Nada? INFORMANTE: Que eu saiba, tem uns que contava umas coisa aí, mas e mentira, é capaiz que é mentira. PESQUISADORA: É? Mas o que era que eles contava? INFORMANTE: Ah, assombração, pegava ele, essas coisas assim, mas é tudo mentira. 145 PESQUISADORA: É tudo mentira? Tudo história de pescador? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Tudo mentira. INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Diz que pescador mente demais, né? 150 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: O senhor gosta de pescar ou não? INFORMANTE: Eu gostava, agora não tem peixe quase, né? PESQUISADORA: Tem não? Sumiu tudo? INFORMANTE: Ah, sumiu os peixes, lá, aí tem os rio pra lá, Santo Antonio, Samburá, lá tem muito peixe, eu 155 lembro de um dia nóis foi pesca de rede lá, eu fiz uma ave lá, ês vei varreno assim...Nossa Senhora! Uma peixaria na frente da rede, foi apertano, porque uma tava cercano aqui, a outra vinha, né? Eu vi um dorado desse tamanho ou maior, tava lá na frente da rede assim, eu vi, óia, tem um dorado aí, eles pelejano, na hora que foi chegano, apertano, ele arranjô um buraquinho, passo na berada do barranco e da rede assim. PESQUISADORA: Sumiu esse dourado? 160 INFORMANTE: Ah, sumiu. PESQUISADORA: Mas o dourado era gente, hein, senhor Almerindo? INFORMANTE: Ah, era uma largura danada. PESQUISADORA: Mas hoje em dia quase não tem, mas também o povo destruiu muito, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 167 INFORMANTE: Você mora aonde? 165 PESQUISADORA: Eu moro em Passos, o senhor conhece Passos? INFORMANTE: Eu tenho uma lá de casa, é lá de Passos, é daqui, mas ela mora lá, é a Vera, e um que trabalha no IMA lá. PESQUISADORA: IMA? Quem será, hein? Passos é meio grande. INFORMANTE: A muié teve aqui, tá trabaiano lá é Vera. 170 PESQUISADORA: Vera, não sei não. INFORMANTE: Tá aí, tá lá em casa. PESQUISADORA: Eles tão passeando? INFORMANTE: É, veio passar a semana santa por aqui, ela leciona lá, sabe? PESQUISADORA: Ah. 175 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 23 INFORMANTE: J. L. (Analfabeto, 85 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: M.L (Alfabetizada, 80 anos, sexo feminino) INFORMANTE 3: (Apenas participa) INFORMANTE 4: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2015 INFORMANTE: Pode ter que [...] PESQUISADORA: Não é? Senhor L., eu to vindo aqui. INFORMANTE 2: Parece que eu tô estranhando vocês, uai. PESQUISADORA: O T. é daqui, o T. é daqui da região, nós não, eu vim aqui pra conversar com o senhor. 5 INFORMANTE 2: Pois é, é o que eu to falando, e esse casal. PESQUISADORA: Nós somos pais,é meu pai, nós moramos lá em Passos. INFORMANTE 2: É? PESQUISADORA: É. INFORMANTE 2: Mora em Passos? 10 PESQUISADORA: É, o T., eu conheço o T. daqui. INFORMANTE 2: Pois é, T. é. PESQUISADORA: T. é daqui da região, né? INFORMANTE 2: Pois é, T. é, mas to falando ocês é de Passos. PESQUISADORA: Não, não, é de Passos. 15 INFORMANTE: Ah, então é isso, todo bem, né? INFORMANTE 4: E a senhora tá boa? INFORMANTE 2: Tá bem, graças a Deus. INFORMANTE 4: E a Gurita lá? INFORMANTE 2: Gurita tá boa, você foi lá? 20 INFORMANTE 4: Eu não fui, eu fui na peça que teve do, lá da... INFORMANTE 2: Lá do filho T.? Você foi, né? É, a A. E. falou que você ia, então você foi? INFORMANTE 4: É, eu fui lá. INFORMANTE 2: Ah, então tá bom meu filho. A A. também, não sei se você conhece ela minha filha, também mora lá também, uma filha. 25 PESQUISADORA: Ela mora lá em Passos? INFORMANTE 2: Mora, a A. mora. PESQUISADORA: Ela trabalha lá ou não? INFORMANTE 2: Não, ela mora e, é professora, mas agora ela aposento tá parada, agora o P. posento, mas continuou, é delegado, né? Advogado, tá sempre trabaiando, dvogano, né? 30 PESQUISADORA: Ela é professora, a A.? INFORMANTE 2: A A. é, a M., todas duas minhas fias é professora, mas todas elas num leciona mai não, M. já aposento. PESQUISADORA: Mas a A. aposento já faz tempo? INFORMANTE 2: A A. aposento, faiz um tempim, ma agora até ela aposento e tava dano aula, aí ela tá tratando 35 dum probrema que deu na perna, e aí paro, mas ela falo que a hora que tive boa, eu acho que vai dá aula otravez. PESQUISADORA: Onde que ela dava aula? INFORMANTE 2: Dava aula, aí minha fia, eu nem sei te fala, porque ela mudo, quando ela dava aula, ela mudo de lugar, eu num perguntei ela, porque logo ela paro, né? PESQUISADORA: Aham, é porque eu sou professora também, mas eu trabalho. 40 INFORMANTE 2: Lá em Passos, né? PESQUISADORA: Lá em Passos, eu trabalho na faculdade e trabalho em outro colégio, mas já trabalhei em colégio de. INFORMANTE 2: Ela até veio onte a tardi na casa dela, ela tem uma casa, uma chácara, ela fica lá, o menino dela, que é o L., ocê conhece ele? 45 PESQUISADORA: Não, acho que não. INFORMANTE 2: Mora em Campina, aí veio essa noite, chegaro meia noite, veio a mulher dele também, é professora, é, doutora, esse menino dela, o mais velho, o L., é médico, e casou com uma médica lá de Goiânia, é, essa noite eles chegaram, gora memo ela inda me ligo, que eles chegaram meia noite. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 169 PESQUISADORA: É, mas vieram direto de Campinas pra cá, né? 50 INFORMANTE 2: É, mas saí tardi, né? Porque todos dois trabaia, né? PESQUISADORA: Mas a estrada é boa. INFORMANTE 4: Eu tenho parente lá em Campinas também, que tem que sair de lá 10 horas da noite, meia noite... INFORMANTE 2: E a mamãe, acho boa viaje? 55 PESQUISADORA: É, pode apertar o pé, né? INFORMANTE 2: A mamãe acho bãoo a viaje que ela tava viajano? INFORMANTE 4: Minha mãe? INFORMANTE 2: É. Ela não viajo fia? INFORMANTE 4: Não, minha mãe não. 60 INFORMANTE 2: Ah, então é engano, eu achei que ela tinha viajado. INFORMANTE 3: Não, minha mãe é lá de Passos. PESQUISADORA: Ele? Ele é filho do Z. Bordado, né? INFORMENTE 3: Sou o mais velho. PESQUISADORA: Ah, eu não to sabendo. Você tem outro irmão, T.? 65 INFORMANTE 3: Tenho um irmão mais novo. PESQUISADORA: Quantos anos tem o seu irmão? INFORMANTE 3: 15. PESQUISADORA: E tem sua irmanzinha, né? INFORMANTE 3: Isso. 70 INFORMANTE 2: Então você foi na festa lá da Gurita? INFORMANTE 3: Fui. INFORMANTE 2: Gostou? INFORMANTE 3: Ah, tava bão. INFORMANTE 2: Eu não sei quem falo, acho que foi minha neta, não sei. 75 INFORMANTE 3: Não, foi A. E., eu vi ela lá. INFORMANTE 2: É a A. E. mesmo, parece que falo que você tinha ido lá. PESQUISADORA: Com o pai dele? INFORMANTE 3: Foi, conversou com o pai dele. INFORMANTE 2: É isso mesmo, você gosto da festa? 80 INFORMANTE 3: Gostei. INFORMANTE 2: É muita gente, né? INFORMANTE 3: Deu bastantinha. INFORMANTE 2: Era prá nóis i meu fi, mas tudo num dia só não teve jeito, aquele dia foi dia do, da pesca lá, foi o dia do aniversáro do meu fi que é medico lá, o A., foi ele no rancho, junto, oh, só médico teve 7, aquele dia não 85 tinha como a gente ir lá né? INFORMANTE 3: Vei tudo de São Paulo? INFORMANTE 2: Não, vei de São Paulo, vei de Franca, e veio mais é de Passo, os médico de Passo, veio ó, o Doutor E., Doutor H., Doutor J. S., e o Doutor G., e qualé mais gente, eu sei que de lá veio uma purção de médico, né? Tinha uns 8 médico, aí não tinha como a gente ir lá, né? Aí o menino do Brutos me chamou, até me 90 pediu. PESQUISADORA: Daqui da regiao? INFORMANTE 2: Eu emprestei, mas num teve como a gente i, né, meu fi? INFORMANTE 3: Não, mas tá certo. INFORMANTE 2: Tudo num dia só, né? É, não tem jeito. 95 INFORMANTE 3: Mas tava boa sim. INFORMANTE 2: É, eu ouvi fala que junto muita gente. PESQUISADORA: Na verdade é o seguinte, senhor Z., eu to fazendo uma pesquisa sobre os costumes aqui da região, é, sobre as histórias, e aí me indicaram vocês, disseram que vocês conhecem a região a um bom tempo, e aí eu vim aqui conversar um pouquinho, aí eu não conheço, na verdade eu não conheço. 100 INFORMANTE 2: Aqui quem vai te indicar bem é a minha nora aqui, minha fia, sobe esses coisa tudo. PESQUISADORA: Não, mas é história costumeira, sabe? Assim, o senhor já morou em fazenda, quando, não é uma coisa especifica. INFORMANTE 2: A minha neta fez isso, a minha neta que tá lá em Brasília, menina da S., fez isso também, e agora já intindi. 105 PESQUISADORA: É história da família de antigamente, não é assim, o... ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 170 INFORMANTE 2: É das história, eu sei, é. PESQUISADORA: É, do acontecido pra trás, né? INFORMANTE 2: É, coisa acontecido. PESQUISADORA: O senhor foi nascido lá? 110 INFORMANTE: É. INFORMANTE 4: No Glória? INFORMANTE: É. INFORMANTE 4: O senhor é de que família lá? INFORMANTE: Os Roque. 115 PESQUISADORA: Vocês são parente também, né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: É, ele falou que ele é primo do seu pai, né? INFORMANTE 4: O senhor é parente do T. ou não? INFORMANTE: Quem? 120 INFORMANTE 4: T., que era, foi prefeito do Glória, é S. que eles chamava o nome dele. INFORMANTE: É, não é daqui não. INFORMANTE 4: Não, né? Porque aqui ele tem uma tia que é casada com um filho dele. É. INFORMANTE: Povo antigo é engraçado, né? Meu avô, pai do meu pai separou [...] teve hepatite ( ) é, parece não, e. 125 INFORMANTE 4: É, mas o povo antigo, hoje fico muito fácil, fico até ruim, né? Agora tá tão fácil, é, de primeiro a coisa era difícil, e o povo achava bão. INFORMANTE: É, pegava na enchada, né? INFORMANTE 4: Não, pra ir na festa ia a cavalo, de pé, hoje vai de avião, né? É. PESQUISADORA: Eu to vendo que o senhor tem muita foto de carro de boi, ali tem uma, lá na frente eu vi outra, 130 o senhor mexia com carro de boi, não? INFORMANTE: Mexia, tinha 16 anos na época, comprei um trator, mexi com trator, mas trator [...] não tem jeito, né? INFORMANTE 4: É, eu já mexi muito com roça, eu já arei de boi no arado, e cheguei a possuir plantadeira de plantio direto que eu acho um dos trem mais moderno que apareceu no Brasil é o plantio direto, esse é o trem 135 moderno sim, porque não mexe com a terra, não tem erosão, né? PESQUISADORA: Antigamente era diferente, né? PESQUISADOR: Antigamente era, e não tem nem jeito pra fazer o que fazia, né? Tem não. INFORMANTE: Uai, pra você vê... Chegava em setembro aquele fuá na fazenda, 6, 7 cara pra trabaiá, e ficava oiando se sarvô... na fazenda, não sô, tá pesado, quer dar um jeito na perna, vamo embora, estúrdia mesmo na 140 fazenda, brincadeira, conversar, gente e vai me ajudá na hora. PESQUISADORA: Era daqui mesmo ou do Glória? INFORMANTE: Era meu primo primero, hoje morreu já, um bucado de ... três fio que a gente vê lá, é... lá de tarde, é em setembro, eu passava você não sabe quem tem serviço aí não? Esturdia tem muito serviço, aonde é que nos vai, senhor Eugênio? Naquela camionete ali... 145 PESQUISADORA: Entendi. INFORMANTE: O que ocê faz, aí eu passei a viajá, tinha veiz que ia falar mais ou menos, mais ou menos, escuta aqui, quanto, tá certo, aqui João, experimenta um dia, dois, já viu isso, até 10 se for preciso, se der tudo certinho nós vai, se num dé ocê fala num tá bão, se ocê num servi nóis acerta direitinho, ouviu? Vai fazê um de bonitão, e chamo lá. [...] já jantô? Não, tá tudo trancado, fui lá almoçar depois destranco tudo, era um pai e dois fi, faz 32 150 anos que nós tinha ele aqui, tem um tantão de gente, você vai falar, põe a mão no arado e você, lá eram dois, né? Aí falô prele fecha ali, ocê vai capinano roça, se eu vê já te grito, ocê pega a vara e vai, ocê parece que é meio forçoso, ocê quebra a vara, se ocê quebrar ocê entrega os cadarços certim viu? Faz favor de... INFORMANTE: Lá na casa, A., o que tá acontecendo, o trem tá doido aí, vê se conserta ele, aquela mulher tem um sofazinho bonitinho, vai adiante, consertou já, quando foi de tarde, chamou o F. lá, hoje até 10, e foi falando 155 com ele. INFORMANTE: Um pau na cabeça, vai morrer babando, cada bobage. A. do céu, porque eu não posso ficar sozinho... Mas eu vou fala uma coisa procêis. Foi mais ou menos, mas escuta, ah, não sei né? Que hoje. Põe o boi na linha, aí metia o pau na cabeça, e chegava a escorrer pro nariz, desceu o pau, aí... Pegou no braço, botou pra correr, tocou na cabeça, ele falou: “Eu corro atrás docê, disgraçado, vai de pressa, você tá com 160 vergonha eu vou atrás docê, tava longe do Glória, chegô 7:30 da noite, boa noite procês, tinha um [...] Quer arguma coisa? Fazê o arqueire, aonde é que ele mora? Faz 8 minuto que ele saí daqui, faz favô, senta aqui, o que tá aconteceno? [...] Certinho, aí invadiu [...] houve um motivo ou sem motivo pra furar o outro, [...] e aí chego. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 171 [...] Suzana, você não tá conversando, ah lá, aquele lá você não viu, colega, não precisa de mais ninguém não. Aí foi lá [...] Nunca mais o patrão [...] É, mas e aí, não tem jeito, não é queimadura não, é dois dias né? O Fer, tá 165 certinho? PESQUISADORA: Tá aqui já. INFORMANTE: Mas começou a escadaria, mas vamos passar por parte. PESQUISADORA: Voltei pra história, pode sentar aí mai perto. INFORMANTE: Aquelas coisinhas que eu mandei você buscar pra ele, tem umas que [...] viu? 170 INFORMANTE 4: Hoje se for mexer com aquilo não tem jeito de mexer mais não, não tem jeito não, né? Não tem não. INFORMANTE: Antes era mais fácil. INFORMANTE 4: Ah, hoje acabou, hoje não tem jeito mais não né? Hoje não tem mão de obra mais não né? INFORMANTE: De 6 às 6, eu chegava. 175 INFORMANTE 4: Era o sol, né? INFORMANTE: Você vai descansar, hoje tá perdido. INFORMANTE 4: Hoje antes de chegar do serviço, você já quer saber a hora, aí chega 7:30, quer parar 4:40, 4:00. INFORMANTE: Num instantinho assim, que você trabalha, você olha no relógio. 180 PESQUISADORA: O senhor L., eu to gostando das história do senhor, é assim mesmo, o senhor tem mais história do tipo daquela lá do retireiro? Foi boa aquela lá do Glória, a que o senhor contou do boi, do retiro, do dente, que o senhor tava contando agora mesmo. INFORMANTE: A que eu contei. PESQUISADORA: É, o senhor tem mais história desse jeito? Pode conta, fica a vontade. 185 INFORMANTE: Tem de mais, uai, tem o Z. Estrangero ... a mulher do coronel naquele tempo, pegava o nego, e mandava cortar na piola lá em baixo, mando acabou. PESQUISADORA: Mandava cortar no que? INFORMANTE: Cortar na piola, bater. PESQUISADORA: Ah, cortar na piola, entendi. 190 INFORMANTE: A mulher do coronel mandou, [...] PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE: Demorava 8 ou 10 dias, começa esses dia, se você quisé ir na festa com os menino ocê vai, sempre comprava. [...] durante a festa, passava na fazenda, naquele tempo nóis ia pra lá, aquela coisa bonita. [...] chegou lá pelas 6 horas mais ou menos, chegou, só aquele, foi passando, foi saindo pra porta da sala, boa noite, o 195 senhor tá bão? O senhor que é o senhor A. Estrangeiro? Sou eu mesmo, o senhor tá passeando ou andando à toa? To passeando, certo. E fulano, amarra o burro, vou pra dentro, aí chegou lá, as fia, ocês três chama o moço pra passeá, eu falei: “Vai lá.” Começou a complicá. [...] agradô não. O coronel achava [...] não tinha banheiro dentro de casa, nem nada naquele tempo, aí eles mandavam. Me trancaram, sorta aí, boa noite, dorme com Deus, e aí foi [...] tinha problema, meu Deus como é que eu faço, né? [...] o cachorrão sempre ficava rosnando. Aí achou. 200 Aquelas bota chique, sô, de mula né? Separou, era enjoado, eu pensei em ir, mas pensei em 150 vacas, traz minhas botas lá, minha fia [...] foi lá, chamou ele, ele correu pra lavoura, “bom dia”, “bom dia, dormiu bem?” “Graças a Deus, levanta, vai lava a cara, vem toma café, ela pegou e foi lá, o café tá demorando, é capaz de arrochar, vem toma café, obrigado, eu queria tomar o café doces até a vorta. É, chego lá no pai dele, meu fio, como é que foi, tudo certim, tudo bãozinho? Meu fio, eu sei, você não vai desapregar dele não, você vê o que 205 recolheu, felicidade na estrada, você [...] se for tudo legar, tudo bãozim, tá bom, se não for, ele ameaçar qualquer coisa, você já arranca dela, se ês te matá, qualquer coisa eu acerto cum ês. Ele correu uns 6 meis mais ou menos, vai lá pai, não vou buscá, fio [...] Aí falo: “Você vai levá uma coça fio hoje, num tem conversa.” Já arranco do trem, e já botou as corda com a mula com tudo, e o trem, e puxou o revolver, num mexe não, nego, está tudo a 2x1, se levá a mão na cintura, vai se acertá comigo, o véi disgraçado, [...] to brincando, brincando? O que cê feiz 210 comigo lá, disgraçado, fia da puta, quanto baixou aí, pra contá causo. [...] aonde é que eu tava, sô. INFORMANTE 4: É, tem, o Z. Estrangeiro era da mesma turma? INFORMANTE: Era da mesma turma. INFORMANTE 4: Eu tenho um tio meu que é, até já faleceu, ele contava muita história desse povo do Z. Estrangeiro lá do nosso lado lá, é, é uai. 215 PESQUISADORA: Mas olha, o moço é corajoso. INFORMANTE 4: É, o Z.... ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 24 INFORMANTE: K.R.T. (Analfabeta, 78 anos, sexo feminino) INFORMANTE 2: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) INFORMANTE 3: (Não tem idade) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: Sobre região, e aí eu tô procurando umas pessoas mais velhas pra conversar comigo, e aí eu fui ali almoçar no restaurante da D., e aí ela me falou que a senhora, ela falou que a senhora tinha umas... INFORMANTE: D.,a mãe dela ela não quis indicar? PESQUISADORA: Não, a mãe dela nem falou. 5 INFORMANTE: A mãe dela é mais nova do que eu dois anos. PESQUISADORA: A senhora tem quantos anos? INFORMANTE: 78 anos. PESQUISADORA: E a senhora mora aqui faz quanto tempo? INFORMANTE: Aqui mesmo no Vale? Desde o tempo de moça, moramos em Passos três anos, né? Eu fiquei lá 10 três anos, 8 anos, certo? Sou a mais velha, somos em 4, a mais nova ficou com 11 meses, ela mora em Passos, minha irmã, é na rua 3 de maio. PESQUISADORA: Como que ela chama? INFORMANTE: C., ela trabalha pra dona E., irmã do J. M. PESQUISADORA: E. M.? 15 INFORMANTE: Não, não é E. M. na, E. M. eu conheço, é irmã do J. M., A. P., já ouviu fala? INFORMANTE 2: Eles tem fazenda por aqui? INFORMANTE: Tem, o J. faleceu esses dia a pouco. INFORMANTE 2: É, é mesmo, é que tem uma moça lá que é casada com o filho de um primo meu, é professora, a mulher do R. L., foi criada, ela é do J. M. lá, ela é filha deles lá, não sei se foi criada por eles, como chama, o 20 Z. C. PESQUISADORA: Eu não conheço. INFORMANTE: A filha do J. é casada com o C., ali perto da, a irmã dele, a dona marta, a marta, eu não sei o nome do marido da M., ele mora ali na rua Coronel João de Barro Neto, ele trabalha pra ela. INFORMANTE 2: A A.? 25 INFORMANTE: É, você conhece ela? INFORMANTE 2: Sou amigo do filho dela, do E. INFORMANTE: Do E. mais o E., é? PESQUISADORA: Olha que mundo pequeno. INFORMANTE: Ela é minha filha, A. D., mulher do E. 30 INFORMANTE 2: Conheço muito, uai. INFORMANTE: Ela mora ali na Barrinha né? INFORMANTE 2: Eu moro ali de frente, uai. INFORMANTE: De frente ali? Esses dias eu estive lá, nós fomos pra Goiânia esses dias, nós viemos segunda feira, o D. foi mais a A., a A. tem um probleminha, né? Então você conhece eles? 35 PESQUISADORA: O T. é vizinho... INFORMANTE: Vizinho da A. D., você conhece ela? INFORMANTE 2: Não, não, eu sou vizinho da M. INFORMANTE: Mas a A. D. mora pra baixo um pouquinho. INFORMANTE 2: A gente ia muito pra escola, eu e os menino dela, na época que ela morava lá perto do Z. R., 40 depois ela mudou pra Talento, né? INFORMANTE: É, a Auto Escola ali, né? É Auto Escola? Ela mora de par ali. Ela trabalha pra M., eu não sei o marido da M. o nome dele, A. D. faz mais de 10 anos que trabalha pra ela, ela trabalhou pras irmãs dela naquela rua ali, depois a empregada dela não sei se faleceu, aposentou, aí a A. D. foi trabalhar pra ela. Então aqui antigamente, Olhos D’água, eu conheci com pouquinhas casa, aí esse patrimônio aí pra cima, essa rua aí pra 45 cima, era algum rancho de capim não tinha casa de telha não. PESQUISADORA: Como eram as casas? INFORMANTE: Eram casa de pau a pique, você sabe o que é casa de pau a pique? PESQUISADORA: Mais ou menos. INFORMANTE: O senhor sabe, né? Pau a pique não faz a base da casa, antigamente essas casa de pau a pique 50 não tinha base, colocava madeira, aqueles pau roliço assim, olha, ficava pro chão assim, e colocava aques valeta, ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 173 depois o travamento eles punham capim, então antigamente era assim, pra cima, antigamente era assim aí pra cima, agora, aqui pra baixo tinha argumas casa, aqui aonde é que eu moro eu desmanchei depois que eu fiquei viúva, era uma casa pequena, morava uma tal de R., chamava R., tinha o apelido de R., e aqui em frente tinha uma casa velha, uma da esquina, a outra da esquina lá que tem um mercado não tinha casa, do lado de baixo já 55 tinha casa, era poucas casas, essa rua desceno não tinha nenhuma casa, acho que lá perto da Del que tinha um terreno, tinha uma casa, e do lado tinha umas casas. E nessa rua aqui Humberto Alves, tinha essa casa aqui que era da dona R., depois era terreno, depois lá em baixo aonde é que tem um terreno tinha uma casa, e do outro lado tinha três casa, era umas 30 e poucas casas aqui no povoado, ali na praça da matriz ali, não tinha casa. PESQUISADORA: Ali na frente? 60 INFORMANTE: É, e nem rancho não tinha, era terreno, tinha até o campo de futebol pra cima, não tinha aquela igreja, a igreja, você sabe aonde é o curral do balé? INFORMANTE 2: Não conheço, eu não sei. INFORMANTE: É a primeira vez que o senhor vem? INFORMANTE 2: É, a segunda vez que eu venho aqui, mas não conheço não. 65 INFORMANTE: Balé é sobre E. J. R., mora na rua de baixo, pra baixo da casa da D., tem aquela rua, então ali tem uma coisa antigo, e do lado de cima tem aquela igreja, aquela igreja é de assoalho, e o cemitério era do outro lado, aonde hoje tem muitas casas, da janela da igreja o senhor vê o cemitério, a igreja tinha três cruzadas lateral, as portas, em frente outra porta, aonde é a igreja ali era campo. PESQUISADORA: A primeira igreja então não é aquela ali da praça? 70 INFORMANTE: Não, não é aquela. É em frente ao balé, você sabe aonde é, né? O Balé, é ali, em frente ao curral dele. PESQUISADORA: Mas ainda tem igreja lá, não? INFORMANTE: Não, hoje é casa, aonde era o cemitério é casa. PESQUISADORA: O cemitério era do lado da igreja? 75 INFORMANTE: Do lado da igreja, o cemitério agora hoje, é lá em cima. PESQUISADORA: Não é perto da igreja não. INFORMANTE: Não, é lá em cima, ali no curral do balé, ali já tinha aquela casa, mas não tinha aquele curral daquele tamanho, era bem menor, um tio ele é que morava ali. INFORMANTE 2: A casa dele é bem antiga. 80 INFORMANTE: É, M. T. M. que era o dono daquela casa, tio do balé, balé eu acho que nem conheceu ele, e do lado de cima, não sei em frente a casa dele, em frente o Coala era a igreja, do lado de cá aonde é que tem aquelas casas, era um cemitério, e aquela casa que a D. mora tinha aquela casa, pra baixo, né? Que a mãe dela mora tinha aquela casa, depois a outra rua mais pro lado do balé tinha duas casas. PESQUISADORA: Entendi, era bem pequenininho então. 85 INFORMANTE: Era bem pequenininho, umas 30 casas mais ou menos. PESQUISADORA: E o povoado começou como? INFORMANTE: Uai, eles começaram dali a pouco já foi movimentando, o pessoal já foi crescendo, tomando estrutura de tudo que precisava, e foi construindo umas casinhas, o que podia fazer uma casinha melhor, o que não podia pedia os outros pra fazer, foi indo assim. 90 INFORMANTE 2: Tinha escola? INFORMANTE: Tinha, a escola, já ouviu falar no C. C.? PESQUISADORA: Ah, o que tem o, o C. INFORMANTE: É, o C., as nossas avós são irmãs, então a mãe dele que foi professora aqui. PESQUISADORA: Ele também foi professor não foi? 95 INFORMANTE: Foi, ele também foi professor muitos anos, a mae dele chamava I. C. L., e a M. D. M. também, do lado de cima tinha casa, do lado de baixo era só a casa dela, ela lecionou aqui muitos anos, depois mudou pra Delfinópolis, a escola da dona Iolâmpia era particular. PESQUISADORA: Tinha que pagar pra frequentar. INFORMANTE: É, tinha que pagar, e a escola da dona C. M. D. M., tinha o apelido de C., era da prefeitura de 100 Delfinópolis muitos anos, mas eu não estudei nas escolas delas não, meu tio morava na fazenda Parmital, de lá do Rio Grande, de lá da Ponte Surubinho, vocês não conhecem, o senhor não conheceu também não, a Ponte Surubinho? INFORMANTE 2: Não, nós até acabamos vendo uma foto ali no... PESQUISADORA: Ponte Surubinho é famosa? 105 INFORMANTE: A Ponte Surubinho? INFORMANTE 2: Eu cheguei nas terras do, não sei se ainda é dele, do S. V.? INFORMANTE: O S. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 174 INFORMANTE 2: Isso, S. INFORMANTE: Então, lá agora é represa, né? 110 INFORMANTE 2: Andar baixo, dá pra ver os pau lá. INFORMANTE: A gente morava com meus tios, minha avó lá na fazenda Parmital, fazenda do J. M., pai do L., pai do J. C., do, o J. E., minha mãe era empregada dele, a mãe da D. era empregada, ela pageava o Dr. C., nessa época nós morava em Jacuí, mas nós fomos nascidos aqui, depois nós voltamos pra cá, e aí a gente passava aí na... 115 PESQUISADORA: A Ponte Surubim era de madeira, né? INFORMANTE: Era, os pilar de... INFORMANTE 2: Terragem né? INFORMANTE: Terrage, e concreto e madeira, aqueles pranchão lá em Delfinópolis... INFORMANTE 2: A senhora sabe mais ou menos quantos metros ela tinha? 120 INFORMANTE: Não, não, passei muito pra lá e pra cá, mas não sei, a gente era mais simpre que hoje, né? Hoje tem mais recurso, né? PESQUISADORA: É, verdade. Mas o povoado aqui surgiu como, de gente que veio de Delfinópolis? INFORMANTE: Não, ah, igualzinho aonde a gente entrava no portão, a noite eles fechavam, o homem que morou lá chamava C., ele tem um neto dele que mora lá em Passos, C., não conhece não? Conhece o senhor A., 125 filho do C.? INFORMANTE 2: Não. PESQUISADORA: Vai tirar uma foto? Nem fala pra gente preparar. Pode continuar contando. INFORMANTE: Então aqui como começou tudo direitinho eu não sei, eles não falaram, eu conheci muitas pessoas mais velhos do que eu quando eu era criança, e eles falaram que uma tal de I. é que deu esse terreno aqui 130 pro pessoal, as a gente não sabe direitinho, né? Porque a gente era pequeno, ouvia falar, eu conheci essa mulher. INFORMANTE 2: Falar nisso, hoje negocia terreno aqui, vende, compra terreno com escritura com tudo? INFORMANTE: Vende e compra, até ali em cima ali, tem uns terrenos que a prefeitura está doando, e muitos tem terrenos, e as vezes eles vende, aqui esses terrenos aqui é pra vender. INFORMANTE 2: Quanto é um terreno aqui? 135 INFORMANTE: O dono deles mora em Franca, os pais morreu, ficou pra eles, ali é três terrenos novos, cada um é de um dono, eles tão pedindo 120, mas esses 120 eles não vão achar. INFORMANTE 2: R$120 nos três? INFORMANTE: É, nos três, 93 e pouquinho cada, né? INFORMANTE 2: Não. 140 INFORMANTE: É 120 que eles querem. PESQUISADORA: Nos três? INFORMANTE: R$40 mil cada um, mas aí se achasse o mesmo negócio eles faziam isso, mais ou menos eu não sei. PESQUISADORA: Mas é muito, mas é grande, né? 145 INFORMANTE: É, é grande, até aquela casa lá da frente. PESQUISADORA: Ah, entendi. INFORMANTE: Vai até lá em cima. INFORMANTE 2: Tem até três fruteiras pra começar, uai. INFORMANTE: Tem três fruteiras, todas três dá fruta. E eles cortaram o galho da mangueira, porque eles 150 puseram antena, é pra baixo aí, não tava pegando direito celular, e a internet. INFORMANTE 2: Sei. INFORMANTE: Cortaram, pediu o dono da casa se podia cortar no mei. PESQUISADORA: Nossa, mas cortaram por causa da internet. INFORMANTE: É. 155 INFORMANTE 2: Não, mas dá interferência, tem um lugarzinho ali que pega o sinal, né? INFORMANTE: Pega o sinal, na casa do meu filho aqui tem, pega, mas a casa de outro, do dono da padaria que mora lá em baixo não tava pegando. PESQUISADORA: É, pegando. INFORMANTE: É a casa da esquina aqui. 160 INFORMANTE 2: Tem bastante morador aqui. INFORMANTE: Tem muitos. INFORMANTE 2: Tem quantas pessoas que moram aqui? INFORMANTE: Olha, sabe que eu não sei. Não tenho ideia, tem muito, aí pra cima é maior do que aqui pra baixo. 165 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 175 INFORMANTE 2: Aqui pra trás? Nós estamos procurando a casa do, como é que chama? PESQUISADORA: V. C., que diz que ele também tem umas história. INFORMANTE: Sim, mas ele morava mais era lá no Vale do Serra, mas ele sabe contar também. INFORMANTE 2: É, não, eu me interesso pela serra também, o trabalho lá. INFORMANTE: Ele fazia vassoura, subindo essa rua, primeira esquina vira, vai direto, vai pra cima, e pra baixo, 170 vai direto, é só perguntar na ultima casa, fica quase em frente a rua. PESQUISADORA: E a senhora trabalhava em zona rural não? INFORMANTE: Não, eu nunca trabaeio em serviço, só de doméstica, empregada, quando nós moramos em Passos, ai aonde mora o Dr. N., era uma casa velha, tinha uma pensão Ribeira, o senhor C. R., é avô. PESQUISADORA: Seu parente, pai/? 175 INFORMANTE 2: Não, eu sou R. também, mas não é meu parente não. INFORMANTE: O S. lá, o senhor não conheceu não? INFORMANTE 2: Eu conheci um S. que mora perto do colégio, tinha uma padaria ali. INFORMANTE: Esse S., quando eu era mocinha nova, a mulher dele chamava F., ele era filho do C. R., a mulher do Dr. N., é neto dele. 180 INFORMANTE 2: Não, não é parente meu não. INFORMANTE: Então, o quintal dele ia até lá no Banco Itaú. INFORMANTE 2: É, era grande ali. INFORMANTE: É, era grande. Depois que eles foram vendendo, o S. vendeu, o senhor C. R. morreu, os filhos foi vendendo. 185 INFORMANTE 2: É, e é um lugar que ficou muito valorizado hoje, né? INFORMANTE: É, no Banco do Brasil, ali, ali tudo era dele, e aí nós morou lá, e minha mãe trabalhava na pensão e a minha irmã que é a mãe da D., trabalhava na pensão, o fulano de tal, J., tinha o apelido de Z., tomava conta do trem de ferro, que antigamente tinha trem de ferro, né? Chamava V., e eu trabalhava ali aonde era o bazar americano, ainda tem, né? 190 PESQUISADORA: Tem, o bazar Americano mudou de lugar, né? INFORMANTE: Aonde é quente ali. PESQUISADORA: Sei, sei aonde é. INFORMANTE: Ali no Dr. H., conheceu os filhos dele? INFORMANTE 2: Sei, o Dr. H. é na rua Jardim Andrade, não é? Ou é ali mesmo? 195 INFORMANTE: É na Barão ali, fica na, tem Antonio Carlos, a Tacho Quente. INFORMANTE 2: É, fica entre a Lourenço e a Barão. INFORMANTE: E a Antonio Carlos ali. O Dr. H. morou ali, tem o C., filho dele. INFORMANTE 2: Pois é, eu conheço o C.H., eu ouvi falar dele. INFORMANTE: O C., o A., o I., o H., a mulher chamava M., eu trabalhei de doméstica lá, eu trabalhava de 200 doméstica. PESQUISADORA: Lá em Passos? INFORMANTE: Em Passos, depois vim e trabalhei com a mulher do Z. P., aqui na fazenda, trabalhei muito tempo, e depois saí do emprego, e fui namorar, e casei, fiquei 45 anos casada. PESQUISADORA: Aí depois a senhora ficou viúva? 