1 CRISTIANE DIAS MARTINS DA COSTA Literatura premiada entra na escola? A presença dos livros premiados pela FNLIJ, na categoria criança, em bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte Belo Horizonte Faculdade de Educação da UFMG 2009 2 CRISTIANE DIAS MARTINS DA COSTA Literatura premiada entra na escola? A presença dos livros premiados pela FNLIJ, na categoria criança, em bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação. Linha de Pesquisa: Educação e Linguagem. Orientadora: Profª. Drª. Aparecida Paiva Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte Faculdade de Educação da UFMG 2009 3 Dissertação intitulada “Literatura premiada entra na escola? A presença dos livros premiados pela FNLIJ, na categoria criança, em bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte”, de autoria da mestranda Cristiane Dias Martins da Costa, analisada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores: __________________________________________________________________ Profª. Drª. Aparecida Paiva – FaE/UFMG – Orientadora __________________________________________________________________ Prof. Dr. Hércules Toledo Corrêa - UFOP __________________________________________________________________ Profª. Drª. Maria Zélia Versiani Machado – FaE/UFMG __________________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Morando – UNI-BH - Suplente __________________________________________________________________ Profª. Drª. Aracy Alves Martins – FaE/UFMG - Suplente Belo Horizonte, 2 de julho de 2009 4 Dedico este trabalho aos meus pais pela compreensão, amor e incentivo constantes em minha vida 5 AGRADECIMENTOS De maneira muito especial, à Cidinha, pelo carinho, dedicação e condução no processo de orientação que me deu força para crescer como pesquisadora; Ao Leymar, meu companheiro de todas as horas, que sempre me apoiou, me deu força e acreditou em mim. Aos meus irmãos Lu, Bruno e Mauro pelo apoio e carinho. Às queridas amigas Bruna e Mariana que estiveram sempre ao meu lado. Aos amigos e familiares, Augusto, Dora, Gustavo, Henrique, Iara, Kenya, Lívia, Nara e Viviane pela compreensão nas ausências e em especial aos meus avós Elsie e Cito. Aos colegas do Mestrado, amigos e companheiros de trabalho, Ana Paula, Crisley, Fernanda, Flávia, Juliana, Marta, Paula e principalmente a Daniela e Elaine pela amizade e pelas contribuições e reflexões sobre as nossas pesquisas Ao CEALE pelas oportunidades. Ao Itamar e a Luíza pela atenção. A toda equipe do GPELL que tanto contribuiu para o meu crescimento acadêmico. Aos professores do mestrado em especial a Isabel Frade e Maria Lúcia Castanheira pela oportunidade de monitoria. À Elizabeth Serra, secretária geral da FNLIJ, por ter-me concedido a entrevista. Aos professores da banca examinadora Aracy Martins, Hércules Toledo, Luiz Morando e Zélia Versiani Às pessoas da secretaria da pós-graduação, em especial à Rose, pela atenção. À Marli e aos colegas da biblioteca. Aos colegas e funcionários do Colégio Magnum especialmente à Rosália. A toda equipe do Veredas que tanto contribuiu para o meu crescimento acadêmico principalmente as minhas alunas do grupo 15. À Juliana Galvão e ao Luiz Morando pelo trabalho de revisão. A todos que contribuíram para esta pesquisa. À Deus por iluminar sempre o meu caminho. 6 RESUMO Esta pesquisa se insere na linha de Educação e Linguagem e tem como foco de investigação a produção literária para crianças. O corpus desta pesquisa foi composto por 49 títulos premiados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), na categoria criança, durante os anos de 1974 a 2006. A escolha do prêmio concedido pela FNLIJ justificou-se por ser esse prêmio o mais representativo concedido às publicações destinadas à infância no Brasil, contando com a participação de dezenas de votantes. Os principais teóricos que nortearam a pesquisa estão vinculados ao campo da educação e das práticas de leitura, sendo a bibliografia básica, em grande parte, extraída da Coleção Literatura e Educação sob a coordenação do Grupo de Pesquisa do Letramento Literário (GPELL), além de estudos e pesquisas desenvolvidos por este grupo. Destaca-se, ainda, a produção de autores como Bourdieu, Chartier, Coelho, Lajolo, Soares e Zilberman, entre outros. Esta pesquisa foi alicerçada em dois principais procedimentos de análise: mapeamento da presença dos livros premiados para a criança nas bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte (RMBH) através da aplicação de um formulário nos profissionais responsáveis pelas bibliotecas, e a análise desses livros segundo o critério de avaliação do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Através do mapeamento da RMBH, observou-se que os profissionais que atuam nas bibliotecas escolares não se apropriam, efetivamente, do trabalho da FNLIJ, ou seja, dos 41% dos entrevistados que disseram conhecer a FNLIJ, apenas 3% deles utilizam o critério da premiação na aquisição de títulos para a biblioteca escolar. Observa-se, no entanto, que a qualidade dos livros premiados é indiscutível, dado que recebeu comprovação quando os mesmos foram analisados à luz dos critérios estabelecidos pelo PNBE/2008: qualidade textual, qualidade temática e qualidade do projeto gráfico. Constatou-se, por fim, a grande disparidade na presença dos livros de uma escola para outra. Há escolas que possuem 30 dos 49 livros pesquisados, contrapondo com escolas que têm apenas um livro. A proposta de analisar a presença da produção literária premiada pela FNLIJ na categoria criança visa contribuir para os estudos que enfocam diferentes aspectos da literatura infantil brasileira. 7 ABSTRACT The present research was done within the field of Education and Language, and is aimed at investigating literary production for children. The corpus of this research is made up of 49 book titles awarded by Brazil’s National Foundation for Children's and Young People's Books (FNLIJ), category children, from the years 1974 to 2006. The winner of the prize awarded by FNLIJ, chosen by dozens of voters, was used in this study due to its high relevance for publications aimed at children in Brazil. The research was guided by the principles of the main theoreticians of education and reading practices. The basic bibliography was mostly taken from “Coleção Literatura e Educação” (Literature and Education Collection, coordinated by GPELL - Research Group on Literary Literacy) as well as from studies and researches developed by this group. The production of some authors like Bourdieu, Chartier, Coelho, Lajolo, Soares and Zilberman, among others, is also to be taken into account. This research was grounded in two main analysis procedures: tracing the presence of awarded books for children in the public schools libraries of Belo Horizonte through the use of a form given to the professionals responsible for the libraries, and analyzing these books according to the evaluation criteria of the School Library National Program (PNBE). This tracing made by the municipal school system of Belo Horizonte (RMBH) has revealed that the professionals working on school libraries do not effectively make use of the work made by FNLIJ, that is, only 3 of the 41% interviewed professionals, who have said they knew about FNLIJ, use the awarding criteria when purchasing book titles for the school library. Nevertheless, the quality of the awarded books is unquestionable, which can be proven to be true as they were analyzed in accordance with the criteria set out by PNBE/2008: Textual and thematic quality as well as quality of the graphic project. Finally, it was concluded that there is a big disparity concerning the presence of books from one school to another. In certain schools, there are 30 of the 49 researched books, while in others there is only one of these books. The proposal of analyzing the presence of literary production awarded by FNLIJ, in the category children, is to contribute with the studies that focus on different aspects of Brazilian literature for children. 8 LISTA DE GRÁFICOS 1 - Conhece a FNLIJ.............................................................................................. 99 2 - A lista da FNLIJ influenciou no acervo............................................................. 100 3 - Como tomou conhecimento da FNLIJ.............................................................. 101 4 - A presença das cores nos livros premiados..................................................... 104 5 - Relação autor e ilustrador................................................................................. 106 6 - Quantidade de títulos por autores.................................................................... 108 7 - Livros premiados mais procurados pelas crianças........................................... 112 8 - Livros premiados esquecidos pelas crianças................................................... 113 9 - Leituras............................................................................................................. 114 10 - Existe algum trabalho como os livros da FNLIJ.............................................. 115 TABELAS 1 - Dados estatísticos do PNBE durante o período de 1998 a 2006..................... 120 2 - Obras infantis que receberam o prêmio Ofélia Fontes..................................... 122 FIGURAS 1 - E. M. Deputado Milton Salles........................................................................... 95 2 - E. M. Governador Carlos Lacerda.................................................................... 95 3 - E. M. Magalhães Drumond…………………………………………………….….. 95 4 - E. M. Milton Lage…………………………………………………………………… 95 5 - E. M. Governador Ozanam Coelho.................................................................. 96 6 - E. M. Prof. Edgar da Matta Machado............................................................... 96 7 - E. M. Profª. Helena Abdalla.............................................................................. 96 8 - E. M. Senador Levindo Coelho......................................................................... 96 9 - Capa de A bolsa amarela................................................................................. 125 10 - Capa de É isso ali........................................................................................... 125 9 11 - Capa de Dez sacizinhos................................................................................. 125 12 - Capa de Cacoete............................................................................................ 125 13 - Ilustração de A bolsa amarela........................................................................ 126 14 - Ilustração de A bolsa amarela........................................................................ 126 15 - Página aberta de É isso ali............................................................................. 127 16 - Ilustração e texto de Dez sacizinhos.............................................................. 128 17 - Ilustração e texto de Dez sacizinhos.............................................................. 128 18 - Página com ilustração de Cacoete................................................................. 129 19 - Página com ilustração de Cacoete................................................................. 129 20 - Capa de O Menino Marrom............................................................................ 131 21 - Ilustração de O Menino Marrom..................................................................... 131 22 - Ilustração de O Menino Marrom..................................................................... 131 23 - Capa de Murucututu, a coruja grande da noite.............................................. 132 24 - Ilustração de Murucututu, a coruja grande da noite....................................... 132 25 - Ilustração de Murucututu, a coruja grande da noite....................................... 132 26 - ABC doido....................................................................................................... 133 27 - ABC doido....................................................................................................... 133 28 - Capa de O pega-pega.................................................................................... 134 29 - Ilustração de O pega-pega............................................................................. 134 30 - Ilustração de O pega-pega............................................................................. 134 31 - Capa de Procura-se lobo................................................................................ 135 32 - Ilustração de Procura-se lobo......................................................................... 135 33 - Ilustração de Procura-se lobo........................................................................ 135 34 - Capa de Chica e João.................................................................................... 136 35 - Ilustração de Chica e João............................................................................. 136 36 - Ilustração de Chica e João............................................................................. 136 37 - Capa de Pedro................................................................................................ 138 10 38 - Capa de A mãe da mãe da minha mãe.......................................................... 138 39 - Capa de Sua alteza a Divinha........................................................................ 138 40 - Capa de Asa de papel.................................................................................... 138 41 - Capa de O menino, o cachorro....................................................................... 138 42 - Página aberta de Sua alteza a Divinha.......................................................... 140 43 - Página aberta de Sua alteza a Divinha.......................................................... 140 44 - Página de O menino, o cachorro.................................................................... 141 45 - Página de O menino, o cachorro.................................................................... 141 46 - Página de O menino, o cachorro.................................................................... 141 47 - Página aberta de A bolsa amarela................................................................. 143 48 - Página de O Menino Marrom.............................................................. 143 49 - Página aberta de É isso ali............................................................................. 144 50 - Página de Dez sacizinhos.............................................................................. 144 51 - Página da obra Murucututu, a coruja grande da noite.................................... 144 52 - Ilustração de A mãe da mãe da minha mãe................................................... 146 53 - Ilustração de A mãe da mãe da minha mãe................................................... 146 54 - Ilustração de A mãe da mãe da minha mãe................................................... 146 55 - Ilustração de Pedro......................................................................................... 147 56 - Ilustração de Pedro......................................................................................... 147 57 - Ilustração de Asa de papel............................................................................. 147 58 - Ilustração de Asa de papel............................................................................. 147 11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO............................................................................................................ 13 CAPÍTULO 1- Situando a Literatura Infantil e Juvenil............................................... 20 1.1 - Contextualizando a Literatura Infantil e Juvenil...................................... 20 1.2 - A produção literária para criança no Brasil……….................................. 34 1.3 - A escolarização da Literatura Infantil...................................................... 48 CAPÍTULO 2 - A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) como instância de premiação.......................................................................................... 54 2.1 - Breve histórico da Fundação Nacional do livro Infantil e Juvenil............ 54 2.2 – A avaliação da produção literária realizada pela FNLIJ......................... 80 CAPÍTULO 3 - A presença dos livros premiados para crianças nas bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte................................................... 92 3.1 A visibilidade do trabalho da FNLIJ na prática dos profissionais............. 97 3.2 O perfil dos livros premiados.................................................................... 102 3.3 A visibilidade do trabalho da FNLIJ na leitura das crianças..................... 111 CAPÍTULO 4 – FNLIJ e PNBE: em defesa da qualidade da produção literária para criança.................................................................................................................... 119 4.1 - Qualidade do texto……………………………………………………..…… 124 4.2 - Adequação temática……………………………..…………………………. 130 4.3 - Projeto gráfico…………………………………….................…….............. 137 A VISIBILIDADE DA PREMIAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR............................................... 150 Referências bibliográficas ..................................................................................... 155 12 ANEXOS Anexo 1 - Livros premiados para criança.............................................................. 162 Anexo 2 - O formulário........................................................................................... 171 Anexo 3 - Termo de compromisso FNLIJ.............................................................. 176 Anexo 4 - Regulamento do Prêmio FNLIJ………………………………….............. 180 Anexo 5 - Carta enviada aos integrantes do júri FNLIJ......................................... 183 Anexo 6 - Relação de todas as escolas da RMBH................................................ 184 Anexo 7 - Quantidade de exemplares por títulos nas bibliotecas escolares......... 188 Anexo 8 - O livro premiado tem em quantas escolas?.......................................... 190 Anexo 9 – Quantidade de títulos premiados de cada escola................................ 192 Anexo 10 – Análise dos livros premiados na categoria criança pela FNLIJ.......... 196 Anexo 11 - Livros premiados mais procurados pelas crianças............................. 201 Anexo 12 - Livros premiados mais esquecidos pelas crianças............................. 202 Anexo 13 - Livros premiados trabalhados nas bibliotecas escolares.................... 203 Anexo 14 – Edital do PNBE/2008.......................................................................... 204 13 INTRODUÇÃO Esta pesquisa se insere na linha de Educação e Linguagem e tem como foco de investigação a produção literária para crianças agraciada pela premiação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Apresentamos uma pesquisa que dá continuidade a um estudo desenvolvido no final do curso de pedagogia1 sobre a presença, nas bibliotecas escolares, dos livros premiados na categoria criança pela FNLIJ, durante o período de 1974 a 2006. O interesse pela pesquisa sobre livros premiados pela FNLIJ na categoria criança surgiu a partir do contato com o Grupo de Pesquisa do Letramento Literário2 (GPELL) que, há oito anos, participa da comissão julgadora do Prêmio FNLIJ. Interessam ao Grupo as práticas sociais de leitura e de escrita presentes em instâncias sociais de circulação de livros, em que os sujeitos interagem em situações de comunicação. Desde 1995, o GPELL vem promovendo, bienalmente, o evento Jogo do Livro Infantil e Juvenil. Esse evento tem se apresentado como um fórum de discussão entre os vários grupos sociais e acadêmicos interessados no letramento literário, incluindo autores, editores, artistas plásticos, gráficos, livreiros, bibliotecários, professores, pesquisadores, pedagogos, estudantes, entre outros. A edição Jogo do Livro VI, de modo especial, e as reuniões do GPELL possibilitaram um maior conhecimento e interesse pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. A FNLIJ tem como objetivo institucional a promoção da leitura e a divulgação de livros de qualidade para crianças e jovens. Desde 1974, vem premiando livros de literatura em 14 categorias3: criança, imagem, informativo, jovem, literatura de língua portuguesa, livro-brinquedo, poesia, reconto, teatro, teórico, tradução/adaptação criança, tradução/adaptação informativo, tradução/adaptação jovem e tradução/adaptação reconto. Além dessas categorias, a FNLIJ premia revelação 1 A presença dos livros premiados para crianças em bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte. Monografia de final de curso de Pedagogia da FaE – UFMG. Orientadora: Profa. Dra. Aparecida Paiva. Defendida em junho de 2006. 2 O GPELL integra as atividades do Núcleo de formação permanente de professores do Centro de alfabetização, leitura e escrita – Ceale e tem, nos últimos anos, se dedicado a pesquisas voltadas para a formação de leitores literários. O Ceale é um órgão complementar da Faculdade de Educação da UFMG. 3 As categorias sofreram modificações com o passar do tempo. Foram utilizadas nesta pesquisa as categorias atualizadas pela FNLIJ em 2006. 14 escritor, revelação ilustrador, melhor projeto gráfico e melhor ilustração. A escolha pela categoria criança foi feita por acreditarmos na importância da formação leitora desde o início da escolarização. A escola, além de assumir a responsabilidade de iniciar a criança no processo de alfabetização através da apropriação das operações de um código, precisa preparar a criança para se tornar um leitor efetivo, ou seja, precisa letrar o aluno para que ele possa utilizar socialmente a “competência alfabética” (Soares, 1999). De acordo com Zilberman, a literatura infantil contribui para a formação leitora dos alunos: A literatura infantil é levada a realizar sua função formadora, que não se confunde com uma missão pedagógica. Com efeito, ela dá conta de uma tarefa a que está voltada toda a cultura – a de “conhecimento do mundo e do ser”, como sugere Antônio Cândido (...) (ZILBERMAN, 2003, p.29). Para comemorar três décadas dedicadas à seleção de livros de literatura para crianças e jovens, a FNLIJ divulgou uma lista de todos os premiados na categoria criança, no total de 42 obras, na Feira de Bolonha, em abril de 2005. Conforme publicado em seu informativo, dois objetivos orientaram essa divulgação: primeiro, que tais obras pudessem ser conhecidas por professores e bibliotecários, visando orientá- los para a compra de acervos para bibliotecas e escolas; segundo, incentivar professores e especialistas a realizarem estudos sobre a produção editorial brasileira voltada para crianças e jovens nos últimos 30 anos. Será analisado, na presente pesquisa, um total de 49 obras premiadas (anexo1) levando em consideração todos os livros premiados, na categoria criança, nos anos de 1974 a 2006. Diante da sugestão do boletim de incentivar professores e especialistas a realizarem estudos sobre a produção editorial brasileira, nos sentimos instigadas a fazer uma pesquisa para responder à seguinte questão: O trabalho da FNLIJ tem repercussão na composição dos acervos das bibliotecas de escolas públicas? Pretendemos, com esta pesquisa, como já mencionado, ampliar e aprofundar o estudo realizado durante a graduação, ocasião em que investigamos 30 bibliotecas escolares no universo de 181 escolas da Rede Municipal de Belo Horizonte. O objetivo principal desta pesquisa é o de investigar a efetivação do trabalho que vem sendo realizado pela FNLIJ a partir da presença, ou não, dos títulos premiados na categoria criança nos 15 acervos das bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte (RMBH). Além disso, analisaremos a qualidade dos livros pesquisados com base nos critérios de avaliação do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Para alcançar o nosso objetivo e responder às indagações levantadas, foi necessária a elaboração de um formulário4, que se trata de um amplo roteiro de entrevistas composto de questões fechadas, permitindo um mapeamento da rede de ensino, e de questões abertas que possibilitam captar mais informações sobre os entrevistados e suas práticas. O formulário foi aplicado por nós, pesquisadoras, que fizemos perguntas, pessoalmente, aos profissionais que atuam nas bibliotecas escolares de todas as escolas da RMBH. Os dados levantados através da aplicação e do levantamento do formulário são os principais condutores da pesquisa. Além de ampliar o universo de investigação para todas as escolas da rede municipal, esta pesquisa foi realizada de forma integrada5. Desse modo, pretendemos realizar um mapeamento das bibliotecas dessa rede a fim de verificar: a presença dos livros premiados pela FNLIJ; a efetivação de políticas públicas de incentivo à leitura e a atuação dos mediadores, especialmente os auxiliares de biblioteca, na promoção da leitura. A partir do levantamento e análise dos dados, esta pesquisa poderá funcionar, também, como um diagnóstico da Rede Municipal de Belo Horizonte por contemplar a totalidade das escolas, permitindo conhecer um pouco da realidade das bibliotecas escolares e fomentar futuras pesquisas. Além disso, a pesquisa poderá possibilitar a apresentação do trabalho realizado pela FNLIJ para aqueles profissionais que atuam nessas bibliotecas. Alguns conceitos são considerados fundamentais para a realização desta pesquisa, especialmente: literatura infantil; leitura e a formação de leitores. Destacam- se, também, a produção de autores como Bourdieu (1983, 1997), Chartier (2005), 4 O formulário foi elaborado coletivamente e vai contemplar quatro pesquisas na linha de Educação e Linguagem em função da convergência de temáticas e o interesse de realizar um estudo abrangendo toda a Rede Municipal de Belo Horizonte (Anexo 2). 5 A produção literária para jovens: recepção e usos dos acervos do PNBE/2006 por professores nos anos finais do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Belo Horizonte. Bruna Lidiane Marques da Silva. Programa Nacional Biblioteca da Escola – Uma análise da chegada dos acervos do PNBE/2005 nas escolas da Rede Municipal de Belo Horizonte. Daniela Freitas Brito Montuani. Biblioteca Escolar: práticas de leituras literárias e suas mediações. Elaine Maria da Cunha Morais. Todos os projetos de mestrado estão inseridos no Programa de Pós Graduação da Faculdade de Educação – FaE/UFMG. 16 Coelho (1991, 2006), Lajolo (1982, 1994, 2002, 2006), Soares (1999, 2004, 2006) e Zilberman (1988, 2003, 2004) além de estudos e pesquisas desenvolvidos pelo GPELL que serão tomados como base teórica principal. Para fazer uma melhor exposição desta pesquisa, que buscou identificar a presença dos livros premiados pela FNLIJ, dividimos a dissertação em quatro capítulos que serão apresentados a seguir: O primeiro capítulo, intitulado Situando a literatura infantil e juvenil, apresenta um breve histórico da literatura infantil e juvenil, a produção brasileira destinada para as crianças e sua inevitável escolarização. Podemos dizer que a literatura infantil brasileira apareceu tardiamente e permaneceu por muito tempo sob o domínio cultural europeu. Foram décadas de traduções e produções tímidas inspiradas quase que exclusivamente em produções européias. Foi no final do século XIX que a literatura infantil começou a transitar por terras brasileiras, difundindo a mesma concepção que lhe dera origem e contextualizando-se no panorama da literatura universal. Podemos identificar algumas dificuldades que o gênero apresentou para conquistar hegemonia e ser reconhecido como produção artística. No início, foram importados os textos tradicionais com seu caráter didático e redutor, decorrente da associação da literatura com os valores de um grupo social hegemônico. O texto infantil foi usado como difusor de preceitos e de normas comportamentais, doutrinando as crianças. Ao avaliar a produção de textos infantis, Bordini (1998) afirma que os programas de incentivo à leitura tornaram o governo o principal cliente da indústria editorial. A rede escolar foi fartamente abastecida não só com livros didáticos, mas também com títulos da literatura infanto-juvenil. Diante do grande número de livros à disposição no mercado, é necessária uma avaliação criteriosa na hora de indicar textos para a leitura. Muitas obras continuam repetindo o modelo pedagógico, o que fez com que a literatura infantil ficasse desacreditada. No contexto escolar, o processo de comunicação literária ressalta as relações existentes entre literatura e escola: ambas têm natureza formativa. Entretanto, a diferença está na restrição: a escola está ligada ao pedagógico e a literatura no lado humanizador. Ambas agem de modo dinâmico no seu destinatário, que não permanece indiferente a elas. Além disso, a escola e a literatura provam, quando vistas como 17 instituições, sua utilidade quando se tornam o espaço para o estudante refletir sobre sua condição pessoal e a do mundo que o cerca. Nesse sentido, as obras literárias são capazes de propiciar essa reflexão por mais distantes ou diferenciadas espacial e temporalmente que sejam. Porém, se, por um lado, a sala de aula é o local privilegiado para se desenvolver o gosto pela leitura e para o intercâmbio da cultura literária, por outro, o aluno não quer ser ensinado através da literatura. Não se deve colocar a arte na escola com uma finalidade meramente pragmática, uma vez que a natureza e a função primeiras da literatura são o deleite, a contemplação, não a utilidade prática. Entretanto, como afirma Soares (1999), não há como evitar que a literatura se torne “saber escolar” sem ser escolarizada. O problema está na inadequada, errônea e imprópria escolarização da literatura que transforma, falsifica e desfigura o texto literário ao torná-lo escolar. No segundo capítulo, A Fundação Nacional do livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) como instância de premiação, apresentamos, num primeiro momento, a história dos 40 anos de trabalho dessa fundação. Após a contextualização da literatura, no capítulo anterior, no qual apontamos a importância de livros de qualidade para a formação de leitores competentes, não podíamos deixar de apresentar o trabalho realizado por essa instituição e seu processo de avaliação. Citamos, como exemplo, a experiência de um dos votantes dessa fundação, o GPELL. Para apresentar a premiação da FNLIJ e o seu lugar no contexto escolar, trabalhamos o conceito de capital simbólico de Bourdieu. Este está relacionado ao prestígio que um indivíduo possui em um campo específico ou na sociedade em geral. No campo literário, por exemplo, percebe-se a disputa de espaço e de reconhecimento para si mesmos e suas produções entre editores, escritores, críticos e pesquisadores das áreas de língua e literatura. Através de discussões sobre o valor simbólico que a sociedade constrói de acordo com a época vivida, podemos fazer uma correlação ao valor dado à premiação de livros pela FNLIJ. O prêmio, com seu valor simbólico, pode ser considerado um dos responsáveis pela visibilidade obtida pelas pessoas e instituições que legitimam essa instância. No capítulo 3, A presença dos livros premiados para crianças nas bibliotecas escolares, analisamos os dados empíricos da pesquisa. Apresentamos a visibilidade do 18 trabalho da FNLIJ pela prática dos profissionais e pela leitura das crianças. No primeiro caso, buscamos identificar o conhecimento destes profissionais sobre a FNLIJ, se a lista de premiados auxiliou na constituição do acervo da biblioteca escolar, como tomaram conhecimento da fundação e se na escola havia algum trabalho realizado com os livros pesquisados. No caso das crianças, basicamente, buscamos identificar os livros premiados pelos quais havia mais procura e os que eram esquecidos por elas. Além disso, levantamos o perfil dos livros analisados, segundo alguns critérios como: presença de ilustrações, cores, forma e tipo das letras, formato, fonte, páginas, sumários entre outros. Analisamos a proporção de autores e ilustradores que tiveram mais de um livro premiados e percebemos também a presença forte de autores que ilustraram seu próprio livro. Partindo da idéia da importância da presença dos livros premiados na escola e da qualidade destas obras, segundo critérios de uma avaliação nacional, o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), o quarto capítulo, intitulado A qualidade da produção literária premiada para crianças pela FNLIJ, foi dividido em três partes: a qualidade do texto, adequação temática e projeto gráfico, que são os critérios de avaliação estabelecidos pelo edital do PNBE/2008. O Programa Nacional Biblioteca da Escola foi instituído em 1997 para democratizar o acesso de alunos e professores à cultura, à informação e aos conhecimentos socialmente produzidos ao longo da história da humanidade. O programa distribui acervos formados por obras de referência, de literatura e de apoio à formação de professores. Dez anos depois de sua criação, o PNBE, além de promover a distribuição de obras para atender alunos e bibliotecas do Ensino Fundamental, pela primeira vez dedica atenção à Educação Infantil. Antes de arrolar os critérios adotados para a escolha das obras, o edital de convocação para o PNBE/2008 enfatizou que o contato das crianças com a literatura “deve promover momentos de alegria, de desafios para a imaginação e para a criatividade, de troca e de experiência com a linguagem escrita. O livro destinado às crianças precisa envolver sentimentos, valores, emoção, expressão, movimento e ludicidade, permitindo inúmeras interações”. É a partir dos aspectos analisados por este programa de avaliação de livros de literatura que buscamos identificar a qualidade dos livros premiados pela FNLIJ na categoria criança. 19 Segundo Chartier (2005), nós educadores temos que estar cientes de que, para se formar o gosto pela leitura, não se pode prometer ao leitor o prazer imediato e durante todo o tempo. Nossa tarefa é apresentar a literatura, mesmo que não possamos esperar disso muito prazer. Dessa forma, fica evidente a importância da formação do professor como um dos principais mediadores da leitura na vida das crianças. Além deles, não podemos deixar de citar os profissionais que atuam nas bibliotecas escolares como importantes mediadores no espaço de leitura legitimado que é a biblioteca. Por fim, discutiremos A visibilidade da premiação no contexto escolar, ou seja, qual a repercussão do trabalho da FNLIJ nas escolas. Será que a FNLIJ está conseguindo atingir um dos seus objetivos que é a tomada de conhecimento sobre a relação dos livros premiados por parte de professores e bibliotecários, visando orientá- los para a compra de acervos para bibliotecas e escolas? 20 CAPÍTULO 1- Situando a Literatura Infantil e Juvenil O capítulo apresenta um breve histórico da Literatura Infantil e juvenil. As informações obtidas estão apoiadas, principalmente, nas leituras de Nelly Novaes Coelho, Marisa Lajolo e Regina Zilberman, entre outros autores e em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa do Letramento Literário (GPELL) que serão tomados como base teórica. Para melhor exposição do capítulo, este foi dividido em três partes: Contextualizando a Literatura Infantil e Juvenil; A Produção Literária para Criança no Brasil e a Escolarização da Literatura Infantil. Na primeira parte, os dados obtidos foram retirados principalmente das obras “Panorama histórico da Literatura Infantil e Juvenil”, “Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira” e “Literatura Infantil Brasileira: Histórias & Histórias”. Na segunda parte, além das obras citadas, nos concentramos apenas na produção da Literatura Infantil, levando-se em consideração que o objeto desta pesquisa é a criança. Por fim, na última parte, refletimos sobre a literatura na escola e nos baseamos, principalmente, nas leituras das obras de Magda Soares. 1.1 Contextualizando a Literatura Infantil e Juvenil Foi a partir do nascimento da infância como instituição, no início da Idade Moderna, que a Literatura Infantil apareceu, considerando-se que a infância, como construção histórica, implica perceber que cada época encara a criança sob uma ótica distinta. É sabido também que a Literatura Infantil surgiu na Europa, com a transformação dos contos populares para uma visão educativa burguesa. Assim, do acervo da tradicão oral, que inicialmente nem se dirigia às crianças, foram aproveitados os contos de fada que passaram a veicular modelos de comportamento desejados pela classe burguesa, a qual tomava da nobreza o poder. De acordo com Coelho (1991), livros consagrados como clássicos infantis, fábulas de La Fontaine, contos-de-fada, contos maravilhosos de Perrault ou Grimm não correspondem aos verdadeiros autores de tais narrativas. São eles alguns dos 21 escritores que, desde o século XVII, interessados na literatura folclórica criada pelo povo de seus respectivos países, reuniram as histórias anônimas que há séculos vinham sendo transmitidas, oralmente, de geração para geração, e as transcreveram. A Literatura atravessou séculos, preservada pela memória dos povos com o seu caráter mágico ou fantasioso, afinal ela não foi transcrita em material perene. Por meio dela foi descoberto o fundo fabuloso das narrativas orientais, que se forjaram durante séculos antes de Cristo e se difundiram por todo o mundo cristão, através da Tradição Oral. De acordo com Coelho (1991), o poder de resistência da palavra prova, de maneira irrefutável, que a comunicação entre os homens é essencial à sua própria natureza. O impulso de contar histórias deve ter nascido no homem no momento em que ele sentiu necessidade de comunicar aos outros certa experiência que poderia ter significação para todos. Das narrativas orientais nascem as narrativas medievais arcaicas, que acabam se popularizando na Europa e depois em suas colônias americanas como o Brasil e se transformando em literatura folclórica. Hoje, principalmente no Nordeste, esta literatura circula através da “literatura de cordel” ou em Literatura Infantil por meio dos registros feitos por escritores como Perrault, Grimm entre outros. Conforme os estudiosos, entre os séculos IX e X, em terras européias, começa a circular, oralmente, uma literatura popular que, séculos mais tarde, iria transformar-se na literatura hoje conhecida como folclórica e também como Literatura Infantil. Segundo Coelho (1991), durante os séculos medievais surge e prolifera, em terras do Ocidente europeu, uma copiosa literatura narrativa proveniente de fontes distintas: uma popular e outra culta. A de fonte popular é a prosa narrativa “exemplar”, derivada das antiqüíssimas fontes orientais ou gregas; afirma os problemas da vida cotidiana, os valores de comportamento ético-social ou as lições advindas da sabedoria prática. A de origem culta é a prosa aventuresca das novelas de cavalaria, de inspiração ocidental, realçada por um idealismo extremo e um mundo de magia e de maravilhas completamente estranhas à vida real e concreta do dia-a-dia. A maior parte da literatura que nasce no período da Idade Média (V-XV) tem caráter moralizante, didático, sentencioso, o que marca a fusão do lastro oriental com o ocidental. Esse fato é compreensível se pensarmos na força da religião como 22 instrumento civilizador. Na verdade, é sempre uma literatura que divulga ideais, que busca ensinar divertindo, num momento em que a palavra literária era vista como atividade superior do espírito. As narrativas mais antigas giram em torno de certos elementos que derivam ou desembocam na violência: a vitória ou prepotência dos fortes sobre os fracos; a luta pelo poder através de quaisquer meios; as metamorfoses contínuas; a falsidade ou traição das mulheres; a ambição desmedida de riqueza e poder; a astúcia dos fracos para escapar à prepotência dos fortes; a utilização de animais para “representarem” as ações humanas... Por outro lado, registram narrativas “edificantes”, isto é, transmissoras de modelos de moral, onde, através de variadas situações, difunde-se uma atitude moral básica: o respeito pelo próximo. Dela decorre todo um corolário de ações “exemplares” para um convívio comunitário equilibrado, aspecto que vai ser sobremaneira ampliado na literatura européia que surge no período medieval. (COELHO, 1991, p.21) Não é difícil imaginar a violência do convívio humano no período medieval, quando forças selvagens, opostas e poderosas se chocam, lutando pelo Poder. O fato é que as marcas dessa violência ficaram impressas em muitas das narrativas “maravilhosas” que nascem nessa época. Essa violência ou crueldade vai desaparecendo desses contos maravilhosos à medida que os tempos passam ou que a humanidade vai refinando seus costumes. Isso é facilmente notado nas alterações que se produzem em certos contos, como nos de Perrault, quando adaptados pelos irmãos Grimm e nos contos destes em relação às versões contemporâneas. Hoje, transformados em Literatura Infantil, perderam toda a agressividade original. Pelos vários estudos que se fizeram sobre o folclore brasileiro, sabemos que, basicamente, a transmissão dos fatos folclóricos se faz no meio familiar, de pai para filho e no meio comunitário, por alguns membros que conservam o saber e o transmitem ao grupo, o qual aprende e vive o saber como parte da vida comunitária. A assimilação e transmissão da matéria folclórica, para tais grupos, são mais do que diversão, são uma vivência fundamental, que dá ao indivíduo o sentido de integração ao grupo. O sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, ao analisar a importância da cultura infantil como mediadora da transmissão dos fatos folclóricos, nota que boa parte dos elementos constitutivos da cultura infantil é restos dos romances antigos. As composições antigas como “A canoa virou”, “Passei pela Barca”, “Ciranda a Roda”, entre outras, são pertencentes ao círculo dos adultos e, posteriormente, passaram para 23 os grupos infantis. “Não se compreenderia a continuidade das ocorrências folclóricas através dos tempos, se não fosse sua transmissão às gerações mais novas, por intermédio da criança”. (Coelho, 1991, p.46 apud In. Folclores e Mudança Social na Cidade de São Paulo, apud J. de Figueiredo F., FIC -125). Por volta dos séculos XV e XVI, impõe-se um novo viver, o qual se processou na Idade Média, preparado durante a lenta transformação do mundo. O amplo e complexo movimento cultural que se propagou na Europa Ocidental a partir do momento em que as novas nações já estavam praticamente constituídas foi o Renascimento. Transformação de limites, de horizontes, de idéias, de costumes que foram sendo provocadas por invenções e descobertas, como o progresso da arte de navegar, a invenção da pólvora, o desenvolvimento das riquezas e do espírito de progresso provoca novos empreendimentos. Os limites do mundo se ampliam desmesuradamente. O surgimento do dinheiro transforma o antigo sistema do comércio por troca em operações de compra e venda. A riqueza cresce, as mudanças se multiplicam, uma prosperidade desconhecida até então favorece as iniciativas mais ousadas. Ao mesmo tempo se expande o mercantilismo: os bancos. As grandes companhias instauram o capitalismo. Por uma soberania crescente, a Europa domina o mundo. Politicamente mais evoluída, ela procura também sua estabilidade, pois a crescente individualização das diversas nações exige um crescente esforço de equilíbrio. (Coelho, 1991) O ponto alto das transformações renascentistas está na invenção da imprensa. Indiscutivelmente, foi devido ao natural impulso do Homem em registrar suas experiências essenciais mais fugazes, que os vestígios das antigas manifestações do espírito humano puderam chegar até nós. O livro é uma das presenças mais significativas no processo cultural que surge no Renascimento. Coincidindo com o seu aparecimento, são estabelecidas as bases de um mundo novo, progressista, empreendedor, idealista, que valoriza o Homem em seu poder de criatividade e sua força de trabalho, como propulsores da vida civilizada. Portanto, nesse amplo movimento renovador, está o Humanismo, ou seja, o novo Conhecimento do Homem construído pelo pensamento cristão, ao descobrir no acervo cultural deixado pela Antiguidade grego-romana, a idéia da personalidade 24 liberal. É esse homem renascido depois de mil anos de espera, que vai construir a Renascença artística e literária, a partir dos modelos deixados pelos antigos gregos romanos. Nasce a Arte idealista, bela e harmoniosa, uma literatura culta e aristocrática, alicerçada em pressupostos filosóficos e estéticos bem definidos. Uma Arte e uma Literatura que, por sua vez, com o passar dos séculos, se transformarão em modelo clássico para o mundo ocidental. Entretanto, na área da literatura popular, esse impulso renovador não penetra de imediato, fenômeno, aliás, bastante natural, quando lembramos que as camadas populares são as mais conservadoras e mais resistentes a qualquer sugestão de mudança. Durante o século XVI, continuam a circular, oralmente ou em manuscritos, a literatura surgida na Idade Média, em novas variantes ou simples imitações. Foi através das reformas de educação propostas no decorrer dos séculos XVI e XVII que se conhece o rigor, a intolerância, a ausência de alegria e a violência que compunham a atmosfera dos Colégios. Segundo Coelho (1991), o movimento da Reforma, contemporâneo à expansão do Humanismo, foi muito importante para a renovação do sistema educativo medieval. Porém, se por um lado reafirma a liberdade de pensamento e muitas regiões incrementam o ensino elementar, defendendo a obrigatoriedade escolar (para que pudessem fazer leitura direta do Evangelho), por outro lado vai provocar o recrudescimento das lutas religiosas. O setor de ensino, obviamente, vai ser um dos mais visados nessa luta ideológico-religiosa que se desencadeia com o movimento de Contra-Reforma. Com a instauração da Censura pela Inquisição, impede-se o livre curso das novas idéias e os estudos das Humanidades transformam-se em mero formalismo erudito e estéril. Subordinam-se totalmente as “belas letras” à “obra pia de salvar as almas”. Todo esse conjunto de fatores levou, pois, à estagnação ou à deformação da cultura que havia eclodido no Renascimento e, também, favoreceu a permanência das obras fantasiosas que haviam surgido na Idade Média, ao lado da literatura moralizante. Permanecendo vivas na voz do povo até o século XVII, foram se cristalizando em formas que hoje são o folclore de cada nação européia. Cavaleiros andantes, reis, rainhas, princesas e príncipes bons e maus, fadas, bruxas, metamorfoses de criaturas humanas em animais (ou vice-versa), ogres e ogressas canibalescos, maldições, profecias, madrastas, crianças abandonadas, 25 crianças que são entregues para serem mortas, fantasmas e magos, gênios benfazejos e malfazejos... é a fantástica legião de personagens que a partir do século XVII os escritores cultos vão descobrir na tradição oral dos povos europeus e criar a Literatura Infantil que hoje conhecemos como “tradicional”...(COELHO, 1991, p.66) As atividades embrionárias de educação, cultura e literatura no Brasil tiveram seu início no século XVI, a partir de 1549, com a chegada dos jesuítas que vieram com o governador, Tomé de Sousa. Elas surgiram no clima da Contra-Reforma e com os objetivos catequizadores e de expansão da fé que caracterizaram o lento processo colonizador. Os primeiros nomes relacionados com essas atividades foram Manoel da Nóbrega e José de Anchieta. O caráter popular com que surgiram essas manifestações literárias se deve, evidentemente, ao pragmatismo que as orientava: promover a catequização dos índios e a reafirmação da fé católica, ameaçada pela Reforma protestante. É durante o período histórico conhecido como Tempos Modernos que a Literatura Ocidental vai adquirir seu contorno próprio e alcançar o apogeu de suas formas e imagem de mundo. Esse amplo período histórico corresponde a duas Eras: a Clássica (séculos XVI – XVII) e a Romântica (séculos XIX – XX). Inicia-se a ascensão da civilização humanista liberal cristã burguesa, que chega ao apogeu no século XIX e começa o seu declínio no século XX. É na França, na segunda metade do século XVII, durante a monarquia absoluta de Luís XVI, que se manifesta abertamente a preocupação com uma literatura para crianças ou jovens. As fábulas (1668) de La Fontaine; os Contos da Mãe Gansa (1691/1697) de Charles Perrault; os Contos de Fadas (8 vols.-1696/1699) de Mme. D’Aulnoy e Telêmaco (1699) de Fénelon são os livros pioneiros do mundo literário infantil, tal como hoje o conhecemos. Essa literatura resulta da valorização da fantasia e da imaginação e se constrói a partir de textos da Antiguidade Clássica ou de narrativas que circulavam oralmente entre o povo. Tal “tradição”, popularizante ou erudita, redescoberta ou recriada por escritores cultos, contrasta vivamente com a alta literatura clássica produzida nesse momento. No Brasil Colônia, a situação da literatura apresenta algumas alterações importantes no século XVII. Na literatura culta, registra-se o poema épico de Bento Teixeira, Prosopopéia (1601), como índice de que a cultura começara a fermentar na 26 Colônia. Porém, os dois nomes que podem ser equiparados aos da Europa na época são: Gregório de Matos (1623/1696), o poeta, e Pe. Antônio Vieira (1608/1697), o orador sacro. Em relação à literatura popular e à infantil, não é difícil deduzir que, com o crescente aumento das levas de colonizadores e a formação de núcleos comunitários mais ou menos estáveis, começou a chegar o patrimônio literário incorporado pelo povo através da transmissão oral. Com a intensificação das medidas colonizadoras, aportaram em terras brasileiras, trazidas na memória dos colonos ou nas “folhas volantes” que corriam na Europa, as narrativas medievais, as novelas de cavalaria, os velhos romances, os contos ou histórias jocosas, satíricas e as histórias de “proveito e exemplo” que hoje integram o nosso folclore, principalmente o do Norte e Nordeste, onde se concentrou o maior contingente colonizador nos séculos XVII e XVIII. Se o foco gerador do Renascimento Literário foi a Itália, o do equilíbrio clássico, no século XVII, foi a França; agora, no século XVIII, é na Inglaterra (do Mercantilismo Imperialista, da Revolução Agrária e da Revolução Industrial) que surge o novo gênero que desse momento em diante vai superar todos os demais. Conforme Coelho (1991), é o romance a forma de ficção narrativa que se torna a expressão literária da Sociedade Burguesa que então se consolidava. Entretanto, antes de aparecerem os primeiros modelos do romance moderno, surgem duas obras de ficção que, pela originalidade de sua invenção e enraizamento na Vida Real, foram, desde o primeiro momento, um sucesso absoluto entre os leitores e, até hoje, correm mundo entre as demais obras-primas da literatura universal. Referimo-nos ao Robson Crusoé (1719) de Daniel Defoe e às Viagens de Gulliver (1726) de Jonathan Swift. Ambas foram publicadas na Inglaterra, nas primeiras décadas do século XVIII, quando se dava a grande transformação da produção do mundo clássico, aristocrático, para o mundo romântico, burguês. Portanto, segundo privilégios e hierarquias de sangue, nobreza e poder herdados ou conquistados pela guerra, basearam-se nas relações de interesse criadas pelo individualismo, dinheiro, trabalho, produção, mercantilismo, industrialização, progresso. Ambos os títulos, originalmente escritos para adultos e alimentados por um espírito crítico, descrente do gênero humano, transformaram-se, com o tempo, em “adaptações”, de duas das mais importantes obras da Literatura Infanto-Juvenil de todo o mundo. 