Demographic transition of the suriname maroon population: a case study about the fertility and reproductive behavior change in an urban region

Abstract

A população maroon é um grupo étnico de origem africano que arribou a Suriname fugindo da escravidão. Mais recentemente, teria apresentado forte crescimento populacional (censos 2004 e 2012), tendo o mais alto nível de fecundidade comparativamente aos outros grupos étnicos do Suriname. Partindo do pressuposto de a transição da fecundidade para níveis mais baixos caracterizar uma transição demográfica, o estudo tem como objetivo identificar as mudanças na fecundidade da população maroon e avaliar se quem reside na área urbana do Suriname estaria, já, passando por uma transição demográfica. Foi utilizada metodologia quantitativa e qualitativa para avaliar as mudanças no comportamento reprodutivo de mulheres maroon. As MICS 2010 e 2018 permitiram detectar essas mudanças indicativas de uma transição da fecundidade e consequentemente demográfica. As entrevistas em profundidade, por sua vez, permitiram uma compreensão mais abrangente dos achados quantitativos. O foco foi o comportamento reprodutivo em uma amostra de mulheres residentes na região metropolitana de Paramaribo. A população maroon atingiu uma taxa total de fecundidade de 4,1 em 2018, após um declínio de 23% desde 2010. No entanto, permaneceu relativamente alta comparativamente aos outros grupos étnicos do Suriname. O declínio, de acordo às evidências, explicar-se-ia por fatores como urbanização e características sociodemográficas presentes na maioria das populações que sofreram uma transição demográfica. Os resultados qualitativos também apontam para algumas mudanças, como na prática da poligamia e nas atitudes em relação ao uso de contraceptivos no ambiente social imediato, isto é, comunidade, família e parceiro. A modernização não resultou no fim ou diminuição das tradições, embora tenha contribuído à redução da importância de certas práticas. Outros fatores ajudam a entender por que a fecundidade permanece relativamente alta. Ainda existe uma manifesta cultura pronatalista e certos rituais reprodutivos que estimulam a fecundabilidade e a fecundidade ainda são cruciais, especialmente para as mulheres maroon. O estudo concentrou-se na prática contraceptiva como um dos mecanismos que induzem mudanças na fecundidade. Em que pese a constância do nível total da da contracepção, xvii seu padrão de idade mudou, sendo a prática contraceptiva maior, nas idades centrais da vida reprodutiva, maior do que anteriormente; isto explicaria a diminuição da fecundidade no período. As descobertas qualitativas evidenciam o conhecimento e o acesso a métodos modernos e tradicionais para estimular ou prevenir a gravidez. Os maroons, dadas as mudanças na fecundidade, estão passando por uma transição demográfica. No entanto, as etapas prescritas do modelo teórico desta transição não podem ser inteiramente aplicadas às sociedades maroon. Características demográficas específicas que facilitam a transição da fecundidade já estavam presentes antes do advento e influência de qualquer processo de modernização nesta etnia. Atitudes culturais continuam desempenhando um papel importante que impediriam atingir níveis muito baixos de fecundidade.