205 INFORMANTE: Fiquei viúva, 10 anos viúva. PESQUISADORA: Entendi. INFORMANTE: Eu tenho 8 filhos, a minha caçula tá com 40 anos, ela mora lá em Ponte Arta, ela trabalha num grupo, ela tem dois filhos, um com 20 anos, e um com 11. PESQUISADORA: Uma diferença boa. 210 INFORMANTE: É. E eu tenho um filho que mora em Franca, é o mais velho, tá com 55 anos, e tem a A. D. mora em Passos, o Z. C. mora em Passos, perto da igreja Nossa Senhora Aparecida, e a C., mulher do D., D. trabalhava na circular, chama T. D. C., ele é loiro, dos olhos azuis, mora na rua Rio Tietê. PESQUISADORA: Ali no Santa Luzia, né? INFORMANTE: É, 154, o numero da casa, fica perto da igreja ali, e na rua de baixo meu filho mora, chama J. C., 215 agora eu não sei o nome da rua, não sei se é Rio Doce. PESQUISADORA: Rio Doce também é lá no Santa Luzia. INFORMANTE: A mulher dele é de lá, ela é, a mãe dela chama T., ela é professora trabalha, leciona ali perto da Igreja Santos Reis, ela é uma pretinha engraçada, sabe? Boa de mais, ela tem um cunhado que tem apelido de pardal, mora lá no colégio de Passos. 220 PESQUISADORA: Não, esse pessoal eu não conheço não, acho que não. INFORMANTE 2: Não, eu também acho que não conheço não. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 176 INFORMANTE 3: P., que mexe com eletrônico? INFORMANTE: Acho que é. INFORMANTE 3: Tem uma lojinha na João de Barro? 225 INFORMANTE: Tem. INFORMANTE 3: Mora perto da J. E. desceno, né? É, o P. eu conheço. INFORMANTE: Chama A.. INFORMANTE 3: O nome dele eu não sei não, só sei que conheço ele. INFORMANTE: E ali na Av. Expedicionário perto do mundo novo ali, terminando a rua, minha neta mora ali. 230 PESQUISADORA: Ah, então mora perto da Tia A., eu sei aonde é. INFORMANTE: É quase a urtima, ela tem a casa da esquina, que a fia do Z. V., e depois a casa dela, e depois um predinho, ela compro agora, depois o outro predinho, e depois pra cima é só terreno, fica quase em frente aquele condomínio. PESQUISADORA: Ah, condomínio da Nossa Senhora. 235 INFORMANTE: É, quase em frente ali. PESQUISADORA: Eu sei, o condomínio... INFORMANTE 2: Tem uma cunhada minha que mora ali naquela rua, no começo subindo. PESQUISADORA: Capaz que eles moram perto. INFORMANTE: O Marido dela chama R., ele é agrônomo. 240 PESQUISADORA: Eu não conheço não pai, agrônomo. INFORMANTE: Os pais dele é de Muzambinho. PESQUISADORA: Ah não, não conheço não. INFORMANTE 2: R., sabe que eu acho que eu conheço, era um rapaizão alto, até meio encorpado assim. INFORMANTE: É, vou pegar o retrato dele, pro senhor ver. 245 INFORMANTE 2: Eu sei. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 25 INFORMANTE: J.B. (Analfabeto, 84 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: O senhor tem quantos ano? INFORMANTE: Eu já tô véio já, 84 anos. PESQUISADORA: Tá nada, tá novo. 5 INFORMANTE 2: O senhor tá semi novo. INFORMANTE: Num tá. PESQUISADORA: Onde que o senhor morava? INFORMANTE: Hã? PESQUISADORA: O senhor morava onde? 10 INFORMANTE: E, morava lá pras quela terra pra lá. Morei lá treze ano. INFORMANTE 2: Como é que chama lá? INFORMANTE: Meus filho foi criado quase tudo lá, depois que eu mudei pra cá. E meio que Babilônia, Gurita, tem um lugar lá, na Gurita lá embaixo chama Melado. É uma bagunça isso aí. PESQUISADORA: O senhor conhece isso aqui tudo então? 15 INFORMANTE: Ah, pode fala tudo. INFORMANTE 2: E o senhor mexia com o que lá? O que o senhor fazia lá, mexia com roça? O que era? INFORMANTE: Ah, mexia com gado né? INFORMANTE 2: Arava terra ou não? INFORMANTE: Lá na serra, quando eu morava lá, eu tinha um gado lá, aí depois de eu ter mudado pra cá foi 20 preciso vender, porque não tinha pasto, né. É lugar pra pô criação não dá não. Primeiro ia alugar, os pastos estava comendo a criação tudo, eu falei: uai, vende aí e pronto. INFORMANTE 2: Em vez da criação comer o pasto, o pasto que tava comendo a criação? INFORMANTE: Aí peguei e vendi, aí depois fiz essa casa aqui, e pronto. INFORMANTE 2: Teve bom ainda. 25 INFORMANTE: E tô aí, não tô pagando aluguel, nem nada, é meu né? INFORMANTE 2: Senhor P., e não o pasto tinha comido tudo, o gado inteiro né? Fez bem. INFORMANTE: Mas esse oio d’agua aqui não presta não. PESQUISADORA: Por que? INFORMANTE: Uai, não tem instrução nenhum, uai. Uai, não tem fábrica nenhum aqui, não tem serviço uai. 30 PESQUISADORA: Entendi. É ruim mesmo né, assim. INFORMANTE: É, mas precisava ter fábrica, né? Num lugar que não é reconhecido, num tem jeito de falar nada. Num tem jeito de por polícia, num tem jeito de por um cartório, né. Quando num é reconhecido, lá vai, porque a polícia, é o Estado que paga, né? Vai por aqui a prefeitura não paga, a prefeitura aqui, o prefeito num vale nada. O prefeito vem só, só quer saber só de comer o que ganha, num vale nada, o prefeito aí. Falar a verdade, num 35 vale nada memo. PESQUISADORA: Mesmo? Não faz nada pra cá? INFORMANTE: Teve um prefeito aí, ele tava dando pedreiro pro povo retocar as casa, tava até fazeno casa aí, pra esse povo aí, pra esse povo mais pobre. Aí veio a eleição, o outro pegou, foi votado, ganho né. Agora esse outro aí não vale nada. Não dá nadinha, não dá um tijolo. Coitado do pobre. Agora que tá entrano um serviço dos 40 negócio de umas banana, plantano banana aí, capaz que vai, porque a usina acabou. INFORMANTE 2: Mas a usina parece que tá animando de novo. INFORMANTE: A usina, eles alugou os terreno aí, plantou, o fim num tava pagano, eles tomou os terreno deles, aí acabou, o povo parou de trabalhar na usina. PESQUISADORA: Aí fica difícil né, tem que ter serviço. O senhor morava onde na serra, na serra da Canastra? 45 INFORMANTE: Não, era aqui, na serra daqui. PESQUISADORA: Como chamava a serra daqui? Chama? INFORMANTE: Ah, daqui eu não sei não. INFORMANTE 2: Serra preta? INFORMANTE: Serra preta. Ela pega aqui e vai sair lá embaixo. E daqui ela desce, vai sair lá na Sete Voltas. 50 PESQUISADORA: O senhor conhece a Sete Voltas? INFORMANTE: Essa serra aqui ó, vai sair lá na Sete Voltas. PESQUISADORA: E o senhor conhece lá a sete volta? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 178 INFORMANTE: As sete volta é onde que dobra que vai lá praqueles meio pra lá. INFORMANTE 2: Sacramento? 55 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: O senhor conhece lá, Sacramento? INFORMANTE: É pras banda de Sacramento, pra lá afora. INFORMANTE 2: O senhor conhece lá ou não? O senhor já foi lá? INFORMANTE: Em Sacramento? Não. 60 INFORMANTE 2: O senhor sabe alguma história das sete volta? INFORMANTE: Um lugar muito ruim, aquele lugar, diz que é muito ruim aquilo lá. Mas a terra aí, isso aí não vale nada. Isso aí não vale nada. PESQUISADORA: Por quê? INFORMANTE: Oia que eu passei trabalho quando eu morava lá na serra lá, não tinha caminho, só caminho pra 65 cavaleiro. Mas não tinha estrada, não tinha nada, agora tem. Agora tem, mas quando eu morava lá não tinha não. Até pra passar de a cavalo era ruim. Aí era um trabalhão. Agora não, agora tem estrada boa, agora. PESQUISADORA: Aí é bom, aí ajuda né? INFORMANTE: É lá no lugar que eu morava lá tem, um devogado lá de Franca comprou lá, de um fazendeiro que mora aqui, aí melhorou. Mas isso aqui num vale nada não. Eu tô com muitos ano que eu moro aqui tamém, 70 mas não vale nada não. INFORMANTE 2: O senhor foi nascido por aqui? O senhor nasceu aqui? INFORMANTE: Não, foi lá no tal mijolinho. Lá era nosso, aí nois pegou e mudou para a cidade, largou de mão de lá, porque não prestava, uai. Num tinha lugar de plantá, né? Aí larguemos isso lá, aí depois foi na praça, o outro rematou, e vendeu, foi aquela bagunça. Aqui na Gurita tem muita terra que nem dono num tem. Nem dono 75 num tem, num tem não. Os dono pegou, uns morreu, outros foi embora, largou de mão disso aqui. Lugar muito ruim tamém. A tal Gurita lá que virou um sertão, num tem ninguém. Algum tempo tinha, mas agora? O povo lá morreu quase tudo, eu num morri porque eu corri pra cá. Senão tinha ido tamém. Eu já tive fazendo a conta, uai, o povo que tava lá morreu tudo. Os que num morreu mudou pra cidade, pra Delfinópolis. E eu mudei pra cá. Se não aqui ó, já tinha ido também, cê besta. 80 PESQUISADORA: Quando o senhor era pequeno, o senhor morava lá nessa serra? INFORMANTE: Não, eu quando era pequeno, eu mudei pra Delfinópolis, lá depois mudei pra Serra de novo, aquela bagunça. Depois foi indo meu pai morreu, a minha mãe ficou lá. Aí depois nós foi crescendo, nós foi esparramando. INFORMANTE 2: O senhor mora sozinho aqui? O senhor mora aqui sozinho? Mora só o senhor? 85 INFORMANTE: Tem um rapaz. Eu casei, a minha mulher morreu, faz dez anos que ela morreu. Aí eu moro aqui com um rapaz, ele tem nove filhos. É nove. PESQUISADORA: Mora em Franca? INFORMANTE: Muncado mora, muncado mora aqui. Muncado mora lá em Delfinópolis. PESQUISADORA: Delfinópolis, ali? 90 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: E o que o senhor fazia quando o senhor era pequeno lá onde o senhor morava? Como é que o senhor trabalhava, o senhor trabalhava quando o senhor era pequeno? INFORMANTE: Nós tinha vaca pra tirar leite. PESQUISADORA: O senhor só tirava o leite? 95 INFORMANTE: Tirava leite, fazia queijo, vendia, fazia vassoura. INFORMANTE 2: Ah, é mesmo, falou que o senhor fazia vassoura. INFORMANTE: Vassoura ainda faz até hoje. PESQUISADORA: Mas o senhor tem vassoura pra vender aí? INFORMANTE: Lá no velho, em riba ali tem, no filho meu. 100 INFORMANTE 2: Ah, eu tô querendo comprar bassora. É quanto que é cada? INFORMANTE: Ele mora mesmo ali, naquela rua de riba ali. Ele vende eu acho que é oitenta conto a dúzia. PESQUISADORA: Ele vende quanto? INFORMANTE: Oitenta conto a dúzia. Ele vende lá no Glória, vende em Passos. INFORMANTE 2: Vou passar lá depois e comprar umas duas dele. 105 PESQUISADORA: O senhor fazia vassoura? INFORMANTE 2: Vassoura de coqueirinho? INFORMANTE: É, vassoura boa. PESQUISADORA: O senhor conhece alguma história boa daqui dos Olhos d’agua? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 179 INFORMANTE 2: Uma história, um caso que contava muito de primeiro aqui? O que contava aí? De primeiro 110 eles falavam casos de assombração, essas coisas, o senhor já ouviu falar por aqui? Não né? Pro senhor contar pra nós. Mas só sei que hoje tá bão né, hoje mirou né? INFORMANTE: Agora miorou muito, mas de primeiro nem luz num tinha. De primero não, aqui de primero num tinha luz, num tinha nada. Era isso aqui, umas casa pra aqui, otras pra ali, agora miorou muito. Aí agora num tem farmácia, farmácia num tem não. 115 PESQUISADORA: Não. Uai, até faz falta né, aqui uma farmácia. INFORMANTE: Aqui toda vida num ornô esse negócio de farmácia não. Mas tem a escola, tem muita coisa, agora, de pouco tempo pra cá melhorou muito isso aqui. Mas isso aqui de um tempo... Deus me livre disso aqui. PESQUISADORA: Mas quando não tinha luz, aí você tinha que dormir? INFORMANTE: Um escuridão danado. 120 PESQUISADORA: Tinha que dormir cedo? Mas não tinha outra coisa para lumiar não? INFORMANTE: Não. INFORMANTE 2: Tinha lamparina né? INFORMANTE: Ah, lamparina. Era com querosene, catingudo, um fumação, pretejava tudo. Às vezes punha a luz assim, esquecia a luz acesa, no outro dia amanhecia com a cara cheia de carvão. Ah, ma agora miorou muito, 125 porque deu a luz, olha. Mas ihh, era feio isso aqui. Isso aqui agora consertou muito. Isso aqui consertou demais. Só a luz aqui, já consertou muito, né. INFORMANTE 2: O senhor tem televisão ou não? Tem. INFORMANTE: Tem, tem televisão, tem muita coisa. PESQUISADORA: Tem rádio, tem até parabólica também. O senhor gosta de assistir novela? 130 INFORMANTE: Eu não gosto de televisão de jeito nenhum. PESQUISADORA: Não? E de rádio? INFORMANTE: Rádio eu gosto. Mas televisão não. PESQUISADORA: O que o senhor gosta de ouvir no rádio? INFORMANTE: O rádio, eu gosto dele, porque compra CD, põe ali, e ouve umas modas bonita né? Agora 135 televisão é uma bobageira, uma coisera. Eu não gosto disso. INFORMANTE 2: É verdade, o senhor tá certo. PESQUISADORA: O senhor prefere o rádio então? INFORMANTE: Eu gosto é de radio. Eu tenho um ali, mas queimou, não toca disco agora. Tem que mandar consertar ele. Agora tinha vez que compra uns disco bonito, né? Umas moda boa. Mas esse negócio de... 140 INFORMANTE 2: Ixi e tem hein. E moda boa é moda antiga, né? Essas moda nova de hoje não vale nada. INFORMANTE: Aquelas antigas é boa. INFORMANTE 2: Senhor V., mas já valeu a conversa, já valeu. Foi bom conversar com o senhor. Já me ajudou bastante. INFORMANTE: [...] tomar uma testada no outro, no meio da rua aí, uai. 145 INFORMANTE 2: Ah, mas Deus me livre, no escuro, uai, era difícil. INFORMANTE: Agora até miorou muito, tem dois supermercados. PESQUISADORA: Nossa, tá muito bão. Quando o senhor veio pra cá, o senhor trabalhava com o que, fazendo vassoura? Quando o senhor veio pra cá o senhor fazia vassoura, não é isso? O senhor fazia o que? INFORMANTE: Ainda fazia ainda. Mas de primeiro, quando eu mudei dessa serra pra cá, eu aluguei uma 150 fazendinha do lado de lá assim do corgo, desse corgo ali, chama Extrema. Eu aluguei e fiquei lá três anos. Aí depois peguei o retiro dum home, um tal de Sirvo. Aí morei lá nesse retiro nove ano. Aí depois é que eu fiz essa casa aqui. INFORMANTE 2: Como que chama o filho do senhor que faz vassoura? INFORMANTE: J. 155 INFORMANTE 2: Só perguntar, ele sabe onde é? INFORMANTE: Não, ele num tá aí não. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 26 INFORMANTE: M.C. (Analfabeta, 75 anos, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: Rezando. INFORMANTE: Não, eu ainda não comecei não. PESQUISADORA: Não? Mas é rápido assim, a senhora pode participar também da história. INFORMANTE: Aqui começou com umas casinhas pouquinha, e foi aumentando, aumentando. PESQUISADORA: E começou aqui faz tempo? 5 INFORMANTE: Aqui faz muitos anos, começou aqui não era do meu tempo não. PESQUISADORA: Não? Quantos anos a senhora tem? INFORMANTE: Eu tenho 75. PESQUISADORA: Mora aqui desde que nasceu? INFORMANTE: Não, eu morei na roça 40 anos, e faz 35 que eu tô aqui na região. 10 PESQUISADORA: Ah, a senhora trabalhava como é que era? INFORMANTE: Trabalhava na roça. PESQUISADORA: E o que a senhora fazia? Pode contar a história da senhora, não tem importância. INFORMANTE: Eu capinava arroz, eu panhava café, e fui fazeno serviço de, trabaiava na roça, é. PESQUISADORA: Pode contar a história aí o que a senhora acha da região, assim, da senhora mesmo, como era 15 trabalhar na roça, porque eu quero saber assim, coisa como era antigamente, como que trabalhava antigamente. INFORMANTE: Pois é, trabalhava na roça. INFORMANTE 2: Não tinha trator pra puxar, num tinha nada, ia andando de é, trabalhava o dia inteiro, voltava de pé, era uma vida bem custosa. INFORMANTE 4: Aqui tem tecedeira ainda, é antigo que meche com fazenda? 20 INFORMANTE: Não tem mais. PESQUISADORA: Não, mas assim, tem gente que era tecedeira? INFORMANTE: Tem aqui, a Ana era tecedeira, ticia, fiava, custurava, eu custurava tamém, custurava, bordava, é. PESQUISADORA: E a senhora morava na zona rural e trabalhava lá? 25 INFORMANTE: Era. PESQUISADORA: Então a senhora trabalhava lá? INFORMANTE: Eu trabaiava lá, eu fiava, discaroçava argudão, fiava, e mandava tecê cuberta. PESQUISADORA: E aqui na região que a senhora morava na zona rural mesmo? INFORMANTE: É, nessa região memo, na bera da represa, lá na bera da represa, pra cá da ponte Surubim, ficava 30 do lado assim, a ponte Surubim ficava pra cá, minha casa ficava pra cá, na bera da represa. PESQUISADORA: Entendi, a senhora morava com quem lá? INFORMANTE: Eu morava cum meu marido, esse aí é meu fi, uai. PESQUISADORA: Tudo bem? Eu tô fazendo um trabalho na faculdade sobre a região, e aí indicaram a sua mãe pra contar assim, história da região, como que era a vida aqui. 35 INFORMANTE: É, a vida era isso aí. INFORMANTE 3: Que curso você faz? PESQUISADORA: Eu faço, na verdade eu faço Letras, mas eu trabalho com cultura, cultura e linguagem da região. INFORMANTE 3: Você é de Passos? 40 PESQUISADORA: Sou. INFORMANTE 3: Na FESP? PESQUISADORA: Sou, sou professora lá, só que não é da FESP esse trabalho, eu tô fazendo doutorado, aí é pra defender essa tese, eu preciso, eu escolhi na verdade assim, eu mapeei a Serra da Canastra, e aqui eles consideram como um pedaço da Canastra, né? Aí eu tô procurando algumas pessoas. 45 INFORMANTE 2: Olhos D’água da Canastra. PESQUISADORA: Olhos D’água da Canastra? Ele tem esse nome mesmo, ou já teve? INFORMANTE: Da canastra é pouco tempo que ele tem esse nome. PESQUISADORA: Ah... INFORMANTE 3: É porque aqui não era distrito, aí passou a ser distrito, e aí colocaram Olhos D’água da 50 Canastra. PESQUISADORA: Eu não sabia que era Olhos D’água da Canastra. Pra mim era só, o senhor sabia disso? INFORMANTE 4: Não sabia que tinha esse nome não, sabia não. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 181 INFORMANTE 3: É porque já tinha Olhos D’água, aí pra diferenciar. PESQUISADORA: Ah, entendi, aí criaram Olhos D’água da Canastra. Entendi. E aqui tem quantos anos, Olhos 55 D’água? INFORMANTE: Olhos D’água, sabe que eu não sei quantos anos tem? Eu tô com 75 anos, desde aí eu conheço Olhos D’água, eu fui batizada aqui. PESQUISADORA: Aqui em Olhos D’água mesmo? INFORMANTE: A igreja era ali pra baixo, tinha o cemitério, e a igreja era assim, o cemitério era assim, e a igreja 60 era assim, fui batizada nessa igreja, depois que eles construíram essa igreja aqui. PESQUISADORA: A igreja não era essa principal aqui não? INFORMANTE: Não, não era essa aqui quando eu fui batizada a igreja era lá em baixo, perto do Balé, o fazendeiro foi ali. PESQUISADORA: E aí a senhora veio pra cá, e continuava trabalhando na zona rural ou não? 65 INFORMANTE: Eu continuava, eu continuei trabalhando, panhando café. PESQUISADORA: E o marido? INFORMANTE: Meu marido também trabalhava na zona rural. PESQUISADORA: E como que era, a senhora trabalhava na cozinha e tudo mais, como eram os utensílios, assim, muito diferente de hoje, ou não? 70 INFORMANTE: Tinha, quando eu morava na roça era fogão de lenha, depois eu mudei pra cá, era fogão a gás. PESQUISADORA: E lá os utensílios que a senhora usava na roça nos utensílios no fogão a lenha era diferente, né? INFORMANTE: É, fogão a lenha era diferente, era panela de ferro, colher de ferro também, lamparina de querosena, acindia a luz de querosena. 75 PESQUISADORA: Não tinha luz elétrica? INFORMANTE: Num tinha energia não. PESQUISADORA: Tinha que usar a querosene, a lamparina. INFORMANTE: Tinha que usá querosene na lamparina. INFORMANTE 3: A gente chegou aqui em 76, não é? 80 INFORMANTE: Eu acho que foi. INFORMANTE 4: A energia elétrica foi um avanço de mais, né? Vishi. INFORMANTE: A gente não tinha chuveiro, não tinha rede de esgoto, nada. PESQUISADORA: Mas tomava banho como? INFORMANTE: Na bacia, na bacia, chamava bacia de pé, aí tomava banho na bacia. 85 INFORMANTE 3: Mas o pessoal fazia uns chuveirinho e colocava no balde. PESQUISADORA: Mas tinha nome esse chuveirinho? INFORMANTE: Era só chuveirinho mesmo. INFORMANTE 2: Era chuveiro baiano, né? INFORMANTE 4: É, era uns baldes, eu lembro. 90 PESQUISADORA: Bacia de pé então? INFORMANTE 3: Bacia de pé o nome, não sabia dessa não, mãe. INFORMANTE: Era bacia de pé. PESQUISADORA: Tá vendo, pessoa mais velha conhece a história da, tomava banho, tinha que toma banho cedo também, né? Porque se não fica frio, escuro, não tinha energia, é difícil. 95 INFORMANTE 4: Só tinha lamparina. INFORMANTE 2: Não tinha torneira, tinha que pegar água no... tirar na corda. INFORMANTE: Quando eu morava na roça, eu carregava água na lata, carregava água na lata pra mim gastá, e carregava pros capado, que nóis guardava capado, então guardava prus capado, todo dia tinha que por esses capado duas, três veis no dia. 100 PESQUISADORA: E a senhora carregava tudo? INFORMANTE: Carregava tudo da represa, pegava água na represa, e carregava pros capato. PESQUISADORA: Entendi, e aqui, e a seca aqui? INFORMANTE: A seca tá ruim, nunca vi um ano seco iguale esse, iguale foi esse ano. PESQUISADORA: Mesmo? Antigamente nunca teve? 105 INFORMANTE: Num lembro de tê não. Teve uns ano quando eu ero sortera, meu pai perdeu lavora pra uma seca, quando era sortera, uns 3 anos, lá na mata meu marido perdeu dois ano uma lavora. PESQUISADORA: Certo, mas desse jeito não? INFORMANTE: Desse jeito não. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 182 INFORMANTE 4: Teve uma pessoa que me falou esses dias que em 1954 deu uma seca assim, um ano ruim de 110 chuva. PESQUISADORA: 60 anos atrás. INFORMANTE 4: É, 60 anos atrás. INFORMANTE 3: Mas esse ano foi... INFORMANTE 4: É, tá diferente, né? Você pode ver que eles fala que quando São Paulo chove que caiu aqui 115 três dias, é um vento de seca, um vento frio de seca, não tá pra chove não, pode até chove... INFORMANTE: Como cê chama? PESQUISADORA: Eu chamo G. INFORMANTE: G., ah. PESQUISADORA: É, eu moro lá em Passos, tô fazendo esse trabalho, hoje eu tirei o dia, fui lá em Delfinópolis, 120 passei aqui, e vou passar lá na Ponte Alta depois. INFORMANTE: Passar na Ponte Arta. PESQUISADORA: Mas lá eu não conheço ninguém não, aqui também eu não conhecia não, vim passando assim, algumas pessoas foi me indicando, e eu fui batendo de porta em porta, o bom é que vocês assim, são receptivos. INFORMANTE 4: Lá em Ponte Alta vocês conhecem alguém que pode informar? Conhece lá ou não? 125 INFORMANTE 3: Então rapaz, quem eu vou indicar lá, hein? PESQUISADORA: Ponte Alta tá a quantos quilômetros daqui? INFORMANTE 3: 17, pertinho. PESQUISADORA: Aqui, dona M., dona F. é a de lá, né? F. não, A., a A... É porque eles me indicaram, as duas são vizinhas, aí eu falei: “Gente, quem...” O dona M., tem alguma história aqui da região, da cidade interessante, 130 alguma história. INFORMANTE: Interessante? PESQUISADORA: Interessante não, alguma história ou de tragédia, ou engraçada, ou que assim, as pessoas olham um lenda ou coisa assim? INFORMANTE: Há muitos anos atrás quando eu era sortera, um home, um rapaz matô um home aqui, matô o V. 135 L., matô o... não sei se era. INFORMANTE 2: É pai ou avô do Z. R. INFORMANTE: É avô do Z. R., é, dos J., né? Mato ele. PESQUISADORA: Ah, e porque ele matou? INFORMANTE: Ah, não sei porque ele matou. 140 PESQUISADORA: A história, e depois. INFORMANTE 2: Pingaiada. INFORMANTE 3: Passos lá é todo dia quase, né? PESQUISADORA: Passos, lá pra nós é muito comum, Passos o povo tá matando pra ver o tombo. INFORMANTE 4: Mas é gozado que é um povo que a gente nem nuca viu sabe, infelizmente é droga, né? Esse 145 rolo aí de droga, é poucas pessoas que você vê falar que, e quando é um cara que vocês conhece que morreu aqui, foi mesmo um moleque que matou lá, um bodinho lá, né? INFORMANTE 3: Tem muito pla boy envolvido, né? INFORMANTE 4: Ah, isso aí ta um problema sério, sabe. INFORMANTE: Passos dá até medo da gente andar. 150 PESQUISADORA: Passos tá perigoso, muito assalto. INFORMANTE: Eu no vou lá. INFORMANTE 4: Tá assaltando, uai. INFORMANTE 3: Uai, assaltaro Delfinópolis esses dia, essa semana uai. INFORMANTE: Assaltaram? 155 PESQUISADORA: E Passos tá custoso, viu? Direto. INFORMANTE 3: Os cara chego lá encapuzado, e mando todo mundo deitá e... INFORMANTE 4: Foi aonde que nóis tava conversando, foi a respeito do asfalto chegar, né? Foi ruim, jogando conversa fora, foi o T. L. lá, né? Porque não sei quem falou que quando é terra a turma acha ruim de ir, né? Hoje de asfalto a turma caí logo, vai, né? 160 PESQUISADORA: O pessoal do Glória que fala, que depois da ponte o risco ficou muito maior lá. INFORMANTE: Ficou mais fácil. PESQUISADORA: Os meninos falam. INFORMANTE: Não tem portera, né? Porque a balsa era cum portera. PESQUISADORA: É. 165 INFORMANTE 3: Mas lá se tive uma ideia, é facinho de cercar ali na ponte, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 183 INFORMANTE: Mas acontece que nem quando tinha a balsa. INFORMANTE 3: Não, hoje você fica triste que é, não descobre nada, o ladrão vai e rouba, a polícia chega logo atrás, nunca viu ninguém, não sabe quem foi, né? Difícil. INFORMANTE 4: Ah, a policial... 170 INFORMANTE: Onte mesmo teve lá né? PESQUISADORA: Em Passos? INFORMANTE: É. INFORMANTE 4: Lá em Passos tá tão comum que a gente nem lê mais. INFORMANTE: Ishi, eu vejo todo dia, todo dia eu tenho que ver, eu tenho um fio que mora lá tamém né? Então 175 eu fico de cima oiando. PESQUISADORA: Tá certo. INFORMANTE 4: Eu não sei, eu acho que o roubo, essa coisa, virou indústria, é, porque vem advogado pra defender, vai virando aquele negócio, circulo cumprido, tem que fazer cerca elétrica, tem vigia, tem isso, pensa bem se todo mundo resolver ficar bonzinho, é um desemprego grande, viu? É, hoje tem muita empresa grande 180 que mexe com roubo, né? Que dá segurança, mas isso não presta, isso não é coisa de dá serviço, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 27 INFORMANTE: M.C. (Analfabeta, 82 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: J.C. (Alfabetizada, 70 anos, sexo feminino) INFORMANTE 3: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) INFORMANTE 4: T.M. (Só participa) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: Pode contá. INFORMANTE: Foi muitos, ó, eu tava cá idade de 6 ano, eu já trabaiava nesse serviço de gudão, cum 6 anos, agora eu já tô com 82. INFORMANTE 2: É, é muito fio, hein? INFORMANTE: Eu disfiava, eu judava minha mãe escaroçá o argodão, escaroça, depois chamava batê, num 5 arco que tinha assim, de bate o argodão, depois cardá e fiá. PESQUISADORA: Esse era o processo do... INFORMANTE: Esse que fazia, ê, mas eu fiei na minha vida, depois eu fu cresceno mais, e ela já me passo pro tiale, aí já era tecer, aí já era tecer, ocê já viu pano tecido no tiale? PESQUISADORA: Não. 10 INFORMANTE: Não, né? PESQUISADORA: Não, acho que não, né pai? INFORMANTE 2: Ah, lá em casa tem coberta lá na roça que é, coberta da tua mãe lá. INFORMANTE: É, ticia coberta, era o serviço que mais passo é tecer no tiaro memo, sabe? PESQUISADORA: E isso tudo aqui na região, a senhora fazia isso tudo aqui? 15 INFORMANTE: Não, eu morava lá na bera daquela serra lá, lá que era minha chácara. PESQUISADORA: A Serra Preta, é essa? INFORMANTE: É, mas é mais pra baixo, na baixada assim, naquela era meu sítio lá, ê, mas eu trabaiei com argodão, mas daí depois fui parano com argodão, e fui pra máquina custura, né? Dispois já fui custurá, e aí no Glória tinha fama da muiezada que ticia aquelas coxa bonita mesmo, eu fui lá no Glória pra aprender, e tici. 20 PESQUISADORA: Aí a senhora tecia aqui? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Mas aí a senhora fazia na máquina ou... INFORMANTE: É o Tiale, é tudo de madera. PESQUISADORA: Ah tá. 25 INFORMANTE: Tiale de madera. É o carapina que faiz. INFORMANTE 3: E é complicado passa a linha, tem um retroizão cumprido que põe a linha, não tem? INFORMANTE: Tem. INFORMANTE 3: Como chama aquilo mesmo? INFORMANTE: O pente de passa a linha, dispois passa no ( ) outro lugar que chama ( ) pra depois ir tecer. 30 PESQUISADORA: Entendi, e eram muitas mulheres que teciam juntas ou não? INFORMANTE: Não, quando eu fui lá no Glória pra mim, a muié ensiná lá era muita tecedeira, mas depois era só eu, eu tinha meus apreparo tudo. PESQUISADORA: E quando a senhora era pequena, era só a senhora e a... INFORMANTE: E a mamãe, que eu num cunheci meu pai, quando ele morreu, eu fiquei com 4 anos. 35 PESQUISADORA: Vocês plantava o algodão já? INFORMANTE: Prantava. PESQUISADORA: Plantava na horta, né? Eu lembro. INFORMANTE: É, na horta, quarqué lugá o argodão dava, né? PESQUISADORA: É. 40 INFORMANTE: Era na horta memo, um descarçadão pra discaroça argodão, arco de batê, pra dispois cardá, pra dispois fiá pra dispois tecê. PESQUISADORA: Tecer era ultimo. INFORMANTE: Fazer as coxa, fazê as coberta, né? Fazê as coberta, mas também naquele tempo os home usava vestir as ropa de pano de argodão, a carça. 45 INFORMANTE 4: Eu até num cheguei a usar não, mas eu lembro de falar, acho que o trem era quente pra caramba né? INFORMANTE: Meu marido uso demais carça de pano de argodão, fazia até camisa de pano de argodão, assim, tudo no tear. PESQUISADORA: É? 50 INFORMANTE: Sim, tudo no tear. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 185 PESQUISADORA: Tecia e já dava uma forma pra roupa ou não? Já dava uma calça e uma camisa? INFORMANTE: Já dava. PESQUISADORA: Ou era só o tecido? INFORMANTE 2: Era o tecido e aí ela fazia na máquina. 55 PESQUISADORA: Ah, entendi. INFORMANTE: Fazia a carça ou a camisa na máquina dispois. PESQUISADORA: Era só o tecido, não é? INFORMANTE: Era só o tecido. PESQUISADORA: Só não, né? Já era muita coisa, porque já era difícil pra fazer. 60 INFORMANTE: É coisa, muita coisa. INFORMANTE 4: É, não, tinha que mostra pra esse povo de hoje, em? Essa facilidade que tá hoje, eles num quer nada com a dureza, em? INFORMANTE: Não, tinha um negócio chamado drobadora, eles fazia, o fiado tava na rorda, e aí passava pra drobadora assim, óia, chamava miada, era de tingir aquelas miada de quarqué cor bunita tamém pas cocha, 65 sabe. INFORMANTE 4: É eu lembro de mamãe... INFORMANTE: Sua mãe ticia? INFORMANTE 4: Não, mas ela fazia os apreparo pros outro tecê, mas acho que tem coberta lá até hoje tecida ainda. 70 INFORMANTE: Ticida mesmo, né? É, eu vendia muita coberta, eu vendi muita coberta, e meu marido usava a camisa e a carça era de pano de argodão mesmo, e dispois fazia. PESQUISADORA: E tinha algodão especifico não, era qualquer, algodão tem especifico, não? INFORMANTE: Não, argodão tinha aí na horta, tinha ganga, tinha de duas cor, o algodão. PESQUISADORA: Quis cores que era? 75 INFORMANTE: Um assim, cor de carne. PESQUISADORA: Esse era meio vermelho? INFORMANTE: É, esse era mei[o] vermeio. PESQUISADORA: Mas já nascia desse jeito? INFORMANTE: Já, nascia desse jeito. 80 PESQUISADORA: Mas aí quando ia tecer ficava dessa cor? INFORMANTE: Ficava dessa cor, e tinha o argodão branquinho também. PESQUISADORA: Esse aí que a senhora tecia de qualquer cor? INFORMANTE: É, aí tingia ele. PESQUISADORA: Entendi. E assim, a senhora trabalhava na, só tecendo na zona rural ou a senhora fazia outras 85 coisas, como que era assim, antigamente lá na roça, como vocês trabalhavam? INFORMANTE: Eu custurava pros outro, eu custurava pros outros, fazia roupa pros outros. PESQUISADORA: Mas só costura, não trabalhava. INFORMANTE: Custurava na máquina. PESQUISADORA: Na máquina de pé. 90 INFORMANTE: Pras pessoas, já morava aqui ou não? PESQUISADORA: Não, tudo lá. INFORMANTE: Aí, olha, isso aí eu que fazia. PESQUISADORA: Ah... INFORMANTE 2: Só que essa era de lã. 95 PESQUISADORA: A senhora que teceu essa aqui? INFORMANTE 2: Essa aqui é a lã do carneiro, porque tinha muito carneiro, então ela cortava a lã do carneiro, fazia o fiado, e fazia coberta. PESQUISADORA: Fazia coberta, gente que legal. INFORMANTE 2: Tem uma velha ali no fundo de algodão. 100 PESQUISADORA: Essa é de lã, não é? INFORMANTE 2: Essa é de lã fina. INFORMANTE: Isso é quente no tempo do frio. PESQUISADORA: É bão né? Aqui faz muito frio? INFORMANTE: Faiz. 105 PESQUISADORA: Passos é quente. INFORMANTE 2: Ela ainda tem a máquina de pé dela. PESQUISADORA: Tem? Depois eu vou, se a senhora puder me mostrar. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 186 INFORMANTE: A máquina de pé? PESQUISADORA: É. 110 INFORMANTE: Mas não tá aqui nessa casa. PESQUISADORA: Ah, não tá aqui nessa casa. INFORMANTE 2: Como não, mãe, a máquina de costura. INFORMANTE: Ah, tá lá na varanda. INFORMANTE 2: Tem 60 anos. 115 INFORMANTE: Aqui é da minha filha aqui, tem o sítio aqui. PESQUISADORA: Mas a senhora mora aqui ou fica nos dois lugares? INFORMANTE: Não, tem, o meu marido morreu, né? PESQUISADORA: Ah, entendi, a pessoa que comprou a última roda, a senhora vendeu? INFORMANTE: Vendi, a última roda que eu tinha eu vendi, a ultima roda que eu tinha eu vendi, só que eu 120 esqueci o nome do fazendeiro que comprô ela pra levá pra São Paulo, agora, com o que é que ocê vai usá ela? Tem argodão desfiado, pra pôr no arpendres. PESQUISADORA: Mas as pessoas da cidade gostam dessas coisas pra fazer decoração e tudo mais. INFORMANTE: Gostam, e aí eu tô é, eu tenho o sítio ali, ali eu num mexia com argodão não, mexia com argodão quando eu morava pra lá. 125 PESQUISADORA: Aí quando a senhora veio pra cá, a senhora já fazia custura? INFORMANTE: É, já era custureira. INFORMANTE 2: Mas ela costurava lá também. PESQUISADORA: Lá também, né? Fiava tecido? INFORMANTE 2: Ela costurava pra toda região. 130 PESQUISADORA: Que era lá na Serra Preta, não? INFORMANTE: É, isso. PESQUISADORA: Na baixada. INFORMANTE 2: Na Serra mais ou menos, porque meu irmão mora depois da Serra, mora lá. INFORMANTE 4: Depois da serra aqui tá perto da V., saí no rumo da V. lá? 135 INFORMANTE 2: É, aí tem meu irmão lá, tem que continuar, sai lá na V. INFORMANTE 4: Mas tá bem longe, né? PESQUISADORA: Tá, eu vi no mapa, lembra que eu te mostrei? Eu vi um mapa lá em Delfinópolis, aí eu estava mostrando pra ele a diferença do... PESQUISADORA: Não, mas era no canteiro, T., era no, a senhora conhece no Vale dos Canteiros, já ouviu falar? 140 INFORMANTE: Já ouvi falar. PESQUISADORA: Aí eu tava comparando a distância, é porque eu vou muito lá no Vale dos Canteiros, é muito longe daqui, é bem longe. INFORMANTE 4: Daqui é longe, do Vale dos Canteiros é longe. PESQUISADORA: É oposto, né? 145 INFORMANTE: É oposto. PESQUISADORA: É ali perto do Quilombo, da cachoeira do Quilombo eu acho, Canteiros, né? INFORMANTE 2: Aonde morava, não sei se o senhor, aonde morava, o senhor conhece Pratápolis, alguma coisa não? INFORMANTE 4: Não, eu vou muito ali no J., ali na V. 150 INFORMANTE 2: Ah não, J. é perto do meu irmão. PESQUISADORA: Quem, às vezes o senhor conhece o irmão dela. INFORMANTE 4: É mesmo, quem é seu irmão? INFORMANTE 2: J. não é aquele que mora lá... INFORMANTE: Perto do O. 155 INFORMANTE: Ah não, eu tô confundindo a V. com aquela lá da Babilônia, da Pousada. PESQUISADORA: É, mas a gente tá falando dela. INFORMANTE 2: Não, não, é mais longe então. PESQUISADORA: A gente tá falando dela mesmo. INFORMANTE 2: O J. é irmão dela, ele mora em outro lugar, não é? 160 PESQUISADORA: Não perto dela. INFORMANTE: É? INFORMANTE 4: Encostado. INFORMANTE 3: Eu acho que tem dois J. aqui na região. PESQUISADORA: Ah. 165 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 187 INFORMANTE 3: Acho que tem dois J. INFORMANTE: Ah mas, eu tenho um fio que mora lá em, atrás daquela Serra Preta lá, assim, que mora lá. PESQUISADORA: Atrás da Serra Preta. INFORMANTE: Não, pra riba. INFORMANTE 2: Não, não chama Serra Preta não. 170 INFORMANTE: Não, eu tô falando que atrás daquela Serra Preta que o Z. O. mora. INFORMANTE 2: Ah, Bateia, famosa Bateia. PESQUISADORA: O povo de trilha que gosta dessa bateia, né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Bateia diz que se não tive estrada beleza, né? Parece que ali é muito ruim. 175 INFORMANTE: Pra mim i[r] na casa do meu fio eu passo na Bateia. PESQUISADORA: Mas tá boa a estrada agora? INFORMANTE: Tá, passa é carro. PESQUISADORA: É? Porque da ultima vez nós fomos lá não tava boa não. INFORMANTE: Não, passa carro lá qualquer hora. 180 PESQUISADORA: A senhora veio morar aqui a senhora tinha quantos anos? Aqui em Olhos D’água. INFORMANTE: Ah não, tá com 4 anos. PESQUISADORA: É? Aonde a senhora morava então? INFORMANTE: Lá... INFORMANTE 2: O mãe, a senhora sabe de quem ele é filho? 185 PESQUISADORA: A senhora conhece o pai dele, com certeza. INFORMANTE 2: O Bordado, mãe. INFORMANTE: Ele é fio do Bordado? PESQUISADORA: Fio do Bordado. INFORMANTE 2: Como nóis ia saber que o Bordado ia ter um fio bonito assim. 190 INFORMANTE: Bordado é aquele amigão do Dente, né? Ocê conhece o Dente? INFORMANTE 4: Ah, eu sento junto ali. INFORMANTE: Ocê conhece o Dente? INFORMANTE 4: Conheço, uai, patrão, uai. INFORMANTE 2: É, o patrão. 195 PESQUISADORA: Ele tá arrumando uns contatos aí pra mim, olha. INFORMANTE: Ah, ele? Ah, Bordado era colega do meu filho. PESQUISADORA: É? Bordado é famoso aí, olha. INFORMANTE: Então ocê conhece o Dente? INFORMANTE 4: Conheço, uai. 200 INFORMANTE: Ah meu Deus. PESQUISADORA: Tá vendo, esse menino aí conhece todo mundo, ele conhece todo mundo em Delfinópolis, conhece todo mundo em Passos, pergunta pra ele que ele conhece alguém. INFORMANTE: Conhece a mulher de Z. O. INFORMANTE 4: Na feira assim eu sentei perto do [...] nós converso um tempão. 205 INFORMANTE: Que dia? PESQUISADORA: Na festa que teve aqui em Olhos D’água, foi o que? Semana passada? INFORMANTE 2: Metade de Passos é parente. PESQUISADORA: É, deve ser por isso, que ele conhece muita gente. Seu? Qual é sua família? Sei, eu acho que eu sei quem é, ele tem consultório na Maroca? 210 INFORMANTE 2: Não, acho que o consultório dele tá sendo na Igreja Matriz. PESQUISADORA: Abril? Não é Abril não, né? INFORMANTE 2: É PESQUISADORA: Ah, eu sei quem é. PESQUISADORA: Tem um tempinho bom que eu não vejo ele, toda vez que eu vinha no Olhos D’água, eu via 215 ele. INFORMANTE: Hoje ele vai vim aí, mas... PESQUISADORA: É medico também? INFORMANTE 2: Não, ele mexe com a saúde lá no, não sei como chama, batalhão, lá no, como chama. PESQUISADORA: Tendi. 220 INFORMANTE 2: Tem o E. que é o B. e o T., não sei se você conhece, uma dupla que canta lá em Passos, B. e T.? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 188 PESQUISADORA: Conhece? INFORMANTE 4: Não, de nome assim não, devo ter visto. INFORMANTE 2: B. e T. é [...] 225 INFORMANTE 2: Chama E., né? É filho do Z. O., só que. INFORMANTE: Você conhece os minino do Z. O.? INFORMANTE 4: Não. INFORMANTE 2: Lá no Glória você conhece aquela sorveteria lá na, no Cruzeiro, aquela sorveteria? INFORMANTE 4: Não, é dele? 230 INFORMANTE: É do meu sobrinho. INFORMANTE: É, O J., fio do Z. O. INFORMANTE 4: Eu fui numa lá esses dias, eu tava indo pra casa... ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 28 INFORMANTE: L.B. (Analfabeta, 75 anos, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: É L., né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: A senhora é irmã da... INFORMANTE: Da A. ali, não. PESQUISADORA: Não... 5 INFORMANTE: Somos vizinhas, conhecidas. PESQUISADORA: Posso deixar aqui perto da senhora? INFORMANTE: Pode. PESQUISADORA: Então eu vou sentar do lado da senhora que é melhor, pode ser? INFORMANTE: Pode, pode. 10 PESQUISADORA: Ah, a senhora não é irmã dela não? INFORMANTE: Não, só conhecida, o meu marido era primo do marido dela. PESQUISADORA: Ah, entendi, a senhora estava lá agora mesmo, não estava? INFORMANTE: Sim. PESQUISADORA: Ela era tecedera a senhora não era não? 15 INFORMANTE: Era, eu era. PESQUISADORA: A senhora pode me contar a história aqui da região que a senhora achar interessante ou não, pode me contar, pode ficar a vontade. INFORMANTE: Ah meu Deus, não tem nada interessante. PESQUISADORA: Ah, tem sim, conta como era a vida da senhora, a senhora morava na zona rural, aonde a 20 senhora trabalhava, era difícil? INFORMANTE: Trabalhei demais, a vida pra mim era difícil, criei 5 filhos, carregando água em lata, buscava no córgo no ombro pra cuzinhá pra turma, inchia 20, 25 marmita a semana intera pra leva pro serviço na roça. PESQUISADORA: Tudo na roça? INFORMANTE: Tudo na roça, lá que eu criei meus filho, depois naquela pobreza, aquela dificulidade, 25 compremo um sítio, lutemo pra pagá esse sítio com a maió dificulidade do mundo, daí poucos ano, meu marido morreu. PESQUISADORA: A senhora ficou viúva nova? INFORMANTE: Não, já num tava nova mais. PESQUISADORA: Não, mais foi. 30 INFORMANTE: Foi com 63 anos, eu tinha 63 anos, depois eu falei: “Ah, eu num vô fica na roça mais não.” Dividiu as terra cus fio, eu vô embora pro comércio... ficar sozinha lá, fica na roça fazeno o que, né? A gente já tá doente, o que tinha que ser feito a gente já feiz né? Gora vamo descansá, vê televisão, cuido da minha casinha, e mais. PESQUISADORA: E quantos filhos, a senhora tem cinco filhos? 35 INFORMANTE: Cinco filhos, tudo homem. PESQUISADORA: Óh, não teve uma moça? INFORMANTE: Não, adotei uma, criei ela, dispois casô, mora aqui perto de mim, sempre tá aqui comigo. PESQUISADORA: Ah, e como era a vida na roça, a senhora trabalhava? INFORMANTE: Trabalhava, nossa, hoje tem tudo arregaçado de coisa, sol que tomava demais, né? Aí gora tô 40 fazeno tratamento disso. PESQUISADORA: A senhora tomava muito sol? INFORMANTE: Muito sol. PESQUISADORA: Mas a senhora trabalhava na lavoura? INFORMANTE: Trabaiava, trabaiava no tempo de sortera trabaiei demais, depois que casei fui cria os fio, e 45 cozinha pra turma. PESQUISADORA: A turma era o que? Era ( ) INFORMANTE: Era pião que trabaiava na lavora, né? PESQUISADORA: Ah, entendi. INFORMANTE: A gente dava marmita, pagava o dia e dava marmita, armoço e janta no serviço, foi muito 50 difícil, teceno, fazia farinha, fazia porvilho, fazia sabão, até hoje tô com essa idade, 75 anos, e não sei quanto custa um quadro de sabão. PESQUISADORA: Mesmo? E como a senhora fazia? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 190 INFORMANTE: Nunca, fazia no tacho, torresmo do capado, matava, pegava os, fritava o torcinho, os torresmo, e fazia sabão, té hoje num sei. 55 PESQUISADORA: E como a senhora fazia, misturava na... INFORMANTE: Cozinhava aquilo com soda de quadra, fazia... PESQUISADORA: Soda de quadra? INFORMANTE: É, e fazia as bola de sabão, até hoje eu inda faço. PESQUISADORA: E café na roça, como a senhora fazia? Café assim, coava? 60 INFORMANTE: Era uai, panhava café a semana intera, meis intero, que nós tinha lavora de café urtimamente, né? Panhava café de segunda a sábado. PESQUISADORA: E aí? INFORMANTE: Limpava, torrava, muía. PESQUISADORA: Mas tinha coador, essas coisas? 65 INFORMANTE: Tinha, tem até hoje, eu num gosto de café de bote, esses café de venda, eu gosto de café comprando do lavorista, compra pra fazê, mais saboroso, né? Bem melhor. PESQUISADORA: Muito bom, então a senhora morou, quando a senhora era solteira a senhora trabalhou na zona rural, e depois também cozinhava, né? INFORMANTE: É, já num trabaiava em lavora mais, mas tinha os fio pra criá, e a lavoura pra trabaiá. 70 PESQUISADORA: Seus filhos moram tudo por aqui ou não? INFORMANTE: Não, 4 mora em Franca, e só um mora aonde é o sítio, dividiu lá, a parte que ficou pra ele, ele mora lá até hoje. PESQUISADORA: E ele cuida de lá? INFORMANTE: Cuida. 75 PESQUISADORA: A senhora tá com 75 anos, o marido da senhora morreu a senhora tinha 60, já faz um pouquinho de tempo então? INFORMANTE: 63 anos, eu e ele, nós éramos de uma idade só. PESQUISADORA: É? Ele, o que ele... INFORMANTE: Nós casemos com 18 anos. 80 PESQUISADORA: E como foi a história de namoro, como foi casar? INFORMANTE: Ishi, foi uma história difícil, meu pai não aceitava namorar, né? Achava que ele era muito novo, enjoado, queria que a gente casasse com aquele que ele gostasse, achasse que dava certo, e assim, não dá certo, a gente tem que casá com quem gosta, né? PESQUISADORA: Com certeza. 85 INFORMANTE: Ai ele não queria, aí eu falei: “Não, não.” Não tinha história, dispois quando foi esse o que eu casei, eu falei: “Eu vou casar com ele, vou e...” Aí ele deixou eu casar, já tinha 18 anos, né? Ele já concordou. E aí casei numa pobreza não tinha nada, foi tudo tirado dos braço pra pode comprá um sítio, a vida foi muito difícil. PESQUISADORA: Mas aí a senhora criou os filhos, graças a Deus. 90 INFORMANTE: Casou tudo, tudo bem casado, graças a Deus, são uns filhos bom, muito amoroso, meus filho é muito apegado comigo, ês tá longe, mas me liga toda semana duas, três vezes. PESQUISADORA: É? E quantos netos a senhora tem? INFORMANTE: Tenho 14 neto e 17 bisneto. PESQUISADORA: Que isso, isso tudo? Isso tudo de bisneto? 95 INFORMANTE: Já tenho 17 bisneto, neto e bisneto 17, não, tenho 17 bisneto, 14 neto. PESQUISADORA: 14 neto, vishi, então é uma família muito grande, dona L. INFORMANTE: E vai crescendo. PESQUISADORA: Gente que beleza. A senhora, quando a senhora começou a morar aqui, a senhora tinha, quanto tempo faz que a senhora mora aqui? 100 INFORMANTE: Faz 7 anos, fez dia 21. PESQUISADORA: Em Olhos D’água? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Antes a senhora morava onde? INFORMANTE: Eu morei em muitas fazenda por aqui, ne? Até nóis compra coisa é aqui perto, 3km. 105 PESQUISADORA: Tinha energia elétrica. INFORMANTE: Lá eu morei 35 anos. PESQUISADORA: Na onde? INFORMANTE: Aqui no sítio nosso mesmo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 191 PESQUISADORA: Que era da senhora mesmo, quando a senhora começou a morar já tinha energia elétrica, 110 como é que era a vida? INFORMANTE: Tinha não, tudo era lamparina de querosene, e aí depois, pois energia, que nem aqui em Olhos D’água não tinha energia, né? PESQUISADORA: Não? INFORMANTE: Era lamparina, depois conseguiu energia, tem uns 40 anos que pôs energia aqui. 115 PESQUISADORA: Mesmo? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Faz pouco tempo. INFORMANTE: Faz uns 40 anos. PESQUISADORA: E como vocês viviam antes, assim, era difícil? 120 INFORMANTE: Ah era, era difícil, não existia uma televisão, não tinha uma geladeira, não tinha um telefone, né? Tudo era difícil, nem rádio a gente possuía, quando apareceu o primeiro rádio, que nós compramos o primeiro rádio, eu já tinha mais de 23 anos quando nós compremos um primeiro, não havia isso, né? PESQUISADORA: E quando a senhora era pequena, a senhora morava aonde? A senhora lembra? INFORMANTE: Eu morei perto da fazenda da minha avó, perto de Delfinópolis, depois mudemo pra uma outra 125 fazenda aqui, morei lá muitos ano, depois que eu compremo, morei aqui dois anos, dispois compremo o sítio lá na roça, e fomos pra lá. PESQUISADORA: É? E a senhora lembra da infância da senhora, como que era, como era as coisas, tipo de fruta, tipo de comida que tinha? INFORMANTE: Era tudo coisa simples, né? Fruta era tudo a gente tinha, nas fazenda tinha, nas casa todo mundo 130 quase que tinha. PESQUISADORA: Era que tipo de fruta? As mesma que tem hoje, ou diferente? INFORMANTE: A mesma que tem hoje, hoje tem mais fruta diferente. PESQUISADORA: Mas antigamente tinha umas mais silvestres, umas coisas mais assim, não tinha não? INFORMANTE: Não, hoje tem mais fruta diferente, de primero o que era a verdade mesmo era banana, laranja, 135 mamão, essas assim, essas coisas mesmo. PESQUISADORA: Como é que era a infância da senhora lá na roça? INFORMANTE: Ah, só trabalhando, não tive infância, não tive juventude. PESQUISADORA: A senhora trabalhava muito? INFORMANTE: Trabaiava, desde a idade de 5 anos, comecei a fiar, ocê num sabe o que é fiar, certamente. 140 PESQUISADORA: Não, como que era? INFORMANTE: Pra fazê cuberta, fazia cuberta, com 9 anos eu já aprendi a tecer as cuberta, eu até hoje eu ainda tenho muita cuberta que eu fiz. PESQUISADORA: Mesmo? Depois eu quero ver as cobertas, e aí quem fazia era a senhora, a mãe da senhora? INFORMANTE: Era, minha avó, minha avó morreu om 99 anos, muita coisa aprendi a fazer com minha avó, 145 minha avó me ensinou a fazer muita coisa, uma baianona forte. PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE: Enjoada, Nossa Senhora. As pessoa de primero era custoso demais. PESQUISADORA: Por que? INFORMANTE: Ah, ês era muito sistemático, não é? Elas era assim, certa, tinha um certo sistema, se chegasse 150 uma pessoa que elas fosse conversa, a gente não podia nem ficar perto ouvindo assunto. PESQUISADORA: Porque? INFORMANTE: Uai... PESQUISADORA: Ah, por causa do sistema. INFORMANTE: É, não, ninguém tem nada que intrometer nos assuntos dos mais velhos. Então era assim. 155 PESQUISADORA: Mas o povo antigamente era muito mais educado, não era não? INFORMANTE: Era, era mais amoroso, era mais apegado aos pais, respeitava milhor, hoje num tem isso, filho hoje um fala senhor pra um pai, uma mãe, é você, e pronto, né? PESQUISADORA: Aham, e ainda não tem o hábito de, antigamente as pessoas se cumprimentavam de forma diferente, não é? 160 INFORMANTE: Era diferente, era tudo diferente. PESQUISADORA: É, como que eles fala mesmo? Tomava... INFORMANTE: Tomava bença, pegava na mão, beijava a mão, né? Agora hoje num disso mais não, muito custoso, os meus netos ainda é assim, porque os pais ensino, né? PESQUISADORA: Todo mundo toma benção? 165 INFORMANTE: Toma, todo mundo toma bença, e é vovó, todo mundo chama assim. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 192 PESQUISADORA: É? Isso é bom, né? Porque o povo tá perdendo essa de respeito, de tradição. INFORMANTE: Tá, não tá existindo mais, já basta que hoje não tá existindo assim, mais juventude boa, porque hoje só quer malandragem, mais nada. PESQUISADORA: Num é? Quem são aqueles dois lá? 170 INFORMANTE: Meus pais. PESQUISADORA: Como chama seu pai? INFORMANTE: F. F. S., minha mãe chamava A. R. B., aquele ali é meu marido, fazia três dias que nós tínhamos casados, quando tiremos aquela foto, foi na minha fazenda, fazia 3 dias. PESQUISADORA: Muito bonita as fotos. 175 INFORMANTE: Aques ali é neto do filho mais velho meu. PESQUISADORA: É de Franca? INFORMANTE: É. Aques dois mais altos são gêmeos. PESQUISADORA: Eu também sou gêmea, eu tenho um irmão. INFORMANTE: Aquela bem mais nova do que eles. 180 PESQUISADORA: O do meio? INFORMANTE: É, do meio. PESQUISADORA: Eu também sou gêmea, eu tenho um irmão gêmeo, é legal ser gêmeo. INFORMANTE: Eu tenho irmão, tenho tio gêmeo, tenho primo gêmeo, e tenho neto gêmeo, e bisneto gêmeo. PESQUISADORA: Entendi, e essa quadra aqui era lá na roça da senhora ou só o quadro? 185 INFORMANTE: Não, essa aí foi um sobrinho que fez ele, ele é pintor, né? Fez e me deu da minha roça. PESQUISADORA: A senhora lembra de alguma história, aqui em Olhos D’água tem uma história assim, que marca a cidade, que fala, aonde a senhora morava, na região? INFORMANTE: O que marca lá é as coisa que a gente feiz, possuiu, né? Deixar, mudar de lá, achei ruim. PESQUISADORA: A senhora não gostou? 190 INFORMANTE: Não, eu amava lá, mas dispois, ah, eu já fiquei sozinha, né? Que o meu caçula já tinha casado, ês que é dono que se vire, eu vou embora pro comércio. PESQUISADORA: Mas aí o comércio, a senhora veio trabalhar aqui ou não? Ah, o comércio que a senhora veio embora é pra cidade? INFORMANTE: Vim embora pra cá. 195 PESQUISADORA: Entendi. INFORMANTE: Discansar, que eu já trabaiei demais na vida, agora. PESQUISADORA: Agora a senhora tá na televisão, assiste a televisão, vai visitar um vizinho. INFORMANTE: É, não sou muito de sair de casa não. PESQUISADORA: Não 200 INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: A senhora prefere ficar em casa? INFORMANTE: Eu prefiro ficar em casa, gosto de ir na igreja, ir na igreja eu adoro. PESQUISADORA: É? A senhora vai a missa todo domingo? INFORMANTE: Vou, eu não perco missa, tendo jeito de eu ir rezar eu vou, mas do contrário, não sou de tá 205 passeando não festa, gostei muito de festa no tempo do meu marido, depois que ele morreu, acabou também. PESQUISADORA: A senhora não foi mais? INFORMANTE: Não, não gosto mais não. PESQUISADORA: Ah, mas é bom, uma festa de vez em quando faz, com esse tanto de neto e bisneto que a senhora tem, a senhora tem muita festa pra ir. 210 INFORMANTE: Pois eu num vô. PESQUISADORA: A senhora não vai não? INFORMANTE: Não vou festa nenhuma. PESQUISADORA: Eu vou parar de gravar aqui, já tá ótimo, a senhora já me ajudou bastante. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 29 INFORMANTE: E.T.R (Alfabetizado, 72 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: C.T.R. (Alfabetizada, 71 anos, sexo feminino) INFORMANTE 3: T.M. (Apenas participa) INFORMANTE 4: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 29 INFORMANTE: E.T.R (Alfabetizado, 72 anos, sexo masculino) INFORMANTE 2: C.T.R. (Alfabetizada, 71 anos, sexo feminino) INFORMANTE 3: T.M. (Apenas participa) INFORMANTE 4: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: Tudo bem? Essa é a esposa do senhor? INFORMANTE: É, H. PESQUISADORA: Prazer, G., tudo bem? INFORMANTE: Ela era minha esposa, agora não é mais. PESQUISADORA: Era? Porque? Já vi que o senhor é engraçado. 5 INFORMANTE 2: Esse aí é mais que esposo. PESQUISADORA: É? Como que a senhora chama? INFORMANTE: G.. PESQUISADORA: G., meu nome é G. INFORMANTE: Eu tenho... 10 PESQUISADORA: Bati aqui na porta ele virou assim pra mim [...] INFORMANTE 2: Tenho só 9 filhos, 18 netos, e 4 bisnetos, e eles... PESQUISADORA: Aqui a foto, olha. INFORMANTE 2: Ele é tão safado que já tinha três filhas, e ele tinha 18 anos, é a de 18, eu fui votar a primeira vez, eu tirei aquele retratinho, que eu tinha medo, eu tinha... 15 PESQUISADORA: É esse aqui? INFORMANTE: Eu tinha 27, é esse. PESQUISADORA: E a senhora já tinha três filhos. INFORMANTE 2: Já tinha três filhos já, tem demais, essa aqui é minha caçula, hoje ela mora em Fortaleza. PESQUISADORA: Fortaleza de Minas ou Ceará? 20 INFORMANTE: Não... INFORMANTE 2: Ceará. Ele vai... INFORMANTE 4: O senhor mexe com roça aqui, mexe na roça? INFORMANTE 2: Porque tem 9 genro. PESQUISADORA: Esse é meu pai. 25 INFORMANTE 2: Então é um homem e... PESQUISADORA: O senhor tem 8 filhos? INFORMANTE: Tudo filha bonita, igual a que tá aqui. PESQUISADORA: Obrigada, Senhor M., eu acho que o senhor tem razão, nós somos de Passos. INFORMANTE: Tenho 18 netos já. 30 PESQUISADORA: 18? Não, meu pai só tem três. INFORMANTE: Bisneto, e um casal de dois neto meu está esperando um casalzinho. PESQUISADORA: É? Quantos anos o senhor tem? INFORMANTE: 28, é uai. PESQUISADORA: 27. 35 INFORMANTE: Eu não sei escrever, eu ponho o número trocado. PESQUISADORA: Ah, faz sentido. INFORMANTE 2: É, o meu não tem jeito de por, o 67. PESQUISADORA: É, o da senhora não dá pra trocar não, o dele dá. INFORMANTE: Vai zangar. 40 PESQUISADORA: O dela se ela trocar pior. INFORMANTE 2: Então borda pra desestressar, né? Porque convive com ele, nóis convive, ele tava puxandovaca aqui esses dias, eu falei: “Não, uai, calma, ocê tá muito brabo.” Nós estamos fazendo caridade dando gado pros pobres, e agora você chega aqui desse jeito. PESQUISADORA: O senhor é o pai dele? O pai dele é daqui. 45 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Pai do T. INFORMANTE: É conhecido aqui, uai, que isso. PESQUISADORA: Ah é? É conhecido dele? INFORMANTE 2: Ocê veio aqui? 50 INFORMANTE 3: Você sabe quem ele é, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 195 INFORMANTE: Eu sei, mas esqueci do nome. INFORMANTE 3: É T. PESQUISADORA: Filho do Z. B. INFORMANTE: Você é filho do Z. B.? 55 INFORMANTE 3: Sou, uai. INFORMANTE: O pai dele é meu primo primeiro, uai, primo segundo. PESQUISADORA: O T. tá me ajudando aqui na região. INFORMANTE: O T. é primo terceiro meu, uai. PESQUISADORA: Tá vendo, 48 anos. 60 PESQUISADORA: O senhor M., eu vim aqui que eu tô fazendo uma pesquisa sobre assim, a história da região e tudo mais, e aí me disseram que o senhor, inclusive a casa do senhor é antiga, é a primeira, alguma coisa assim. INFORMANTE: É, essa aqui não, porque eu desmanchei a antiga e fiz esta, mas eu fiz em 75, não, é, em 75, até de [...] de assoalhos, estava debaixo da parede, foi apodrecendo, né? Aí bambeou, né? Aí foi apodrecendo eu desmanchei e fiz de novo. 65 PESQUISADORA: Ah, entendi, e aqui tem um curral do lado, não tem? INFORMANTE: Tem, é daqui, né? PESQUISADORA: A Fazenda daqui. INFORMANTE 4: O senhor tem terra, vai daqui pra baixo? INFORMANTE: É, até lá no rio corgo lá em baixo, até nos eucalipto lá em cima. 70 INFORMANTE 4: Mas então tá bão pro senhor, uai, é bão quando a cidade vem pra cima assim que logo vende bem, né? É uai. INFORMANTE 2: Ele começa a lotear ali, uai. INFORMANTE: Tô fazendo loteamento aqui. INFORMANTE 2: É, de dois hectares, deu 62 terrenos, só que tá assim, pega assinatura de um, tem que pegar de 75 outro. INFORMANTE 4: É caro, né? Esse trem é, o Brasil pra isso é muito burocrático, né? INFORMANTE 2: Nossa, tem muita coisinha, você vai dar uma coisinha pro outro, precisa de mostrar o que vai dar. INFORMANTE 4: É um dos grandes problemas brasileiro, quem fiscaliza não entende do ramo, todo fiscal 80 brasileiro, de maneira geral, não entende mesmo. INFORMANTE: Só entende de pegar da gente pra eles, né? INFORMANTE 4: Só, disso eles entendem bem. INFORMANTE 2: Como [...] né? Primeiro... INFORMANTE: Você foi incentivar o papagaio, aí óh, aguenta o papagaio, né? 85 INFORMANTE 4: É claro. INFORMANTE 2: O ficha limpa é importante. PESQUISADORA: Ele falou que eu tenho uma corrente igual papagaio. INFORMANTE 4: Eles fizeram aquela lei de ficha limpa, eles é tão unido que eles faz um rolo que quase eles num deixa o cara ser ficha limpa. 90 INFORMANTE: Meu avô que deixou eu fazer o patrimônio. PESQUISADORA: Ah é? Como foi isso, o senhor pode contar essa história que eu quero saber a história. INFORMANTE: Sabe a rua principal? PESQUISADORA: Sim. INFORMANTE: Aquela de cima lá pra baixo, meu avô que deu, meu tio, filho dele que fez essa casa aqui no 95 terreno do meu avô, e aí depois meu avô deu esse pedaço, apartô, cercô, quem quis é faze casa aí, pode fazê, é dado esse terreno, e aí o povo começou a fazê casa, fazia, cercava, num precisava comprar, tanto que tem muitas casa aqui que num tem escritura ainda. PESQUISADORA: Mesmo? INFORMANTE: É, uai, não tem escritura, a pessoa tem direito de posse por causa do tempo, né? Da casa. 100 PESQUISADORA: E aqui quando mais ou menos, o senhor sabe a data de quando o seu avô doou? INFORMANTE: Ah lá pro lado de 1899, 1900 e pouquinho é essa época aí, deve ter mais... INFORMANTE 2: Quando você era criança que ele morreu, ele já tinha doado aqui? INFORMANTE: Já, eu tinha 8 anos. PESQUISADORA: O senhor nasceu aqui? 105 INFORMANTE: Na fazenda do meu pai, aqui na frente, vocês vieram de onde? De Passos? PESQUISADORA: Nós viemos de Delfinópolis. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 196 INFORMANTE: Ah, eu sei, Delfinópolis, meu sobrinho ficou, filho do meu irmão já morou lá, 3km, eu morava lá, casei vim pra cá, aqui é do meu pai, né? Herança, foi comprado dos sobrinhos, e a gente deu tudo junto. E morava na casa do meu pai, 75 fez essa casa, eu casei em 68, casei e vim morar aqui em Olhos D’água, eu morei 110 ali do outro lado, tinha uma casa dele lá, morei quase um ano, tinha uma casa alugada aqui, meu irmão morava na casa dele, aí meu irmão foi embora pra Passos, eu vim pra cá. PESQUISADORA: O senhor tem família lá em Passos. INFORMANTE 2: Essa área aqui debaixo a igreja, foi o avô dele que deu, e aquela parte de cima foi dona Braga que chamou eles. 115 INFORMANTE: C. J. INFORMANTE 2: É, depois uma parte ali do senhor C. que comprou aquele pedaço, e outro pedaço que hoje é o campo de futebol, então a igreja comprou e veio com o campo de futebol, porque o campo de futebol era o lugar da igreja, então teve que tirar o campo de lá, aí eu lembro que a igreja pagou terraplanagem, eu lembro que eu fazia parte da comissão na época, então a parte de lá foi a igreja, ficou muito bom, e hoje é o pai do C. que ficou 120 ali na praça, e essa parte de baixo. Aqui tinha o cemitério. PESQUISADORA: Então aqui era a igreja, tinha a igreja? INFORMANTE: Tinha uma igreja nessa rua aqui. PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE: A igreja e o cemitério junto, perto. Minha mãe tá enterrada aí no campo, naquela casa de cima 125 lá do cemitério, né? PESQUISADORA: Mas ali não tem cemitério ali mais não? INFORMANTE: Não, não, tem as casas. PESQUISADORA: Em cima do cemitério? INFORMANTE: Em cima do cemitério. 130 PESQUISADORA: Não tem história de assombração não? INFORMANTE: A noite que as casas balançam lá, pra ajudar a dar medo, as mulher não posa sozinha de jeito nenhum nas casa aqui. PESQUISADORA: Mesmo? INFORMANTE: É, uai, tem medo. 135 PESQUISADORA: Mas nunca apareceu nada não, assim, o povo. INFORMANTE: Tem uma casa ali que deu um buraco na caixinha, um buraco no chão da casa ali, que elas trouxe uns 10, 12 carrinho de mão pra encher esse buraco, deve ser um, cobra que bateu, né? PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Eles estava achando osso de defunto ali, uai. 140 PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Pra dá medo. INFORMANTE 2: E toda casa tinha uma cisterna, e tem mais de uma cisterna... INFORMANTE: Toda cisterna tinha que dividir com o cemitério, a mulher deixava a água posar na vasilha, no outro dia tava aquela manteiguinha por cima, um dia ela me mostrou, você entrava, era uma trava, né? Saía a 145 água. PESQUISADORA: Não entendi, fazia uma o que? Uma gordura, não entendi... INFORMANTE: É, gordura por cima, deve ser de filtrar água, chuva assim, né? INFORMANTE 4: Hoje a água aqui é encanada? INFORMANTE 2: É, vem direto da Serra. 150 INFORMANTE: De primero era cova, né? Sete palmos de fundura, né? PESQUISADORA: Ah, de enterrar pessoa. INFORMANTE: E depois jogava terra em cima, era aquele monte de defunto. PESQUISADORA: E as pessoas antigamente também enterravam diferente, né? Já tinha aquela... INFORMANTE: Era na terra, né? 155 PESQUISADORA: Não tinha o caixão também não? INFORMANTE: Tinha o caxão, mas punha dentro do buraco. PESQUISADORA: Era na terra. INFORMANTE: Um buracão assim, e jogava terra em cima. INFORMANTE 2: Tinha um senhor que morava ali, ele fazia os caxãozinho, então era muito mal feitinho assim, 160 feito de ripa com pano roxo, não vou lembrar, se você fosse solteira era um branco, se fosse uma pessoa já casada assim, tudo, então colocava um pano roxo, ele tinha ali o lugarzinho dele fazer ao caixões, era aonde ele morava ali, então... INFORMANTE: E depois jogava terra em cima, um monte de terra, defunto. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 197 INFORMANTE 4: Nossa mãe, eu sempre falo, né? Quando eu morrer não precisa demorá pra me enterra não, 165 mas não tampa direito não, que as veiz eu vorto de novo, e me dá uma afobação danada. INFORMANTE 2: Uns travesseirinho, pra custureira. INFORMANTE: Isso aí vai por na minha nuca. INFORMANTE 2: Os travissero vai fica muito feio... INFORMANTE: A pessoa fica na urna, encosta [...] o nariz fica assim pra cima, não fica? 170 PESQUISADORA: Fica. INFORMANTE: Fica feio demais, então vô manda por travesseirinho pra fica normal. PESQUISADORA: O senhor tá certo, né? Tem que preocupa. INFORMANTE: Vou ser enterrado lá em Passos, né? Vou mandar por vidro do lado assim, pro povo passar e ver. 175 PESQUISADORA: Procede senhor M., procede. INFORMANTE: Lá em Passos já. INFORMANTE 2: O meu é aqui. INFORMANTE: Uai, e o, eu paguei 47 cartas do Bom Passos, se eu pagar mais 3 eu não vou pagar mais, eu tenho o direito e não pago mais, se eu ocupar o túmulo, aí já tem que ir pagando de novo, não é? 180 INFORMANTE 4: Deus me livre. INFORMANTE: Já comprei da irmã cunhado sobrinho, pra mim mesmo. INFORMANTE 4: É bom, uai. PESQUISADORA: Graças a Deus. INFORMANTE 2: Lá em Passos paga menos pra médico, menos pra exame, tem supermercado, tem farmácia, 185 tem tudo. PESQUISADORA: É, meu pai paga esse plano, o senhor paga, não paga? INFORMANTE 4: Tem plano de saúde, uma porrada de, e eu já falei pro cara de São Vicente, aquele Bom Passos falta muito pouco pra ser um baita plano. INFORMANTE 2: Eu também acho. 190 INFORMANTE 4: Mas infelizmente lá em Passos, eu tenho a memória meia curta, o São Vicente tem uma área de fazer um hospital. PESQUISADORA: Diz que a Unimed tá fazendo, vai fazer um hospital em Passos. INFORMANTE 4: É, na saída do aeroporto lá, você sabe aonde é o asilo, o senhor sabe aonde é, né? INFORMANTE: Sei aonde é. 195 INFORMANTE 4: Ali tudo é deles, eles tem uma fazenda ali, e melhor pagar mais caro nesse plano deles, vira um baita plano de saúde. INFORMANTE 2: O Padre A. morou três anos, tadinho, no final da vida dele, depois ele construiu uma casa, no tempo daquele Fernando Color, e tomou dinheiro dele, do Padre A., e não sei como eles conseguiram resgatar esse dinheiro dele, sabe? E aí ele construiu uma casinha lá na vila e deixou pra essas pessoas carentes, e ele ficou 200 morando lá, eu visitei lá no asilo, uma casinha boa. INFORMANTE 4: Gozado, pra isso o asilo faz um serviço muito bom de asilo lá em Passos. INFORMANTE 2: Olha, eu posso falar, eu faço parte do asilo do, eu sou faço as arvores do padre C., eu faço parte do São Vicente, eu faço parte. PESQUISADORA: Você é Vicentina que eles falam? 