27 Segundo Coelho (1991), o século XVIII corresponde ao tumultuado período durante o qual se prepara a grande transformação que o mundo civilizado irá sofrer, em sua passagem para o século XIX. Transformação que, politicamente, corresponde à substituição do sistema monárquico absoluto (de raízes feudais/religiosas) para o monárquico liberal (que se implanta no séc. XIX, gerado pelo pensamento cientificista/progressista, vindo da revolução científica do séc. XVII e atingindo o clímax com o Iluminismo do séc. XVIII). Numa sociedade que cresce por meio da industrialização e se moderniza em decorrência dos novos recursos tecnológicos disponíveis, a literatura infantil assume, desde o começo, a condição de mercadoria. Nó século XVIII aperfeiçoa-se a tipografia e expande-se a produção de livros, facultando a proliferação dos gêneros literários que, com ela, se adequam à situação recente. Por outro lado, porque a literatura infantil trabalha sobre a língua escrita, ela depende da capacidade de leitura das crianças, ou seja, supõe terem passado pelo crivo da escola. Os laços entre a literatura e a escola começam desde este ponto: a habilitação da criança para o consumo de obras impressas. Isto aciona um circuito que coloca a literatura, de um lado, como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo que se impõe aos poucos; e, de outro, como caudatária da ação da escola, a quem cabe promover e estimular como condição de viabilizar sua própria circulação. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2005, p. 18) Marcado pela convergência de diferentes tendências e correntes literárias, que mesclam o culto e o popular, o século XIX era conhecido literariamente, segundo Coelho (1991), como o século de ouro do romance e da novela. É dessa mescla que surge a forma romance, o gênero narrativo que seria um espelho da sociedade e que se torna a forma mais importante de entretenimento para o grande público da época. Toda uma evolução mental, econômica e social, atuando desde a base, alterava o conhecimento de mundo no plano das idéias; transformava a vida no plano do cotidiano ou da práxis e, evidentemente, criava uma nova representação de mundo no plano da Literatura. Dentro desse processo renovador, a criança é descoberta como um ser que precisa de cuidados específicos para sua formação humanística, cívica, espiritual, ética e intelectual. Os novos conceitos de vida, educação e cultura abrem caminho para os novos procedimentos nas áreas pedagógica e literária. Pode-se dizer que é nesse momento que a criança entra como um valor a ser levado em consideração no processo social e no contexto humano. 28 Foi com o advento da revolução industrial que surgiram mudanças na estrutura da sociedade, as quais vão se refletir na preocupação com a infância. A criança passa, então, a ser percebida como um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias. A escola, para ocupar a criança durante essa etapa de sua vida e, ao mesmo tempo, informá-la para momentos futuros de sua existência, converte-se no intermediário entre a criança e a cultura, usando, como intermediário entre ambos, a leitura. A passagem da infância para a vida adulta se fazia quase sem transição, a criança era ainda vista como um adulto em miniatura, por isso os raros livros escritos eram especialmente para leitores da faixa intermediária, puberdade e adolescência. Até o início do século XX, a maior parte das leituras era da faixa etária adulta e existiam alguns livros originais ou em adaptações, dentre estes, poucos destinados às crianças. Entretanto, houve uma mudança com os pais que passaram a se interessar pelos estudos de seus filhos, porém, com as relações sociais que se estabelecem na idade moderna, a criança passa a ter um papel central nas preocupações da família e da sociedade. A nova percepção e organização social fizeram com que os laços entre os adultos e as crianças, pais e filhos fossem fortalecidos. A partir deste momento, a criança começa a ser vista como indivíduo social, dentro da coletividade, e a família tem grande preocupação com a saúde e a educação dos filhos. Conforme Àries (1981), a família passou a se organizar em torno da criança e a lhe dar uma tal importância que esta deixou o seu antigo anonimato. Tornou-se necessário limitar o número de filhos para poder cuidar melhor deles. A mudança de paradigma no que se refere ao conceito de infância está diretamente ligada com o fato de que as crianças eram consideradas adultos imperfeitos. Assim, essa etapa da vida provavelmente seria de pouco interesse. Somente em épocas comparativamente recentes, houve o reconhecimento da criança como um ser com características próprias e de cuja educação dependeria, no futuro, a personalidade ou o caráter do adulto. No século XIX, a criança burguesa encontra-se integrada no contexto familiar, sendo forte a presença da mulher na organização doméstica. Já a criança proletária 29 continuou sendo abandonada precocemente, obrigada a trabalhar cedo, tratada com violência ou então negligenciada. Com o êxito no processo de privacidade familiar, maior na camada burguesa, menor entre os operários, gerou-se uma lacuna referente à socialização da criança. Surge uma literatura informativa, que pretendia auxiliar as crianças a se prepararem, o mais depressa possível, para a vida adulta. Foi durante a primeira metade do século XIX que o Brasil iniciou sua caminhada rumo ao progresso econômico, à independência política e à conquista da cultura, o que o colocaria entre as nações civilizadas do Ocidente. Este progresso foi proporcionado pela mudança da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, e pelas medidas oficiais tomadas imediatamente por D. João VI, no sentido de preparar a colônia brasileira para ser a nova sede do reino de Portugal. Em 1822, reagindo às decisões da nova Constituição Portuguesa, Dom Pedro proclama a Independência e se torna Imperador do Brasil. No setor do Ensino, como nos demais setores, a carência era total. O Brasil enfrentava ainda as conseqüências da supressão do ensino jesuíta, sem que outro sistema viesse substituí-lo. Entre as primeiras medidas oficiais, tomadas por D. João VI, estava a criação de Academias, Cursos, Escolas etc. Mas, evidentemente, na prática os resultados não podiam ser muito auspiciosos. Foi entre os séculos XIX e XX que o sistema escolar nacional passou por reformas de real alcance e incorporou a produção literária para crianças e jovens. Simultaneamente ao aumento de traduções e adaptações de livros literários para o público infanto-juvenil, começa a se firmar, no Brasil, a consciência de que uma literatura própria, que valorizasse o nacional, se fazia urgente pra a criança e para a juventude brasileira. Narrativas (...) pertencentes ao acervo literário europeu, foram com certeza o húmus que alimentou as primeiras tentativas brasileiras de produção literária adaptada às crianças brasileiras. Produção literária que, como na Europa, surge essencialmente ligada à escola e dependente das injunções histórico-político- econômicas de cada época. (COELHO, 2006, p.16) A experiência literária se dá, inicialmente, no âmbito do ensino escolar. Literatura e Pedagogia desenvolvem-se, fortemente unidas. A época era de transformações aceleradas. Emergia uma nova classe, a classe média, que se auto- afirma, principalmente, através das profissões liberais. Um novo valor começa a ser 30 dado à inteligência, ao saber. Portanto, é de se esperar que numa época de valorização do saber, de efervescência nacionalista e de reivindicações liberais, se multipliquem as manifestações de reforma pedagógica e literária, visando à formação das novas gerações brasileiras. Um dos centros pioneiros do movimento de renovação educacional foi São Paulo, a partir de 1890, através das idéias e da ação de figuras como Antônio Caetano de Campos, Maria Guilhermina Loureiro de Andrade, Márcia Browne, Horácio Lane, Gabriel Prestes, Oscar Thompson e outros educadores que se empenharam em estimular o ensino experimental em nossas escolas, sem, entretanto, conseguir romper, no panorama geral, a estreiteza cultural reinante. Os livros de leitura foram no Brasil a primeira manifestação consciente da produção de leitura específica para crianças. Além disso, tais livros formam também a primeira tentativa de realização de uma Literatura Infantil brasileira, mostrando que os conceitos “literatura” e “educação” andaram essencialmente ligados (Coelho, 1991). Analisadas em conjunto, essas obras pioneiras, sejam adaptações ou originais, revelam facilmente a natureza da formação ou educação recebida pelos brasileiros desde meados do século XIX; uma educação orientada para a consolidação dos valores do sistema herdado. Os pilares desse sistema educativo eram: nacionalismo, intelectualismo, tradicionalismo cultural, moralismo e religiosidade. São esses os valores que encontramos nas obras precursoras e, em certa medida, são os que persistem latentes na criação literária posterior. Os primeiros textos que compuseram o acervo destinado à infância eram adaptações de obras endereçadas inicialmente ao público adulto, como dito anteriormente, e sequer inseriam a criança como personagem. De acordo com Coelho (2006), os textos primordiais produzidos para a criança pregavam obediência absoluta aos valores, padrões, tabus ou ideais consagrados socialmente. Os limites entre o certo e o errado eram bastante rígidos. No final da narrativa, o vício era castigado e a virtude, premiada. O aspecto moralizante desses títulos comprometeu artisticamente o gênero literário infantil. Durante o período de 1920-1945, época de efervescência política, intelectual e artística, o percurso da Literatura Infantil foi marcado pelo momento histórico cultural e, 31 especialmente, pelo ano de 1921, quando nascia oficialmente, pelas mãos de Monteiro Lobato, A menina do narizinho arrebitado. Monteiro Lobato inovou a temática das histórias e aproximou a linguagem ao tom coloquial que caracteriza a fala brasileira. Ele é, por assim dizer, o precursor de uma Literatura Infantil crítica: preocupou-se em debater temas públicos, normalmente circunscritos ao mundo adulto, de forma a serem facilmente apreendidos pelas crianças. Além disso, utilizou-se do humor, normalmente corporificado na figura de Emília, para desmistificar uma série de pseudo-verdades. Outra grande inovação é a utilização do folclore brasileiro e o trabalho sobre a relação fantasia/realidade. A intenção central de sua obra é formar futuros “modificadores da realidade”, por isso é repleta de uma ideologia “subversiva”. Monteiro Lobato foi o primeiro escritor brasileiro a acreditar na inteligência da criança, na sua curiosidade intelectual e na sua capacidade de compreensão. Seus textos estão cheios de citações e alusões que remetem a outros personagens, a outras épocas históricas e seus protagonistas. Ele foi um autor engajado, comprometido com os problemas do seu tempo. Tinha um projeto definido: influir na formação de um Brasil melhor por meio das crianças. O crescimento quantitativo da produção para crianças e a atração que ele começa a exercer sobre escritores comprometidos com a renovação da arte nacional demonstram que o mercado estava sendo favorável aos livros. Essa situação relaciona-se aos fatores sociais: a consolidação da classe média, em decorrência do avanço da industrializaçao e da modernização econômica e administrativa do país, o aumento da escolarização dos grupos urbanos e a nova posição da literatura e da arte após a revolução modernista. Há maior número de consumidores, acelerando a oferta; e há a resposta das editoras, motivadas à revelação de novos nomes e títulos para esse público interessado, seja de modo parcial, como a Globo, que edita Érico Veríssimo, Lúcio Cardoso, Cecília Meireles, entre outros, ou a Companhia Editora Nacional, a que se ligam Monteiro Lobato e Viriato Correia, ou integralmente, como as editoras Melhoramentos e Editora do Brasil, que preferem o lançamento de traduções. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2005, p.47) Nas décadas de 30 e 40, o Brasil foi marcado por um intenso esforço de reorganização política e de reconstrução econômica, período marcado pelo caos econômico que se instaura no mundo, com o crack da Bolsa de Nova York (1929) e, em seguida, intensificado pela eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), coincidindo, no Brasil, com o Estado Novo (ditadura implantada por Getúlio Vargas). Os esforços de reconstrução econômica seguem paralelos a um amplo movimento de 32 reivindicações sociais que, na literatura, encontra sua melhor expressão no romance regionalista. Simultaneamente a essas denúncias, prosseguia a fermentação das novas idéias pedagógicas e debatiam-se as propostas para o novo planejamento da educação nacional. Foi a Revolução de 30 que permitiu a concretização das novas diretrizes da educação pública, abrangendo os cursos primários, secundários e superiores. Segundo Coelho: Em plena consonância com a nova política educativa e com a crescente expansão da rede escolar, cresce também a produção da literatura infantil. Em sua base está a intencionalidade pedagógica que vinha do período anterior e até hoje não perdeu a sua legitimidade, tudo dependendo do grau em que se exerce essa intenção (que vê no estudo o caminho ideal para o aprendizado da leitura e da escrita). Se exagerado ou radicalizado, esse ideal pedagógico transforma a literatura em mero meio educativo. Foi o que aconteceu, no geral, com a literatura infantil desse período (no qual a formação letrada ainda não tinha sido substituída pela formação imagística ou visual trazida pela televisão). Daí o inexpressivo nível literário da maior parte de sua produção e a conseqüentemente indiferença da crítica ou dos estudiosos em relação a ela (considerada sempre como uma literatura menor). (COELHO, 2006, p.48) Segundo Lajolo e Zilberman (2005), a produção literária para crianças, nessa época, tinha em vista um projeto que combinava com o espírito norteador do regime autoritário próprio do momento. Para tanto, privilegiou-se o espaço rural como cenário para as ações dos enredos, criou-se um elenco de personagens infantis que pudessem transitar de um livro a outro, clássicos foram adaptados, material folclórico foi inserido e aproveitaram-se os feitos e figuras da História do Brasil. Com o público consumidor que crescia e com o apoio dos modernistas e das editoras, que se mostravam mais abertas às publicações infantis, a literatura para os pequenos ganha seu espaço no mercado cultural brasileiro, encontrando-se já bastante fortalecida por volta dos anos 40. Nessa época, intensificou-se a oposição entre realismo e imaginação fantasista, o que proliferou uma literatura comprometida com a educação pragmática da criança, na qual a preocupação com o literário praticamente cede lugar ao didático. Combatem-se as “mentiras” da Literatura Infantil tradicional. Os livros de Lobato começam a ser proibidos em colégios religiosos, sob a acusação de serem perniciosos à formação da criança. (...) nos anos 40, surge um tipo de literatura para criança que procura eliminar de sua gramática narrativa as “irrealidades”, o extraordinário e o maravilhoso que sempre caracterizaram a literatura infantil. Defendia-se o princípio de que os 33 contos de fadas falsificam a realidade e que seriam perigosos para a criança, pois poderiam provocar em seu espírito uma série de alienações como: perda de sentido concreto, evasão do real, distanciamento da realidade, imaginação doentia etc (...) (COELHO, 2006, p. 50) Podemos dizer que é na década de 50 que a crise de leitura se instala abertamente no Brasil. O novo mundo, gerado pelos meios de comunicação de massa, expande-se gradual e decisivamente. Os caminhos abertos pelo cinema e pelo rádio, no início do século, ampliam-se, dando início à era da televisão. A produção literária infantil e juvenil começa a se desembaraçar do realismo estreito que lhe vinha sendo imposto pela orientação pedagógica anterior. A fantasia é descoberta através da fusão do real com o imaginário. Foi a partir dos anos 60 que o Brasil tornou-se um país definitivamente alinhado com o modelo capitalista. A literatura passou a contar com instituições que a legitimavam. O fortalecimento do mercado editorial era um fato, bem como a maturidade do mercado consumidor. A ditatura militar fez com que os autores de Literatura Infantil recorressem à linguagem figurada para exprimirem sua insatisfação com o sistema. E a escola continuava a “apoiar” a Literatura Infantil, adotando obras pedagógicas para inclusão no currículo escolar. Vários textos produzidos na época vinham acompanhados por uma ficha de leitura que continha sugestões de atividades para uso em sala de aula. Em termos de produção de literatura para crianças, a década de 70 registrou um expressivo aumento de autores e de títulos à disposição do público. Foi o “boom da Literatura Infantil”. Entretanto, o saldo mais positivo que se pôde verificar relacionou-se com os caminhos seguidos pela narrativa e pela poesia e com o tratamento dispensado por ambos os gêneros aos temas e à linguagem. Abrandou-se o caráter didático- pedagógico que historicamente comprometia a produção literária infantil. A narrativa infantil das décadas de 70 e 80 produziu obras diversificadas, modernos contos de fadas e de ficção científica e narrativas de cunho social e policial. Entre os elementos renovadores que respondem por esse surto de criatividade (que ficou conhecido com o boom da literatura infantil) está a ilustração. Nestes últimos quinze anos, o livro infantil começa a ganhar espaço como um objeto novo. A narrativa visual (através dos desenhos, pinturas, colagens, montagens etc.) ganha igual (ou maior) importância que o texto. Nos anos 80, surgem os livros de histórias sem texto, cuja elaboração é realizada exclusivamente através de imagens e conquistam de imediato crianças e adultos. Um novo caminho se 34 abre para a invenção da literatura destinada às crianças (...) (COELHO, 2006, p. 52) A literatura para crianças e jovens é uma das áreas editoriais que mais tem se desenvolvido nos últimos anos. Estamos vivendo um período em que a literatura vem ganhando cada vez mais espaço na área acadêmica, nas escolas, na imprensa e aumenta a preocupação dos pais em torno do gosto pela leitura. Para essa eclosão de criatividade e de produção em massa, colaboram vários fatores inter-relacionados, como a LDB nº 9394/96, que exige o ensino da língua vernácula por meio de textos literários e novas relações entre escola e literatura, conseqüência da expansão do mercado e do surto de criatividade da literatura infantil. Por fim, podemos dizer que é na escola que, geralmente, as crianças têm acesso à literatura, e para que isso aconteça, é de extrema importância o papel do profissional da educação como mediador desse processo. Afinal, diante do grande número de livros à disposição no mercado, é necessário uma avaliação criteriosa na hora de indicar textos para a leitura. Muitas das obras continuam repetindo o modelo pedagógico que fez com que a Literatura Infantil ficasse desacreditada. 1.2 - A produção literária para crianças no Brasil As primeiras publicações de livros apareceram no século XV, porém, é somente no século XVIII que surgem os livros especificamente voltados para a criança6, conforme pesquisas de Lajolo e Zilberman (2005). Até então, obras como as Fábulas de La Fontaine (1668 e 1694) e os Contos da Mamãe Gansa de Charles Perrault (1697), atualmente associados ao gênero infantil, haviam sido publicados visando ao público em geral. Por serem obras originárias de histórias contadas pelo povo, não se enquadravam nos parâmetros exigidos pelas Academias de Letras, o que dificultava o interesse dos escritores pelo gênero. 6 Apesar de o capítulo ter o objetivo de apresentar a produção da literatura infantil no Brasil, algumas obras juvenis serão apresentadas para exemplificação. Além disso, obras internacionais serão mencionadas para melhor entendimento da produção brasileira. 35 Foi após o sucesso das obras de Perrault que a Literatura Infantil adquiriu espaço, caracterizada principalmente pelos contos de fadas. Apesar das publicações francesas de La Fontaine e Perrault, é na Inglaterra que a Literatura Infantil, como produto de consumo, ganha importância, fortalecida pelo intenso comércio do país, abundância de matéria-prima e, principalmente, seu desenvolvimento com a Revolução Industrial. Esse é o período do crescimento das cidades e da consolidação da burguesia. Entre as instituições que garantem o fortalecimento da Literatura Infantil está a família. Cada membro assume um papel específico na sociedade, até mesmo a criança, "motivando o aparecimento de objetos industrializados (o brinquedo) e culturais (o livro) ou novos ramos da ciência (a psicologia infantil, a pedagogia ou a pediatria)" (Lajolo e Zilberman, 2005). São associadas à criança características como a fragilidade e a dependência, cabendo à escola, que passa a exigir do aluno a freqüência às aulas, prepará-la para a vida adulta. Sendo assim, os livros literários infantis surgiram simultaneamente às formas do ensino que procuravam adequar a cultura brasileira a das nações civilizadas. Os livros eram adaptações ou traduções de obras que, na Europa, faziam sucesso entre os pequenos. Considerando a expansão da industrialização e do comércio nesse período histórico, o livro infantil surge com características de produto, pensando-se no consumo. Os laços entre literatura e escola começam a partir do momento em que a escola precisa habilitar as crianças para o consumo das obras impressas. Era necessária a alfabetização do seu público. Daí decorre a relação dos livros de literatura com a escola, o que fez com que muitas publicações adotassem uma postura bastante pedagógica. Destacam-se nesse século as publicações adaptadas de clássicos ao gênero infantil, como Robinson Crusoé (1717) de Daniel Defoe e Viagens de Gulliver (1726) de Jonathan Swiff. No início do século XIX, surgem, na Alemanha, as obras dos irmãos Grimm, (1812), feitas a partir de adaptações de histórias folclóricas populares. Entre alguns dos seus contos estão: A Bela Adormecida, Os sete anões e a Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho e Maria (1825). São também do mesmo século as publicações de Hans Christian Andersen, na Dinamarca, com os contos O Patinho Feio, A roupa nova do imperador (1835-1842), entre muitos outros. Como apresentado 36 por Lajolo e Zilberman (2006), a partir de então se repetem alguns temas que conquistaram a predileção dos leitores. São eles: as histórias fantásticas, como em Alice no País das Maravilhas (1863), de Lewis Carrol; jovens desbravadores vivendo aventuras em lugares exóticos, como Cinco Semanas num balão (1863), de Jules Verne; e histórias do cotidiano infantil como As Meninas Exemplares (1857), da Condessa de Ségur. Com isso, esse gênero literário torna-se consolidado na Europa, aumentando, a cada ano, o número de produções e exportando-se muitos títulos a outros continentes. É assim que a Literatura Infantil chega ao Brasil, através de produções européias traduzidas. Somente no século XX é que aparece no país uma Literatura Infantil que pode ser chamada de brasileira. Assim como em outros países, o livro no Brasil surge relacionado à industrialização, ao comércio, à urbanização e à propagação da escola como instituição. Alguns exemplos de obras são: Contos Infantis (1886), de Júlia Lopes de Almeida e Adelino Lopes Vieira e Contos Pátrios (1904), de Olavo Bilac e Coelho Neto. Nessa época, prevalecem, nos livros, valores como o patriotismo, o civismo, a brasilidade, o moralismo, a obediência, a exaltação à natureza, além de temas relacionados ao folclore brasileiro. Em 1912, Monteiro Lobato publica Narizinho Arrebitado e a partir de então, passa a se dedicar a esse gênero literário, marcando para sempre a história da literatura no país. Posteriormente, surgem e se fortalecem outros nomes como José Lins do Rego, Érico Veríssimo e Graciliano Ramos, falando de temas até então inusitados na Literatura Infantil. As primeiras formas de literatura para crianças confudiam-se com a literatura destinada aos adultos e, no Brasil, chegaram com os colonizadores portugueses, através das narrativas orais. A origem da Literatura Infantil, portanto, vincula-se às mudanças estruturais que ocorreram na sociedade dos séculos XVII e XVIII. De acordo com Marisa Lajolo e Regina Zilberman (2005), os textos produzidos para crianças deixavam transparecer os valores do mundo burguês, exposto de maneira idealizada, de forma que suscitassem expectativas e promovessem padrões comportamentais em seus receptores. A Literatura Infantil começou a transitar por terras brasileiras, difundindo a mesma concepção que lhe dera origem e contextualizando-se no panorama da 37 literatura universal. Segundo Zilberman, seu surgimento decorreu de exigências próprias de seu tempo. Afinal, o vínculo entre o surgimento da literatura para crianças e o processo histórico que marca a civilização européia moderna e, por extensão, ocidental, é bastante estreito. Com a emergência da família burguesa, houve a formulação do conceito de infância, o que modificou o status da criança na sociedade e no âmbito doméstico. Houve, ainda, o estabelecimento de aparelhos ideológicos que visavam a preservar a unidade do lar e, especialmente, o lugar do jovem no meio. Nos rastros dessa descoberta da criança, surge também a preocupação com o tipo de leitura a que ela teria acesso para informa-se, obter conhecimentos e para a formaçao de sua mente e personalidade, segundo os objetivos pedagógicos do momento. No final do século XIX e início do século XX, a produção literária é marcada pelo compromisso pedagogizante, posição assumida pelos intelectuais preocupados, nesse momento histórico, com a modernização do país. Acreditavam que, através da escola, não só podiam alcançar os seus objetivos, como também incentivar a adoção de valores patrióticos pelo povo, a começar pelas crianças. Os textos produzidos por autores brasileiros eram endereçados ao uso escolar e estavam a serviço da consolidação do projeto de formação de um país moderno. As várias campanhas em prol da modernização do país e do fortalecimento da escola enquanto instituição favoreceram a consolidação da Literatura Infantil. Cabe salientar que esses mesmos fatores, por outro lado, estimularam o caráter conservador do qual a Literatura Infantil se revestiu. Produções nacionais que tinham essa finalidade: Contos Pátrios e Através do Brasil ( Olavo Bilac e Coelho Neto ), Era uma vez ( Júlia Lopes de Almeida ) e Saudade ( Tales de Andrade ). A maioria das obras que foram leitura corrente entre crianças e jovens no Brasil nasceu como obras para adulto, como dito anteriormente. Traduzidas e adaptadas, tais obras transformaram-se em clássicos infantis e juvenis. Para esclarecer a natureza dessas obras famosas e, conseqüentemente, os tipos de leitura que atraíram os pequenos leitores da época, nos baseamos no agrupamento segundo as tendências ou espécies literárias (por ordem cronológica de publicação) realizado por Coelho (1991), são elas: as narrativas do fantástico maravilhoso; as narrativas do realismo 38 maravilhoso; a novelística de aventuras; as narrativas do realismo humanitário; e a literatura jocosa ou satírica. Tais rótulos são meramente didáticos, segundo Coelho. Entretanto, são adequados na medida em que correspondem ao aspecto dominante em cada obra e nos permitem aproximá-las ou diferenciá-las entre si. As narrativas do fantástico maravilhoso são de fundo folclórico ou popular, são as que decorrem do mundo da Fantasia, perfeitamente reconhecível como diferente do mundo real, conhecido. Os irmãos Grimm – Jacob (1785/1863) e Wilhelm (1786/1859) Grimm – publicaram, entre os anos de 1812 e 1822, a obra Contos de Fadas para Crianças e Adultos7. Ao contrário das obras dos irmãos Grimm, em que o mundo maravilhoso predomina, na maior parte dos contos de Hans Christian Andersen (1805/1875), o maravilhoso é descoberto na realidade concreta do cotidiano. O escritor estava preocupado, essencialmente, com a sensibilidade exacerbada presente no Romantismo e, então, mesclou muita crueldade e violência ao maravilhoso. Andersen se tornou um dos mais famosos escritores para crianças em todo o mundo, publicando 168 contos8 entre 1835 e 1872. As narrativas do realismo maravilhoso são as que ocorrem no mundo real, que nos é familiar ou bem conhecido, e nas quais irrompe, de repente, algo de mágico, de maravilhoso ou de absurdo e passam a acontecer coisas que alteram por completo as leis ou regras vigentes no mundo real ou não fantástico. Foi o escritor Charles Lutwidge Dodgson, conhecido por Lewis Carroll, quem, na literatura moderna, conseguiu explorar de maneira genial as possibilidades dessa fusão, explorando também o nonsense, o sem sentido, a graça, o ludismo etc. Sua grande obra foi Alice no País das 7 Os títulos dessas narrativas são: A Bela Adormecida; Os Músicos de Bremen; Os Setes Anões e a Branca de Neve; O Chapeuzinho Vermelho; A Gata Borralheira; As Aventuras do Irmão Folgazão; O Corvo; Frederico e Catarina; Branca de Neve e Rosa Vermelha; O Ganso de Ouro; A Donzela que não tinha mãos; O Pescador e suas esposas; A Dama e o Leão; O Alfaiate Valente; Os Sete Corvos; O Rato, o Pássaro e a Salsicha; A Casa do Bosque; O Lobo e as Sete Cabras; A Guardadora de Gansos; O Príncipe Rã; O Caçador Habilitado; Olhinho, Doisolhinhos, Tresolhinhos; O Lobo e o Homem; O Príncipe e a Princesa; A Luz Azul; O Lobo e a Raposa; O Enigma; A Raposa e a Comadre; A Raposa e o Gato; A Margarida, a Espertalhona; A Alface Mágica; As Três Fiandeiras; João Jogatudo; A Morte da Franguinha; A Velha do Bosque; O Prego; Joãozinho e Maria; O Diabo e a Avó; O Senhor Compadre; João, o Felizardo; O Pequeno Polegar. 8 Entre os títulos mais divulgados de sua obra estão: O Patinho Feio; Os Sapatinhos Vermelhos; A Rainha da Neve; O Rouxinol e o Imperador da China; O Soldadinho de Chumbo; A Pastora e o Limpador de Chaminés; A Pequena Vendedora de Fósforo; Pequetita; Os Cisnes Selvagens; A Roupa Nova do Imperador; O Companheiro de Viagem; O Homem da Neve; João e Maria; João Grande e João Pequeno... 39 Maravilhas, publicada em 1865 e que deu imediata notoriedade ao escritor. Esse sucesso levou Carroll a escrever Alice através do Espelho e o que Alice encontrou lá. Incluem-se nessa tendência as famosas obras de James M. Barrie (1860/1937), Perter Pan, e de Carlos Lorenzini, conhecido por Collodi (1826/1890), Pinocchio. A novelística de aventura é a tendência literária dominante no século XIX. Nos rastros do Romantismo, que buscava a renovação social através da redescoberta dos valores humanos que haviam sido vitais no passado medieval (época em que as nações européias se auto afirmaram como tais), a novelística de aventura ressurge para cumprir um importante papel de abrir novos caminhos para a ação do homem sobre o mundo e provar ao próprio homem sua possível capacidade de autor da realização em grandeza, coragem e generosidade. A partir dessa abundante produção novelística ou romanesca romântica, divulgaram-se em ampla escala os novos valores humanísticos, de crença no poder criador e realizador do homem. Embora destinada aos adultos, acabou produzindo o maior título que hoje se destina ao público infantil. Seu elemento base é a aventura e seu desenvolvimento novelesco desvenda uma ética de ação. Pode-se nomear alguns autores nessa tendência literária: Walter Scott (1771/1832); Victor Hugo (1802/1885); Eugène Sue (1804/1857); Alexandre Dumas (1803/1870); Feninore Cooper (1789/1851); Frederick Marryat (1780/1848); Júlio Verne (1828/1905); Maine Reid (1818/1883); Robert Louis Stevenson (1850/1894); Emilio Salgari (1862/1911); Jack London (1876/1916); Rudyard Kipling (1865/1936); Edgard Rice Burroughs (1875/1950). As narrativas do realismo humanitário são as que mostram o lado sentimental e generoso do espírito romântico, que advoga a causa dos fracos ou perseguidos e principalmente a da criança ignorada, injustiçada ou esmagada pela engrenagem industrial que começava a absorver a força de trabalho das populações urbanas. O sistema de valores burgueses/liberais/cristãos, que serviu de base ao progressista mundo do século XIX, tentou equilibrar forças materiais em desequilíbrio, com o auxílio de forças espirituais ou éticas. O grande nome dessa tendência foi o inglês Charles Dickens (1812/1870). Além deste escritor, expressam o realismo humanitário: Condessa de Ségur (1799/1874); Louise Mary Alcott (1832/1888); Edmundo de Amicis (1846/1908); Eleanor H. Porter (1868/1920). 40 A literatura jocosa ou satírica, embora com menor raio de ação ou influência entre os pequenos leitores, divulgou narrativas para fazer rir, em que se mostra o avesso da vida. O ancestral dessa tendência pode ser visto na personagem Malasartes, do folclore luso-brasileiro. Cronologicamente, o primeiro livro brasileiro de grande repercussão no âmbito escolar foi o Livro do Povo (1861), de Antônio Marques Rodrigues. Logo em seguida (1868), temos a obra O Método Abílio, de Abílio César Borges. Outras obras como: O Amiguinho Nhonhô (1882), de Meneses Vieira; Série Instrutiva (1882), de Hilário Ribeiro; Contos Infantis (1886), de Júlia Lopes de Almeida; Livros de Leitura e Série Didática (1890), de Felisberto de Carvalho; Coisas brasileiras (1893), de Romão Puiggari; Série Puiggari/Barreto (1895), de Romão e Arnaldo de Oliveira Barreto; Cartilha das Mães (1895), de Arnaldo Barreto; Livros de Leitura (1895), de João Kopke; Antologia Nacional (1895), de Fausto Barreto e Carlos de Laet; Contos da Carochinha (1896), de Figueiredo Pimentel; Livros das Crianças (1897), de Zalina Rolim; O Livro da Infância (1899), de Francisca Júlia; Leituras Infantis (1900), de Francisco Vianna; O Tico-Tico (1905), As histórias-em-quadrinhos; As Nossas Histórias (1907), de Alexina de Magalhães Pinto; Páginas Infantis (1908), de Presciliana Duarte de Almeida; Era uma vez (1908), de Viriato Correia; Através do Brasil (1910), de Olavo Bilac e Manuel Bonfim; Biblioteca Infantil (1915), de Arnaldo de Oliveira Barreto; Saudade (1919), de Tales Andrade fizeram parte da “literatura didática” oferecida para as crianças. Em 1921, surge a obra de estréia de Monteiro Lobato, A Menina do Narizinho Arrebitado, Segundo Livro de Leitura para Uso das Escolas Primárias. Sem que ninguém suspeitasse, com ele estava sendo criada a Literatura Infantil Brasileira. Segundo Edgar Cavalheiro: A literatura infantil praticamente não existia entre nós. Antes de Monteiro Lobato havia tão somente o conto com fundo folclórico. Nossos escritores extraíam dos vetustos fabulários o tema e a moralidade das engenhosas narrativas que deslumbraram e enterneceram as crianças das antigas gerações, desprezando, freqüentemente, as lendas e tradições aparecidas aqui, para apanharem nas tradições européias o assunto de suas historietas. É o caso, por exemplo, dos Contos da Carochinha, de Alberto Figueiredo Pimentel, aparecido em 1895, e que pode ser considerado o primeiro livro infantil publicado em português, no Brasil. (...) (COELHO, 1991 p.223) 41 José Bento Marcondes Monteiro Lobato (1882 e 1948) foi o divisor de águas na área da Literatura Infantil e Juvenil. Lobato rompe pela raiz com as convenções estereotipadas e abre as portas para as novas idéias e formas que o século XX exigia. O escritor se preocupava com a renovação da Literatura Brasileira e desejava seu encontro com a autêntica realidade do Brasil, por meio, por exemplo, da linguagem brasileira liberta da prescrição lusitana. Desde 1916, o escritor já se preocupava com o problema da produção de livros apropriados à leitura para as crianças. Sua vasta obra na área infanto-juvenil engloba obras originais9, adaptadas10 e traduções11. O trabalho de Lobato como tradutor foi extremamente importante, pois através dele inúmeras obras importantes tornaram-se acessíveis aos leitores brasileiros. Segundo Coelho (1991), pode-se dizer que a aceitação dos livros de Monteiro Lobato foi ampla e irrestrita, até o momento em que sua visão crítica do mundo foi-se tornando mais objetiva e, ao mesmo tempo, mais lúcida e feroz em relação à realidade de sua época. Afinal, Lobato, com sua lucidez irreverente, empenhou-se em “desmascarar” os falsos valores transmitidos pela sociedade. Assim, toda a liberdade de pensamento e de ação que suas histórias defendiam e suas personagens viviam serviriam para considerá-lo “subversivo”. Ainda segundo a autora, o grande valor da invenção literária de Lobato e o amplo sucesso obtido junto aos pequenos leitores não se deveram apenas à sua prodigiosa imaginação ao criar personagens e tramas cheios de pitoresco e de humor 9 A Menina do Narizinho Arrebitado (1920); Narizinho Arrebitado -2º Livro de Leitura e O Saci (1921); Fábulas e o Marquês de Rabicó (1922); A Caçada da Onça (1924); A Cara de Coruja, As aventuras do Príncipe, Noivado de Narizinho e O Circo de Cavalinho (1927); A Pena de Papagaio e O Pó de Pirlimpimpim (1930); As Reinações de Narizinho (1931); Viagem ao Céu (1932); As Caçadas de Pedrinho e Emília no País da Gramática (1933); Geografia de Dona Benta (1935); Memórias de Emília (1936); O Poço do Visconde (1937); O Pica-Pau Amarelo (1939) e A Chave do Tamanho (1942). 10 O Irmão de Pinóquio, O Gato Félix (1927); História do Mundo para Crianças (1933); História das Invenções (1935); D. Quixote para Crianças (1936); Serões de D. Benta e Histórias de Tia Nastácia (1937); O Minotauro (1939); a mitologia grega na série “Os Doze Trabalhos de Hércules”(1944): O Touro de Creta, A Hidra de Lerna; Hércules e Cérbero, Leão de Neméia, O Javali de Erimanto, A Corça de Pés de Bronze, As Cavalarias de Augias, Os Cavalos de Diomedes, Os Bois de Gerião, O Cinto de Hipólita, As Aves do Lago de Estinfale e O Pomo de Hespérides. 11 Para o público infantil e/ou pré-adolescente, sua maior produção foi nos anos 30: Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll; Mowgli, o Menino Lobo e Jacala, o Crocodilo, de Rudyard Kipling; Os Negreiros da Jamaica, de Maine Reid; Caninos Brancos, O Lobo do Mar, A Filha da Neve e O Grito da Selva, de Jack London; O Homem Invisível, de H. G. Wells; Pinóquio, de Colldi; O Doutor Negro, de Conan Doyle; As Aventuras de Huck, de Mark Twain; Pollyana e Pollyana Moça, de Eleanor Porter; Novos Contos, de Andersen; Contos de Fadas, de Perrault; Tarzã, o Terrível e Tarzã no Centro da Terra, de Edgar Rice Burroughts; etc. 42 sadio, concretizados em uma linguagem original e viva. Como em toda grande obra, o seu mérito maior está na perfeição adequada entre sua matéria literária, as idéias e valores que lhe servem de “húmus” e as imposições da época em que ela foi escrita. Dentre a complexidade dessas idéias, valores e imposições, destacamos duas atitudes que, a nosso ver, atuaram com mais força na lenta elaboração do universo literário que Lobato constrói durante mais ou menos vinte anos. São elas: a necessidade de ruptura com o sistema de vida tradicional e a defesa incondicional do homem de iniciativa, cuja inteligência, vontade de realização e poder de trabalho abriam para o mundo a nova era de progresso tecnicista e financeiro. Lobato recusou o sentimentalismo, tão em voga em sua época e as tensões dramáticas que, via de regra, caracterizavam as leituras infantis. Pode-se dizer que o escritor evitou as tensões psicológicas insolúveis ou angustiantes para os pequenos leitores; explorou os “conflitos” ligados às aventuras e que podem ser resolvidos, de maneira positiva, ao nível da narrativa e da vida. Percebe-se que as tensões normais entre o indivíduo e o meio foram solucionadas no universo lobatiano, através dos gestos livres, das aventuras que engajam o ser por inteiro e o aproximam dos outros. O incentivo à liberdade interior e conseqüentemente à liberdade de ação, o estímulo à criatividade, à curiosidade intelectual e ao individualismo audaz e empreendedor são as forças dinamizadoras dessa obra que abriu o verdadeiro caminho da Literatura Infantil Brasileira. Dentre os que se iniciaram como escritores para crianças ou jovens nos anos 30 e que hoje apresentam uma produção já integrada ao acervo literário brasileiro, estão: Baltasar Godói Moreira, Carlos Lebeis, Érico Veríssimo, Gondim da Fonseca, Graciliano Ramos, Jerônimo Monteiro, Luís Jardim, Luíz Gonzaga de Campos Fleury, Malba Tahan, Narbal Fontes, Ofélia Fontes, Orígenes Lessa, Viriato Correia e Vicente Guimarães. Podemos observar, nesse período, que ocorrem diversas reformas na área da educação e prevalece a preocupação na formação da criança como cidadã. Os livros que remetem à fantasia passam a ser considerados inadequados à infância. Conforme Coelho, havia duas preocupações dominantes nas diretrizes da educação, as quais provocaram essa rejeição da fantasia. Uma era a preocupação com a verdadeira 43 realidade brasileira e a outra, era a valorização do ensino leigo em relação ao religioso. Ambas conduziam à valorização do conhecimento científico ou pragmático que devia formar o cidadão. Daí a ênfase nos livros informativos ou na literatura paradidática, com a conseqüente recusa às ilusões ou fantasias dos contos de fadas ou maravilhosos. Foi nessa época que os livros de Lobato começaram a ser proibidos em colégios religiosos, sob a acusação de perniciosos à formação da criança, como dito anteriormente. Entretanto, fora do âmbito escolar ou educativo, desenvolve-se uma produção literária de grande sucesso, O Tico-Tico, que edita histórias divertidas, assinadas por nomes já conhecidos como Humberto de Campos, Osvaldo Orico, Max Yantock Josué Montello e outros. A verdadeira expansão da literatura quadrinizada, no Brasil, se desenvolve nos anos 40, com seus super-heróis, séries detetivescas e aventuras que resultavam da fusão entre o maravilhoso e a ciência. Todos os novos super-heróis foram importados, como: Dick Tracy, o Agente Secreto X-9, Tarzã, Dick James, Chan etc. Para as meninas, difundem-se as coleções de livros traduzidos: Biblioteca das moças, Coleção Menina Moça, Biblioteca das Senhorias etc. Foi através dessa “literatura rósea”, que gerações de mulheres brasileiras se formaram, até bem entrados os anos 50. Os anos 50 e 60 coincidiram com o período conhecido como décadas de democracia. A Literatura Infantil, nesse período, assumiu um caráter conservador: os temas e o ambiente por ela explorados privilegiaram a agricultura. Destacou-se, entre esses temas, o café, encarado como fonte primeira de riqueza. Apontaram-se o esgotamento de terras e o abandono das instituições públicas como responsáveis pelas mudanças que se operaram. A supremacia da vida urbana sobre a rural foi também tema explorado. Houve um destaque para a Amazônia e para a história dos bandeirantes. Como dito anteriormente, a fantasia é descoberta através da fusão do real com o imaginário; um exemplo disso foi a obra Aventuras de Xisto, de Lúcia Machado de Almeida, em 1957. Além dos escritores dos anos anteriores, outros nomes aparecem: Gilda Figueiredo Padilha, Isa Silveira Leal, Jannart Moutinha, Leonardo Arroyo, Lucilia Junqueira de Almeida Prado, Maria Heloísa Penteado, Maria José Dupré, Terezinha Éboli, Terezinha Casassanta etc. 44 A produção literária para crianças e jovens, nos anos 60, no Brasil, aparece como uma espécie de preparação de terreno para o grande surto criador que se dá nos anos 70. As várias teorias de informação difundem uma nova palavra de ordem: a do valor absoluto do homem bem informado. É nessa época que a música popular brasileira vai se transformando num espaço intelectual-crítico que, de certa forma, era ocupado pela literatura. O que importa ressaltar é a tarefa criativa desempenhada pela MPB junto ao povo em geral ou às crianças e aos jovens. A música é, evidentemente, um dos caminhos que podem preparar a “sintonização” do leitor com o livro. Outros são a imagem, o desenho e as artes visuais, os quais a Literatura Infantil vai redescobrir logo a seguir (Coelho, 2006). A década de 70 é caracterizada por um grande salto de qualidade, com inovações no gênero infantil, o qual assume, finalmente, uma postura crítica. A explosão de criatividade que, na década anterior, se dá na área da música, vai acontecer com a Literatura Infantil e juvenil. Valoriza-se, neste momento, o espírito questionador, lúdico, irreverente e bem-humorado. São alguns títulos dessa nova fase: Bisa Bia Bisa Bel e História do Contrário, de Ana Maria Machado; A Fada que tinha idéias, de Fernanda Lopes de Almeida e A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga Nunes. A relação, abaixo, das produções literárias para crianças e jovens, foi apoiada na obra Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil (Coelho, 2006). Nos anos 70, entre os autores que tiveram sua criatividade e consciência crítica comprovadas por uma produção inovadora estão: Ana Maria Machado, André Carvalho, Ary Quintella, Bartolomeu Queirós, Carlos de Marigny, Dirceu Quintanilha, Domingos Pellegrini, Edson Gabriel Garcia, Edy Lima, Euclides Marques de Andrade, Everaldo Moreira Veras, Eliane Ganem, Elias José, Fernanda Lopes de Almeida, Ganymédes José, Giselda Laporta Nicolelis, Henry Corrêa de Araújo, Haroldo Bruno, Ignácio de Loyola Brandão, Joel Rufino dos Santos, João Carlos Marinho, Leny Werneck, Lurdes Gonçalves, Lúcia Pimentel Góes, Lúcia Aizim, Luiz Paiva de Castro, Lúcia Miners, Lygia Bojunga Nunes, Margarida Ottoni, Martha Azevedo Pannunzio, Moacir C. Loparelli, Teresa Noronha, Vivina de Assis Viana, Wander Piroli, Werner Zots, Ziraldo etc. 45 Segundo Machado (2007), a liberdade foi fundamental para constatar que a explosão de nossa literatura infantil-juvenil, no início dos anos 70, não aconteceu por acaso e nem foi uma mera coincidência. Já tem sido muito assinalado que, logo após o Ato Institucional n°5, em 1968, quando o regime militar se fechou ainda mais, surgiram vários autores para jovens, os quais mais tarde iriam se consolidar como nomes importantes neste gênero. Em 1969, foi publicada a revista Recreio, em São Paulo, com a participação de Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Joel Rufino, Sonia Robarro e, numa segunda fase, Sylvia Orthof e Marina Colasanti. No mesmo ano, foi publicada a obra prima Flicts, de Ziraldo. Além desta obra, temos O caneco de prata, de João Carlos Marinho, homenageando o célebre Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas; Os colegas, de Lygia Bojunga, enquanto Edy Lima consolidava A vaca voadora. Em seguida, estava a obra de Bartolomeu Campos de Queirós, que mescla a intensidade poética quase abstrata com mineirices concretas. Vale a pena frisar que igualmente no ano de 1969 foi criada a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, que será apresentada no capítulo seguinte. Num número especial da revista Tempo Brasileiro, com um retrospecto analítico sobre a década de 1970, Heloísa Buarque de Holanda ajudou a dar as coordenadas para uma hipótese crítica de rara agudeza. Como o AI-5 trouxe um fechamento político e uma repressão muito acentuados, alguns dos intelectuais que queriam dizer alguma coisa (e se sentiam pressionados intimamente para conseguir se manifestar de alguma forma) saíram em busca de brechas por onde pudessem tentar passar. Foram quase intuitivamente buscando gêneros alternativos, considerados menores, que não chamassem tanto a atenção das autoridades e que permitissem o uso de uma linguagem altamente simbólica, polissêmica, multívoca. Faziam uma aposta num leitor inteligente que os decifrasse e embarcasse com naturalidade em seu universo metafórico. Esses gêneros acabaram constituindo uma marca da época. Foi o caso da chamada poesia de mimeógrafo, das letras das canções e da literatura infanto-juvenil. (MACHADO, 2007, p.116) Segundo a autora, as marcas distintivas dessa Literatura Infantil que se firmou nos anos de 1970, já havia sido assinalada por vários críticos - a rebeldia, o anti- autoritarismo, a insistência na emancipação, a ruptura com os compromissos pedagógicos e os modelos de comportamento e questionamento permanente, a ênfase no uso poético da linguagem, o fino senso de humor, o ludismo verbal, a sofisticação literária, a multiplicação das vozes, a pluralidade cultural, a revitalização da tradição 46 oral, a discussão da contemporaneidade – com seu correlato comprometimento com uma atitude de pensar o mundo, o país e a sociedade. Na década de 80, aparecem novos escritores, são eles, entre outros: Alina Perlman, Amaury Braga da Silva, Angela Lago, Anna Flora, Assis Brasil, Antônio Hohlfeldt, Carlos Moraes, Ciça Fittipaldi, Elza Sallut, Eva Furnari, Flávia Muniz, Liliana Iacocca, Luís Camargo, Luiz Puntel, Luiz Antônio Aguiar, Luiz Galdino, Marina Colasanti, Mirna Pinsky, Paula Saldanha, Pedro Bandeira, Ricardo Azevedo, Roniwalter Jatobá, Santuza Abras, Sylvia Orthof, Stela Maris Rezende, Tatiana Belinky, Telma Guimarães, etc. (Coelho, 2006). Não há dúvidas em relação à qualidade atingida pela literatura brasileira na segunda metade do século XX, depois de Machado de Assis, Euclides da Cunha, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Em outras palavras, como toda e qualquer literatura, sem adjetivos relacionados à faixa etária dos leitores, a nossa não surgia do destinatário, mas dos autores. Era feita por gente que estava escrevendo também para crianças e jovens, não necessariamente oriunda de áreas que trabalhassem com pedagogia ou psicologia infantil, mas que chegava à escrita naturalmente, pelo amor à leitura. Segundo Machado (2007), esta seria a primeira marca distintiva da literatura infanto-juvenil, quem a buscava não vinha atraído primordialmente pela criança ou pela educação, mas pelas possibilidades criativas da linguagem e pela literatura em si. Ao lerem os livros, as crianças se divertiam, os pais e professores percebiam as piscadelas que os autores davam a eles, os críticos se sentiam desafiados a ir cada vez mais fundo e descobrir mais. Na verdade, foi intensa a alegria da descoberta de que a Literatura Infantil é um território de total liberdade literária, onde é possível estabelecer uma cumplicidade com o leitor. Além dessa liberdade, outros fatores que ajudaram a Literatura Infantil, segundo Machado (2007) foram o alto nível do que podíamos considerar nossa tradição no setor e o privilégio de contar com o pioneirismo de Monteiro Lobato. Leitores da obra lobatiana herdaram características que distinguem a literatura brasileira. A primeira é o respeito integral à inteligência da criança, a confiança em sua capacidade de corresponder aos mais instigantes desafios. A segunda é o estímulo 47 para mergulharmos nas entranhas do Brasil, como Lobato. Isso significa amar o que é nosso, mas ver o atraso em que vive o Jeca Tatu e compará-lo com as alternativas possíveis. Outra herança lobatiana talvez seja a absoluta naturalidade com que os escritores transitam do real ao fantástico, apenas levados pelo faz-de-conta, sem necessidade de recorrer à mediação de objetos mágicos que tentariam introduzir uma explicação racional no inexplicável (Machado, 2007). Isso não é freqüente em outras literaturas infantis, pois a presença da intermediação da visão adulta exige racionalidade para explicar que os personagens geralmente têm varinhas mágicas ou acordam no final e descobrem que tudo não passou de um sonho. Na obra de Lobato, pelo contrário, a naturalidade da passagem é tão absoluta quanto no imaginário da criança que brinca. Além disso, Lobato dá ênfase a um falar brasileiro coloquial e familiar, em delicado equilíbrio com a norma culta e a admiração pelos clássicos. Há também sua convicção de que se pode e deve discutir a contemporaneidade com a criança. Hoje, a cultura brasileira é constituída por inúmeros grandes escritores que não se sentiram diminuídos por escrever para crianças. Na Academia, por exemplo, Machado (2007) cita Josué Montelho, Arnaldo Niskier, Carlos Heitor Cony, João Ubaldo Ribeiro, Lêdo Ivo, Moacyr Scliar, Nélida Pinon, Zélia Gattai, os quais têm publicado para crianças e jovens e juntado-se a uma tradição que vem de Olavo Bilac, Manuel Bonfim, Viriato Correia, Orígenes Lessa, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, passando por Graciliano Ramos, Erico Veríssimo, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Clarice Lispector, Mario Quintana, Carlos Drummond Andrade, Fernando Sabino, Ferreira Gullar, entre outros. Há um número grande de escritores que comprovam não ter preconceitos intelectuais com que sistematicamente a literatura infanto-juvenil é vista pela cultura erudita em todo o mundo. E até quando não são escritos especialmente para crianças, é com naturalidade que livros de grandes clássicos nacionais têm sido editados, com texto integral, ilustrações e apresentação gráfica voltada para esse público (Coelho, 2006). Feita esta breve contextualização da Literatura Infantil e Juvenil, já podemos discutir um conceito atual no campo da literatura da educação, a escolarização da Literatura Infantil. 