Use este identificador para citar ou linkar para este item: http://hdl.handle.net/1843/68113
Tipo: Tese
Título: Quando o luto é luta , mobilização é ato criativo : experiências coletivas de jovens e mães em luta contra o genocídio da juventude negra
Título(s) alternativo(s): When mourning is a struggle, mobilization is a creative act : collective experiences of young people and mothers in struggle against the genocide of black youth
Autor(es): Rafaela Pereira Lima
Primeiro Orientador: Márcio Simeone Henriques
Primeiro membro da banca : José Valter Pereira
Segundo membro da banca: Licínia Maria Correa
Terceiro membro da banca: Maria Beatriz Almeida Sathler Bretas
Quarto membro da banca: Iracema Santos do Nascimento
Resumo: O presente estudo aborda os processos de comunicação para a mobilização social construídos por dois públicos que lutam contra o genocídio da juventude negra: o Fórum das Juventudes da Grande BH (rede que reúne coletivos e entidades juvenis da Região Metropolitana de Belo Horizonte, MG) e a Rede Mães de Luta (constituída por grupos de mulheres cujos familiares tiveram direitos violados e/ou foram assassinados). O foco volta-se aos processos de formação e de movimentação desses dois públicos, além da performance pública das duas redes em questão: lutas sociais que se dão em condições radicais, liminares entre vida e morte. A tese dá sua contribuição aos estudos da Comunicação ao construir uma perspectiva decolonial de análise dos públicos em processos de mobilização social. Durante a pesquisa, foi criada uma metodologia própria de produção das narrativas de vida e luta das e dos ativistas: um modo de escrita colaborativa envolvendo cada ativista participante e a pesquisadora, também ativista. Para analisar as experiências, tais narrativas foram a base e o alinhavo das discussões, a partir de uma articulação textual inspirada na ideia de palavra geradora, de Paulo Freire. Conjugando a descrição das lutas às reflexões dos sujeitos que as constituem, a tese demonstra que o método de construção da expressão pública das duas redes abordadas é eminentemente experimental: calcado em processos abertos, problematizadores, criativos e transformadores. Dito de outro modo, trata-se de uma artesania, de um modo singular de criar, cuja lógica é processual: construir a performance para dar visibilidade à luta é, ao mesmo tempo, construir uma compreensão diferente de si, do contexto em que se age e da própria luta. Na análise apresentada, demonstra-se que, no percurso entre o compartilhamento das dores e angústias ligadas às violências vividas por cada pessoa e a ação coletiva para dar visibilidade à luta, algo precioso acontece. Há um moldar coletivo da expressão, que é um ato poético: os gritos indistintos de dor e desespero de quem sofre as violências são a base de um processo de modelagem coletiva e colaborativa, a partir do qual se tornam um clamor público por justiça. A partir da análise de diversas dimensões desse processo de modelagem, o estudo defende que jovens e mães constroem uma vigorosa ação política: em sua performatividade, subvertem as lógicas do racismo, preconceito enraizado na sociedade brasileira. Conclui que o modo de ação dessas lutas liminares é encarnado, vivencial. O que se experimenta, nos processos abordados, é o vivenciar-como-luta: a experiência integral, vívida e intensa de fazer do luto, luta. Na metodologia, a tese dialoga com o ad-mirar de Paulo Freire, a escrevivência de Conceição Evaristo, as afrografias de Lêda Maria Martins, as histórias de vida de Karen Workman e as narrativas autobiográficas de Ecléa Bosi. Na discussão teórica, adota uma perspectiva pragmatista e praxiológica, calcada nos conceitos de públicos (Márcio Simeone Henriques e grupo de pesquisa Instituições, Públicos e Experiências Coletivas – Ipê, da UFMG), experiência estética (John Dewey) e acontecimento (Muniz Sodré e Ricardo Fabrino Mendonça). Na análise da mobilização social, destaca a construção coletiva das performances públicas de luto e luta, entendendidas como artesanias (inspirada em O Artífice, de Richard Senett): atos criadores (a partir de Fayga Ostrower); atos expressivos (a partir do conceito de narrativa de Louis Queré); atos poéticos (a partir das noções de poesia de Audre Lorde – “destilação reveladora da experiência”, cf LORDE, 2019, p. 46; de autoconstrução e autopoiese, de Humberto Maturana e Francisco Varela); ato político (formulação que se vale das discussões de performatividade de Judith Butler e de cena de dissenso, de Jacques Rancière). Por fim, com base nas experiências profundas de experimentação da vida e da arte discutidas, a tese propõe um olhar à dimensão vivencial da mobilização social (discussão na qual foram articulados os conceitos de inédito-viável, de Paulo Freire; de vivência, de Vygotsky; e de conhecer, de Maturana).