205 INFORMANTE: É, então eu faço as árvores, é muito organizado, então eu passo uma caixinha, às vezes assim, olha, a gente gasta pouquinho naquele dia do encontro, mas nós já pagamos assim, exames de R$600,00, já pagamos muita coisa, sabe? Parece que faz um milagre. INFORMANTE 4: Não, ué, mas é a união, a união faz a força. INFORMANTE: Você tem desconto na carteirinha do... 210 INFORMANTE 4: Tenho bastante, eu até inclusive... INFORMANTE: Médico, consulta, né? Exames. PESQUISADORA: Tem, tem. INFORMANTE: Tem. INFORMANTE 4: Eu coloquei minha mãe, ela faleceu faz um ano, olha, beleza, não tem despesa nenhuma, vale 215 a pena, infelizmente vale a pena. INFORMANTE: No meu, as vezes não é do meu plano, né? Tenho vários planos, é? INFORMANTE 4: Uai, o meu plano eu pago mensal um plano, por mês. INFORMANTE: Porque? É... INFORMANTE 2: São vários grupos, por exemplo, forma um grupo de 10, de 10, de 10, as vezes ela não faz 220 parte. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 198 PESQUISADORA: M. J. R. INFORMANTE 4: O meu plano não é desse não, não é desse da cartinha não, eu tenho um primo que tem o da carta. INFORMANTE: Ah... 225 INFORMANTE 4: O meu não é da carta não, o meu é, tem que pagar direto mesmo, não vence não, da moda do caso. INFORMANTE: 50 carta vence. PESQUISADORA: Eu tô fazendo uma pesquisa de doutorado. INFORMANTE 2: Doutorado. 230 PESQUISADORA: É, e aí eu fiz Passos primeiro, e agora eu expandi a área pra Canastra, pra essa região. Aonde que ela tá? INFORMANTE 2: Ela tá por aí, ah, muito bom. PESQUISADORA: Eu faço em Belo Horizonte, em BH, mas aí eu volto só uma vez por semana, é porque o doutorado só exige uma vez na semana, mas eu estudei em Passos, eu fiz Letras aqui em Passos, não, eu fiz 235 Letras, eu sou professora de português. INFORMANTE 2: Minha filha ela fez Ciências Contábeis. PESQUISADORA: Em Passos... ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 30 INFORMANTE: V.R. (Analfabeto, 74 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Janeiro/2014 PESQUISADORA: Agora o senhor pode contar todos os causos, lendas, o que o senhor achar da cidade, aqui do arraial, só não deixa eu esquecer seu nome, pode falar senhor V. INFORMANTE: Aqui tinha uns cara que virava lobisomem, entendeu? É verdade, essas história verdadeira, você entendeu? Porque lobisomem é um bicho que ninguém conhece aqui, nem eu nunca vi aqui. PESQUISADORA: Nem eu. 5 INFORMANTE: Aí aqui tinha um tal de L. C., ele virava lobisomem na época da quaresma. PESQUISADORA: Nossa, essa, nós estamos na quaresma, não estamos? INFORMANTE: Estamos. PESQUISADORA: Era bem na época. INFORMANTE: E aí ês falava isso, e parecia sê um lobisome memo, assim, pessoalmente, sabe? Era esquisito o 10 corpo dele, sabe? Ele andava só de capa, aquelas capa de antiga, você conhece aquilo? Aquelas de lã, é capa de chuva de cavalero andar, cê entendeu? Cavalero andava cum aquilo, e aí ele só andava com aquilo, o sol podia tá rachando que ele tava andando com aquilo, ele andava o dia inteirinho aqui no arraial, subia, descia, pressa que era bão ele não tinha, ele custava, andava pra lá, andava pra cá, o dia inteirim, e tinha outro também que virava, esse morava na roça, chamava V. B., meu xará, esse na época da quaresma, de primero ês usava rezar pra arma, 15 já ouviu falar isso? PESQUISADORA: Já, eles tinha aquelas presunção que batia, como que chamava aquele negócio, matraca, não sei. INFORMANTE: É, matraca, era berra boi, né? PESQUISADORA: Berra boi, o que era o berra boi? 20 INFORMANTE: Berra boi era um, eles fazia um negócio que matava boi, e marrava uma corda e batia aquilo no tanque, e ia fazendo “uuuuuh, uuuh.” PESQUISADORA: Isso era na quaresma também? INFORMANTE: Na quaresma, semana santa, sexta feira da paixão, aí eles reuniu na fazenda ali pra ir rezar pras alma, aí na hora de saí lá, vamo, vamo, aí ele foi ficano pra trais, ês falo: “Vamos V. com nóis.” Ele falo: “Não 25 vô não.” Fico quieto, aí saiu de uma fazenda pra ir pra outra lá, conheço lá direitinho, e aí tinha um corguinho assim, tem muita água de gabiroba, sabe o que é gabiroba? PESQUISADORA: É uma frutinha que dá no meio do mato, né? INFORMANTE: Uma frutinha, é, mas só que lá daquelas gabiroba de árvore, e aí chegou lá, chegou no corguinho lá, aí o lobisomem lá, sabe? E aí eles corre daqui, um sobe na árvore, outro sobre na portera, um no 30 coicero da portera, né? PESQUISADORA: No que da portera? INFORMANTE: É coicero que eles fala, é onde a portera é colocada. PESQUISADORA: Ah tá, eu não sabia. INFORMANTE: E aí es falaro uns pros outros: “Você aí viu? É o V. B., ele não quis vim com nóis pra faze isso, 35 né?” Aí gritaro com ele, largô as pedra daquilo, e berô o corgo assim, pra, e tem uma lenda aqui assim, né? Outra coisa que aparece aqui, não sei se já viu falar isso, ou já viu por lá, é uma luz que aparece. PESQUISADORA: Luz aqui no céu? INFORMANTE: É, na região, não, não é no céu, ela vem baixo assim, entendeu? PESQUISADORA: Essa eu nunca ouvi falar não. 40 INFORMANTE: Ela vem tipo dum farol de carro, sabe? E quando ela passa perto docê, ou ela levanta ou ela pende pra um lado ou pra outro, aí... PESQUISADORA: O senhor já viu essa luz, não? INFORMANTE: Meu irmão já, sabe? Aí ela faz aquele barulhão... PESQUISADORA: Ela não passa não? Só faz o barulho? 45 INFORMANTE: Faz um barulhão. Eles fala que aquilo é até, como é que fala aquilo, é, disco voador, né? Meu irmão viu ela, disse que é uma bucha assim, sabe? Porque é só a noite que aparece, não é? PESQUISADORA: E ele viu durante o dia? INFORMANTE: Ele viu a noite, ele vinha buscando, ele vinha buscando uma vaca lá do lado de lá da portaria pra cá, e apontou aquela luz, aquele farol, e ele assustou com o farol, falou: “Lá vem um carro, né?” Só que lá 50 vem vindo. PESQUISADORA: Ele achou que vinha um carro. INFORMANTE: É, achou que vinha um carro, vinha por trás dele, num vinha de frente não, aí quando numa baixada assim, entre duas cruz, tem dois cruzeiro no chapadão, aí quando chegou uma certa cruz assim, aquele ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 200 trem veio aproximando dele, aí ele parou o cavalo, tiro a vaca da estrada como se fosse pra passar um carro, 55 entendeu? PESQUISADORA: Ele ainda deu espaço pra... INFORMANTE: É, ainda deu espaço pra o trem passar, e tirou também o cavalo que ele tava num burro, um burro até cego de um olho, tá? E aquele trem, quando chegou no rumo dele, fez só assim: “Rum.” Socou pro meio do mato assim, sabe? Campo abaixo assim, lugar que nuca teve estrada, sabe? 60 PESQUISADORA: E é só a luz, não tem mais nada? INFORMANTE: Só a luz e o cabelo dele arrepiou memo, sabe? Repiou memo, ele chegou aqui, a ponto de... PESQUISADORA: E é na quaresma também ou não? INFORMANTE: Não, essa aí não é quaresma. PESQUISADORA: Essa aparece sempre. 65 INFORMANTE: Aparece sempre, de vez em quando o povo vê isso aí. PESQUISADORA: O arraial aqui tem quantos anos? INFORMANTE: Ih, isso aqui é véio, eu sô véio, mais isso aqui é mais, entendeu? PESQUISADORA: Antigamente como que eles fazia pra enterra as pessoas aqui... INFORMANTE: Não, tinha dois cemitério, sabe? Mas aí eles trazia aqui no banguê, sabe o que é banguê? Não? 70 Banguê é tipo de uma escada de pau, aí por exemplo, eles cortava dois varão cumprido, e prendia ele, assim, aí punha o caixão lá em cima, marrava aqui, e saía carregano com a pessoa. PESQUISADORA: Ah, entendi. INFORMANTE: Entendeu? E aí trazia desse jeito aqui, eu já trouxe carregado desse jeito. PESQUISADORA: No banguê? 75 INFORMANTE: No banguê. Então era desse jeito, morreu um cara aqui é, desse povo rico aí dos cantor, sabe? Aí eles trazia no banguê também, e aí juntava aquele monte de gente, que era longe, né? O cadáver fica pesado pra carregar, né? E aí veio trazeno aqui, aí chegô num determinado lugar, cansô aquele povo que tava carregano 4 cara, e 4 burro preto, pediu pra carregá o corpo, e aí dero, tava todo mundo cansado, e entrego pra eles, né? E aqueles trem foi só distanciando dos caras, foi distanciando, eles correno, correno, e eles não arançou o cara. 80 PESQUISADORA: Levaram o corpo embora? INFORMANTE: É, e aí ficou só o caixão, e aí eles pararam, eu acho que... PESQUISADORA: O banguê na verdade carregava o corpo, o caixão não ficava junto não? INFORMANTE: Não, o caixão em cima do banguê, ué. PESQUISADORA: Ah, levava o corpo dentro do caixão, entendi, pensei que era só a pessoa. 85 INFORMANTE: Não, o caixão em cima do banguê, aí foi oiá no caixão não tinha ninguém, entendeu? E pra enterrar aquele caixão. PESQUISADORA: Enterrar caixão sem ninguém? INFORMANTE: Cortô um tubo de bananeira e pois dentro pra enterrar como se fosse o corpo dele, o corpo desapareceu. 90 PESQUISADORA: Gente, que coisa mais esquisita, e esse. INFORMANTE: Desse jeito, acredita? PESQUISADORA: Acredito. INFORMANTE: Como diz o outro, acredite se quisé, né? PESQUISADORA: Não, mas tem muita história aqui. Aqui tem a lenda da zagaia, não tem? 95 INFORMANTE: A zagaia era um porto dos boiadero, andarilho, viajante, todo mundo dormia ali naquele lugar. PESQUISADORA: Era uma fazenda? INFORMANTE: Era reforçado, era fazenda, dormia gente demais lá. PESQUISADORA: Como chamava o posto? INFORMANTE: Era um posto forçado, porque não tinha outro lugar antes dali, eles tinham que andar outra 100 distância, talvez não tinha nem jeito. PESQUISADORA: Então era o lugar que eles que tinham... INFORMANTE: Era o lugar que eles tinham pra dormir era ali, né? E aí eles, a pessoa que posava lá, eles matava. PESQUISADORA: Eles matava porque? 105 INFORMANTE: Pra rouba, a zagaia, você conhece essa zagaia, já ouviu falar como que é? PESQUISADORA: Mais ou menos. INFORMANTE: A zagaia era uma armadilha que tinha, uma, sabe? Matou os outros, tipo de uma arma. PESQUISADORA: Era uma espécie de... INFORMANTE: Era umas roda com umas lança, entendeu? 110 PESQUISADORA: Entendi. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 201 INFORMANTE: Tá lá no museu de Belo Horizonte, essa zagaia daqui. PESQUISADORA: Dessa fazenda? INFORMANTE: É, dessa fazenda. PESQUISADORA: O senhor dormiu lá nessa fazenda? 115 INFORMANTE: Já dormi muitas veiz. E aí chegava a noite, o cara ia deitá, já tinha lugá certo deles por a pessoa pra mata ali, né? A cama assim, e tal, e aí num determinado dia chegô um boiadeiro, e esse povo lá, era um casal e tinha uma nega que morava com eles, entendeu? E essa nega usava fumo pra cachimbo, clareá dente, e tacô com o fumo nela, e ela tava sem, e tava doida por conta de fumo, tava sem, e aí chegou um boiadeiro pra posar, e aí ela arrumou um jeitinho lá, e perguntou se ele tinha fumo, e aí ele falou que tinha, ele pegou e deu um 120 pedaço de fumo pra ela, aí ela ficou tão satisfeita com aquilo, que contou a ele tudo que ia acontecer com ele naquela noite, contou os esquema tudo, deve que eles intreteu pra lá, e ela contou, aí ele falou: “Ah tá, então pode fica sossegada.” Quando chegou de noite, aí chegou a noite certamente eles foi, a pessoa primeiro não tinha, veio, não tinha banheiro, não tinha nada, tomava banho era na bacia ou numa gamela de pau, sabe né? PESQUISADORA: A gamela de pau eu não sabia que usava não, a bacia até... 125 INFORMANTE: Quando muito fazia, lavava as mão, os pé e a cara, tá, beleza, aí lavô as mão, os pé e a cara, e jantô, né? Aí deve que bateu um papo lá, e foi deitá, o home já tava sabeno da história em, e ele foi deitá, e ele olhou pra cima, e viu aquela armadilha lá, né? A zagaia, e aí ele mexeu na cama como se ele tivesse deitano... PESQUISADORA: Era colchão de palha? INFORMANTE: Colchão de palha, como eu ia falar, usava o colchão de palha, aquele barulhão, né? Eles achou 130 que ele deitou e ele pegou e ficou em pé entre a cama e a parede, e tá lá, aí quando ele tá lá assim. PESQUISADORA: Lá do quarto deles, eles desarmava a armadilha. INFORMANTE: Eles escutava a pessoa deitano, e desarmava a armadilha, a hora que eles quisesse deitar no quarto deles, e aí sorto a armadilha em riba dele, prá, aí eles foi lá pra rouba o home, né? Aí o home tava, meteu o fumo no casal, matou, e ele pegou e levou aquela nega embora, tá andando com ela até hoje, tá viajando ainda. 135 PESQUISADORA: Agora você me deixou confusa, senhor V. INFORMANTE: Aí acabou a matança da zagaia. PESQUISADORA: Mas lá ficou a sandalinha deles ou não, essa história... INFORMANTE: Oi? PESQUISADORA: A fazenda hoje é, existe? 140 INFORMANTE: Existe, tá lá até hoje, não, aí... PESQUISADORA: Depois disso aí morou muita gente lá, uai. INFORMANTE: Não, não morou muita gente lá, morou o povo do Z., conhece? PESQUISADORA: Mas lá ficava tranquilo ou tinha, sei lá, fantasma alguma coisa assim? INFORMANTE: Não, diz que ficou. 145 PESQUISADORA: É, porque normalmente uma história trágica, né? INFORMANTE: Só que eu dormi lá muitas vezes lá perto, posar, sabe? E só que já era outro povo, outro tipo de gente. PESQUISADORA: Não tinha nada a ver, essa história aí é antiga? INFORMANTE: Essa é antiga. 150 PESQUISADORA: A senhora tá falando que ele tá viajando até hoje, mas, é verdade, mas por um momento eu fiquei confusa, será que isso não é antigo? Ele tá vivo até hoje. INFORMANTE: É só uma brincadeira com você. PESQUISADORA: Juro que o senhor quase me enganou agora, só no 146 que eu não acreditei, né? INFORMANTE: Ah, nos anos, né? Mas é, aí acabou que mudou outro povo pra lá, é aonde assim, quando nós 155 dormia lá já era esse povo, só que era um povo decente. PESQUISADORA: Entendi, não era igual eles. INFORMANTE: Não era bandido daquele jeito não. PESQUISADORA: Mas que ideia, né? Fazer tocaia pra... INFORMANTE: Então aí esse povo lá que ficou lá depois é, a mulher aqui da região aqui, o homem também era, 160 e aí eles tinham até muito filho, sabe? Uma moçaiada, tinha só dois rapaz, o resto tudo mulherzada, e nois dormiu lá demais, e acabou aquele negócio da zagaia, mas o lugar ficou meio assombrado. PESQUISADORA: É, porque eu já escutei uma história assim, da zagaia. INFORMANTE: Porque quando eles estava fazendo a cerca do parque eles acamparam lá nessa casa, só que essa casa já era outra casa, entendeu? 165 PESQUISADORA: Não era a mesma construção. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 202 INFORMANTE: Não era a mesma casa, pra baixo tinha os barrancados, sabe? Portanto a menina que morava lá, ela mora em Sacramento hoje, eles achava muito lá é, relógio daqueles relógio de gonda sanfonada que eles falava, sabe qual? PESQUISADORA: Do que? 170 INFORMANTE: Gonda, é a pulseira, entendeu? PESQUISADORA: Não, nunca ouvi falar. INFORMANTE: Sanfonada, você puxa ela estica, você põe assim, ela abria e fechava, você conhece dela, né? E aí diz que achava demais aquilo, relógio, pulseira de relógio, roubavam as coisas, roubava era dinheiro mesmo, entendeu? 175 PESQUISADORA: As pessoas passavam e iam vender as coisas, e aí quando elas passavam com dinheiro? INFORMANTE: É, isso, boiadeiro ia embora, levava o gado, vendia, e pegava o dinheiro, e vinha embora com o dinheiro, e aí na vorta que ês sabia que ês tava com dinheiro, é que ês matava o caboquinho. PESQUISADORA: Como que as pessoas faziam transporte de carga nessa época? INFORMANTE: Nos cargueiro, nos burro, entendeu? Então aí eles pegava e jogava o povo lá, os urubu comia, 180 porco comia, você entendeu? Era desse jeito, então tinha o lugar deles jogar aquilo lá nos barrancados, então os meninos falava que achava aquilo lá direto aqueles trem, eles não queriam não era joias não, queria era a grana mesmo. PESQUISADORA: E aí eles jogavam as joias? INFORMANTE: Jogava tudo mesmo, matava a pessoa, pegava o dinheiro, e jogava lá. 185 PESQUISADORA: Assim que eu sei da lenda, entendeu? INFORMANTE: É porque ela é famosa ali, não é? É, e, portanto lá, tem essa tapera até hoje assim, a tapera dos outros moradores, entendeu? Que era o Z. M. e a dona N. PESQUISADORA: Que era aonde o senhor ficava, não é? INFORMANTE: Aonde nós dormia lá, sabe? Era um povo descente, um povo bão, sabe? 190 PESQUISADORA: Entendi. INFORMANTE: E aí acabou a mortandade da Zagaia, mas ficou meio assombrado, que quando eles foram fazer a cerca do parque eu... eu ia falar pra você, o povo acampou lá, e tinha um rapaz daqui que era um senhor já velho, que era um cozinheiro da turma, a dizer que não tinha nem jeito de fazer comida. PESQUISADORA: Por que? 195 INFORMANTE: Porque aparecia trem, jogava trem, jogava trem fora, e tornava, virava aquela baderna, portanto eles até mudaram de acampamento, sei lá, entendeu? E o pessoal estava acampado. PESQUISADORA: Assombramento? INFORMANTE: Assombrado, que tanto de gente que eles matou lá. E aí acabou essa mortandade. PESQUISADORA: E a fazenda está dentro do parque? 200 INFORMANTE: Está dentro do parque. PESQUISADORA: O parque tem quantos quilômetros, o senhor V.? INFORMANTE: De cumprimento assim, extensão? PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Olha, o parque é 72 mil hectares desapropriados. 205 PESQUISADORA: Mas não tá tudo... INFORMANTE: Tá tudo... PESQUISADORA: Tá tudo, 72 tá entendi, eu pensei que não. INFORMANTE: Eu mandei demarcar esse parque, entendeu? PESQUISADORA: Aqui tá dentro do parque, isso aqui faz parte do parque? 210 INFORMANTE: Não, isso aqui tá na área de amortecimento do parque, entendeu? Mas não tá dentro do parque, portanto aqui tem senador, deputado aqui pra tirar isso aqui da, porque eles tivesse dentro do parque, mas o parque que eles apropriaram é crista da serra pra cima, entendeu? Crista da serra. A crista da serra é lá em cima, aqui tá fora de crista de serra, não tá? Então eles não pode então por mais [...] PESQUISADORA: É muito complicado essa questão, né? Eles tem que... 215 INFORMANTE: É uai, não, uai, parque é parque, agora, aqui nós tamo fora, não, área de amortecimento tudo bem, mas aqui não é parque, eles querem mandar em tudo aqui, uai. PESQUISADORA: Lá no barreiro eles fazem o, uma vez eu tive lá, deixa eu parar aqui, já tá ótimo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 31 INFORMANTE: I.B. (Analfabeta, 71 anos, sexo feminino) INFORMANTE 2: M.B. (Alfabetizada, 70 anos, feminino) INFORMANTE 3: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Março/2015 PESQUISADORA: Vou deixar aqui no cantinho, viu? INFORMANTE: Tá. PESQUISADORA: Quantos anos o senhor tem? INFORMANTE: Quantos ano? PESQUISADORA: É. 5 INFORMANTE: Tenho 74. PESQUISADORA: O senhor é mais velho então que o senhor V.? INFORMANTE: Nós é de uma idade só, um mais véio e um mais novo, eu sou mais véio um poquim. PESQUISADORA: O senhor nasceu aqui, morou. INFORMANTE: Nasci em São Roque de Minas, na Zuleide. 10 PESQUISADORA: Nós passamos lá na Z. INFORMANTE: Pois é, eu sou de lá, daí meu vô compro uma fazenda aqui em cima, aqui perto de São João, e eu mudei menino pra cá, rapaizinho piqueno, e de lá mudei muitas veiz aqui mais pra redor, aí que mudei aqui pro São João, tá com 42 anos que eu moro aqui no São João. PESQUISADORA: 42 anos faz bastante tempo. 15 INFORMANTE: Que eu moro aqui. PESQUISADORA: Aí eu vim aqui pro senhor contar umas histórias daqui de São João, da Serra. INFORMANTE: As história? PESQUISADORA: Lenda, história, causo, o senhor pode contar o que o senhor quiser. INFORMANTE: História tem muita história, aí, né? A gente, eu moro aqui, mas a gente fica às veiz distraído, 20 muita coisa esquece, é, falar, né? Mas aqui, quando eu morei pra cá, não tinha essa liga, era tudo lampião, era tudo escuro, e daí, e trabaiava na roça, e rumava mourinho, e criei as minhas menina aqui, nós, são em 9 fio, 4 home e 5 muié, tudo casada. PESQUISADORA: Isso os irmão do senhor? INFORMANTE: É fio. 25 PESQUISADORA: Ah, filho do senhor, entendi. INFORMANTE: Agora irmão meu tem só 4 nós somo em 4, trêis home e uma muié, um é, a minha irmã muié mora no São Roque, eu sou o mais véio, moro aqui no São João, e o outro irmão meu mora em Belo Horizonte, é enfermeiro, e o outro é caminhoneiro, mora no Araxá, o caçula. E tô aqui, criei minha famía tudo aqui, casô, as menina estudô um pouco no estado de São Paulo, daí casô tudo, e fiquei aqui, só eu mais a véia. 30 PESQUISADORA: Os filhos não tem nenhum que mora aqui não? INFORMANTE: Tem os home, os quatro home mora aqui, mas um trabaia na prefeitura encanano água, os outro trabalha na portaria 3 lá de Sacramento, no parque, é guarda, os outro três trabaia de guarda, e as minina mora nas fazenda, mexe cum gado, tira leite, e eu tô aí mexendo com lavora, tô de idade, né? Agora tá, parei, tô mexendo com casa, oiando as casa pro povo de Araxá, tem muitas casa, tem umas oito casa, um rapaz de Franca, 35 e outro de Araxá, e outro é de, estado de São Paulo, outro de Belo Horizonte, o outro de Araxá, umas oito casa que eu tomo conta aí. PESQUISADORA: O senhor faz o que? Cuida? INFORMANTE: Cuidando, que entra um matinho, das flores, agora das pranta, e aí tô aí nessa vidinha assim, gente de idade, né? Aí o médico falou assim: “Não, o senhor não pode pegar serviço pesado por causa da sua 40 idade.” Mas é bão fazer caminhada, tô sentindo bem. PESQUISADORA: Não, assim, movimentar é bom, né? INFORMANTE: É bom, aí ele achou eu bão, pela minha idade, pessoa da minha idade não tá, não consegue nem andá, eu ando demais, jogo até bola. PESQUISADORA: Olha, o senhor joga futebol? 45 INFORMANTE: Jogo, então não tenho problema não, pedra na vesícula, eu num posso, eu tô fazendo tratamento, tá miorando, mas de 4 em 4 meses eu vô no médico que trata de mim. PESQUISADORA: É em São Roque mesmo? INFORMANTE: É em Piumhi. PESQUISADORA: Piumhi. 50 INFORMANTE: É médico especialista. Eu tô passando bem, então eu vou em Prata... PESQUISADORA: O bom é que é tudo pertinho, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 204 INFORMANTE: Ah? PESQUISADORA: É tudo pertinho. INFORMANTE: Pertinho, pois é, 42 anos que eu moro aqui no São João. 55 PESQUISADORA: E quando o senhor chegou, como é que era aqui? INFORMANTE: Aqui era muito parado, tinha muita gente, mais num tinha luz, era tudo umas casa véia, o povo, tinha muita gente. Bom, daí eles foram mudando pra cidade pra entregar a famía, estudar, né? E eu fiquei aqui, aqui tem só 4 anos, agora já está na escola, as minina estudô aqui, no caso, e (ininteligível), estudou em Franca, no estado de São Paulo, daí foi casano tudo, e eu tô nessa vidinha aqui até hoje. 60 PESQUISADORA: Ah, mas tá bom, a vida aqui deve ser muito boa, a qualidade. INFORMANTE: É, esse sítio aqui pra descansá a cabeça é muito bom, aí meus meninos e meus irmãos queria que eu mudasse daqui, o J., o mais véio falou: “Vamos mudar pra lá.” Ai eu falei: “Ah, eu não.” Gente véio muda pra capital, cidade grande, é engraçado, ia mudar, eles tá bem, tem emprego, tem casa, tem tudo lá, mas memo se eu trabaia mais cedo eu, eu fiquei, pra gente véio é aqui em São João, fazê o que na capitar? Eu sei 65 capinar obra, ranca o mato, mas na cidade que ele vive, tem o desemprego. PESQUISADORA: Ah o senhor tá acostumado a vida inteira no mesmo lugar, mudar é complicado. INFORMANTE: Eu saio muito, mas eu gosto daqui. PESQUISADORA: O senhor passeia, mais o senhor gosta é da casa do senhor. INFORMANTE: É, eu gosto, e aqui é sadia, a água boa, num tem veneno nas cabeceira d’água, ocê pode ir na 70 torneira ali, toma água, é muito sadia, eu mudei pra cá, meus menino num bebeu remédio não, morava na serrinha aqui, (ininteligível), num precisava fica bebendo remédio, mudei aqui pro São João, virô moço, moça, casô tudo, e cresceu sem dá remédio, com água. PESQUISADORA: Cresceu sem nada? INFORMANTE: Nada, só com o crima e a água, lá sempre bebia remédio, porque as água era mais ruim, ficava 75 marelinha, agora cresceu ficô tudo forte. PESQUISADORA: E neto, o senhor tem neto que mora aqui? INFORMANTE: Neto eu tenho 22 neto e 6 bisneto. PESQUISADORA: Vixe Maria. INFORMANTE: Então tem moça casada, tem um que mora em Franca casado, tem um que mora em Buraca, 80 bisneto, em... PESQUISADORA: Buraca? Eu acho que eu já fui nessa região. INFORMANTE: É aqui pra cá de São Roque, desce pro lado de cá, lá é cheio de fazenda, muita casa, mas é cheio de fazendeiro, sabe? PESQUISADORA: Entendi, porque lá chama Buraca? 85 INFORMANTE: Ah, é uma mulher que eu acho que tem o colo um buraco, e aí tem coisa, colocou o nome de Buraca lá, lá é aonde mora mais é gente rico, sabe? Cheio de fazenda, ês vem muito aqui, é pertim tamém, e é isso aí, as menina tem uns neto, é uns rapaizinho assim, os outro é assim, escadinha, tudo descendo. PESQUISADORA: Os netos? INFORMANTE: É bisnetos. 90 PESQUISADORA: Ah, bisnetos. INFORMANTE: Agora os netos é grande, tem moça. PESQUISADORA: Já tem neto que tem filho, uai. INFORMANTE: Não. PESQUISADORA: O senhor tem bisneto, não tem? 95 INFORMANTE: Tenho bisneto, 6. PESQUISADORA: Então já tem neto que tem filho. INFORMANTE: É, tem, tem os netinho que tem fio, e aí tem os bisneto. PESQUISADORA: Aqui antigamente como que fazia quando as pessoas, é, aqui parece que as pessoas num ficam doentes, né? 100 INFORMANTE: É, aqui não adoecia, tinha que levar pra cidade. PESQUISADORA: E como era o transporte? INFORMANTE: O transporte era assim, é pertim aqui era cavalo, outra hora arrumava um que tinha carro pra levar, mas nunca morreu ninguém aqui de farta de remédio assim, de repouso, sabe? Pessoa adoece, porque todo lugar adoece, mas eu acho que Deus óia esse lugar e a pessoa num morre, vai até o fim do poço e sai hoje morre, 105 porque, e foi assim, não tinha nada, mas Deus deu recurso, agora tem de tudo, todo mundo tem carro, tem posto de saúde aqui, o médico vem aqui de 15 em 15 dias, mas não tem, não adianta, o posto tem a minina que trabaia aí, mas num tem remédio tamém, uai. PESQUISADORA: Ah, não adianta nada. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 205 INFORMANTE: Aí o médico vem cá, ocê consurta com ele, tem que ir na cidade buscá o remédio, ele te dá uma 110 receita. PESQUISADORA: Aí tem que ir lá em São Roque... INFORMANTE: São Roque, Tapira, Araxá, pra busca o remédio, aí nem dianta, agora eu já vou na cidade que o médico trata de mim, lá eu já faço exame, consulto, já pego o remédio, tem 5 remédios por dia, esse eu uso direto, e vou passando bem, mas agora tem mais recurso, antigamente era difícil aqui. 115 PESQUISADORA: O senhor vai no médico em qual cidade dessas, mais em Piumhi? INFORMANTE: É, mais é no Piumhi, tem médico mais é em Piumhí. PESQUISADORA: Ah. INFORMANTE: Araxá eu vou passeando, eu gosto de ir lá uma vez ou outra, estado de São Paulo, Franca, eu gosto de ir só pra passear, ver a famía. 120 PESQUISADORA: É, tem famía, né? Que falou. INFORMANTE: É, pois é, e tá ali. Então ocês mora no Araxá? PESQUISADORA: Não, a gente mora em Passos. INFORMANTE: Ah, em Passos? Eu tive lá há pouco tempo. PESQUISADORA: É? O senhor foi passear lá? 125 INFORMANTE: Fui lá ver um negócio lá de um colega meu de Araxá, tem um terreno, e a gente foi fazer usucapião do terreno dele, e eu que prantei as árvores pra ele lá, frores, froresta, aí eu fui, e ele foi falar lá com o juiz lá em Passos. E aí foi lá em Passos pedir pra fazer em frente ao juiz, e ficou, eles ficaram lá numa banda, e eu fui falando tudo. PESQUISADORA: Foi pra fazer usucapião? 130 INFORMANTE: É, pra requerer o usucapião, aí o I., levo o A. que é do cartório ali, o A. que é advogado e eu, eu fui só pra falar lá que plantei as plantas pra ele e tudo, e falei pro juiz, que acredito mais em mim, será que não tá mentindo? Que ( ) mas que distância é esse terreno dele, eu falei: “Lá é mato, eu que prantei pra ele, tem as froresta, a casa é casa véia, agora ele reformou.” É 50m um terreno até no parque, e aí ele foi indagando, mas acho que não virô nada. 135 PESQUISADORA: Ele não ganhou o processo não? INFORMANTE: Uai, diz que ficou parado, esses negócio de parque aí, é dificir, trem de governo, fui escutando, daí vai manda o resultado. PESQUISADORA: Mas porque que foi lá pra Passos? INFORMANTE: Ah, lá que arruma esses negócio em Passos. 140 PESQUISADORA: Aqui não tem esse juizado? INFORMANTE: Não, teve de ir em Passos, e aí fiquei conheceno a cidade lá, mas foi num dia, fiquei lá o dia intero conversando lá, não andei lá muito não, achei longe d mais, gostei muito de lá, bonita a cidade, mas é muito longe, passamo aqui por Piumhi... PESQUISADORA: Passou por Capitólio, Furnas. 145 INFORMANTE: Furnas, tenho uma menina já moro em Capitólio, eu tenho uma fia que mora em Piumhi, ela morô num rancho lá em Capitólio, nóis pego estrada, passamo na represa dos Peixoto, por baixo, e rachamo nesse monte que passa nesse rumo aqui, e aí... PESQUISADORA: Nós viemos por lá, por esse lugar... INFORMANTE: Por Piumhi? 150 PESQUISADORA: Por esse lugar, é, a gente veio de Passos a Capitólio, de Capitólio pra Piumhi, e... INFORMANTE: E eles pusero... PESQUISADORA: Piumhi a São Roque, de São Roque aqui. INFORMANTE: Pois é. PESQUISADORA: É bem longinho. 155 INFORMANTE: Você mora longe de mais. PESQUISADORA: Um pouquinho. INFORMANTE: Tá aqui nesse rumo aqui, você vai lá em Piumhi e vem vindo, mas vocês viajam muito, é longe, nós saímos de lá 6 horas, passamo uma hora lá em (ininteligível), chegamos aqui 7 horas, jantemos no restaurante em Piumhi, e quando foi 11 nós já estava aqui no São João, passando pela Buraca. 160 PESQUISADORA: E quem conhece muito aqui... INFORMANTE: E tem muita encruzilhada, a estrada tá até boa, estrada de chão, né? Agora, aqui por trás é mais perto, mas eles não tão querendo descer lá na serra, tá com medo de por, tá veiaco, e não tem estrada cheia de buraco. PESQUISADORA: É, a estrada tá ruim mesmo. 165 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 206 INFORMANTE: É, não compensa passar ali não, aqui é bom, mais perto, e é uma estrada só, agora, aqui na Buraca, às vezes vocês veio, passou pertinho da Buraca, é cheia de lavoura, muita encruzilhada praqui e prali. PESQUISADORA: Agora eles colocaram umas plaquinhas. INFORMANTE: Colocô, né? PESQUISADORA: Escrito: “Serra da Canastra.” 