48 1.3 – A escolarização da Literatura Infantil A conquista da habilidade de ler é o primeiro passo para a assimilação dos valores da sociedade. A criança recebe, através da escola, um conjunto de elementos já constituídos socialmente. Assim, quando aprende a ler, tem acesso ao mundo adulto estabelecido. A escola oferece, por um lado, a possibilidade de emancipação do indivíduo através do domínio da escrita e da leitura, mas, por outro lado, pode exercer um domínio sobre aquele indivíduo, ao reproduzir o discurso ideológico dominante. A escola é a instituição responsável pela alfabetização dos indivíduos e é a ela que “a sociedade delega a responsabilidade de prover as novas gerações das habilidades, conhecimentos, crenças, valores e atitudes considerados essenciais à formação de todo e qualquer cidadão” (Soares, 2004, p. 84). A escola assume a responsabilidade de iniciar a criança no processo de alfabetização e de, aos poucos, aperfeiçoar sua leitura, de modo a garantir o domínio de uma prática cuja finalidade não se esgota em si mesma. Conseqüentemente, cabe à escola mais do que alfabetizar e possibilitar aos seus alunos o domínio de um código. É preciso considerar as possíveis conseqüências políticas da inserção do aprendiz no mundo da escrita. Essa inserção favorecerá uma leitura crítica das relações sociais e econômicas (re) produzidas em nossa sociedade. Soares (2006) afirma que, para entrar e viver nesse mundo de conhecimento, o aprendiz necessita de dois passaportes: o domínio da tecnologia de escrita (o sistema alfabético e ortográfico), que se obtém por meio do processo de alfabetização, e o domínio de competências de uso dessa tecnologia (saber ler e escrever em diferentes situações e contextos), que se obtém por meio do processo de letramento. Sabemos que a história da Literatura Infantil nasceu comprometida com a educação e que é nessa instituição que a maioria das crianças tem seu primeiro contato com os livros infantis. Conforme Soares (1999), não é possível ter escola sem ter escolarização de conhecimentos, saberes, artes, etc. Afinal, o surgimento da escola está indissociavelmente ligado à constituição de “saberes escolares”, e é fundamental que nós, professores, desde o início da escolarização, incorporemos em nossa prática 49 de formação de leitores duas perspectivas de análise, ao abordarmos as relações entre o processo de escolarização e a Literatura Infantil. Numa primeira perspectiva, podemos interpretar as relações entre escolarização e Literatura Infantil como a apropriação desta pela escola. Nesse caso, faz-se uma análise do processo pelo qual a escola toma para si a Literatura Infantil e escolariza, didatiza e pedagogiza os livros de literatura para crianças, para atender a seus próprios fins, ou seja, faz dela uma literatura escolarizada. Uma segunda perspectiva é interpretar as relações entre escolarização e Literatura Infantil a partir do ponto de vista de que existe uma produção para a escola, de uma literatura destinada a crianças. Aqui, analisa-se o processo pelo qual uma literatura é produzida para a escola, para os objetivos da escola, para ser consumida na escola e pela clientela escolar, buscando- se literatizar a escolarização infantil. Portanto, não há como evitar que a literatura, qualquer literatura, não só a literatura infantil e juvenil, ao se tornar “saber escolar”, se escolarize, e não se pode atribuir, em tese, como dito anteriormente, conotação pejorativa a essa escolarização, inevitável e necessária; não se pode criticá-la, ou negá-la, porque isso significaria negar a própria escola. (SOARES, 1999, p.21) É importante ressaltarmos os vários aspectos apontados por Soares (1999), que podem contribuir para uma escolarização inadequada da literatura, como aqueles relacionados à seleção dos gêneros literários, autores e obras; ao fragmento que constituirá o texto a ser lido e estudado, bem como à transferência do texto de seu suporte literário para o suporte didático e os fatores relacionados às intenções e objetivos de leitura e estudo do texto. Portanto, pesquisar o processo de escolarização da literatura é fundamental para compreender os modos como a escola se propõe a desenvolver o letramento literário. Pesquisar os processos de escolarização de conteúdos implica buscar compreender a própria constituição da escola como instância mediadora entre os alunos e os conhecimentos socialmente produzidos. Soares aponta a escolarização da literatura como processo necessário e inevitável, que visa aos fins especificamente educativos. Em sua opinião, a literatura pode ser apropriada pela escola e se transformar em instrumento educativo. A questão que se coloca para o professor é estabelecer a distinção 50 (...) entre uma escolarização adequada da literatura – aquela que conduza mais eficazmente às práticas de leitura que ocorrem no contexto social e às atitudes e valores que correspondem ao ideal de leitor que se quer formar - e uma escolarização inadequada, errônea, prejudicial da literatura – aquela que antes afasta que aproxima de práticas sociais de leitura, aquela que desenvolve resistência ou aversão à leitura. (SOARES,1999, p.25) Contemporaneamente, tem crescido o volume dos questionamentos e críticas quanto ao processo inadequado de escolarização da literatura que, ao ser utilizado de forma puramente utilitária, conduz ao afastamento do leitor. Para evitar este desencontro, pretende-se inscrever o seu ensino como experiência estética, oferecendo aos alunos condições para que possam usufruir desta produção cultural, numa perspectiva não-imediatista. Atualmente, as discussões sobre a formação do leitor são permeadas pelo conceito de letramento. Para se formar o leitor, não basta que o aluno adquira a “tecnologia” do ler e escrever, ou seja, que ele apreenda a técnica da codificação e da decodificação, procedimento atribuído ao processo de alfabetização. É necessário acrescentar à aprendizagem e ao domínio da “tecnologia”, o letramento, que é o “resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou indivíduo, como conseqüência de ter-se apropriado da escrita” (Soares 2004, p.18). Segundo Soares, o letramento é um continuum e, por isso, é difícil medí-lo, principalmente porque envolve dois fenômenos bastante diferenciados e muito complexos, a leitura e a escrita. Uma pessoa pode ser capaz de ler um bilhete ou uma história em quadrinhos e não ser capaz de ler um romance ou um artigo de jornal; ou ser capaz de escrever uma carta e não ser capaz de escrever uma argumentação defendendo um ponto de vista. Nesse sentido, a autora conclui que há diferentes tipos e níveis de letramento, dependendo das necessidades, das demandas do indivíduo e de seu meio, do contexto social e cultural. (Soares, 2004). O conceito de letramento também pode ser pensado em relação à literatura. Paulino define o letramento literário: como outros tipos de letramento, continua sendo uma apropriação pessoal de práticas de leitura/escrita, que não se reduzem à escola, embora passem por ela (2003). Vale destacar que esse tipo de letramento, de modo geral, acaba envolvendo somente o fenômeno da leitura. As habilidades de escrita 51 literária não costumam ser cobradas dos indivíduos, uma vez que são concebidas como escolhas individuais. Como destaca Paulino: A formação de um leitor literário significa a formação de um leitor que saiba escolher suas leituras, que aprecie construções e significações verbais de cunho artístico, que faça disso parte de seus fazeres e prazeres. Esse leitor tem de saber usar estratégias de leitura adequadas aos textos literários, aceitando o pacto ficcional proposto, com reconhecimento de marcas lingüísticas de subjetividade, intertextualidade, interdiscursividade, recuperando a criação de linguagem realizada, em aspectos fonológicos, sintáticos, semânticos e situando adequadamente o texto em seu momento histórico de produção (PAULINO, 2004, p.56). É importante enfatizar ainda que o letramento, entendido sob o ponto de vista social revolucionário, nem sempre terá conseqüências desejáveis, benéficas. Ele também pode ser utilizado com o objetivo de manter as práticas e relações sociais correntes e, portanto, não deve ser tratado como algo “autônomo”. É necessário levar em conta o que está sendo lido e, principalmente, a forma como a leitura está sendo feita. A seleção dos textos advém da aplicação de critérios de discriminação. O professor que se vale do livro para a veiculação de regras gramaticais ou normas de obediência e bom comportamento oscilará da obra escrita de acordo com um bom padrão culto. Todavia, é necessário que o valor por excelência a guiar esta seleção se relacione à qualidade estética. Respeitada essa natureza da obra literária na sua inserção na sala de aula, sem esquecer o interesse do aluno na escolha dos textos e que as projeções interferem em todo e qualquer ato de leitura, o processo de comunicação literária estimula o rompimento das limitações do ensino tradicional e a aproximação deste com a realidade do aluno. Assim, os critérios que permitem o discernimento entre o bom e o mau texto para crianças não destoam daqueles que distinguem a qualidade de qualquer outra modalidade de criação literária. Seu aspecto inovador merece destaque, na medida em que é o ponto de partida para a revelação de uma visão original da realidade, atraindo seu beneficiário para o mundo com o qual convivia diariamente, mas que desconhecia. Nesse sentido, o índice de renovação de uma obra ficcional está na razão direta de sua oferta de conhecimento de uma circunstância da qual, de algum modo, o leitor faz parte. 52 De acordo com Meireles (1984), costuma-se classificar como Literatura Infantil o que se escreve para a criança; no entanto, seria mais adequado classificar como Literatura Infantil o que as crianças lêem com prazer. Por mais que se determine com precisão o que é um livro adequado para criança, pode acontecer que ela se desinteresse por este texto escrito sob medida, trocando-o por outros, tidos como menos recomendáveis. O bom livro infantil deve apresentar uma história rica em conteúdo humano, além de ser escrito de forma artística. A grande carência da criança é o conhecimento de si mesma e do ambiente no qual vive, que é primordialmente o da família. Depois, ela demanda conhecimento do espaço circundante e, por fim, da História e da vida social. O que a ficção lhe outorga é uma visão de mundo que ocupa as lacunas resultantes de sua restrita experiência existencial, por meio de sua linguagem simbólica. Logo, não se trata de privilegiar um gênero ou uma espécie em detrimento de outras, uma vez que os problemas peculiares necessitam ser examinados à luz dos resultados alcançados pelo escritor. Seja pelo conto de fadas, pela reapropriação de mitos, fábulas e lendas folclóricas, ou pelo relato de aventuras, o leitor reconhece o contorno no qual está inserido e com o qual compartilha lucros e perdas. A obra de arte literária não se reduz a determinado conteúdo, mas depende da assimilação individual da realidade que recria. Sem ser compreendida na sua totalidade, ela não é autenticamente lida. Assim, dada a importância da mediação do professor na formação de leitores e cidadãos, é fundamental que ele receba informação e conhecimentos suficientes para conduzir a experiência de leitura de seus alunos, oferecendo livros e temas variados. Dessa forma, amplia-se o público leitor, reduzem-se os preconceitos sobre a Literatura Infantil e impulsionam-se a criação e a publicação de textos mais conscientes, críticos e fundadores de uma sociedade democrática, justa e capaz de bem equacionar seus conflitos. A formação do leitor literário se apresenta como uma das grandes preocupações dos professores, tanto de português, quanto daqueles que irão mediar os contatos dos alunos com os livros de literatura nos primeiros anos de escolaridade. Soares (1999), ao discorrer sobre a escolarização adequada da literatura, ressalta o papel da escola 53 em conduzir eficazmente o aluno às práticas de leitura literária que ocorrem no contexto social. Para Soares, uma escolarização adequada da literatura conduz ao letramento literário, uma vez que deve conduzir a uma prática de leitura literária efetiva, que ultrapasse os muros da escola. Contudo, segundo a pesquisadora, é a escolarização inadequada da literatura que vem ocorrendo na escola. Dessa forma, a escolarização acaba adquirindo um sentido negativo. Enfim, a literatura escolar desenvolveu-se em meio à tensão entre o prazer e a funcionalidade, entre a ética e a estética, entre o educativo e o recreativo. Ainda hoje, a escola não foi capaz de superar os antagonismos entre arte e pedagogia, para encontrar o equilíbrio de uma produção que pode educar e, ao mesmo tempo, produzir a adesão e o prazer do leitor. Há, ainda, que considerar que, para muitos, encantar, despertar a imaginação e promover o desenvolvimento da sensibilidade são, em si, práticas educativas. Acredita-se que é importante também refletir sobre a realidade do professor, que se encontra no centro de uma luta de forças, sobre como deve caminhar a educação em face a tantas demandas sociais neste novo milênio, tendo que descobrir qual o seu papel nesse processo. Não se pode esquecer que o professor é destinatário de um tanto de discursos que questionam sua prática, muitas vezes, desqualificando direta e enfaticamente os saberes e não saberes acumulados ao longo de anos, todavia, sem apontar caminhos. A partir dessas discussões e considerando a afirmação de Perrotti (1990) de que boa parte da história da literatura infanto-juvenil e de sua promoção se confunde com a história da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, é possível encaminhar esse texto para o segundo capítulo, que tem como núcleo a FNLIJ e a premiação da produção literária na categoria criança. 54 CAPÍTULO 2 - A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) como instância de premiação Este capítulo está dividido em duas partes: Um breve histórico da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e O processo de avaliação da produção literária realizado pela FNLIJ. As informações sobre o breve histórico estão apoiadas no livro Um imaginário de livros e leituras: 40 anos da FNLIJ e na entrevista realizada com a Secretária Geral da FNLIJ Elizabeth D’Angelo Serra, no dia 09/12/2008, na sede da FNLIJ no Rio de Janeiro. Além disso, apresentaremos a experiência do Grupo de Pesquisa do Letramento Literário – GPELL – um dos votantes do processo de avaliação da FNLIJ. 2.1 Breve histórico da Fundação Nacional do livro Infantil e Juvenil A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil foi instituída em 1968, como seção brasileira do International Board on Books for Young People – IBBY12. A Associação foi fundada em 1953, pela escritora Jella Lepman13, e tem como objetivo reunir e coordenar entidades que trabalhem com Literatura Infantil. Lepman acreditava que os livros de qualidade são o melhor caminho para conhecer e compreender a si próprio e ao outro, contribuindo para promover o respeito às diferenças culturais, a solidariedade e o conhecimento. Acreditava também no potencial desses livros para partilhar afeto e informação, contribuindo, dessa forma, para semear nessas pequenas vítimas da guerra a esperança e a confiança em um mundo melhor. Criada em meio à devastação do pós-guerra, a IBBY pretendia divulgar os textos infantis de qualidade por todo o mundo, rompendo a barreira da língua com a ajuda de 12 Internacional Board on Books for Young People é uma instituição sem fins lucrativos, composta por associações e pessoas de todo o mundo comprometidas com a idéia de propiciar o encontro entre os livros e a infância. Alguns de seus objetivos são: promover o entendimento internacional através dos livros para crianças e jovens; possibilitar a publicação e distribuição de livros de qualidade para crianças e jovens, especialmente nos países em desenvolvimento. Hoje, o IBBY é constituído por mais de 64 Seções Nacionais, ou seja, está presente em mais de 60 países, sendo a FNLIJ, a seção no Brasil. 13 Judia, alemã, decide voltar ao seu país de origem, Alemanha, após o fim da Segunda Guerra, para cuidar das crianças órfãs. O caminho que ela escolhe é o livro, para “novamente povoar o imaginário dessas crianças com sonhos e fantasias”. Jella Lepman começa a pedir livros para as editoras de todo o mundo e institui o IBBY, que começa pela Europa e vai se expandindo. 55 um centro de traduções. Também ficava a cargo da entidade apoiar a formação de bibliotecas internacionais para jovens e crianças, incentivar os estudos na área da Literatura Infantil e distribuir prêmios internacionais aos autores que endereçavam suas obras ao leitor em formação. Em 1956, Jella Lepman criou o prêmio Hans Chirstian Andersen, para inspirar os autores a escreverem bons textos para as crianças. Com intuito de despertar a atenção do mundo para a relevância da Literatura Infantil, institui- se, em 2 de abril de 1967, o Dia Internacional do Livro Infantil. Por iniciativa da educadora espanhola Carmem Bravo Villasante, o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, na época dirigido por Dr. Péricles Madureira do Pinho, foi convidado, em 1964, a participar da reunião do IBBY realizada em Madri. O convite, feito pelo presidente da seção do IBBY da Espanha, teve por objetivo dar conhecimento ao nosso país sobre o trabalho empreendido, em diferentes locais, para a difusão e o aprimoramento dos livros infantis e juvenis, assim como obter obras representativas da literatura brasileira deste gênero, para figurarem em exposição que ali teria lugar. Para representar o Brasil naquele congresso, foi designada a professora Maria Luiza Barbosa de Oliveira, técnica em assuntos educacionais e funcionária do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), a qual estaria em Paris por meio de uma bolsa de estudos pela Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. Dr. Péricles queria que Maria Luiza verificasse o interesse do Brasil em filiar-se ao organismo internacional, já que no país não havia nenhuma entidade ou órgão que trabalhasse com literatura infantil e juvenil. Ao voltar ao Brasil, em 1967, Maria Luiza e Dr. Péricles decidiram criar uma entidade brasileira do IBBY no Brasil. Imediatamente, Maria Luiza entrou em contato com sua amiga Laura Sandroni, que sempre esteve envolvida com atividades que visavam à educação e à formação do caráter dos jovens. As duas passaram a se reunir uma vez por semana, em uma sala na rua Voluntários da Pátria, na casa do Centro de Pesquisas, onde atualmente é a reitoria da Uni-Rio. Sem saber direito por onde começar, elas entraram em contato com a pintora Mariann Pedrosa, a qual indicou Dona Ruth Villela Alves de Souza14. Esta teve uma participação fundamental na 14 Bibliotecária especializada em literatura infantil nos Estados Unidos, foi professora do curso primário do colégio Bennet. Através de uma bolsa de estudos nos Estados Unidos, manteve contato com as mais 56 construção da FNLIJ. Não havia verbas, mas Dr. Péricles havia cedido uma sala, uma secretária, Edith Fernandes, uma máquina de escrever e algumas estantes. Foi realizada, então, uma primeira reunião com pessoas interessadas em participar de uma associação que reunisse editoras, autores, ilustradores, educadores, bibliotecários, com o objetivo de congregar esforços em favor do livro para a infância e a juventude. Nesta reunião, foi criada uma Comissão destinada a definir os objetivos da Associação e decidir sobre a forma jurídica a adotar. Optaram por criar uma Fundação de direito privado. E, assim, em 23 de maio de 1968, a criação da FNLIJ foi oficializada em cartório. Do primeiro contato, através da carta-convite enviada ao Brasil, até se consolidar a Associação, efetivamente, em 1968, o processo durou quatro anos. Foi estabelecido o Conselho Diretor da Fundação, formado pelos seguintes membros: Diretor executivo: Laura Constância Sandroni; Diretor Secretário: Maria Luiza Barbosa de Oliveira e Diretor Tesoureiro: Paulo Adolfo Aizen, da Editora Brasil-América. Por sugestão de Ruth Villela, optou-se também pela publicação de um periódico bimestral (depois passaria a trimestral) que trataria das mais diferentes questões referentes ao livro, à leitura, à literatura infanto-juvenil, sob forma de artigos, noticiários, resenhas, etc. O Boletim Informativo – BI – teria um papel importante como elo entre interesses dispersos e diversos, entre idéias e atividades que envolviam a questão da leitura infanto-juvenil. Tendo a FNLIJ nascido com pretensões de se tornar um organismo de alcance nacional, à medida que foi ampliando seu raio de ação, o BI serviu para criar, fortalecer e consolidar preocupações que levaram à sua própria criação e à da FNLIJ. O conjunto de artigos e as demais informações divulgadas regularmente ao longo de quase quatro décadas constituem um amplo painel das orientações teórico-práticas tomadas pela leitura infanto-juvenil e sua promoção não apenas no país, como também em várias partes do mundo, já que o BI difundiu informações provenientes tanto de fontes nacionais como internacionais. Em editorial, se definiam os objetivos da publicação: Este é o primeiro número do Boletim Informativo da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Nossa intenção é procurar, através de uma publicação modernas técnicas de organização de acervos, facilitação de pesquisa e atendimento na biblioteca. Ela trabalhou com experientes profissionais da área e com crianças norte-americanas. 57 bimestral, colocar em contato permanente todos os que, no país, estão preocupados com o problema da literatura infantil, informando e recebendo informações, constituindo assim, um pequeno elo de comunicação entre escritores, ilustradores, professores, editores, todos enfim que estão empenhados na tarefa de produzir para crianças (...) (SANDRONI et. al. (Orgs.), 2008, p. 5) No mesmo Boletim Informativo, transcreve-se o regulamento do Prêmio Viriato Correa, criado pelo Instituto Nacional do Livro (INL), então órgão do MEC, instituído no dia 10 de junho de 1968, pelo Decreto nº 62.844, assinado por seu Diretor Humberto Peregrine. O que não estava dito, e é interessante registrar, é a história de como esse prêmio foi criado. Alguns meses antes, o Instituto Nacional do Livro (INL) havia divulgado, em outro decreto, os prêmios de romance, conto, poesia e ensaio. Lendo a notícia, Laura Sandroni e Maria Luiza decidiram pedir que também desse incentivo à Literatura para crianças. Elas foram bem recebidas pelo diretor e pouco depois se promulgava o decreto criando o Prêmio, cuja primeira edição teve Laura como convidada e membro da Comissão Julgadora. Através do Boletim Informativo, foi feita uma campanha de sócios-contribuintes, cuja colaboração ajudaria a manter a FNLIJ. Durante os primeiros anos, as poucas pessoas que trabalhavam na Fundação não recebiam qualquer remuneração e reuniam-se apenas às quartas-feiras à tarde em sua sede. Foi em março de 1973, que a equipe da FNLIJ preparou um projeto de pesquisa para apresentar ao Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais (INEP/MEC), com o objetivo de obter recursos para um levantamento crítico das obras para crianças e jovens publicadas no Brasil. Esta foi a primeira bibliografia analítica da Literatura Infantil brasileira. Evidentemente, as conclusões a que se chegaram foram que havia muitas traduções mal feitas e não havia preocupação com o objeto livro, nem com a qualidade da ilustração. Paralelamente, já havia livros de boa qualidade, por exemplo, Ziraldo com Flicts, entre outros artistas brasileiros. Segundo Machado (2007) esse fato não era um movimento individual dos artistas, era um movimento da sociedade. O país estava em plena ditadura militar e as pessoas que eram a favor da democracia estavam preocupadas em encontrar brechas para se comunicar. Foi nesse contexto que alguns artistas foram influenciados a buscar a Literatura Infantil como um canal de 58 comunicação. Afinal, o livro para adulto era censurado e o infantil, não. O fato de a FNLIJ ter conseguido realizar um projeto revolucionário, no sentido de que propõe uma transformação das pessoas e da sociedade em plena ditadura é explicado por Sandroni. Segundo ela, isso se deve ao desconhecimento, por parte dos censores, do que é a Literatura Infantil. Dessa forma, para eles, os livros infantis não representavam perigo nenhum. O investimento por alguns artistas na Literatura Infantil ocorre ao mesmo tempo em que a Fundação precisa articular e dar visibilidade a seu crescimento. A primeira medida tomada, em 1974, foi promover o prêmio concedido pela Fundação ao livro considerado “O melhor para a criança”. Em abril, Gian Calvi apresentou o projeto para o “selo de ouro”, o qual o editor do livro escolhido poderia colar em sua capa. O primeiro prêmio vai para Eliardo França, com o livro O rei de quase tudo. Nesse mesmo ano, o IBBY realizou, pela primeira vez em sua história, um Congresso fora da Europa. A FNLIJ, seção brasileira da entidade, foi convidada a organizá-lo e o fez na cidade do Rio de Janeiro. O tema proposto foi dividido em oito sub-temas, expostos por especialistas de diferentes países e estudados em seguida por grupos de participantes previamente inscritos. Para isso, os responsáveis pela Fundação se desdobraram em contatos com as autoridades do governo para obtenção de recursos. O ministro da educação, entendendo a importância do evento para o Brasil, assegurou boa parte da verba necessária. A Riotur facilitou os entendimentos com o hotel, as companhias de aviação ofereceram passeios turísticos aos congressistas estrangeiros. Além disso, o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL), membros fundadores da FNLIJ, empenharam-se ao máximo para ajudar. Em julho, já havia 300 pessoas inscritas, de mais de 20 países. Da América Latina, havia representantes da Argentina, da Bolívia, do Chile, do Paraguai, do Uruguai e da Venezuela. Da América do norte, vieram os Estados Unidos. Da Europa, Alemanha Ocidental e Oriental, Bulgária, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Inglaterra, Iugoslávia, Portugal, Suécia, Suíça, Tchecoslováquia e União Soviética. Da Ásia, o Japão e o Irã. Da África, o Quênia. A 59 Unesco15, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Centro Regional para a Promoção do Livro na América Latina (CERLAI) deram apoio irrestrito ao Congresso. O primeiro tema discutido e desenvolvido nos trabalhos de grupo foi “Literatura Infantil no Quênia: aspectos nacionais e internacionais”, apresentado por Francis Otieno Pala, da Biblioteca Nacional daquele país. Raoul Dubois, da seção francesa do IBBY, foi o expositor do tema “Renovação pedagógica e literatura para a juventude”. O tema seguinte, “O livro infantil e a tecnologia de apoio por processos audiovisuais”, foi defendido pelo brasileiro Nuno Veloso, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rudo Moric, da Mladé Letá Editora, da Tchecoslováquia, falou sobre “O livro como meio de informação e desenvolvimento da leitura”. Outro tema abordado foi “O público leitor e seu acesso ao livro”, Nelly Novaes Coelho, professora da Universidade de São Paulo. “Criatividade e pesquisa no campo da produção de livros” foi o tema desenvolvido por Lucia Binder, do Instituto Internacional de Literatura Infantil e Pesquisa sobre Leitura, na Áustria. Outra editora, Bettina Hurlimann, da Editora Atlantis, da Suíça, falou sobre “O equilíbrio entre recursos materiais e humanos na produção de livros”. Por fim, Agnya Bartho, da União de Escritores Soviéticos, falou sobre “O treinamento de especialistas para a produção de livros infantis”. O Congresso teve uma grande repercussão no Brasil, foram mais de 500 pessoas inscritas. Sandroni descobriu que o motivo que levou o IBBY a propor a realização do evento no Brasil foi o interesse da entidade em se tornar internacional. Afinal, na realidade, até então, era uma entidade européia. O IBBY comemoraria 20 anos de existência sem que nunca tivesse promovido um congresso fora da Europa. No dia 15 agosto de 1979, foi publicado o primeiro número de Notícias, novo órgão de divulgação mensal da FNLIJ, que ainda hoje continua a ser editado. Ele traz uma inovação no seu nº 54, cada edição passa a ser ilustrada por um artista diferente. No Boletim nº 60, julho de 1982, Glória Pondé comenta os prêmios da FNLIJ, explicando a maneira como são concedidos: “Visando a premiar os melhores escritores e ilustradores, a FNLIJ institui láureas, anuais, que se referem às primeiras edições de autor nacional, lançadas no ano anterior, conforme data impressa no volume”. 15 Organização das Nações Unidas para a educação, Ciência e Cultura (em inglês United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) 60 Concorrem todos os exemplares que chegam à FNLIJ, até a data da primeira reunião da Comissão Julgadora, a qual realiza uma seleção prévia, levando em consideração o conjunto: texto, ilustração e aspectos gráficos (diagramação, impressão e acabamento). Neste primeiro encontro, o especialista em ilustração avalia a parte pictórica e exclui os livros que não se enquadram no critério estabelecido. A equipe de pré-seleção é sempre constituída de profissionais que atuam em diversas áreas: ilustrador, professor, livreiro, bibliotecário, crítico literário. Em seguida, os outros membros analisam os textos para verificar a qualidade literária e, assim, organizar uma lista que é enviada aos críticos e professores de literatura infanto-juvenil do país. Essa lista serve como sugestão e não é rígida, se o especialista não concordar com ela, pode sugerir outros títulos para serem premiados. As obras que recebem indicação para o 1º lugar, mas não obtêm a premiação da FNLIJ, são consideradas “Altamente Recomendáveis”. Em 1982, criou-se “O melhor livro sem texto”, pelo aparecimento de títulos destinados à criança que ainda não sabe ler, mas pode elaborar oralmente suas histórias, com base nas imagens dessas publicações. Sempre que se cria uma nova láurea, concorrem todas as obras que se enquadram na categoria, publicadas anos anteriores. Examinando o número de livros recebidos e o dos premiados, Glória Pondé realiza uma interessante síntese do panorama editorial de 1975 a 1981: Em 1975, a oferta de títulos nacionais em 1ª edição era de 42 obras; em 1978, chegou a 107, havendo uma sensível queda no ano seguinte. A partir de 1980, recupera-se o aumento da produção. Neste ano, também ocorre uma melhoria significativa em termos de qualidade. Verificou-se que 24% da produção já se enquadravam nos critérios de qualidade editorial e literária requeridos pela FNLIJ. No período seguinte, o percentual cresceu para 34,9%, o que atesta o alto nível de nossos escritores e ilustradores, que têm merecido atenção até do exterior, com tradução de várias obras e concessão de prêmios (...) Por último, o crescimento da oferta de livros destinados aos adolescentes, cujo tratamento gráfico aponta o cuidado dos autores, ilustradores e editores. Em 1981, o número de livros juvenis superou o dos infantis na pré-seleção, ato inédito que demonstra uma verdadeira explosão de textos para adolescentes. (SANDRONI et. al. (Orgs.), 2008, p. 87-88) A concessão anual de prêmios permitiu à FNLIJ identificar a necessidade do mercado. Conforme Elizabeth Serra, já havia algum tempo que a instituição estava alertando sobre a escassez de livros para o pré-leitor e para o jovem. Pode-se verificar que a indústria editorial é sensível a essas pesquisas e responde positivamente, 61 colocando no mercado os livros específicos para faixas etárias que carecem de textos para leitura. Deste modo, a premiação permitiu a melhoria e o aumento da produção editorial, favoreceu a consagração de escritores, como também o surgimento de valores novos, contribuindo para a maioridade da Literatura Infantil brasileira. Prestigiar o público, apontando-lhe o que há de melhor, e prestigiar escritores, ilustradores e editores de todas as regiões do país é uma das principais metas da FNLIJ. A FNLIJ, interessada em expandir suas idéias de criação de novas bibliotecas e de alternativas que mobilizem a criança a adquirir o hábito de leitura, tornando-a, conseqüentemente, mais consciente e integrada no grupo social em que vive, elaborou um projeto visando à modificação do quadro atual no que diz respeito à criança carente brasileira. Para conseguir seu objetivo, contou com o apoio da Fundação Roberto Marinho e o patrocínio da Hoechst do Brasil em estreita colaboração com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, do MEC e das secretarias de educação estaduais e municipais, e vários editores. O convênio foi firmado em 1982 e previa um desdobramento do projeto por quatro anos, com a doação de minibibliotecas. O projeto, planejado para suprir a inexistência de bibliotecas na grande maioria das escolas rurais do país, cerca de 150 mil em seu total, pretendeu atingir 30 mil desses estabelecimentos, ou seja, 1.209 alunos carentes, impossibilitados de adquirir o livro. Estruturadas em quatro etapas, cada Ciranda de Livros se constituiu de uma biblioteca básica de 15 títulos, selecionados pela FNLIJ16, um Guia de Leitura para pais e professores, cartão de leitor e fichas de circulação. O acompanhamento se deu através de questionários de avaliação, correspondência ativa com os interessados, boletim bimensal e promoção de seminários regionais e nacionais. O projeto Ciranda de Livros foi o maior programa de distribuição de livros de literatura infantil e juvenil até então levado a efeito no Brasil. Havia a participação de várias pessoas, mas os nomes que se mantiveram durante todo o projeto foram Laura Sandroni, Alfredo Gonçalves, Ronaldo Panayotis Contopoulos, Claudia de Miranda e 16 No caso da seleção, a FNLIJ estabeleceu critérios muito claros: a qualidade literária, com ênfase nos livros premiados e que marcaram a trajetória da literatura brasileira para crianças e jovens; o equilíbrio entre autores consagrados e novos; a qualidade gráfica, já que as edições especiais para a Ciranda seriam iguais às existentes no mercado, apenas com a colocação do logotipo do projeto e dos patrocinadores na quarta capa; a não repetição de autores, garantindo a presença de 60 escritores significativos; a repetição mínima de ilustradores; a variação ao máximo das editoras, abrindo-se espaço tanto para as grandes quanto para as pequenas casas publicadoras. 62 Luiz Raul Machado, além de José Carlos Barboza de Oliveira, diretor da Fundação Roberto Marinho, seja no desenvolvimento das idéias e sua concretização, na seleção dos livros ou na coordenação do trabalho. Toda a equipe da FNLIJ se engajou na Ciranda, especialmente Rejane Carvalho de França e Glória Pondé, na elaboração dos Guias de Leitura. Laura Sandroni, após 16 anos na direção da FNLIJ, em 1984 se afasta para dar lugar a Glória Pondé, que já estava há seis anos na Fundação. Sandroni passa a ser assessora especial da entidade e continua colaborando nos projetos. Neste mesmo ano, a FNLIJ lança uma lista de livros que passam a compor o acervo da FNLIJ, constituindo a matéria-prima das atividades, sendo analisados nas Bibliografias Analíticas que foram organizadas, além de se transformarem em fonte de resenhas, na Seleção de livros para a infância e juventude. O 2º volume da Bibliografia Analítica foi publicado pelo Mercado Aberto em co-edição do INL. Abrange o período de 1975-1978 e contém 1.043 verbetes, dando conta de 1.890 títulos que chegaram à Fundação. Apresenta também um balanço da produção dos livros para crianças e jovens e um estudo sobre as faixas de interesse e fases de crescimento da criança. Em 1985, a FNLIJ obteve o título Declaratório como Instituição de Utilidade Pública, decreto 91.412 no dia 09 de julho. Este título permite que as entidades (pessoas jurídicas) que fazem doações à Fundação se beneficiem das isenções fiscais previstas em lei No período de 1985 a 1986, a FNLIJ foi dirigida por Glória Pondé, que contou com a colaboração de Eliana Yunes. Frente a um novo momento histórico do país, e com as novas demandas que a Fundação passou a ter em função da importância do seu trabalho, esses dois anos foram de intensa discussão e culminaram na mudança dos estatutos da FNLIJ, a fim de preparar a instituição para outra etapa de sua história. Assim, em 1986, um novo estatuto foi aprovado e a estrutura administrativa mudou. Os cargos executivos – Diretora Executiva, Tesoureira e Secretária – foram substituídos por uma Secretaria Geral com as três funções: secretaria geral, administrativa e de planejamento. A FNLIJ passou a contar com um Conselho Diretor formado por três integrantes para apoiar o trabalho da Secretária Geral. 63 Em 1987, o Conselho fez a sua primeira reunião para eleger o seu presidente e o vice (Arnaldo Niskier e Maria Alice Barroso), e para nomear o novo Conselho Curador (Terezinha Saraiva, Henrique Luz e Paulo Adolfo Aizen – titulares; Maria do Carmo Marques Pinheiro, Italo Viola e Márcio Tavares do Amaral – suplentes) e o novo Conselho Diretor (Nelson Guimarães, Bernardo Chaves de Mello e Sérgio Pereira da Silva). A Secretaria Geral, nomeada pelo Conselho Diretor, foi formada por Eliana Yunes (secretária executiva), Sonia Gomes de Mattos Ferreira (secretária de planejamento) e Elizabeth D’Angelo Serra (secretária de administração). Com essa medida, a FNLIJ deu o primeiro passo na direção da sua profissionalização. Os antigos cargos executivos passaram a ser reconhecidos como profissionais da FNLIJ e todos que prestavam serviços à FNLIJ, em caráter permanente, passaram também a ter vínculo trabalhista a partir de 1988. A FNLIJ, no ano de 1987, trabalhou com 58 funcionários contratados no regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT); cinco estagiários, sete funcionários e cedidos de órgãos públicos. Para execução de projetos específicos, durante o ano, contratou 23 pessoas em regime de prestação de serviços. A Secretária Geral, Eliana Yunes, teve como principal função a liderança técnica e política da Fundação; estabeleceu contatos que abriram as portas para a participação de órgãos do governo e empresas privadas que efetivamente viabilizaram a FNLIJ em 1988. Coube à secretária administrar as verbas recebidas, com atuação nas áreas técnico- pedagógica, política e de negociação, numa atuação integrada com a secretária geral. A equipe da FNLIJ foi estruturada da seguinte maneira: Centro de Atividades (CEAT) – projetos, eventos, recursos humanos, imagem; Assessorias Nacional e Internacional; Assessoria Jurídica; Assessoria de Comunicação Visual; Setor de Sócios e Serviço de Apoio Administrativo (SAA). Neste mesmo ano, foram organizados os seguintes projetos: Confecção de vídeo institucional 20 anos da FNLIJ; Confecção do vídeo O autor e sua obra (10 autores) e o projeto Imagem da criança brasileira, para comemorar os 20 anos da FNLIJ. Em janeiro de 1987, Eliane Yunes convidou Elizabeth Serra para integrar a Secretaria Geral da FNLIJ, como Secretária de Administração. A partir de 1989, Eliana 64 se retirou do cargo, apesar de continuar colaborando até 1992 e para ocupar a sua função de Secretária Geral, indicou Elizabeth, que exerce até hoje esta função. A partir de 15 de março de 1990, 75 dias após a posse de Fernando Collor, a FNLIJ passou a sofrer cortes de patrocínio e de apoios financeiros em seus projetos. De acordo com Elizabeth Serra, foi um ano de luta pela sobrevivência da instituição. Ela precisou reduzir o ritmo de trabalho a fim de cortar os custos para não ter que demitir sua equipe. Entretanto, no segundo semestre, se viu obrigada a demitir quase toda a equipe, ficando somente com quatro funcionários. Para fazer frente aos custos decorrentes das demissões, vendeu duas linhas de telefone, que na época significavam uma expressiva quantia. Os três membros da Secretaria Geral abriram mão de receber seus salários. O Notícias foi mantido como uma forma de resistência, embora sua periodicidade tenha sido afetada. A partir do nº 3, Notícias retornou sem cores e a partir do 4º e 5º, não houve trabalho de fotocomposição. Foi utilizada uma máquina de telex, doada pela Embratel, para fazer o boletim, que era artesanal, por meio de cópias xerox. Com o objetivo de divulgar o Ano Internacional da Alfabetização, a logomarca criada pela UNESCO foi impressa em todos os Notícias do ano. Prosseguindo a campanha de mantenedores, a FNLIJ terminou o ano com 20 participantes. Outra atitude tomada por Elizabeth Serra, segundo seu depoimento, foi de manter a premiação a que custo fosse. A FNLIJ iniciou o ano de 1991 com o quadro de funcionários reduzidíssimo, devido à grave crise financeira vivida pelo país, principalmente nas entidades ligadas à cultura. Entretanto, à medida que projetos eventuais surgiam, profissionais antigos ou novos eram convidados a trabalhar como prestadores de serviço por tempo determinado, já que a FNLIJ não tinha orçamento para assumir um contrato fixo de trabalho. Por intermédio de Eliana Yunes e Elizabeth Serra, a FNLIJ apresentou a Affonso Romano de Sant’Anna, tão logo ele assumiu a presidência da Fundação Biblioteca Nacional, em dezembro de 1990, uma proposta de criação de um programa de incentivo à leitura, baseado na experiência e na pesquisa desenvolvidas pela FNLIJ, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), sob coordenação de Eliana. 65 Aceita a proposta, as duas deram forma ao projeto intitulado Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER), que foi apresentado à Fundação Biblioteca Nacional (FBN) no início de 1991. A partir de então, foi firmado um convênio entre a FNLIJ e a FBN, com o objetivo de se criar um programa visando recuperar a capacidade das bibliotecas estaduais e municipais para um trabalho de sistematização técnica e administrativa dos programas de incentivo à leitura. A FBN assessorou a fase preparatória do projeto e o uso da Casa da Leitura, como sede da FNLIJ e do PROLER. O número de sócios mantenedores aumentou de 20 em 1990 para 26 em dezembro de 1991. Depois de certo tempo, Elizabeth Serra conquistou, com o seu trabalho, o apoio das pessoas que acreditavam na Fundação. Sandroni é, então, convidada por Serra a voltar para a FNLIJ. Em 1994, o secretário estadual de Educação do Rio de Janeiro, Cláudio Mendonça, alertado por Lúcia Jurema, membro do Conselho da FNLIJ, da situação de dificuldade pela qual passava a entidade, assinou convênio com a FNLIJ para a instalação do Centro de Documentação e Pesquisa (CEDOP) e de uma Biblioteca Infantil Modelo, no Instituto de Educação do Rio de Janeiro. Em 1995, o Notícias passou a contar com o apoio da Pricewaterhouse, empresa internacional de editoria que tem como princípio: “jovens que não lêem, não serão bons profissionais”. A Pricewaterhouse é a única mantenedora da FNLIJ que não é uma editora. Neste mesmo ano, uma importante conquista do esforço brasileiro da FNLIJ, com o apoio decisivo dos editores, escritores e ilustradores, da Fundação Biblioteca Nacional, do Ministério das Relações Exteriores e de todos que direta ou indiretamente trabalham e colaboram com a FNLIJ, foi a aceitação da proposta apresentada pela Fundação para que o Brasil fosse o país homenageado na Feira de Bolonha17. Outra atividade proposta pela IBBY, da qual o Brasil participa é a Bienal de Bratislava (BIB)18. 17 A feira ocorre todos os anos na cidade de Bolonha, Itália, recebe apenas editores, autores, ilustradores, tradutores, ou seja, aqueles que estão diretamente ligados à produção dos livros destinados a crianças e jovens. Os estandes são comprados pelos países interessados, que organizam as exposições. No Brasil, a FNLIJ seleciona os livros enviados, organiza um catálogo em inglês e estimula a participação de editores, autores e ilustradores. Há uma exposição paralela de ilustrações e são atribuídos prêmios. 18 Primeira feira bienal reúne originais de ilustrações de livros infantis e juvenis enviados pelas seções nacionais ou pelos ilustradores interessados. Há diversos prêmios concedidos por um júri internacional especialmente convidado pela organização da BIB. 66 Em setembro de 1996, Elizabeth Serra foi convidada pelo presidente da Fundação Biblioteca Nacional, Eduardo Portella, a participar da coordenação do Programa Nacional de Incentivo à Leitura, permanecendo até dezembro de 2002. Ela atuou como coordenadora da comissão por todo o período, concomitante ao cargo de Secretária Geral da FNLIJ, o que possibilitou a divulgação nacional do trabalho da FNLIJ e a integração das duas ações que visam ao mesmo fim. No cargo, foi responsável pela instalação das duas bibliotecas da Casa da Leitura, sob orientação direta da FNLIJ por meio de sua bibliotecária Maraney Freire Costa. A seleção de livros comprados para as bibliotecas foi também feita pela FNLIJ como colaboradora. No ano seguinte, a FNLIJ e a Empresa de Marketing Cultural criaram o projeto Ateliê do Artista, que contou com o patrocínio do Jornal O Dia. O objetivo do projeto, que unia a educação e a cultura, foi o de promover o encontro do aluno com os escritores e ilustradores de livros infantis. O 1º Ateliê do Artista aconteceu na quadra da Escola de Samba União da Ilha do Governador, com mais de 3.500 crianças da 1ª à 4ª séries, de 30 escolas da rede municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro. Os professores das escolas foram convidados a participar de uma reunião com a FNLIJ especialmente planejada para orientá-los quanto à visita ao Ateliê, a fim de contribuir para o trabalho de preparação das crianças para o encontro com os artistas. Com objetivo de que a literatura estivesse presente na casa das crianças, um dos diferenciais do projeto foi presentear cada uma delas com um livro contendo a dedicatória do escritor ou do ilustrador. Havia também um concurso de textos e ilustrações. Como produto final, foi elaborado um livro sobre o projeto, com declarações dos organizadores, dos artistas e das crianças que participaram do projeto. Elizabeth Serra ofereceu transporte e alimentação para as crianças. A Seleção Anual da FNLIJ, que culmina com o Prêmio FNLIJ, incorporou, no ano de 1997, algumas novidades em seu processo, tais como a criação do Acervo Básico – obras não consideradas para a lista dos Altamente Recomendáveis, mas que possuem alguma qualidade – e a categoria Reedições – obras antigas, reeditadas com novo ilustrador ou nova capa. Em homenagem aos 30 anos da FNLIJ, a Câmara Mineira do Livro, por sugestão de Maria Antonieta Cunha, lançou o “Prêmio 30 anos de Literatura Infantil e 67 Juvenil”. As editoras de Minas que participaram foram Alis, Miguilim, Formato, Dimensão, Lê, RHJ e Mazza, destinando 3% da venda das edições para a FNLIJ no período de vigência do 1º contrato da obra. Em 1998, A FNLIJ foi contratada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para selecionar 10519 títulos de Literatura Infantil para compor o acervo de 36.000 escolas públicas do primeiro segmento do ensino fundamental por meio do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) do Ministério da Educação, a serem distribuídos para 36 mil escolas públicas do Ensino Fundamental de todo o país. O critério que norteou o trabalho da FNLIJ foi reunir nesse pequeno número de títulos os livros mais expressivos e significativos da produção brasileira de qualidade. Por proposta da FNLIJ, pela primeira vez a compra de livros de literatura para as escolas contemplou um percentual de livros traduzidos, a fim de garantir para as crianças o contato com os clássicos internacionais, bem como uma pequena representação do que há de novo no exterior. Como base para essa seleção usou-se a extensa lista de livros Altamente Recomendáveis e premiados pela FNLIJ, além dos clássicos anteriores à premiação. A seleção dos títulos foi apresentada ao MEC sob a forma de um relatório detalhado do processo, apontando os critérios que levaram à escolha dos mesmos. Cada título foi acompanhado de dois pareceres elaborados por especialistas de Literatura Infantil e juvenil votantes da FNLIJ. Logo após as compras dos livros e sua distribuição, considerando a qualidade e a importância desses pareceres, a FNLIJ pleiteou junto ao MEC a publicação dos pareceres como apoio aos professores. Como não obteve resposta positiva, solicitou a autorização para divulgá-los no site da FNLIJ, o que foi concedido. Porém, sem condições de custear o trabalho de digitação na linguagem HTML, a funcionária Maria Célia Barbosa aprendeu o processo e, meses depois, conseguiu dar a formatação necessária aos textos para colocar no site da FNLIJ. Os pareceres estão disponíveis, até hoje, na rede. Dos livros selecionados para 19 Elisabeth Serra esclareceu que dos 105 livros, a FNLIJ selecionou 100. Quatro dos livros que ficaram na lista do MEC foram assumidos pela Secretaria de Educação Especial e um livro foi retirado da lista. A FNLIJ questionou a qualidade dos livros, por acreditar que o conceito de livro de qualidade é o mesmo para crianças especiais. Entretanto, por força política, os livros permaneceram na lista. 