Abstract: The present study analyzes the communication processes for social mobilization built by two groups that fight against the genocide of black youth: the Greater BH Youth Forum (network that brings together collectives and youth entities from the Metropolitan Region of Belo Horizonte, MG) and the Mothers of Struggle Network (made up of groups of women whose family members had their rights violated and/or were murdered). The focus is on the processes of formation and movement of these two audiences, in addition to the public performance of the two networks in question: social struggles that take place in radical conditions, liminal between life and death. The thesis makes its contribution to Communication studies by building a decolonial perspective of analyzing publics in processes of social mobilization. During the research, a specific methodology was created for producing narratives of the activists' lives and struggles: a collaborative writing method involving each participating activist and the researcher, also an activist. To analyze the experiences, such narratives were the basis and outline of the discussions, based on a textual articulation inspired by the idea of the generating word, by Paulo Freire. Combining the description of the struggles with the reflections of the subjects that constitute them, the thesis demonstrates that the method of constructing public expression in the two networks analyzed is eminently experimental: based on open, problematizing, creative and transformative processes. In other words, it is a craftsmanship, a unique way of creating, whose logic is procedural: building the performance to give visibility to the struggle is, at the same time, building a different understanding of oneself, of the context in which it takes place. acts and the struggle itself. In the analysis presented, it is demonstrated that, in the journey between sharing the pain and anguish linked to the violence experienced by each person and collective action to give visibility to the struggle, something precious happens. There is a collective shaping of expression, which is a poetic act: the indistinct screams of pain and despair of those who suffer violence are the basis of a process of collective and collaborative modeling, from which they become a public cry for justice. Based on the analysis of several dimensions of this modeling process, the study argues that young people and mothers build a vigorous political action: in their performativity, they subvert the logics of racism, a prejudice rooted in Brazilian society. It concludes that the mode of action of these liminal struggles is embodied, experiential. What is experienced, in the processes discussed, is experiencing-as-struggle: the integral, vivid and intense experience of turning mourning into a struggle. In methodology, the thesis dialogues with the “ad-mirar” of Paulo Freire, the “escrevivência” of Conceição Evaristo, the afrographies of Lêda Maria Martins, the life stories of Karen Workman and the autobiographical narratives of Ecléa Bosi. In the theoretical discussion, it adopts a pragmatist and praxeological perspective, based on the concepts of public (Márcio Simeone Henriques and research group Institutions, Publics and Collective Experiences – Ipê, from UFMG), aesthetic experience (John Dewey) and event (Muniz Sodré and Ricardo Fabrino Mendonça). In the analysis of social mobilization processes, it highlights the collective construction of public performances of mourning and struggle, understanding such performances as crafts (inspired by The Artifice, by Richard Senett): creative acts (from Fayga Ostrower); expressive acts (based on Louis Queré's concept of narrative); poetic acts (based on Audre Lorde’s understanding of poetry: “revealing distillation of experience” – LORDE, 2019, p. 46; as well as self-construction and autopoiesis, by Humberto Maturana and Francisco Varela); political act (a formulation that draws on Judith Butler’s discussions of performativity and Jacques Rancière’s scene of dissent). Finally, based on the profound experiences of experimenting with life and art discussed, the thesis proposes a look at the experiential dimension of social mobilization (a discussion that articulates the concepts of unprecedented-viable, by Paulo Freire; experience, by Vygotsk; and to know, by Humberto Maturana).
Assunto: Comunicação - Teses
Movimentos sociais - Teses
Antirracismo - Teses
Idioma: por
País: Brasil
Editor: Universidade Federal de Minas Gerais
Sigla da Instituição: UFMG
Departamento: FAF - DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Curso: Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
Tipo de Acesso: Acesso Aberto
metadata.dc.rights.uri: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/pt/
URI: http://hdl.handle.net/1843/68113
Data do documento: 31-Mai-2023
Aparece nas coleções:Teses de Doutorado

Arquivos associados a este item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
Tese Rafaela Pereira Lima.pdfTese Rafaela Pereira Lima48.72 MBAdobe PDFVisualizar/Abrir


Este item está licenciada sob uma Licença Creative Commons Creative Commons