Please use this identifier to cite or link to this item: http://hdl.handle.net/1843/58352
Type: Tese
Title: As pulsões e a (in)determinação nas psicanálises de Freud e Lacan : elementos para uma leitura abrasileirada da psicopatologia e seus litorais
Authors: André Fernando Gil Alcon Cabral
First Advisor: Gilson de Paulo Moreira Iannini
First Referee: Marcia Maria Rosa Vieira Luchina
Second Referee: Marcelo Ricardo Pereira
Third Referee: Paulo Antonio de Campos Beer
metadata.dc.contributor.referee4: Vladimir Pinheiro Safatle
Abstract: Pensar uma psicopatologia psicanalítica exige um labor do qual não podemos nos desviar. Se há uma psicopatologia a ser sustentada, tal perspectiva não é facilmente fundamentada, nem mesmo aceita de modo incontestável na cultura. Na realidade, torna-se cada dia mais imprescindível, tendo em vista o direcionamento da psiquiatria e da psicologia para o campo das neurociências e da sintomatologia, bem como os embates internos à própria psicanálise. Advindos da tradição cartesiana, dualismos entre corpo e alma, somático e psíquico, natureza e cultura, ressurgem como grandes novidades e com promessas, que mais cessam o debate do que propriamente o enriquecem. Parecemos retornar à velha unilateralidade médica no qual apenas o somático seria capaz de produzir sintomas e efeitos sobre o psíquico. Contrariando o discurso emergente na contemporaneidade, demonstramos que essas dicotomias se mostram insuficientes/insustentáveis, sobretudo, (a) quando abordamos as noções de trauma e sua relação com a historicidade; (b) interpelamos o sofrimento psíquico como litoral da anomia e indeterminação entre o mal-estar do gozo e o saber-verdade do sintoma; (c) versamos sobre as estruturas clínicas e sua suposta fixidez ontológica diante da variedade histórica e contingente; (d) discorremos à cerca dos sintomas não como déficit, mas como denúncia ao social e à ordem vigente; ou ainda, (e) debatemos as patologias sociais e contemporâneas como formas de manifestação localizada no espaço-tempo. Por isto, neste trabalho, propomos uma leitura que permita distinguir o campo das doenças biomédicas e as psicopatologias, compreendendo que, principalmente, para esta última, devemos nos afastar de um entendimento dicotômico. Portanto, propomos que quando afirmamos uma psicopatologia psicanalítica, apostamos na (1) proposição de uma indissociabilidade entre a ontologia e a epistemologia, no qual obtemos um realismo dialético ou nominalismo dinâmico. Tal aposta na indissociabilidade, todavia não nos leva a uma compreensão unitária da psicopatologia. Trata-se de afirmar (2) a condição litoral do tripleto entre real, verdade e saber, aquilo que analogamente descrevemos enquanto nossa rocha, nosso mar e areia, distinções que não devem ser apagadas por meio de díades ou unidades na psicanálise. Por último, (3) sustentamos a tríplice biopsicossocial como modo de leitura da psicopatologia freudiana e lacaniana. Estas três proposições de leitura da psicopatologia não poderiam ser afirmadas senão pelo conceito de pulsão bem como de sua origem. Acreditamos que, pelo infamiliar da pulsão, aproximamo-nos da dimensão estética da pulsão de morte em Freud, aquela que mais no interessa, uma vez que conduz às figuras do anormal, da anomia, do mutante, da indeterminação, ambos compreendidos como possibilidade de deformar e fazer críticas à dimensão egológica. Diferentemente das dimensões histórico-política e/ou biológica da pulsão de morte, que conduziriam à condição suicidária do indivíduo orgânico e do social, Freud e Lacan apontaram para a indeterminação em seu aspecto político. Uma revolução frente ao eu e às estruturas individuais e sociais, que permite formalizar uma crítica à Biopolítica e à Necropolítica, modelos de gestão do sofrimento psíquico notabilizados recentemente pelo Neoliberalismo. Pois bem, propomos a recuperação da matriz histórico-política e biológica da psicanálise a partir da dimensão estética da pulsão de morte, posto que a matriz estética, por sua condição litoral, permite afirmar tanto a indissociabilidade ontológico-epistemológico, quanto a tríplice real, verdade e saber. Por fim, vislumbramos a possibilidade de abrasileirar a psicanálise para que não permaneçamos em leituras eurocêntricas (reducionistas), incapazes de compreender a complexidade e diferença do povo negro e indígena, bem como seu perspectivismo multiculturalista e multinaturalista. Eis o modo como anunciamos os litorais da psicanálise brasileira frente aos demais saberes da cultura.