68 PNBE20, oito deles estão na lista dos livros premiados para criança, objeto de estudo da presente pesquisa. São eles: A cristaleira, A mãe da mãe da mãe da minha mãe, É isso ali, Eu e minha luneta, Menino do rio doce, Minhas memórias de Lobato, O rei de quase tudo e Uni duni tê. A seleção feita pela FNLIJ ficou conhecida como “Livros da Casinha”, por serem acondicionados em uma caixa de papelão que ao abrir, formava um telhado com sua tampa e os livros eram expostos na própria caixa, em posição de estante. Elizabeth Serra foi a responsável pelo processo de seleção e contou com a colaboração de Fátima Miguez, Laura Sandroni e Nilma Lacerda para a confecção final do relatório. Em 1999, a FNLIJ criou o 1º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens. A idéia surgiu em uma reunião do Conselho Diretor e do Conselho Curador. Faziam parte do Conselho Diretor: Regina Bilac Pinto, como presidente, e os diretores Laura Sandroni e Marcos Veiga Pereira, e do Conselho Curador: Altair Ferreira Brasil, Ana Lygia Medeiros, José Bantim Duarte, Maria Antonieta Antunes Cunha, Rafael de Almeida Magalhães e Lilia Maria Miranda Alves. O Salão FNLIJ, de acordo com seus objetivos institucionais, apresentou-se com a missão de promover a cultura escrita como atividade fundamental para a formação cultural e educacional das crianças e jovens, por meio de promoção da leitura. A ausência de um evento exclusivamente de livros de literatura e informativos para crianças e jovens foi motivadora para que a FNLIJ, editoras de Literatura Infantil e Juvenil e autores acreditassem na idéia e arriscassem seu investimento. Assim, a FNLIJ criou um evento de caráter institucional, em que o livro para crianças e jovens, seus autores e editores e a leitura literária fossem o centro das atenções, sem a necessidade de recorrer a outros suportes, apresentando a leitura como um bem em si. No Salão FNLIJ, os livros didáticos, de referência, religiosos ou de auto-ajuda não são expostos nem vendidos. A Fundação acredita que a formação de leitores se constrói pela prática da leitura literária e é ela que consolida a base humanista dos profissionais de qualquer área. Como iniciativa de caráter educacional, foi instalada uma biblioteca dentro do Salão FNLIJ. A ação visava a orientar os educadores, os pais e os professores sobre o 20 O Programa Nacional Biblioteca da Escola, em funcionamento até hoje, passou por várias reformulações. Esta foi uma edição particular do PNBE (1999) executada pela FNLIJ. Iremos discutir este programa no quarto capítulo. 69 seu valor social. A biblioteca está presente não só como um local onde as crianças e jovens possam desfrutar da leitura de livros de qualidade, mas também como um espaço de formação educacional para os professores, que podem dispor de uma seleção cuidadosa de títulos. A organização do Seminário FNLIJ garante aos professores o contato com autores e especialistas em Literatura Infantil e Juvenil, que participam de mesas-redondas debatendo temas referentes ao universo literário e de formação do leitor. Sem patrocínio, no primeiro e segundo anos do Salão, o que permitiu a sua realização foi o apoio das editoras que investiram no evento, garantindo a execução do projeto. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) também acreditou na idéia e cobrou um valor simbólico pela locação do Galpão das Artes, onde foram realizadas as seis primeiras edições do Salão. A participação da Petrobrás, por intermédio da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, a partir de 2001, foi decisiva para realizar, a cada ano, o Salão FNLIJ com mais conforto e novidades, baseados na qualidade do atendimento prestado. No dia 15 de julho de 2000, no Palácio Gustavo Capanema, no Rio, se reuniram os membros da FNLIJ, diversos convidados, escritores e ilustradores premiados para a cerimônia de entrega do Prêmio FNLIJ, referente à produção de 1999. A festa foi também para homenagear Ana Maria Machado pelo Prêmio Hans Christian Andersen do IBBY, em 2002. Lygia Bojunga, vencedora em 1982, esteve presente e deu um depoimento de gratidão a Ana Maria Machado, pelo Prêmio e pela divulgação que faz da Literatura Infantil brasileira. Em 2002, a FNLIJ realizou um importante inventário do seu acervo nacional de literatura infantil e juvenil. Foram aferidos 39.514 volumes e 24.472 títulos de livros nacionais no Centro de Documentação e Pesquisa. Pode ser considerado o maior acervo de literatura infantil e juvenil da América Latina. Dele fazem parte livros raros, como a primeira edição de O noivado de Narizinho, de Monteiro Lobato, da Companhia Editora Nacional, publicado na década de 1920, entre outros tantos títulos antigos e atuais. A partir do levantamento das obras da base de dados do CEDOP foram solicitados novos exemplares às editoras, para uma constante atualização das obras catalogadas. Também foi feito o inventário dos livros estrangeiros do acervo da FNLIJ. 70 São 11.000 livros provenientes de 46 países, entre os quais Alemanha (853), Argentina (896), França (968) e EUA (704). Nesse mesmo ano foi contratada uma equipe para o tratamento do Arquivo da instituição, com a separação e documentação de correspondências, projetos, contratos, documentos, fotos, fitas de gravação etc. Em 8 de janeiro de 2002, é instituído, pelo presidente da República, o dia 18 de abril como o Dia Nacional do Livro Infantil, data natalícia do escritor Monteiro Lobato. Desde o início dos anos 70, a FNLIJ, representada por Laura Sandroni, fazia um trabalho de divulgação do dia 18, na tentativa de transformá-lo no dia oficial do livro infantil. Em 2003, para o prêmio FNLIJ, os livros foram analisados por uma equipe de 33 votantes de 12 estados do Brasil (772 livros publicados por 116 editoras). Deste total, 95 livros foram selecionados como Altamente Recomendáveis e 88 foram indicados para compor o Acervo Básico. A entrega dos certificados aos autores e editores foi realizada em cerimônia no Palácio Gustavo Capanema, no Auditório Gilberto Freyre, no Rio de Janeiro, em 29 de abril. Dos 95 títulos selecionados como Altamente Recomendáveis, 23 foram escolhidos para o Prêmio, em 16 categorias. Nesta edição do Prêmio FNLIJ, destacou-se o número expressivo de livros apontados como Hors Concours21, demonstrando a alta qualidade da produção editorial de 2002. Os certificados aos vencedores do Prêmio FNLIJ/2002, nas diversas categorias, foram entregues durante a comemoração dos 35 anos da Fundação, na XI Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, em 23 de maio. O escritor Joel Rufino dos Santos e a escritora Angela Lago foram candidatos brasileiros indicados para o Prêmio Hans Christian Andersen IBBY – 2004. Para a lista de Honra do IBBY 2004 foram indicados o escritor Ricardo Azevedo (Trezentos parafusos a menos, Editora Companhia das Letras), o ilustrador Nelson Cruz (Conto de escola, texto de Machado de Assis, Editora Cosac Naify) e a tradutora Marina Colasanti (As aventuras de Pinóquio: histórias de uma marionete, texto Carlo Collodi, Editora 21 Desde 2002, a FNLIJ criou o Hors Concours para cada edição do prêmio, a fim de estimular novos escritores e ilustradores. Ele ocorre quando o mais votado na categoria já ganhou pelo menos três vezes o Prêmio FNLIJ como escritor ou ilustrador. 71 Companhia das Letrinhas). Em março do mesmo ano, a escritora Lygia Bojunga ganhou o 3º Prêmio ALMA22. Para ampliar a divulgação dos livros premiados até os sócios da FNLIJ, o Notícias 9 publicou a lista de todos os premiados na categoria Criança com as capas coloridas, presente da PricewaterHouseCoopers, que patrocina a impressão do informativo. Um dos incentivos desta pesquisa, dito anteriormente, foi este boletim informativo que nos instigou a trabalhar com a categoria criança da FNLIJ. Para a Feira de Bolonha, a FNLIJ preparou uma seção especial no catálogo com todas as obras premiadas nesta categoria, bem como um estande brasileiro da feira. E também no 7º Salão FNLIJ do Livro houve uma exposição com painéis que reproduziram as capas dos livros e a distribuição de um folheto impresso com os premiados da categoria crianças. Em reconhecimento ao trabalho pioneiro liderado pela FNLIJ e pelo desenvolvimento da literatura infantil e juvenil do Brasil, Laura Sandroni foi eleita Membro Honorário da entidade pelo Comitê Executivo do IBBY. Pela primeira vez, um latino-americano recebe esse reconhecimento. A parceria da FNLIJ com a Secretaria de Educação do Município do Rio de Janeiro, por meio da Divisão de Mídia e Educação, sob responsabilidade de Simone Monteiro, levou a SME-RJ a solicitar à FNLIJ a criação de um curso sobre literatura infantil e juvenil e leitura para os professores das Salas de Leitura e da Educação Infantil. O recurso financeiro para a realização do curso veio do FNDE para formação de professores com contrapartida da SME. Foram atendidas 30 turmas, com 30 alunos- professores, em 20 aulas, ministradas por 19 professores especializados no assunto. O curso, ocorrido em dezembro de 2006, se constituiu de 3 temas gerais para todas as turmas: História da Literatura Infantil nacional e internacional (Luiz Raul Machado e 22 O Prêmio de Literatura em Memória de Astrid Lindgren (ALMA – Astrid Lindgren Memorial Award) foi criado pelo Governo Sueco em 2002, sendo um dos maiores prêmios de literatura infanto-juvenil do mundo. O prêmio é atribuído anualmente a escritores, ilustradores e autores de obras que fomentem a leitura seguindo os princípios de vida de Astrid Lindgren. O objetivo do Prêmio é fortalecer e incrementar o interesse pela literatura infanto-juvenil em nível mundial, assim como promover os direitos da criança globalmente. O Prêmio de Literatura é administrado pelo Conselho Nacional de Cultura. Astrid Lindgren é uma das escritoras mais famosas da Suécia e do mundo. Faleceu aos 94 anos de idade em 2002, mas as suas obras literárias estão profundamente enraizadas na Suécia ao longo de gerações. 72 Laura Sandroni); A vida e a obra de Monteiro Lobato (Luciana Sandroni e Sonia Travassos) e Relações entre alfabetização, letramento, leitura (Nilma Lacerda). No final do curso, um instrumento de avaliação construído pela FNLIJ em parceria com a SME-RJ foi realizado por todos os alunos das 30 turmas, orientadas por alguns dos professores do curso. Os objetivos foram plenamente alcançados, demonstrando o acerto do conteúdo e da metodologia usada. Um conteúdo que privilegiou a literatura e uma metodologia que explorou a leitura, ou seja, o livro de literatura como o principal instrumento de trabalho. O trabalho da FNLIJ para o Instituto Ecofuturo23, no Projeto Ler é Preciso, em 2007, compreendeu a conclusão dos processos de implantação das bibliotecas referentes ao contrato assinado em 2005. Foram realizados trabalhos nos municípios dos estados de São Paulo, Maranhão, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Um novo contrato foi assinado para a criação de mais de 14 bibliotecas. Com o objetivo de avaliar o desenvolvimento do projeto, foi realizado, em março, o segundo encontro de avaliação, com especialistas e responsáveis das duas instituições parceiras. Indicada pelo Ecofuturo, a FNLIJ fez seleção e a compra de acervos para a Fundação Arymax. O Ecofuturo, que apóia o Seminário FNLIJ de Literatura Infantil e Juvenil, evento paralelo ao Salão FNLIJ, desde a 1º edição, enviou representantes de nove bibliotecas comunitárias para participarem do 9º Seminário do Salão FNLIJ, no Rio de Janeiro. O 9º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens aconteceu de 23 de maio a 3 de junho de 2007, nos jardins do Museu de Arte Moderna, do Rio de Janeiro. A Suécia foi o país homenageado e apresentou a Exposição Astride Lindgren de Direitos 23 O Instituto Ecofuturo é uma organização não governamental criada em 1999 e qualificada como Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Seus mantenedores são a Suzano Papel e Celulose e a Suzano Petroquímica. Sua missão é promover a integração entre homem e natureza por meio da educação ambiental e procura conciliar o desenvolvimento econômico com desenvolvimento humano e conservação do meio-ambiente, incentivando a construção coletiva de uma cultura de sustentabilidade. Atua em parceria com empresas, poder público, ONGs, institutos de pesquisa e universidades nas áreas de educação e meio-ambiente. Acredita que a Educação e a Cultura são instrumentos indispensáveis para que as pessoas sejam capazes de compreender, criticar e melhorar a vida. 73 Humanos. O Prêmio FNLIJ foi entregue no final do Salão. Para esta 33º edição da Seleção Anual da FNLIJ, foram recebidos 1.015 títulos de 90 editoras. Neste mesmo ano, o Instituto C&A24, novo e importante parceiro da FNLIJ no trabalho de formação de leitores, contratou a Fundação para organizar o Seminário Nos Caminhos da Literatura, em São Paulo, de 22 a 24 de agosto. Uma das áreas de investimento do Instituto C&A é o programa Prazer em Ler de promoção da leitura. Como resultado de uma avaliação interna do programa, o instituto optou por apoiar projetos que tivessem como objetivo principal a formação de leitores por meio da literatura. A Bienal de Ilustração de Bratislava (BIB) foi realizada de 7 a 26 de outubro de 2007. A FNLIJ fez a seleção das ilustrações dos artistas brasileiros que enviaram seus trabalhos para apresentação na BIB. Eliardo França, indicado pela FNLIJ, foi um dos membros do júri internacional que selecionou os artistas vencedores da mostra. Angela Lago recebeu a Plaqueta de Prata (BIB) pelo livro João Felizardo, o rei dos negócios. Elda Nogueira participou das reuniões do Comitê Executivo do IBBY, representando a FNLIJ. A Academia Brasileira de Letras – ABL e a FNLIJ prestaram homenagem ao escritor Monteiro Lobato, organizando o Seminário Lembrando Lobato: no Dia Nacional do Livro, 18 de abril de 2008. Sob coordenação e mediação de Laura Sandroni, o seminário contou com a presença da Acadêmica Ana Maria Machado e dos escritores José Roberto Whitaker Penteado e Marisa Lajolo, que proferiram palestras sobre Lobato. A entrega do Prêmio FNLIJ-2008 ocorreu dia 26 de maio, durante o 10º Salão FNLIJ, na sede do Instituto Italiano di Cultura – IIC do Rio de Janeiro, com o apoio do Consulado Geral da Itália. Estiveram presentes os ilustradores italianos: Roberto Innocenti e Francesco Altan, que vieram especialmente para o evento. A Itália foi o país homenageado. Além do Prêmio FNLIJ, na mesma cerimônia ocorreu a entrega de 24 O Instituto C&A é uma organização sem fins lucrativos de interesse público, cuja finalidade é promover e qualificar o processo de educação de crianças e adolescentes no Brasil. Foi fundado em 1991 pelos acionistas da rede de lojas C&A, para institucionalizar a política de investimento social da empresa no país. O Instituto C&A oferece apoio técnico e financeiro a projetos sociais desenvolvidos por outras instituições sem fins lucrativos que atuam na área da educação. É mantido por doações dos acionistas da C&A e seu trabalho abrange 44 cidades, nas cinco regiões do país. 74 prêmios aos vencedores dos concursos FNLIJ: 13º Concurso FNLIJ / Petrobrás Melhores Programas de Incentivo à Leitura junto a Crianças e Jovens de todo o País; 7º Concurso FNLIJ Leia Comigo; 5º Concurso FNLIJ Curumim e 5º Concurso FNLIJ / INBRAPI Tamoios. A FNLIJ obteve aprovação do projeto Caravana Monteiro Lobato pelo edital do Programa de Democratização Cultural Votorantim. O projeto, que concorreu com mais de 1.500, dos quais 12 foram selecionados, prevê a apresentação de autores consagrados da Literatura Infantil brasileira em palestras sobre a obra de Monteiro Lobato com o objetivo de criar núcleos de leitura permanentes junto aos educadores. Inicialmente planejado para 20 cidades das regiões Norte, Nordeste e Centro-oeste do país, foi reduzido para oito cidades. A duração prevista é de cinco meses, incluindo a impressão de uma brochura sobre as atividades, com as transcrições das palestras. A FNLIJ vai contar com parceiros especialistas em leitura nas cidades, dentre os quais alguns são membros do júri do Prêmio FNLIJ e outros, representantes do PROLER. A participação do público será gratuita. O projeto ocorreu no segundo semestre de 2008. No dia 17 de julho de 2008, reuniram-se em assembléia na Plenária Muniz Aragão, localizada no Palácio Gustavo Capanema, os instituidores e mantenedores25 da FNLIJ, para eleger a nova gestão da instituição para o triênio 2008-2011. No mesmo dia, os novos conselheiros tomaram posse, tendo os conselhos a seguinte formação: Conselho Curador: Alexandre Martins Fontes, Carlos Augusto Mariani Lacerda, Luciana Athayde Sandroni, Luiz Alves Junior, Sonia Cruz Machado Jardim e Suzana Taves David Sanson; Conselho Diretor: Alfredo Gonçalves Manso Filho, Gisela Pinto Zincoe (Presidente) e Ísis Valéria Gomes; Conselho Fiscal: Henrique Luz, Marcos da Veiga Pereira e Terezinha Saraiva; Suplentes do Conselho Fiscal: Jorge Carneiro, Mariana Zahar e Regina Bilac Pinto; Conselho Consultivo: Alfredo Weiszflog, Ana Ligia 25 Abrelivros, Agência Literária BMSR, Agir, Alis, Artes e Ofícios, Ática, Autêntica, Ave Maria, Bertrand Brasil, Biruta, Brinque-Book, Callis, CBL, Centro da Memória da Eletricidade no Brasil, Ciranda Cultural, Companhia das Letrinhas, Companhia Editora Nacional – IBEP, Cortez, Cosac Naify, DCL, Dimensão, Doble Informática, Duna Dueto Editora, Edelbra, Ediouro, Editora 34, Editora do Brasil, Editora Jovem, Escala Educacional, Florescer, Forense, FTD, Fundação Casa Lygia Bojunga, Girafinha, Girassol Brasil Edições, Global, Globo, Gryphus, Guanabara Koogan, Iluminuras, Jorge Zahar, José Olympio, Larousse do Brasil, Lê, Leitura, L&PM, Maco, Manati, Marcos da Veiga Pereira, WMF Martins Fontes, Melhoramentos, Mercuryo Jovem, Moderna, MR Bens Gráfica, Nova Alexandria, Noovha América, Nova Fronteira, Objetiva, Pallas, Paulinas, Paulus, Peirópolis, Pinakotheke Artes, PricewaterhouseCoopers, Projeto, Record, RHJ, Rocco, Roda Viva, Salamandra, Salesiana, Saraiva, Scipione, Siciliano, SM, SNEL, Studio Nobel, Zit. 75 Medeiros, Annete Baldi, Beatriz Bozano Hetzel, Cristina Fernandes Warth, Eduardo Mattos Portella, Eni Maia, Fernando Bastos de Souza, Jefferson Alves, José Alencar Mayrink, José Fernando Ximenes, Lilia Moritz Schwarcz, Ligia Bojunga, Maria Antonieta Antunes Cunha, Paulo Roberto Rocco, Proprício Machado Alves, Regina Célia Vasconcelos Lemos, Rogério Andrade Barbosa, Silvia Gandelman e Wander Soares. Segundo Elizabeth Serra, a FNLIJ conta hoje com 76 mantenedores. Todos eles, com exceção da Pricewaterhouse, são editores de Literatura Infantil. Segundo ela, o fato de serem mantenedores não tem relação com as premiações. Apesar disso, após o surgimento do Salão, apareceu um grupo muito pequeno de editores interessados em serem mantenedores apenas para participar do evento e vender seus livros. Afinal, todos os editores mantenedores participam do Salão, o que não garante a premiação dos seus livros, nem sempre publicações de qualidade. Existem mantenedores que nunca tiveram seus livros premiados. Para verificar esse dado, é só conferir a lista dos mantenedores com a lista dos livros premiados. A Fundação tem dificuldade de conquistar novos mantenedores para ampliar a sua base. Ela não consegue suprir os seus gastos apenas com a ajuda dos mantenedores, são os projetos que garantem sua viabilidade. A instituição está estabelecida no prédio do Governo por uma permissão de uso, pelo fato de que não há nenhum outro órgão que realiza o trabalho feito pela FNLIJ. Dessa forma, não existe uma superposição de trabalho. Outro detalhe é que a Fundação não paga aluguel, luz e nem água. Comprometida com os ideais do IBBY, a FNLIJ trabalha, desde o seu surgimento, para preservar a memória da produção literária infanto-juvenil brasileira e para divulgá-la nos âmbitos nacional e internacional, promovendo a interação com outros países. Além de divulgar a cultura brasileira no exterior, a FNLIJ também traz a cultura de outros países para o conhecimento dos brasileiros, através de títulos destinados ao jovem leitor, oriundo de diversas partes do mundo. Por suas realizações, a FNLIJ já recebeu os seguintes Prêmios: - Medalha e Diploma de Menção Honrosa do Prêmio de Alfabetização da UNESCO em 1984, pelo projeto Ciranda de Livros. 76 - Plaqueta de Honra da Bienal de Ilustrações de Bratislava, Eslováquia, em 1987. - Prêmio Estácio de Sá de Literatura do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em 1989 e 2000. - Prêmio Melhor Acontecimento Cultural de Literatura Infantil de 1994 da Associação Paulista de Críticos de Arte – APCA pelo Livro para Crianças no Brasil, em parceria com a Câmara Brasileira do Livro, em 1995. - Prêmio Jabuti 1997 - Amigo do Livro da Câmara Brasileira do Livro. - Elizabeth Serra recebeu a Medalha da Ordem do Mérito Cultural, no grau de Comendador, concedida pelo Ministério da Cultura, entregue pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, em 2000. - Medalha Tiradentes da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, indicado pelo deputado estadual Délio Leal, em 2001. - Elizabeth Serra recebeu a Medalha da Ordem do Mérito cultura, no grau de Cavaleiro, concedida pelo Ministério da Educação, entregue pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, em 2002. - Laura Sandroni, uma das fundadoras da FNLIJ, recebeu a Medalha de Honra ao Mérito do Livro, concedida pela Fundação Biblioteca Nacional, pela criação da FNLIJ, em 2006. - Pelo trabalho institucional desenvolvido em benefício da Literatura Infantil e Juvenil nas últimas três décadas, Laura Sandroni passa a ser Membro Honorável do IBBY e recebe um certificado, por ocasião da Feira de Bolonha, em 2006. Para alcançar seu principal objetivo, a promoção da leitura e do livro infantil e juvenil de qualidade, a FNLIJ desenvolve várias atividades, contando com parcerias diversas para suas realizações: a leitura e seleção de livros para crianças e jovens; a formação do educador; projetos de promoção de leitura; publicações; concursos para promover a leitura e os livros de qualidade, além de projetos pioneiros. As atividades da FNLIJ serão apresentadas seguindo o critério de divisão em atividades nacionais e internacionais, algumas já foram mencionadas anteriormente. Atividades Nacionais: - Bibliotecas comunitárias Ler é Preciso; - Listagem dos catálogos da feira de Bolonha; 77 - Concursos: Concurso FNLIJ/Petrobrás Melhores Programas de Incentivo à Leitura junto a Crianças e Jovens de todo o Brasil; Concurso FNLIJ Curumim/Leitura de Obras de Escritores Indígenas; Concurso FNLIJ Tamoios de Textos de Escritores Indígenas; Concurso Leia Comigo; Concursos FNLIJ Comemorativos (Concurso FNLIJ 35 anos, Concurso Literário FNLIJ 30 anos, Concurso Uma carta para Lobato e Concurso Paz na Terra); - Exposições FNLIJ: Exposição de ilustrações da Bienal de Ilustrações de Bratislava; - BIB; Grande Mostra de Ilustrações Bienal de Ilustrações de Bratislava – BIB 22 anos; Mostra de Ilustradores; Imagens da Criança; Exposição Prêmio Andersen; Na Imagem a Viagem; Crescendo Lendo Imagens; O Jardim Secreto – Mostra de Ilustrações de Livros Infantis – Feira de Bolonha de 1996; Jardim de Palavras e Imagens – Uma homenagem a Monteiro Lobato; Viva a Ilustração!; No Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens; A imagem do Medo na Ilustração de Livros Infantis Brasileiros; - Prêmio FNLIJ: Prêmio FNLIJ Ofélia Fontes - O Melhor para a Criança; Prêmio Orígenes Lessa - O Melhor para o Jovem; Prêmio FNLIJ Luís Jardim – O Melhor Livro de Imagem; Prêmio FNLIJ Monteiro Lobato – A Melhor Tradução/Adaptação (Criança, Informativo, Jovem e Reconto); Prêmio FNLIJ Malba Tahan – O Melhor Livro Informativo; Prêmio Odyllo Costa Filho – O Melhor Livro de Poesia; Prêmio FNLIJ Revelação Escritor; Prêmio FNLIJ Revelação Ilustrador; Prêmio FNLIJ Glória Pondé – O Melhor Projeto Editorial; Prêmio FNLIJ A Melhor Ilustração; Prêmio FNLIJ Gianni Rodari – O Melhor Livro Brinquedo; Prêmio FNLIJ Lucia Benedetti – O Melhor Livro Teatro; Prêmio FNLIJ Cecília Meireles – O Melhor Livro Teórico; Prêmio FNLIJ Figueiredo Pimentel – O Melhor Livro Reconto e Prêmio FNLIJ Henriqueta Lisboa – O Melhor Livro de Literatura de Língua Portuguesa. A FNLIJ foi pioneira no país em projetos de estímulo à leitura, ao beneficiar uma clientela de crianças e jovens que não têm acesso permanente a um acervo variado de livros de qualidade. Seguem, por ordem cronológica, os projetos criados e executados pela Fundação e em parceria com outras instituições: - Projeto de Promoção de Leitura: Ciranda de Livros; Livro Mindinho, seu Vizinho; Leia, Criança, Leia; Meu livro, meu companheiro; Programa Nacional de Incentivo à Leitura; Ateliê do Artista; Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens; Viagem da Leitura; 78 PROLER – Programa Nacional de Incentivo à Leitura; Promoção de Leitura Literária na Televisão; Bibliotecas Comunitárias Ler é Preciso e Momento Literário de Barra Mansa; Natal com Leituras. - Distribuição de Obras de Literatura Infantil e Juvenil por Meio de Projetos: Ciranda de Livros (escolas públicas); Livro Mindinho, seu Vizinho (comunidades carentes); Meu Livro, meu Companheiro (hospitais públicos); No Ateliê do Artista e no Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens. - Pesquisas FNLIJ: O hábito de Leitura – A Biblioteca Infantil; O Livro Didático de comunicação e Expressão – sua adequação a um ensino de qualidade; Pesquisa sobre Interesses e Hábitos de Leitura; Por uma Política Nacional de Difusão da Leitura; Literatura Infantil e Juvenil e Alfabetização. - Cursos: Curso de Especialização em Literatura Infantil e Juvenil; Cursos sobre Biblioteca Infantil; Curso de Dinamização de Bibliotecas Infantis; Curso de Literatura Infantil na Livraria Pasárgada; Cursos promovidos em ação conjunta com a Livraria Divulgação e Pesquisa (Técnicas de contar Histórias, Literatura Infantil e Folclore e A Arte de contar Histórias); Curso de Treinamento em oficina Literária; Curso Leitura, Literatura e Formação de Leitores e Oficinas de Leitura. - Encontros e Seminários: Seminário de Literatura Infantil; 14º Congresso de Literatura Infantil do IBBY; Literatura Infantil na Universidade Brasileira; 1º Encontro de Professores Universitários; 1º Encontro de Pessoas que trabalham com Programas de Incentivo à Leitura. - Criação de Bibliotecas Infantis: Biblioteca Infantil e Juvenil Maria Mazzetti e Biblioteca Infantil de Brasília Teimosa. - Publicações: Bibliografia Analítica da Literatura Infantil e Juvenil, vol. I; Boletim Informativo; Catálogos com resenhas de livros infantis e juvenis para Férias, de Livros Internacionais; Bibliografia Analítica da Literatura Infantil e Juvenil, vol.II; Seleção de livros para a Infância e a Juventude; Anais do Encontro de Professores Universitários de Literatura Infantil e Juvenil; Anais do XVI Congresso IBBY; El Nino y El Libro: Guia Práctica de Estimulo a La Lectura; Anais dos três Congressos FNLIJ de Literatura Infantil e Juvenil; A criança e o Livro: Guia Prático de Estímulo à Leitura; Catálogo Nacional: Mostra de Ilustrações para Crianças; Revista Pirlimpimpim; Resenhas da 79 Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil; Catálogo: O Livro para Crianças no Brasil; Catálogo: Brasil! A Bright Blend of Colours; Revista Latino-americana de Literatura Infantil e Juvenil das Seções Latino-americanas do IBBY; Publicações sobre o projeto Ateliê do Artista; Obras Premiadas e Acervos Selecionados; 30 Anos de Literatura para Crianças e Jovens; Ética, Estética e Afeto na Literatura para Crianças e Jovens; Ler é preciso e Biblioteca da Escola – Pelo Direito de Ler. - Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens. A FNLIJ desenvolve atividades internacionais especificamente relacionadas à sua condição de seção brasileira do IBBY e também outras atividades que são, na verdade, decorrentes dessa condição: - Comitê Executivo do IBBY; - Congressos bienais do IBBY; - Dia Internacional do Livro Infantil – DILI/IBBY; - Prêmio IBBY-ASAHI: FNLIJ indicada como Programa de Leitura; Membros Brasileiros do Júri; Programas de Leitura Brasileiros indicados pela FNLIJ; Programas de Leitura de outros países indicados pela FNLIJ; - Júri do Prêmio Hans Christian Andersen; - Lista de Honra do IBBY; - Prêmio Hans Christian Andersen do IBBY; - Bienal de Ilustrações de Bratislava – BIB – Eslováquia; - Congresso de Cuba “Para Ler o Século XXI”; - Exposições de ilustrações e de obras de Literatura Infantil no exterior; - Feira do Livro Infantil de Bolonha – Itália; - Feiras de Livros em que o Brasil foi o país homenageado – Frankfurt; - Revista Latino-americana de Literatura Infantil e Juvenil das seções latino– americanas do IBBY. No exterior, a visibilidade do trabalho da FNLJ é muito grande. Conforme Elizabeth Serra, o IBBY ficou muito impressionado com o trabalho da Fundação e seus membros chegaram a dizer que, desconsiderando os EUA e Japão, a seção que mais tem originalidade é a seção Brasileira. Afinal, possuir dois prêmios Andersen na América Latina, os únicos de autoras brasileiras, é resultado do trabalho de seleção da 80 FNLIJ. O reconhecimento máximo que a Fundação recebe se deve ao fato de que o seu processo de seleção resulta na indicação de prêmios internacionais. Outro detalhe, Joel Rufino dos Santos e Bartolomeu Campos de Queirós foram finalistas do prêmio Andersen. O empenho da instituição é reconhecido por autores e críticos da Literatura Infantil Não podemos deixar de mencionar a importância do depoimento concedido por Beth Serra, que ao longo de tantos anos continua à frente da FNLIJ como Secretária Geral, e da publicação generosamente oferecida por ocasião da comemoração dos 40 anos da Fundação, para a construção dessa parte do trabalho. 2.2 A avaliação da produção literária realizada pela FNLIJ O trabalho de seleção e avaliação dos livros da FNLIJ, em 1987, era realizado basicamente pelo grupo do Rio de Janeiro. O Prêmio FNLIJ para a produção de 1986, depois de ampla consulta a críticos, livreiros, pesquisadores e professores de literatura infantil e juvenil, foi decidido a partir das opiniões de Maria da Glória Bordini, Fanny Abramovich, Tatiana Belinky, Glória Pondé, Sonia Salomão Khéde, Vera Varella, Maria Elizabeth Vasconcellos, Maria Teresa Gonçalves e Eliana Yunes. Nesta época, ainda havia alguns autores e editores participando da seleção do prêmio. Foi durante o processo de seleção dos livros do PNBE/1999, realizado pela FNLIJ através de um convite realizado pelo MEC, que o processo de avaliação da Fundação ganhou uma maior visibilidade. Afinal, esta seleção reflete em compras de livros pelo governo, que é o que mais interessa aos autores e, principalmente, aos editores. Foi a partir disso que Elizabeth Serra tomou a decisão de estabelecer que autores ou editores não poderiam mais participar da seleção. Foi criado, então, um termo de compromisso (anexo 3) com relação aos votantes. Hoje, este documento é de extrema importância. Algumas pessoas deixaram de participar do processo de seleção da Fundação por estar prestando consultoria ou ser autor de livros. Conforme a secretária geral da FNLIJ, os critérios foram se construindo pela própria história. Antes, os autores participavam, bem como pessoas que prestavam consultorias porque o 81 universo era muito pequeno, não era possível fazer escolhas. Hoje, as pessoas disputam um lugar como votante da FNLIJ. O critério de seleção dos votantes acontece a partir da demanda. Posteriormente, são analisados o currículo e a experiência da pessoa em relação ao conhecimento da Literatura Infantil. Por exemplo, Elizabeth Serra não permite mais a entrada de nenhum votante do Rio de Janeiro para não criar um desequilíbrio, ela sempre privilegia regiões que ainda não tenham votantes. Se necessário, corta pessoas que não estejam cumprindo com as datas e com as justificativas do processo de avaliação. As editoras participam da seleção a partir de uma carta, com o regulamento do prêmio (anexo 4), que a Fundação envia, fazendo o convite. Elizabeth Serra criou o regulamento baseando-se em documentos da época da Laura Sandroni e em um Notícias sobre o conceito de qualidade do livro de Literatura Infantil escrito por Eliana Yunes e Laura Sandroni. A FNLIJ convida todos os editores a participarem da seleção. Eles devem enviar cinco livros obrigatoriamente. O editor não tem obrigação de mandar os livros para os votantes porque, supostamente, estes teriam contato com os livros. Mesmo assim, Elizabeth Serra fez um esforço ao longo desses anos todos para que isso fosse feito. Hoje, pode-se dizer que 95% dos editores mandam os livros a todos os votantes. O argumento que ela usou para convencer as editoras é que as pessoas trabalham voluntariamente, sendo cada votante um multiplicador na sua cidade, podendo divulgar os livros. A partir de uma seleção anual, a FNLIJ se organiza em três acervos: o básico (lista anual de livros utilizada para orientação na compra de acervo por Secretarias de Educação, escolas e bibliotecas), criado em 1996; o altamente recomendável (seleção anual feita a partir do acervo básico de aproximadamente 10 livros por categoria) e o prêmio FNLIJ (Distinção máxima hoje concedida aos melhores livros por categoria). A seleção dos melhores livros para crianças e jovens é feita a partir da avaliação de votantes26 que representam 11 estados brasileiros e o Distrito Federal. São eles 26 Ana Albertina G. Branco, Ana Maria Albernaz, Ana Maria Clarck Peres, Ana Maria F.Filipouski, Ana Virginia Heine Reis, André Muniz de Moura, Angela Leite de Souza, Angela Maria G. Amarante, Anna Claudia Ramos, Anonio Holfedt, Beldia Cagnoni Balestra, Benita Lamas Gonzales, Benita Prieto, Ceila Maria P. Ferreora, Celina Rondon, Celso Sisto, Claudia Moraes, Constância Lima Duarte, Cynthia M. Campelo Rodrigues, Domingo Gonzales Cruz, Edmilson M. Rodrigues, Edmir Perrotti, Edson Elias 82 especialistas em literatura, professores e bibliotecários. Escritores, ilustradores, tradutores e editores das obras recebem um diploma oferecido pela Fundação. A FNLIJ envia quatro listas para todos os votantes: 1ª Lista Pré-Pré Selecionados, 2ª Lista Pré Selecionados, 3ª Lista Selecionados e a 4ª Lista Altamente Recomendáveis. Nas três primeiras listas constam o nome da editora, a categoria em que o livro se encontra, os títulos, posição do livro (mantido ou retirado27), recebido pelo votante (sim ou não) e por fim, o voto ou indicação (sim ou não). A partir da última lista, os votantes precisam dar notas 10, 20 ou 3028 para os títulos. É a partir da quantidade de votos por títulos que o Andrade Berbay, Eglê Malheiros, Elda Helena Sousa Nogueira, Eliana Yunes, Elias José, Elizabeth D’Angelo Serra, Elizabeth Hanzin, Esmeralda, Vailati Negrão, Ezequiel Teodoro da Silva, Fanny Abramovitch, Fátima Miguez Martins, Flávio Martins Carneiro, Francisca Nóbrega, Francisco Aurélio Ribeiro, Fulvia Rosemberg, Gê Orthof, GPELL (Grupo de Pesquisa do Letramento Literário, do Centro de alfabetização, leitura e escrita (Ceale/FAE/UFMG), Gerson Conforti, Gláucia Maria M. Pécora, Glória Kirinus, Glória Pondé, Glória Valadares Granjeiro, Guido Heleno, Iraídes Maria Pereira Coelho, Isabel Maria de C. Vieira, Isis Valéria, Jane Elizabeth G. Augustin, Janice Provençano Leal, João Luis C.T. Ceccantini, Sandroni Batisti Nardes, Sandroni de Paula, Sandroni Sandroni, Ligia Cadermatori, Ligia Chiappini M. Leite, Lilian Lopes M. da Silva, Livraria Malasartes, Livraria Tempo de ler, Lucia Fidalgo, Luciana Sandroni, Lucília Helena do Carmo Garcez, Lucy Ruas, Luisa Lobo, Luiz Percival Leme Brito, Luiz Raul Machado, Magda Becker, Maisa Aleksandravicius, Maraney Freire Costa, Márcia Batista, Márcia Filgueiras, Márcia Lisboa da Costa, Margareth Amoroso, Maria Antonieta A. Cunha, Maria Beth Coelho Silva, Maria Carolina M. Macedo, Maria da Glória Bordini, Maria das Graças Castro, Maria das Graças V. Lins, Maria de Lourdes P. L’abbate, Maria Dinorah Luz do Prado, Maria do Carmo Moura Frazão, Maria do Socorro Dantas Mouré, Maria do Socorro Moré, Maria Elizabeth G. Vasconcelos, Maria Helena Hansen, Maria José Nóbrega, Maria Lúcia Peixoto, Maria Luiza de Almeida Lucci, Maria Neila Geaquinto, Maria Tereza Gonçalves, Maria Tereza Bom-fim Pereira, Maria Zaíra Turchi, Marina Quintanilha Martinez, Marisa Borba, Marisa Lajolo, Maurício Correia Leite, Mirna Pinsky, Nelly Novaes Coelho, Nancy Nóbrega, Neide Medeiros Santos, Nueza Salim, Nilma Golçalves Lacerda, Ninfa Parreiras, Peninsilvania Diniz Guerra Santos, PROALE (Programa de Alfabetização e leitura – UFF), Regina Celeste do R. Rodrigues, Regina Lúcia Faria de Miranda, Regina Yolanda Werneck, Regina Zilberman, Renata Junqueira de Souza, Rita Maria Silva Costa, Robson Neves Rodrigues, Rogério Lima, Rogério Rodrigues, Rosa Maria Cuba Riche, Rosa Maria de C. Gens, Rosa Maria de Queiroz Bezerra, Samir Mesarani, Sandra Nakamura Vivas, Sonia Khéde, Sonia Rodrigues Mota, Sonia Travassos, Sueli de Souza Cagneti, Tania Damasio Rocha, Tania Piacentini, Tatiana Belinky, Terezinha Alvarenga, Vania Maria Rezende, Vera Lucia dos Santos Varella, Vera Teixeira Aguiar, Vitória Formighieri, Werner Zotz e Zélia Granja Porto. (Votantes FNLIJ desde 1987). 27 Alguns livros durante o processo de avaliação são retirados da lista da FNLIJ enviada para os votantes. Entretanto, Elizabeth Serra explicou que quando o livro é retirado pelo grupo do Rio, qualquer votante, desde que justifique sua posição, pode propor a reentrada. A equipe do Rio faz reuniões mensais, os livros que chegam e que são mandados para os votantes são colocados na mesa. Do grupo formado por dez ou doze pessoas, algumas leram, outras, não. É importante considerar a opinião de quem já leu, principalmente no caso de livros de textos mais longos. Quando há dúvida, o livro é mantido. Quando a obra é pequena, a equipe do Rio pode fazer a leitura na hora da reunião e decidir juntos se o livro entra ou não. Os critérios são a qualidade do texto e da ilustração. Quando o grupo retira um livro, é porque considera que ele não tem qualidade. O foco do trabalho da Fundação ao longo dos anos é a questão da qualidade, que prevalecer. 28 Em relação às notas 30, A FNLIJ seleciona os livros a partir da tabela que todos os votantes preenchem sugerindo as notas. A parir desta lista, o grupo do Rio de Janeiro decide as escolhas dos livros mais votados com a nota maior. É raro, mas acontece, do grupo interferir na avaliação quando há 83 grupo29 do Rio de Janeiro decide quais serão os livros que receberão o Prêmio FNLIJ. As notas 30 precisam ser justificadas pelos votantes e as notas 10 e 20, a justificativa é opcional. A FNLIJ envia uma carta para todos os integrantes do júri, que elege as melhores publicações infantis (Anexo 5). A Fundação recebe das editoras as primeiras edições dos livros publicados, anualmente, para análise e seleção. Depois de lidos, os livros considerados de melhor qualidade são selecionados para fazer parte do Acervo Básico da FNLIJ. Desse acervo surge a seleção Altamente Recomendáveis e posteriormente os Premiados. Hoje, a Fundação conta com diversas categorias: Criança (1974); Jovem (1978); Imagem (1981); Tradução criança, Tradução jovem, Tradução informativo, Tradução reconto (1988); Informativo (1990); Poesia (1992); Revelação escritor (1992); Revelação ilustrador (1993); Projeto editorial (1993); Melhor ilustração (1994); Livro brinquedo (1997); Teatro (1997); Teórico (1999); Reconto (2000) e Literatura de Língua Portuguesa (2005). A premiação da FNLIJ, até 1977, possuía apenas a láurea “O melhor para a criança”, em virtude do percentual pouco expressivo de livros para adolescentes. Com o surgimento de obras para jovens, a partir de 1978, instituiu-se “O melhor livro para o jovem”. Elizabeth Serra, durante a entrevista, informou sobre a existência de um paralelo entre o mercado editorial e os prêmios da Fundação, seja para provocar ou para acompanhar a variedade do mercado. A categoria Tradução apareceu em 1988 porque antes disso, a produção de livros traduzidos era insuficiente para se criar uma categoria. Segundo Elizabeth Serra, o fato serviu para provocar as traduções, pois no momento, apenas o artista brasileiro era incentivado. O Brasil viveu um momento muito voltado para os artistas brasileiros e tinha suas razões políticas. Havia uma orientação, pela Lei de Diretrizes e Bases, de que os uma discrepância em relação às notas, pois é impossível premiar determinado livro que não está adequado aos critérios da FNLIJ. Eles percebem, por exemplo, que o livro não foi lido e, além disso, existe uma tendência aos autores consagrados. Quando há algum problema e a equipe do Rio não chega a uma conclusão fica valendo o voto dos votantes. 29 O grupo é formado pelos votantes do Rio. Ás vezes acontece, mas é raro haver um votante de fora. O votante Ceccantini apareceu um dia, “é um prazer receber os votantes de fora”, segundo Beth Serra. O ideal à FNLIJ seria poder custear passagens para todos participarem da reunião. 84 livros de leitura trabalhados na escola deveriam ser da literatura brasileira. Isso acabou criando uma oportunidade para os editores publicarem livros de autores brasileiros. Paralelamente, surge a revista Recreio que Ruth Rocha cria, convidando Ana Maria Machado, Joel Rufino, Ziraldo, Marina Colasanti, entre outros. Ela começa a publicar contos que passam a fazer um grande sucesso nas bancas. Os editores percebem isso e passam a convidar esses autores para escrever livros. A categoria Informativo está atrelada ao período Collor, em 1990, com a abertura do mercado, que repercutia também no mercado editorial. Além disso, o francês François Fauche, durante uma exposição realizada no Brasil, falou que o mundo já estava com uma condição bastante evoluída em termos de qualidade de livros infantis, ilustração e textos, mas faltavam livros que trouxessem informações na linguagem para crianças. Diante dessa provocação, criou-se a categoria Informativo, a qual os estrangeiros chamam de nonfiction. Esse movimento é percebido em 1992 e 1993, quando surgem os livros sobre ecologia. Entretanto, Monteiro Lobato já falava sobre o tema nas décadas de 20 e 30. As categorias, como visto anteriormente com alguns exemplos, são criadas a partir das tendências do mercado. Quando a produção se multiplica, passam a surgir sub-categorias (tradução criança, tradução jovem, tradução reconto) porque os livros passam a ter maior expressão. A tendência do mercado internacional, com algumas exceções, é estabelecer o livro adequado a crianças de acordo com a idade. No Brasil, há uma revolução. Inspirado por Monteiro Lobato, um grupo de artistas trata, em seus livros infantis, de assuntos considerados tabu. Eles abordam esses temas de uma maneira muito forte e com uma riqueza no tratamento dado à língua que é característica do Monteiro. O prêmio pode ser considerado um dos responsáveis pela visibilidade e prestígio que a literatura brasileira para crianças e jovens alcançou. Tem também contribuído para promover a melhoria da qualidade da literatura infantil e juvenil produzida no país. A partir disso, Elizabeth Serra, ao discorrer sobre o processo de avaliação da FNLIJ, pontua sobre o lado subjetivo da seleção. Em sua opinião, a teoria literária dá os fundamentos necessários para a avaliação, mas ela não é suficiente para dar conta de analisar uma obra. Se perguntarmos aos escritores, por exemplo, 85 Bartolomeu Campos Queirós ou Ana Maria Machado, por que escreveram determinado livro, eles não saberão responder. Isso porque, historicamente são leitores, possuem um universo cultural muito amplo e profundo ao mesmo tempo, que dá condições para o artista criar. Eles despejam, extravasam e fazem uma coisa como eles mesmos dizem que “não sabem como é que vai”. De repente, o autor leva o leitor para um lugar que ele não imaginaria. É esse transbordar de conhecimento e de sensibilidade que traz para a seleção de livros o seu lado subjetivo, que vai refletir na história de leitores. Fica evidente, pelo depoimento da Secretária Geral da FNLIJ, o grau de autonomia concedido aos votantes, até porque eles estão dispersos pelo país com graus de inserção diferentes. Nessa perspectiva, julgamos interessante descrever o processo de avaliação do Grupo de Pesquisa do Letramento Literário (GPELL) do qual fazemos parte. O grupo integra as atividades do Núcleo de formação permanente de professores do Ceale30. O GPELL tem caráter interinstitucional; compõem o grupo pesquisadores, parceiros de instituições privadas, professores do Colégio Técnico e do Centro Pedagógico da UFMG, alunos do mestrado, doutorado e professores da Rede Pública. Nos últimos dez anos, o GPELL tem se dedicado a pesquisas voltadas para a formação de leitores literários. Interessam as práticas sociais de leitura e escrita presentes em instâncias sociais de circulação de livros. Tal abrangência justifica a escolha do termo letramento, considerado como expressão que sintetiza de forma mais condizente o processo social e individual de apropriação do mundo da escrita pelos leitores, inclusive professores e alunos. O Grupo articula a atividade crítica de leitura da produção literária para crianças e jovens publicada anualmente no Brasil: projeto desenvolvido pelo GPELL, na condição de votante da Fundação Nacional do Livro Infantil Juvenil, no processo que seleciona obras de qualidade da literatura para crianças e jovens, em suas diversas categorias. As obras selecionadas, divulgadas pela FNLIJ através das listas dos 30 O Ceale foi criado em 1990, com o objetivo de integrar atividades de pesquisa, documentação e ação educativa voltadas para a alfabetização, leitura e escrita. No campo da ação educativa, o Ceale vem se articulando às redes públicas de ensino no desenvolvimento de programas de formação continuada de professores e especialistas e na prestação de serviços de natureza técnico-científica, que visam a fornecer a órgãos da administração pública educacional instrumentos para o desenvolvimento de suas políticas. 