O desenvolvimento do conhecimento ortográfico na infância: sensibilidade às regularidades morfossintáticas

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Universidade Federal de Minas Gerais

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Dissertação de mestrado

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Tatiana Cury Pollo

Resumo

O presente estudo examinou o desenvolvimento do conhecimento ortográfico entre o final do 3º e o final do 4º ano do ensino fundamental em uma amostra de crianças falantes do português brasileiro. Em particular, o estudo avaliou a generalização dos resultados de estudos anteriores (Gonçalves, 2016; Cardoso-Martins & Gonçalves, 2017) sugerindo que a aprendizagem de regularidades ortográficas de natureza morfossintática (e.g., o fonema /iw/ no final de palavras oxítonas é representado pelo grafema <il> se a palavra for um substantivo, mas pelo grafema <iu>, se a palavra for um verbo) ocorre em torno do 4º ano. Essas autoras basearam o seu argumento no desempenho de crianças, matriculadas em classes do 2º ao 5º ano do ensino fundamental, em um ditado de palavras contendo inconsistências fonema-grafema condicionadas pelas características morfossintáticas da palavra e inconsistências fonema-grafema aparentemente incondicionadas e que, portanto, precisam ser memorizadas para serem escritas corretamente (e.g., o fonema /ʃ/ pode ser representado pelo grafema <ch> ou pelo grafema <x> independentemente do contexto ou das características morfossintáticas da palavra em que aparece). Uma vez que apenas palavras muito infrequentes em livros para crianças do 2º ao 5º ano do ensino fundamental foram incluídas no ditado, crianças com conhecimento das regularidades morfossintáticas deveriam apresentar um desempenho significativamente superior na escrita das palavras com inconsistências fonema-grafema condicionadas pelo contexto morfossintático do que naquelas com inconsistências fonema-grafema incondicionadas. De acordo com as autoras, foi apenas a partir do final do 4º ano do ensino fundamental que esses resultados foram observados. É possível, no entanto, que as autoras tenham utilizado um critério demasiadamente rigoroso na correção das respostas da criança. Em vista disso, no presente estudo, foi utilizado um critério de correção menos rigoroso. Cinquenta e quatro crianças (27 meninas; idade média = 8,64, DP = 0,45) matriculadas em escolas particulares da região metropolitana de Belo Horizonte, participaram do estudo. Ao contrário dos estudos de Cardoso-Martins e Gonçalves, o presente estudo foi longitudinal e as crianças foram avaliadas em duas ocasiões diferentes: no final do 3º (ou início do 4º) ano e, aproximadamente, 12 meses depois, quando estavam no final do 4º (ou início do 5º) ano do ensino fundamental. Em ambas as ocasiões, as crianças foram submetidas a um ditado de palavras contendo inconsistências fonema-grafema condicionadas pelo contexto morfossintático e palavras contendo inconsistências fonema-grafema incondicionadas, aos subtestes de leitura e escrita do TDE (Stein, 1994) e, finalmente, a tarefas de fluência de leitura de palavras. Com o objetivo de avaliar os preditores do desenvolvimento do conhecimento das regularidades morfossintáticas em português brasileiro, as crianças também completaram medidas de habilidades frequentemente associadas ao desenvolvimento da leitura e da escrita de palavras, a saber: a consciência fonêmica, a nomeação rápida, e o vocabulário na primeira avaliação. Os resultados de uma ANOVA 2 (ano escolar) X 2 (tipo de dificuldade ortográfica) com medidas repetidas para ambos os fatores mostraram que o desempenho das crianças no final do 4º ano foi superior ao seu desempenho no final do 3º ano (F(1, 53) = 45,567, p ≤ 0,001, η² = 0,46) e que, em ambas as ocasiões, seu desempenho foi superior para as palavras com regularidades morfossintáticas do que para as palavras com inconsistências grafema-fonema incondicionadas. Finalmente, os resultados de análises de regressão linear múltipla mostraram que diferenças individuais na consciência fonêmica, na nomeação rápida e no vocabulário na primeira ocasião contribuíram significativa e unicamente para variações no ditado de palavras com regularidades morfossintáticas tanto na primeira quanto na segunda ocasião de avaliação. Por outro lado, apenas a consciência fonêmica contribuiu significativa e unicamente para variações no ditado de palavras com inconsistências grafema-fonema incondicionadas. As implicações teóricas e educacionais desses resultados são discutidas.

