Effect of claims present on food products with front-of-pack nutrition labeling on Brazilian consumers’ understanding and purchase intention.

Abstract

A rotulagem de alimentos é, frequentemente, reportada como pouco utilizada e de difícil entendimento pelos consumidores. Com o objetivo de facilitar o entendimento da composição nutricional dos produtos alimentícios e favorecer escolhas alimentares mais saudáveis, a rotulagem nutricional frontal (RNF) foi proposta. A RNF consiste de sistemas de rotulagem nutricional que informam a composição nutricional de produtos alimentícios de forma simples e rápida. Os modelos de RNF de advertência, que utilizam símbolos que remetem a ideia de alerta para destacar produtos alimentícios com excesso de nutrientes prejudiciais, como açúcares, gordura saturada e sódio, vêm despontando como estratégia para reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados enfrentar a atual pandemia de obesidade e doenças crônicas não transmissíveis. Muitos países das Américas, como Chile; Uruguai, México e Argentina, já implementaram ou estão implementando sistemas de RNF, especialmente com o design de octógono preto. No Brasil, a RNF foi implementada a partir de outubro de 2022, com o modelo de lupa preta, com o descritor “alto em”, destacando produtos com excesso de açúcares adicionados, gordura saturada e sódio. Além da RNF, outras informações nos rótulos comunicam sobre a composição nutricional dos produtos alimentícios, como as alegações nutricionais. Ao contrário da RNF, as alegações nutricionais destacam apenas atributos positivos da composição dos produtos, como “rico em fibras”, “baixo em sódio” e “zero açúcar”. A presença conjunta de alegações e advertências sobre nutrientes pode confundir os consumidores sobre a saudabilidade geral dos produtos. Por este motivo, diferente do Brasil, alguns países, como México e Argentina, proíbem a veiculação de alegações em produtos alimentícios que recebem RNF. Nesse sentido, este estudo avaliou a influência de alegações nutricionais e de diferentes modelos de RNF na compreensão das informações nutricionais, nas associações e percepções de saudabilidade e na intenção de compra de consumidores brasileiros. Tratou-se de estudo experimental, conduzido por meio de questionário on-line. Adultos brasileiros (n = 720) foram randomizados em quatro condições de RNF: controle, octógono, triângulo e lupa. Cada participante visualizou 12 rótulos de alimentos, que foram desenvolvidos seguindo o desenho fatorial (3*2*2): (i) categoria de alimento (barras de cereal, biscoitos integrais e snacks); (ii) tipo de produto (um nutriente crítico excessivo x dois nutrientes críticos excessivos) e (iii) alegações nutricionais (presente x ausente). A compreensão das informações nutricionais foi avaliada por meio da identificação correta dos nutrientes excessivos, a saudabilidade percebida e a intenção de compra foram avaliadas por escala de 7 pontos e as associações/percepções dos consumidores foram exploradas por meio de tarefa de associação de palavras. Os resultados indicaram que a RNF aumentou a compreensão das informações, reduziu a percepção de saudabilidade e a intenção de compra. Já as alegações nutricionais atuaram diminuindo a probabilidade de compreensão das informações nutricionais em 32% (odds ratio = 0,68, intervalo de confiança de 95% 0,58 a 0,78, p < 0,01) e aumentando significativamente (p < 0,05) a percepção de saudabilidade (odds ratio (intervalo de confiança de 95%)) de 1,95 (1,91-2,00) para 2,02 (1,98-2,06) e a intenção de compra (odds ratio (intervalo de confiança de 95%)) nas categorias de biscoitos, de 2,03 (1,98- 2,07) para 2,08 (2,03-2,12) e de snacks, de 1,88 (1,83-1,93) para 1,97 (1,92 – 2,02). Na tarefa de associação de palavras, a RNF aumentou as associações com nutrientes nocivos e associações negativas com a saúde e aumentou a probabilidade de os participantes darem respostas sobre a insalubridade dos produtos em 12%, 26% e 27% para a lupa, octógono e triângulo, respectivamente, em relação ao controle. As alegações tiveram efeito oposto, aumentando as associações com nutrientes benéficos e associações positivas com a saúde. Mas, elas não tiveram efeito significativo sobre a probabilidade de os participantes darem respostas sobre a salubridade ou insalubridade dos produtos. Os resultados comprovam a eficácia da RNF na compreensão e julgamento dos consumidores, uma vez que, no geral, a inclusão da RNF favoreceu os desfechos avaliados. Os modelos de RNF variaram em seu desempenho, a depender do desfecho, assim como da categoria de alimento e da quantidade de nutrientes em excesso. As alegações nutricionais tiveram efeito contrário e menos significativo do que a RNF. No entanto, a RNF não foi suficiente para anular o viés de positividade gerado pelas alegações.