86 “Altamente Recomendáveis”, constituem importante referência para a composição de acervos de bibliotecas no país. Desenvolvido desde 1997, o projeto de leitura crítica resulta ainda na produção de resenhas dos livros selecionados pelos componentes do GPELL, com o objetivo de serem essas leituras partilhadas com professores do Ensino Básico, atividade que resultou, também, em nosso atual projeto de extensão “A páginas tantas: partilhando leituras”, que pretende ampliar as referências literárias dos professores e alunos oferecendo a eles resenhas de obras da literatura contemporânea. Espera-se que o acesso dos professores e alunos não seja meramente de leitura das resenhas, mas também, de interferência na construção dessas leituras, ou seja, que os professores, bibliotecários e alunos, desde à educação básica até à universidade apresentem suas próprias resenhas de livros e partilhem suas leituras. Além disso, o Grupo realiza o evento bienal O Jogo do Livro, uma atividade realizada desde 1995 pelo GPELL. Considerados como uma das formas privilegiadas de nos inserirmos na discussão sobre os significados do letramento na sociedade brasileira, os eventos têm como objetivo central apreender, na diversidade histórica e social das práticas escolares, suas diferentes consequências linguístico-cognitivas, sócio-culturais e políticas, decorrentes da apropriação e do uso da leitura em contextos escolares e fora deles. O evento possui caráter nacional, é organizado segundo uma programação que inclui grandes conferências, mesas redondas, relatos de experiências e oficinas. Atende, em suas diferentes edições, a um público diversificado: pesquisadores, alunos de pós-graduação e graduação e professores do ensino fundamental e médio. Finalmente, convém mencionar a parceria que o Grupo de Pesquisa do Letramento Literário iniciou, a partir de 2001, com o Proler – Programa Nacional de Incentivo à Leitura, que se integra às ações da Fundação Biblioteca Nacional – cuja proposta, precipuamente orientada para a formação de leitores, busca articular vários parceiros em todo o território nacional, mobilizando diferentes setores da sociedade em favor da leitura. Entre as vertentes que organizam as ações do Proler, encontra-se aquela que destaca a biblioteca e as salas de leitura, espaços para os quais dirigimos 87 as nossas múltiplas indagações que estruturaram e estruturarão futuros projetos de pesquisa. O Grupo se reúne quinzenalmente, às sextas-feiras, pela manhã, na FaE/UFMG. O trabalho como votante compreende desde a separação de um conjunto de livros para cada integrante31, por uma estagiária do grupo, até as discussões sobre a qualidade literária dos livros inscritos na seleção da FNLIJ. A indicação, durante as primeiras listas enviadas pela FNLIJ para o GPELL, é feita pelo responsável do grupo pela leitura do livro, caso seja necessário, a pessoa pode recorrer às reuniões para esclarecer alguma dúvida. A decisão da indicação só passa a ser conjunta no momento em que se tem que indicar os livros, por categorias, com as notas 10, 20 e 30. Nesse momento, há uma votação, após a apresentação do livro pelo integrante do grupo que fez a leitura. O grupo seleciona 3 livros por categoria, aos quais são atribuídas notas 30, 20 e 10. Os indicados ao prêmio são aqueles que receberam nota 30. A lista de livros indicados pelo grupo é enviada à FNLIJ, juntamente com as justificativas das indicações. Todo novo integrante do grupo precisa acompanhar por um tempo uma pessoa com maior experiência no processo, só assim poderá participar da seleção dos livros. Após todas as reuniões, é enviada por e-mail para todos os integrantes do grupo a memória da reunião. Como mencionado anteriormente sobre a subjetividade da seleção, na opinião de Elizabeth Serra, é importante refletir sobre o valor simbólico da premiação da FNLIJ. Como se pode observar, a fundação ocupa um espaço importante no campo da literatura infantil e juvenil brasileira. Afinal, seu crescimento coincide com uma maior valorização dessa área da literatura no Brasil (Perrotti, 1990). Edmir Perrotti analisou o Boletim Informativo (BI) da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, publicado regularmente, desde 196932, em especial os artigos. Desde sua criação, a FNLIJ, com suas diversas formas de atuação, optou também pela 31 Ana Paula Soares, Aparecida Paiva, Aracy Alves Martins, Bruna Lidiane Marques da Silva, Camila Sequetto Pereira, Carmem Lucia Eiterer, Celia Abicalil Belmiro, Chrisley Soares Félix, Cristiane Dias Martins da Costa, Daniela Freitas Brito Montuani, Elaine Maria Morais, Eliana Guimarães Almeida, Flávia Alcântara, Graça Paulino, Helen Denise Daneres Lemos, Hércules Tolêdo Corrêa, Juliana Galvão Marques, Juliana Valéria de Abreu, Mara Cristina Coimbra, Marcelo Chiaretto, Maria Elisa de Araújo Grossi, Maria Zélia Versiani Machado, Mariana Cavaca Alves do Valle, Mariana Nunes, Marina Gontijo Santos Teixeira, Marta Passos Pinheiro, Mônica Simões Dayrell, Rosana de Mont'Alverne Neto. 32 O trabalho realizado por Edmir Perrotti foi feito a partir dos setenta números do Boletim Informativo da FNLIJ, publicados entre 1969 e1985. 88 publicação de um periódico bimestral – posteriormente, a partir do número 14, trimestral – que trataria das mais diferentes questões referentes ao livro, à leitura, à literatura infanto-juvenil, sob a forma de artigos, noticiários, resenhas etc. Como já dito anteriormente, o BI serve para criar, fortalecer, consolidar preocupações que levaram à sua própria criação e à da FNLIJ. O conjunto de artigos e as demais informações divulgadas ao longo de quase duas décadas, analisados por Perrotti, constituem amplo painel das orientações teórico-práticas tomadas pela leitura infanto-juvenil. Segundo o mesmo autor, ao longo dos anos, o BI foi ao mesmo tempo ponto de convergência e de propagação de idéias dominantes entre elites educacionais e culturais encarregadas de dar direção ao processo de promoção da leitura infanto- juvenil. A rigor, tornou-se verdadeiro termômetro que permite a medição do desenvolvimento da concepção sobre a leitura e sua promoção nas últimas décadas. Embora o BI seja veículo privilegiado para o acesso às concepções que se tornaram hegemônicas, revela também limites estreitos em função de seus compromissos promocionais. Na realidade, em que pese à variedade de assuntos e de temas tratados, o conjunto dirige-se sempre para o mesmo lugar: a “ideologia das necessidades”. Nele, não há brechas para questionamentos, para posições divergentes que contextualizem, que relativizem o ato de ler. O BI é tratado como valor absoluto, que paira acima de nossas mazelas cotidianas, como se a aproximação com a vida pudesse cobri-lo de impurezas, em vez de expandi-lo (Perrotti,1990). Conforme Perrotti, nesse sentido, se quisermos encontrar posições que apontem para novos caminhos, será preciso olhar além do BI, o qual compreende a leitura como comportamento capaz de ganhar sentido independentemente das condições culturais gerais de quem o pratica. Ao analisar livros infantis, não podemos desconsiderar que as relações estão atravessadas de poder. Não um poder centralizado, um poder repressor, mas um poder difuso, descentrado, que produz os sujeitos a partir dos discursos das supostas verdades que propõe e, principalmente, a partir de quem é autorizado a dizer essas verdades. No campo da literatura, o prestígio dos intelectuais encarregados de definir esse conceito faz com que suas idéias e seu gosto sejam tidos não apenas como uma opinião, mas como a única verdade, como um padrão a ser seguido. Há uma tendência 89 a se considerar o conceito de literatura como natural e não como histórica e culturalmente construída. Portanto, a literatura pode receber diferentes definições em diferentes épocas e por diferentes grupos sociais. O modo de organizar o texto, o emprego de certa linguagem, a adesão a uma convenção contribuem para que um texto seja considerado literário. Mas esses elementos não bastam, pois a literariedade vem também de elementos externos ao texto, como o nome do autor, mercado editorial, grupo cultural, critérios críticos em vigor (Abreu, 2006). Assim, podemos dizer que o conhecimento sobre o autor, estilos e obras e, sobretudo, a capacidade de produzir obras reconhecidas como de alta qualidade constituem uma forma de capital (capital literário) que propicia a quem o detém, um poder de influência sobre o campo literário (Nogueira, 2006). Dessa forma, podemos afirmar que o capital simbólico está relacionado ao prestígio que um indivíduo possui em um campo específico ou na sociedade em geral. No campo literário, por exemplo, percebe-se a disputa de espaço e de reconhecimento para si mesmos e suas produções entre editores, escritores, críticos e pesquisadores das áreas de língua e literatura. Como afirma Nogueira: (...) Basicamente, o que está em jogo nesse campo são as definições sobre o que é boa e má literatura, de quais são as produções artísticas ou de vanguarda e quais são as puramente comerciais, de quais são os grandes escritores e de quais são os escritores menores. Mais do que isso, disputa-se constantemente a definição de quem são os indivíduos e as instituições (jornais e revistas literárias, editora, universidades) legitimamente autorizados a classificar e a hierarquizar os produtos literários (NOGUEIRA, 2006, p.36). Na mesma direção, Abreu (2006) destaca que, para uma obra ser considerada como “grande literatura”, ela precisa ser declarada literária pelas chamadas “instâncias de legitimação”. Essas instâncias são várias: a universidade, os suplementos culturais dos grandes jornais, as revistas especializadas, os livros didáticos, as histórias literárias etc. Uma obra será considerada literária quando for legitimada por uma ou por várias instituições autorizadas a classificar e a hierarquizar a obra como literária. Desse modo, de acordo com a autora, o espaço destinado ao texto literário pela crítica e, sobretudo, pela escola, no conjunto dos bens simbólicos, por vezes, supera suas características internas. Dois textos podem fazer um uso semelhante da linguagem, podem contar histórias parecidas e, mesmo assim, um pode ser considerado literário e 90 outro não. Entra em questão o valor, que tem pouco a ver com os textos e muito com posições políticas e sociais (Abreu, 2006). De acordo com Nogueira e Nogueira (2006), alguns indivíduos e instituições ocupam posições dominantes na sociedade e tenderão, conscientemente ou não, a adotar estratégias conservadoras que visam a manter a estrutura atual do campo e os critérios de classificação da produção literária vigente que os beneficiam. Por outro lado, outros indivíduos e instituições ocupariam posições inferiores no interior do campo. Eles tenderiam a adotar uma entre duas estratégias: a primeira consistiria na aceitação da estrutura hierárquica presente no campo e, conseqüentemente, no reconhecimento da inferioridade ou mesmo indignidade de suas próprias produções literárias (...). A segunda estratégia se refere às tentativas de contestação e subversão das estruturas hierárquicas vigentes no campo (Nogueira, 2006, p.37). Assim, cada campo de produção simbólica seria “palco de disputas entre dominantes e pretendentes relativas aos critérios de classificação e hierarquização dos bens simbólicos produzidos e, indiretamente, das pessoas e instituições que os produzem” (p.37). Ainda segundo essa autora, Os indivíduos e as instituições que representam as formas dominantes da cultura buscam manter sua posição privilegiada, apresentando seus bens culturais como naturalmente ou objetivamente superiores aos demais. Essa estratégia está na base do que Bourdieu chama de violência simbólica: a imposição da cultura (arbitrário cultural) de um grupo como a verdadeira ou a única forma cultural existente (NOGUEIRA e NOGUEIRA, 2006, p.38). O conceito de capital simbólico de Bourdieu, conforme discutido por Nogueira (2006), nos ajuda a entender o valor dado à premiação de livros pela FNLIJ. Afinal, nessa premiação não há uma recompensa econômica para os votantes nem para os participantes, a exceção dos editores que comercializam os livros. Há, sim, o reconhecimento da sociedade diante dos livros premiados, de seus escritores, ilustradores e dos pesquisadores participantes. O prêmio, com seu valor simbólico, pode ser considerado um dos responsáveis pela visibilidade obtida pelas pessoas e instituições que legitimam essa instância. Afinal, os livros infantis, como artefatos culturais autorizados a dizer da leitura e escrita, estabelecem uma relação de poder com o leitor, pois o poder está, indiscutivelmente, ligado ao saber. É preciso estar atento aos discursos que se constroem, pois os discursos produzem a “realidade” e são 91 produzidos por ela; são construtores das identidades dos sujeitos, entendendo-se aí que não possuímos uma identidade única, absoluta, mas somos constituídos por diferentes identidades. Tendo em vista a visibilidade dessa premiação, nossa pesquisa se verticaliza na análise dos dados coletados na Rede Municipal de Belo Horizonte. Um dos objetivos principais da pesquisa é analisar a presença dos 49 livros premiados na categoria criança pela FNLIJ nas bibliotecas escolares da RMBH. 92 CAPÍTULO 3 - A PRESENÇA DOS LIVROS PREMIADOS PARA CRIANÇAS NAS BIBLIOTECAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE A análise dos dados levantados neste capítulo é resultante da aplicação do formulário (anexo 2) nas bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte (RMBH). O capítulo foi dividido em três partes. Na primeira parte, apresentaremos a visibilidade do trabalho da FNLIJ através da prática dos profissionais que atuam nas bibliotecas escolares. Na segunda, o perfil dos livros analisados e na última parte, a visibilidade do trabalho na leitura das crianças. Os dados apresentados no decorrer deste capítulo foram obtidos a partir de depoimentos surgidos durante as entrevistas e pelo registro das escolhas dos livros33 feitas pelas crianças. Além disso, fizemos uma tabulação de todos os dados da pesquisa, alguns fáceis de ser computados, pois advêm de questões fechadas do formulário. Já para as questões abertas, foi feita uma tentativa de agrupar as informações possíveis. O trabalho de campo consistiu em entrevistar pessoas que atuam como responsáveis pelas bibliotecas escolares. Antes de realizá-lo, sentimos necessidade de repensar sobre a obra Miséria do Mundo, de Bordieu. Afinal, seu trabalho apresenta aos pesquisadores uma metodologia de grande contribuição através de técnicas de pesquisa e estratégias mais eficazes para evitar as possíveis distorções durante uma entrevista, procurando alcançar assim uma situação ideal de comunicação. Tentar saber o que se faz quando se inicia uma relação de entrevista é em primeiro lugar tentar conhecer os efeitos que se podem produzir sem o saber por esta espécie de intrusão sempre um pouco arbitrária que está no princípio da troca (...) (BOURDIEU, 1997, p. 695) Segundo o autor, para que seja possível uma relação de pesquisa o mais próxima possível do limite ideal, muitas condições deveriam ser preenchidas, entre elas: medir a distância entre a finalidade da pesquisa tal como é percebida e interpretada pelo pesquisado e a finalidade que o pesquisador tem em mente, ou pelo menos compreender o que pode ser dito e o que não pode, as censuras que o impedem de dizer certas coisas e as incitações que o encorajam a dizer outras; 33 A relação dos 49 livros premiados da FNLIJ se encontra no anexo1. 93 escolher pessoas para pesquisar entre pessoas conhecidas ou pessoas que podem ser apresentadas por outras pessoas conhecidas; apresentar sinais de feedback, ou seja, os “sim”, “ah bom”, “certo”, “oh!” e também os acenos de cabeça aprovadores, os olhares, os sorrisos e todos os sinais corporais ou verbais de atenção, de interesse, de aprovação, de incentivo, de agradecimento; saber se manifestar pelo tom e especialmente pelo conteúdo de suas perguntas e se colocar em pensamento no lugar que o pesquisado ocupa no espaço social; apresentar a entrevista e conduzi-la de modo atraente a fim de que as perguntas e a própria situação tenham um sentido para o pesquisado; ter uma disposição acolhedora que inclina a fazer seus os problemas do entrevistado, a aptidão a aceitá-lo e a compreendê-lo tal como ele é, na sua necessidade singular; participar da pesquisa apoiando-se num conhecimento prévio das realidades envolvidas na pesquisa, levando o seu interlocutor dela participar; ter disposição para perseguir a verdade, o que leva a improvisar na hora, na urgência da situação de entrevista, as estratégias de apresentação de si e as respostas adaptadas, as aprovações e as perguntas oportunas, etc., de maneira a ajudar o pesquisado a dar sua verdade, ou melhor, a se livrar da sua verdade e na transcrição das pesquisas gravadas, buscar a fidelidade a tudo que manifesta durante a entrevista, e que não se reduz ao que é realmente registrado na fita magnética (Bourdieu, 1997). Segundo Bourdieu (1983), toda situação lingüística funciona como um mercado onde se trocam coisas. Estas coisas são, evidentemente, palavras, mas estas palavras não são feitas apenas para serem compreendidas; a relação de comunicação não é uma simples relação de comunicação, é também uma relação econômica onde o valor de quem fala está em jogo . Desde o início da pesquisa de campo, já foi possível identificar a relação de poder que acontece através da palavra. Todas as visitas foram marcadas previamente por telefone, percebemos que ao dizer que somos pesquisadores da Faculdade de Educação da UFMG e estávamos interessadas em marcar uma conversa com o responsável pela biblioteca, já estávamos exercendo o poder da palavra. Na maioria dos casos, o contato telefônico foi tranqüilo, com algumas exceções. A partir desse primeiro contato, marcávamos o dia e o horário da visita. Sendo assim, 94 a segunda parte da pesquisa de campo seria chegar às escolas. Existem escolas em lugares impensáveis por nós, que passamos a vida toda na cidade de Belo Horizonte. A ida ao bairro Capitão Eduardo me surpreendeu. Andei por muitas horas na BR, depois por uma longa estrada de terra para, finalmente, chegar à escola. Dessa forma, cada visita foi uma aventura com a qual aprendi muito. Fazendo um balanço de todas as entrevistas realizadas, podemos afirmar que fomos bem atendidas na maioria das escolas. Várias impressões ficaram. Algumas idéias que tinha sobre as escolas públicas foram alteradas, me encantei com o espaço de algumas bibliotecas. O fato de praticamente todas as escolas possuírem esse espaço com um acervo considerável me trouxe bastante alegria. Por outro lado, a idéia que tinha do perfil dos profissionais das bibliotecas permaneceu34. A diversidade da formação dos profissionais que estão atuando como auxiliar de biblioteca é um dado que chamou muito a atenção. Como bem explicou uma entrevistada, “é que o trabalho de auxiliar de biblioteca é considerado por um número expressivo de atuantes como um serviço passageiro”. Além disso, a impressão que tive da maioria dos profissionais é de que realizam um trabalho técnico, de organização e empréstimos de livros. Apesar de esse ser um trabalho importante, senti falta de um projeto direcionado para os alunos. Percebi que alguns entrevistados gostariam de fazer um trabalho diferenciado, mas a quantidade de serviços “técnicos” não permitia. Entretanto, não posso deixar de mencionar que foram identificados alguns trabalhos fantásticos realizados por alguns profissionais, que apesar de desempenharem uma função técnica exaustiva, conseguem fazer excelentes projetos com as crianças. Os dados em relação aos livros da pesquisa também foram bastante curiosos e serão discutidos em momento oportuno. Durante todo o trabalho de campo, alguns fatos me chamaram bastante a atenção: alguns foram positivos, outros negativos. Por exemplo, encontrei uma auxiliar que criou uma pasta catálogo para ajudar as crianças na escolha dos livros, ela recortou, de catálogos de editoras, as fotos com a resenha dos livros e montou o seu 34 Já havia realizado, em outro momento, uma amostra do perfil dos profissionais que atuam nas bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte, o que permitiu levantar algumas hipóteses anteriormente à pesquisa de campo. 95 próprio catálogo. Em outra escola, havia um mural com indicações de livros feitas pelos próprios alunos; encontrei também um espaço reservado na biblioteca para as obras da escritora Adriana Falcão, que estava sendo pesquisada pelos alunos. Nesse espaço, além dos livros, havia os textos e ilustrações dos alunos sobre as obras da autora. Em algumas bibliotecas, havia cantinhos de leitura aconchegantes e bastante utilizados. Não posso deixar de lado as contações de histórias que paralisavam as crianças. FIGURA.1 – Espaço amplo e arejado. FIGURA 2 – Projeto: Paixões literárias. FIGURA 3 – Espaço amplo e arejado. FIGURA 4 – Projeto com escritores: Adriana Falcão Por outro lado, tive dificuldade de marcar a entrevista em uma biblioteca porque ela havia sido transformada em uma exposição durante dois meses. Todos os livros foram tampados por paredes falsas, não havia nenhum rastro de biblioteca. Encontrei 96 também bibliotecas que proibiam seus alunos de pegar livros, pois havia um dia específico para empréstimo. Vi também bibliotecas improvisadas em um ambiente muito pequeno, o que dificulta a circulação de crianças. Além disso, algumas têm o seu espaço utilizado como depósito de caixas e materiais diversos. Aconteceu também de uma biblioteca ser utilizada para venda de cosméticos por professoras. Por fim, percebi a insatisfação de alguns profissionais em trabalhar nesse espaço de leitura que é a biblioteca. FIGURA 5 – Caixas do projeto de ciências. FIGURA 6 – Armazenamento de caixas. FIGURA 7 – Livros didáticos FIGURA 8 – Livros didáticos Não podemos deixar de relatar que 54% das escolas não abrem suas bibliotecas no horário de intervalo, dificultando a busca autônoma de livros pelas crianças. Além disso, algumas escolas fecham suas portas no horário de recreio e 97 outras estão com suas bibliotecas fechadas durante todo um turno, por falta de profissional para atuar. Podemos afirmar, através dos dados obtidos, que apenas metade das bibliotecas escolares municipais, ou seja, 50%, estão funcionando em horário integral. O formulário aplicado (anexo 2) aos profissionais que atuam nas bibliotecas escolares tem, na presente pesquisa, a finalidade de responder às seguintes questões: Os profissionais que atuam nas bibliotecas conhecem a FNLIJ? Caso a resposta seja afirmativa, como tomaram conhecimento? A lista de livros premiados influencia na hora da compra do acervo da biblioteca? Quais são os livros indicados pela FNLIJ mais procurados pelas crianças? A leitura é obrigatória ou espontânea? Existe algum trabalho realizado com os livros da FNLIJ? Quais são os livros? Existem livros da FNLIJ que são esquecidos pelas crianças? Para tentar responder a essas questões, apresentaremos a visibilidade do trabalho da FNLIJ a partir da prática dos profissionais responsáveis pela biblioteca escolar. 3.1 – A visibilidade do trabalho da FNLIJ na prática dos profissionais A Rede Municipal de Belo Horizonte possui 181 escolas35 divididas em nove regionais: Barreiro, Centro Sul, Leste, Nordeste, Noroeste, Norte, Oeste, Pampulha e Venda Nova. De todas as escolas visitadas, apenas em algumas delas não conseguimos aplicar o formulário por motivos diversos. Na época da aplicação, encontramos escolas sem bibliotecas (regionais Nordeste e Noroeste), uma escola fechada que o prédio passou a ser usado pelo Estado (Nordeste) e, por fim, uma escola que estava com a biblioteca fechada e não havia ninguém para nos atender (Nordeste). Dessa maneira, podemos considerar que a pesquisa conseguiu atingir a quase totalidade das escolas da RMBH. Para responder à nossa questão central sobre a presença dos livros premiados para criança, apresentamos a quantidade de exemplares dos títulos premiados pela FNLIJ por nas bibliotecas escolares (anexo 7). Alguns fatos chamaram bastante a 35 A tabela com a relação de todas as escolas por regionais se encontram no anexo 6. 98 atenção, como a grande quantidade de exemplares de alguns títulos (A bolsa amarela, com 658; Sua alteza a Divinha, com 646; Minhas memórias de Lobato, com 473 e Dez Sacizinhos, com 441), contrapondo com livros com uma quantidade ínfima de exemplares (Felpo Filva, com 4 e O menino e o cachorro e Uma ilha lá longe, com apenas 7 livros). Isso não significa que os livros com maior quantidade de exemplares são os que contemplam um maior número de escolas. O livro A bolsa amarela se encontra em um maior número de escolas, ou seja, das 181 escolas pesquisadas, encontramos o título em 149 escolas. Em segundo lugar, temos o livro Asa de papel em 145 escolas e logo em seguida, temos Dez sacizinhos presente em 138 escolas. Os outros títulos variam de 4 a 127 livros premiados para criança por escola (anexo 8). Outra análise importante foi observar as escolas que têm o maior e o menor número de títulos premiados para a criança (anexo 9). Na RMBH, as bibliotecas escolares com 30, 29 e 28 títulos respectivamente, foram as escolas que tiveram um maior número de livros pesquisados. Ao contrário, nas três escolas que possuem o menor número de títulos premiados havia apenas um, dois e três títulos respectivamente. É interessante analisar o título Dez sacizinhos, pois apesar de ter sido um dos mais freqüentes nas bibliotecas escolares, não possui grande quantidade de exemplares, pois existe um número pequeno de títulos em cada escola visitada. Através da aplicação dos formulários, podemos observar que muitos dos títulos encontrados em grandes quantidades foram sobras de alguns programas governamentais de incentivo à leitura, como Literatura em Minha Casa36 ou do Kit escolar distribuído pela prefeitura de Belo Horizonte. A revista Presença Pedagógica entrevistou, em novembro de 2005, Elizabeth D’Angelo Serra, secretária geral da FNLIJ. Ela afirmou que o objetivo principal da Fundação é semelhante ao dos programas de incentivo à leitura: “oferecer condições à 36 O programa do Governo Federal Literatura em Minha Casa distribuía, desde abril de 2002, uma coleção de livros para estudantes da 4ª série do ensino fundamental, com a finalidade de desenvolver o gosto pela leitura. A coleção, que se torna propriedade do aluno, é composta de cinco volumes, sendo uma obra de poesia ou antologia poética, um conto ou antologia de contos, uma novela e uma peça teatral, todos brasileiros, e um clássico da literatura universal traduzido ou adaptado. A partir de 2005, a Secretaria de Educação Básica SEB/MEC retomou o foco de ação no atendimento aos alunos nas escolas, por meio da ampliação de acervos das bibliotecas escolares - Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE. 99 criança brasileira de ler livros de qualidade, para que ela se torne cidadã crítica e criadora”. Entretanto, questionamos o fato de mais de 50% dos profissionais que atuam nas bibliotecas não conhecerem o trabalho realizado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. GRÁFICO 1 Outro aspecto observado nas entrevistas é que dos 41% dos entrevistados que disseram conhecer a FNLIJ, apenas 3% deles utilizam o trabalho realizado pela fundação na hora de compor o acervo da biblioteca. Percebemos que os profissionais que dizem conhecer a fundação, em sua maioria, reconhecem o seu selo (premiado para criança, altamente recomendável etc.), mas não sabem do seu trabalho, não conhecem a lista de livros recomendados por categorias. Um dos critérios apontados nas entrevistas como definidor na hora da escolha dos livros foi o preço, sendo que, na maioria das vezes, a quantidade de aquisições prevalece à qualidade dos livros. Além disso, muitos entrevistados disseram escolher os livros através dos catálogos das editoras que visitam regularmente as bibliotecas escolares oferecendo os seus livros. 100 Diante dos dados levantados, podemos confirmar a informação de que a lista dos livros premiados pela FNLIJ não influencia o acervo escolar. Como bem exemplifica o gráfico abaixo, 86% dos entrevistados disseram não utilizar essa seleção. GRÁFICO 2 Quando perguntamos aos entrevistados sobre como eles tomaram conhecimento da FNLIJ, houve as mais diversas respostas. Entretanto, a maior parte dos entrevistados (59%) não souberam informar. Como dito anteriormente, 15% dos entrevistados disseram conhecer a FNLIJ através dos seus selos, 4% através de artigos de imprensa e nos encontros da PBH. Os outros fatores variam de 3%, 2% e na sua grande maioria respostas individuais. Percebemos que o conhecimento sobre a FNLIJ pelos profissionais que estão nas bibliotecas parte do interesse individual de cada um. Entretanto, durante as entrevistas, houve um consenso geral dos entrevistados ao dizer sobre a grande rotatividade do cargo auxiliar de biblioteca. Encontramos uma grande diversidade na formação dos profissionais que estão 101 atuando nas bibliotecas escolares37, os quais permanecem na escola até conseguirem outro emprego melhor. O gráfico abaixo apresenta os modos pelos quais os entrevistados tomaram conhecimento sobre a FNLIJ. GRÁFICO 3 37 A diversidade de formação dos profissionais que estão atuando como auxiliar de biblioteca pode ser justificada pelo motivo de não ser cobrado nos concursos públicos a formação adequada para este cargo. De acordo com o edital 01/2003, das especificações dos cargos e outros dados, a habilidade exigida para o auxiliar de biblioteca escolar é ensino médio. O cargo tem uma jornada de trabalho de 6 horas diárias, a remuneração era de R$ 484,61. 102 Acreditamos que para um profissional conseguir atingir todas as atribuições necessárias, não basta apenas o gosto pela leitura, é necessário uma formação que possa dar um suporte teórico para se fazer um bom trabalho. Além disso, para que a biblioteca escolar seja de fato parte central da escola e não apenas um apêndice, é necessário que o profissional que nela atua participe ativamente das reuniões pedagógicas, conheça o projeto político pedagógico e seja o fio condutor de todos os movimentos que possam fazer da biblioteca um espaço plural, aberto, onde alunos e professores possam juntos sentir o gosto da descoberta, das múltiplas leituras, da diversidade de informações e opiniões. 3.2 – O perfil dos livros premiados Os livros premiados na categoria criança da FNLIJ somam um total de 49 títulos (anexo 1), no período de 1974 até 2006, incluindo o Prêmio “Hors Concours”, que é outorgado ao escritor, ao tradutor ou ilustrador que já foi premiado três vezes numa determinada categoria do Prêmio FNLIJ. Pretendemos, mesmo que de forma simplificada, apresentar alguns dos aspectos do projeto editorial, que define a forma e o conteúdo das publicações, assim como as características visuais do livro. O leitor, ao percorrer as páginas de um livro, se depara com a força visual de cada elemento apresentado, o que pode facilitar ou dificultar a leitura. O formato da publicação, o número de páginas, o tipo de papel, o tamanho das letras, o equilíbrio entre informação verbal e visual fazem parte do conjunto de elementos que compõem o livro e podem assegurar, ou não, as condições de legibilidade para um leitor ainda em formação (anexo 10). Ao analisarmos os livros premiados na categoria criança pela FNLIJ, podemos confirmar a importância dada à imagem nos livros infantis. Afinal, todos os 49 livros são ilustrados. Além disso, observamos outros aspectos pelos quais essa produção voltada para o público infantil, ao longo dos anos, altera seu padrão editorial de gêneros literários mais tradicionais, seja através do projeto gráfico ou da condução da narrativa. 103 O livro infantil contemporâneo estabelece um modelo peculiar unindo duas grandes áreas da produção artística, a ilustração e o texto. A criatividade neste caso não é apenas do autor ou ilustrador, mas do próprio leitor. As instâncias produtoras do livro infantil ousam quando trabalham no intuito de incentivar a criatividade do leitor através da ampliação da percepção das narrativas. Os modos diferenciados de condução de narrativas infantis, no suporte impresso, proporcionam à criança uma reflexão sobre os modos de apreensão de linguagens. O texto e a imagem fornecem informações diferentes da mesma narrativa e esta interação gera múltiplas camadas de leitura. O atrativo instantâneo que ilustrações de livros de literatura infantil exercem em crianças de qualquer época e, de modo especial, naquelas que hoje crescem em mundo acentualmente visual é fato inegável e de constatação óbvia. Crianças são ávidas leitoras de imagens, que nelas exercem poder encantatório, tão logo os pequenos abram o livro e comecem a folheá-lo. (CADEMARTORI, 2008, p. 79-80) A ilustração e a associação da cor ocupam um papel importante no ensino- aprendizagem da leitura. A cor é de grande importância nos livros para crianças, o colorido dos livros dá à criança o prazer do jogo visual, desperta a curiosidade. Segundo Coelho (1997), na literatura infantil as cores devem ser bem vivas e contrastantes, pois dessa forma, reforçam a alegria ou o bom humor sugerido pelo desenho. Infelizmente, as cores podem tornar as obras mais atraentes, mas também as tornam mais caras e menos acessíveis para as camadas carentes da população. Como afirma uma auxiliar de biblioteca: “às vezes, damos preferência, na hora da compra, pela quantidade maior de exemplares”. Sabemos que o importante na relação ilustração e texto é manter o sentido estético, seja da ilustração em cores ou em preto e branco. Entretanto, na maioria das vezes a criança não busca de imediato a ilustração em preto e branco, sendo de suma importância o papel do mediador. Os livros analisados reforçam a presença das cores no livro infantil, pois 65% deles possuem cores, 8% têm apenas duas cores e apenas 27% possuem ilustrações em preto e branco, como se observa no gráfico abaixo: 104 GRÁFICO 4 Podemos fazer uma relação entre cores e a preferência das crianças pelos livros. Levando-se em consideração que 11% dos entrevistados não souberam informar quais livros da FNLIJ as crianças mais procuram na biblioteca e que 1% apenas não considerou nenhum dos livros premiados, podemos afirmar que três dos quatro livros premiados mais indicados pelas crianças utilizam-se do recurso cores. São eles: Dez sacizinhos, de Tatiana Belinky (17%) e O pega-pega, Mary e Eliardo França (12%) (anexo 11). Em, contrapartida, os livros esquecidos pelas crianças segundo os entrevistados são: Pedro (7%), A bolsa amarela (4%), Sua alteza a Divinha (3%) e A mãe da mãe da minha mãe (3%). Esses livros são de Bartolomeu Campos de Queirós, Lygia Bojunga, Angela Lago e Terezinha Alvarenga, respectivamente. Os dois primeiros possuem ilustrações em preto e branco. O livro A mãe da mãe da minha mãe possui cores em tons pastel. O livro A Bolsa Amarela tem poucas ilustrações e foi considerado pelos entrevistados muito extenso (115 páginas, espaçamento simples e fonte pequena) para os leitores criança. Acreditamos que o fato do livro A bolsa 105 amarela também ter sido indicado como procurado pelas crianças está ligado a sua grande quantidade de exemplares e a presença na maioria das escolas da RMBH. Não podemos deixar de pontuar que a grande maioria dos entrevistados (83%) não soube informar sobre essa questão (anexo 12). Analisando a quantidade de textos nos livros premiados, fizemos a seguinte divisão em relação ao total de livros: extenso (18%), médio (45%) e pouco texto (37%). Os livros considerados extensos para as crianças são: A bolsa amarela; Angélica; Felpo Filva; Ludi na revolta da vacina: uma odisséia no rio antigo; Meninos do mangue; Minhas memórias de Lobato; O menino marrom; Os bichos que tive e Raul da ferrugem azul. Os livros com uma quantidade intermediária de textos, com disparidade de número de páginas entre eles, são: A cristaleira; A mãe da mãe da minha mãe; As viagens de Raoni; Até passarinho passa; Cacoete; Chamuscou, não queimou; Chica e João; De carta em carta; É isso ali; Menina Nina; Menino do rio doce; Murcututu: a coruja grande da noite; O dono da verdade; O menino de olho d’água; O que os olhos não vêem; O segredo da chuva; Pedro; Procura-se lobo; Sete histórias para sacudir o esqueleto; Uma ilha lá longe; Uni duni e tê e Uxa, ora fada, ora bruxa. O que define esse grupo é a característica que os livros possuem de não serem tão extensos e nem apresentarem tão pouco texto. Por fim, os livros com pouco texto são: ABC doido; Abrindo caminho; A princesinha medrosa; Asa de papel; De morte!; Dez sacizinhos; Eu e minha luneta; Fiz voar o meu chapéu; Indo não sei aonde buscar não sei o quê; João por um fio; Mania de explicação; O curumim que virou gigante; O menino e o cachorro; O pega-pega; O problema de Clóvis; O rei de quase tudo; Pedro e a Lua e Sua alteza a Divinha. Percebemos que alguns livros premiados podem ser direcionados para crianças que estão se alfabetizando, pois têm pouco texto, fonte grande e letra de fôrma. Dessa forma, esses livros possibilitam uma leitura autônoma para os leitores iniciantes. O livro O pega-pega, da Coleção Gato e Rato de Mary França e Eliardo França, por exemplo, apresenta muitas ilustrações, sua imagem captura a atenção do leitor e, por estar acoplada à escrita, suscita o interesse por seu entendimento. A criança, diante do objeto imprevisto, se expressa pela imagem, que reforça as possibilidades de decodificação da escrita. Apenas quatro dos livros premiados possuem letra em caixa 106 alta, ou seja, apenas 8%: ABC doido; Indo Não sei aonde buscar não sei o quê; O Menino e o cachorro com fonte grande (maior que 16) e João por um fio, com fonte pequena (menor que 14). A maioria dos livros, ou seja 92%, são apresentados às crianças com a letra de fôrma minúscula. Entre eles alguns possuem fonte grande, o que facilita para o leitor iniciante: Asa de papel; De morte!; Dez sacizinhos; Eu e minha luneta; Fiz voar o meu chapéu; Mania de explicação; O menino de olho d’água; O pega-pega; Sua alteza a Divinha e Uxa, ora fada, ora bruxa. Em relação ao autor e ao ilustrador, observamos que dos 49 livros premiados, 21 deles, ou seja, 43% dos livros, foram ilustrados pelo próprio autor. São eles: ABC doido (Angela Lago); De morte! (Angela Lago); Indo não sei aonde buscar não sei o quê (Angela Lago); Sete histórias para sacudir o esqueleto (Angela Lago); Sua alteza a Divinha (Angela Lago); Uni duni e tê (Angela Lago); A princesinha medrosa (Odilon Moraes); Pedro e a Lua (Odilon Moraes); Asa de papel (Marcelo Xavier); Cacoete (Eva Furnari); Felpo Filva (Eva Furnari); O problema de Clóvis (Eva Furnari); Chica e João (Nelson Cruz); É isso ali (José Paulo Paes); Eu e minha luneta (Cláudio Martins); João por um fio (Roger Mello); Meninos do mangue (Roger Mello); Menina Nina (Ziraldo); O menino marrom (Ziraldo); O pega-pega (Mary e Eliardo França) e O rei de quase tudo (Eliardo França). Como confirma o gráfico abaixo, 57% dos livros premiados são obras que possuem autores e ilustradores distintos (anexo 10). 107 GRÁFICO 5 Outro dado analisado que nos chamou bastante a atenção é que os livros pesquisados são de autores com trajetória consolidada em graus diferenciados: Ana Maria Machado, Angela Lago, Bartolomeu Campos de Queirós, Eva Furnari, Lygia Bojunga, Mary e Eliardo França, Ruth Rocha, Sylvia Orthof, Ziraldo, Adriana Falcão, Cláudio Martins, Daniel Munduruku, Graziela Bozano, José Paulo Paes, Joel Rufino dos Santos, Marcos Bagno, Luciana Sandroni, Odilon Moraes, Marcelo Xavier, Nelson Cruz, Roger Mello, Tatiana Belinky, Terezinha Alvarenga, Bia Hetzel, Cora Rónai e Demóstenes Vargas. Percebemos através dos dados obtidos que a maioria dos livros premiados pela FNLIJ para crianças tem autores consagrados ou até mesmo alguns em ascensão. O fato de o cânone38, desde suas origens, ser formado com base na escolha realizada por um sujeito crítico e constituir-se como a base de determinado conhecimento, seja literário, teológico ou gramatical, não o torna menos subjetivo que qualquer julgamento 38 A idéia de cânone agrega em si um sistema de valores. Em sua etimologia, o termo cânone, que vem do grego Kanón, compreendia uma regra, um modelo ou norma representada por uma obra ou um poeta. 108 de valor. Desse modo, é possível entender que o cânone corresponde a uma das extensões do discurso dominante, a saber, as relações de poder fundamentadas em práticas burguesas. O cânone literário é uma seleção fundamentada em fatores extraliterários, ou seja, que não se restringem às questões estéticas do texto literário, mas relacionam-se também a fatores sociais e morais do universo do escritor. Outro dado observado é a repetição de certos autores, como se pode observar no gráfico abaixo: GRÁFICO 6 *Desconsideramos o livro da Coleção Assim é se lhe parece; Chamuscou, não queimou. O livro é organizado por Ângela Carneiro, Lia Neiva e Sylvia Orthof. 109 Através dos dados levantados podemos constatar a importância do trabalho dos profissionais da biblioteca em mediar as leituras das crianças. Muitas vezes, livros interessantes como: A bolsa amarela; Angélica; As viagens de Raoni; De morte!; É isso ali; Ludi na revolta da vacina: uma odisséia no Rio Antigo; Os bichos que tive; Pedro; Pedro e Lua; Raul da ferrugem azul e Sua alteza a Divinha não são procurados pelas crianças por não serem considerados atrativos num primeiro momento, por apresentarem um projeto gráfico preto e branco ou cores pouco chamativas. . Assim, podemos afirmar que, além da beleza das imagens, da irresistível atração provocada pela variedade de cores e pelas aventuras das formas, a ilustração permite à criança pequena acesso facilitado à história. Ao mesmo tempo, incita-lhe a pensar analiticamente sobre o tema do livro, exercendo um papel determinante na percepção e na produção de efeitos de sentidos implícitos, explícitos ou possíveis da literatura endereçada à criança. As imagens constituem instrumento fundamental de apoio para a ativa intervenção do leitor na construção de sentidos e na formulação de hipóteses para a interpretação do narrado (Cademartori, 2008). O auxiliar de biblioteca desempenha um papel de relevância como mediador no planejamento e execução de eventos de letramento em projetos interdisciplinares de formação de leitores que venham a ser implementados pela escola como um todo. Dessa forma, pretendemos mostrar estratégias e práticas de formação de leitores que esses sujeitos conseguem construir no seu cotidiano, na interação com professores, alunos, demais profissionais da escola e com a comunidade. Percebemos, através dos formulários, que os auxiliares de biblioteca ocupam a maior parte do tempo com o serviço burocrático de organização: cadastrar usuários, operar empréstimos, devolução, renovação e reserva, organizar livros nas estantes, catalogar o acervo: livros, fitas e mapas, recuperar e executar pequenos reparos, operar equipamentos audiovisuais, acusar recebimento de doações e permutas, promover atividades de dinamização e visitas programadas, coletar dados estatísticos das tarefas realizadas, escolher e comprar livros. Entretanto, conseguimos perceber, em algumas bibliotecas, trabalhos realizados com alguns dos livros premiados para criança pela FNLIJ, com o intuito de formar 110 leitores através da mediação. A maioria dos trabalhos citados foram realizados pelas professoras da escola, com o apoio do auxiliar. Citaremos o nome de algumas regionais que já trabalharam com os livros considerados esquecidos pelas crianças pela pesquisa. O livro A bolsa amarela já foi trabalhado nas seguintes regionais: Centro Sul, Nordeste, Norte, Pampulha e Venda Nova. O livro Pedro foi trabalhado apenas em uma escola da regional Centro Sul, que fez um trabalho com as obras do autor Bartolomeu Campos de Queirós. Sua alteza a Divinha foi citado em três escolas da regional Nordeste e por fim, o livro A mãe da mãe da minha mãe foi citado nas regionais Noroeste, Oeste e Venda Nova. De fato, quando consideramos a formação do leitor literário, pensamos sempre no papel do docente, um dos mais importantes mediadores de leitura, cuja função é orientar o aluno, dando-lhe a conhecer os textos e permitindo-lhe usufruir na plenitude todas as leituras consentidas pelo texto literário, potencializando o estabelecimento de ligações intertextuais. É este convívio textual que possibilita e prepara o aluno para se relacionar com o mundo, de forma consciente e crítica, uma vez que a leitura literária vai muní-lo de um conjunto de saberes literários, sociais e culturais, que lhe permitirão reagir individualmente face a um texto literário. A formação do leitor literário começa desde o nascimento da criança, continua imediatamente na educação pré-escolar e acompanha a criança, ao longo de toda a sua escolaridade. Esta formação exige um investimento constante, para conquistar novos leitores, manter os já conquistados e não perder leitores. Desse modo, a família, a escola e a sociedade têm de entender que a formação do leitor literário não termina nos primeiros anos de escolaridade, pelo contrário, a formação do leitor literário é um desígnio diário e permanente. Todas as crianças e todos os jovens são leitores em formação, por isso, a responsabilidade da família, da escola e da sociedade em geral em formar leitores ao longo de toda a escolaridade dos indivíduos. Na verdade, é no contexto familiar que se deveria começar a relação entre a leitura e as crianças, mas considerando as especificidades de cada família, nem sempre essa relação é possível. Por isso, cabe à escola o papel de divulgar o livro de literatura infantil e de promover a leitura do texto literário, possibilitando aos alunos estabelecer com a leitura e com o texto literário uma relação afetiva, uma relação de 111 prazer, condição imprescindível para a formação do leitor literário. Todos os outros contextos sociais se podem configurar, igualmente, como contextos educativos, potenciais da formação de comunidades de prática de leitura, onde os livros marcam presença e fazem a diferença. O texto literário possibilita à criança a aprendizagem de modelos narrativos e poéticos literários, bem como o progressivo domínio de códigos culturais e capitais para um entendimento do mundo, onde identidade e alteridade dialogam. A formação do leitor literário é promovida com o olhar atento da família e com as práticas dos professores, bibliotecários, auxiliares, livreiros e outros atores sociais, mediadores atentos, que informam, mostram, aconselham, observam, abrem, folheiam, lêem e partilham livros e leituras com as crianças. Deverão estar de acordo com o perfil, não só de divulgador do livro e da literatura infanto-juvenil, mas também com o perfil de mediador atento, que trabalha diariamente para a formação de leitores literários. Desse modo, devem conhecer os textos, devem ler e devem partilhar as leituras com as crianças. Assim, irão permitir a reflexão e a interrogação sobre os textos, promovendo as relações intertextuais e intersemióticas, contribuindo para a construção e para a consolidação de comunidades de leitores. 3.3 – A visibilidade do trabalho da FNLIJ na leitura das crianças Com o intuito de pesquisar se os livros que a FNLIJ premia realmente chegam aos seus leitores, criamos uma questão no formulário para que o profissional que trabalha na biblioteca indicasse quais livros premiados as crianças mais procuram. No quadro abaixo, apresentamos apenas os 5 mais procurados, que são: A bolsa amarela (15%); Asa de papel (17%) Dez sacizinhos (15%); O menino marrom e O pega-pega (5%). É necessário levar em consideração que 9% dos entrevistados não souberam responder a questão. A lista completa com todos os livros premiados encontra-se no anexo 11. Os livros premiados que não foram mencionados por nenhum dos entrevistados são: A princesinha medrosa; Cacoete; Chamuscou, não queimou; Chica e João; De 112 carta em carta; Felpo Filva; Indo não sei aonde buscar não sei o quê; João por um fio; Ludi na revolta da vacina; Meninos do mangue; O curumim que virou gigante; O menino e o cachorro; Pedro e a Lua; Procura-se lobo; Uma ilha lá longe. GRÁFICO 7 Os livros mais citados pelos profissionais que atuam nas bibliotecas como esquecidos pelas crianças foram: Pedro (7%), A bolsa amarela (4%), A mãe da mãe da minha mãe e Sua Alteza a Divinha (3%). No caso do livro da Lygia Bojunga, os entrevistados justificaram o fato de não ser procurado pelas crianças por serem leituras, na opinião desses profissionais, mais adequadas ao público juvenil. Já com relação aos outros três livros, consideram que a falta de cor do projeto gráfico não atrai as crianças. É importante ressaltar que 83% dos entrevistados não souberam responder a questão (anexo 12). 113 GRÁFICO 8 O projeto gráfico dos livros infantis é, num primeiro momento, o principal motivo das escolhas pelas crianças. Através de alguns depoimentos, percebemos que grande parte das crianças escolhe os livros primeiramente em função das capas. “Buscam livros coloridos e com pouco texto”, foi o depoimento de uma entrevistada. A partir da análise do gráfico abaixo, verifica-se que a maior parte das escolhas dos livros que ocorrem nas bibliotecas escolares são espontâneas (37%). Além disso, 12% disseram que a leitura é espontânea, mas tentam incentivar ou indicar determinados livros. 114 GRÁFICO 9 Assim, para verificar se os livros premiados estão chegando ao seu público alvo com incentivo da escola, buscamos saber, através do formulário, se existe algum trabalho realizado com os livros premiados pela FNLIJ. Afinal, depois de tanto trabalho da fundação para selecionar os melhores livros para crianças, é necessário saber se eles estão presentes nas bibliotecas escolares e se estão chegando aos seus leitores. Infelizmente, 61% dos entrevistados não realizam nenhum tipo de trabalho com os livros da FNLIJ. Consideramos todos os tipos de atividades, seja a contação de histórias, peça teatral, ilustrações etc. Dos 31% dos entrevistados que disseram trabalhar com os livros da FNLIJ, apenas 22% indicaram o nome do título e falaram sobre os trabalhos realizados (anexo 13). Os livros mais indicados foram: Asa de papel, em 20 escolas; O menino marrom, em 11 escolas e A bolsa amarela, em 8 escolas. 115 GRÁFICO 10 Esta pesquisa representa a situação dos profissionais e das bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte e da presença dos premiados para criança em seus acervos, bem como do trabalho de avaliação realizado pela FNLIJ. Percebemos que o ideal de uma escola com biblioteca abastecida de livros significativos, acolhendo os alunos não só para empréstimos, mas para atividades de discussão de leituras, ainda está longe de ser alcançado no país. Não se pode negar que houve e há esforços do Ministério da Educação e da prefeitura de Belo Horizonte no sentido de dotar as bibliotecas escolares e até os próprios alunos de acervos interessantes e bem escolhidos. Entretanto, no plano escolar e no da comunidade, a repercussão não tem sido a esperada. Ou as bibliotecas não funcionam, transformadas em meros depósitos de livros, ou as crianças são depreciadas como usuárias de direito dessas coleções a elas destinadas e que a elas, muitas vezes, não chegam. Para finalizar o capítulo, evidenciaremos o lugar da premiação na biblioteca escolar. Um dos aspectos que se destaca como importante na evolução do conceito de biblioteca é não mais considerá-la apenas um local para armazenar livros e sim, 116 concebê-la como um espaço que promove a disseminação da informação. Um espaço dinâmico que passa a integrar diversos suportes e materiais audiovisuais, cuja atuação deve estar integrada aos objetivos e propostas da instituição de ensino em que se insere, configurando-se, dessa maneira, como um laboratório de aprendizagem, como afirma Silva: A biblioteca escolar é uma instituição do sistema social que organiza materiais bibliográficos, audiovisuais e outros meios e os coloca à disposição de uma comunidade educacional. Constitui parte integrante do sistema educacional e participa de seus objetivos, metas e fins. A biblioteca escolar é um instrumento de desenvolvimento do currículo e permite o fomento da leitura e a formação de uma atitude científica, constitui um elemento que forma o indivíduo para a aprendizagem permanente, estimula a criatividade, a comunicação, facilita a recreação; apóia os docentes em sua capacitação e lhes oferece a informação necessária para a tomada de decisões na aula. Interage também com os pais de família e com outros agentes da comunidade (SILVA, 1997, p.147). É na escola e por meio desse espaço denominado biblioteca que os alunos terão a oportunidade de conviver com suportes de leitura, adquirindo o gosto pelos livros e pela leitura, podendo, dessa maneira, incorporar essa prática em seu cotidiano. A biblioteca deve favorecer a consecução dos objetivos educacionais: transversalidade, acesso à cultura e, especialmente, o fomento da leitura. Para tanto, precisa desempenhar funções educativas, culturais e técnicas. As funções educativas são: o fomento da leitura, o fomento da pesquisa, o desenvolvimento da criatividade, a educação para o lazer, o acesso à informação e a orientação para a vida. Seriam funções culturais: promover, no espaço da biblioteca, de forma interdisciplinar, diversas atividades culturais, como exposições, concursos literários, saraus literários, feiras de ciências, entre outras; proporcionar informação sobre as atividades culturais externas à escola. Seriam funções técnicas: gerenciar e organizar os recursos informacionais; explorar esses recursos e difundi-los para a comunidade escolar; facilitar o acesso a esses recursos (Silva, 1997). A biblioteca escolar precisa funcionar como uma das principais instâncias responsáveis por despertar e promover o gosto pela leitura e ser um apoio ao processo de ensino-aprendizagem. Para que isso aconteça, é indispensável que se estabeleça uma parceria entre bibliotecário e professor, pois ambos os profissionais são educadores e devem se preocupar em conferir às crianças uma escolarização de qualidade. 