Abstract: Reasoning about psychoanalytical psychopathology is a task we cannot run away from. If there is a psychopathology to be upheld, such a perspective is neither easily substantiated nor unconditionally accepted in one’s culture. Actually, it is more and more essential, given the path taken by psychiatry and psychology towards the neurosciences and symptomatology fields, and due to internal clashes observed within psychoanalysis itself. Dualisms deriving from the Cartesian tradition, such as body and soul, somatic and psychic, nature and culture, reappear as great novelties and bring along promises that mostly cease, rather than enrich, this debate. We seem to return to the old medical one-sidedness, according to which, only what is somatic can produce symptoms and effects on individuals’ psyche. Unlike the discourse emerging in contemporary times, we herein advocate that these dichotomies are insufficient/unsustainable, mainly (a) when we approach concepts of trauma and their association with historicity; (b) when we question psychic suffering as the “littoral” of anomie and indetermination between the discontent of jouissance and the knowledge-truth of the symptom; (c) when we talk about clinical structures and their supposed ontological fixity towards historical and contingent variety; (d) when we address symptoms as claim to society and to the current order, rather than as deficit; or yet, (e) when we debate social and contemporary pathologies as manifestation forms located in space-time. Thus, the aim of the current study is to propose a reading to enable differentiating biomedical diseases from psychopathologies, based on the awareness that we must move away from dichotomous understanding, mainly in case of psychopathologies. Therefore, by addressing psychoanalytic psychopathology, we bet on (1) the proposition of inseparability between ontology and epistemology, based on which, we get dialectical realism or dynamic nominalism. However, such a bet on inseparability does not enable the unitary understanding about psychopathology. It is about affirming (2) the “littoral” condition of the “real, truth and knowledge” triplet, which we similarly describe as our rock, sea and sand; these distinctions should not be erased by means of dyads or units in psychoanalysis. Finally, (3) we defend the biopsychosocial triad as way of reading both the Freudian and the Lacanian psychopathologies. These three psychopathology-reading propositions could only be substantiated by the concept of drive and by its origin. Based on the “unfamiliar” of the drive, we approach the aesthetic dimension of the death drive in Freud, which is the one that mostly interests us, since it leads to abnormal, anomie, mutant, indetermination figures understood as the likelihood to deform and criticize the ego dimension. Unlike the historical-political and/or biological dimensions of the death drive, which would lead organic and social individuals to the suicidal condition, Freud and Lacan point towards indetermination in its political aspect. It is a revolution towards the self, as well as towards individual and social structures, and it enables formalizing a critique of Biopolitics and Necropolitics, which are psychic suffering-management models recently made famous by Neoliberalism. Thus, we propose recovering the historical-political and biological matrix of psychoanalysis through the aesthetic dimension of the death drive, since, due to its “littoral” condition, the aesthetic matrix enables affirming both the ontological-epistemological indissociability and the “real, truth and knowledge” triad. Finally, we see the possibility of ‘Brazilianizing’ psychoanalysis to avoid insisting in Eurocentric (reductionist) readings that are not capable of understanding both the complexity of, and difference between, black and indigenous people, as well as their multiculturalist and multi-naturalist perspective. This is how we announce the “littorals” of Brazilian psychoanalysis, in comparison to other cultural knowledge sets.
Subject: Psicologia - Teses
Psicopatologia - Teses
Freud, Sigmund, 1856-1939
Lacan, Jacques, 1901-1981
Psicanálise - Teses
language: por
metadata.dc.publisher.country: Brasil
Publisher: Universidade Federal de Minas Gerais
Publisher Initials: UFMG
metadata.dc.publisher.department: FAF - DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
metadata.dc.publisher.program: Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Rights: Acesso Aberto
URI: http://hdl.handle.net/1843/58352
Issue Date: 3-Mar-2023
Appears in Collections:Teses de Doutorado



Items in DSpace are protected by copyright, with all rights reserved, unless otherwise indicated.