170 INFORMANTE: Tem três estradas que vem sair aqui. PESQUISADORA: Eu falei que todos os caminhos passam aqui. INFORMANTE: Tem um que passa em Buraca, tem um que vem em Maremeia, tem outro beirando a Serra. PESQUISADORA: É, nós viemos beirando a Serra. INFORMANTE: Pois é, que saiu na Z. 175 PESQUISADORA: Isso. INFORMANTE: Ocês passou no povoado que tem uma igreja? PESQUISADORA: Isso, passamos. INFORMANTE: Tem muita casa de turismo, ali que eu fui criado ali. PESQUISADORA: Os Leites, né? 180 INFORMANTE: É, a minha famía mora em São Roque, fui criado... PESQUISADORA: É, lá a gente passou por lá mesmo, mas tem muita casa lá? A gente passou, viu só um comércio. INFORMANTE: Tem, mas tá moitada atrás da lavoura de café, né? As árvores, tem muita casa ali, mas é mais essas funcionário que trabaia com a firma, sabe? 185 PESQUISADORA: Lá tem a firma? INFORMANTE: Tem firma, lá nas casa deles, mas ao redor da serra lá tem muita casa ao redor das fazenda, e ali emenda até chega no São Roque. PESQUISADORA: Ah, eu vi. Depois de lá tem a Serrinha da Edina? INFORMANTE: Da Edina, tem a Serrinha. 190 PESQUISADORA: Porque lá tem esse nome Serrinha da Edina? INFORMANTE: Porque a E. tem um bar lá, né? Era morador muito tempo, e pois esse nome, Serrinha da Edina. PESQUISADORA: É porque ela tinha um bar então? INFORMANTE: É, e as coisas, nome ali é Serrinha desde toda vida o nome é esse. PESQUISADORA: É? 195 INFORMANTE: Agora aqui é São João Batista, São Roque de Minas, Serra da Canastra, alguns que vem aqui pra vim no São João, no município de, da Serra da Canastra, eles vai, São João do Batista do Glória, é perto de Capitólio, sabe? PESQUISADORA: A gente mora, fica a 20km de São João Batista do Glória. INFORMANTE: 20km? 200 PESQUISADORA: Pois é, é pertinho de lá. INFORMANTE: Eu não conheço não, mas eu quero ir lá, um rapaiz meu genro, vai me leva lá, que ele tem um colega que (ininteligível), e ele qué me leva, ele gosta muito de mim, é o senhor L. PESQUISADORA: Como chama? INFORMANTE: Senhor L., vendeu um rancho lá perto aonde meu genro morava, ele gosta muito de mim. 205 PESQUISADORA: Lá é legal, interessante. INFORMANTE: É, agora, muitos vem pra vir aqui em São João, saí lá em Capitólio, em São João do Glória, em São João Batista é outro nome que vindo de São Roque de Minas, acabando de chegar aqui, do Glória lá do Piumhi, e aí vou por os que poucos conhece aqui, eles olha lá, o sinhô J., ês fala sinhô J. da Serra da Canastra, eles ensina ês o caminho de São João do Glória. 210 PESQUISADORA: Ué, mas em São Roque a gente perguntou pra duas pessoas como a gente saía pra São João Batista, eles estavam querendo mandar a gente lá pro Glória também. INFORMANTE: Pois é... PESQUISADORA: A gente falou: “Não, a gente quer ir pra Serra da Canastra, não é do Glória, do Glória a gente estava lá. 215 INFORMANTE: São João do Glória é perto, São João Batista é qual nosso aqui, tem que vim do município de São Roque de Minas, município, tem que ser aqui, São João é só aqui que tem. PESQUISADORA: É, São João Batista, da Serra da Canastra. INFORMANTE: É, aí essa serra aqui, ela desse pra esse mundo abaixo aí, ela vai rodando, aí o povo pra vim tem que vir de São Roque de Minas, pra modo de acha aqui, se não vié não acha não. 220 PESQUISADORA: Não tem outro caminho, né? Tem que vir até São Roque, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 207 INFORMANTE: Agora, aqui perto de Sacramento, se eles vié por Franca, vem perto de Sacramento saí aqui tamém, já entra no quarto lá que eles fala que vem reto, daqui té Sacramento, no trevo que vai pra Araxá, pra Franca, tem 120km, só praina, e pra passa pelo Araxá, tem que ir lá no trevo de Araxá, e aí já é asfalto e vem até no (ininteligível), a cidade aí ainda tá com cara de estrada de chão. 225 PESQUISADORA: Entendi. INFORMANTE: Já entra por lá. PESQUISADORA: Pra nós que estamos lá em Passos não compensa, o melhor caminho é Piumhi. INFORMANTE: O melhor caminho é Piumhi. PESQUISADORA: É o melhor caminho é Piumhi, pode vir pra Franca tamém. 230 INFORMANTE: Tem um caminho que... PESQUISADORA: Saí em Delfinópolis também. INFORMANTE: Isso. PESQUISADORA: Tem um caminho que é, parece que são 40km de terra, do Glória até São Roque de Minas, só que a gente ficou com medo de passar, porque a gente não sabia se a estrada tava boa. 235 INFORMANTE: Não compensa, ataiá, mas, pra quem conhece a estrada de chão deve ser boa, mas é uns ataio. PESQUISADORA: A gente ficou com dúvida, porque a gente não sabia se tava boa ou não. INFORMANTE: É, porque tem muito ataio, aqui pra ir no Capitólio também, se não quiser passar no Piumhi, lá naquea venda que tem cá num baxadão, tem uma venda lá, pra cá de Piumhi, de lá pra cá tem a esquerda, de cá pra lá, ali já entra numa estrada, já vai berano a serra, vai saí lá dentro de Capitólio. 240 PESQUISADORA: Uma estrada de terra? INFORMANTE: A estrada tão boa, as fazenda paulistas, vai berando a serra, já num passa no Piumhi, ataia mais, mas é estrada de chão tamém, ruim. PESQUISADORA: Já sai em Capitólio? INFORMANTE: Saí em Capitólio, aí passa. 245 PESQUISADORA: Essa eu não sabia não. INFORMANTE: Você num tem cartera pra ir lá não? Fico com medo desses ataio que vai disfazeno, no caso é vai lá por Capitólio e pode encontra. PESQUISADORA: Sei, a policia, não é? É interessante. INFORMANTE: Hum, eu tenho outra história bunita aqui, gente. 250 PESQUISADORA: Tem? Conta uma pra nóis então. INFORMANTE: Assim, tem muito, mas eu não sei, eu saí muito pouco. PESQUISADORA: Olha que o senhor sabe. INFORMANTE: Eu saí muito pouco, fiquei aqui. PESQUISADORA: Eu garanto que alguém vem aqui e conta pro senhor. 255 INFORMANTE: É, mas hoje em dia não guarda nada na cabeça, os outro fala assim, e depois aquilo, di premero era válido, agora esqueço tudo, é idade tamém, como é, os otro manda dá um recado pra otro, e aquilo num entra na minha cabeça, esquece, com um dia, ou, esqueci de dá um recado pra fulano. PESQUISADORA: E eu vou conta uma coisa pro senhor, não é coisa de idade não, sabe por quê? Eu esqueço. INFORMANTE: Cê esquece? 260 PESQUISADORA: Nossa, se eu não anotar. INFORMANTE: Mas é porque você mexe com muita coisa, é cansativo a cabeça. PESQUISADORA: Se eu não anotar, eu lembro uma semana depois. INFORMANTE: Eu também vou comprar um trem no armazém, eu tenho que anotar, que se esse, agora, se não anotá, eu vou lá comprá um que fica dois, três, chego lá um alembro chego aqui eu alembro. 265 PESQUISADORA: Tá vendo, é no caminho. Mas esses dias eu fiz uma lista, eu acho que eu decorei a lista, não é possível, aí eu cheguei no supermercado, cadê a lista, deixei em casa, aí eu fui lembrando o que tinha na lista, levei tudo, mas não sei como, foi sorte. INFORMANTE: Mas tem caso que precisa levá. PESQUISADORA: É, tem que ser assim. 270 INFORMANTE: E aí até que bate certo, aí chega que não é aquele, chega aqui aí a C.: “ah, mar era pra ter trazido mais aquea outra”. PESQUISADORA: Aí o senhor volta lá? INFORMANTE: Aí tenho que ir lá buscar. PESQUISADORA: Ainda bem que é pertinho, né? 275 INFORMANTE: Mas é idade, é cansaço na cabeça, muita coisa que a gente, quando eu era pequeno, as coisas não tinha telefone, né, carro, tinha só caminhão grande pra carrega trem, carro de passeio era aques carrinho de raio, de mota, de arame, aques carrinho, hoje, lá no Araxá eu vi ele, as pessoa rico compra pra mostra pro povo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 208 Era isso, mais era a cavalo, não tinha carro ninguém tinha carro não, aqui meu avô ia no Sacramento, morava aqui na fazenda aqui, ia com carro de boi, passava 10 dias, 5 dias pra ir pra lá, faiava um dia, e cinco dia de 280 viagem do chapadão pra cá em carro de boi, levava o carro cheio de quejo, chegava lá, vendia e trazia em mercadoria, saí e vem, que trazia o carro cheio de sal pra casa, pra armazená, vendia os queijinho e lotava, e aí vinha, chuvia naquele tempo, usava aqueas correiona assim, meu vô, dispois ele discia, moiava, era forte, dormia debaxo do carro, cinco dia de viagem, agora ocê vai lá num dia e vorta no caminhão, trás carga de três carro, vai um dia e vorta. 285 PESQUISADORA: Verdade, tá bom, voltou. INFORMANTE: Meu avô, e aí sabe, vortano aquela ocasião, a região aqui, uns la ía com dois, três carro, quatro, lá ía, o outro já lá envinha com 4, 5, e assim, daí pra lá levano trem pra vende, e trazeno trem pra trais pra vende, num tinha armazém até aí, e o povo era curria aqui na roça memo, muita coisa num comprava não. PESQUISADORA: Já tinha aqui, né? 290 INFORMANTE: A vida era di premero, num cheguei arcança direto não, mais novo, até meu avô ele. PESQUISADORA: No tempo do senhor já não tinha carro de boi, não usava mais não? INFORMANTE: Tinha, mas já tinha muito carro pra puxar trem, mas pouco, avião era muito pouco, agora, telefone num tinha, rádio, tinha rádio, tinha uma rádio, o cara vinha vende rádio aqui, o povo achava bão, era a pilha, não tinha luz, não tinha força, né? Ficava aqui, vindia caro, trazia de Sacramento, agora o povo hoje uai, 295 ocê vai trazê rádio? Não o povo não qué isso não, nem televisão ês num quer, quer internet, é isso, e aquilo, meus negócio cabô agora, ninguém compra ( ) aqui na roça, mas não tá quereno mais. PESQUISADORA: A rádio é tão importante. INFORMANTE: É, di premero é, as história do... PESQUISADORA: Aí, o senhor já contou um monte. 300 INFORMANTE: É, mas a gente, é muita coisa, mas é bão, e aí fica gravado aqui? PESQUISADORA: Fica, e aí depois eu escrevo o que o senhor falar. INFORMANTE: Agora, se a gente fala uma coisa errada, hein? PESQUISADORA: Não, mas não tem coisa errada, é história ué, não tem errado não. INFORMANTE: Aí entrevistei um monte de gente me conhece na internet, que... 305 PESQUISADORA: Uai, eu vi um livro que o senhor tá, o senhor V. me mostrou um livro, e a moça escreveu sobre o senhor. INFORMANTE: Pois é, e aí eu sou conhecido no Brasil inteiro, até pra outros países. PESQUISADORA: A Globo fez uma reportagem contigo, não fez? INFORMANTE: É, um rapaiz me chamou aí, eu fui falano, e umas duas veiz, e ês ficô achando bão, e ês 310 pergunto um negócio sobre isso e tal, se nós fica satisfeito dês vim cá, fica, que é muito generoso cás coisa, gente boa, deixa a gente numa boa guarda tudo, muita gente é memo, o povo de Araxá vem aí, e tem muita casa ques tem, faz festa aqui, mas deixa o arraiá limpinho, mas é ensinado, né? Mas curiosidade aqui, quando faz festa daqui, nossa, encarde até a casinha da gente. PESQUISADORA: Os daqui? 315 INFORMANTE: Os daqui que é pior, faz berreira, joga lixo na rua, grita, chuta trem, pega garrafa, joga na rua, quebra, é bagunça, faz ( ) passa nos outro, é, aqui é... PESQUISADORA: Como é a festa de São João aqui? INFORMANTE: Dia 24, 22, 23, 24 de São Joao Batista, mês de junho, sabe? Aí vai começa, e tem de setembro, de setembro ês marca no meio do mês, mas é a data certinho, é setembro, mas dá no meio do mês. 320 PESQUISADORA: Setembro é congada, o que é? INFORMANTE: É festa também religiosa, aí tamém é três dias, mas setembro ês marca no fim de semana pra ser, numa quinta, sexta e sábado, domingo pra fica fácil pra esse povo vim, porque no meio de semana ês um marca porque num tem tempo do povo de longe que trabaia vim na festa, agora de junho dá no mês da semana. PESQUISADORA: É o dia dos Santos. 325 INFORMANTE: Padroeira do santo, aí tem que vim. PESQUISADORA: E a festa é antiga? INFORMANTE: Ishi, desde que, é antiga, tem, uai. PESQUISADORA: Muito bom, São João Batista. Já tá bom, senhor U., o senhor já colaborou bastante. INFORMANTE: Quer beber um café? Só que é margoso. 330 PESQUISADORA: Café? Olha eu to precisando de um café margoso, viu? INFORMANTE: Tem doçante... ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 33 INFORMANTE: I.B. (Analfabeta, 71 anos, sexo feminino) INFORMANTE 2: M.B. (Alfabetizada, 70 anos, feminino) INFORMANTE 3: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Março/2015 INFORMANTE : Não, não é da Cachoeira que ela tá falando não, uai. PESQUISADORA: Ah, tô falando aqui da região. INFORMANTE: Ah, ocê quer só da região? PESQUISADORA: É. INFORMANTE: Vamo bebe um golim do café. 5 PESQUISADORA: Uai, vamos. O senhor só tem um lixinho? Tô com um chiclete na boca. INFORMANTE: Uai, tem. PESQUISADORA: O senhor chama A.? INFORMANTE: A. M.. PESQUISADORA: Faz quanto tempo que o senhor mora aqui? 10 INFORMANTE: Nascido e criado aqui, nunca saí. PESQUISADORA: Ah, meu pai tá chegando aí, ele vem comigo. INFORMANTE: Opa. PESQUISADORA: Vem cá, pai. INFORMANTE 3: Bom dia. 15 INFORMANTE: Bom dia. INFORMANTE 3: Como é que tá o senhor? INFORMANTE: Bem, graças a Deus. INFORMANTE 3: Então tá bão, uai, e a chuvada, foi boa, né? INFORMANTE: Uai, pra cá choveu graças a Deus. 20 PESQUISADORA: Tá chegando na hora do café. INFORMANTE: Vamô bebe um golim do café. INFORMANTE 3: Da moda do ditado, nosso cavalo marcha bem. INFORMANTE: É uai. Se eu levantá cedo e num pô um chapéu na cabeça, eu num levantei. PESQUISADORA: O senhor todo dia faz isso? 25 INFORMANTE: Toda hora, eu num ando sem chapéu pra nada, noite e dia cum chapéu, desde que eu conheci um chapéu. INFORMANTE 3: Eu usava chapéu, agora uso boné, tenho chapéu de pelo até hoje. INFORMANTE: É? Eu tenho acho que uns 20 chapéu aí. PESQUISADORA: Vixe. 30 INFORMANTE 3: Então o senhor gosta. INFORMANTE: Todo lugar que eu vô, eu já largo assim, óh, já larguei assim, eu chego e pego. INFORMANTE 3: Boné também, eu gosto muito de boné, agora uso boné. Até foi engraçado, eu carrego café, se eu sair de casa e não carregar o café eu não vou, e aí no caminho parei pra bebê, pus a xícara a xícara caiu da camionete e quebrou. Aí eu tomei o café ali agora. 35 INFORMANTE: Eu, eu tenho, eu vô pra Riberão direto e bebo café lá naquele Boi na Brasa lá, não sei se ocês sabe aonde que é ali. INFORMANTE 3: Boi na Brasa chegando em Passos ali. INFORMANTE: É, e eu vô, eu já tava marcano ali no cartão meu ali do HC, feiz 36 viagem que eu faço lá dentro desses dois ano, eu perdi esse olho daqui, tem graucoma muito forte, esses dia operei da vesícula também, a 40 gente passa cada coisa. INFORMANTE 3: Mas Deus ajuda que dá certo. INFORMANTE: Aí eu tô tratano, quinta fera eu vô traveiz, o meu oio começô a criá uma boinha dentro do negócio lá que eles falou que saía lágrima do oio, então eu vou fazer um aguiamento quinta-feira traveis. INFORMANTE 3: O senhor faz tratamento é da vista? 45 INFORMANTE: É, eu fisso já três cirurgias, quatro cirurgia desse oio, e duas desse, óh, agora vai fazê uma, o Doutora lá falô que é um aguiamento no oio, sabe? Passa pertado, né? INFORMANTE 3: Mas o senhor tá com quantos anos? INFORMANTE: Eu já tô com 74, vou fazer agora. INFORMANTE 3: É, mas o senhor tá sacudido, graças a Deus. 50 INFORMANTE: É, graças a Deus eu tô em pé inda, né? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 210 INFORMANTE 3: Mas nós viemos aqui pro senhor contar uns casos da Serra aqui pra nós, como que era de primeiro. INFORMANTE: Mas... INFORMANTE 3: Como é que era mais antigo, né? 55 INFORMANTE: Aqui é, eu principalmente eu tive uma vida sufrida aqui sabe, e eu quando minha mãe morreu, eu tinha 8 ano, e eu vivia pras casa dos outro, sabe? Eu ia mais pro lado da Prata, é, pra esse lado que eu ia, pra cá, aí sou nascido e criado aqui desde que nasceu, criado nas fazenda dos outro, ser patrão. INFORMANTE 3: Como é que é, a Casca D’anta tá pertinho aqui, eu já fui nela. INFORMANTE 2: Vocês sabe quantos anos eu fui ali na Casca D’anta? Que eu morava ali, eu já tinha 40 anos. 60 PESQUISADORA: Mesmo? INFORMANTE 2: Verdade, a nascente eu não conheço, só por retrato. PESQUISADORA: A nascente eu não conheço também não, a Casca Danta eu conheço. INFORMANTE 2: Só na entrada o dia que nóis lá ia indo... INFORMANTE 3: O dia que nós foi na nascente, nós viemos por baixo aqui também, e nós foi lá em cima, mas 65 dá até medo de olhar pro lado de cá, você fica longe da caída assim. INFORMANTE: Ocês foram na serra ali? INFORMANTE 3: Nós fomos por cima, e até minha esposa caiu num tombo lá que foi Deus que ajudou, tava com o meu neto na mão, bateu a cabeça na pedra, sorte que bateu devagar. Mas é bonito lá, lá tem umas cachoeirinha lá, é um lugar bonito, mas tem. 70 INFORMANTE: A nascente lá é pititinha, pouquinha água. INFORMANTE 3: É, uma coisa, até agora secou nessa crise, né? INFORMANTE: É, o que cresce mais esse rio aí nosso, é a tar de Cachoeirinha, e um tar de Luciano e Guariba. INFORMANTE 3: O senhor conhece bem o J.? INFORMANTE: Conheço de mais. 75 INFORMANTE 3: Meu tio compra muito gado dele, eu já vim em muito cruzeiro de serra com ele aí. INFORMANTE: É saí daqui boiadero. INFORMANTE 3: A. R., às vezes você conhece A. R., é um careca, um véi, um senhor, já está com 84 anos também. INFORMANTE: Ah, que compra gado? 80 INFORMANTE 3: É, eu já vim com eles no Alto da Serra aí encontrar com o gado que tinha encontrado dele e o gado lá ia daqui pra lá, até uma mulher que lá ia levando, eu não esqueço que a mulher lá ia levando. INFORMANTE: As muié aqui tudo ajuda, as muié dos fazendeiro aqui tudo ajuda ês, aonde ês vai eas munta na garupa. INFORMANTE 3: Sacudido, interessado em tocar retiro, o senhor não conhece não? 85 INFORMANTE: Ah, por aqui tem, mas é tudo rapaiz novo, ainda sortero. INFORMANTE 3: Eu tenho um retiro lá, eu preciso arrumar alguém sacudido assim até eu tava conversando outro dia lá com o rapaz, aquele lá do Glória lá, aquele prefeito, lá e... INFORMANTE: Cêis mora em Passos? PESQUISADORA: Nós moramos em Passos. 90 INFORMANTE 3: Mas mexe com roça, eu sou da roça. INFORMANTE: Aqui tem um home quase mudano, cabano de mudá pra cá, um tar de B., uns fala B., outros fala A. INFORMANTE 3: Ah, é o A. B.. INFORMANTE: É. 95 INFORMANTE 3: Uai. INFORMANTE: Ele até me deu um gole d’água antonte, mas foi sábado mais a muié dele, levou uns gado. INFORMANTE 3: Mas ele tá mexendo com o que aí? INFORMANTE: Não, aqui ele só mora. INFORMANTE 3: Ah, ele tem uma pousada aí? 100 INFORMANTE: Não, não é pousada, ele só mora aí, tá morano quase direto aí, caso e compro uma casa pra posada memo, pro rapaiz. INFORMANTE 3: É rapaz, porque tem um loteamento grande lá em Passos. INFORMANTE: Pois é. INFORMANTE 2: O rapaz fez pra pousada, sabe? E resolveu vende. 105 INFORMANTE 3: Vendeu por quanto? Tem ideia? INFORMANTE: Aqui? INFORMANTE 3: É. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 211 INFORMANTE: Ah, eu num sei bem, R$200 e tanto eu sei que foi, mar o tanto eu num sei. INFORMANTE 3: Olha pra ver, ainda bem que é uma coisa boa, né? 110 INFORMANTE: Boa, é boa até. INFORMANTE 2: A hora que ocêis andá pro lado de lá, tem um lado assim e outro assim, sabe? Pega um quarterãozinho grande na frente, uma gracinha lá. PESQUISADORA: A casa? INFORMANTE: Aqui tem umas posadas que tá a venda aqui, mas tem umas que é véia. 115 INFORMANTE 3: É? Mas eu até tava falando pra minha menina, ontem até passou no Globo Repórter, o pessoal tá largando mão de tudo pra, não, precisa de ver a turma tá caindo no mato mesmo, largano do dinheiro. INFORMANTE: Aqui não tem jeito, por aqui pra nóis aqui, não tem jeito de mexer não, os Ibama não deixa, né? INFORMANTE 3: É, não tem que fica no meio do mato mesmo, parece que a moda vai ser ficar no meio do mato de novo. 120 INFORMANTE 2: Eles num dexa prantá mais, né? Se pranta as maritaca acaba com tudo. INFORMANTE: Mas num é só maritaca não. INFORMANTE 3: Mas eu vô ensinar pra vocês, eu aprendi um negócio, se alguém tive um problema com maritaca aí, o cara me contou, eu fui na lavoura dele, desde que você arrumar um tambor e for num açougue, pegar um resto danado de açougue, de carne, qualquer coisa, você põe dentro do tambor, põe uma tela em cima, 125 que os urubu chega, diz que maritaca não gosta de urubu de jeito nenhum. INFORMANTE: É uai nem de avião, né? INFORMANTE 3: Eu fui na lavoura de um rapaz ele me explicou isso. INFORMANTE 2: Gente, mas cada coisa, né? Eu assisto o Globo Rural, a gente aprende muito. INFORMANTE 3: Mas essa aí não foi até no Globo Rural não, foi um conhecido meu que tinha uma lavoura de 130 sorgo, e ele era açougueiro, e aí nós fomos lá, tinha uns três tambor esparramado pro meio da lavoura, eu falei pra F.: “O que isso?” Não, isso aqui é, urubu vem, a maritaca cai fora. INFORMANTE: É, tem medo mesmo, né? Nóis é nascido e criado aqui. INFORMANTE 2: Mais só que a gente saía pouco, não tinha carro pra tá andano, de cavalo a gente num gostava. INFORMANTE: Nóis tá com 50 ano de casado, nóis tem 9 fi, tudo casado. 135 INFORMANTE 3: Tá tudo por aqui, não? INFORMANTE: 23 netos, duas bisneta, lá e vem outa. INFORMANTE 3: E tá tudo morano por aqui ou não? INFORMANTE: Não, uns é no Piumhi, outros é no, 5 fi mora lá. INFORMANTE 3: Mas tem alguma história antiga aí, da moda que acaba com nosso horário, de assombração, 140 essas coisas? INFORMANTE: Aqui tinha uns aqui mentiroso de assombração, mas não tá aqui mais. INFORMANTE 3: E depois que apareceu a televisão acabou as assombração, né? INFORMANTE 2: Acabou, interteu, né? INFORMANTE: Assombração aquilo eu acho que era barriga cheia dos outros, aquilo eu acho que não existia, 145 lobisome, né? Mula sem cabeça sortano fogo pros oio, né? INFORMANTE 3: Era desse jeito. INFORMANTE 2: Mas ela num tinha cabeça, uai. PESQUISADORA: Mula sem cabeça soltando fogo não tem jeito, né? É verdade. INFORMANTE: O povo tinha isso. 150 INFORMANTE 3: Eu tenho um cara que era primo da minha mãe, todos dois já faleceram, eles ficava a noite inteira contando causo de assombração. INFORMANTE 2: Óia, eu era menina eu lembro viu? Uns povo meio garimpo aí contano essas história, sabe, eu sei que era história, noite intera, ocê tava cum sono, ês ino embora, contano sombração. INFORMANTE 3: Nós morávamos na roça, a casa lá, até hoje lá é meu, era do meu avô a casa antiga, e meu tio 155 tinha uma fazenda perto, ele criou uma mulher, e tinha uns meninos, uns moreninho, e tinha um que chama Z., até tá vivo, o outro até morreu novo de tanto beber, ele bebe de mais também, e ele ia lá em casa, as lamparinas, até vou compra uma lamparina da mulher ali da esquina lá, pra levar, aí de noite dá 7 horas na roça da sono, né? É escuro, não tem nada pra ver, e tal, e aí nós falávamos: “O Z., ocê fica aí sentado.” Nós apagávamos a luz, e aí ficava no rabo do fogão, e falava: “Quando for embora, puxa a porta.” Ele era folgado. Ele sempre tava no rabo 160 do fogão, e nóis sempre falava pra ele, a hora que você for, puxa a porta que nós já vai deitá. INFORMANTE 2: Nóis tinha uma luizinha aqui, mas era tão ruim. Então eu fazia luz, fazia pra muita gente, aqueas coisa que tinha com aques suquinho de tomate de garrafinha, de tampa de alumínio, sabe? Eu furava, e serrava esses gominho de antena, colava cum cola. INFORMANTE 3: Virava lamparina? 165 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 212 INFORMANTE: Todo mundo queria que eu fizesse pra ês, a hora que dava 10, 11 hora a luz apagava, e num tinha como o resto da noite. INFORMANTE 3: De primero não tinha nem vasilha pra você fazer lamparina, hoje você trupica em latinha, e alguma coisa, e vai fazer lamparina. INFORMANTE: É, de primero era na base da cuia, de coité, né? 170 INFORMANTE 3: Coité, vocês tem o coité por aqui? INFORMANTE: Ali acho que ainda tem. INFORMANTE 2: Ali eu acho que ainda tem um pé, não tem? INFORMANTE 3: Ali indo pra minha roça lá, acho que tem um coité, rapaz, mas dá cada bitelo. INFORMANTE: Os daqui não dá muito grande não, ele é muito véio, ele foi, é no tempo dos meus vô. 175 INFORMANTE 3: Até ele falou que ia me arrumá um ramo pra mim planta, diz que pega com gaio, né? Planta um gaio. INFORMANTE 2: Com galho eu não sei não, você leva um coité , se você fizé o chão assim, se você fizer até o coité lá, que nasce um pé, aqui em casa nasceu. INFORMANTE 3: O meu tá carregado. 180 INFORMANTE 2: O meu sogro veio pra cá, ele juntava ali os coité, e nasceu o pé, mas era na divisa ali. INFORMANTE 3: É até bão sabe, eu tô com uma outra fruta que eu trouxe, meu menino mora no Rio de Janeiro, em Parati, tem uma arvore lá, mas é bonita, ela dá uma florzona vermelha, agarrada nela mesmo, depois ela dá um coco, um trem que parece um coco, mas desse tamanho, e outro dia até pedi uma mulher uma lá, e tô com ela vou fincar no chão igual a senhora falou, que a hora que ela apodrecer é capaz dela brotar. 185 INFORMANTE: É capaz mesmo. INFORMANTE 3: Vou fazer isso. INFORMANTE 2: Mas ela, essa fruta. INFORMANTE 3: Até a T. falou: “B., aonde você arrumou esse tamanho desse coco?” INFORMANTE 2: Não tem aquela? 190 INFORMANTE: Ah não, tem, aqueles coco ali tem na horta, dentro de casa. INFORMANTE 2: Mas se ela for uma que eu tô pensando se dá sua, eu joguei eles tudo no lixo, porque se não, se fosse igual esse, tem que sair a tampinha certinha, a semente do lado. INFORMANTE 3: Eu vou até levar pra plantar, porque plantar é comigo mesmo, adoro plantar. INFORMANTE 2: Eu também sou doidinha pra plantar. 195 INFORMANTE: A mulher da dona C. lá, pegava caroço de manga, pegava abacate, que ela gosta de plantar cebolinha, mas eu não vou plantar mais não, vou esperar pra plantar pros outros. INFORMANTE 3: Ontem eu plantei uma... INFORMANTE 2: Eu tava com diabete, mar meu diabete num subia não, e passo de 100, 110, sabe? Por aí, só 110 pra baxo, ês falô: “Óia, ocê chupa laranja da terra, três por dia 7 dias, três por dia, três cedo, três de manhã, e 200 três de tarde. Ocê num qué não? INFORMANTE: Desse jeito que num quero não, tá forte de mais, uai. INFORMANTE 3: A laranja da terra é aquela de fazer doce? INFORMANTE 2: Não, a gente pode chupar ela, essa é docinha, tem aqui, eu chupava e jogava a semente ali, sabe? E nasceu, eu falei, óia, tá pareceno aquela laranja de lastros, sabe? Sabe qual? Aqui na fazenda do J. 205 tinha, eu falei: “Se for dela, eu tô feita.” Tirei a muda e vô pranta, e aí prantei, ela vai cresceno, eu puis bastante esterco lá no pé, parti, tirei o fundo da latinha, coloquei ela, menino, mas fazia diferença, cada dia que eu oiava, ela tava maio, o M. falou: “Mas ocê é boba, vai arcançá laranja?” Eu falei: “Vô sim, cê vai ver se eu num vô arcançá, se eu num arcançá, num tem portância, fica prus meu neto. INFORMANTE 3: Claro, tem que acreditar nessa ideia, né? 210 INFORMANTE 2: Óia aí, já deu dois ano. INFORMANTE 3: Aquela árvore, eu num sei se você já viu dela, porque parece que teve uma tal de Flamboyant, conhece ela? Outubro, novembro ela fica vermelha, meia amarela. INFORMANTE 2: Eu acho que conheço. Cada lugar tem um nome, não é? PESQUISADORA: É. 215 INFORMANTE: E tem muitas árvore que dá em bera de pasto aí fora, aruerão, angico, aqui não tem. INFORMANTE 3: É, Ribeirão tem muito Flamboyant naquelas avenidas, é uma árvore baixa que dá uma sombra boa, e eu mexia com prestar serviço. PESQUISADORA: Quais são as árvores que tem aqui, o senhor falou aroerão, o que? INFORMANTE: Aqui não tem, que eu tô falano pra ele, aqui num tem, angico aqui não tem, é beira de Rio 220 Grande aí é o couro. INFORMANTE 3: Lá em casa Arueira cresce igual canarinho, uma coisa que. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 213 INFORMANTE: Tem a semente ali pra prantá de angico, mas num prantei tamém, falei. INFORMANTE 3: Olha pra você vê, se eu soubesse, eu tô com uma mudinha de aroeira, uma mudinha no jeito de trazer, tem que carregar. 225 INFORMANTE 2: Aqui não tem não. INFORMANTE 3: Gozado, eu tenho dois pedaços de terra, eu tenho um que gaitera é praga, nada acaba cum ela, ara a terra, planta direta, e passa veneno, e volta mesmo. INFORMANTE: Gaitera? INFORMANTE 3: Gaitera. E tem uma outra nuns 8km, e não tem um pé de gaitera, o cara falou que já até 230 plantou gaitera lá e não dá, no campo, e não pega. INFORMANTE 2: No campo, eu vi também, lá, é no campo. IFORMANTE: É gaitera, aquela mangaveira. INFORMANTE 3: Mangava dá na serra, né? Lá dá também. INFORMANTE: Eu já busquei lá naquela serra da Babilônia, da ponte arta lá. 235 INFORMANTE 3: É uai, gozado, às vezes pertinho dá uma planta, outro não tem, né? É que nem o pequi. INFORMANTE: Pequi aqui tem muito. INFORMANTE 3: Lá pro nosso lado tem pé de pequi, mas num dá fruto. INFORMANTE: Mas o pequi na terra boa ele não dá pequi, só na terra ruim iguale a nossa aqui. INFORMANTE 3: Pois é, ele vai chegando na roça nossa aqui, inclusive vai chegando lá em casa, tinha um 240 piquisão lá, e acabou até cortando, porque num dava nada a arvore. INFORMANTE: Onte a minha minina trouxe marola lá de Piumhi, aqui não existe também, e no Piumhi aquelas beira lá tem muito. INFORMANTE 3: Eu comprei duas marola lá em Passos, tinha um menino, fiquei com dó, menino em cima da farmácia lá, vendendo marola, eu andei lá pra dentro da cidade, falei: “Vou comprá uma marola daquele 245 menino”, coitado, ele tava numa tristeza lá. INFORMANTE 2: Eu não gosto muito daquele negócio lá não. INFORMANTE 3: Não, eu quando era moleque comia muito, meu pai tinha caminhão, nós vinha na barra aqui, sabe? Na barra ali, ali tem muita marola ali, né? Aí eu comprei, aí minha muié onte falou assim: “Eu vou jogar esses marolo fora”, hoje eu pus eles dentro do carro, guardei. 250 INFORMANTE 2: Aqui pra nóis dá uns pequenininhos, aquela marolinha. PESQUISADORA: De que? INFORMANTE: ( ) PESQUISADORA: ( ) INFORMANTE 3: É um da folha lisa, meio coração? 255 INFORMANTE: É. INFORMANTE 3: Uai, mas aquilo come? INFORMANTE: Ixe, aquilo é uma beleza aquilo, tem assim uma madeira gorda, uma casca grossa, madeirinha dele, quando ele é novo, dá cabo de ferramenta, que nem nóis que trabaia só na roça, faz chave daquilo. INFORMANTE 3: Quer andar mais? Vamos na conversa? 260 PESQUISADORA: Ele nem contou nada, o senhor começou a falar da roça, uai. INFORMANTE 3: Conta alguma coisa de assombração aí pra nóis. INFORMANTE: Mas de sombração eu num sei. PESQUISADORA: Não, o senhor pode contar como o senhor trabalhava aqui antigamente, como que era a vida, não precisa. 265 INFORMANTE: Ah não, eu mexo com o retiro, tirar leite, mexer com gado, queijo, essas coisas. INFORMANTE 2: Ele trabaiô muito pra famía do G. N. INFORMANTE 3: O G. N. a gente foi vizinho na cidade e até na roça. INFORMANTE: Eu morei muito tempo aqui na fazenda do senhor... INFORMANTE 3: G. N. tinha uma fazenda que eu aluguei, hoje ela é da usina, hoje ela chama Vera Cruz, a 270 fazenda boa, 100 alqueires de terra. INFORMANTE: Lá da Mumbuca lá? INFORMANTE 3: Isso, é. INFORMANTE: Eu levei gado lá pra ele. INFORMANTE 3: Aquela casona, o senhor viu uma casona nova bonita? E ele era caprichoso pra plantar fruta, 275 tinha, e acabaram com tudo, derrubou a casa, a usina, acabou tudo. INFORMANTE: Tem um rapaz aqui, um eu acho que ele é despachante hoje, um tar de I. INFORMANTE 3: Isso. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 214 INFORMANTE: Foi criado quase nos meu braço aques minino, não sei, se ocês topa cum es lá, pergunta se conhece o A. aqui em Barrinha, pra ocêis vê, e ele ainda tem muito parentes aqui, tio deu, quando morre argum 280 deles, eles vem aqui vê, é irmão, fio, V. INFORMANTE 3: Tem um do G. que tem um outro N. também. INFORMANTE: N. INFORMANTE 3: J. N., né? INFORMANTE: J. N. 285 INFORMANTE 3: J. N. é do Sudoestino hoje, é dele ali, eles eram dali, e o canela. INFORMANTE: Aqui tá, a primeira vez que eu comecei a trabalhar pra eles... INFORMANTE 3: Mas não é deles mais não? INFORMANTE: Não, ês mudou, morreu. INFORMANTE 3: Eles mudaram pra um apartamento, né? 290 INFORMANTE: O P., comprou um apartamento daquele Dr. C., aquele véio antigo, ele era advogado, sei lá o que, e comprou um apartamento em Belo Horizonte, e morreu lá, mandou, ligaram pra mim, esse casamento, 60 anos de casado, eu tenho um convite dele até hoje. Eu comecei a trabaiá um ês assim, a irmã dele tomava conta dum centro de, falava centro, mas era lugá de puxá creme nos burro, e por lá o creme, nóis tinha os três que juntava os creme nos burro nesse chapadão tudo fazenda aí toda banda, e levava pra ali, e fazia uma... e batia 295 aquilo e mandava, o caminhão vinha buscar. PESQUISADORA: Fazia o que? INFORMANTE: Fazia manteiga de leite, batia. PESQUISADORA: Mas como que o senhor. INFORMANTE: Puxava o creme ( ) 300 PESQUISADORA: Fazia uma ( ) INFORMANTE: Fazia uma anas aqui e levava. PESQUISADORA: O anas era o que? INFORMANTE: Uai, anas era pra decerto, eles falava fazer uma anas, punha um remédio, um preparo no leite, sabe? E no creme, já era creme, desperdiçava o leite quase tudo que ês, se tivesse de 100 litros, dava ali uns 20 305 litros de creme só, e tô de oio todo dia, e nóis pegava, sabe? Quando nos burro, eu pra uma banda e pra outra, nóis posava nas bera dos córgo com os burro, com aquele peso em cima esperano o córgo esvaziá, pra nóis passa aques creme, aqueas coisas, supitava na lata e tornava tudo, precisava ver como que vira, sabe quanto eu ganhava por meis? Treis conto, cê besta. INFORMANTE 3: Eu tenho dó do povo de hoje que não acostumou a trabalhar. 310 INFORMANTE: E eu fui criado uma vida, 9 fio, sabe? Enquanto o mais véio ajudô a me fazer as coisa pra ajuda a tratá dos outro, nóis passo uma vida de cão, né? PESQUISADORA: O mais véio ajudô o senhor? INFORMANTE: Ajudô, e dispois eu digo, cada ano que entrava um, que já tava dano conta de capiná, nóis capinava, roçava, pegava empreita nos outro, era só na mesmo, no mato mesmo. 315 INFORMANTE 3: Eu já fui muito sacudido pra roça, eu era meio porcalhão, mas já fui bão na foice dum tanto, meu filho. INFORMANTE: É bão, hoje em dia quem é que faiz isso? Se não fosse bão ês num chamava, né? Chuva, relâmpago, e só... INFORMANTE 3: E roçar pasto aqui em dia de chuva igual hoje é gostoso, né? Quando tá assim, nublado. 320 INFORMANTE: Ah, é, hoje eu não posso trabaiá mais, porque eu perdi esse oio da vista aqui, num enxergo também, e nem cara não tenho, as menina falo: “Pai, mas que mão lisa,hein?” E meus fi, oscêis é que num sabe o que eu sinto, porque a gente, eu sô acustumado na bera dos corgo, nas bera dos rio, eu tomei conta duma água aqui 20 anos ganhano meio salário só, eu tinha trabaiado. INFORMANTE 3: Falar nisso, a água que tem aqui pra vocês é de nascente pra cima aqui? 325 INFORMANTE: É, lá da serra. INFORMANTE 3: É, vem de terra natural? INFORMANTE: Vem, não tem trato, não tem nada nessa água. INFORMANTE 3: Óia que beleza, água boa. INFORMANTE: Água pura mesmo. 330 PESQUISADORA: E aí o senhor trabalhou muito tempo lá no creme, e daí depois o senhor saiu foi fazer outra coisa? INFORMANTE: É, depois eu fui assim, virando rapaizinho, fui pras fazenda dos outro, morava sozinho, num chapadão tirano leite, suzinho e Deusu, não tinha ninguém pra da moda, me estorvá e fazer eu... INFORMANTE 3: Eu não tenho coragem não, rapaz, eu sou medroso. 335 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 215 INFORMANTE: Eu num tenho medo não, sobre isso não. INFORMANTE 3: Eu tenho medo até de assombração mesmo. INFORMANTE: Eu tenho medo é com cobra, que aqui tem muita, sabe? PESQUISADORA: Aqui tem? INFORMANTE: Aqui tem, cascavel, pensar que tem, e tem mesmo. 340 INFORMANTE 3: Eu já vi cascavel, mas não é de campo, deve ser brava a cascavelinha daqui então, em? INFORMANTE: Ah não, a casvavel daqui, nossa, agora com esse negócio do Ibama, eles tem soro, tem as coisas. PESQUISADORA: Mas num pode matar não? INFORMANTE: Não, eles não gosta que mata de jeito nenhum. INFORMANTE 2: Não é nem tanto eles, mais é o turista, né? 345 INFORMANTE: Os turista não deixa de jeito nenhum, se ver, ixe. PESQUISADORA: O turista não gosta que mata? INFORMANTE: Nada, não gosta que corta árvore, não gosta que faz nada. INFORMANTE 3: Se eles mandasse um salário bão pra vocês, tava bão né? INFORMANTE: É, se eles mandasse e vigiasse as cobras. 350 INFORMANTE 2: A gente pensa, se pagasse ao menos as casa da gente bem, eles vai compra outra lá fora. INFORMANTE: Eles não vai pagar não, se for desapropriar. INFORMANTE 3: Não sei não, viu? A gente viu a reportagem de ontem, e a gente veio vindo, um momento de uma evolução muito grande, até fora da medida, foi muito rápido que as coisas mudou, é capaz de nós volta com o pé no chão e as lamparinas de novo, em. 355 INFORMANTE: É bem perigoso, do jeito que lá vai indo as coisas, é perigoso. INFORMANTE 3: Você vê um casal de São Paulo aí mostrando, o cara tudo formado, resolveram ir pra roça, a menina não sabe nem o que é celular ainda, fica subindo na árvore brincando, agora. INFORMANTE: Uai, nóis que é véio aqui ocê me entrega um celular, tá perdido, nóis num dá conta de mexe, vejo esses minino pequetito hoje em dia tá aí, internet. 360 INFORMANTE 2: Meu neto sabe mais do que eu mexer. INFORMANTE: Não, tem uma pititinha, agora que ela entrô no pré, ela não tem nem 5 anos, ela já executa isso tudo, ela desliga a televisão, essas coisas. INFORMANTE 3: Não, eu tava falando pra ela, a minha neta, sobrinha dela, a menina tá preparada de tudo pra mexer com isso, não pode não. 365 INFORMANTE: Porque não tem como, né? INFORMANTE 2: O M. também eu acho, ele é muito inteligente. INFORMANTE 3: Não, e outra coisa, o povo hoje em dia não conversa, chega nos lugares e não conversa, fica só passando o dedo no celular. INFORMANTE: E a gente quer prosear com eles, eles falam: “Ah, conversa de véio não interessa.” 370 INFORMANTE 3: Não, e não tem assunto com a gente não, e não tem assunto nem dentro de casa. INFORMANTE: Meus fio, minhas fia num bera muito nóis aqui mais, uai. INFORMANTE 3: Lá em casa nóis tá nessa situação, tem ela aqui, tem um outro rapaz meu, e fica os dois um no canto da mesa e outro noutro. INFORMANTE: E dá noticia de tudo, né? 375 INFORMANTE 3: Se o senhor aproveitar a notícia boa, beleza, mas a maioria é ruim, né? PESQUISADORA: Como era feito o transporte aqui antigamente? INFORMANTE: Transporte? Olha, no começo... PESQUISADORA: É, como que o senhor deslocava pros lugares? INFORMANTE: Olha, ah, não, era tudo de a cavalo e de a pé, hoje em dia você vê uma pessoa aqui no Barrero, 380 essa rapaziada tudo de moto e de carro, de primero buscava aqui 6 légua, seis veis, 36, 36km, e eu ainda tinha que trazer um fexo de lenha nas costa de tardinha, moiano, pra muié fazer cumida pra nóis uai a nossa vida aqui foi triste, e eu vô conta uma coisa proceis, do tempo que eu fui criado nascido e criado, num tinha esse negócio de arroiz e feijão, cumê todo dia não, era mais ou menos assim, um dia, arroiz num comia não, era mais um feijão com quarquer coisa, com abóbora, torresmo, fucinho de porco, pé de porco, óia, eu mais a muié antonte 385 comeu foi pé de porco, dispois nóis tem o resto pra cumê hoje. Nóis é acustumado a comê aquilo, nóis num pode fica sem não. Mata, mata nada, esse óleo é que mata os outros, não vale nada não, isso nem é óleo não. INFORMANTE 3: Uma morada ajeitada, é até aonde era do meu avô esse lugar e tá lá meio parado, nóis vai de vez em quando, nós vai pouco, mas a casa é até boa, eu levei um cearense ontem lá, ele ficou animado, ele é sacudido, gosta de plantar na cidade, precisa de ver que verdurão que ele faiz nesse lugar, vou levá esse rapaz 390 nesse lugar, uai, lá tá perdendo água fácil, e aí na volta, ele tá com um problema, a mulher dele trabalhando no Correio, e aí tá com esse problema da mulher. Aí depois nós fomos embora, e ele falou: “Vou matar um bode aí, ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 216 e voou te chamar pra você comer.” Eu pensei bem, e falei: “Chama que eu venho.” Quer dizer, a gente não tem costume com essa comida, né? INFORMANTE: Aquele B. trouxe pra mim estrurdia, eu falei: “Como.” 395 INFORMANTE 3: O carneiro, eu acho que é melhor, o bode é meio fortão, eu acho, vou matar um bode e vou te chamar, chama que eu vou vim. INFORMANTE: Ah não, eu não tenho muita seca não, óia, de primero nóis aqui foi criado com uma vida que dá valor. INFORMANTE 2: Até que ele aprendeu que punha poquim, pra num ( ) ês num sabia prantá. 400 PESQUISADORA: Não sabia o que? INFORMANTE 2: Prantá arroiz, porque você põe uns 3 grãozinho, e aquilo vai virar muito. INFORMANTE: Esturdia eu tava falano pra aquele, um tar de Z. P. lá de Passos, não sei se ocês conhece ele. INFORMANTE 3: Eu cunheço bastante Z. P. lá, mas. INFORMANTE: A fia dele onte tava ligano pra vê se minha fia ali, que tinha perdido um subrinho dela lá, parece 405 que ela chama, eu esqueci o nome dela, é um nome engraçado, é, aí nóis tava falano pra eles, óia, a vida com nóis foi feia, e ele rino, ele papeadero também. PESQUISADORA: Ele é o que? INFORMANTE: Ele é papeadero assim, de conversar as coisa com a gente, ele é crítico das coisa, e eu falei pra ele: “Óh Z., ocê foi criado num berço de oro, que ocê é ricasso, quanto é que tem a fazenda aqui no Quilombo”, 410 e eu tava lá perto de Passos, num sei aonde é que é, eu falei assim: “Oh, e eu num tempo que eu criei...” Esse aí é meu fio tamém, que, eu falei: “No tempo que eu criei esses minino meu, se eu conta minha vida pro... eu comecei a contá pro charretero, o cavalo dele chorô de tanto que nóis passô.” INFORMANTE 3: O trem era pesado, hein rapaiz? INFORMANTE: Era!!! Nossa Senhora, esse aí era um dos cuzinhero, minha muié começo a trabaiá num grupo, 415 a cumade dele deu serviço pra ela num grupo aí, e ela tinha que ir trabaiá, e num tinha quem fizesse um cumê pra nóis, tinha que sai tudo cedo, os menino que fazia o cumê pra nóis, enquanto eu fazia outras coisa, a vida aqui pra nóis foi triste, e num diantava nóis saí também, porque nóis num tinha um lote. INFORMANTE 3: O único tio que eu tenho é um do meu pai, ele tá com 85 anos. INFORMANTE 2: A vida nossa foi custosa pra criar esse, a do meu ai foi pior criar eu. 420 PESQUISADORA: Ah, com certeza. INFORMANTE 3: Eu falo pro meu tio, que ele é muito conhecido do J., eu falo pra ele, eu dou graças a Deus de ter nascido quando era ruim, porque hoje pra mim tudo tá bão. INFORMANTE: É, tudo, os fio, os pais falava ês esperava os pai fala, né? Tinha educação, hoje em dia não, a lei um pode batê, num pode puxá na oreia, tu vai pra cadeia, num pode ensinar os fio trabaia, vai pra cadeia tamém, 425 e vira vagabundo aí, o ladrão, essa coisera, né? Mas isso os curpado são os lá de cima, né? Hoje em dia. INFORMANTE 3: Ah, numa faz uma lei pra punir, né? INFORMANTE: É, num pode bater, num pode danar. INFORMANTE 3: Mas gozado, viu senhor A., eu tô desconfiado que o governo tá precisando gastar mais com esporte assim, por exemplo, tem uma molecada que tá na hora de ficar na escola e jogando bola o dia inteiro pra 430 não envolver com outras coisas. INFORMANTE: E agora com esse negócio de internet, computador, essa coisinha acabô, os minino vai pra escola, eles um tá oiano o que o professor tá falano, eles tá óia... INFORMANTE 3: Ela é professora. INFORMANTE: Não tem jeito não, é difícil e depois num pode dar bomba prus minino. 435 INFORMANTE 2: Tem que ir empurrando ês, né? PESQUISADORA: É verdade. INFORMANTE: Tem que passar eles, eu tenho um neto aí, que eu falei pra ele: “Óia, ocê já teve lá em cima.” Agora que vai pro pré, tá com quase 20 ano, ele vem vindo pra trais. Esturdia eu andei brincando com as professora, tem umas que é igual minhas fia, tem muita amizade, óia, ocês me vende um bucado de ponto aí pra 440 mim dá pro J. que ele num tá arranjando não. PESQUISADORA: O que de ponta? INFORMANTE: De ponto. PESQUISADORA: Ah, de ponto. Tá difícil né? INFORMANTE 3: O G., quer ir mais? 445 PESQUISADORA: Podemos ir, já tá bom, conversamos bastante. INFORMANTE 3: O papo tá bão, mas daqui a pouco a gente dorme aqui. INFORMANTE: Já gravou aí? PESQUISADORA: Já, tá aqui, olha. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 33 INFORMANTE: I.B. (Analfabeta, 71 anos, sexo feminino) INFORMANTE 2: M.B. (Alfabetizada, 70 anos, feminino) INFORMANTE 3: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Março/2015 PESQUISADORA: Como chama a dona da mercearia? INFORMANTE: N. PESQUISADORA: N.? Aí a N., tô fazendo uma pesquisa aqui sobre a serra, aí a dona N. me indicou a senhora, o senhor V., e o senhor A., é, só pro senhor contar como é era a vida aqui antigamente, como que vocês viviam. INFORMANTE: Da moda do outro, quando nóis vivia aqui, nóis até era uma vida boa, sabe? Que cada um 5 prantava, tinha suas fazenda, morava nas suas fazenda, aqui o Barreiro era poucas casa, todo mundo trabaiava, num tinha essa ladroagem que tem hoje, que hoje em dia a maió parte é ladrão, maconhero, cachaceiro, e em buteco, trabaiá ês num que não, eu revortada por causa disso, fia, eu tô num ponto de raiva. INFORMANTE 2: Ela quer saber de antigamente, não é agora não. PESQUISADORA: Não, mas num tem importância não. 10 INFORMANTE: Mas vai, você pensa bem, aquele serviço ali, óia, esses dia tudo eu tô em chuva, eu num arrumo minhas coisa nada aí, e ele tem pobrema das vista, pra podê vim arrumá pra mim, a água num tá dexano nem eu durmi. PESQUISADORA: Tava pingando, tava dentro da casa da senhora? INFORMANTE: Não, tá fazendo assim, óia, se eu fica aqui no terrero é a mesma coisa do que eu fica lá dentro de 15 casa. PESQUISADORA: Tendi. INFORMANTE: Eu tinha a minha, meu pai que morava de lá do rio ali, sabe? Ele prantava mio, prantava arroiz, tinha umas vaca, tirava leite, mas nóis buscava as coisa em São Roque. PESQUISADORA: E como que cêis buscava as coisa? 20 INFORMANTE: Era no cargueiro, se a gente ficasse doente, meu pai punha nóis na cabeça do arreio, levava nóis lá na Vargem, chegava na Vargem, pegava o ônibus, e ia pra Piumhi, e aí ficava lá em Piumhi não tem nada, fazia o tratamento, eu tenho todo o pobrema nos braço, óia pra ocê vê. PESQUISADORA: O que a senhora tem? INFORMANTE: É paralisia, naquele tempo num tinha recurso nem nada, num tinha remédio, eu dei a paralisia, 25 meu pai me trouxe aqui pra um senhor vê o que era, e aí ele falô: “Óia, eu num sei o que, mas o senhor vai levá ela pra Piumhi.” Ele me pois eu na cabeça duma rena e levo pra Varge, e chego na Varge e levou, né? Pra Piumhi. Agora, eu fiquei numa vida, aí quando é fé, eles, eu casei, vim pra qui, não, morava lá embaixo numa fazenda lá, e trabaiô até morrê, quando é fé, ele pegou o dinheiro a juro, e deu prum senhor aí, e nóis fico na mão de fora, e quando é fé, ele ficou doente, foi preciso de ir pra Passos pra operá, operô, meu marido, e aí 30 quando é fé, aí num tinha jeito de fica lá mais, nóis veio pra cá nessa casinha, ele retocô ela, mas num diantou, aí agora eu levei ele pro asilo, ele tá lá no asilo. PESQUISADORA: O marido da senhora mora no asilo? INFORMANTE: Tá, tá com 7 meses que nóis levô ele pra lá, mas ele vai fazê 11 ano que ele deu derrame. PESQUISADORA: E ele mora em qual asilo, é aqui, não? Em Piumhi? 35 INFORMANTE: Não, em São Roque, é, e a gente... PESQUISADORA: E a senhora mora sozinha ou tem, aqui tem mais casa, né? INFORMANTE: Tem. PESQUISADORA: Ah, vocês são filhas? INFORMANTE: Mas ela num para tamém não, ela é da escola, ela vai... 40 PESQUISADORA: Ela é professora? INFORMANTE: Ela vai fazê prova vai fazê uma coisa, fazê outra, né? PESQUISADORA: Quem é a professora? INFORMANTE: A de cima, a de baixo é cozinheira lá do grupo, né? Elas num tem tempo, elas é currida, cansada. 45 PESQUISADORA: Não, com certeza, essa vida não é fácil não. INFORMANTE: Não pode cuidar assim de uma coisa, né? E assim foi criando, e agora o rapaiz ele trabaia pra qui e pra li, eu cabo ficano suzinha aqui. PESQUISADORA: A senhora foi nascida e criada aqui ou não? INFORMANTE: Fui, nascida e criei aqui, tô com 71 ano. 50 PESQUISADORA: 71? INFORMANTE: 71 ano.. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 218 PESQUISADORA: A senhora trabalhava aqui? INFORMANTE: Trabaiava, ixe. PESQUISADORA: O que a senhora fazia? 55 INFORMANTE: Eu trabaiava, eu panhava café, eu torrava farinha, eu mais aquea minina ali, óia, nóis morava lá embaixo, ocê sabe aonde que é a ponte do Elmo? PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: É uma ponte do rio ali, nóis trabaiava, morava ali numa fazenda, e virô capoeira hoje em dia do lado de lá. Nóis ia ali buscar... 60 PESQUISADORA: Não, eu faço doutorado na UFMG e eu tô desenvolvendo uma pesquisa aqui da serra, eu fiz no mestrado de Passos, e agora eu expandi pra cá, entendeu? Ah, e aí? INFORMANTE: Aí nóis buscava mandioca e levava, torrava a farinha, ajudava a capina na roça, prantava arroiz, né? Que naquele tempo, num tinha, socava até no pilão pra pode ter pra comê, e meus pais mudaram pra Piumhi, e eu fiquei com as minina pequena, e aí aquela lá de cima, foi pra Piumhi, e a outra foi tamém, e eu falei: “Vai, 65 que ocês vai estudá, pra pode arruma um recurso mió, que a vida daqui uns dia num tem onde ganha o pão, né?” E eu fiquei mais meu marido morano lá embaixo, quando é fé, eu peguei número da conta, e aí quebrei minha perna, e aí foi cumpricano, e aí eu vim pra qui, mas eu vim pra qui, nosso Deus, foi custoso demais tamém, e aí me deu catarata, foi preciso de eu, eu fiqueio, me deu laborintite, eu tomo remédio pra labirintite, eu tomo remédio pra coresterol, que tá muito arto, ixe, eu tô tomano um monte de remédio, onte eu inda passei mal. 70 INFORMANTE 3: A senhora ali falo pra nós da laranja da terra, a laranja da terra é qual? Porque eu, lá pro meu lado eu não conheço essa laranja. INFORMANTE 2: Laranja? INFORMANTE 3: Da terra. INFORMANTE 2: Ixe, hoje em dia eu acho que aqui já até que perdeu a raça, porque ela é ruim. 75 PESQUISADORA: É, porque a moça falou que faz tempo... INFORMANTE 2: É uma doce? INFORMANTE 3: Ah? INFORMANTE 2: E a Ioa, será? PESQUISADORA: Não, não é a Ioa não. 80 INFORMANTE 2: Ah, porque a laranja da terra, lá na minha tia acho que tem dela. INFORMANTE 3: Porque até a senhora ali falou que é bom pra diabete, parece. Porque lá em casa eu tenho pé de laranja, mas aquela da terra é aquela de fazer doce, né? É uma azeda pra diabo, não dá nem pra chupa não. INFORMANTE: Eu tenho laranja, mas não é aquela de bico, tem que ser da de bico, né? PESQUISADORA: Bico? O que é a laranja de bico? 85 INFORMANTE: A laranja ela tem um biquinho, sabe? Ela é boa. INFORMANTE 3: Nós conhece ela lá por lima de bico, diz que é boa pra labirintite, né? INFORMANTE: É igualzinho a laranja de bico, e aí nóis passava ate no rio cheio, dava vorta na ponte pra pode vim pra escola, fico na escola, num feiz nem o 4° ano, porque da moda do outo, num tinha professor, era só uma salinha pequena de escola. 90 INFORMANTE 3: Vou tirar uma foto da senhora com ela aí. PESQUISADORA: Não mas nós podemos conversar, ele gosta de tirar foto, ele é meio japonês, japonês que gosta de tirar foto, né? Ele gosta de tirar foto de tudo. INFORMANTE: Ah não. PESQUISADORA: Não vamos olhar pra ele não, deixa ele. 95 INFORMANTE 3: Não, já foi, acabou. INFORMANTE 2: Não, de nóis aqui não. PESQUISADORA: Não, de vocês não, não, mas olha, depois pra colocar na tese, gente. INFORMANTE 2: Passa perfume. PESQUISADORA: E aí, pode continuar a história. 100 INFORMANTE: Aí saí de casa, e fui pelejano com a vida, e aí tô aí hoje com o braço quebrado, esses parafusos aqui, era 6 parafusos, já tirou 4, fiquei com dois, e um tá vindo até aqui, e eu num tô guentano ele. PESQUISADORA: E aí a senhora vai ter que fazer cirurgia de novo? INFORMANTE: Aí eu tô, vai ter que tirar esses dois, mas eu tô com medo de tirar eles e o braço cair, porque se o braço cair, o médico falou que olha. 105 PESQUISADORA: Amputar. INFORMANTE: E eu num quero, certo? E eu tô com desgaste no jueio, porque caiu, e distroncô, agora até tá bão, num tá inchado, mas meu jueio ficou... óia, pretim inchado, eu fui no médico, cheguei lá, ele falo foi assim: “Não, nóis vai seca a perna da senhora que é mais fácil.” Eu falei: “Não, de jeito nenhum, eu vou curá ela com ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 219 água e sal.” E aí peguei e vim embora, aí ele num quis fazê nada pra mim, não engerçô, não infachô, nem nada, 110 mas hoje tá com 74 dia que eu tô com esse pé desse jeito. PESQUISADORA: Uai, vixe! INFORMANTE: E pra mim andá eu tenho que escorá com um pau, porque se não escorá com o pau não. PESQUISADORA: A senhora não anda. INFORMANTE: Não. 115 PESQUISADORA: Antigamente como que era o transporte aqui, a senhora ia como pra São Roque, pra Vagem Bonita? Ah, aqui é Varge, não aqui é o Barrero, opa, aqui é São Roque, né? Como que a senhora ia pra Vargem Bonita, pra São Roque? INFORMANTE: Naquele tempo? PESQUISADORA: É. 120 INFORMANTE: Aí era a cavalo. PESQUISADORA: Cavalo? INFORMANTE: Cavalo. PESQUISADORA: E transportar mercadoria, a senhora pegou a época de carro de boi ou não? INFORMANTE: Era carro de boi. 125 PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Era, e o carro levava sempre, às vezes levava até difunto pra interrá. PESQUISADORA: E como fazia pra enterrar o difunto aqui quando enterrava, tinha alguma coisa especifica pra carregar, como que era? INFORMANTE: Forrava no... dentro do carro com pano. 130 PESQUISADORA: E punha e levava. INFORMANTE: É, e depois de lá me punha na urna, outros punha no saco, aqui memo têm muitos que foi interrado dentro dum saco. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: É. 135 PESQUISADORA: E como é que era, se ficava doente aqui fazia o que? Tinha médico, tinha parteira, como é que funcionava pra criança nascer, se ficava doente, como é que fazia? INFORMANTE: Não, pra criança nascer aqui, buscava uma dona aí de uma casa, chibava sozinha. PESQUISADORA: Chibava sozinha? INFORMANTE: Oia, ganhei todas essas duas, e o rapaiz, foi suzinha, suzinha aqui, óia, 25 de dezembro eu tava 140 lá rolando de dor, e chuva quando Deus dava, quando é fé eu cheguei a ganhá ela com o clareado do dia, e ainda puis o nome nela de I. N. PESQUISADORA: Eu chamo G. A., o meu A. é porque eu nasci dia 9 de outubro, eu sou perto da Nossa Senhora. Né? E aí, pode contar. INFORMANTE: Aquela lá também é dia 16 de outubro. 145 PESQUISADORA: Eu sou do dia 9 de outubro. INFORMANTE: E eu sou do dia 7 de setembro. PESQUISADORA: Oh, a senhora é no dia do feriado, todo ano é feriado no aniversário da senhora. INFORMANTE 2: É uma data especial, eu sou natal, ela é dia do professor. INFORMANTE: É, é engraçado, né? Mas a gente vai chegando os fim da vida, não vê quanto faiz, esses cantor 150 aí... PESQUISADORA: Né? Morreu o Z. B., né? I. B. Não, mas a senhora tá bem, tá com 71 anos, tem esse probleminha aí, mas o médico dá um jeito né? Hoje a medicina tá boa. INFORMANTE: Não, tá boa não. PESQUISADORA: Tá não? 155 INFORMANTE: Ixe, me dá crise de novo, a labirintite ataca. PESQUISADORA: A minha mãe também tem labirintite, quando ela tem essas crises de nervo, ataca também. INFORMANTE: Eu caí na mesma hora, é perigoso eu quebrar o outro braço, quebrar uma perna, é desse jeito, fui ficando numa situação que só Deus. PESQUISADORA: Não , mas tem que rezar. 160 INFORMANTE: Igual eles viu que eu tava nervosa, porque eu num tava guentano, porque de noite, eu tinha que levanta pra cá. PESQUISADORA: Porque tava caindo tudo dentro da casa? INFORMANTE: E vai tirando, mas era bom, o rio conservava cheio, tinha dia que meu avô ele passava com as latas de leite de cavalo, tinha um cavalão grande de nadá com as lata de leite, e as lata de leite até saía pra cima 165 assim do arreio, e eles ia segurando elas, ele tinha uma moda de falar assim, como lá diz, hoje eu inda passei. E ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 220 trazia o leite, que ele morava aqui embaixo no, e fazia quejo, e punha dentro do carro, levava pra São Roque, trocava o gado, mas num era. PESQUISADORA: Ah, tendi. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 34 INFORMANTE: J.R. (101 anos, Analfabeto, sexo masculino) INFORMANTE 2: J.B. (Alfabetizado, 75 anos, sexo masculino) INFORMANTE 3: M.R. (Alfabetizada, 73 anos, sexo feminino) INFORMANTE 4: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Março/2015 PESQUISADORA: O senhor não quer sentar de cá? INFORMANTE 2: Não, ele gosta dessa cadeira. PESQUISADORA: É? Ele gosta dessa cadeira? INFORMANTE 2: É, essa cadeira é dele, ele senta aí e fica o dia inteiro. PESQUISADORA: Olha, eu já fiquei com medo do senhor escorregar, quantos anos o senhor tem? 5 INFORMANTE: É 101. PESQUISADORA: Mesmo? O senhor tem 101 ano? INFORMANTE 2: 14, 1914. INFORMANTE: Quantos dias tem do mês de março? INFORMANTE 2: Hoje? Hoje é 14. 10 INFORMANTE: Dia 17. PESQUISADORA: O senhor vai fazer 101 anos? INFORMANTE: Dia 17 vou interá os 101. PESQUISADORA: O senhor é a pessoa mais velha que eu já conversei. Eu tô fazendo uma pesquisa aqui da Serra da Canastra, aí eu fui lá no Barrero, e aí eles falaram pra eu vim aqui conversar com o senhor, que o senhor 15 conhece muita história daqui da região, aí o senhor podia contar umas pra nós, eu vou fazer um livro. INFORMANTE: Então, eu fui nascido e criado aí no São Roque de Minas, vim pra Vargem Bonita não tinha nem um rancho quando eu vim pra cá, mas eu já era camarada de uns fazendeiro ali, já punha gado berano a Vale Bunita ali, eu vinha busca vaca ali, mas dispois eu casei e vim mora na Capivara ali. PESQUISADORA: Capivara é um lugar que tem? 20 INFORMANTE: É um lugarzinho que tem, e aí fizemo a primera picada na Vargem Bunita, num tinha nem um rancho. PESQUISADORA: Mas também há 100 anos. INFORMANTE 2: Não, 100 não, deve ser a 80 anos atrás. INFORMANTE: É. 25 PESQUISADORA: Ah, e aí? Aí vocês fizeram o primeiro rancho? INFORMANTE: Pois é, aí eu e mais o Z. A. abrimo as primera picada porque o J. F. que era dono lá, ele num queria garimpo, pegaro a, achava uns chibiuzinhos pro lá, e o Joaquim Ferrera falo: “Oh, eu num quero garimpero aqui.” Aí o Z. A. pega, e compro dele, e eu era concunhado do Z. P., do Z. A., né? Aí o Z. A. falou: “Vamô abri garimpo.” Ah, aquilo ali deu diamante até num querê mais, só eu tirei umas 3 ou 4 mancha lá, 30 pequena, mas eu puis o meu pai pra trabaiá lá no começo, eu morano na Capivara, dispois eu mandei fazer uma casinha lá embaixo, é que mudei pra lá, morei lá 12 anos, aí no fim eu comprei um pedacinho de terra lá, e fui lá, os garimpeiros foi assim, deu costelão, acabou o cascaio, o garimpero foi embora, e o terreno, tinha cabado de compra o terreno, e aí fui pra lá, oiei, oiei, tinha um cavucozinho assim, que ês largaro lá, e eu fui lá e cavuquei assim, e estava caindo traveis. 35 PESQUISADORA: O que tava caindo? INFORMANTE: Eu falei: “Óia, se cair e der cascaio aqui, vai ser rico.” PESQUISADORA: O que tava caino? INFORMANTE: Eu já tava morano na Varge, né? Aí ranjemo um cisternero, e falei: “Então pra caba de vê isso, justei os cisternero pra abri uma cisterna lá.” Foi em riba de uma mancha, foi em riba de uma mancha, mas 40 vai dá diamante pra lá, e aí eles me robaro diamante, e foi o ó, num lavaro, num juntava tudo, né? Aquilo, nunca vi tanto diamante daquele jeito, e aí tocou 30 mil pra mim, naquele tempo era merréis, dinhero tava valeno, eu falei: “Óia, eu num sô garimpero mais não, vô compra uma terra.” E aí esse rapaiz tava quereno vendê aqui, e eu vim pra aqui. PESQUISADORA: E aí o senhor comprou aqui? 45 INFORMANTE: Comprei, é dos menino do R. B., ele, esse R. B. era dono dessa região aqui até na Babilônia, num pisava nas terra de ninguém, 1700 alqueires de terra que ele pussuiu, esse R. B., e aí repartiu com os fio, esse minino é, a parte que tocou pra ele, foi a que ele me vendeu... o meu pra vende, e acabei comprano, mas aí abandonei garimpo. PESQUISADORA: E aí o senhor veio pra cá, e aqui o senhor tinha lavora, o que o senhor fazia? 50 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 222 INFORMANTE: Eu vi muito, teve muito colega lá que tiro mancha mió do que a minha, e acabou, acabou os copo tamém, botaro tudo fora. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Mas eu já tinha comprado as terra, né? PESQUISADORA: O senhor investiu dinhero, né? 55 INFORMANTE: Deu uma obrigação ao garimpo, se não eu num tinha comprado aqui não. PESQUISADORA: Hoje em dia ainda tem, hoje em dia tem ainda diamante aqui na serra, num tem? INFORMANTE: Gente, geralmente aí. PESQUISADORA: É, porque eu já ouvi histórias que tem duas grandes aqui ainda. INFORMANTE: É, mas a esse povo num, fechô o garimpo, num pode garimpa mais, né? 60 PESQUISADORA: Num pode, né? Por causa do parque, né? Aí eles num deixam fazer nada? INFORMANTE: Num deixa, e até pra nóis mexê com fazenda aqui, tá custoso. PESQUISADORA: Por que? INFORMANTE: Esse povo é enjoado demais. PESQUISADORA: Eles não deixam? 65 INFORMANTE: Não pode fazer nada, tudo tem que ter um cabresto danado, eles me processaro, porque eu cortei uma madera no que é meu, porque eu tenho um, comprei um chapadão aí e tinha muita madera, muita candeia, né? E eu usava tira a madera lá pra descer pra cá, pra fazê cerca, essas coisa, e o rapaz foi lá, viu a madera cortada, aonde eu cortei a madera, conto pra turma lá, eles num foro lá óia não, me processô. PESQUISADORA: Aí o senhor teve que pagar uma multa? 70 INFORMANTE: Processo, murta, e um ano é, por causa da minha idade num pudia ir pra cadeia, tinha que cumparecê lá todo meis. PESQUISADORA: O senhor tinha que ir lá? INFORMANTE: Tinha que ir lá assinar por conta do que é meu. PESQUISADORA: Ah, esse povo, eles são enjoados mesmo, né? 75 INFORMANTE: Ah. PESQUISADORA: Fica vigiando e não faz nada pro povo daqui, né? INFORMANTE: É, e agora cabo, venceu o prazo. PESQUISADORA: E o senhor não precisa ir lá mais não agora? INFORMANTE: É, aí agora não pode cortar mais madeira, né? Lá tem o mato e mais madera demais lá. 80 PESQUISADORA: Mas num pode cortar? INFORMANTE: Não pode cortar. PESQUISADORA: Senhor R., o senhor lembra de história de quando o senhor era pequeno, quando o senhor era criança, como que o senhor vivia, se o senhor quiser contar, pode contar. INFORMANTE: Ah, eu fui aluno de escola em São Roque de Minas, nóis tinha uns 30 aluno, não tem nenhum 85 mais, num tem nenhum mais. PESQUISADORA: Nenhum, dos 30 sobrou o senhor? INFORMANTE: Há pouco tempo tinha um lá, eu falei: “Óia rapaiz, farta só ocê, em.” E ele foi tamém, e J. R. tá aí. PESQUISADORA: J. R. tá firme, mas o senhor tá muito bão. 90 INFORMANTE: Louvado seja Deus, né? Não sinto nada, tenho só idade, mas eu ainda trabaio, acho bão o serviço, muita prática pra trabaia, porque eu nasci pra começar, a minha mãe chamava M. J., um fazendeiro muito grande aí na Varge Bunita, e falo: “Ocê que me arranjá um minino aí pra candiá boi lá na minha fazenda.” Ela falô: “Ranjo.” Eu já tava rapaizinho, né? Aí ele, pra candiá boi, só servia pra candiá boi nessa época, né? E aí fui pra lá nessa fazenda desse fazendeiro, né? Bons conserto, é, eu mandei os carrero foi embora, eu tomei 95 conta da vara de ferrão, ele tinha olaria, tinha... PESQUISADORA: O que era vara de ferrão? INFORMANTE: Torrefação de farinha de mandioca, aí eu fui, eu fui manobrano eles tudo e depois pegô e vendeu a fazenda, e casô a segunda veiz, criano nova famía, e mudou pra São Geraldo, pra lá de Campos Artos, dá três légua, e aí mudô pra lá, e levô as moça que, das moça ajudava lá no curral, laçava as vaca, o J. R., vai pra 100 lá procê laçar as vaca pra êas, e eu ia e laçava as vaca. Eu enfrentava tudo quanto era serviço dessa fazenda, quando ês foro embora, eu fui trabaiá pros outro, mas sabeno fazê de tudo, no machado nunca achei pra cortá mais do que eu, eu cortava e passava a corrente e levava pra queimá tijolo, queimá teia pra olaria. PESQUISADORA: O senhor também fazia isso? INFORMANTE: É, fazia isso tudo. 105 PESQUISADORA: Oi, tudo bem? A senhora é filha dele? INFORMANTE: Essa é minha fia. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 223 PESQUISADORA: Que benção, hein, 101 anos vai fazer. INFORMANTE 3: Tem só idade de vida, né? PESQUISADORA: Eu nunca, assim, eu faço um trabalho, eu tô pesquisando a serra da Canastra, eu vou fazer um 110 livro depois com as histórias daqui e tudo mais, nunca conversei com alguém que tivesse mais de 100 anos, nem 100, 80, 80 e poucos, e ele tá muito bem. INFORMANTE 3: Tá bem, graças a Deus, esses dias tá doentinho, resfriado, mas, perdeu um ouvido, de um ouvido ele não ouve mais, sabe? Mas ele graças a Deus... INFORMANTE: Mas a minha vida dá pra escrever um livro. 115 PESQUISADORA: Isso, eu quero escrever um livro, justamente. INFORMANTE 3: É trabalho de faculdade? PESQUISADORA: É, eu tô fazendo doutorado, e aí. Mas o senhor tem, me contar mais história então, porque eu vou ter que escrever um livro e o senhor vai me ajudar. INFORMANTE 3: Pai, o senhor não pode falar dos outros, viu? 120 PESQUISADORA: Não, pode falar também, só que eu não vou por depois no livro não, as partes dos outros não. Aqui tem histórias, lenda aqui na região? INFORMANTE: Hein? PESQUISADORA: Tem lenda aqui da região, história de assombração? INFORMANTE 3: Ele nem sabe o que é isso. 125 PESQUISADORA: Não? Como que eu pergunto pra ele? Causo? Tem alguns causos aqui da região, que o senhor conhece? História? INFORMANTE 3: História papai, história inventada que o povo inventa? PESQUISADORA: É, história inventada que o povo conta daqui. INFORMANTE: É, esse R. B. vendeu as, os fio deles vendeu as fazenda tudo aqui em roda, só ficou a minha aí. 130 PESQUISADORA: Só ficou? Aqui tem história de assombração pela região ou não? INFORMANTE: Tem. PESQUISADORA: O senhor conhece alguma? INFORMANTE: Aqui eu acho que é a, tinha um home aqui da região, em São José do Barrero, tinha um home aí, num me lembro bem o nome não, mais aqui era, não sei se era Casca D’anta, tem a cachoeira aqui, que é muito 135 perto daqui. PESQUISADORA: É, a Casca Danta, né? Aqui tem a história da zagaia, não tem, da fazenda? INFORMANTE: Tinha. PESQUISADORA: O senhor conhece a história? INFORMANTE: Conheço. 140 PESQUISADORA: O senhor sabe me contar? INFORMANTE: Ah não, tinha, o sujeito rico queria arranjá dinhero, né? Fazia a zagaia lá, o boiadero ia dormi lá, e de noite ele desarmava aquilo em riba do camarada, né? A zagaia. PESQUISADORA: Aí ele morria? INFORMANTE: Morria, o camarada, e não descobre. 145 PESQUISADORA: E como que acabou a história, porque descobriram, né? INFORMANTE: Descobriram demais, mais naquele tempo a coisa corria fácil, né? Eu num largava de um 38 nem pra comê doce. PESQUISADORA: Mesmo? INFORMANTE: É, um 38 era na cintura, mas hoje não pode nem ter. 150 PESQUISADORA: Não, não pode, hoje num pode nada, né? INFORMANTE: Não pode nem te. PESQUISADORA: Porque tem que ter registro hoje em dia, né? INFORMANTE: É, mas eu graças a Deus nunca matei ninguém não, mas dedo no pinguelo pra matá, tive umas par de veiz, e não pricisou, louvado seja Deus, né? 155 PESQUISADORA: Amém. INFORMANTE: Passou, né? Louvado seja Deus, eu não devo nesse, mas eu sufri muito, e o camarada pra ganha 90 cruzeiro por meis nessas fazenda aí, eu tirava leite de 30, 40 vaca, era, não fazia quejo não, era desnatadera, desnatava leite, e vindia o creme pra ir pra São Roque pra ês fabrica a mantega, né? Nessa época, o meu pai foi, foi aprendeu a fumá com os escravo ainda, e eu cheguei a conhece treis escravo que sobro, houve a forria, no 160 meu tempo ainda, que eu já tinha nascido, então esses escravo sobrô, eles era carapina, criolo muito ajeitado, mas num era escravo mais não, cunheci treis, ensinou meu pai a fumá, ês tinha aquela satisfação de fazer um pitinho pro meu pai pitá. Vamos pra lá. PESQUISADORA: Não, vamo fica aqui uai, vamos ficar nós dois, ou o senhor quer ir pra lá? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 224 INFORMANTE 3: Então vamos, mas olha, o senhor passa por dentro. 165 PESQUISADORA: Vamos por aqui nós dois, vamos pra cá, olha. INFORMANTE 3: Ele não pode panhar vento, com pneumonia nessa idade eu tenho medo. PESQUISADORA: Você tem razão. Qual é seu nome mesmo? INFORMANTE 3: D. PESQUISADORA: D., vocês são quantos filhos? 170 INFORMANTE 3: Eu e um que mora em Brasília, só dois. A família dele é tudo de 15, 16, ele só tem dois. PESQUISADORA: Olha, mas aqui, olha, o senhor tem computador, olha que beleza, funciona internet aqui? INFORMANTE 3: Funciona. PESQUISADORA: Muito bom, o senhor tá muito moderno, com essa internet, só funciona internet, né? O seu telefone não funciona? 175 INFORMANTE 3: É, é tudo ligado na internet, né? Nós tínhamos aquele outro fixo, mas estava dando problema, com essas tempestades. INFORMANTE: Aqui, tem só esse rapaz aqui, e essa, essa, tenho só dois filhos. INFORMANTE 3: Ele é deficiente físico, não anda, sabe? Ele casou. PESQUISADORA: Oi? 180 INFORMANTE 4: Vamos ali pra vocês tirar foto vocês dois, vou ali tirar foto. PESQUISADORA: Depois a gente tira, tá. INFORMANTE 3: Essa aqui é minha filha. PESQUISADORA: Eu tenho a sensação que conheço sua filha de algum lugar, mas. INFORMANTE 3: Ela é professora de biologia em Ribeirão. Esse é o casamento dela, esse é minha netinha que 185 morreu de câncer o ano passado. PESQUISADORA: Nossa, era filha deles? INFORMANTE 3: Essa é fia deles, ela ia fazer 10 anos agora. PESQUISADORA: Ela teve câncer? INFORMANTE 3: A menininha nasceu já com problema no cerebelo, sabe? Ishi, nós envelhecemos uns 10 anos 190 por causa desse menina aí. PESQUISADORA: Essa menina aí é quem? INFORMANTE 3: Essa é minha afilhada, é dentista, é o P. PESQUISADORA: Aqui. Oi, tudo bom? Prazer, G., tudo bem? O senhor quer ir pra lá? Aonde o senhor quer sentar? O senhor quer ir pra lá? 195 INFORMANTE: Vai passear aí, depois... PESQUISADORA: Não, mas eu quero conversar com o senhor eu vim aqui foi por causa do senhor, não que o resto não me interesse, mas eu vim aqui por causa do senhor. INFORMANTE: Tô as sus ordens. PESQUISADORA: Ele desce aí? Então vamos sentar lá na sala. 200 INFORMANTE 3: Pai, vem cá. PESQUISADORA: Acho que ele quer que eu sente aqui. INFORMANTE 3: Ah, pode ficar. PESQUISADORA: Vou sentar aqui então, o senhor senta aí que eu sento aqui. O senhor pode continuar contando história pra mim, que eu vim aqui pra isso. 205 INFORMANTE: As história aqui é esses criolo é, trabaiava nessas fazenda aqui, e puxo, esse rego d’água meu aí, punha tanto d’água que quisesse, aqui na porta, sabe? Mais os criolo, o dono morava lá nos C., e pois os escravo pra tabaiá aqui pra fazê, nem ferramenta dereito eles num tinha pra fazê, puxou, fizero um rego d’água aqui, já, é, na fazenda em antes do, dela ser pros R.B., cumpadi R. B. então comprou aqui, mas já tava pronto, o rego d’água já tava pronto, tinha sido dos escravos, a fazenda era bruta, ele saía lá do bode, e ia no retiro do J. 210 D. aqui na Babilônia, sem pisar na terra de ninguém. PESQUISADORA: Ele tinha muita terra então. INFORMANTE: 1730 alqueires de terra, ele chegou a possuir, de forma a ter aqui era deles, não tem nenhum mais. PESQUISADORA: Nenhum, mas com 101 só o senhor aqui. 215 INFORMANTE: Não tem nenhum mais. PESQUISADORA: Só o senhor, aí eu vim no lugar certo pra conta história. INFORMANTE: Agora os meus irmãos não pode conta nada porque não sobro nenhum. Eu tinha 6 irmão, não tenho nenhum mais, 6 irmão. PESQUISADORA: O senhor era o mais velho, não? 220 INFORMANTE: Hein? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 225 PESQUISADORA: O senhor era o mais velhos dos irmãos? INFORMANTE: Não, não era o mais velho, o mais velho casou e foi embora pro Paraná com a famia dele pro Paraná, então eu tava arrumano pra ir passear lá, eu soube noticia que ele morreu, e aí eu num fui. PESQUISADORA: E aí o senhor não foi mais. 225 INFORMANTE: Não fiquei conheceno o que ele arrumou lá no Paraná de jeito nenhum, mas ele era o mais veio, agora o meu, eu era o segundo, os outro já morreu tudo, minha mãe criô dois, eu e um casal, né? Eu e uma mocinha, né? PESQUISADORA: O senhor era gêmeo? INFORMANTE: Gêmeo. 230 PESQUISADORA: Eu também sou, eu tenho um irmão gêmeo, eu também sou, lá em casa somos dois. INFORMANTE: E aí minha irmã criou muito fio aí, né? Mas já morreu há muito tempo também, e ficou eu. PESQUISADORA: Graças a Deus, né? Como que o senhor fazia aqui antigamente, como era o meio que o senhor, era o meio de transporte, andava pra lá e pra cá como? INFORMANTE: Ah, eu é, fui peão de mansar burro, animar, quando eles falava assim: “Tem um animal é, 235 manhoso.” Eu ia lá e comprava ele, e montava, e consertava aquilo, ganhava dinheiro era assim, mansava burro, mansava e acetava animal de boca, animal que eu andava todo mundo gostava. PESQUISADORA: O que é um animal de boca? INFORMANTE: É, animal de boca é porque o peão não sabe ajeitar, ele é que manobra, eu não deixava o animal me manobrar não, eu que manobrava ele. 240 PESQUISADORA: Tá certo. Eu não sirvo, o animal que me manobra toda vez. INFORMANTE: Pois é é isso mesmo que aconticia comigo, né? Fiz eles tudo, fui pião, fui, pra trabaia, pra mexe cum fazenda eu fui número um, mixia sem mexer, sem trabaia, sem fazê. PESQUISADORA: Antigamente o que vocês comiam assim, tinha muita planta no pasto? INFORMANTE: É, aqui era muito monteiro, né? Agora que tá formando, isso aqui num era muito formado não, 245 era campo natural, né? Agora esse rapaiz, o marido dessa, é alfaiate, nois mudou pra cá, e ele é muito inteligente, ele agora, e eu adoei 300 alqueires de terra pra ês, pros dois fios que eu tenho, 300 alqueires, chapadão e aqui, aqui é 200 hectares, e lá é, lá no chapadão é 155 hectare. PESQUISADORA: Vixe, é muito. INFORMANTE: É uma légua, uma légua de chapadão. É aonde eu cortava madera que ês me processo, num me 250 levo pra cadeia por causa da idade, né? Se não tinha ido pra cadeia, por conta do que é meu. Mas é lei, né? O que vai fazer, né? E ia todo meis lá, pudesse ou num pudesse, tinha que ir lá. PESQUISADORA: E tinha uma data marcada? INFORMANTE: Assinar, porque num pudiam me por na cadeia, né? PESQUISADORA: O senhor tinha que pelo menos assinar, né? 255 INFORMANTE: Foi. PESQUISADORA: E essa semana é aniversário do senhor então, o senhor vai fazer 101 anos? INFORMANTE: Agora eu tenho uma vidinha boa aí, porque eu doei as terra, eu tava guardano uns cobre pra fazê a dentadura nova, é, essa murta que eles me pusero, foi lá, e sustô o dinhero no banco, eu num tiro, eles tamém num tiro não, mas... 260 PESQUISADORA: Mas o senhor não pode mexer? INFORMANTE: Não posso mexê, de forma que agora eu num posso por, eu tenho dinhero eu ponho no nome da minha fia, porque no meu nome num pode por não, porque eles recebe a murta a força. PESQUISADORA: Nossa, mas isso num podia não, uai, isso é absurdo. INFORMANTE: Tá desse jeito, aí é assim que aconteceu comigo, eles sustou o dinheiro, esses dois mile tá pra lá, 265 eu não posso tira ele, eles tamém acho que num tira por enquanto não, já reparei, é protocolo do banco, né? Eu num sei, dispois eu preciso por um advogado pra vê como é que fica isso. PESQUISADORA: É, porque se não, uai. INFORMANTE: Essa murta de veiz em quando eles vem, e fala que tem juro caro eu falo: “Que juro caro, eu num devo isso.” Ainda quer cobra juros. 270 PESQUISADORA: Eles são terríveis, é por causa do parque, né? Da... INFORMANTE: É, agora eu num paguei, eu num paguei, e enquanto eu vive eu num pago não. PESQUISADORA: Tá certo. INFORMANTE: Não pago não. PESQUISADORA: Tá certo. 275 INFORMANTE: Não devo. PESQUISADORA: Era do senhor, né? INFORMANTE: Eu não conheço essa dívida. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 226 PESQUISADORA: Tá certim, eu não sei, não devo, era meu, o que vocês tão falando que eu devo, né não? Era do senhor, o senhor podia ter feito, uai. 280 INFORMANTE: Eu vendi as propriedade que eu tinha na lavagem, e eu fui, lá eu comprei terra, comecei a compra fazenda lá, meu tio, eu comprei uma fazenda dele e paguei, ele foi lá pergunta se eu tava sastisfeito, e eu tinha pegado um diamante muito bom, o dinheiro tava guardado lá pra compra um pedaço de terra, ele, aí falei cá patroa, ele veio aqui sabe se nóis tá sastisfeito, é porque ele quer receber, vai lá, tira esse dinhero, e entrega pra ele. Entregou o dinheiro, o que ele feiz, chego lá, a muié dele era minha tia ligitima, pois ela é minha inimiga pra 285 nunca mais ela num assina a escritura das terra. PESQUISADORA: Aí o senhor pagou e ele num assinou? INFORMANTE: Aí eu falei: “Não, trabaiava com a, uns garrote dele porque ele era muito rico, eu peguei os boi pra puxar cascaio lá, trabaiava os boi aí com os boi dele, dia de sábado, eu ia pra lá, levava a metade dos cobre pra ele, eu punha cascaio na bera d’água, era dois e quinhentos por carreta de cascaio, né? E tinha dia de eu por 290 22 carreta. Aí era dois e quinhentos cada uma, dia de sábado eu ia pra lá leva os cobre pra ele, a metade, por causa dos boi, a carreta era minha, aí eu falei: “O que eu quero faze com fazenda sem escritura.” Acabei ficano com os boizinho dele, pra não perde os cobre que já tinha pago, não dava pra perde não, mais os boi era caro na época, né? Mas eu falei: “Vai lá, larga isso pra lá.” PESQUISADORA: Mas aí não assinou? 295 INFORMANTE: Minha tia, nois te põe na cadeia, e acontece, e eu falei: “Me põe na cadeia porque? Vocês num tem motivo.” PESQUISADORA: Uai, o senhor que tinha que por eles, venderam e não passaram a escritura. INFORMANTE: Sabe, se a senhora não assina, e falou: “Não assino, e não assino, eu não preciso de advogado pra isso não, sem escritura eu não tenho terra, não quero a terra, não preciso disso.” Vou compra a fazenda fora, 300 como comprei mesmo, comprei, mas eles já morrero tudo, já acabou essa cambuia também. PESQUISADORA: Olha, muito ruim vender e não passar a escritura. INFORMANTE: É, mas a minha vida foi, rapaz, eles falava que lá em São Paulo era bão pra ganhar dinhero, eu arranjei um rapaiz aqui muito trabaiadô junto comigo nas fazenda, nóis era tiradô de leite, fazendeiro aí, pertim da Vargem Bonita ali, eu falei: “Vamo trabaia lá em São Paulo?” Levei esse rapaiz, ele foi junto comigo. 305 Chegou lá, ao invés de nóis ir trabaiá pra um fazendeiro, fomo trabaiá pra um empreiteiro, esse empreiteiro não tinha nada que chegasse pra ele, ele num... comprei uma inchada boa, nóis dois pegava rua de café, saía em cima, ele mandava ajudá pra baixo também, e aí o rapaz me mostrou a mão, nóis com a mão fina de tira leite, né? Eu cheguei e troquei a inchada com o baiano lá, e peguei a inchada dele que era cabo lisinho, sabe? Ele pois um cabo ruim na inchada que ele comprô, estragô a mão dele, ele me mostrou a mão, eu falei: “Rapaiz, nóis num 310 tem jeito de fica aqui não, vamo embora?” Ele falo: “Rapaiz, eu num posso ir, eu num tenho dinheiro pra vortá.” Eu falei: “Ocê num tem, mas eu tenho.” Vamos embora, aí meu revolver tava enfiado num pé de café assim, eu falei: “Óia rapaiz, se ocê.” Nóis tamos quereno ir embora, ele falou: “Então eu num pago, porque ocês num feiz meis, tem que faze meis ainda pra nóis pode pagar ocêis.” Eu falei: “Não, se ocê pagar muito bem, se não pagar eu vou embora assim mesmo.” Eu tinha uns cobrinho no borso, e o rapaz, o rapaz eu levo ele pra trás traveis, 315 porque ele estragô as mão, num pode trabaiá mais não, num tem jeito, e aí ele indo embora, e aí ele ficô com medo por causa deu ir pegar o revolver lá na, quando, ele acerto e pagou, né? PESQUISADORA: Ah, que beleza, aí ele pagou tudo? INFORMANTE: Muntei no cavalinho, e fui embora, Deus me livre trabaiá em São Paulo, Deus me livre, aqui nóis era tratado como fio da casa... 320 PESQUISADORA: Lá não, né? INFORMANTE: A minha patroa me queria bem, e o, se eu saísse de noite ela punha peso na janela da minha cama pra mim vortá, porque a casa tava aberta, e me zelava como fio, eu falei: “Ah, não dá não.” PESQUISADORA: Não dava pra fica não. INFORMANTE: Mas era 90 cruzeiro por meis. E eu é que ganhava 90, os outro tinha camarada até de 30. 325 PESQUISADORA: Nossa. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 35 INFORMANTE: J.R. (83 anos, Analfabeto, sexo feminino) INFORMANTE 2: B.R. (Alfabetizado, 70 anos, sexo masculino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Março/2015 PESQUISADORA: Lá em São João, não? INFORMANTE: Aqui na Canastra, aqui. PESQUISADORA: Na Canastra no Parque? Aonde a senhora nasceu? INFORMANTE: Perto de São Francisco, perto da Casca Grande. PESQUISADORA: Lá do Barrero? 5 INFORMANTE: É, do Barrero. PESQUISADORA: E a senhora morou quantos anos lá? INFORMANTE: Lá eu fui criada lá, saí de lá pra casar. PESQUISADORA: Ah, e aí veio pra cá, pra São Roque? INFORMANTE: É. 10 PESQUISADORA: E aqui a senhora casou e ficou? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: A senhora chegou aqui era cidade pequena, como era? INFORMANTE: Não tinha cidade não, era as, quase só de capim, aqui era mais era capim, tinha pouca casa. PESQUISADORA: Era o que? 15 INFORMANTE: Eles falavam arraiá, né? PESQUISADORA: Arraiá. INFORMANTE: Arraiá de São Roque. PESQUISADORA: Ah, tem o... INFORMANTE 2: Lá naquele lastro lá, primeiro, lá naquela, que a gente falava capela véia. 20 PESQUISADORA: Capela véia? INFORMANTE: É, e depois, ali naquele arto lá, aonde tem aquela casinha lá, lá que era cidade. PESQUISADORA: Ah é? Pra mim ela sempre foi aqui, uai. INFORMANTE: Não, ela foi pra lá, e aí lá a água era pouquinha, e aí o bisavô do Divino pegou e deu esse quarteirão tudo aqui pra fazer a cidade aqui. E aí aumentou, e tá aumentando até hoje. 25 PESQUISADORA: E hoje São Roque tem quantos habitantes? INFORMANTE: É, aqui, se contar aqui, o povo quando tava mais véio era uma lenda que... PESQUISADORA: Ótimo, gosto de lenda. INFORMANTE: Era assim, o pai do, o vô, o bisavô do Divino comprou uma negrinha lá de escrava, sabe? E essa negrinha pegou e sumiu, e aí era mato aqui, era tudo mato, não tinha ninguém, era mato, só mato, e aí vai indo, 30 ele fez um voto que se a negrinha aparecesse, que ele ia dá aqui pra São Roque, sabe? Aí quando foi, passou no outro dia cedo, a neguinha chegou lá com o pezinho tudo sujo de barro, e aí ele pegou e deu aqui pra São Roque, e aí deu cá, era a capela véia, e aí ele deu de cá, e aí foi aumentano, né? E aí cresceu a cidade, e aí São Roque eles falava, ês pego e trouxe São Roque pra cá, ês falava, mas a gente num pode acredita, purque é santo de madera, né? Que ainda tem ele até hoje. 35 PESQUISADORA: E é o São Francisco, não? INFORMANTE: Não, São Roque. Aí era uma igrejinha piqueninha que ês feiz lá na praça memo. PESQUISADORA: Sei, aquela praça ali debaixo? INFORMANTE: É, aquea pracinha de baxo, a igrejinha pequena, e aí ês levava o São Roque, trouxeram São Roque pra cá, e quando foi noutro dia, ele manheceu lá na capela véia, e aí ês duas três veiz ês trouxeram de três 40 veiz e foi, e aí vei um, benzeu, e aí ele fico quieto aqui, eles falava que era gente que carregava ele de noite, mas a chave ficava, a igreja ficava tudo trancada. PESQUISADORA: Tudo trancado, e a igreja amanhecia em outro lugar. INFORMANTE: É, lá em cima. PESQUISADORA: São Roque não tava gostano da casa nova dele, não, ele queria era volta era pra velha, não era 45 não? INFORMANTE: Ele queria vortá era pra véia. PESQUISADORA: E aqui tem mais história desse tipo que a senhora contou? INFORMANTE: Ah, tem mais, tem mais não. PESQUISADORA: Nenhuma? O que o senhor Divino trabalhava antigamente, a senhora? 50 INFORMANTE: Ah, aqui era de oportunidade, era tudo trabaiado na mão. O Divino trabaiava era na marcenaria, serrava era tudo na mão, fazia tudo, serrava madera na mão, fazia tudo na mão. PESQUISADORA: E quantos anos a senhora tem? INFORMANTE: Eu tô com 83. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 228 PESQUISADORA: E o senhor Divino? 55 INFORMANTE: Ele tá com 85. PESQUISADORA: Ah. 85. Vocês pegaram a época de carro de boi ou não? INFORMANTE: Ishi, demais. Aqui ês ia buscá mantimento no Bambuí, e no Piumhi era no carro de boi. PESQUISADORA: E levava quantos dias? INFORMANTE: Levava n Piumhi levava dois, né? No Bambuí era três. 60 PESQUISADORA: E o que eles ia buscá? INFORMANTE 2: Touca, querosene, não tinha nada. PESQUISADORA: Eles ia buscá isso tudo em Piumhi e Bambuí? INFORMANTE: É, é, ês dormia nos caminho, sabe? Tinha os ponto dês dormi PESQUISADORA: E aí depois voltava, ia compra. Aqui tem uma história famosa, né? Duma fazenda? 65 INFORMANTE: É, e aqui tem um, na fazenda do, do Luciano tem aonde, como é que chama, Divino, a Zagaia. PESQUISADORA: Zagaia. INFORMANTE: A zagaia você já sabe, né? PESQUISADORA: Eu já ouvi falar mais ou menos. INFORMANTE: Zagaia ... eles, que tinha, os fazendeiros de antigamente, e tinha. 70 INFORMANTE 2: O chefão Cândido Lourenço, era pra lá, pro Chapadão, mandava lá, 4 5 mil bolhas, e aí vinha gente, boiadeiro comprar boi, essas coisas, gado, primeiramente ele agarrou, a zagaia porque meu avô veio da Itália em 1842, meu avô veio, veio pra Santa Rita de Cássia ele casou lá com Maria Valeriana de Jesus, foi construir tudo, chegou lá, isso vai me falar que veio, lá na Itália ele era coronel lá, veio tudo pra cá, né? Porque não sei o que arrumaram pra lá, e aí foi lá e contratou ele, e mandou pra cá, vinha boiadeiro e comprava os boi 75 dele, matava os boiadeiro, e pegava, e trazia as boiada pra cá, e entregava pro Cândido Lourenço, ainda tem ainda. PESQUISADORA: Tem ainda o que era dono da fazenda? INFORMANTE 2: Tem uns, não, é assim, ( ). Aí é, agarro, arrumaro lá num lugá, vinha de lá pra cá, passava lá pra baixo na ponte do lá pra baixo, pra passar na, passava lá, e aí eles fizero num casa lá, um barracão grande, 80 um lugar que deixava os animal, sabe? E aí a hora que chegava lá, pegava, botava, fizero uma tábua com bastante ponta de ferro, sabe? E a noite eles pegava e puxava. PESQUISADORA: E matava o que tava dormindo? INFORMANTE 2: Matava o cara que tava debaixo da cama. PESQUISADORA: Uai. 85 INFORMANTE: O quarto deles num tinha luiz. INFORMANTE 2: Naquela época existia cantado de candeia. INFORMANTE: Candeia. INFORMANTE 2: Eles punha... INFORMANTE: Era azeite feito de mamona. 90 INFORMANTE 2: É, feito de mamona, e ficava nisso, e não saia de lá não, acabava morrendo. PESQUISADORA: E aí eles ficava com o dinheiro? INFORMANTE: Ficava com o dinheiro. INFORMANTE 2: E eles ficava com o dinheiro pra entregar pro Cândido que era o que mandava tudo lá, e aí foi indo e aí descobriram o lugar lá, e é, aquilo tinha uma criola que morava lá, e falô: “Óia, num vai pra lá naquela 95 casa não que lá tem uma arma que caí em cima docê e mata.” Aí ele agradô ela, e aí ela conto tudo, sabe? Que tava se passano, e aí já num ia pega mais, e foi, foi ficando ali, e foi indo até comentou, e aí passado a matação pra cá, cabô e passô pra cá, quando ia pra banda de Delfinópolis, em São João do Glória, e aí cercava, da moda, o corguinho lá e cercava. PESQUISADORA: E aí eles começaram a matar na estrada então? 100 INFORMANTE 2: É, trazia pra trás, e com essa estrada, zagaia, zagaia, e esse trem. PESQUISADORA: Zagaia era o negócio que caía em cima do povo? INFORMANTE 2: É, uma tabuona com um pranchão, que fincava as espada de ferro, tudo afilhadinha, e batia, e daí sortava lá no peão. PESQUISADORA: E aí morria e eles roubava o dinheiro. 105 INFORMANTE 2: Acabava morreno, né? PESQUISADORA: E eles foram presos, não, o dono da fazenda foi nada? INFORMANTE 2: Não, naquela época lá... INFORMANTE: Não ia preso não. PESQUISADORA: Ah. 110 INFORMANTE 2: Lá chamou, se fosse é, ês nem óiava. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 229 INFORMANTE: Porque não tinha embarcação pra lado nenhum, era só Uberaba ou Sacramento, né? Sacramento também não tinha ninguém quase, polícia não tinha. PESQUISADORA: Aí ficou por isso mesmo a história? INFORMANTE: Por isso mesmo. 115 INFORMANTE 2: Mas muita mortandade. INFORMANTE: Vixe, ês mataro gente demais. PESQUISADORA: É? INFORMANTE: Matava os boiadero que vinha, sabe? INFORMANTE 2: Meu avô tinha um primo dele da Itália, que era gandaieiro, ele foi lá, e resolveu apelar com o 120 Cândido Lourenço, ele garrô, levô em casa, e amarrô, queria matar o Cândido, aí ainda posô lá na casa, e aí quando foi de madrugada eles foro pro pântano e chego na casinha, pra baxo da casa véia, tem uma casa véia, cercô meu avô lá, e deu tiro nele, chego, o menino tava em cima da casa, e o Cândido, atirou, meu avô tava montado num burro, ele já caiu com a cara nele ali ( ) e caiu na casa de baixo, e escapuliu. INFORMANTE: E morreu os jagunços. 125 PESQUISADORA: Jagunços morreram? INFORMANTE 2: Aí ele, meu avô matou. PESQUISADORA: Mas o Miguel era parente do seu avô? INFORMANTE 2: O Miguel era primo do meu avô, os dois era da Itália, até foi ele, sabe quando, ( ), de lá pra cá que... 130 PESQUISADORA: Que essa confusão, o povo gostava de matar aqui mesmo, hein, Deus me livre. INFORMANTE: E matava os boiadero tudo que vinha de fora. PESQUISADORA: Mas porque eles matava? INFORMANTE: Matava pra robá, e aí a famía não sabia que esses boiadero tava, vai procura aonde, né? PESQUISADORA: Aí ficava morto por aqui. 135 INFORMANTE: Ficava por isso mesmo, nem prendia, nem vinha ninguém atrás. PESQUISADORA: Eu não sabia dessas histórias aqui. INFORMANTE 2: Não tinha nada, pegava e botava pra fazer moinho de pedra pra botar lá, é isso. INFORMANTE: Fazia grota de monte pra podê fazê divisa nos pasto, fazia desbarrancado, sabe? Ia cavucano, e num tinha arame, né? E ês fazia as divisa era assim. 140 PESQUISADORA: Com grota, grota é um buraco? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Fazia tipo uma vala? INFORMANTE: É, e de pedra tamém, é, fazia de pedra. PESQUISADORA: Nós viemos pela estrada aqui de Canteiros, foi do Glória até aqui, tem muita, muito é, como 145 chama, murinho de pedra. INFORMANTE: É, aqui era mais muro de pedra, e aí o povo foi desmanchando pra fazê casa. Era muro de pedra, fazia curral de muro de pedra, era. INFORMANTE 2: Tem muita coisa. INFORMANTE: É muita história que tem, mas a gente num sabe, né? 150 PESQUISADORA: Não, mas já contaram muitas, uai, sabe sim, nós estamos aqui, vocês já contaram algumas óh, teve muito bom. INFORMANTE: Com a tela véia, tem um boiadero de fora, e morava lá na capela véia ainda, aí o boiadero pegou e... INFORMANTE 2: O boiadero passava aqui e pra lá. 155 INFORMANTE: É, e aí ele pegou e falou assim, esse caso aí é verdadeiro, ele falo pro São Roque, o boiadero, é, Roquinho, nessa cabaça sua num tem água que dá pra me sustenta não, não dá pra mim bebe não, mata a sede, né? Aí fico com aquela palavra, né? E aí ele ando lá na cidade, ando, e aí saiu a hora que ele chega ali nos Cabrestros, deu uma dor nele, uma febre, né? Aí, eles trouxero ele pra cá. PESQUISADORA: O cabresto eu já passei por lá. 160 INFORMANTE: É, aí ele garrô e ficô ruim demais, e morreu, aí ês sepurtô ele, porque num sabia que famía que era, nem saía pro mundo, né? Sepurtô ele lá, e aí ficô no túmulo dele, e feiz um buraco enorme, sabe? E aí forrava assim, e embocava naquele buraco, sumiu. PESQUISADORA: Gente, mas ele desafio o santo, né? INFORMANTE: Ele desafiô ele. 165 PESQUISADORA: Tá veno? Morreu e ainda ficô de dentro de uma enxurrada. Queria ver ele falar que a água da cabaça do santo não dava pra ele mais. INFORMANTE: É. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 230 PESQUISADORA: Tá veno, desafia o santo, dá nisso mesmo. INFORMANTE: É. 170 PESQUISADORA: Óh, mas já teve ótimo, vocês já ajudaro muito. INFORMANTE 2: É onde tá o negócio, ele abusô, né? PESQUISADORA: Abusou. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I Entrevista 36 INFORMANTE: J.R. (77 anos, Analfabeto, sexo masculino) INFORMANTE 2: B.R. (Alfabetizada, 70 anos, sexo feminino) PESQUISADORA: Gisele Aparecida Ribeiro DATA: Março/2015 PESQUISADORA: Faz óh que eu tô atrás do senhor, e eu no consigo, posso entrar? Faz um tempão que eu tô atrás do senhor, porque eu estive aqui esses dias, porque eu tô fazendo um livro aqui da Canastra, e aí conversei com o Sr. Amador um tempão, e aí falaram pra eu vim aqui conversar com o senhor duas vezes, uma eu acho que o senhor não estava também, acho que, eu não lembro a primeira vez, o senhor não tava, e a segunda acho que o senhor tava medindo as terras do senhor, e aí eu falei: “Vou tentar hoje de novo.” Porque eu tô aqui na 5 Limeira, perto da Vargem, e aí eu vim aqui, o senhor faz artesanato, isso aqui é tudo o senhor que faz? Você viu, Fábio? INFORMANTE: Isso aqui? PESQUISADORA: Não, que tá aqui dentro. INFORMANTE: Essas peça, eu que faço. 10 PESQUISADORA: Do lado de cá, deixa eu ver, olha que beleza. O senhor que faz tudo? INFORMANTE: Eu que faço. PESQUISADORA: Carrinho de boi o senhor que faz também? INFORMANTE: Também, agora eles tá só com o carrinho, e tem os boi ainda, tem que fazer os boi, né? PESQUISADORA: Ah, mas eu vi ali na casa da filha do senhor, foi o senhor que fez? 15 INFORMANTE: Foi. PESQUISADORA: Beleza. INFORMANTE: É, passa de casa é bão, né? Só com farinha, esse torresmo ficô duro, num dá pra mastiga, só cum farinha, e aí maceta. PESQUISADORA: Eu achei que era de cachaça isso aí. 20 INFORMANTE: Mas aí você queria entrevistar o que? PESQUISADORA: Não, o senhor pode contar daqui da região, qualquer coisa que o senhor quiser contar, da vida do senhor quando senhor era mais novo, o senhor vende esses. INFORMANTE: Vende. PESQUISADORA: Meu pai ia ficar doidinho. 25 INFORMANTE: Tem outra aqui bunita, óia. PESQUISADORA: Olha lá que beleza. Não, mas fica muito perfeito. INFORMANTE: Embolorou um pouquinho, esses azurzinho é boloro, é só limpa que saí. PESQUISADOR: Que madeira é essa que o senhor trabalha? INFORMANTE: Essa é canjerana. 30 PESQUISADORA: Canjerana? INFORMANTE: Solda, só que tem que aproveitar todas, porque essas pranta num pode pô nada, sabe que eu faço só apruveito. PESQUISADORA: O senhor num corta a árvore, né? Hoje em dia eles pegam no pé mesmo. INFORMANTE: Apruveito, num tem importância, né? Tá tudo perdido, né? 35 PESQUISADORA: Uai, num é possível que eles vão amolar, já tá tudo perdido mesmo, uai. INFORMANTE: Tem hora que dá uns vento forte e ranca a arvore, então ranco tamém, ela num vai vive mais, então aproveitar, né? Tive a possibilidade a gente avisa, e eu faço a parede. PESQUISADORA: Quem fez aquele desenho lá na parede? INFORMANTE: Aquilo é eu, a chita, é. 40 PESQUISADORA: Olha. INFORMANTE: A chita. PESQUISADORA: O senhor é artista mesmo, viu. INFORMANTE: Ah, mais ou menos. PESQUISADORA: Muito bonito. 