117 De acordo com a pesquisa anteriormente realizada (Costa, 2006), um dos graves problemas vivenciados nas bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte está relacionado à questão de recursos humanos. Afinal, não é suficiente existir uma biblioteca com espaço e acervo se não se conta com um profissional capacitado para dinamizá-la. Outro problema encontrado e identificado nas bibliotecas é a presença de professores de “laudo médico” (afastados da regência) que não se identificam com as atividades bibliotecárias e, por isso, não se dispõem a dinamizá-las, reforçando a idéia de que esse espaço é o local ideal para descansar. Acreditamos que, para que um profissional consiga desempenhar bem as atribuições que a ele competem, não basta o gosto pela leitura, é necessária uma formação que possa dar suporte teórico para sua prática. Além disso, para que a biblioteca escolar seja, de fato, parte central da escola, e não apenas um apêndice, é necessário que o profissional que nela atua participe ativamente das reuniões pedagógicas, conheça o projeto político pedagógico e seja o fio condutor de todos os movimentos que possam fazer da biblioteca um espaço plural, aberto, onde alunos e professores possam juntos sentir o gosto da descoberta, das múltiplas leituras, da diversidade de informações e opiniões. A pesquisa evidenciou, ainda, um problema relacionado ao fato de, infelizmente, nosso país ser constituído de raras e precárias bibliotecas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (Pesquisa de Informações Básicas Municipais, 1999), dos 5.506 municípios que havia no país em 1999, em quase um quarto (20%) não havia uma só biblioteca pública; em mais de dois terços de municípios (68,5%) havia apenas uma biblioteca pública; em um pequeno número de municípios havia mais de uma biblioteca (11%). Segundo Soares (2004), o mesmo ocorre com as bibliotecas escolares: são raras e precárias. Mesmo com insuficiência de dados estatísticos, é possível afirmar que a quantidade de bibliotecas é pequena em relação ao número de escolas e à população escolar. Além disso, as poucas bibliotecas que temos são constituídas, em sua maioria, por um pequeno acervo quase sempre desatualizado; funcionam mais como depósito de livros que como verdadeiras bibliotecas (Silva, 1997). 118 Diante desses problemas, percebemos que vem aumentando a preocupação em fomentar o gosto pela leitura nos jovens. Tal preocupação tem resultado na criação de programas de incentivo à leitura, como o Programa Nacional Biblioteca da Escola39, PNBE. Podemos citar, também, a criação da FNLIJ que, apesar de não se tratar de uma política pública, é uma instituição que se preocupa com a promoção da leitura de qualidade e possui uma importância entre pesquisadores, editores, escritores, ilustradores, professores, entre outros, através do prestígio simbólico adquirido pelas suas premiações. 39 O programa consiste na aquisição e na distribuição de obras de literatura brasileira e estrangeira, infanto-juvenis, de pesquisa, de referência, além de outros materiais de apoio a professores e alunos, como atlas, globos e mapas. 119 CAPÍTULO 4 - FNLIJ E PNBE: EM DEFESA DA QUALIDADE DA PRODUÇÃO LITERÁRIA PARA CRIANÇA Pretendemos com este capítulo fazer um pequeno exercício de leitura dos livros premiados pela FNLIJ à luz dos critérios de avaliação estabelecidos pelo edital40 do Programa Nacional de Biblioteca da Escola (PNBE/2008). Nessa edição, o programa distribuiu obras literárias para constituir acervos de bibliotecas de instituições de Educação Infantil e das escolas públicas das séries/anos iniciais do Ensino Fundamental da rede pública, cadastradas no Censo Escolar. O interesse de aproximar algumas obras literárias de uma instância de premiação (FNLIJ) com os critérios de um programa de avaliação governamental (PNBE) surgiu do nosso envolvimento em duas ações desenvolvidas pelo CEALE, órgão complementar da FaE/UFMG, seja como votante de um grupo institucional, o GPELL, ou como pareceristas do Programa Nacional de Biblioteca da Escola. É importante ressaltar que o trabalho realizado neste capítulo não tem como objetivo atingir a totalidade dos livros; entretanto, as leituras realizadas foram de extrema importância para unir duas instâncias distintas realizadas com livros literários. Como dito anteriormente, o Ministério da Educação, desde 1997, vem incentivando a prática da leitura e o acesso à cultura junto aos alunos, professores e comunidade em geral mediante a execução do Programa Nacional Biblioteca da Escola - PNBE. No curso de sua história, o PNBE vem se modificando e se adequando à realidade e às necessidades educacionais. Em 1998, 1999 e 2000, os acervos foram enviados para as bibliotecas escolares e em 2001, 2002 e 2003, o objetivo era que os alunos tivessem acesso direto a coleções para uso pessoal e também levassem obras representativas da literatura para seus familiares. Por isso, essas edições do programa ficaram conhecidas como Literatura em Minha Casa. No PNBE/2005, ao invés de escolher 24 coleções elaboradas e editadas especialmente para o PNBE, o FNDE/MEC decidiu selecionar 15 acervos de 20 livros diretamente dos catálogos das editoras. As escolas públicas brasileiras de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental escolheram os acervos que melhor atenderam ao projeto pedagógico da escola e as necessidades de 40 O Edital do PNBE/2008 se encontra no anexo 14. 120 sua biblioteca escolar. Abaixo, segue um quadro com os principais dados estatísticos do PNBE. TABELA 1 - Dados estatísticos do PNBE no período de 1998 a 2006 PROGRAMA / ANO DISTRIBUIÇÃO QUANTIDADE (ACERVOS, OBRAS E COLEÇÕES) VALORES PNBE/98 (Acervos) 1999 20.000 17.447760,00 PNBE/99 (Acervos) 2000 36.000 23.422.678,99 PNBE/2000 (Obras) 2001 577.400 15.179.101,00 PNBE/2001 (Coleções) 2002 12.184.787 50.302.864,88 PNBE/2002 (Coleções) 2003 4.216.576 19.523.388,68 PNBE/2003 (Coleções) 2003 8.169.082 36.208.019,30 PNBE/2003 (Acervos – Casa de Leitura) 2004 41.608 6.246.212,00 PNBE/2003 (Acervos – Biblioteca Escolar) 2004 22.219 44.619.529,00 PNBE/2003 (Obra para professores) 2004 1.448.475 13.769.873,00 PNBE/2005 (Acervos) 2005/2006 306.078 47.273.736,61 PNBE/2006 (Acervos) 2007 96.440 acervos/ 7.233.075 livros 46.300.000,00 TOTAL DO PERÍODO 319.993.163,46 Fonte: FNDE. Disponível em . Dez anos depois de sua criação, em 1997, o PNBE/2008, pela primeira vez, destina acervos para a Educação Infantil. Especialmente para este segmento, foram compostos três diferentes acervos com vinte livros cada. A relação das 6041 obras selecionadas pelo Ceale foi divulgada pela Secretaria da Educação Básica – SEB. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE investe R$ 11.140.563,20, atendendo 5.065.686 alunos matriculados em 85.179 instituições de Educação Infantil de todo o território nacional, da seguinte forma: escolas consideradas de pequeno porte, até 150 alunos, recebem apenas um acervo com 20 títulos; escolas que tenham entre 41 A relação dos 60 livros selecionados pelo PNBE/2008 para a educação infantil se encontra no site: ftp://ftp.fnde.gov.br/web/biblioteca_escola/titulos_acervo_pnbe_2008_educ_infantil.pdf 121 151 e 300 alunos recebem dois acervos e aquelas com mais de 301 matriculados, três acervos. Ao promover a seleção de obras de literatura para a educação infantil e para as séries/anos iniciais é preciso considerar que as crianças, desde os primeiros anos de vida, são sujeitos ativos, que interagem no mundo produzindo significados. São cidadãs, portadoras de direitos e deveres, que, em função das inter-relações entre aspectos biológicos e culturais, apresentam especificidades no seu desenvolvimento. Elas interagem no mundo por meio das múltiplas linguagens: musical, gestual, corporal, plástica, oral, escrita, entre outras, e têm o brincar como sua principal atividade. As crianças que chegam à escola são provenientes de contextos socioculturais diferentes, tanto as que ingressam na Educação Infantil quanto aquelas que ingressam no Ensino Fundamental e, por isso, possuem experiências diferenciadas de contatos com a leitura e a escrita. Os acervos distribuídos de obras de literatura, além da qualidade e valor artístico, contam com temáticas diversas, capazes de aproximar as crianças das diferentes realidades e de ampliar suas experiências de leitura. Os acervos foram compostos por obras de diferentes níveis de dificuldade, de forma que as crianças tenham acesso a textos para serem lidos com autonomia e a outros para serem lidos com a mediação do professor. Além de coordenar o processo de avaliação, o Ceale elaborou um catálogo – Literatura na infância: imagens e palavras – destinado aos professores da Educação Infantil com as resenhas dos livros distribuídos pelo PNBE/2008. De acordo com essa publicação, além da ilustração, que tem um papel fundamental, pois por si só traz muitas possíveis leituras, é preciso considerar os diferentes textos com seus gêneros e estilos, bem como as possibilidades de interação que o objeto livro, com seus formatos e texturas, oferece. Segundo o catálogo, a qualidade do texto, a adequação dos temas aos interesses do público-alvo, a representatividade das obras e os aspectos gráficos foram considerados critérios para a seleção de uma determinada obra. Selecionar os livros pelo critério de sua qualidade textual se revela nos aspectos éticos, estéticos e literários, na estruturação narrativa, poética ou imagética, numa escolha vocabular que não só respeite, mas também amplie o repertório linguístico de crianças na faixa etária correspondente à Educação Infantil; a qualidade temática, que se manifesta na diversidade e adequação dos temas, no atendimento aos interesses das crianças, aos diferentes contextos sociais e culturais em que vivem e ao nível dos conhecimentos prévios que possuem; a 122 qualidade gráfica, que se traduz na excelência de um projeto gráfico capaz de motivar e enriquecer a interação do leitor com o livro: qualidade estética das ilustrações, articulação entre texto e ilustrações, uso de recursos gráficos adequados a crianças na etapa inicial de inserção no mundo da escrita. (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2008) É com base nesses três critérios, ou seja, na qualidade do texto, na adequação temática e no projeto gráfico que empreendemos aqui a leitura de alguns livros premiados, com a intenção de reforçar o quanto o processo de premiação da FNLIJ leva em consideração a qualidade das suas obras. Para estabelecer quais as obras seriam analisadas, optamos por livros que já foram citados nos capítulos anteriores e que estão agrupados em dois conjuntos: “os procurados pelas crianças” e “os esquecidos pelas crianças”. Além disso, elementos que mostram as razões dessas escolhas aparecerão na medida em que apresentarmos cada uma das obras. Reproduzimos a seguir a lista das obras que receberam o prêmio “O melhor para a criança – Prêmio Ofélia Fontes”, pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. As obras que selecionamos para fazer um breve exercício de leitura se encontram em itálico. TABELA 2 - Obras infantis que receberam o prêmio Ofélia Fontes ANO DA PREMIAÇÃO OBRA AUTOR ILUSTRADOR 1974 O Rei de Quase Tudo Mary e Eliardo Eliardo França 1975 Angélica Lygia Bojunga Vilma Pasqualim 1976 A bolsa amarela Lygia Bojunga Marie Louise Nery 1977 Pedro Bartolomeu Campo de Queirós Sara Ávila de Oliveira 1978 O pega-pega Mary e Eliardo Mary e Eliardo França 1979 Raul da ferrugem azul Ana Maria Machado Patrícia Gwiner 1980 O curumim que virou gigante Joel Rufino dos Santos Lúcio Lacourt 1981 O que os olhos não veem Ruth Rocha Carlos Brito 1982 Uni e duni e tê Angela Lago Angela Lago 1983 Os bichos que tive Sylvia Orthof Gê Orthof 1984 É isso ali José Paulo Paes José Paulo Paes 1985 Uxa, ora fada, ora bruxa Sylvia Orthof Tato 1986 O Menino Marrom Ziraldo Ziraldo 1987 Uma ilha lá longe Cora Rónai Rui de Oliveira 1988 A mãe da mãe da minha mãe Terezinha Alvarenga Angela Lago 1989 As viagens de Raoni Demóstenes Vargas Demóstenes Vargas 1990 Sua alteza a Divinha Angela Lago micro computador 1991 O menino de olho d’água José Paulo Paes Rubens Matuck 1992 Eu e minha luneta Cláudio Martins Cláudio Martins 1992 De morte! Angela Lago Angela Lago 123 1992 O problema de Clóvis Eva Furnari Eva Furnari 1993 Asa de papel Marcelo Xavier Marcelo Xavier 1994 Chamuscou, não queimou Angela Carneiro, Lia Neiva e Sylvia Orthof Elisabeth Teixeira, Roger Mello e Mariana Massarani 1995 A cristaleira Graziela Bozano Roger Mello 1996 Menino do rio doce Ziraldo Demóstenes Vargas 1997 Minhas memórias de Lobato Luciana Sandroni Laerte 1998 Dez sacizinhos Tatiana Belinky Roberto Weigand 1999 Ludi na revolta da vacina Luciana Sandroni Humberto Guimarães 1999 Fiz voar o meu chapéu Ana Maria Machado Zeflávio Teixeira 1999 ABC doido Angela Lago Angela Lago 2000 Chica e João Nelson Cruz Nelson Cruz 2000 Indo não sei aonde buscar não sei o quê Angela Lago Angela Lago 2001 Mania de explicação Adriana Falcão Mariana Massarani 2001 Meninos do mangue Roger Mello Roger Mello 2002 A princesinha medrosa Odilon Moraes Odilon Moraes 2002 O dono da verdade Bia Hetzel Mariana Massarani 2002 Sete histórias para sacudir o esqueleto Angela Lago Angela Lago 2002 De carta em carta Ana Maria Machado Nelson Cruz 2002 Menina Nina Ziraldo Ziraldo 2003 O segredo da chuva Daniel Munduruku Marilda Castanha 2003 Até passarinho passa Bartolomeu Campos de Queirós Elisabeth Teixeira 2003 Abrindo caminho Ana Maria Machado Elisabeth Teixeira 2004 Pedro e a Lua Odilon Moraes Odilon Moraes 2005 Cacoete Eva Furnari Eva Furnari 2005 João por um fio Roger Mello Roger Mello 2005 Murucututu, a coruja grande da noite Marcos Bagno Nelson Cruz 2005 Procura-se Lobo Ana Maria Machado Laurant Cardon 2006 O menino e o cachorro Simone Bibian Mariana Massarani 2006 Felpo e Filva Eva Furnari Eva Furnari Consideramos significativo para o campo de estudos da literatura infantil investigar algumas obras que, de certa forma, expressam o horizonte estético reforçado ao longo dos últimos anos pelas comissões de especialistas em literatura que atribuem esse prêmio. Entretanto, sabemos que o processo de escolha de obras literárias requer sempre um juízo de valor; pela limitação de tempo e pelas opções metodológicas tivemos que selecionar certas leituras, preterindo outras de igual importância. Dessa forma, as obras apresentadas constituem apenas uma amostra e sabemos que estamos cometendo injustiças ao deixar de escolher outras que também poderiam contribuir para experiências de leitura extremamente significativas. 124 4.1 Qualidade do texto Se pensarmos na trajetória da literatura para crianças no Brasil, até a década de 1970, com exceção da obra lobatiana, não se pode falar de literatura infantil brasileira como sistema de obras e conjunto de autores com uma produção estética regular destinada a crianças e jovens. A precariedade do gênero manifestava-se principalmente no descontínuo da qualidade estética dos textos e na construção literária condicionada a um horizonte de dominação entre autor-texto-leitor. Monteiro Lobato, portanto, promove a renovação do gênero e estabelece as bases de um projeto estético para a literatura destinada a crianças e jovens no Brasil. (Turchi, 2008) Foi com o boom dos anos 70 que a literatura infantil e juvenil inaugurou um período extremamente fértil no Brasil. As obras podem ser agrupadas em tendências temático-estilísticas, construindo uma história do gênero que reflete o momento histórico social brasileiro e a situação do leitor por meio de um projeto estético ousado e criativo. Aparecem nomes que ainda hoje continuam a publicar, com sucesso, obras para crianças e jovens, entre eles: Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Lygia Bojunga Nunes, Ziraldo, entre outros, reatando as pontas com a tradição lobatiana por novas vias que contemplam a crítica social, o humor, o suspense, a aventura da linguagem. (Lajolo e Zilberman, 2005) Segundo Turchi (2008), nas décadas seguintes, a renovação da literatura infantil brasileira vai se consolidando com um projeto estético que valoriza o diálogo entre texto, ilustração e aspectos gráficos, num processo de co-autoria. As narrativas se caracterizam pela presença do humor e da irreverência, da aventura, do suspense e da temática do cotidiano. Há um aprofundamento estético no texto literário e na construção da voz narrativa, que procura estabelecer pontes entre a perspectiva do adulto e a da criança; manifesta-se também nas obras um apelo à imaginação e um incentivo à construção de um leitor crítico. A poesia infantil também se insere neste cenário, ganhando, depois de Henriqueta Lisboa, Cecília Meireles, José Paulo Paes, dimensões significativas, com o aparecimento de vários poetas e obras, seja na forma do poema, da prosa poética ou da narrativa em versos. No panorama atual, um levantamento da produção literária para criança aponta 125 para uma retomada dos clássicos universais, dos clássicos brasileiros, dos contos de fadas, de histórias exemplares, de narrativas das mitologias grega, africana, indígena, entre outras. Além da publicação em nova edição, bem cuidada, utilizando os avanços dos recursos disponíveis nas artes gráficas, há também a revisitação dessas antigas histórias numa direção da paródia ou da desconstrução pelo humor ou pela crítica dos valores ou paradigmas sociais. Essas formas e temas literários revitalizados trazem como marca estética a presença de dados da contemporaneidade na caracterização do tempo, do espaço e dos conflitos. (Riche, 2004) As obras premiadas escolhidas para apresentar a qualidade do texto são: A bolsa amarela, de Lygia Bojunga; É isso ali, de José Paulo Paes; Dez Sacizinhos, de Tatiana Belinky, e Cacoete, de Eva Furnari. FIGURA 9 – Capa de A bolsa amarela (1976) FIGURA 10 – Capa de É isso ali (1984) FIGURA 11 – Capa de Dez sacizinhos (1989) FIGURA 12 – Capa de Cacoete (2005) 126 A bolsa amarela, de Lygia Bojunga, parece ser um romance de natureza autobiográfico em que uma menina entra em conflito consigo mesmo e com a família por reprimir três grandes vontades: a vontade de crescer, a de ser garoto e a de se tornar escritora. A partir dessa revelação ou desabafo, por si mesmo uma contestação à estrutura familiar tradicional em cujo seio "criança não tem vontade", essa menina sensível e imaginativa, tida por um dos irmãos como "a maior inventadeira do mundo", conta-nos o seu dia a dia, o seu mundo interior, povoado de aspirações, amigos secretos e fantasias. Cheguei em casa e arrumei tudo que eu queria na bolsa amarela. Peguei os nomes que eu vinha juntando e botei no bolso sanfona. O bolso comprido eu deixei vazio, esperando uma coisa bem magra para esconder lá dentro (...) Abri um zíper; escondi fundo minha vontade de crescer; fechei. Abri outro zíper; escondi mais fundo minha vontade de escrever; fechei. No outro bolso de botão espremi a vontade de ter nascido garoto (ela andava muito grande, foi um custo pro botão fechar). Pronto! A arrumação tinha ficado legal. Minhas vontades estavam presas na bolsa amarela. (BOJUNGA, 1987, p. 29-30) Ao tecer a própria história, a real e a sonhada, a pequena heroína vai contrapondo à constelação familiar de pais, irmãos, tios e primos (gente de carne e osso), os fabulosos galos Afonso e Terrível (vítimas de abusos da autoridade) e seres inanimados que num sopro de mágica adquirem vida: a Guarda-chuva menina-moça, o alfaiate-de-fralda e dois carretéis de linha. Aí a Guarda-Chuva disse: - Bzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzztctctctctctc******* ******* Drrrrrrrrrrtdtdtd ) 96785432666666666666666666?????????? ! ! ! iuiuiuiuiuiuuuuuuuuuugdtgdtgdbzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz Uxzyxzyxzyxzyxzytatatatatatatatatatatatatataaa,,,,,,,,,,,,..............ta? Bzzzzzzzzzzzzzzzz. (BOJUNGA, 1987, p. 51) FIGURA 13 (esq.) e 14 (dir.) – Ilustração de A bolsa amarela 127 Ao mesmo tempo em que se sucedem episódios reais e fantásticos, uma aventura espiritual se processa e Raquel segue rumo à sua afirmação como pessoa. A obra explora recursos expressivos ligados à enunciação literária, propicia uma experiência significativa de leitura autônoma ou mediada pelo adulto, além de oferecer um grau de abertura que convida à participação criativa. É isso ali é uma das poucas obras em versos42 na categoria criança. O livro reúne poemas muito bem humorados do poeta José Paulo Paes. Os textos são construídos a partir de brincadeiras com as palavras, que fazem surpreender o leitor ao quebrar sua expectativa do uso estabelecido da linguagem. Nas palavras do próprio autor, “nessa brincadeira, cada palavra pode e deve significar mais de uma coisa ao mesmo tempo: isso aí e também isso ali. Toda poesia tem que ter uma surpresa” (Paes, 2003). Muitas vezes a diversão acontece quando o sentido metafórico de algumas expressões é tomado por seu sentido literal, misturando duas possíveis leituras do texto: a do sentido literal e a do sentido figurado. Os temas tratam desde a vida de um sapo, de um cachorro, de peixes, de seres imaginários, ao alfabeto, pequenos mistérios da história do Brasil, ficção científica... FIGURA 15 – Página aberta de É isso ali É isso ali estimula de forma prazerosa o leitor a perceber os inúmeros significados das palavras e também o incentiva a criar, a partir de quaisquer temas, suas próprias brincadeiras com elas. As ilustrações de Walter Vasconcelos têm perfeita 42 É importante ressaltar que a partir de 1992 a FNLIJ criou o Prêmio Odylo Costa Filho para o melhor livro de poesia, dessa forma todos os livros de poesia teriam uma categoria específica na avaliação da FNLIJ independente do público-alvo. Era uma vez um vampiro Tão bem-educado, mas tão bem-educada Que toda vez que sugava O sangue de uma pessoa Não esquecia de dizer: “Muito obrigado”. 128 sintonia com a proposta poética do autor. Elas brincam com uma grande diversidade de técnicas como colagem de papel e outros objetos, desenho, pintura, fotografia, signos gráficos, estimulando também o processo de produção de significados das imagens. A obra explora aspectos melódicos na produção poética, além de apresentar uma proposta que propicie a interação lúdica na linguagem poética. A obra Dez sacizinhos, de Tatiana Belinky, apresenta-se como uma viagem pela magia e encanto de um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro, o saci, menino negro, com uma perna só, que fuma cachimbo e usa carapuça vermelha que lhe confere poderes mágicos. Este livro é uma brincadeira de subtrair sacis. Entre versos e estrofes, dez graciosos sacizinhos desaparecem, um a um, em acidentes como fogo no teatro, ingestão de comida estragada, jejum exagerado, quebra de regras, entre outros motivos. FIGURA 16 – Ilustração e texto de Dez sacizinhos FIGURA 17 – Ilustração e texto de Dez sacizinhos A Cuca acompanha o desenrolar da história camuflada nas formas e cores intensas do ilustrador Roberto Weigand. Assim, quando todos os sacis desaparecem, é Mas de volta os trouxe a cuca, Todos de uma vez E agora os sacizinhos Outra vez são dez! Eram dez os sacizinhos... Sobrou um só sacizinho; Comeu urucum, Urucum não é comida, E não sobrou nenhum. 129 ela que os traz de volta, sãos e salvos, para que autora e ilustrador instiguem o leitor a continuar a brincadeira. A obra apresenta um tema adequado às expectativas do público infantil; amplia as referências do universo da criança e mobiliza o leitor, instigando a estabelecer relações com outros textos na leitura O livro Cacoete é escrito e ilustrado por Eva Furnari. A obra caracteriza-se como uma narrativa, cujas linguagens verbal e visual se colocam em primeiro plano, sobre a cidade de Cacoete (“talvez a cidade mais organizada do mundo”) e as transformações trazidas por um pequeno acontecimento inesperado, ocorrido com Frido, um pequeno habitante, que iria desencadear “coisas estranhas” na cidade. Os cacoetecos, habitantes de Cacoete, mantinham uma organização comum entre eles, mas que era muito especial. Uma das maneiras de organização de Cacoete era que “quem era alto sentava em cadeira alta. Quem era baixo sentava em cadeira baixa.” (Furnari,2005, p.4) E assim se organizavam já por um longo tempo, as ruas eram em ordem alfabética e também os moradores eram ordenados desse modo. Era tradição em Cacoete que no dia dos professores o presente dado às professoras era uma maçã. E é justamente por esse motivo que no dia dos professores começa uma grande mudança em Cacoete. Em busca da maçã, Frido, pequeno herói cacoeteco, encontra com uma bruxa que mudará completamente a organização de sua cidade. FIGURA 18 (esq.) e 19 (dir.) – página com ilustração de Cacoete O livro tem especificidades, como a mudança do tipo de letra durante a história: por exemplo, logo no começo do livro, quando o narrador apresenta a cidade de 130 Cacoete, a letra é cursiva (o que, aliás, combina com a cidade organizada); já quando começa, de fato, a história, a letra muda e a organização das frases também, as falas das personagens são colocadas em “balões” com a estética de histórias em quadrinhos e as figuras participam da história. Assim, marca-se a idéia de que o espaço, assim como a cidade, antes organizado, passa para desorganizado. Textos verbal e visual encontram-se absolutamente imbricados. A obra apresenta falas diretas das personagens adequadas às suas variáveis sociais e linguagem adequada ao público- alvo, além de contribuir para a reflexão sobre a realidade, sobre si mesmo e sobre o outro. Os textos literários, além de contribuírem para ampliar o repertório linguístico dos leitores, propiciam a fruição estética. Além disso, percebemos que os livros premiados na categoria criança pela FNLIJ, de certo modo equilibrado, possuem obras tanto para favorecer uma leitura autônoma pela criança, quanto para estimular uma apropriação dos textos pela leitura do professor em voz alta. Para tanto, foram avaliados as qualidades textuais básicas e o trabalho estético com a linguagem. 4.2 Adequação temática Quanto às temáticas, vinte e cinco títulos – A bolsa amarela; A cristaleira; A mãe da mãe da minha mãe; Angélica; Asa de papel; As viagens de Raoni; Até passarinho passa; Cacoete; De carta em carta; É isso ali; Eu e minha luneta; Felpo Filva; João por um fio; Mania de explicação; Menina Nina; Menino do rio doce; Minhas memórias de Lobato; O dono da verdade; O menino e o cachorro; O menino marrom; Os bichos que tive; Pedro; Pedro e a Lua; Raul da ferrugem azul e Sete histórias para sacudir o esqueleto – estimulam as crianças a fazerem um pacto ficcional com a leitura, no qual tudo é invenção, mas envolve as crianças como se fosse verdade. Elas podem ir além do entendimento do texto, passando a admirá-lo, emocionando-se com ele e identificando-se com o que ele traz, partilhando a vivência das personagens. Assim, pode haver um diálogo rico e diversificado entre literatura e realidade. Elementos fictícios se misturam a elementos do mundo sociocultural das crianças. Vontade, 131 imaginação e criação conjugam-se nessa temática. A partir da década de 1980, como resultados de pesquisas, estudos e propostas nos campos acadêmico e literário, somadas a movimentos em favor da não- discriminação, surgem autores com novas propostas de obras literárias para crianças. São livros que procuram romper com um imaginário estereotipado do negro tão comum na literatura infanto-juvenil, até então. Dentre essas obras pode destacar-se O Menino Marrom (1986), de Ziraldo, que questiona a existência das cores preto e branco. Os personagens da história são dois meninos, um “rosa” e outro “marrom”. Os dois têm família, estudam, são inteligentes, têm voz na narrativa. Não há desvalorização do negro em detrimento do branco. Nas ilustrações o Menino Marrom é apresentado com traços definidos, bem delineados, suas características físicas são representadas positivamente. A obra foge a estereótipos saturados; amplia as referências estéticas, culturais e éticas da criança sem conduzir explicitamente a opinião do leitor. FIGURA 20 (esq.) – Capa de O Menino Marrom (1986) FIGURA 21 (centro) e 22 (dir.) – Ilustrações de O Menino Marrom Em relação a livros que apresentam a tradição popular ou conto folclórico temos: De morte!; Dez sacizinhos; Indo não sei aonde buscar não sei o quê; Murucututu, a coruja grande da noite; O curumim que virou gigante; O segredo da chuva e Sua alteza a Divinha. Incorporar os saberes de origem popular à literatura é uma necessidade cada vez mais urgente, na medida em que, contemporaneamente, há uma estreita relação entre a valorização da experiência de vida de cada indivíduo com o processo de ensino- aprendizagem e a democratização do saber, especialmente se tomarmos como referência a cultura brasileira e sua multiplicidade de manifestações artísticas e 132 culturais. A obra Murucututu, a coruja grande da noite, de Marcos Bagno, traz à tona a história da mágica coruja do folclore brasileiro, conhecida como a mãe do sono. Em algumas culturas indígenas, as mães costumam cantar para a coruja murucututu pedindo que ela traga o sono para as crianças que vão dormir. Na própria obra existe uma cantiga que é assim: “Murucututu / da beira do telhado / leva esse menino / que não quer ficar calado”. (Bagno, 2005, p. 40) FIGURA 23 (esq.) – Capa de Murucututu, a coruja grande da noite (2005) FIGURA 24 (centro) e 25 (dir.) – Ilustração de Murucututu, a coruja grande da noite O conto folclórico apresenta uma história que parte de uma situação convencional: uma mulher idosa e uma menina, avó e neta, moram juntas, mas isoladas. Temerosa, a avó expressa seu medo por meio do Murucututu, mas a menina não se amedronta. Pelo contrário, prefere a transgressão: primeiro, ao dar vazão a seus desejos; depois, ao romper os limites da casa e descobrir os segredos do universo, tornando-se pessoa sábia e segura. A obra contribui para a reflexão sobre a realidade e os sentimentos vividos pelas crianças; além disso, mobiliza o leitor a estabelecer relações com outros textos durante a leitura. Dialogar com o medo atrai, porque é necessário. Porque a criança é frágil e ameaçada, porque tem medo do escuro, da solidão, do abandono, dos predadores, do desconhecido e da morte, precisa dialogar com o medo, interagir com ele no imaginário, fora do alto risco da realidade. Viver o medo através de um livro é o modo melhor para uma criança enfrentar o perigo mantendo os pezinhos bem aquecidos. (...) (COLASANTI, 2004, p. 163) Em quantidade menor estão os livros que exploram trava-línguas, parlendas, 133 trocadilhos, cantigas e adivinhas. Apesar de esses gêneros textuais fazerem parte do universo da oralidade e, portanto, já estarem disseminadas na cultura popular, aparecem aqui com uma roupagem nova, dando base aos textos de ABC doido; Fiz voar o meu chapéu; O pega-pega e Uni e duni e tê. Parlendas e cantigas, de caráter lúdico, muito usadas em rimas infantis, têm versos curtos e ritmo fácil e cumprem a função de divertir, ajudar na memorização, compor uma brincadeira. O trava-língua corresponde a uma espécie de jogo verbal que impõe às crianças o desafio de produzi-los, oralmente, sem errar, o que requer atenção, ritmo e agilidade oral. O conteúdo dúbio e também desafiador das adivinhas provoca o interesse das crianças. Sua forma lúdica de enigmas populares, na qual a enunciação da idéia ou fato está envolta numa alegoria a fim de dificultar a descoberta, leva o leitor a pensar, refletir, usar sua criatividade e imaginação. As adivinhas, não raro, se apresentam em forma metrificada, o que facilita a sua decoração e sua transmissão. É necessário destacar a importância desses tipos de texto na alfabetização, pois a manipulação das palavras, a desconstrução e a construção de outras novas, o trabalho com as rimas, aliterações, sílabas e fonemas pode ser um bom caminho para o trabalho ortográfico futuro. Ela ainda é capaz de construir e reconstruir significados. (Silva e Morais, 2007) FIGURA 26 (esq.) e 27 (dir.) - ABC doido (1990) A obra ABC doido, de Angela Lago, apresenta o alfabeto em ordem decrescente com adivinhas para a criança descobrir qual a letra. A primeira charada é “O que é, o que é, minha prenda, a primeira coisa que o zoológico tem e tem no meio de qualquer fazenda”. Dentre as letras do alfabeto, algumas estão diferenciadas “E, L, O, U e Z” para facilitar a descoberta da criança. Assim que a criança decidir a resposta, ela devera confirmá-la ao olhar atrás da página das letras do alfabeto. O projeto gráfico da 134 obra pode ser considerado diferenciado, formato (15cm x 15cm), presença do espiral e a maneira diferenciada de apresentar o texto. A obra explora aspectos melódicos, imagéticos e visuais; propicia a interação lúdica com a linguagem e apresenta um tema adequado às expectativas do público infantil: (...) em livros destinados às pessoas em fase de alfabetização, crianças ou adultos, as imagens costumam ser funcionais. Tendem e precisam ser unívocas, lógicas, descritivas e documentais, de forma a ajudar o leitor a compreender e interpretar o texto que tem em mãos. (AZEVEDO, 2005, p. 43) FIGURA 28 (esq.) – Capa de O pega-pega (1978) FIGURA 29 (centro) e 30 (dir.) – Ilustração de O pega-pega O pega-pega, de Mary e Eliardo França, apresenta uma obra de extrema simplicidade do texto, o que colabora com as crianças no início do processo da alfabetização. As palavras utilizadas são, em geral, monossílabas ou dissílabas. Há ainda a repetição não só de sons, como de palavras e estruturas “O gato falou: - Vamos pegar o rato; O galo falou: - Vamos!”. Tal simplicidade, no entanto, não diminui o valor do texto. A obra propicia uma experiência significativa de leitura autônoma e apresenta linguagem/temática adequadas ao público-alvo. As obras que fazem referência aos contos clássicos são: A princesinha medrosa; Chamuscou, não queimou; O problema de Clóvis; O rei de quase tudo; Procura-se lobo e Uxa, ora fada, ora bruxa. Como os próprios títulos sugerem, os autores buscaram integrar os contos a novos e diferentes espaços sociais e simbólicos. O caráter moralizador, próprio do gênero, não está destacado nessas produções. O que podemos perceber é a presença do elemento fantástico, que contraria fortemente as leis do mundo real. Os contos de fadas têm se perpetuado há milhares de anos, encantando 135 crianças e possibilitando um mergulho no mundo da fantasia. Um dos personagens dessas histórias que continua mexendo com o imaginário das crianças é o lobo. Na história de Chapeuzinho Vermelho e o Lobo-mau, de Charles Perrault (1650), o final é trágico, a vovó e a neta são devoradas pelo lobo. Os Irmãos Grimm reescreveram a história em 1810, em cuja versão a menina e sua avô são salvas pelo caçador. Percebe-se, nessas narrativas, a imagem ameaçadora e terrível do lobo. Por outro lado, constata-se em releituras dessas histórias, uma tendência à reversão deste perfil, uma quebra de paradigma da maldade para a bondade. Histórias como Procura-se Lobo, de Ana Maria Machado, alertam o mundo sobre o risco de extinção dos lobos, mostrando que, apesar de assustadores, podem ser bonzinhos. Desse modo, procura-se refletir sobre essa nova linhagem de narrativas que parodiam ou parafraseiam as antigas versões, revertendo o mito, ressignificando-o e provocando novas relações de sentido. A obra explora recursos expressivos ligados à enunciação literária dada ao tema; foge a estereótipos saturados; apresenta falas diretas adequadas às variáveis dialetais das personagens; mobiliza o leitor a estabelecer relações com outros textos na leitura, além de oferecer um convite à participação criativa na leitura. FIGURA 31 (esq.) – Capa de Procura-se lobo (2005) FIGURA 32 (centro) e 33 (dir.) – Ilustração de Procura-se lobo Por fim, apresentamos algumas narrativas que buscam dialogar com matrizes textuais da atualidade. Muitos valores presentes nas obras podem ser discutidos e comparados com os valores presentes em nossa época, em nossa sociedade. E é justamente isso que essas novas produções vêm oferecer às crianças: a oportunidade de perceber que uma leitura crítica de um livro respeita o diálogo com o presente, com os valores, com conhecimento de mundo de quem está lendo. As obras que apresentam 136 uma temática histórica ou de problemas que permanecem na nossa atualidade, sem perder a literariedade do texto, são: Abrindo caminho; Chica e João; Ludi na revolta da vacina: uma odisséia no Rio Antigo; Meninos do Mangue; O menino do olho d’água; O que os olhos não veem e Uma ilha lá longe. As obras apresentam, respectivamente, narrativas sobre: personagens importantes do passado; a história de Chica da Silva; a revolta da vacina; os mangues e atitudes impensáveis que agridem e destroem o meio ambiente. A obra Chica e João narra a história da Chica da Silva. É uma dessas personagens cuja existência e história de amor com que se envolveu, escandalizando o Arraial do Tejuco, são conhecidas graças à tradição oral de Diamantina, cidade de Minas Gerais. O escritor e ilustrador Nelson Cruz valeu-se de uma extensa pesquisa histórica a fim de montar seu “romance”, que mescla ficção e história. O livro faz parte da coleção Histórias para contar História, “que traz à tona amores coloniais no Brasil, procurando isolar as personagens históricas de suas causas sociais, mostrando acima de tudo, que essas personalidades simplesmente desejavam viver e ser amadas”, como nos revela a contracapa do livro. FIGURA 34 (esq.) – Capa de Chica e João (2000) FIGURA 35 (centro) e 36 (dir.) – Ilustração de Chica e João O autor se baseou nas litografias do alemão Johan Moritz Rugendas, que viajou pelo Brasil entre 1821 e 1825, para ilustrar Chica e João com extrema veracidade. Essas informações foram obtidas na própria obra “A história desta ficção” (p. 36). Assim, a ilustração cumpre uma função narrativa, a personagem Chica se desfazendo da imagem estática, perdendo contornos de superfície e de linha, para ganhar formas 137 atributivas de sentimentos e emoções. É assim mostrada como uma personagem fisicamente caracterizada, mas, acima de tudo, também pelo que deseja, sonha, lembra, imagina, pensa. A narração, feita em primeira pessoa, abarca a consciência da personagem e Chica percebe-se como representação da própria releitura que fazem de sua vida. A voz de Chica mescla-se perfeitamente às ilustrações do autor, revelando a personagem sob uma perspectiva subjetiva e intimista, além de bastante sombria. Chica, que amou e que sofreu, mostra-se melancólica por não conseguir ultrapassar os limites do Tejuco, região onde morava. Essa tristeza surge desde a primeira página, acompanhada pelo tom escuro das ilustrações de modo espetacular. Os tons claros só aparecem quando a narração põe de lado a tristeza, como na cena em que Chica, ricamente ornada, segue ao encontro do futuro marido. Mas toda a solidão que sentiu tinge por completo as ilustrações e vemos como Chica tornou-se igualmente cativa das próprias páginas do livro, que começa e termina com um mapa demarcatório da região do Tejuco. A obra explora recursos ligados à enunciação literária no tratamento dado ao tema; evita conduzir a opinião do leitor; estabelece relações com outros textos, além de contribuir para o desenvolvimento da percepção de mundo. As obras premiadas apresentam temáticas diversificadas, de diferentes contextos sociais, culturais e históricos. Elas são, na sua grande maioria, adequadas à faixa etária e aos interesses das crianças. Entre suas características foram observadas a capacidade de motivar a leitura, o potencial para incitar novas leituras, a adequação às expectativas do público infantil, as possibilidades de ampliação das referências do universo infantil, a exploração artística dos temas. 4.3 Projeto gráfico Neste campo de análise, selecionamos algumas obras: Pedro, de Bartolomeu Campos Queirós; A mãe da mãe da minha mãe, de Terezinha Alvarenga; Sua alteza a Divinha, de Angela Lago; Asa de papel, de Marcelo Xavier, e O menino, o cachorro, de Simone e Bibian. Segundo Moraes (2008): 138 (...) o projeto gráfico nos indica uma idéia de ler, isto é, uma idéia de um tempo para se olhar cada página, de um ritmo de leitura por meio do conjunto de páginas, de um balanço entre o texto escrito e a imagem, para que, juntos, componham e conduzam a narrativa. A escolha do papel, formato, dimensão, letra, tipo de impressão, encadernação, quantidade de texto em cada página são de grande importância por interferirem no modo de construir um todo, essa proposta de leitura chamada livro. (MORAES, 2008, p. 49-50) FIGURA 37 (esq.) – Capa de Pedro (1977) FIGURA 38 (centro) – Capa de A mãe da mãe da minha mãe (1988) FIGURA 39 (dir.) – Capa de Sua alteza a Divinha (1990) FIGURA 40 (esq.) – Capa de Asa de papel (1993) FIGURA 41 (dir.) - Capa de O menino, o cachorro (2006) A produção do livro atravessa etapas, desde a sua concepção inicial, até ganhar forma na concretude da mídia impressa. O sentido do livro criado ou detectado pelo editor materializa-se nas mãos dos criadores do livro infantil: escritor, ilustrador e designer. O editor, apesar de não ser um criador, interfere e influencia decisivamente no processo criativo, o que determina resultados visíveis. O editor é responsável por gerir uma equipe de profissionais que cobrem etapas como redação, revisão, ilustração, lay- out e diagramação do miolo e da capa, produção gráfica, impressão, divulgação e 139 venda – consequentemente possui um controle da produção e do destino do livro muito maior do que qualquer outro membro da equipe. A sua participação é de vital importância para a realização e o resultado final do livro. (Necyk, 2007) Segundo Alarcão (2008), somente a partir da segunda metade do século XIX, na Inglaterra, iniciou-se a impressão de livros em cores com uma qualidade razoável. A tecnologia de impressão foi impulsionada pelo advento da litografia, que, por sua vez, foi auxiliada pela presença de uma invenção revolucionária: a fotografia. Com a nova ferramenta, a traço do ilustrador pôde enfim ser reproduzido mecanicamente nas matrizes gráficas. A invenção de Gutenberg foi de fato um divisor de águas na história da civilização, algo comparável à internet nos nossos dias. Com a impressão de livros criou-se uma demanda por um tipo de artista, cujos desenhos seriam destinados exclusivamente à reprodução gráfica. Foi justamente nesse momento que a história da arte e das técnicas delineou mais precisamente a atividade do ilustrador tal como a conhecemos hoje. (ALARCÃO, 2008, p.66) Atualmente, o arsenal técnico das gráficas consegue não somente uma reprodução bastante fiel das ilustrações, como também aplicar nos impressos recursos que não constam da arte original, por exemplo, relevos, plastificações, vernizes e cores especiais, como a prata ou a dourada. Com o computador podemos corrigir cores dos nossos desenhos, acrescentar ou retirar elementos, enfim, aplicar recursos impensáveis nas técnicas tradicionais. Softwares gráficos permitem que combinemos nossas ilustrações com o texto e deixemos a obra pronta para a impressão. Hoje podemos usar tintas sem sujar nossas mãos, porque os pigmentos são imateriais, meros pontos de luz colorida no computador. O mouse é coisa do passado. Temos agora as tablets e canetas digitais, e com essas ferramentas trabalhamos em programas que simulam digitalmente e com perfeição absoluta técnicas tradicionais, como aquarela, pastel, óleo, etc. (ALARCÃO, 2008, p.69) Um bom exemplo dessa reprodução gráfica é a obra Sua alteza a Divinha, que apresenta um conto folclórico recontado por Angela Lago. É a história de uma princesa que sabe-tudo e somente irá se casar com aquele que conseguir a sua derrota em um jogo de adivinhações. “Pois bem, que venham lá os pretendentes... mas todos os moços vão se acabando na forca: rei, capitão, soldado, ladrão...”. Os desenhos e a composição da obra do texto foram feitos em um microcomputador com a colaboração de ilustradores anônimos e antigos. A obra apresenta, de forma lúdica, o jogo entre 140 palavras e imagens sem perder a coerência da edição; o espaçamento entre linhas, a escolha e o tamanho da fonte favorecem a leitura. Podemos afirmar que as imagens dialogam com o texto, ampliando suas possibilidades significativas. O volume possui formato 21cm x 20cm. FIGURA 42 (esq.) e 43 (dir.) – Página aberta de Sua alteza a Divinha A percepção de uma imagem envolve a relação do leitor com ela, como ele a vê, pois o olhar compreende as experiências vividas por aqueles que olham. O perceber é um processo tão dinâmico que uma mesma imagem vista e compreendida por um observador pode ter seu sentido alterado ao ser colocada outra imagem ao seu lado. Na obra acima, outro recurso utilizado que envolve o olhar do leitor é representar com as letras o que está acontecendo na história, por exemplo, à medida que o personagem sobe a montanha, as letras ganham graficamente o formato dela. Além disso, em alguns momentos, no lugar da palavra, encontramos a própria imagem do objeto. Podemos observar também que quem está fora da margem do livro está participando da história como público que assiste a uma peça teatral. A obra apresenta um projeto gráfico diferenciado, mas que muitas vezes precisa ser mediado pelo adulto para se chegar ao leitor criança. Este livro foi indicado pelos entrevistados como “esquecidos pela criança” por se tratar de uma obra incolor. De acordo com Rui de Oliveira (2008b): A ilustração em preto-e-branco possui um leque de significados – até mesmo de ancestralidade na história da ilustração – tão importante quanto a ilustração em cores. Talvez até pelo grafismo e contragrafismo, ou seja, o preto e o branco do papel que o ilustrador tem diante de si, sua aparente exigüidade de recursos apresenta uma dificuldade de resolução muito mais complexa do que quando o artista dispõe da possibilidade de cor. (p. 51) Muitas vezes a qualidade do projeto está em assegurar uma leitura limpa e 141 simples de uma narrativa. Outras, como acontece na obra O menino, o cachorro, o próprio projeto gráfico permite duas leituras pela criança. Ela pode começar a história pelo lado do menino ou virar o livro e começar pela história do cachorro. O interessante é que as histórias se fundem com o encontro do menino com o cachorro. Dependendo de onde você começar a ler, o livro fala da vontade e das ações de um menino que queria ter um cachorro e/ou de um cachorro que queria ter um menino até o encontro final. O livro apresenta capa criativa e atraente, apropriada ao projeto estético-literário da obra; sua impressão favorece a leitura (texto e imagem) e as ilustrações compõem um conjunto agradável e adequado à intenção expressiva da obra. O livro tem formato 21cm x 21cm. FIGURA 44 (esq.), 45 (centro) e 46 (dir.) – Página de O menino, o cachorro A proposta gráfica de paginação e diagramação cria um conjunto de imagens narrativas, disposições, de certas maneiras ao longo do livro e ao longo do texto impresso, estabelecendo formas de relacionamento das imagens entre si e de cada uma delas com o texto, exprimindo continuidades e descontinuidades, problematizando o texto, imprimindo ritmo e movimento, que são, também, constituídos das narrativas em processo. (FITTIPALDI, 2008, p. 99) Segundo Necky (2007), o formato é muito significativo na relação entre o livro e a criança: diversos formatos pouco convencionais são utilizados para publicações infantis. Dentre estes, o quadrado é bastante presente na produção literária infantil. Tal escolha talvez se dê pelo fato de o quadrado constituir uma forma básica, de fácil reconhecimento e associação para criança, e estabelecer uma proporção igualitária entre altura e largura, o que gera espacialidade diferenciada para a disposição de textos e imagens. A página dupla do formato quadrado dá origem a uma visualização horizontal próxima às proporções da tela do cinema, e os planos escolhidos pelos ilustradores e designers tiram partido dessa proximidade. 