Abstract

This study examined the development of orthographic knowledge between the end of the 3rd and the end of the 4th grade in a sample of Brazilian Portuguese-speaking children. In particular, the study evaluated the generalization of results from previous studies (Gonçalves, 2016; Cardoso-Martins & Gonçalves, 2017) suggesting that the learning of morphosyntactic patterns in orthography (e.g., the phoneme /iw/ at the end of oxytone words is represented by the grapheme <il> if the word is a noun, but by the grapheme <iu>, if the word is a verb) occurs around the 4th grade. These authors based their argument on the performance of children, enrolled in classes from the 2nd to the 5th grade, in a spelling task containing phoneme-grapheme inconsistencies conditioned by the morphosyntactic patterns and apparently unconditioned phoneme-grapheme inconsistencies and which, therefore, need to be memorized to be written correctly (e.g., the phoneme /ʃ/ can be represented by the grapheme <ch> or the grapheme <x> regardless of the context or morphosyntactic patterns of the word in which it appears). Since only very infrequent words in books for children from the 2nd to the 5th grade were included in the dictation, children with knowledge of morphosyntactic patterns should present a significantly superior performance in spelling words with phoneme-grapheme inconsistencies conditioned by the morphosyntactic patterns than in those with unconditioned phoneme-grapheme inconsistencies. According to the authors, it was only at the end of the 4th grade that these results were observed. It is possible, however, that the authors used an overly strict criterion in correcting the child's responses. Therefore, in the present study, a less rigorous correction criterion was used. Fifty-four children (27 girls; mean age = 8.64, SD = 0.45) enrolled in private schools in the metropolitan region of Belo Horizonte participated in the study. Unlike the studies by Cardoso-Martins and Gonçalves, the present study was longitudinal and the children were assessed on two different occasions: at the end of the 3rd (or beginning of the 4th) grade and, approximately, 12 months later, when they were at the end of the 4th (or beginning of the 5th) grade. On both occasions, the children were subjected to a spelling task of words containing phoneme-grapheme inconsistencies conditioned by the morphosyntactic patterns and words containing unconditioned phoneme-grapheme inconsistencies, the reading and writing subtests of the TDE (Stein, 1994) and, finally, the word reading fluency tasks. With the aim of evaluating predictors of the development of knowledge of morphosyntactic patterns in Brazilian Portuguese, children also completed measures of skills frequently associated with the development of reading and writing words, namely: phonemic awareness, rapid naming, and vocabulary in the first assessment. The results of ANOVA 2 (school year) X 2 (types of orthographic difficulties) with repeated measures for both factors showed that children's performance at the end of the 4th grade was superior to their performance at the end of the 3rd grade (F(1, 53) = 45.567, p ≤ 0.001, η² = 0.46) and that, on both occasions, their performance was higher for words with morphosyntactic patterns than for words with unconditioned grapheme-phoneme inconsistencies. Finally, the results of multiple linear regression analyzes showed that individual differences in phonemic awareness, rapid naming, and vocabulary on the first occasion contributed significantly and uniquely to variations in the spelling of words with morphosyntactic patterns on the first and second assessment occasions. On the other hand, only phonemic awareness contributed significantly and uniquely to variations in the spelling of words with unconditioned grapheme-phoneme inconsistencies. The theoretical and educational implications of these results are discussed.

Assunto

Psicologia - Teses, Escrita - Teses, Psicologia da aprendizagem - Teses

Palavras-chave

Escrita, Ortografia, Conhecimento ortográfico, Preditores da escrita

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