45 INFORMANTE: Isso aí é aquela lonona manga larga quês fala, né? PESQUISADORA: Eu acho que meu pai já teve aqui uma vez, porque ele sabia que o senhor fazia essas coisas. INFORMANTE: Teve? Como que ele chama? PESQUISADORA: Ele chama Bartolomeu. INFORMANTE: Ah, capaz que... 50 PESQUISADORA: Mas capaz que foi uma vez só, foi rápido. Aquela foto ali é da família do senhor? INFORMANTE: É da minha família. PESQUISADORA: Quem tá ali? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 232 INFORMANTE: Tem só uma aqui que ela tirou um retrato junto com nós, mas não é da famía não, estava tirando retrato junto cum nóis, e ela ficou lá mais uns 2 meis, e aí foi tirano retrato, ela entro e tiro junto pode, 55 uai. PESQUISADORA: O senhor morou ali perto, na Tapira? INFORMANTE: Morei, perto da Tapira. PESQUISADORA: Ah, como é que era lá? INFORMANTE: Ah, lá é uma cidadinha boa, agora armentô mais, fico mió, né? Tapira é gosto, alugar as 60 casinha, que se não fica véio, a água. PESQUISADORA: Boa? PESQUISADOR: O pessoal vive bastante. INFORMANTE: Lá dá mais sono, lá. PESQUISADORA: Por que lá dá mais sono? 65 INFORMANTE: Por causa da água, acho que ela tem uma porcentaginha de bicarbonato, parece, que eles usa, mas parece. PESQUISADORA: Mas eu acho que essa água aqui do Rio São Francisco faz o povo viver muito, viu? Porque tem muita gente com mais de 100 anos aqui. INFORMANTE: Tem, e criô cum água aí, sem tratamento, e uma água, e vendo isso, só o filtro, ninguém usô 70 nada, e tanto que os daqui num gosta que põe nada na água, acha ruim, fica cum gosto ruim, né? Já provo que pô cloro, essas coisa. PESQUISADORA: Com essa água boa que tem aí. INFORMANTE: Filtrano essa água, pode filtra, né? PESQUISADORA: Ishi, mas tem umas que você pode até bebe sem filtrar. 75 INFORMANTE: Bebe lá pro. PESQUISADORA: Tá no meio, às vezes tá no meio do mato perto da cachoeira, e bebe a água, num bebe? INFORMANTE: Bebe, uai, num faiz mar não, a água correu uns tantos metro, tá limpa de novo. PESQUISADORA: Esses dias nós tivemos ali em cima, não sei se é perto da nascente, mas a água limpinha, pus na garrafinha e trouxe. 80 INFORMANTE: Pois é, pó bebe que é boa de mais, num faiz mal. PESQUISADORA: Não, num tem nada disso não. Eu acho que a água que é muito tratada, as vez é até pior. INFORMANTE: É, pior, fica pon[d]o remédio é pió. INFORMANTE 2: Essa água aqui é uma beleza, é gostosa a água, saí da serra aqui, né? PESQUISADORA: Já vem direto. Nem precisa nem, tô achando que nem o filtro precisa. 85 INFORMANTE: É, precisa não. INFORMANTE 2: É, agora, lá no Sacramento, quando eu fui operada lá, nussa, mas a água era sargada, eu num tava aguentano a água. PESQUISADORA: Mas engraçado que vocês sentem a diferença, tá vendo? Porque a água deles é muito boa. A nossa água já num é tão boa, a gente acha bão quando vem aqui, porque lá a gente nem sente. 90 INFORMANTE: A água lá é igual a daqui não? PESQUISADORA: Ah, né não. INFORMANTE 2: Vocêis é de onde? PESQUISADORA: De Passos. INFORMANTE: Ah, Passos eu conheço 95 PESQUISADORA: Mas Passos tem uma água muito tratada, eu acho. INFORMANTE: Muito tratada, né? PESQUISADORA: Tem, de veiz em quando, da tornera num dá pra pegá e toma não, é um gosto de cloro, nossa senhora. INFORMANTE: Ah não, é porque pois remédio, fica ruim memo. 100 PESQUISADORA: A gente acha até inclusive, o povo lá em Passos fica muito doente, a gente acha que é até a água. INFORMANTE: É a água, Deus deixô a água pra nóis bebe é pura memo, num precisa pô remédio não, só num pode bebe água de brejo, mas o resto num faiz mal não. PESQUISADORA: Água de brejo tamém é duro, né? 105 INFORMANTE: Água de brejo é uma água do barro, catingudo, a água que num é próprio pra bebê memo, né? Mas essas outra água não, é água de chuvada, água boa, pode bebê que num tem nada, num tem perigo nenhum. PESQUISADORA: É que uma vez a senhora lembra que eu vim aqui, que eu tava com meu pai, que eu queria falar com o senhor Valadar, mas ele tava medindo a terra, eu acho, e aí a senhora tava saindo de lá, e eu achei que o senhor Valadar morava lá. 110 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 233 INFORMANTE 2: É, lá é na casa da minha fia, né? INFORMANTE: Nas terra do João Roque ali. PESQUISADORA: Aí teve uma outra veiz que eu vim aqui, que o senhor num tava, quando que foi isso, hein? Acho que foi uma vez que eu vim fazer uma pesquisa aqui com o nome dos rios, dos córregos, e aí eu acho que o senhor não estava aqui também, eu conincidentemente eu não consegui encontrar o senhor. 115 INFORMANTE: Pois é. PESQUISADORA: Mas eu vim aqui pro senhor contar umas histórias antigas aí da serra. INFORMANTE: Nossos causo antigo é que a gente foi criado no tempo antigo, num tinha gasolina quaise, o carro era esse aí. PESQUISADORA: O carro de boi? 120 INFORMANTE: O carro de boi, era sale, bicabornato, deixo ver o que mais, fósforo, deixa eu vê mais que é, acho que açúcar moreno, sem sê cristal, lá em Estado de São Paulo, lá em Casa Branca, puis é, viajava treis meis era época que chuvia muito, então tinha dia que andava poco, sabe? E viajava treis meis pra fazê isso cum carro de boi, e levava café, e trocava nessas coisa que era coisa que ele num tinha aqui, né? PESQUISADOR: Levava café pra troca nas coisa... 125 INFORMANTE: Nessas mercadorias, é, levava o café, trocava em sal, por querosene, açúcar, e bicabornato, isso é o que num tinha aqui, as outras coisas ia aqui memo, porque ês usava pra nóis toma café era de rapadura, ocê conhece rapadura, né? É só cana, então nóis tinha engenho, muinho, fazia cana, rapadura, prantava cana, e moía pra fazê rapadura, e criava assim, arroiz botava no pilão assim, né? PESQUISADORA: Socava? 130 INFORMANTE: Socava. PESQUISADORA: Tirava a casquinha? INFORMANTE: Tirava a casca, e o arroiz socado o pilão, e só funciona cum água, é aquele que bate. PESQUISADORA: Eu já vi um. INFORMANTE: Então, e punha um pra soca, quem não tinha mijó, botava nesses pilão memo. 135 PESQUISADORA: Que aí tinha que fazê força? INFORMANTE: Aí é esse aqui o pilão, né? Punha o arroiz aí, batia, e descascava o arroiz, então tinha um médico mais véio aí, ele morreu a pouco tempo, ele falô: “Óia, o meu arroiz até hoje eu num dexo bulí na máquina não.” Buli até ficar muito branco, ele fica mei azur, porque a vitamina dele é aquele azurzim por fora, se tira ele, fica uma massa só enchimento, não tem vitamina. 140 PESQUISADORA: Num sabia disso. INFORMANTE: Então aquele, povo, num sei porque, aquele povo era mais forte, mais hoje a gente vê uma diferença assim, naquele tempo num usava por nada na terra pra prantá, era só semente, hoje tem muita coisa que põe e faiz mal, né? Mas se num pô num vai, como que faiz, o bicho pega. PESQUISADORA: E tudo tem, né? 145 INFORMANTE: E por aí tem a palavra na bíblia, o justo vive pela fé, isso é começo, nóis já tamo viveno pela fé, porque nóis só come trem envenenado, ainda tem terra que dá mantimento sem pôr nada, mas é poca, né? A terra cansô, os dilúvio é pra isso, de tempo em tempo tem que tê um dilúvio pra puder descansá a terra, reforma ela de novo, né? PESQUISADORA: É porque o povo judiou bastante já, né? 150 INFORMANTE: Judiô bastante, e aí o que acontece, e aí fica o povo duente, igual tá conteceno, é tanta doença que tem, né? Gente novo tá sofreno da vista, tá ruim de coluna. No meu tempo de novo, num via fala de sofreno por coluna não, isso é duns anos pra cá, tem muita coisa que num tinha, agora tá tenho, umas doença braba, umas coisa triste, né? PESQUISADORA: Usava querosene pra que, senhor Valadar? 155 INFORMANTE: Querosene é pra lumiá a lamparina, querosene, lamparina, ocê já viu? E pra lumiá, num tinha essa luiz elétrica né? Aí usava a lamparina, quem um tinha lamparina, era azeite. PESQUISADOR: De mamona, né? INFORMANTE: Mamona, aquelas candeia, já viu aquilo? Hoje ês compra aquilo pra enfeite, tu acende a candeia, a Rita aí tem. 160 PESQUISADORA: A candeia é aquela que parece um, tem um paviozinho assim? INFORMANTE: Isso, tem um paviozinho. PESQUISADORA: Eu já vi. INFORMANTE: Enche aquilo de azeite, e unta aquele pavio de pano, e vai queimando de vagarzinho, e lumeia, né? Ficava lumiano cum aquilo, naquela vida antiga né? 165 PESQUISADORA: Mas era difícil, mas ainda era melhor, num era não? INFORMANTE: Nossa, era bão de mais, o povo tinha uma saúde, só aquela saúde menina, vale tudo, não é? ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 234 PESQUISADORA: Também acho. INFORMANTE: Ih, meu pai fazia isso aí, óia, achava facinho, tinha sobrado aquilo, quanto mais, era novo hoje lá em Casa Branca com carro de boi. 170 PESQUISADOR: Naquela época tudo se fazia, você não comprava nada, não tinha nada pronto pra se comprar. INFORMANTE: É, não tinha nada pronto, não tinha trator, e com boi também, né? Amarrava boi no arado de mão, e arava, né? Já viu essa aqui também? PESQUISADORA: O arado de boi é aquele que põe, ele amarra no lombo do boi, e aí ele vai levando atrás? INFORMANTE: É, que anda junto, né? Pra dois bois, ou 4, e ali, e amarra uma correntinha, e vem no arado 175 assim, e passa no arado, e o homem vai segurando no rabo do arado ali, tá? E dominando o arado, ele faz um risco. PESQUISADORA: Ah, eu acho que eu sei. INFORMANTE: De fora a fora e ficando pra trás, é assim que abre. PESQUISADORA: Lá na roça do meu pai tinha um desses. 180 INFORMANTE: Ah, então cê conhece, é daquele, arava o mêis intero, eu tinha sardade daquilo. PESQUISADORA: Era mais forte hoje o povo trabalha pouco. INFORMANTE: Trabalha poco, mas tá fraco, mais fraco. PESQUISADORA: Tá fraco, mas tá fraco porque também não movimenta, come mal, por isso. INFORMANTE: É. 185 PESQUISADORA: Antigamente que hora que o senhor jantava? INFORMANTE: Vitamina, mas só que é prantado cum inseticida, essas coisa que faiz mal, né? Tem vitamina tem, mais é desse tipo. PESQUISADORA: Por exemplo, a vida antigamente, o senhor almoçava, jantava, era tudo mais cedo, num era? INFORMANTE: Tudo mais cedo. 190 PESQUISADORA: Como é que era? INFORMANTE: Nóis levantava de manhã, tomava um café cum quitanda, quitanda feita em casa. PESQUISADORA: O que era as quitandas que tinha? INFORMANTE: Era pão de queijo, conhece, né? PESQUISADORA: Conheço. 195 INFORMANTE: Esses biscoito de porvilho, e aquele João deitado que eles fala, conhece? PESQUISADORA: Não. INFORMANTE: Enrolado na folha de banana? PESQUISADORA: Ah, João deitado, já, sei lá em Passos chama aquilo de. INFORMANTE: Enrolado na folha de banana e põe pra assar, é gostoso. 200 PESQUISADORA: Eu esqueci o nome. INFORMANTE: Mandioca ralada com açúcar, e um pouquinho de fubá, eles põe, e aquilo fica forte e gostoso. PESQUISADORA: E era comum, vocês comiam isso? INFORMANTE: Comum, comia isso e ia trabaiá e leite cum farinha de milho. PESQUISADORA: Meu pai toma leite com farinha de milho até hoje, todo dia a noite. 205 INFORMANTE: Pois é e tá um véi forte, né? Tem um véi ali de 100 e, agora dia 17 de março. PESQUISADORA: Ah, o senhor João Roque? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Eu fui lá conversa com ele. INFORMANTE: Eu fui criado com, agora vai fazê 101 ano, agora dia 17 ele fez 101 ano. 210 PESQUISADORA: Fez dia 17 de março, eu fui lá conversar com ele dia 14. INFORMANTE: Tá veno, ocêis foi lá? PESQUISADORA: Ele tá ótimo, ele tá bão da cabeça, tá ótimo. INFORMANTE: Tá ótimo, e da vista também. PESQUISADORA: Da vista tá muito bão, ele anda bem. 215 INFORMANTE: Não recrama das cadera, só recrama que tá muito véio, as perna tá sem força. PESQUISADORA: Mas também... INFORMANTE: Tem razão, né? PESQUISADORA: 101, né? INFORMANTE: É pra poucos, né? E aí eu fui criado cum leite cum farinha de milho, que é muito forte, né? É 220 um dos alimento mais sadio que nóis tem, e então ainda tinha aquela canjiquinha de milho, ocê cunhece tamém? Hoje tá nos mercado, de milho. PESQUISADORA: Acho que eu já vi sim. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 235 INFORMANTE: Afoga ela no sistema de fazê o arroiz, a mesma coisa, faiz, aquilo nóis cumia tamém no lugar de arroiz, feijão. 225 PESQUISADORA: Mas fica mais seco, não fica molhado? INFORMANTE: Depende o jeito, se você por mais uma aguinha, é forte, mais de que arroiz, porque tem mais vitamina, né? Eu comi muito aquilo e couve, e torresmo, essas coisa, era assim a vida. PESQUISADORA: Isso era no almoço? Ou qualquer horário? INFORMANTE: Isso era no armoço, na janta, era desse jeito. 230 PESQUISADORA: E jantava cedo? INFORMANTE: Jantava na base das 3 horas da tarde. PESQUISADOR: Dormia cedo então? INFORMANTE: Não, num durmia cedo não, mas só que ali na hora de dormi, tomava um prato de leite cum farinha de milho, né? Porque é fácil e é sadio. 235 PESQUISADORA: O senhor toma ainda? INFORMANTE: Tomo, eu gosto, é bão. PESQUISADORA: Meu pai é toda noite, ele pega a canequinha, põe a farinha, e vem com o leite, e o leite tem que ser da roça, num pode ser leite de saquinho não. INFORMANTE: Pois é, leite da roça, esse que é o bão. Mas aí fui criado assim, fejão frito que eles fala, né? 240 Diversos jeito também, né? PESQUISADORA: O que que costumava comer além das quitandas, tinha o que que era diferente que não tem hoje? INFORMANTE: Ah, muito doce também, ne? Comia muita banana, isso tudo era sardável, mandioca? Nossa, cumia muita mandioca tamém, agora hoje o médico fala, quem tem diabete num pode come mandioca, porque 245 tem que tá na raiz lá em baxo, no chão num pode, pra quem tem diabete diz que num pode, né? PESQUISADORA: Não pode. Eu acho que tem um negócio de tudo que tá dentro do chão, não tem isso? INFORMANTE: Ês fala que é, os médico fala, é porque aquele povo antigo cumia doce muito mais que o povo de hoje. PESQUISADORA: Mas é que o povo de antes trabalhava no pesado. 250 INFORMANTE: Mas só, é o que ia falar, nóis tirava tarefa, suava que moiava a camisa e a calça de suor, e comia que só na mantega do pão, purque num existia óio não e ali cumia tanto, que sobrava no prato, né? Hoje diz que num pode mais. PESQUISADORA: Não, o povo tudo morre de veia entupida. INFORMANTE: Se fica quieto e não sortá o suor pra fora fica doente memo. 255 PESQUISADORA: Uai, fica, morre logo. INFORMANTE: Mas se trabaiá, exercitá um fica não, fica expondo pra fora no suor, uai. PESQUISADORA: Saí tudo. A mantega ela é de porco? INFORMANTE: É, parece uma mantega memo, num é? Parece que fazia extravagancia, mas nu fim dispunha daquilo, né? 260 PESQUISADORA: É porque trabalhava muito, era pesado o serviço. INFORMANTE: Tava. PESQUISADORA: Hoje o povo fica tudo sentado no ar condicionado, uai. INFORMANTE: Pois é, e a gente se num trabaiá fica doente, porque aí olha, aí vira colesterol mesmo, uai, fica parado, come uma manteiguinha e fica parado, num saí no suor, nois necessita de suar, nóis necessita de andá, 265 né? PESQUISADORA: Não, com certeza, e eu acho que assim, que faz, como por exemplo, o senhor tá com quantos anos? INFORMANTE: Eu tô com 77 anos. PESQUISADORA: 77 o senhor João Roque tem 101, eu acho que fazer atividade, viver do jeito que viveu, que 270 faz viver esse tanto de ano. INFORMANTE: Lá em Vargem Bonita tem um lá que tá com 104. PESQUISADORA: O senhor Antônio Machadinho? INFORMANTE: Isso, Antônio Machadinho. PESQUISADORA: Conheço ele, fui lá antes de ontem. 275 INFORMANTE: Pequenininho, né? PESQUISADORA: Pequenininho, é. O senhor Antônio Machadinho também muito bonzinho. INFORMANTE: É, gente boa. PESQUISADORA: O senhor também, o senhor João Roque, o Antônio Machadinho foi da época do garimpo, né? 280 ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 236 INFORMANTE: É, da época do garimpo, eu também peguei um pouco do garimpo aqui. PESQUISADORA: É? Como é que era? INFORMANTE: Ah, o garimpo, no meu modo de pensar, essas coisas Deus deixou pro homem desfrutar, o Ibama não quer deixar, estraga, mas o negócio é que tem jeito de, estraga, mas repõe ela de novo, né? Por exemplo, você fura uma aqui, você tem uma cascata por baxo, desmonta aqui, e leva tudo pra tráis, mas ocê tira 285 o cascaio, lava, vorta aqui pra dentro do buraco travéis, e acerta a terra pra tráis, tinha uma árvore, outra, prantá outra, a muda lá, pruveita que tá cum sol, porque, sabe porque eu falo, precisa gera emprego, né? PESQUISADORA: Precisa, aí o Ibama não deixa fazer nada. INFORMANTE: Aí eles fica fazendo essas coisas, uai, vai desempregano, e o povo, a população é demais, a pessoa tem muita necessidade de ganhá, né? 290 PESQUISADORA: Com certeza, o senhor tem razão, é verdade. INFORMANTE: E aí o Ibama num deixa fazê nada, agora, paga imposto eu acho preciso, eu concordo, abre o garimpo, e paga o imposto pra pagar, precisa da renda, precisa do imposto, aí chega aqui e mexe cum o imposto é normal, mas não desse exagerado tamém, baseado, de acordo. Então, eu num tem leitura não, a gente tem muita experiência, tem que observa muitas coisa, tem muitas coisa durante esse tempo todo que vivi, a vida 295 louca, e agra tudo mudo, n meu tempo a gente tratava todo mundo mais veio, tomava bença dos mais véi e tudo, era diferente, papai e mamãe ensinava só os mais véio a toma bença, todo mundo hoje os fio trata os pais de você, né? Nem todos, mas muitos tá assim num tá? PESQUISADORA: Tá, e não tem educação, né? INFORMANTE: Não tem. 300 PESQUISADORA: Os meninos que manda hoje em dia. INFORMANTE: É, só que eu num sei lê, mas eu sigo a bíblia, porque eu tenho 30 anos de crente da Assembleia de Deus, a católica num jeito de segui, do jeito quês segue eu acho que não agrada a Deus, né? Ocê vê. Ocê as veis é católica, mas ocê intende, que num é todos, né? Eu creio que tem argum católico que segue, obedece a doutrina de Deus, tá bão, aí tá certo, mas muitos num tá obedeceno mais, a gente vê com os zoio, olha, idolatria, 305 ocê sabe que é idolatria, num sabe? PESQUISADORA: Sei. INFORMANTE: Invoca aqueas coisa é idolatria, porque o que acontece, invoca com riqueza ou coisa material, precisa ser entregue a Jesus Cristo, mais do que ele é, num importa, Deus deixo um direito de gosta das coisas material, mas tem um tanto. 310 PESQUISADORA: Mas não vive pras coisa, né? INFORMANTE: Não vive pras coisa, e não pega o amor naquilo, porque o amor é dele, uai, ele merece, né? Ele que criô nóis, ele que é dono de tudo, ele morreu por nóis, Jesus Cristo, né? Então tem que pensa nisso, nu pode pega muito amor, né? PESQUISADORA: Não. 315 INFORMANTE: A gente tem que gostar mais de Deus do que dos próprio fio da gente, porque é de Deus. PESQUISADORA: É, verdade, mas o povo já num pensa mais assim, o povo, sei lá. INFORMANTE: Muitos num pensa, né? A gente tem que fala, uns ri na cara da gente, mas eu num importo não, a gente tem que fazê a obrigação da gente, mas muitos põe sentido e obedece tamém. PESQUISADORA: Mas o senhor tem isso, eu acho que Deus deixou um recado muito certo. 320 INFORMANTE: Deixou. PESQUISADORA: Que é primeira coisa, amar a Deus sobre todas as coisas, e eu acho que amor ao próximo é o principal. INFORMANTE: É, as duas coisas da frente é isso aí mesmo, essas são as primeira. PESQUISADORA: É, porque não adianta nada eu ir na igreja, rezo, amo a Deus, mas o outro eu nem ligo pra ele. 325 INFORMANTE: Num dianta nada. PESQUISADORA: Num pode, né? INFORMANTE: Um só que num gosta, atrapaio tudo, já Deus num agrada, então pra mim todo mundo é igual, tanto faz ser preto, azul, alejado, tudo pra mim é um só, é homem igual a mim desse jeito. PESQUISADORA: Mas o senhor tá certo, tem que ser desse jeito. 330 INFORMANTE: Mas o bandido eu num sei, ele é mal de mais, ele, esse a gente entrega é pra Deus, esses que mata pra roba, que tá aconteceno de mais. PESQUISADORA: Lá em Passos é terrível. INFORMANTE: Diz que lá tá um perigo, eu ouvi ês falano. PESQUISADORA: Tá, lá tá. 335 INFORMANTE: Cidade grande, Rio de Janeiro, São Paulo, num vê, é de mais, né? Na Vargem ali já tem perigo, é poucos, mas tem. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 237 PESQUISADORA: São Roque é maior que a Vargem? INFORMANTE: Ah, deve dá umas três Vargem, ou as veis mais um cadinho ainda, porque tá grande. PESQUISADORA: Tá grande São Roque, né? 340 INFORMANTE: Tá grande. PESQUISADORA: O senhor conhece a história da fundação aí de São Roque, da Vargem? INFORMANTE: História de que? PESQUISADORA: Quando começou, o Barrero aqui mesmo. INFORMANTE: Nessa época eu morava lá em Medeiros, eu sou lá de Medeiros, conhece? 345 PESQUISADORA: Já ouvi falar, parece que a nascente tá lá, né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: Na verdade essa nascente que tem aqui no parque ela é uma nascente chamada histórica, e a verdadeira mesmo, a física, é lá em Medeiros, né? São Francisco. INFORMANTE: São Francisco. 350 PESQUISADORA: Diz que tem isso, mas eu não conheço não, já ouvi falar, já vi uma história. INFORMANTE: Lá tem um comercinho maior do que a Vargem Bonita um cadinho, um pouco, lá eu sou de lá, nasci de lá, e de lá eu mudei aqui pra perto da Tapira, Tapira é o que nós tava falando do lugar, por causa da água lá, já foi feita a estatística que é um lugar de muito ( ), a pessoa, né? Só que alimenta mais, a água faz dá mais fome. 355 PESQUISADORA: O povo lá tá mais gordinho será ou não? INFORMANTE: Não, gordo não, mas é forte. PESQUISADORA: Mais forte. INFORMANTE: Porque gordura nem é muito sadia. PESQUISADORA: Não é bom não. 360 INFORMANTE: Gordura... É... PESQUISADORA: E o senhor veio pra cá com quantos anos, pra São Roque? INFORMANTE: E aí. PESQUISADORA: Aqui pra Barrero. INFORMANTE: Eu vim pra cá com 28 anos, casei aqui, e aí eu fiquei aqui garimpano. 365 PESQUISADORA: O senhor veio por causa do garimpo? INFORMANTE: É. A minha esposa, minha sogra mais meu sogro quis morar aqui, ah, eu vou morar, porque vou garimpar também, minha sogra achava ruim fica sem ela, e aí vi pra cá, e tamo aí até hoje, tenho dois filhos, um casal, tenho quatro filho, o primeiro neto morreu com 16 dias, tenho 4 netinhos, três hominho e uma mocinha. PESQUISADORA: E depois que o senhor deixou de garimpar, o senhor foi fazer o que? 370 INFORMANTE: Uai, eu trabaiava na roça, capinar, essas coisa, é, planta, essas coisa, serviço de roça, assim. PESQUISADORA: E as ferramentas? INFORMANTE: E nas horas vagas eu faço artesanato. PESQUISADORA: Você faiz isso aqui? INFORMANTE: É. 375 PESQUISADORA: Que é muito bonito, por sinal, eu vi um carro de boi ali na casa da filha do senhor, muito bonito. INFORMANTE: Pois é, tem outro, pois é que é dela, agora, aí tem mais, não, dois carrinhos de boi, uma boiadinha com janelinha. PESQUISADORA: O senhor que fez? 380 INFORMANTE: É. PESQUISADORA: As ferramentas de antigamente trabalhar era diferente das de hoje? INFORMANTE: Uai, é porque hoje tem muita máquina, muito favorecimento, furadeira elétrica, panha elétrica, essas coisas que antigamente era tudo manual, tudo na mão mermo, hoje as furadeira, muito serviço as máquina, ishi, mas a gente vê muita diferença, meu avo fazia carro de boi, e tirava de casa assim, tudo na mão, furadeira 385 num tinha, era tudo furado no ( ), né? PESQUISADORA: Era manivela assim, que girava a engrenagem. INFORMANTE: É, isso mesmo, é, agora hoje as máquina ajuda muito, e é bão, porque ocê vai fazer uma assim, tanto despacho que tem aquela certinha que trabaia registrado, e fica só, né? PESQUISADORA: Antes era tudo na mão? 390 INFORMANTE: Tudo na mão, ês tinha que fazer com a mão, e ainda tinha que passar uma grosna por dentro que ( ), passava ela pra acertar a ponta, pra encaixar ali, as pernas né? O carro de boi, aquelas cadeia que tem por dentro ali, tirava e sentava nela, e ficava tranquilo pra colocar aqui, era mais difícil, né? O povo naquele tempo plantava era de tudo, era inhame, batata, era mandioca, era de tudo. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 238 PESQUISADORA: Tinha tudo lá. 395 INFORMANTE: Tinha tudo, couve, essas coisas tudo. PESQUISADORA: Plantava tudo lá? INFORMANTE: Tudo lá, PESQUISADORA: Aqui hoje em dia não pode ter muita plantação, pode? Por causa do Ibama, nas roças, como é que faz? 400 INFORMANTE: Não, aí todo lugar que é assim, pra tampado, tá liberado, agora, pra arrumá os luga ês num tá quereno deixa, né? PESQUISADORA: Ah, eles não libera um novo? INFORMANTE: Não querem liberar, mas é, agora nós dá razão a eles, mas isso aí num precisa, porque toda vida o fazendeiro deixa as nascente, as bera dos corgo, mas nunca roçou, uai, nóis deixa, agora tá conteceno que o 405 povo tá queimano, mas do jeito quês que fazê, queima mais, aí que queima mais, sabe porque? A que eu conto, realmente, se Deus num dé faísca ali, ela fica sem queimá, mas no dia que caí uma faísca, ela fica da cor dessa casa e mais, e aí, o que paga isso, aí quema tudo, uai, aí confunde tudo, nóis tem que entende essa parte e tem que, ês tem que dexá os fazendeiro entra nessa área que ês tem prática com isso. PESQUISADORA: Eles não deixam queimar tudo, né? 410 INFORMANTE: Se não, aí que Deus me livre, queima a cabeceira d’água, ês num deixa cera, e isso que ês tem que entender que assim num funciona não, né? PESQUISADORA: Eles as vezes não tem experiência, né? Assim. INFORMANTE: Não tem experiência, eles têm que fazer isso é combinado com nóis, agora eles quer fazer camaradage cum ninguém, o povo tem medo deles, assim num funciona. 415 PESQUISADORA: Eles querem na verdade parece. INFORMANTE: E também não agrada a Deus não, porque o trem é deito com união, né? Pra agradá a Deus é com união, com amor, então introsa cum nóis, e olha, nóis num pode cortá madeira, mas tudo bem, nois num corta, pranta as madera, arruma outro jeito, vem madera de fora, que é aonde tem de mais da conta, 5 ou 6, né? Mais agora num tem importância, esse negócio de num queimá, e aí queima tudo, porque põe fogo. 420 PESQUISADORA: Põe, se tive muito seco, caiu. INFORMANTE: E aí, se tive véia dessa artura, o que faiz dela? PESQUISADORA: Nada. INFORMANTE: Então, vai queimá as árvore aí é pior, uai, agora sabe o que é o dano de queima? Queima fora do tempo, porque deixa eu te expricá, se choveu, hoje chove, amanhã dá um sol, ocê corre lá e queima o campo, o 425 que acontece, as arvore do campo, a raiz tá moiada, choveu, e num pega fogo porque tem sombra no mato, e o mato tá moiado, então vai queima só aonde ele é cega, que é o campo dele, e num faiz dano nenhum, passa os dia, ocê vai vê aqueas arvore tá tudo verdinha, buinta de novo, de uns dia pouquinho, ela só troca a foia, agora, se queima fora do tempo, mata até a arvore, uai, a raiz tá seca. PESQUISADORA: Verdade. 430 INFORMANTE: Num choveu, só pega lá no mato, porque as foia tá sequinha, mas choveu e aproveita, e aí num faiz dano, e não faz não. PESQUISADOR: E quando vocês queimam na época da chuva? INFORMANTE: O juiz falou nisso, o juiz tá sabeno, que não é, tem que ser assim memo, porque tem que acerar. PESQUISADORA: O que é acerar? 435 INFORMANTE: Acertar ocê tem que ir de trator ou de inchada, capinar uma distância larga assim, óia, e fica limpinho pra modo do fogo que caí lá num vim aqui, e não ter nada prele queima, mas é muito difícil e gasta muito mais, o mió é espera a chuva, dá uma chuva, e aí num é fora do tempo, porque chover não é fora do tempo, porque aí é igualzinho eu tô explicano, a raiz tá moiada, num mata, e tá nova, e baixa, o fogo, passa um fogo leve, num mata, né? Queima só o capim, e fica bonito do memo jeito, dá aqueas fror vem tudo, precisa ver 440 que coisa. PESQUISADORA: Mas sequinha é difícil, e aqui choveu pouco nesse janeiro, ou não? INFORMANTE: Nesse janeiro agora choveu bem. PESQUISADORA: Choveu bem? INFORMANTE: Choveu. 445 PESQUISADORA: Aqui não teve seca não? INFORMANTE: Não, deu muito sor aqui. PESQUISADORA: Dezembro? INFORMANTE: Não, nosso janero foi de muita chuva foi agora esse mês passado agra. PESQUISADORA: Março choveu muito né? 450 INFORMANTE: Choveu muito. ATEMIG – Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais O léxico nos domínios da Zagaia: um estudo linguístico na Serra da Canastra – Minas Gerais FALE/UFMG – Anexo I 239 PESQUISADORA: O senhor já tinha visto seca parecida não? INFORMANTE: Não, dispois que pegou a chuva, deu uma chuva primeiro, depois pranto, e aí deu sol, né? Uns dois meses de sol, por aí, aí teve umas roça que não deu nada, mas deu certo, pranto mais cedo, e, mais tem muito aqui ainda, até nesse negócio dessas máquina que pranta de mais, uma pessoa com trator, eles pranta que 455 num há jeito, tem caboco que pranta até 200 saquinho, 300 saquinho, é muita coisa. PESQUISADORA: É muita, antigamente demorava muito mais tempo, né? INFORMANTE: Não, só prantava 12 litro cada um, por exemplo, e ia capina na inchada, né? PESQUISADORA: Hoje em dia eles tem aquele negócio de plantio direto, né? Já joga a semente. INFORMANTE: É, tudo com as máquina, a máquina faz serviço de 10, assim, numa hora. 460 PESQUISADORA 2: Mas com veneno também tem que capinar? INFORMANTE: Com veneno. PESQUISADORA: O problema é o veneno que tem que capinar, né? INFORMANTE: É. PESQUISADORA: O senhor conhece alguma história aqui da região que é típica, senhor Valadar? 465 INFORMANTE: Daqui? PESQUISADORA: História, lenda, essas coisas? INFORMANTE: Ah, história daqui não. PESQUISADORA: O senhor não lembra de nenhuma não? INFORMANTE: Não, não lembro não. 470 PESQUISADORA: Aqui não tem história de quaresma, de semana santa? INFORMANTE: Ah, essas coisas eu num cumpanhei, porque né? A semana santa tá num regime de obedece, mas tá nada. PESQUISADORA: Povo na sexta feira da paixão já... INFORMANTE: Tá fazeno farra do memo jeito, né? 475 PESQUISADORA: Num tá nem ligando. INFORMANTE: É desse jeito. PESQUISADORA: Tá nem ligando nada o povo. Por isso que tá desse jeito, né? INFORMANTE: Por isso que tá desse jeito, porque por isso que eu penso que tem muita doença, muita coisa, porque eu acho que o pecado é consequência pra gente. 480 PESQUISADORA: Ah, com certeza. INFORMANTE: Deus não obriga, mas nóis fica com a fáia pra gente memo, depende da gente, porque Ele deixou escrito assim, oh, a bíblia sagrada, muitos fala assim que a bíblia sagrada foi home que feiz, que criou, e fala assim, isso é pecado, tá blasfemano, Deus usou isso aqui pra escreve a bíblia mesmo, mas só que aquelas palavras não foi da cabeça do home não, aquilo ali foi inspirada por Deus, o Espírito Santo de Deus, que é o 485 próprio Espirito Santo de Deus, que tocou no cérebro da pessoa pra escreve aquele livro, num tem um que dá conta disso não, uai, um trem que foi feito a muitos ano atrás, cumprino agora, com vai saber daqui amanhã, ocê sabe o amanha? Eu não sei, ocê sabe o amanha? PESQUISADORA: Não sei não. INFORMANTE: Então como que é isso? Ela tá cumprindo coisa que é de muitos anos atrás que foi feita, sabia? E 490 tá cumprino agora, isso num saí da cabeça do homem, a pessoa tem que entender, né? PESQUISADORA: É, também acho. INFORMANTE: E aí muitos vai explica, ocê sabe que ocê tá certo? Deus usa o homem pra tudo, porque vai usa o boi ou cachorro? Não, ele usa é o homem. PESQUISADORA: O homem que pensa, né? 495 INFORMANTE: Feito a semelhança dele, então ele usa o homem, vai o médico, o dentista, um bom conselheiro, um bom pregador do evangelho, um pra qualquer coisa Deus usa o homem, e falou do homem, falou da mulher, ela tamém, ela é submissa ao homem, ela tamém é a mesma coisa. Então é isso, tem o médico, tudo aproveita. PESQUISADORA: Tudo Deus permite né? INFORMANTE: E o médico faiz cada cirurgia hoje muito importante, né? 500 240