142 Outro aspecto significativo é a aparência da capa para o estabelecimento das primeiras relações entre o leitor e o livro. No que tange à parte comercial, a capa é a embalagem na qual se vende a idéia do livro e se estabelecem “promessas” sobre o seu conteúdo, como prévia do deleite que virá adiante. De todas as partes do livro, a capa é a que possui maior chance de receber investimento de produção mais alto, por se configurar como elemento chave da venda. As capas quase sempre são impressas em policromia e podem receber efeitos especiais. Sua importância mercadológica é enorme, pelo fato de produzirem impacto visual instantâneo e, consequentemente, gerarem atração. A capa deve destacar o livro entre tantos outros, criar sua identidade e incitar à leitura; geralmente é avaliada pelo editor quanto à sua capacidade de venda. Além da ilustração e do título, a capa conta com o nome do autor e ilustrador como fator de associação da obra com a figura de seus criadores. (Necky, 2007) Powers (2008) observa que a capa estabelece importante função no processo físico de relação com o livro porque, por definição, não se pode ler o livro enquanto se vê a capa. A visualização desta configura o livro como um objeto físico a ser pego, manipulado, deixado de lado ou guardado. A princípio, a capa é a face mais significativa desse objeto tridimensional e, em muitos casos, pode determinar a sua escolha. A relação espacial entre texto e imagem determina os processos de leitura e visualização das imagens. Algumas disposições favorecem maior integração visual ou até mixagem dos elementos visuais e textuais. Quando texto e imagens se encontram visualmente integrados, tende-se a aprendê-los de maneira diferenciada daquela de uma disposição separada. Conforme Necky (2007), a ocupação espacial na página da ilustração em relação ao texto pode se dar de quatro maneiras principais: a ilustração é aplicada numa área separada do texto; a ilustração é aplicada parcialmente em união ao texto; o texto é aplicado de modo a intermediar ou se relacionar com a forma da ilustração; o texto é aplicado dentro da área da ilustração. Os primeiros livros infantis obedeciam a uma configuração em que a ilustração era aplicada numa área separada do texto (figura 47). Durante algum tempo, por questões técnicas, o livro impresso teve o espaço para as ilustrações separado do texto. Esses livros não continham tantos eventos ilustrados e a área ocupada pelo texto era maior do que a das ilustrações. A partir de processos industriais de impressão, como a 143 litografia no século XIX, essa rigidez pôde ser quebrada. Na atualidade, ainda subsiste esse tipo de aplicação. Essa separação pode se dar também por áreas isoladas da imagem, em aplicação lateral ou inferior à ilustração. FIGURA 47 – Página aberta de A bolsa amarela Quando a ilustração é aplicada parcialmente em união com o texto (figura 48) configura-se determinado estado no qual continua a ocupar uma área delimitada num retângulo, mas dentro da mancha de texto, ou seja, parcialmente unida ao texto. A conformação do retângulo ocupado pela ilustração pode variar entre retângulos compridos, largos ou “quebrados” como um “L”. FIGURA 48 – Página de O Menino Marrom A terceira forma de relação espacial ocorre quando o texto é aplicado de modo a intermediar ou se relacionar com a forma da ilustração. A relação espacial entre texto e ilustração, utilizada nesse tipo de aplicação, estabelece um elo visual entre o elemento verbal e o textual – texto e imagem apresentam-se visualmente unidos. Essa forma evidencia a dimensão gráfica do texto. O texto pode intermediar a ilustração, isto é, 144 pode aparecer entre partes da ilustração, criar uma forma para circundar a ilustração (figura 49), ou ainda acompanhá-la como uma linha que reproduz sua forma (figura 50). FIGURA 49 – Página aberta de É isso ali FIGURA 50 – Página de Dez sacizinhos No tipo de aplicação abaixo (figura 51), a ilustração abrange todo o fundo da página e, em geral, é aplicada com sangramento. O texto fica inserido dentro do espaço da ilustração. Outras imagens podem ser superpostas à ilustração do fundo, em áreas fechadas ou soltas. O texto pode vir blocado, alinhado, centralizado, em uma linha, ou seguindo a forma da ilustração, como no modelo de aplicação anterior. Atualmente, muitos livros infantis obedecem a esse modelo de aplicação entre texto e imagem. FIGURA 51 – Página de Murucututu, a coruja grande da noite As quatro formas de aplicação de texto e imagem acima citadas existem nas produções atuais. Algumas edições contêm formas mistas de aplicação de texto e ilustrações. Entretanto, nas últimas décadas, identifica-se, em determinadas edições, menor quantidade de texto para maior quantidade de ilustrações. Uma das principais características do livro infantil contemporâneo reside no fato deste ser ilustrado, do 145 início ao fim. A ilustração não constitui eventualidade, mas parte da estrutura do livro e da história. Na atualidade, pode-se dizer que existe expectativa prévia a respeito de como deve ser um livro infantil, e a ilustração e o design representam um dos seus principais aspectos. (Necky, 2007) A qualidade das ilustrações e das imagens é um aspecto bastante importante. Elas devem recorrer a diferentes linguagens, ser atrativas e enriquecedoras da leitura dos textos. As ilustrações podem ser coloridas ou em branco e preto, desde que componham um conjunto agradável e adequado à intenção expressiva da obra. Elas devem dialogar com o texto, ampliando suas possibilidades significativas. O que mais nos encanta e seduz ao olharmos uma ilustração não é ver o que estamos vendo. Na verdade, o que nos atrai não é necessariamente aquilo que o ilustrador fez. Por mais estranho que possa parecer, o que desperta o interesse do olhar é aquilo que supomos que estamos vendo. Em outras palavras: as sombras são muito mais reveladoras que as luzes. O que está indefinido na penumbra, o que não foi ilustrado, mas sugerido, essa imagem que se origina em nossa mente, em nosso passado, em nossa expectativa e ansiedade de ver, sem dúvida é a que possui maior poder de pregnância no imaginário do pequeno leitor e, até mesmo, do leitor adulto. (OLIVEIRA, 2008, p.27). O ato de perceber uma imagem é complexo, pois o processo depende tanto de atributos intrínsecos a ela (intensidade, tamanho, contraste, novidade, repetição e movimento) quanto de fatores extrínsecos a ela e pertinentes ao leitor (atenção, expectativa, experiência e memória). De acordo com Biazetto (2008), as partes fundamentais da estrutura de uma imagem são: a) Linha: apesar da sua simplicidade, ela prende nossa atenção e nos força a percorrer toda a sua extensão, podendo imprimir ritmo e movimento à imagem. Ela funciona como indicadora da direção que deve seguir nosso olhar. A linha isolada pode ser um simples contorno, mas, quando agrupada, pode formar superfícies, representar sombra e dar idéia de volume; b) Superfície: aqui já temos um espaço bidimensional, com altura e largura. Nosso olhar vai sempre fazer a relação de uma dimensão com a outra, percorrendo toda a forma; c) Volume: a idéia de volume pode ser criada por meio do uso da perspectiva, das cores e da luz e sombra; d) Luz: este elemento visual é constituído pelo contraste do claro- escuro. As diferenças entre áreas claras e escuras proporcionam ritmo à imagem, pois zonas claras parecem avançar e escuras, recuar. A partir da proposta de Biazetto (2008) sobre os elementos fundamentais da estrutura de uma imagem, selecionamos 146 alguns livros: A mãe da mãe da minha mãe (linha e superfície); Pedro (luz e volume) e Asa de papel (cor). FIGURA 52 (esq.), 53 (centro) e 54 (dir.) – Ilustração de A mãe da mãe da minha mãe Percebe-se que A mãe da mãe da minha mãe apresenta um projeto gráfico diferenciado logo que se nos deparamos com a primeira página do livro. Em frente a uma escadaria, a criança está diante de uma porta que possibilita ao leitor a sensação de entrar literalmente dentro no livro. Afinal, todas as portas pelas quais a neta precisa passar para conhecer sua bisavó estão recortadas, permitindo ao leitor visualizar, através da porta principal, o jardim no fundo da casa. O projeto gráfico-editorial é bem sucedido; as imagens e ilustrações dialogam com o texto, ampliando suas possibilidades significativas além de ter uma distribuição que favorece a leitura. A obra Pedro foi considerada “esquecida pelas crianças” pelos entrevistados por ter um projeto gráfico “pouco atrativo” para o público infantil, ou seja, não apresenta cores. Entretanto, podemos afirmar a qualidade literária da obra, seja a partir do texto ou das ilustrações. A narrativa apresenta Pedro, um antropônimo que a gente conhece em muitas línguas: “Pedro, Pierre, Pietro, Peter, Pether, Petrus". Nas variações deste nome o jovem leitor embarca em uma história mágica e encantadora em que tudo começa com um belo desenho. É na visão dos muitos "Pedros" que a beleza do mundo é exposta com sensibilidade. É em meio a flores para servir de esconderijo e galhos para a borboleta descansar que a linguagem poética envolve o leitor. Observando as ilustrações abaixo, podemos verificar o trabalho do ilustrador com a estrutura da luz e do volume nas imagens. O livro apresenta uma edição coerente com ilustrações que compõem um conjunto agradável e adequado à intenção expressiva da obra. 147 FIGURA 55 (esq.) e 56 (dir.) – Ilustração de Pedro A obra Asa de papel resulta de um conjunto expressivo de texto e imagens. Estas aparecem como o elemento de maior força, embora o texto, de no máximo três linhas por página, seja igualmente criativo e rico em expressividade poética. O efeito das imagens sobre o leitor é de grande prazer estético, na medida em que o forte colorido está associado aos variados recursos, propiciados pela técnica utilizada. O trabalho com ilustrações tridimensional permite a Marcelo Xavier, autor e ilustrador, criar todos os seus personagens e objetos de cena com massa plástica, montados em pequenos cenários e fotografados, predominando o inusitado das imagens. O livro aberto tem 27cm x 45 cm, e cada página descreve um evento. O tamanho do livro está relacionado com a técnica utilizada para a produção das imagens, a qual possibilita a visão dos detalhes, criados em massa de modelar, que compõem os personagens e os cenários. A obra possui um projeto gráfico bem sucedido; o papel é adequado à leitura e ao manuseio pelas crianças; a impressão, o espaçamento entre linhas e o tamanho da fonte favorecem à leitura. FIGURA 57 (esq.) e 58 (dir.) – Ilustração de Asa de papel 148 O livro infantil contemporâneo é dotado de certas características projetuais que o fazem uma peça de fácil reconhecimento e, pode-se dizer, que traduz um gênero específico. A capa ilustrada e os formatos diferenciados quase sempre são suficientes para que o livro seja identificado como pertencente ao gênero infantil, antes mesmo de ser aberto. A materialidade do livro é, indubitavelmente, um fator de atração para o público infantil e adulto, e o mercado editorial se utiliza desse fato para ampliar seu potencial de vendas. (Necky, 2007) Entendemos como ideal aquela ilustração que encanta, comunica-se com o leitor, num diálogo que não se esgota no primeiro momento, mas convida a criança a revê-la, ir e voltar pelas páginas, retomar algum detalhe, olhar novamente. Acreditamos que, para a literatura, a ilustração deve se afastar do propósito de uma aproximação exata com o texto. Essa proximidade é válida em alguns casos, como ocorrem com as ilustrações informativas, no caso de botânica, livros técnicos ou pictogramas para placas de sinalização. Contudo, a literatura deve ser abordada de outra forma. (Ribeiro, 2008) Por fim, outro aspecto a ser lembrado é que, mesmo com todos os cuidados necessários para fazer uma boa ilustração, se não houver a fantasia não se poderá garantir ser um bom livro ilustrado. Afinal, vivemos cercados de imagens criadas para vender, convencer, informar, imagens que se atiram diante de nossos olhos nas embalagens, nas ruas, no jornal, na TV e na internet. Por isso, é importante que a ilustração de livros seja cheia de poesia, metáforas e fantasia, para que consiga, assim, emergir de um meio repleto de apelos visuais e se fazer observar, atraindo o olhar por meio da fantasia e da poesia. Uma ilustração rica, associada a um texto rico, estimula e alimenta a imaginação e a criatividade do leitor. (Biazetto, 2008) Em termos gerais, ao analisar as obras estamos nos referindo a uma literatura que leve em conta algumas características passíveis de generalização; uma literatura que leve em conta que as crianças, desde os primeiros anos de vida, são sujeitos ativos; que interagem com o mundo produzindo significados; que são cidadãs, portadoras de direitos e deveres; que, em função das inter-relações entre aspectos biológicos e culturais, apresentam especificidades no seu desenvolvimento; que são provenientes de contextos socioculturais diferentes; que possuem experiências 149 diferenciadas de contatos com a leitura e a escrita e que, portanto, precisam se aproximar de diferentes realidades que possam promover a ampliação de suas experiências de leitura; que interagem no mundo por meio de múltiplas linguagens e que têm o brincar como sua principal atividade. Enfim, uma literatura que permita inúmeras interações, que envolva sentimentos, valores, emoções, ludicidade, entre tantos outros aspectos. A narração em um livro para crianças e jovens não é contada unicamente pelo texto e pelas ilustrações. A história de um livro é também narrada pelas vinhetas, pelos espaços em brancos, pelas iluminuras e capitulares, pelas tipografias escolhidas, enfim, são muitos os estímulos visuais que concorrem para a narração. Sobretudo a pontuação, o tempo que vai de um elemento para outro, de um conceito para outro. Assim como o escritor dispõe de vírgulas, pontos, travessões, o ilustrador e o designer também dispõem de um repertório de pausas. (OLIVEIRA, 2008b, p. 59) O pequeno exercício de leitura de alguns livros premiados pela FNLIJ à luz dos critérios estabelecidos pelo PNBE/2008 nos permite refletir sobre alguns pontos. Sabemos que o trabalho da FNLIJ não é reconhecido pela maioria dos profissionais por se tratar de uma instância de premiação que não tem uma ação direta com a escola. Entretanto, o PNBE é uma instância que distribui obras para as bibliotecas escolares, ou seja, os profissionais têm acesso aos livros, eles estão nas bibliotecas escolares e sua qualidade é reconhecida. Dessa forma, ao relacionar duas instâncias que, apesar de distintas, realizam um trabalho com o livro de literatura, conseguimos demonstrar o trabalho de qualidade realizado pela FNLIJ. 150 A visibilidade da premiação no contexto escolar Partindo do pressuposto de que os livros destinados à infância estão de acordo com determinados valores que a sociedade pretende preservar ou transformar, o estudo do acervo infantil é importante para o conhecimento da sociedade que o produz, e para a verificação da visão de infância que essa sociedade possui. A percepção dos textos consagrados é capaz de revelar a visão de infância legitimada pela sociedade, que elege tais títulos como leituras “altamente recomendáveis”, provocando com isso determinados valores a serem difundidos entre a nova geração. A escolha do prêmio concedido pela FNLIJ justifica-se por ser este o prêmio mais representativo concedido às publicações destinadas à infância no Brasil. A Fundação, como seção do IBBY, tem como um dos seus ideais divulgar livros de qualidade para crianças e jovens e promover a leitura como direito básico para a formação da cidadania. Em um país onde as oportunidades de conhecer e entender o mundo, por meio das expressões artísticas, ainda são um privilégio, completar 40 anos de trabalho em prol da formação de leitores confirma a importância do nosso objeto de pesquisa. Entretanto, através do formulário pessoalmente aplicado aos profissionais que atuam nas bibliotecas escolares da RMBH, percebemos um desconhecimento em relação à FNLIJ. Retomando o gráfico 1, podemos perceber que mais da metade dos profissionais disseram não conhecer a Fundação; mais preocupante ainda é a pequena porcentagem dos entrevistados que conhecem e utilizam a seleção dos livros premiados para compor o acervo da biblioteca escolar (gráfico 2). Os profissionais que, por sua vez, disseram conhecer a Fundação tomaram conhecimento dela das mais diversificadas maneiras. Na maioria das vezes, o interesse foi pessoal na busca por sites ou através do contato, na biblioteca, com os livros que possuem o “selo” de premiação da FNLIJ. Dessa forma, podemos dizer que a relação de títulos selecionados ou premiados pela Fundação não é de conhecimento de grande parte dos profissionais atuantes na biblioteca escolar da RMBH. Segundo Necky (2007), o critério de escolha ou compra dos livros infantis passa pelo aval das instâncias de legitimação – no Brasil, mais especificamente pela 151 Fundação Nacional do Livro Infantil. Em termos diretos, quando alguém de renome lança um livro, as chances deste atingir o sucesso comercial são muito superiores às de um livro de criador desconhecido – mesmo sem considerar a obra em si. Entretanto, se pensarmos nos critérios de seleção do acervo de livros para os mais novos, deparamo-nos, às vezes, com uma quase total ausência de critérios, sendo os livros escolhidos mais em função das capas e dos títulos do que propriamente dos conteúdos. Além disso, fatores econômicos nada contribuem para melhorar o acervo – a quantidade prevalece à qualidade em alguns casos. Quanto à responsabilidade da seleção, ela é partilhada um pouco pelos responsáveis pela biblioteca escolar, educadores, professores, pais, livreiros e/ou vendedores ambulantes de editoras, o que acaba por ter um efeito diluído da efetiva responsabilidade de cada um dos agentes. Podemos confirmar este dado com a nossa pesquisa, que mostra que não chega a 10% as bibliotecas escolares que constituem uma comissão para escolher o acervo. As estratégias de escolhas se baseiam na necessidade da biblioteca; pedidos dos professores e alunos; livros selecionados para o vestibular e, por fim, nas consultas aos catálogos das editoras. Apesar de verificarmos o desconhecimento da FNLIJ pelos entrevistados, encontramos, mesmo que de forma aquém ao desejado e de maneira totalmente desigual, nas bibliotecas escolares alguns dos livros premiados (anexo 7). Os livros presentes em maior quantidade, como dito anteriormente, coincidem com a participação em algum programa de distribuição de livros ou com a compra realizada para um trabalho específico na sala de aula. Entretanto, a maioria dos títulos tem uma quantidade de exemplares muito pequena e, de acordo com o profissional da biblioteca escolar, “os professores gostam de trabalhar um único livro na sala de aula, por isso os livros com pouca quantidade não são muito procurados”. Tais aspectos nos levam a questionar qual o conceito de literatura para estes professores? Qual a relação que os professores têm com a biblioteca? Serão eles professores leitores? Leitores são pessoas que sabem diferenciar uma obra literária de um texto informativo; pessoas que leem jornais, mas também leem poesia; gente, enfim, que sabe utilizar textos em benefício próprio, seja para receber informações, seja por motivação estética, seja como instrumento para ampliar sua visão de mundo, seja por puro e simples entretenimento. (AZEVEDO, 2003, p.76). . 152 Dessa forma, é importante pensar na formação do mediador da leitura, seja ele o profissional da biblioteca e/ou o professor. Afinal, percebemos no gráfico 8 que obras de qualidade são “esquecidas pelas crianças” se não tiverem uma mediação adequada. Segundo alguns auxiliares de biblioteca, as obras “procuradas pelas crianças” costumam ser de livros coloridos, com bastante ilustração e pouco texto. O conteúdo independe na hora da escolha. Conforme esta pesquisa, a maioria das obras premiadas é encontrada com poucos exemplares e em pequena quantidade na bibliotecas escolares da RMBH. Entretanto, podemos afirmar a qualidade estética literária destas obras ao realizar o exercício de aproximação da leitura de alguns livros com os critérios de avaliação do PNBE/2008. Dessa maneira, sabemos que, mesmo que de forma diversificada, obras de qualidade estão presentes nas bibliotecas escolares. Mas não bastam os livros nas escolas se os professores não forem, eles mesmos, leitores. A formação de nossos professores é fragmentada e centrada em aplicação de práticas metodológicas desprovidas de consistência leitora, escritora e reflexiva, necessária à competência que se requer para os responsáveis pela educação formal das nossas crianças e jovens. A partir da preocupação crescente das Políticas Públicas de incentivo à leitura em distribuir livros de qualidade, acreditamos serem importantes pesquisas futuras sobre as práticas de letramento que ocorrem dentro da sala de aula de leitura literária. De acordo com os entrevistados, o trabalho realizado pelos profissionais responsáveis pelas bibliotecas escolares é mais direcionado para a organização da biblioteca, “é um trabalho mais técnico do que humanizador”. De acordo com eles, o trabalho com a literatura acontece mais dentro da sala de aula, “não há uma integração dos projetos de sala com a biblioteca”. Por isso, julgamos significativo pesquisar como os professores trabalham com a leitura literária na sala de aula e como se utilizam do acervo de livros literários de qualidade disponível nas escolas. Encontramos nas visitas a bibliotecas a realização de atividades desenvolvidas com a literatura que demonstram uma preocupação de muitos dos profissionais que ali atuam de mediar a leitura de forma a propiciar a formação de leitores literários. No entanto, percebemos que essas iniciativas ainda estão ligadas a interesses e a valorizações muito particulares, dependendo dos profissionais que estão atuando no 153 momento na biblioteca, na coordenação escolar, ou de determinados professores, sendo essas iniciativas pouco ligadas a projetos mais abrangentes que façam parte dos ideais e políticas pedagógicas da escola, fator que prejudica a continuidade de determinados projetos quando esses ou aqueles profissionais não fazem mais parte daquela instituição. Aproxima-se desta a constatação de Aracy Alves Martins, ao fim de sua pesquisa sobre os auxiliares de biblioteca da Rede Municipal de Belo Horizonte. Embora muitos deles tenham formação superior, não são chamados a participar ativamente dos projetos pedagógicos interdisciplinares. Tratados como subalternos pelos professores, esses profissionais muitas vezes se sentem desrespeitados, não só dentro da escola onde trabalham, como também pelas autoridades educacionais que pouca atenção têm dado à sua formação continuada. Se alguns tomam, mesmo assim, iniciativas para dinamização do acervo e promoção da leitura literária, outros se limitam, defensivamente, a cumprir a função burocrática que deles o sistema espera. (PAULINO, 2004, p. 58-59) Nossa pesquisa demonstrou que as atividades desenvolvidas com os livros premiados da Fundação, em geral, não estão acontecendo (gráfico 10). Os profissionais, na sua maioria, afirmaram que não participam dos trabalhos literários realizados nas salas de aulas. Alguns, no entanto, saberiam indicar professores que trabalham ou trabalharam um livro premiado. O exercício de leitura realizado com alguns livros da FNLIJ tem como um dos objetivos aproximar uma instância de premiação (FNLIJ) de um programa de distribuição de livros do Governo (PNBE) para apresentar a qualidade literária de obras que muitas vezes ficam esquecidas nas bibliotecas escolares. Estamos considerando a biblioteca como um espaço coletivo, cuja função básica é a transmissão dos bens culturais às novas gerações. Torna-se, então, necessário que seja bem equipada com os mais variados gêneros textuais, de boa qualidade, dos clássicos aos populares. O que caracteriza uma biblioteca é seu acervo, sua capacidade de atrair o público leitor, sua organização e os serviços que atendam às expectativas dos usuários e leitores. A qualidade do acervo de uma biblioteca será estabelecida pelo atendimento às necessidades reais de leitura dos usuários, voltadas para a fruição estética, recreação e busca de informações e conhecimentos. A biblioteca é um espaço propício ao acesso a um capital cultural – utilizando a expressão de Bourdieu. Nesse lugar, o indivíduo, por meio da família, tem acesso a 154 bens culturais como quadros, livros, dicionários, instrumentos, máquinas e outros que, muitas vezes, esse mesmo indivíduo não encontra na família e no meio onde vive. Cabe a ela, então, cumprir o papel de propiciadora desses bens culturais às crianças, jovens e adultos, oriundos de meios populares. “Torna-se a biblioteca um espaço de formação de leitores num sentido polissêmico, onde o sujeito tem a oportunidade de encontrar conhecimentos dos mais variados, diversão, senso estético e cultura”. (Maciel e Maia, 2003) Segundo Soares (2004), reconhecendo que a distribuição equitativa da leitura é condição para uma plena democracia cultural, é preciso reconhecer também que os obstáculos a essa distribuição, isto é, à democratização da literatura, são fundamentalmente de natureza estrutural e econômica, ultrapassando, assim, os limites de nossas possibilidades como educadores, mas, por outro lado, obrigando-nos, como cidadãos, à luta contra a desigual distribuição dos bens simbólicos, entre eles, a leitura. A responsabilidade é que, reconhecendo a leitura, particularmente a leitura literária, além de dever ser democratizada, é também democratizante, nós, os educadores comprometidos com a formação não apenas como desenvolvimento de habilidades leitoras e de atitudes positivas em relação à leitura, mas também, talvez sobretudo, como possibilidade de democratização do ser humano, consciente de que, em grande parte, somos o que lemos, e que não apenas lemos os livros, mas também somos lidos por eles. (SOARES, 2004, p.32) De qualquer forma, a proposta de investigar a presença de obras premiadas para crianças pela FNLIJ visa a contribuir para os estudos que enfocam diferentes aspectos da literatura infantil brasileira. A partir do levantamento e análise dos dados, esta pesquisa pode funcionar também como um diagnóstico das bibliotecas escolares da Rede Municipal de Belo Horizonte por contemplar a sua quase totalidade, permitindo conhecer um pouco da sua realidade e fomentar futuras pesquisas. Além disso, acreditamos na formação do leitor literário através da escolarização adequada do livro de literatura infantil. Também pretendemos, de alguma forma, difundir o trabalho de qualidade realizado pela FNLIJ para aqueles professores e profissionais que atuam nas bibliotecas pesquisadas. 155 Referências bibliográficas ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997. ABREU, Márcia. Cultura letrada, literatura e leitura. São Paulo: Unesp, 2006. ALARCÃO, Renato. As diferentes técnicas de ilustração. In: OLIVEIRA, Ieda de et al. (Orgs.). O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador. São Paulo: DCL, 2008a, p. 61-73. ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. AMÂNCIO, Anna Rosa Imbassahy. A produção do livro infantil: o papel do editor na formação do leitor. 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Joel Rufino dos Santos. Il. Lúcia Lacourt. Ática. - 1981 O que os olhos não vêem. Ruth Rocha. Il. Carlos Brito. Salamandra. - 1982 Uni duni e te. Angela Lago. Il. Angela Lago. Comunicação. - 1983 Os bichos que tive. Sylvia Orthof. Il. Ge Orthof. Salamandra. - 1984 É isso ali. José Paulo Paes. Il. Roger Mello. Salamandra. - 1985 Uxa, ora fada, ora bruxa. Sylvia Orthof. Il. Tato. Nova Fronteira. 164 - 1986 O menino marrom. Ziraldo. Il. Ziraldo Melhoramentos. - 1987 Uma ilha lá longe. Cora Rónai. Il. Rui de Oliveira. Record. - 1988 A mãe da mãe da minha mãe. Terezinha Alvarenga. Il. Angela Lago. Miguilim. -1989 As viagens de Raoni. Pedro Veludo. Il. Demóstenes Vargas. Miguilim. - 1990 Sua alteza a Divinha. Angela Lago. Il. Angela Lago, com colaboração de ilutradores anônimos e antigos. RHJ. - 1991 O menino de olho d’água. José Paulo Paes. Il. Rubens Matuk. Ática. 165 - 1992 Eu e minha luneta. Cláudio Martins. Il. Cláudio Martins. Formato. - 1992 De morte! – Hors-concours. Angela Lago. Il. Angela Lago. RHJ. - 1992 O problema de Clóvis – Hors- concours. Eva Furnari. Il. Eva Furnari. Global. - 1993 Asa de papel. Marcelo Xavier. Il. Marcelo Xavier. Formato. - 1994 Chamuscou, não queimou. Coleção Assim é se lhe parece. Ângela Carneiro, Lia Neiva e Sylvia Orthof. Il. Elisabeth Teixeira, Mariana Massarani e Roger Mello. Ediouro. - 1995 A cristaleira. Graziela Bozano Hetzel. Il. Roger Mello. Manati 166 - 1996 Menino do rio doce. Ziraldo. Il. Bordados de Ângela Dumont, Antonia Dumont, Marilu Dumont, Martha Dumont e Sávia Dumont sobre desenhos de Demóstenes Vargas. Cia. das Letrinhas. - 1997 Minhas memórias de Lobato. Luciana Sandroni. Il. Laerte. Cia. das Letrinhas. - 1998 Dez sacizinhos. Tatiana Belinky. Il. Roberto Weigand. Paulinas. - 1999 Ludi na revolta da vacina: uma odisséia no Rio antigo. Luciana Sandroni. Il. Humberto Guimarães. Salamandra. - 1999 Fiz voar o meu chapéu – Hors- concours. Ana Maria Machado. Il. Zeflávio Teixeira. Formato. - 1999 ABC doido – Hors-concours. Angela Lago. Il. Angela Lago. Melhoramentos. 167 - 2000 Chica e João. Nelson Cruz. Il. Nelson Cruz. Formato. - 2000 Indo não sei aonde buscar não sei o quê – Hors-concours. Angela Lago. Il. Angela Lago. RHJ. - 2001 Mania de explicação. Adriana Falcão. II. Mariana Massarani. Salamandra. - 2001 Meninos do mangue – Hors- concours. Roger Mello. Il. Roger Mello. Cia. das Letrinhas. - 2002 A princesinha medrosa. Odilon Moraes. Il. Odilon Moraes. Cia. das Letrinhas. - 2002 O dono da verdade. Bia Hetzel. Il. Mariana Massarani. Manati. 168 - 2002 Sete histórias para sacudir o esqueleto – Hors-concours. Angela Lago. Il. Angela Lago. - 2002 De carta em carta – Hors- concours. Ana Maria Machado. Il. Nelson Cruz. Salamandra. - 2002 Menina Nina – Hors-concours. Ziraldo. Il. Ziraldo. Melhoramentos. - 2003 O segredo da chuva. Daniel Munduruku. Il. Marilda Castanha. Ática - 2003 Até passarinho passa – Hors- concours. Bartolomeu Campos de Queirós. Il. Elizabeth Teixeira. Moderna - 2003 Abrindo caminho – Hors- concours. Ana Maria Machado. Il. Elizabeth Teixeira. Ática. 169 - 2004 Pedro e Lua. Odilon Moraes. Il. Odilon Moraes. Cosac Nayf. - 2005 Cacoete – Hors-concours. Eva Furnari. Il. Eva Furnari. Ática. - 2005 Jõao por um fio – Hors- concours. Roger Melo. Il. Roger Melho. Companhia das Letras. - 2005 Murucututu a coruja grande da noite. Marcos Bagno. Il. Nelson Cruz. Ática. - 2005 Procura-se Lobo – Hors-concours. Ana Maria Machado. Il. Laurent Cardon. Ática. - 2006 O menino e o cachorro. Simoni Bibian. Il Mariana Massarani. Manati. 170 - 2006 Felpo Filva – Hors-concours. Eva Furnari. Il. Eva Furnari. Moderna. 171 Anexo 2: Formulário PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO: Conhecimento e Inclusão Social Faculdade de Educação da UFMG Linha de Pesquisa: Educação e Linguagem 1 Dados da escola/ da biblioteca Nome da escola: ________________________________________________________________ Endereço:______________________________________________________________________ Telefone:___________________________ 1.1 A escola atende: ( ) Educação Infantil ( ) Ensino Fundamental 1° e 2° ciclos ( ) EJA ____ ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Fundamental 3° ciclo 1.2 As quais turnos atende: ( ) Manhã ( ) Tarde ( ) Noite 1.3 A escola possui biblioteca: ( ) Sim ( ) Não 1.4 Horário de funcionamento da biblioteca ____________________________________________ Obs: As pesquisadoras devem, em momento posterior, fazer uma breve descrição do espaço da biblioteca (tamanho, equipamentos, acervo, sistema de catalogação, organização dos livros e, se possível, fotografar o espaço). 2 - Dados pessoais dos entrevistados 2.1 Nome______________________________________________________________________ E-mail_________________________________Telefone______________________________ 2.2 Formação: ( ) Ensino Médio___________________ ( ) Graduação___________________________ ( ) Especialização__________________ ( ) Pós-graduação________________________ ( ) Curso em andamento ( ) Concluído 2.3 Cargo que ocupa na biblioteca: Manhã ( )Bibliotecário(a) ( )Aux. de biblioteca ( ) Professor(a) ( ) Estagiário(a) Tarde ( )Bibliotecário(a) ( )Aux. de biblioteca ( ) Professor(a) ( ) Estagiário(a) Noite ( )Bibliotecário(a) ( )Aux. de biblioteca ( ) Professor(a) ( ) Estagiário(a) 2.4 Forma de ingresso no cargo: ( ) Concurso público ( ) Laudo médico ( ) Outros_______________________________________ 2.5 Há quanto tempo está na biblioteca?______________________________________________ 2.6 Qual o bibliotecário responsável por essa biblioteca? Nome___________________________________________________Telefone:_______________ 2.6.1 Qual a participação do bibliotecário junto aos responsáveis pela a biblioteca? 172 ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 2.6 A PBH oferece ou já ofereceu algum tipo de capacitação para os profissionais que atuam na biblioteca? Você participou de alguma dessas capacitações? ( ) Sim ( ) Não ( ) Não soube informar Citar________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________ 2.6.1 Você já participou de outras capacitações que não foram oferecidas pela PBH? ( ) Sim ( ) Não Citar________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Obs: As pesquisadoras devem priorizar o contato com os auxiliares de biblioteca, tendo em vista a pesquisa da mestranda Elaine. 2.7 Sua escola possui projeto político pedagógico? ( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes ( ) Não soube informar Em caso afirmativo, você participou de sua elaboração? ____________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 3 Dados de composição e uso do acervo 3.1 Conte-nos o que você sabe sobre a aquisição de livros para a biblioteca. Por exemplo: a escola possui recurso próprio para a compra? Quem se encarrega da tarefa e escolher e/ou comprar os livros que compõem o acervo da biblioteca? Que critérios de escolha são utilizados? Gostaria de acrescentar alguma informação sobre esse processo de constituição do acervo? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ______________________________________________________ Sobre a FNLIJ ( Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) 3.2 Você conhece a FNLIJ e se tem conhecimento de sua premiação anual. ( ) Sim ( ) Não ( ) Não soube informar Em caso afirmativo, como tomou conhecimento? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 3.2.1 A lista da FNLIJ teve alguma influência na participação da escolha dos acervos? ( ) Sim ( )Não ( ) Não soube informar 3.2.1 Apresentar a lista dos livros premiados, na categoria criança, pela FNLIJ, (Anexo 1), solicitando identificação de quais deles a escola possui e a quantidade. Auxiliar, se for o caso, nessa coleta de dados. 3.2.2 Você saberia informar quais dos livros desta lista, existentes na escola, são mais lidos ou esquecidos pelas crianças? __________________________________________________________ 173 ____________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 3.2.3 Por que estes livros são mais lidos? Alguém indica ou são escolhas espontâneas? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________ 3.2.4 Independente da lista apresentada, quais livros são mais escolhidos pelas crianças? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________ 3.2.5 Existe algum trabalho realizado pelos professores e/ou profissionais que atuam na biblioteca com os livros premiados na categoria criança pela FNLIJ? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________ Sobre o PNBE (Programa Nacional de Biblioteca da Escola do MEC) 3.3 Você conhece o Programa e tem informações gerais sobre sua presença na biblioteca em que atua. ( ) Sim ( ) Não ( ) Não soube informar Em caso afirmativo, como tomou conhecimento? ______________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 3.3.1 Os livros das duas últimas edições do Programa (PNBE/2005 e PNBE/2006), chegaram à escola?  1o e 2º ciclos (PNBE/2005) ( )Sim ( ) Não ( ) Não soube informar OBS.:_______________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________  2º e 3º ciclos (PNBE/2006) ( )Sim ( ) Não ( ) Não soube informar OBS.:_______________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Obs. Dependendo da resposta, as pesquisadoras deverão identificar, na escola, o profissional que possua essas informações e as que se seguem. 3.3.2 Quais os acervos escolhidos? Quantos acervos a escola pôde escolher? Os acervos escolhidos chegaram efetivamente ou vieram outros? Onde os acervos foram colocados?  1º e 2º ciclos ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________  2º e 3º ciclos ______________________________________________________________________________ 174 ____________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 3.3.3 Qual ou quais profissionais da escola se responsabilizaram pelas escolhas? (Se possível perguntar ao profissional que se responsabilizou pela escolha dos acervos do PNBE/2005 e do PNBE/2006. Quais foram os critérios para a realização dessa escolha?). ____________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 3.4 Existe algum trabalho realizado pelos professores e/ou profissionais que atuam na biblioteca com os livros recebidos pelo PNBE? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 3.5 Você saberia indicar nome ou nomes de professores que atuam de 5ª a 8ª séries (2º e 3º ciclos) e desenvolvem um trabalho mais intenso com a literatura? ____________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 4 - Mediações de Leitura no espaço da biblioteca escolar 4.1 Quais as principais atividades desenvolvidas com os alunos na biblioteca escolar? Quem as desenvolve? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________ Obs.: As pesquisadoras devem ficar atentas para identificar atividades de mediação de leitura, tendo em vista a pesquisa realizada pela Elaine. 4.2 Você poderia relatar alguma experiência significativa de leitura literária que tenha ocorrido na escola? (em especial, na biblioteca) ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 4.3 Você ou algum profissional da biblioteca já participou ou participa de projeto integrado com outros professores da escola? Poderia citar algum? ____________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 4.4 Você gostaria de acrescentar mais alguma informação que considere importante? ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________ ______________________________________________________ 5 Dados da pesquisadora Nome: ___________________________________________________________________________ Telefone: _____________________________ Data da entrevista:_____/_____/_________ Turno: _________________________________ 175 Identifique se a escola possui algum dos livros abaixo e a quantidade de exemplares: ( )O meninomarrom.34( )É isso ali17 ( )O menino e o cachorro.33( )Dez sacizinhos16 ( )Uxa, ora fada, ora bruxa. 49( ) O menino de olho d’água 32( )De morte! 15 ( )Uni duni e te.48( )O dono daverdade. 31( )De carta em carta14 ( )Uma ilha lá longe47( )O curumim que virou gigante 30( )Chica e João13 ( )Sua alteza a Divinha46( ) Murucututu a coruja grande da noite 29( ) Chamuscou, não queimou. Coleção Assim é se lhe parece 12 ( )Sete histórias para sacudir o esqueleto45( ) Minhas memórias de Lobato28( )Cacoete11 ( )Raul da ferrugem azul44( )Menino do riodoce. 27( ) Até passarinho passa10 ( )Procura-se Lobo43( )Meninos do mangue. 26( ) As viagens de Raoni9 ( )Pedro e a Lua42( )Menina Nina.25( )Asa de papel8 ( )Pedro 41( )Mania de explicação. 24( ) A princesinha medrosa7 ( )O segredo da chuva40( )Ludi na revolta da vacina23( )Angélica6 ( )Os bichos que tive39( )João por um fio. 22( )A mãe da mãe da minha mãe 5 ( )O Rei de Quase Tudo. 38( ) Indo não sei aonde buscar não sei o quê. 21( )A cristaleira4 ( )O problema de Clóvis.37( )Fiz voar o meu chapéu 20( )Abrindo caminho3 ( )O que os olhos não vêem. 36( )Felpo e Filva19( )A bolsa amarela2 ( )O pega-pega. Col.: Gato e Rato 35( )Eu e minha luneta18( )ABC doido1 176 Anexo 3: Termo de compromisso FNLIJ FUNDAÇÃO NACIONAL DO LIVRO INFANTIL E JUVENIL Seção Brasileira do IBBY Rio de Janeiro, 01 de agosto de 2008. FNLIJ/SG-0027/2008 SELEÇÃO ANUAL FNLIJ/2009 (Produção 2008) TERMO DE COMPROMISSO INTRODUÇÃO A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, como seção brasileira do IBBY, tem como seus objetivos incrementar e promover a produção de livros de qualidade para crianças e jovens no Brasil. Para isto, anualmente, concede o PRÊMIO/FNLIJ, nas seguintes categorias: Criança; Jovem; Imagem; Informativo; Tradução/Adaptação Criança; Tradução/Adaptação Jovem; Tradução/Adaptação Informativo; Tradução/Adaptação Reconto; Poesia; Teórico; Literatura em Língua Portuguesa; Livro Brinquedo; Teatro; Reconto; Projeto Editorial; Revelação Escritor; Revelação Ilustrador e A Melhor Ilustração. Para participar da Seleção Anual/FNLIJ a editora e/ou o autor devem enviar para a FNLIJ cinco exemplares de cada livro publicado no ano de 2008. A editora que enviar somente 01(um) exemplar para a FNLIJ não terá o seu livro avaliado. A FNLIJ e os votantes têm autonomia para apresentar, para avaliação, livros que não cheguem por intermédio dos editores e/ou dos autores. Embora não seja obrigatório o envio de 01(um) exemplar para cada votante, a FNLIJ orienta aos editores para a importância desse envio, principalmente para aqueles que moram fora do Estado do Rio de Janeiro. Os votantes não são remunerados pela leitura crítica dos livros, sendo que a maioria realiza o trabalho de leitura em seus horários livres e em casa. Ao receberem os livros os especialistas são potenciais divulgadores da produção nacional do setor. Por isto, é muito importante que todo o processo de Seleção, que inclui o recebimento desses livros, seja o mais transparente possível. O júri de votantes está vedado aos autores (escritores e ilustradores) que possuam títulos publicados no ano da produção em avaliação, bem como às pessoas vinculadas, profissionalmente, às editoras, funcionários ou prestadores de serviço. Isto se aplica também a todos os membros de um mesmo grupo considerado votante. 177 CONSTITUEM OBRIGAÇÕES DA FNLIJ a) A FNLIJ se compromete a informar aos editores os nomes dos votantes acompanhados de seus endereços para que os livros sejam enviados diretamente pelas editoras. b) A FNLIJ disponibilizará o seu acervo, para empréstimo, aos votantes moradores do Rio de Janeiro, sempre que for requisitado pelos mesmos. c) A FNLIJ auxiliará os votantes, na medida das suas possibilidades técnicas e institucionais, para que possam desempenhar as funções para a qual estão sendo selecionados. d) A FNLIJ compromete-se a divulgar o nome de todos os votantes que participam da Seleção Anual e a fornecer declaração, ao final do processo, atestando sua participação. e) A FNLIJ enviará a lista dos Altamente Recomendáveis, pelo correio, para todos os votantes, pressupondo, da parte dos mesmos, o cumprimento de suas obrigações conforme o item das obrigações dos votantes deste Termo de Compromisso. CONSTITUEM OBRIGAÇÕES DOS VOTANTES a) Quanto à participação como votante – O votante se compromete a informar, por escrito, que não é vinculado profissionalmente à nenhuma editora, seja como funcionário ou prestador de serviços, eventual ou permanente durante o período da seleção. b) Quanto à obrigatoriedade do voto – É obrigatória a participação do votante, com o envio dos votos em TODAS as etapas do processo de seleção, sob pena de exclusão, conforme o Regulamento. c) Quanto aos critérios de avaliação - o votante se compromete a analisar e observar cada livro quanto aos seguintes aspectos: a originalidade do texto, a originalidade da ilustração, o uso artístico e competente da língua e do traço, a qualidade das traduções considerando sempre o conceito de objeto-livro, que inclui o projeto editorial e gráfico. d) Quanto à leitura dos livros – O conhecimento dos livros que estão sendo avaliados é condição básica para o votante fazer parte da Seleção Anual/FNLIJ. Considerando que: - o votante é um especialista em literatura infantil e juvenil e, portanto, tem mais facilidade e interesse de ter acesso aos livros por outros meios, além do recebimento diretamente das editoras, por indicação da FNLIJ; - para concorrer à Seleção Anual/FNLIJ os editores não têm obrigação de enviar os livros aos votantes. E se comprometem a buscar em livrarias e bibliotecas os livros que não tenham recebido diretamente das editoras. Cada votante se compromete a enviar para a FNLIJ, a partir de cada lista de livros, a relação dos livros que não recebeu diretamente das editoras e os que não conseguiu por outros meios para que a FNLIJ obtenha o retrato mais fiel possível do que representou a leitura do júri. 178 e) Quanto aos livros informativos – Os livros informativos que contêm informações científicas, teóricas e históricas necessitam do apoio de uma avaliação especializada e criteriosa. O votante se compromete a buscar a opinião de especialistas sobre os respectivos assuntos de que trata o livro analisado. O votante deve informar à FNLIJ a conduta adotada em relação a esse item. f) As etapas do processo de Seleção Anual/FNLIJ Primeira fase – A primeira fase da seleção compreende vários momentos de leitura e de pré-seleção dos quais todos os votantes devem participar. Ao final desta fase serão escolhidos, a partir da lista final da pré-seleção, os livros Altamente Recomendáveis e aqueles que constituirão o Acervo Básico. O votante se compromete a informar quais livros não foi possível ler da lista final da pré-seleção, e quais os motivos (falta de tempo ou não recebimento) a fim de se conhecer o universo de títulos em que se deu a escolha. Sem esta informação não serão considerados os votos. Todos os votantes da Primeira fase fazem parte da Segunda. Aquele que deixar de enviar seus votos nesta fase, dentro do prazo, sem uma justificativa pertinente, será excluído do grupo de votantes. Os votos enviados são computados e apresentados em reunião, na sede da FNLIJ, quando são definidas as listas dos Altamente Recomendáveis e do Acervo Básico. Segunda fase – Esta fase define o Prêmio FNLIJ em cada categoria. O votante se compromete a reler todos os livros AR e escolher 3 (três) de cada uma das 16 categorias, enviando a justificativa, da escolha de cada um dos primeiros colocados em sua avaliação. O votante deverá indicar os seus selecionados para os Prêmios Revelação nas categorias Escritor e Ilustrador, a partir das informações enviadas pela FNLIJ de quais são os escritores e ilustradores estreantes. As justificativas deverão analisar o livro do ponto de vista da categoria e do objeto livro como um todo, isto é, texto, ilustração e projeto gráfico. g) A divulgação da FNLIJ - O votante se compromete a divulgar o trabalho da FNLIJ, a saber: além da referência ao trabalho de Seleção Anual FNLIJ o votante deve procurar manter-se informado sobre as atividades da FNLIJ, por meio do Notícias e sempre que possível divulgar os seus projetos, contribuindo, assim, com a promoção da instituição, apresentando-a para elaboração de projetos e trabalhos de consultoria e assessoria, que poderão ser feitos em parceria com o votante. O votante deverá se comprometer a angariar sócios contribuintes para a FNLIJ. Caso o votante use a lista de selecionados da FNLIJ como base para o desenvolvimento de projetos ou assessorias, este se compromete a registrar o crédito à FNLIJ. h) O uso dos acervos – Participar da Seleção Anual FNLIJ significa também poder estar atualizado com a produção editorial anual brasileira, devido à colaboração da imensa maioria das editoras que enviam seus livros para os votantes em suas casas ou locais de trabalho. Ao longo do tempo, os votantes acumulam uma quantidade expressiva de livros sendo que muitos doam esses livros para criar ou apoiar pequenas bibliotecas ou mesmo para criar novos projetos. Outros guardam os livros para subsidiar seus trabalhos ou partilhar a leitura e a reflexão com outros profissionais. 179 Ao final do processo anual, o votante se compromete a informar à FNLIJ o destino dado aos livros recebidos. Os livros doados para bibliotecas ou projetos deverão ter um carimbo registrando a origem dos livros: nome acompanhado da informação: votante da Seleção Anual da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, o que possibilita um registro histórico importante para o votante e para a FNLIJ. O processo de seleção de livros, que inclui o recebimento dos mesmos, deve ser o mais transparente possível informando à sociedade e aos editores o uso social que os votantes indicados pela FNLIJ fazem desses livros. i) O uso das listas de Altamente Recomendáveis – O votante não tem autorização para divulgar a lista dos livros Altamente Recomendáveis em meios impressos, radiofônicos e eletrônicos. j) O uso da lista do Prêmio/FNLIJ – Somente depois da divulgação pela FNLIJ os votantes terão acesso à lista e poderão divulgá-la. De acordo: Elizabeth D’Angelo Serra ………………………………… Secretária Geral Votante Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil Rio de Janeiro, de de 2008. Nome do votante: Endereço completo: Tel/Fax: E-mail: 180 Anexo 4: Regulamento do Prêmio FNLIJ FUNDAÇÃO NACIONAL DO LIVRO INFANTIL E JUVENIL Seção Brasileira do IBBY Rua da Imprensa, 16 salas 1212 a 1215 - 20.030-120 - Rio de Janeiro - RJ Tel: 21-2262-9130 Fax: 21-2240-6649 e-mail: fnlij@fnlij.com.br 35ª Seleção Anual FNLIJ PRÊMIO FNLIJ 2009 PRODUÇÃO 2008 REGULAMENTO Disposições Gerais Art. 1º - O Prêmio FNLIJ, criado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil FNLIJ, seção brasileira do International Board on Books for Young People/IBBY, teve a sua primeira versão em 1974, com a instituição do Prêmio O Melhor Para A Criança, concedido ao melhor livro infantil publicado em língua portuguesa, no Brasil, naquele ano. A premiação conta, atualmente, com 18 categorias: Criança, Jovem, Imagem, Poesia, Informativo, Tradução Criança, Tradução Jovem, Tradução Informativo, Tradução Reconto, Projeto Editorial, Revelação Escritor, Revelação Ilustrador, Melhor Ilustração, Teatro, Livro Brinquedo, Teórico, Reconto e Literatura de Língua Portuguesa. No processo de Seleção Anual da FNLIJ para a escolha das melhores obras publicadas, os livros recebidos pela FNLIJ são lidos e avaliados, em diferentes etapas, por especialistas de todas as regiões do Brasil, os leitores votantes do Prêmio FNLIJ. Art. 2º - A Seleção Anual da FNLIJ tem como objetivos: (i) identificar e dar publicidade aos melhores títulos editados para crianças e jovens; (ii) estimular o trabalho de escritores, ilustradores, tradutores, editores que se dedicam à literatura infantil e juvenil, assim como aos livros informativos para o segmento infantil e juvenil; (iii) incrementar e promover a produção de livros de qualidade para crianças e jovens no Brasil; (iv) promover a leitura literária j unto à população em geral, e em particular,para educadores, considerando-a como básica para a formação cultural de crianças e jovens; (v) subsidiar a ação de pesquisadores, escritores, pais, editores, autores e especialistas em literatura para crianças e jovens quanto à informação sobre leitura e literatura infantil e juvenil; (vi) criar uma base referencial de qualidade, permanentemente atualizada, sobre literatura infantil e juvenil e leitura; (vii) subsidiar a formação de professores por meio do uso das informações disponibilizadas na Internet e pesquisa no Centro de Documentação da FNLIJ; (viii) subsidiar políticas culturais e educacionais de compra de acervos e programas de leitura em todos os níveis de governo ou fora deles. Inscrições 181 Art. 3º - A participação na 35ª Seleção Anual da FNLIJ, que culmina nos Prêmios FNLIJ para os melhores livros, está aberta a todos os profissionais do livro e editoras que tenham títulos em língua portuguesa, no Brasil, publicados em 1ª edição/ copyright no ano de 2008. § 1º - A inscrição é gratuita e será feita mediante o envio de 5 (cinco) exemplares de cada livro publicado, de 1º de janeiro até 31 de dezembro de 2008, para o endereço: FUNDAÇÃO NACIONAL DO LIVRO INFANTIL E JUVENIL FNLIJ Rua da Imprensa nº 16, salas 1212 a 1215 CEP 20030-120 - Rio de Janeiro RJ § 2º - Os livros deverão ser enviados até o dia 31 de dezembro de 2008. § 3º - Não serão consideradas inscritas as obras que chegarem a FNLIJ com menos de 5 (cinco) exemplares; § 4º - Embora não seja obrigatório o envio de 01(um) exemplar para cada votante (divulgador da produção nacional no setor em potencial), a FNLIJ orienta aos editores para a importância desse ato, principalmente para aqueles votantes que moram fora do Estado do Rio de Janeiro e que não podem consultar a Biblioteca da FNLIJ. Sendo assim, a FNLIJ informará aos interessados, quando solicitada, por meio do e-mail fnlij@fnlij.org.br com cópia para premio@fnlij.org.br, a lista contendo nome e endereço dos leitores votantes da FNLIJ, para que os inscritos possam encaminhar diretamente seus títulos; § 5º - Os autores ou editores que desejam que suas obras participem da seleção para o catálogo de livros de escritores e/ ou ilustradores brasileiros que a FNLIJ organiza todos os anos para a Feira de Bolonha, deverão encaminhar seus exemplares (títulos da produção editorial de 2008) até o dia 30 de setembro de 2008; § 6º - Funcionários da FNLIJ, assim como os membros do júri, e/ ou seus parentes em primeiro e segundo graus não poderão participar com livros de suas autorias da Seleção Anual da FNLIJ. § 7º - A apresentação da inscrição implica a aceitação incondicional de todas as disposições do presente regulamento. Art. 4º - As inscrições que não atenderem ao disposto no presente regulamento serão automaticamente desclassificadas. Parágrafo único - Eventuais dúvidas sobre o processo de inscrição poderão ser dirimidas pelo endereço eletrônico fnlij@fnlij.org.br ou premio@fnlij.org.br ou pelo telefone 21 2262 9130. Art. 5º - Na primeira fase da Seleção Anual da FNLIJ serão escolhidos os Altamente Recomendáveis e também os livros para o Acervo Básico. Fazem parte do Acervo Básico aqueles livros que contêm algum tipo de interesse para o leitor e que podem fazer parte de uma biblioteca com o aval da FNLIJ. Art. 6º - Na segunda fase da Seleção Anual da FNLIJ, os livros mais votados e considerados, na sua categoria, O Melhor Livro do Ano, receberão o Prêmio FNLIJ. Comissão Julgadora e Julgamento das obras Art. 7º - A comissão julgadora do Prêmio FNLIJ é constituída por especialistas em Literatura Infantil e Juvenil selecionados pela FNLIJ. § 1º - O trabalho de leitura crítica dos profissionais do júri de várias regiões do país ratifica o caráter nacional das avaliações, visando refletir a variedade de interpretações presentes na leitura dos livros, baseada na experiência teórica e prática de todos, o que agrega maior valor à Seleção Anual da FNLIJ; § 2º - Quanto aos critérios de avaliação, o votante se compromete a analisar e observar cada livro quanto aos seguintes aspectos: a originalidade do texto, a originalidade da ilustração, o uso artístico e competente da língua e do traço, a qualidade das traduções, considerando o conceito de objeto-livro, que inclui o projeto editorial e gráfico; § 3º - A comissão julgadora poderá decidir não conferir prêmio à determinada categoria, desde que considere que nenhum dos títulos inscritos apresenta qualidade necessária para ser premiado ou cumpre os requisitos determinados no presente regulamento; 182 § 4º - As decisões da comissão julgadora serão definitivas, não cabendo contra tais decisões quaisquer recursos, reclamações ou impugnações. HORS CONCOURS Art. 8º - A fim de estimular novos escritores e ilustradores, desde 1992, a FNLIJ criou o Hors Concours para cada prêmio. Ele ocorre quando o mais votado na categoria já ganhou pelo menos três vezes o Prêmio FNLIJ como escritor ou como ilustrador. RESULTADO E ENTREGA DOS PRÊMIOS Art. 9º - A comunicação dos livros considerados Altamente Recomendáveis pela FNLIJ e os incluídos no Acervo Básico será feita inicialmente às editoras. Art. 10º - Posteriormente, de acordo com o calendário da FNLIJ serão enviados certificados dos Altamente Recomendáveis aos editores, escritores, ilustradores e tradutores contemplados com o referido título. Art. 11º - O resultado do Prêmio FNLIJ será colocado à disposição para consulta na página eletrônica da FNLIJ na Internet (www.fnlij.org.br). Art. 12º - A solenidade de premiação será marcada em ocasião oportuna e sua data e local serão comunicados a todos os editores participantes, com a devida antecedência. Art. 13º - Os responsáveis pela publicação do título e/ou pela sua autoria comprometem se a empenhar-se a comparecer à solenidade de entrega dos certificados dos Prêmios FNLIJ. Disposições Finais Art. 14º - Os livros encaminhados para a inscrição no Prêmio FNLIJ não serão devolvidos e passarão a fazer parte do acervo do Centro de Documentação e Pesquisa da FNLIJ. Art. 15º - Os casos omissos serão resolvidos pela c 183 Anexo 5: Carta enviada aos integrantes do júri da FNLIJ FUNDAÇÃO NACIONAL DO LIVRO INFANTIL E JUVENIL Seção Brasileira do IBBY Rio de Janeiro, 01 de agosto de 2008. FNLIJ/SG-0027/2008 Aos Votantes FNLIJ,, É com satisfação que damos início ao processo de Seleção Anual FNLIJ/2009 (Produção 2008). Sua participação, como membro da equipe de votantes da Seleção Anual FNLIJ/2008 (produção 2007), contribuiu, mais uma vez, para valorizar o trabalho de todos os votantes e da FNLIJ. A leitura crítica dos profissionais que participam do júri ratifica o caráter nacional das avaliações, refletindo a variedade de interpretações presentes na leitura dos livros, o que agrega maior valor à Seleção Anual da FNLIJ. O envio das informações solicitadas para encerrar o processo Seleção Anual FNLIJ/2008 (Produção 2007), assim como seu exaustivo trabalho de leitura, foram muito importantes para o nosso trabalho. Seguem, em anexo, o Termo de Compromisso para a Seleção Anual FNLIJ – 2009 (Produção 2008), que deverá ser devolvido uma cópia assinada à FNLIJ, e o regulamento do Prêmio Anual FNLIJ. Solicitamos que leiam atentamente, todos os itens que explicitam os compromissos dos votantes com a FNLIJ, avaliando se terão disponibilidade para atender aos prazos e condições de prestar todas as informações solicitadas antes de confirmarem a sua participação para a Seleção Anual FNLIJ/2009 (Produção 2008). Será uma honra poder contar, mais uma vez, com a sua colaboração como parte do grupo de votantes da Seleção Anual FNLIJ/2009 (Produção 2008). Atenciosamente, Elizabeth D'Angelo Serra Secretária Geral - FNLIJ 184 Anexo 6: Relação de todas as escolas da RMBH Questionário aplicado REGIONAL BARREIRO Aires da Mata Machado Ana Alves Teixeira Antônio Aleixo Antônio Mourão Guimarães Antônio Salles Barbosa Aurélio Buarque de Holanda CIAC-Lucas Monteiro Machado Cônego Sequeira Vila Pinho Dinorah Magalhães Fabri Dulce Maria Homem Edith Pimenta da Veiga Eloy Heraldo Lima Helena Antipoff Jonas Barcellos Corrêa Luiz Gatti Luiz Gonzaga Júnior Padre Flávio Giammetta Pedro Aleixo Pedro Nava Professor Mello Cançado Professor Hilton Rocha Professora Isaura Santos Sebastião Guilherme de Oliveira União Comunitária Vinícius de Moraes Prof. José Braz REGIONAL CENTRO SUL Arthur Versiani Velloso Benjamim Jacob Caio Libano Soares Imaco Marconi Mestre Paranhos Professor Edson Pisani Professora Marilia Tanure Pereira Santo Antônio Senador Levindo Coelho Ulysses Guimarães REGIONAL LESTE Emidio Berutto Fernando Dias Costa George Ricardo Salum Israel Pinheiro Levindo Lopes 185 Maria das Neves Monsenhor João Rodrigues de Oliveira Padre Francisco Carvalho Moreira Padre Guilherme Peters Paulo Mendes Campos Professor Domiciano Vieira Professor Lourenço de Oliveira Professora Alcida Torres Santos Dumont São Rafael Theomar de Castro Espindola Wladimir de Paula Gomes REGIONAL NORDESTE Agenor Alves de Cavalho Agenor de Sena Américo Renê Giannetti Anísio Teixeira Francisco Azevedo Francisco Bressane de Azevedo Governador Carlos Lacerda Governador Ozanam Coelho Henriqueta Lisboa Honorina Rabello Hugo Pinheiro Soares Humberto Castelo Branco José de Calasanz Maria da Assunção de Marco Murilo Rubião Oswaldo França Júnior Pérsio Pereira Pinto Prefeito Sousa Lima Prof. Edgar da Matta Machado Prof. Milton Lage Professor Paulo Freire Profª. Acidalia Lott Profª Consuelita Cândida Professora Eleonora Pieruccetti Profª Helena Abdalla Professora Maria Mazarello Professora Maria Modesta Cravo Sobral Pinto Jardim Municipal Elos Jardim Municipal Renascença REGIONAL NOROESTE Arthur Guimarães Augusta Medeiros Carlos Góis Dom Jaime de Barros Câmara Dr. José Diogo de Almeida Magalhães 186 Honorina de Barros Ignácio de Andrade Melo João Pinheiro Júlia Paraíso Luigi Toniolo Maria de Rezende Costa Marlene Pereira Rancante Monsenhor Arthur de Oliveira Nossa Senhora do Amparo Padre Edeimar Massote Prefeito Oswaldo Pieruccetti Prof. Mario Werneck Professor Cláudio Brandão Professor João Camilo de OliveiraTorres Colégio Municipal de Belo Horizonte Jardim Municipal Cornélio Vaz de Melo Jardim Municipal Maria da Glória Lommez REGIONAL NORTE Acadêmico Vivaldi Moreira Cônsul Antônio Cadar Desembargador Loreto Ribeiro de Abreu Hebert José de Souza Florestan Fernandes Francisco Campos Francisco Magalhães Gomes Hélio Pellegrino Hilda Rabello Matta Jardim Felicidade José Maria dos Mares Guia Josefina Souza Lima Maria Silveira Minervina Augusta Professor Daniel Alvarenga Rui da Costa Val Sebastiana Novais Secretário Humberto de Almeida Tristão da Cunha REGIONAL OESTE Ensino Especial Frei Leopoldo Deputado Milton Salles Francisca de Paula Hugo Werneck João do Patrocínio Magalhães Drumond Mestre Ataíde Oswaldo Cruz Padre Henrique Brandão Prefeito Aminthas de Barros Profª. Efigênia Vidigal 187 Salgado Filho Tenente Manoel Magalhães Penido Jardim Municipal Maria Sales Ferreira Jardim M.Prof.Christovam Colombo dos Santos REGIONAL PAMPULHA Anne Frank Aurélio Pires Carmelita Carvalho Garcia Dom Orione Francisca Alves José Madureira Horta Lídia Angélica Maria de Magalhães Pinto Professor Amilcar Martins Profª. Alice Nacif Santa Terezinha Jardim Municipal Henfil REGIONAL VENDA NOVA Adauto Lúcio Cardoso Antônia Ferreira Antônio Gomes Horta Armando Ziller Carlos Drummond de Andrade Cônego Raimundo Trindade Cora Coralina Deputado Renato Azeredo Dora Tomich Laender Ensino Especial do Bairro Venda Nova Elisa Buzelin Geraldo Texeira da Costa Gracy Vianna Lage Joaquim dos Santos José Maria Alkmim Mário Mourão Filho Milton Campos Moysés Kalil Padre Marzano Matias Presidente Tancredo Neves Prof. Moacyr Andrade Prof. Pedro Guerra Professor Tabajara Pedroso Professora Ondina Nobre Tancredo Phídeas Guimarães Vereador Antônio Menezes Vicente Guimarães Jardim Muicipal Alessandra Salum Cadar Jardim Municipal Míriam Brandão 188 Anexo 7: Quantidade de exemplares por títulos nas bibliotecas escolares 189 190 Anexo 8 : O livro premiado tem em quantas escolas? 191 192 Anexo 9: Quantidade de títulos premiados de cada escola 193 194 195 196 Anexo 10: Análise dos livros premiados na categoria criança pela FNLIJ N o Livros Imagem Cores Letra Escrito Formato Págs. Fonte Gênero Sumário Autor Ilustrador 1 ABC doido Sim Sim Fôrma maiúscula Pouco 15x15 *95 Grande Adivinha Não Angela Lago Angela Lago 2 A bolsa amarela Sim Não Fôrma minúscula Muito 19x24 115 Pequena Narrativa Sim Lygia Bojunga Marie Louise Nery 3 Abrindo caminho Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 25x30 *39 Média Narrativa Não Ana Maria Machado Elisabeth Teixeira 4 A cristaleira Sim Sim Fôrma minúscula Médio 21x27 23 Pequena Narrativa Não Graziela Bozano Roger Mello 5 A mãe da mãe da minha mãe Sim Sim Fôrma minúscula Médio 21x20 *18 Pequena Narrativa Não Terezinha Alvarenga Angela Lago 6 Angélica Sim Não Fôrma minúscula Muito 16x23 116 Pequena Narrativa Sim Lygia Bojunga Vilma Pasqualim 7 A princesinh a medrosa Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 21x14 *45 Pequena Narrativa Não Odilon Moraes Odilon Moraes 8 Asa de papel Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 23x27 23 Grande Narrativa Não Marcelo Xavier Marcelo Xavier 9 As viagens de Raoni Sim Não Fôrma minúscula Médio 16x22 *25 Pequena Narrativa Não Pedro Veludo Demósten es Vargas 1 0 Até passarinh o passa Sim Sim Fôrma minúscula Médio 17x24 31 Média Narrativa Não Bartolomeu Campo de Queirós Elisabeth Teixeira 197 N o Livros Imagem Cores Letra Escrito Formato Págs Fonte Gênero Sumário Autor Ilustrador 1 1 Cacoete Sim Sim Fôrma minúscula Médio 22x28 32 Pequena Narrativa Não Eva Furnari Eva Furnari 1 2 Chamusc ou, não queimou Sim Sim Fôrma minúscula Médio 21x27 *31 Pequena Narrativa Não Angela Carneiro, Lia Neiva e Sylvia Orthof Elisabeth Teixeira, Roger Mello e Mariana Massarani 1 3 Chica e João Sim Sim Fôrma minúscula Médio 21x28 36 Pequena Narrativa Não Nelson Cruz Nelson Cruz 1 4 De carta em carta Sim Sim Fôrma minúscula Médio 21x27 31 Pequena Narrativa Não Ana Maria Machado Nelson Cruz 1 5 De morte! Sim Não Fôrma minúscula Pouco 20x21 *27 Grande Adivinha Não Angela Lago Angela Lago 1 6 Dez sacizinhos Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 24x22 *16 Grande Versos Não Tatiana Belinky Roberto Weigand 1 7 É isso ali Sim Não Fôrma minúscula Médio 16x23 *45 Pequena Versos Sim José Paulo Paes José Paulo Paes 1 8 Eu e minha luneta Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 21x32 23 Grande Narrativa Não Cláudio Martins Cláudio Martins 1 9 Felpo e Filva Sim Sim Fôrma minúscula Médio 17x24 56 Pequena Narrativa Não Eva Furnari Eva Furnari 2 0 Fiz voar o meu chapéu Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 22x28 23 Grande Versos Não Ana Maria Machado Zeflávio Teixeira 198 N o Livros Imagem Cores Letra Escrito Formato Págs Fonte Gênero Sumário Autor Ilustrador 2 1 Indo não sei aonde buscar não sei o quê Sim Sim Fôrma maiúscula Pouco 21x20 *28 Grande Narrativa Não Angela Lago Angela Lago 2 2 João por um fio Sim verme -lho e preto Fôrma maiúscula Pouco 23x15 *42 Pequena Narrativa Não Roger Mello Roger Mello 2 3 Ludi na revolta da vacina Sim Não Fôrma minúscula Muito 16x23 92 Pequena Narrativa Não Luciana Sandroni Humberto Guimarães 2 4 Mania de explicação Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 21x28 *46 Grande Narrativa Não Adriana Falcão Mariana Massarani 2 5 Menina Nina Sim Sim Fôrma minúscula Médio 20x26 37 Média Narrativa Não Ziraldo Ziraldo 2 6 Meninos do mangue Sim Sim Fôrma minúscula Muito 19x27 70 Pequena Narrativa Sim Roger Mello Roger Mello 2 7 Menino do rio doce Sim Sim Fôrma minúscula Médio 20x26 *29 Média Narrativa Não Ziraldo Demóstene s Vargas 2 8 Minhas memórias de Lobato Sim Sim Fôrma minúscula Muito 16x23 88 Pequena Narrativa Não Luciana Sandroni Laerte 2 9 Murucutut u a coruja grande da noite Sim Sim Fôrma minúscula Médio 22x28 39 Pequena Narrativa Não Marcos Bagno Nelson Cruz 3 0 O curumim que virou gigante Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 23x19 24 Média Narrativa Não Joel Rufino dos Santos Lúcio Lacourt 3 1 O dono da verdade Sim Sim Fôrma minúscula Médio 20x26 45 Pequena Narrativa Não Bia Hetzel Mariana Massarani 199 N o Livros Imagem Cores Letra Escrito Formato Págs. Fonte Gênero Sumário Autor Ilustrador 3 2 O menino de olho d’água Sim Sim Fôrma minúscula Médio 22x38 *37 Grande Narrativa Não José Paulo Paes Rubens Matuck 3 3 O menino e o cachorro Sim Sim Fôrma maiúscula Pouco 21x21 *34 Grande Narrativa Não Simoni Bibian Mariana Massarani 3 4 O menino marrom Sim Sim Fôrma minúscula Médio 20x26 31 Pequena Narrativa Não Ziraldo Ziraldo 3 5 O pega- pega Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 22x19 *12 Grande Narrativa Não Mary e Eliardo França Mary e Eliardo França 3 6 O que os olhos não veêm Sim verde e preto Fôrma minúscula Médio 16x23 *32 Pequena Narrativa Não Ruth Rocha Carlos Brito 3 7 O problema de Clóvis Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 27x20 *24 Pequena Narrativa Não Eva Furnari Eva Furnari 3 8 O Rei de Quase Tudo Sim Sim Fôrma minúscula Pouco 22x20 *23 Média Narrativa Não Eliardo França Eliardo França 3 9 Os bichos que tive Sim Não Fôrma minúscula Médio 16x23 36 Pequena Narrativa Sim Sylvia Orthof Gê Orthof 4 0 O segredo da chuva Sim Sim Fôrma minúscula Médio 22x30 62 Pequena Narrativa Não Daniel Munduruku Marilda Castanha 4 1 Pedro Sim Não Fôrma minúscula Pouco 22x30 *24 Média Narrativa Não Bartolomeu C. Queirós Sara Ávila de Oliveira 4 2 Pedro e a Lua Sim Não Fôrma minúscula Pouco 23x28 *46 Média Narrativa Não Odilon Moraes Odilon Moraes 200 N o Livros Imagem Cores Letra Escrito Formato Págs. Fonte Gênero Sumário Autor Ilustrador 4 3 Procura- se Lobo Sim Sim Fôrma minúscula Médio 20x27 40 Média Narrativa Não Ana Maria Machado Laurant Cardon 4 4 Raul da ferrugem azul Sim Não Fôrma minúscula Médio 16x23 47 Pequena Narrativa Sim Ana Maria Machado Patrícia Gwiner 4 5 Sete histórias para sacudir o esqueleto Sim Cinza e azul Fôrma minúscula Médio 20x26 *61 Média Narrativa Sim Angela Lago Angela Lago 4 6 Sua alteza a Divinha Sim Não Fôrma minúscula Pouco 20x21 *29 Grande Adivinha Não Angela Lago micro computad or 4 7 Uma ilha lá longe Sim Não Fôrma minúscula Médio 21x21 31 Pequena Narrativa Não Cora Rónai Rui de Oliveira 4 8 Uni duni e te Sim Não Fôrma minúscula Médio 20x20 27 Pequena Narrativa Não Angela Lago Angela Lago 4 9 Uxa, ora fada, ora bruxa Sim vinho e marro m Fôrma minúscula Pouco 28x21 *28 Grande Narrativa Não Sylvia Orthof Tato 201 Anexo 11: Livros premiados mais procurados pelas crianças. 202 Anexo 12: Livros premiados esquecidos pelas crianças 203 Anexo 13: Livros premiados trabalhados nas bibliotecas escolares 204 Anexo 14: Edital PNBE/2008 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA PNBE 2008 EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA INSCRIÇÃO DE OBRAS DE LITERATURA NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO PARA O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA – PNBE 2008 O Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação Básica – SEB, e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE, faz saber aos titulares de direito autoral que se encontram abertas, no âmbito do Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE 2008, as inscrições para o processo de avaliação e seleção de obras de literatura para serem distribuídas às instituições de educação infantil e às escolas públicas que ofereçam as séries/anos iniciais do ensino fundamental, ou seja, 1ª a 4ª série/2º ao 5º ano, das redes municipal, estadual, federal e do Distrito Federal. 1. DO OBJETO Este Edital tem por objeto a convocação de titulares de direito autoral para inscrição de obras de literatura voltadas para alunos da educação infantil e das séries/anos iniciais do ensino fundamental, no processo de avaliação e seleção para o PNBE/2008. 2. DOS PRAZOS As etapas de cadastramento de titulares de direito autoral, pré-inscrição e inscrição das obras serão realizadas nos seguintes períodos: 2.1. Cadastramento de Titulares de Direito Autoral Do dia 05/04/2007 até às 18h do dia 14/05/2007 2.2. Pré-inscrição da(s) Obra(s) Do dia 05/04/2007 até às 18h do dia 14/05/2007 2.3. Inscrição (Entrega das Obras e da Documentação) Do dia 21/05/2007 a 25/05/2007, no período de 08h às 17h. 3. DA CARACTERIZAÇÃO DAS OBRAS 205 3.1. Serão aceitas para participar do processo de avaliação e seleção, obras de literatura voltadas para alunos da educação infantil e das séries/anos iniciais do ensino fundamental. 3.1.1. Cada obra poderá ser inscrita no PNBE 2008 para apenas uma das etapas de ensino referidas no subitem 3.1, ficando automaticamente excluída do processo quando identificada sua dupla inscrição. 3.2. Não poderão ser inscritas obras de literatura: 3.2.1. selecionadas e adquiridas nas edições de 2001, 2002, 2003 – “Literatura em minha Casa” e “Palavra da Gente”, e nas edições 2005 e 2006 do Programa Nacional Biblioteca da Escola; 3.2.2. em domínio público, originalmente escritas em língua portuguesa, ou traduzidas; 3.2.3. preponderantemente didáticas, informativas, doutrinárias, religiosas ou de referência. 3.3. Serão aceitas traduções de obras literárias, salvo o exposto no subitem 3.2.2 deste edital. 3.4. Serão aceitas adaptações de obras literárias entendendo-se por adaptação, neste caso, o endereçamento textual e editorial de determinada obra ao público infantil, ou seja, às crianças da educação infantil e das séries/anos iniciais do ensino fundamental. 3.4.1. Os critérios de tradução e adaptação utilizados, e sua adequação ao público leitor serão também avaliados, conforme consta no anexo III deste Edital. 3.5. Serão aceitas antologias, desde que se explicitem, em prefácio, o(s) critério(s) que justifica(m) a organização. Os critérios utilizados na organização e sua adequação ao público a que se destinam também serão objeto de avaliação. 4. DA COMPOSIÇÃO DOS ACERVOS 4.1. Para a educação infantil serão formados 3 (três) acervos distintos, com 20 (vinte) títulos cada, totalizando 60 (sessenta) obras. 4.2. Para as séries/anos iniciais do ensino fundamental serão formados 5 (cinco) acervos distintos, com 20 (vinte) títulos cada, num total de 100 (cem) obras. 4.3. Os acervos deverão contemplar: 1. Textos em verso – poemas, quadras, parlendas, cantigas, travalínguas, adivinhas; 2. Textos em prosa – pequenas histórias, novelas, contos, crônicas, textos de dramaturgia, memórias, biografias; 3. Livros de imagens e livros de histórias em quadrinhos, dentre os quais se incluem obras clássicas da literatura universal artisticamente adaptadas ao público da educação infantil e das séries/anos iniciais do ensino fundamental. 5. DOS PROCEDIMENTOS 5.1. Do Cadastramento de Titulares de Direito Autoral Os titulares de direito autoral formalizarão seu cadastramento no PNBE 2008, por meio do Sistema de Material Didático – SIMAD – Módulo de Inscrição disponível na página da internet: www.fnde.gov.br. Concluído o cadastramento, os interessados receberão e-mail do FNDE com sua confirmação, o login e as senhas de acesso ao sistema de pré-inscrição. 5.2. Da Pré-Inscrição das Obras A Pré-inscrição é o prévio cadastramento, pelos titulares de direito autoral, de obras que atendam às disposições deste Edital, no sistema informatizado do FNDE, exclusivamente por meio da Internet, no endereço eletrônico citado no subitem 5.1. deste Edital. 5.2.1. As obras deverão ser inscritas por etapa de ensino: educação infantil e séries/anos iniciais do ensino fundamental. Cada titular de direito autoral poderá inscrever até 20 obras, sendo no máximo 12 obras por etapa. 206 5.2.2. O título da obra inscrita deverá estar em conformidade com o título constante no Contrato de Edição e na capa da obra. 5.2.3. O cadastro dos autores deverá conter dados como: nome e endereço completo e pseudônimo, se houver. 5.2.3.1. No caso do autor falecido, além dos dados constantes no subitem 5.2.3., deverá ser informado o cadastro dos herdeiros/sucessores. 5.2.3.2. Será de inteira responsabilidade dos titulares de direito autoral a validade das informações fornecidas ao FNDE no cadastramento dos autores. Esse cadastro deverá conter dados atualizados, tendo em vista que será utilizado pelo FNDE em etapas do processo de aquisição. 5.2.4. Os titulares de direito autoral interessados em participar do PNBE 2008 deverão manter seus dados permanentemente atualizados no FNDE, por intermédio do endereço eletrônico citado no subitem 5.1. deste Edital. 5.3. Da Inscrição A inscrição deverá ser realizada pessoalmente, pelo titular de direito autoral e/ou por procurador legalmente constituído, ambos devidamente cadastrados no sistema informatizado do FNDE para fins de participação no PNBE 2008. Essa fase compreenderá a entrega da documentação, dos exemplares da obra e do CD com a imagem da capa, pelos titulares de direito autoral que realizarem a Pré-Inscrição de obras, em dia, horário e local previamente agendados pelo FNDE de acordo com o período estabelecido no subitem 2.3. deste Edital. 5.3.1. É obrigatória a entrega da seguinte documentação para cada uma das obras pré-inscritas: 5.3.1.1. Cópia do Contrato de Edição e/ou do instrumento legal pertinente, inclusive de sub-rogação e/ou representação, que obrigam autores da obra e o titular do direito autoral ou de edição entre si ou com terceiros, no(s) qual(is) deverá constar o título da obra, idêntico ao título informado no cadastramento efetuado na fase da Pré-Inscrição. 5.3.1.2. Cópia do Contrato Original, devidamente acompanhada de tradução juramentada, para as obras em língua estrangeira. 5.3.2. Juntamente com a documentação referida no subitem 5.3.1 é obrigatória a entrega de 07 exemplares de cada obra a ser inscrita e avaliada no PNBE 2008. 5.3.2.1. Os exemplares de cada obra deverão estar embalados, identificados externamente, inclusive com a etapa de ensino a que se destina e com a indicação do tipo de texto/gênero da obra, explicitado no subitem 4.3. deste Edital. 5.3.2.2. Os exemplares das obras deverão ser entregues em edição finalizada, com todos os textos, imagens, diagramação, cores e número de páginas definitivas, inclusive com acabamento e matéria prima definitiva (papel, grampo, cola etc), que deverá guardar consonância com as especificações informadas no Sistema de Material Didático – SIMAD por ocasião da pré-inscrição das obras, prevista no subitem 5.2 deste Edital. Todas as características do projeto gráfico e editorial devem ser mantidas caso a obra seja selecionada. 5.3.2.3. Não serão aceitos bonecos ou protótipos. 5.3.2.4. Os exemplares das obras inscritas não serão devolvidos após o processo de avaliação. 5.3.3. Além dos exemplares da obra e da documentação, o titular de direito autoral deverá entregar, no ato da inscrição, em CD, a imagem da capa da obra por ele inscrita, com as seguintes especificações: CMYK; 300 DPI; tamanho original ou com 50% de resolução; formato TIF. 5.3.4. Da Comprovação de Inscrição 207 Para efeito de confirmação da inscrição, os exemplares da obra, a documentação e o CD com a imagem da capa serão conferidos e emitido Comprovante de Entrega. 5.3.4.1 Somente será admitida a inscrição da obra e emitido o respectivo comprovante, mediante entrega conjunta de toda a documentação exigida no subitem 5.3.1., dos exemplares da obra, na forma especificada no subitem 5.3.2., e do CD com a imagem da capa, conforme especificação contida no subitem 5.3.3., sendo vedado o recebimento parcial da documentação, dos exemplares, e do CD com a imagem da capa. 6. DAS ETAPAS DO PROCESSO DE ANÁLISE E SELEÇÃO DAS OBRAS 6.1. Da Triagem A triagem consiste na análise das obras inscritas e entregues de acordo com critérios estabelecidos no Anexo I deste Edital. 6.1.1. As obras que não atenderem às exigências contidas no Anexo I deste Edital serão automaticamente excluídas. 6.2. Da Pré-análise Na etapa da pré-análise serão observados os itens 3 e 4 deste Edital. Serão sumariamente excluídas as obras que não atenderem o disposto nesses itens. 6.3. Da Avaliação 6.3.1. Serão avaliadas e selecionadas para compor os acervos para o PNBE 2008, 60 (sessenta) obras voltadas para a educação infantil e 100 (cem) para alunos das séries/anos iniciais do ensino fundamental. 6.3.1.1 Na hipótese de alguma obra selecionada ser excluída, em decorrência do não-cumprimento da etapa de habilitação prevista no item 7.1 deste Edital, serão indicadas, pela SEB, com base no processo de avaliação, novas obras para substituição, considerando critérios de composição dos acervos. 6.3.1.2. O processo de avaliação realizado no âmbito deste Edital poderá ser utilizado pelo Ministério da Educação e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação em futuras aquisições, para este ou outros programas e ações. 6.3.2. Na avaliação das obras serão considerados os critérios estabelecidos no Anexo III. 6.4. Da Divulgação do Resultado A relação das obras selecionadas para o PNBE 2008 será publicada no Diário Oficial da União, mediante Portaria do MEC, e divulgada nas páginas da internet www.mec.gov.br e www.fnde.gov.br. 6.4.1. Os pareceres referentes à análise de cada obra poderão ser disponibilizados ao titular de direito autoral somente após o final do processo de avaliação, mediante requisição formal à Secretaria de Educação Básica – SEB/MEC. 6.4.2. Após a publicação do resultado, os titulares de direito autoral das obras inscritas em atendimento ao PNBE 2008 terão 10 (dez) dias para apresentação de recurso. 7. DOS PROCESSOS DE HABILITAÇÃO, AQUISIÇÃO, PRODUÇÃO E ENTREGA Após a divulgação do resultado da avaliação pedagógica realizada sob a coordenação da Secretaria de Educação Básica – SEB/MEC, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE procederá à execução das demais etapas do Programa. 7.1. Da Habilitação A habilitação do titular de direito autoral será feita por Comissão Especial de Habilitação, instituída pelo FNDE, e consistirá na análise da documentação prevista na Lei nº 8.666/93 e na IN/MARE nº 05/95, no Decreto-lei nº 3.722/01e na Lei nº 9.610/98 e respectivas 208 modificações posteriores, bem como da documentação exigida no subitem 7.1.2., a ser apresentada pelo titular de direito autoral, quando convocado pelo FNDE, na forma do disposto neste Edital. 7.1.1. Nessa fase deverão ser observados os seguintes procedimentos: a) toda e qualquer documentação necessária à habilitação deverá ser apresentada datada e assinada pelo titular de direito autoral ou por seu procurador legalmente constituído, por meio de instrumento hábil; b) os documentos necessários à habilitação, em conformidade com o disposto no subitem 7.1.2., poderão ser apresentados por qualquer processo de cópia, desde que autenticada por cartório competente ou pela Comissão Especial de Habilitação, mediante a apresentação do documento original; c) nos casos em que o Contrato de Edição vigente não determinar o número de exemplares em quantidade suficiente para atender à aquisição a ser realizada pelo FNDE, o titular de direito autoral obrigar-se-á a apresentar instrumento possibilitando a produção da tiragem necessária ao atendimento do programa; d) a Comissão Especial de Habilitação, no curso do processo de análise da documentação, poderá promover diligências, solicitar esclarecimentos, estabelecer exigências a serem cumpridas, tudo objetivando certificar-se da licitude, veracidade e eficácia da documentação e respectivos dados fornecidos. e) constitui obrigação do habilitando informar ao FNDE, previamente ou imediatamente após ter ciência, a existência de qualquer discussão judicial que envolva as obras inscritas com base no presente Edital, o que será considerado pela Comissão de Habilitação. 7.1.2. Da Documentação Exigida Por ocasião da etapa de habilitação, o titular de direito autoral da(s) obra(s) selecionada(s) deverá apresentar ao FNDE os seguintes documentos: 7.1.2.1. Da Documentação Referente à Obra a) Contrato de Edição – instrumento mediante o qual o editor obrigase a reproduzir, divulgar e comercializar as obras, ficando autorizado, em caráter de exclusividade, a publicá-la e explorá-la, pelo prazo e nas condições pactuadas com o autor, com base no que preceitua a legislação que rege a matéria, em especial as Leis nº 9.610/98 e nº5.988/73. O contrato de edição deverá ser firmado por quem for comprovadamente titular dos direitos autorais, inclusive pelo(s) co-autor(es) em caso de criação comum, e só será considerado como válido para habilitação do proponente se restar inconteste a plenitude dos direitos autorais e de edição nele envolvidos. b) Adendo ao Contrato de Edição – instrumento legal vigente que possibilite a retificação e/ou complementação das cláusulas pactuadas, possibilitando a produção da obra com as características e tiragens necessárias para atender o PNBE 2008, caso não esteja previsto no contrato original. c) Contrato de Adaptação – instrumento firmado com o adaptador, definindo as condições necessárias para as transformações de obra original. d) Contrato de Ilustração - instrumento firmado com o ilustrador da obra, quando houver. e) Declaração de Vigência – nos casos de contratos com prazo de vigência indeterminado, ou não expresso, deverá ser apresentada, sob as penas da lei, declaração complementar com firmas reconhecidas em cartório, na qual os titulares do direito autoral declarem que o Contrato de Edição apresentado encontra-se em plena vigência. Nos casos de contratos com previsão de renovação automática, deverá constar na Declaração o período renovado, conforme estabelecido no contrato. 209 f) Documentos Comprobatórios da Titularidade de Direito Autoral – caso o Contrato de Edição ou Adendo Contratual seja assinado por herdeiro ou representante legal do autor, deverão ser apresentados documentos que comprovem a titularidade de direito autoral sucessório ou a possibilidade de representação, tais como procurações, que deverão ser autenticadas. g) Para as obras coletivas: o titular de direito patrimonial deverá apresentar contrato de prestação de serviço ou contrato de trabalho que estabeleça que todo trabalho produzido pelo funcionário é patrimônio da empresa. Caso os autores não sejam funcionários da empresa, os contratos devem especificar a contribuição de cada um, o prazo para entrega ou realização, a remuneração e as demais condições de execução. 7.1.2.2. Da Documentação Comprobatória de Habilitação Jurídica e Fiscal Por ocasião da etapa de habilitação o titular de direito autoral deverá apresentar ao FNDE os seguintes documentos: a) cédula de identidade e CPF do representante legal da empresa titular do direito autoral e, quando se tratar de Procurador deverá ser apresentado também instrumento de procuração; b) declaração de que a empresa não emprega menor, conforme dispõe o inciso V do art. 27 da Lei nº 8.666/93, acrescido pela Lei nº 9854/99; c) declaração de inexistência de fato impeditivo, ratificando a inexistência de circunstâncias que impeçam o titular do direito autoral de contratar com a Administração Pública Federal; d) contrato/estatuto social da empresa, alterações contratuais e atas de reuniões/assembléias; 7.1.2.2.1. O Sistema Unificado de Cadastramento de Fornecedores – SICAF, será consultado “on line”, conforme previsto na Lei nº 8.666/93 e na IN/MARE nº 05/95 e respectivas modificações posteriores, bem como no Decreto nº 3.722, de 09 de janeiro de 2002. 7.1.2.2.2. O FNDE verificará a regularidade da Contribuição Social do Salário Educação, previsto no § 5º do art. 212 da Constituição Federal e regulamentada pelos Decretos 9.424/96 e 9.766/89, bem assim pelo Decreto nº 3.142/99 e alterações posteriores. 7.1.2.3. Da Documentação Referente à Situação Financeira do Titular de Direito Autoral 7.1.2.3.1. Extrato dos índices de Liquidez Geral (LG), Solvência Geral (SG) e Liquidez Corrente (LC). Caso quaisquer desses índices estejam inferiores ou iguais a 01 (um), será exigida prestação de garantia em uma das modalidades previstas no § 1º do art. 56 da Lei nº 8.666/93, e respectivas modificações posteriores. 7.1.2.3.1.1. A modalidade de garantia a ser prestada corresponderá a 3% (três por cento) do valor a ser contratado, devendo ser entregue ao FNDE até a data da assinatura do contrato. 7.1.2.3.1.2. A liberação e a restituição da garantia somente ocorrerão após o término da vigência do contrato e do cumprimento das obrigações contratuais, em especial a(s) Cláusula(s) referentes ao controle de qualidade. 7.1.2.3.1.3. No caso da apresentação de título da dívida pública que venha requerer tratamento especial, ficará a cargo da empresa a ser contratada o devido acondicionamento do documento, de forma a garantir sua integridade física. 7.1.2.3.2. No caso de consórcio, além da documentação exigida nos subitens anteriores, serão exigidos os itens I, II e III do art. 33 da Lei 8.666/93, bem como o registro do consórcio nos termos do parágrafo segundo do art. 33, da mesma Lei. 7.1.3. Os titulares de direito autoral terão o prazo de 60 (sessenta) dias a partir do ato convocatório do FNDE para habilitação ou até 31 de outubro de 2007, o que ocorrer primeiro, resguardado o prazo máximo de 15 (quinze) dias para apresentação da documentação exigida no item 7.1 – Da Habilitação. 210 7.1.3.1. Na hipótese do vencimento do prazo previsto no subitem 7.1.3. sem a regularização de toda a documentação prevista, a obra será automaticamente excluída, selecionando-se nova obra na forma do subitem 6.3.1.1. 7.1.3.2. Nos casos em que a Comissão de Habilitação expedir diligência para complementação de documentos, o habilitando terá 5 (cinco) dias úteis para efetuar a entrega. 7.2. Da Aquisição Com base no Censo Escolar realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, o FNDE convocará, por intermédio de Comissão Especial instituída para esse fim, os titulares de direito autoral habilitados para proceder à negociação de preços, que poderá ocorrer por meio eletrônico, visando adquirir as obras a serem produzidas e postadas/entregues conforme as Instruções Operacionais a serem fornecidas no momento da negociação. 7.2.1. O FNDE poderá, a qualquer tempo, deixar de contratar o titular de direito autoral da obra selecionada, quando tiver ciência de litígio sobre direito autoral ou de edição da obra. 7.2.2. Constitui obrigação do contratado informar ao FNDE, imediatamente após ter ciência, a existência de qualquer discussão judicial que envolva as obras selecionadas, o que será considerado pelo FNDE, ficando facultado o depósito dos valores envolvidos em juízo. 7.3. Da Produção Após a assinatura dos contratos, os titulares de direito autoral participantes do PNBE/2008 estarão aptos a iniciar a produção dos livros a serem distribuídos às instituições de educação infantil e às escolas públicas que ofereçam as séries/anos iniciais do ensino fundamental do País, de acordo com as especificações técnicas contidas no Anexo II. Nessa etapa de produção, não serão aceitas quaisquer alterações nas obras avaliadas e selecionadas para o PNBE 2008, ou seja, os livros deverão ser impressos com conteúdo (texto, projeto gráfico e editorial) idêntico àquele inscrito no Programa, inclusive com o mesmo número de páginas, conforme subitem 5.3.2.2. deste Edital. 7.3.1. Do Controle de Qualidade Por ocasião da produção das obras, o FNDE, ou a instituição por ele contratada para esse fim, poderá realizar Controle de Qualidade, mediante amostragem definida na NBR 5426/1985 – ABNT, em nível de inspeção a ser definido em contrato, que consistirá na análise dos itens de não conformidade constantes da Resolução n.º 03, de 23/03/2005, do Conselho Deliberativo do FNDE, ou em outra que vier a substituí-la, com vistas à verificação da qualidade do produto a ser entregue. 7.4. Da Entrega As obras serão entregues diretamente pelos titulares de direito autoral ao FNDE, ou à instituição por ele contratada, que se responsabilizará pelo processo de mixagem das obras. 8. DAS DISPOSIÇÕES GERAIS 8.1. A inscrição das obras implica aceitação, pelo participante, de forma integral e irretratável, dos termos deste Edital, bem como da legislação aplicável, especialmente em matéria de direito autoral, não cabendo controvérsias posteriores. 8.2. O titular de direito autoral deve manter toda a documentação atualizada durante o período de execução do contrato, especialmente no que se refere ao SICAF. 8.3. A documentação constante no subitem 7.1.2 deste Edital deverá ser apresentada pelos titulares em tempo hábil, sob pena de ter a obra excluída. 211 8.4. O FNDE/MEC poderá, a qualquer tempo, desde que devidamente comprovado por razões de interesse público decorrente de fato superveniente, revogar, total ou parcialmente, o presente processo de aquisição. 8.5. As etapas do processo referente ao PNBE 2008 estarão sob a integral responsabilidade: 8.5.1. do FNDE: pré-inscrição; 8.5.2. do FNDE e da instituição a ser contratada pelo FNDE: recepção das obras, da documentação e dos CDs com as imagens das capas (prevista nos subitens 5.3.1., 5.3.2. e 5.3.3.), bem como a triagem efetiva dos títulos inscritos; 8.5.3. da Secretaria de Educação Básica/MEC: pré-análise, avaliação pedagógica e seleção das obras; 8.5.4. da Comissão Especial de Habilitação/FNDE: habilitação dos titulares de direitos autorais; 8.5.5. da Comissão Especial de Negociação/FNDE: negociação das obras; 8.5.6. do Titular de Direito Autoral: entrega da obra, da documentação e do CD com a imagem da capa da obra para inscrição, prevista nos itens 5.3.1., 5.3.2. e 5.3.3., produção e postagem; 8.5.7. do FNDE e da empresa a ser por ele contratada: controle de qualidade; 8.5.8. da empresa a ser contratada pelo FNDE: mixagem e distribuição; 8.5.9. do FNDE, da SEB e das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação: acompanhamento/monitoramento da execução do Programa. 8.6. De acordo com as responsabilidades, conforme definido no item 8.5. deste Edital, os pedidos de esclarecimentos deverão ser dirigidos ao FNDE, por meio da Coordenação-Geral dos Programas do Livro, no Setor Bancário Sul – Quadra 02 – Bloco “F” – Edifício Áurea – Sala 1.401 – CEP: 70070-929 – Brasília/DF – telefones (61) 3966-4915/3966-4945, FAX (61) 3966-4193, e à SEB, por meio da Coordenação-Geral de Estudos e Avaliação de Materiais, no endereço: Esplanada dos Ministérios, Bloco “L”, 6º andar, sala 612 – Brasília/DF – CEP 70047-900, e pelo telefone (61) 2104-8636. 8.7. Os pedidos de esclarecimentos deverão ser feitos por escrito, endereçados ao FNDE ou à SEB, conforme o caso. 8.8. Será de inteira responsabilidade dos titulares de direito autoral a validade das informações fornecidas ao FNDE, no cadastramento das obras, tendo em vista que essas informações serão utilizadas nas demais etapas do processo de seleção e aquisição. Essas informações serão a única fonte de referência e deverão conter todos os dados atualizados relativos à editora e às obras inscritas. 8.9. A inscrição da(s) obra(s) não implica na obrigatoriedade de firmatura de contrato de aquisição por parte do FNDE, tampouco confere direitos a indenizações a título de reposição de despesas realizadas no cumprimento de etapas deste Edital e na produção da obra ou direito a lucro cessante, em caso da não aprovação no processo de triagem e/ou avaliação pedagógica, seleção e negociação. 8.10. O FNDE poderá solicitar, a seu critério, antes da negociação, planilha de preços a serem praticados pelos editores, conforme diferentes níveis de tiragem, em formulário próprio a ser enviado pelo FNDE. 8.11. Situações não previstas neste Edital serão analisadas pelo FNDE e pela SEB, de acordo com as suas competências e com a natureza do assunto. 8.12. Integram o presente Edital, como se transcritos fossem e como partes indissolúveis, os seguintes anexos: a) Anexo I – Triagem; b) Anexo II - Autorização para adaptação de obras; c) Anexo III – Critérios de Avaliação e Seleção. 212 Brasília, de de 2007. DANIEL SILVA BALABAN FRANCISCO DAS CHAGAS FERNANDES Presidente do FNDE Secretário da Educação Básica PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA PNBE 2008 EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA INSCRIÇÃO DE OBRAS DE LITERATURA NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO PARA O PROGRAMA NACIONAL BIBLIOTECA DA ESCOLA – PNBE 2008 ANEXO I TRIAGEM 1. ANÁLISE DE ESTRUTURA EDITORIAL 1.1. A obra deve estar identificada da seguinte forma: 1.1.1. Na 1ª capa deve constar: o título da obra, nome(s) do(s) autor(res) e o nome da editora; 1.1.2. Na folha de rosto e/ou no seu verso deve constar: dados sobre o(s) autor(es), ficha catalográfica e ISBN. 1.1.3. Excepcionalmente, no caso em que o projeto gráfico original do livro não permita, será aceita a identificação prevista no item 1.1.2. na 2ª, 3ª ou 4ª capas. 2. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO 2.1. Nesta etapa será excluída do processo de avaliação: 2.1.1. obra que não estiver claramente identificada com título, autoria, editora, local, data, edição, dados sobre o(s) autor(es), ficha catalográfica e ainda o ISBN; 2.1.2. obra selecionada e adquirida nas edições de 2001, 2002, 2003 (“Literatura em Minha Casa” e “Palavra da Gente”) e nas edições de 2005 e 2006 do Programa Nacional Biblioteca da Escola; 2.1.3. obra editada em mais de um volume; 2.1.4. obra cuja edição não esteja finalizada; e 2.1.5. obra cuja imagem da capa não conste no CD, conforme estabelecido no subitem 5.3.3. ANEXO II MODELO DE AUTORIZAÇÃO PARA ADAPTAÇÃO DE OBRAS (PAPEL TIMBRADO DA EMPRESA) Declaro, sob as penas da Lei, que a(s) obra(s) títulos das obras, do(s) autor(es) _________________ apresentada(s) por esta Editora no ato da inscrição no processo de avaliação e seleção de obras de literatura para o PNBE 2008, poderá(ão) ser adaptada(s) de forma a atender aos alunos portadores de necessidades especiais. Brasília, de 2007. Assinatura do Titular de Direito Autoral ou seu procurador Nome legível e cargo (Firma reconhecida em cartório) 213 ANEXO III CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO E SELEÇÃO INTRODUÇÃO Ao promover a seleção de obras de literatura para a educação infantil e para as séries/anos iniciais é preciso considerar que as crianças, desde os primeiros anos de vida, são sujeitos ativos, que interagem no mundo produzindo significados. São cidadãs, portadoras de direitos e deveres, que, em função das inter-relações entre aspectos biológicos e culturais, apresentam especificidades no seu desenvolvimento. Elas interagem no mundo por meio das múltiplas linguagens: musical, gestual, corporal, plástica, oral, escrita, entre outras e têm o brincar como sua principal atividade. O contato das crianças com a literatura, da creche ao ensino fundamental, deve promover momentos de alegria, de desafios para a imaginação e para a criatividade, de troca e de experiência com a linguagem escrita. O livro destinado às crianças precisa envolver sentimentos, valores, emoção, expressão, movimento e ludicidade, permitindo inúmeras interações. Neste contexto, além da ilustração, que tem um papel fundamental, pois por si só traz muitas possíveis leituras, é preciso considerar os diferentes textos – com seus gêneros e estilos, bem como as possibilidades de interação que o objeto livro, com seus formatos e texturas, oferece. As crianças que chegam à escola - tanto as que ingressam na educação infantil quanto aquelas que ingressam no ensino fundamental - são provenientes de contextos sócio-culturais diferentes e, por isso, possuem experiências diferenciadas de contatos com a leitura e a escrita. Os acervos de obras de literatura, além da qualidade e valor artístico, deverão contar com títulos temática e esteticamente diversos, capazes de aproximar as crianças das diferentes realidades e de ampliar suas experiências de leitura. 1. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO Os acervos serão compostos por obras de diferentes níveis de dificuldade, de forma que as crianças tenham acesso a textos para serem lidos com autonomia e a outros para serem lidos com a mediação do professor. A qualidade do texto, a adequação dos temas aos interesses do público-alvo, a representatividade das obras e os aspectos gráficos serão considerados critérios para a seleção de uma determinada obra. Assim sendo, a avaliação recairá sobre os seguintes aspectos: 1.1. Qualidade do texto Os textos literários, além de contribuírem para ampliar o repertório lingüístico dos leitores, deverão propiciar a fruição estética e serão selecionados, de modo equilibrado, tanto para favorecer uma leitura autônoma pela criança, quanto para estimular uma apropriação dos textos pela leitura do professor em voz alta. Para tanto, serão avaliadas as qualidades textuais básicas e o trabalho estético com a linguagem. No caso dos textos em prosa, serão avaliadas a coerência e a consistência da narrativa, a ambientação, a caracterização das personagens e o cuidado com a correção e a adequação do discurso das personagens a variáveis de natureza situacional e dialetal. No caso dos textos em verso, será observada a adequação da linguagem ao público a que se destina, tendo em vista os diferentes princípios que, historicamente, vêm orientando a produção e a recepção literária. Os textos deverão ser eticamente adequados, evitando-se preconceitos, moralismos, estereótipos. No caso das adaptações e traduções, é importante que sejam mantidas as qualidades literárias da obra original. Nos livros de imagens e quadrinhos será considerado como critério preponderante a relação entre texto e imagem e as possibilidades de leitura das narrativas visuais. 1.2. Adequação temática Serão selecionadas obras com temáticas diversificadas, de diferentes contextos sociais, culturais e históricos. Essas obras deverão estar adequadas à faixa etária e aos interesses das crianças da educação infantil e do ensino fundamental. Entre suas características, serão 214 observadas a capacidade de motivar a leitura, o potencial para incitar novas leituras, a adequação às expectativas do público infantil, as possibilidades de ampliação das referências do universo infantil, a exploração artística dos temas. Não serão selecionadas obras que apresentem didatismos, moralismos, preconceitos, estereótipos ou discriminação de qualquer ordem. 1.3. Projeto gráfico O projeto gráfico será avaliado quanto à adequação e expressividade nos seguintes aspectos: apresentação de capa criativa e atraente, apropriada ao projeto estético-literário da obra; uso de tipos gráficos, espaçamento e distribuição espacial adequados aos pequenos leitores, distribuição equilibrada de texto e imagens; ilustrações que interagem com o texto, artisticamente elaboradas; uso de papel adequado à leitura e ao manuseio pelas crianças e pertinência das informações complementares. A presença de erros de revisão e/ou de impressão comprometerá a avaliação da obra. A qualidade das ilustrações e das imagens é um aspecto bastante importante: elas devem recorrer a diferentes linguagens, ser atrativas e enriquecedoras da leitura dos textos. As ilustrações podem ser coloridas ou em branco e preto, desde que componham um conjunto agradável e adequado à intenção expressiva da obra. Elas devem dialogar com o texto, ampliando suas possibilidades significativas. A biografia do(s) autor(es) deverá ser apresentada de forma a enriquecer o projeto gráfico e promover a contextualização do autor e da obra no universo literário. Igualmente, outras informações devem ter por objetivo a ampliação das possibilidades de leitura, em uma linguagem acessível à criança.